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a con- frontar a polícia em várias cidades do país. § Reivindicações: Os distúrbios no Reino Unido não apresentaram demandas claras, mas foram reflexo do crescente desemprego, da recuperação lenta da economia e dos cortes orçamentários para setores públicos caros à juventude, como a educação. § Repressão: Foram registradas cinco mortes e mais de 100 feridos durante os distúrbios no Reino Unido. A polícia deteve mais de 2 mil ma- nifestantes durante as cenas de caos e reforçou o contingente de agentes nas áreas atingidas. O governo também ampliou o poder da polícia, per- mitindo o uso de balas de borracha. § Desfecho do movimento: Parte dos milhares de detidos foram processados pela Justiça britâ- nica após os distúrbios. A polícia do Reino Unido também viu seus poderes ampliados, com a possi- bilidade de decretar toques de recolher em deter- minadas áreas para menores de 16 anos. Estocol- mo, na Suécia, foi alvo de noites de violência em 2013, após a morte de um imigrante pela polícia. Polícia em meio a distúrbios em Croydon, no sul de Londres (2011) Protestos em defesa do Parque Gezi, na Turquia § Onde: Istambul, Ancara, entre outras cidades § Quando: junho de 2013 § Motivação: Manifestantes se reuniram pacifi- camente no Parque Gezi, na Praça Taksim, Istam- bul, para protestar contra planos do governo de construir uma réplica de quartéis militares oto- manos do século XVIII e um shopping no local. A dura repressão policial contra a mobilização provocou fúria entre a população, desatando protestos que se tornaram um dos maiores desa- fios ao premiê Recep Tayyip Erdogan, acusado de autoritarismo pelos manifestantes. § Reivindicações: Manutenção do Parque Gezi, direitos humanos, saída de Erdogan do poder. § Repressão: A polícia na Turquia reprimiu com violência as manifestações, com uso de gás lacri- mogêneo, spray de pimenta e canhões de água. Cinco mortes (incluindo a de um policial) foram registradas desde o início dos confrontos e mi- lhares de participantes ficaram feridos. A Praça Taksim chegou a ser ocupada pelos manifestan- tes, retirados sob violenta força policial. § Futuro do movimento: A manifestação teve início pacífico e logo se tornou o maior protesto contra o governo Erdogan em seus dez anos no poder. Por causa da violenta repressão policial, manifestantes que queriam apenas preservar as árvores do Parque Gezi abraçam novas causas, como o direito à liberdade de expressão. Manifestante joga uma lata de gás lacrimogêneo durante confrontos com a polícia na praça Taksim, Istambul (2013). Protestos contra aumento das passagens de ônibus no Brasil § Onde: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outras cidades § Quando: junho de 2013 § Motivação: O aumento da tarifa do transporte público nas principais capitais brasileiras provo- cou protestos tímidos desde janeiro de 2013, mas as manifestações, paralelamente à agenda turca, intensificaram-se desde maio. Diversas rei- vindicações foram agregadas ao protesto, princi- palmente após a forte repressão policial contra as manifestações em São Paulo, em 13 de junho. § Reivindicações: Redução da tarifa das passa- gens de ônibus e melhora na qualidade do servi- ço de transporte público. § Repressão: A polícia usou gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes contra os ma- nifestantes nas principais cidades do país. Em São Paulo, mais de 200 ficaram feridos em 13 9 de junho, após a violenta ação policial contra os protestos. Centenas foram detidos durante as manifestações, incluindo jornalistas que realiza- vam a cobertura do ato. O estopim das manifestações foi o aumento da tarifa no transporte público. In foco Brasil O sistema político partidário brasileiro vivenciou pelo menos oito experiências distintas, desde o Império aos nossos dias, representando atualmente a mais longeva e estável da história brasileira. Apesar das frequentes propostas de reforma política a partir da redemocratiza- ção, além das inúmeras críticas, sobretudo, no tocante à capacidade de enraizamento social das agremiações partidárias e à alta fragmentação no Congresso Nacio- nal, o sistema partidário, nascido com a abertura demo- crática, em 1985, apresentava índices razoáveis (para não dizer elevados) de institucionalização. Desde 1994, a competição eleitoral nas eleições presidenciais se concentra em dois grupos ideológicos, um de centro-esquerda, outro de centro-direita (essas são as classificações mais adotadas para designar tais partidos), liderados por PT e PSDB. A inconstância elei- toral apresenta queda constante, o comparecimento nas eleições é de aproximadamente 80%, os índices de filiação partidária representam cerca de 10% do eleito- rado – um dos maiores do mundo, e o número efetivo de partidos na Câmara dos Deputados, em 2010, residia em torno de 11 legendas – hoje temos 35 legendas. Pesquisa naquele mesmo ano apontava que 46% dos eleitores se identificavam com os partidos políticos, dos quais 23% tinham preferência pelo PT, seguido pelo PMDB com 6% e o PSDB também com 6%. Lista de partidos políticos de 2015 A partir das manifestações de rua de junho de 2013, o quadro mudou consideravelmente. Houve um au- mento crescente da insatisfação popular com a classe política e o lema “Sem partido” se propagou pelo país, com reflexos diretos na eleição de 2014, que representou a maior fragmentação partidária do parlamento brasileiro, com 28 partidos representados na Câmara dos Deputados. 10 Pesquisas recentes do Datafolha apontam para um declínio significativo da identificação partidária, mos- tram os partidos políticos como as organizações menos confiáveis na opinião dos brasileiros, sendo a corrupção uma das maiores justificativas. No que se refere à preferência partidária, em fevereiro de 2016, 71% dos brasileiros disseram não ter sim- patia por partido algum. Em meio a esta conjuntura de transformações e mudanças, a renovação das elites partidárias e a conexão com a juventude se tornam fundamentais para que as legendas possam se manter vivas e, consequentemente, se reaproximar da sociedade. Vale lembrar que os ajustes pontuais no sistema partidário também são necessários, mas a mudança deve vir, sobretudo, de uma reaproximação com os cidadãos. Neste sentido, o clima de despolitização presente na atual política brasileira se torna altamente pernicioso e cada vez mais preocupante. Modernização dos partidos é parte da solução A solução para a crise de representação dos partidos ainda é um mistério para a maioria dos analistas, e poucos arriscam opiniões. O cientista político da FGV Octávio Amorim Neto defende, antes de tudo, uma reforma política – diferente da atual proposta, contudo. “Um grande acordo bem pensado no parlamento, feito com calma e com prudência, para criarmos um sistema eleitoral que não facilite a vida dos partidos com baixa representatividade social”, explica. Contudo, Amorin salienta que a mudança no sistema não altera a cultura partidária, “até porque a Constituição dá aos partidos o monopólio da representação”. Já o analista político Sérgio Abranches defende uma modernização dos partidos e a utilização das redes sociais de modo mais funcional. “Os partidos têm se apropriado das redes sociais para manipular os eleitores e para fazer mensagens de ódio contra os oponentes, quando na verdade tinham de usar as redes sociais para captar os sentimentos dos grupos mais afins dos partidos e formar sua nova agenda.” Ele defende também o uso da rede para criar formas mais diretas de democracia deliberativa. “A política não se modernizou tecnologicamente, nosso último avanço foi a urna eletrônica. É possível fazer uma discussão séria usando as tecnologias adequadas,