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ATUALIDADES 3 Crise da representatividade polítiCa no mundo e no Brasil Segundo Mauro Luis Iasi, professor adjunto da Escola de Serviço Social da UFRJ, as manifestações que estouraram na Turquia, no Brasil, na Grécia e na Espanha, recentemente, têm como cenário comum uma crise nos modelos de representação política das sociedades democráticas modernas. “É a crise de uma afirmação que foi vendida como auto evidente de que não há outra forma de represen- tação a não ser eleger bancadas de deputados, senadores e representantes do Poder Executivo. Como se a eleição fosse o único ato em que a população participa do processo político“. O ex-presidente do Uruguai, José Mujica, afirmou na 72ª Assembleia Geral da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), realizada na Cidade do México, que existe uma brutal crise política no mundo provocada pela falta de liderança e encorajou os jovens universitários a refletir sobre os problemas da sociedade. Mujica discursando sobre a crise da representação em 2015. Hoje, a crise da representação política tem sido caracterizada como um fenômeno mundial, colocando em dúvida a legitimidade dos partidos políticos. Num contexto marcado pela emergência de novas formas alternativas de participação política, além de mudanças estruturais nas economias capitalistas, o aumento do descrédito dos cidadãos para com as instituições representativas se tornou uma realidade não apenas em Estados periféricos ou com democracias recentes. Segundo Mujica, “no mundo há uma brutal crise política porque esta é uma civilização cada vez mais global, mas não tem direção política. Está funcionando sob o impulso do mercado e isso é trágico”. A relação entre eleitores e partidos políticos constitui um dos aspectos centrais do ideal democrático. Porém, desde as últimas décadas do século XX, vem se ampliando cada vez mais a compreensão de que a representação política se encontra diante de uma grave crise, demonstrada pelo aumento no número de eleitores que não se iden- tificam com os partidos, altas taxas de volatilidade eleitoral, além da queda nos índices de participação eleitoral e a emergência de formas alternativas de ativismo político. Nos EUA e na Europa ocidental (onde os partidos políticos exerceram forte influência na consolidação democrática no decorrer do século XX), existem várias teses, amplamente disseminadas e debatidas por diversos especialistas, que apontam para o declínio na relação entre os cidadãos e os partidos políticos. 4 O cientista político francês Bernard Manin argu- menta que, por muito tempo, num passado não muito distante, “a representação parecia baseada numa po- derosa e estável relação de confiança entre eleitores e partidos políticos, com uma vasta maioria de eleitores identificados e fiéis a alguns dos partidos”. Obviamen- te, relevantes transformações ocorreram, observando-se atualmente uma diversificação nas formas de participa- ção política outrora intimamente ligadas à relação entre os cidadãos e às agremiações partidárias, ou seja, os partidos políticos. Foi a partir do século XIX, que o ideário da de- mocracia representativa se espalhou pelo Ocidente e os partidos políticos, até então identificados desde a Renascença como facções, passaram a ser vistos como instituições vitais para a representação parlamentar. No período pós-Segunda Guerra Mundial, consolidaram-se os canais tradicionais de representação política por in- termédio de organizações de trabalhadores, movimen- tos sociais, associações civis, na qual os partidos exerce- ram papel fundamental para a estabilidade dos regimes democráticos. Segundo a cientista política Pippa Norris, da Universidade de Harvard, a estrutura conceitual para o entendimento das formas de participação política que foram desenvolvidas nos anos 1950 e 1960 ainda dá forma às nossas acepções, tendo em vista termos ainda o velho partido de massas como modelo de organiza- ção partidária. Em que pese o declínio da representação partidária, nas sociedades pós-industriais se observa maior oportunidade para a diversificação do engaja- mento político, que concilia a atividade eleitoral com os protestos políticos. As novas gerações se beneficiam também com uma vasta oferta de mecanismos, como o uso de novas tecnologias, por intermédio da internet, que possibilitam maiores condições de participação e redução dos custos da ação coletiva. Um terreno comum entre todas as manifesta- ções registradas desde 2009 é o uso intenso de mídias sociais – Facebook, YouTube, Twitter – como divulgado- ras e catalisadoras dos protestos. Relembre os principais pro- testos ao redor do mundo desde 2009 Protestos pós-eleitorais no Irã § Onde: Teerã, Mashhad, Isfahan, Karaj, Tabriz e outras cidades § Quando: junho de 2009 § Motivação: As eleições do Irã foram extrema- mente disputadas entre o então presidente do Irã, o conservador Mahmouhd Ahmadinejad, e o ex-premiê moderado Mir Hossei Mousavi. Quando Ahmadinejad foi reeleito com 62,6% dos votos, Mousavi alegou fraude nas eleições e pediu para que uma nova votação fosse realiza- da. Milhares de manifestantes que contestaram os resultados nas urnas saíram às ruas, fato sem precedentes no país persa desde a Revolução Is- lâmica, em 1979. 5 § Reivindicações: Anulação dos resultados elei- torais e liberdade de expressão. § Repressão: A violenta repressão do governo aos protestos deixou dezenas de mortos e cen- tenas de feridos. Em uma das manifestações mais emblemáticas – que ficou conhecida como "Sábado Negro" –, ao menos dez manifestan- tes morreram em 20 de junho, incluindo Neda Agha-Soltan, uma estudante iraniana que virou símbolo da oposição. § Desfecho do movimento: Desde 2011, Mou- savi e sua esposa estão em prisão domiciliar. Os protestos, conhecidos como Movimento Verde, foram considerados um dos precursores da Pri- mavera Árabe, mas, sufocados com a violenta repressão, perderam a força dentro do Irã. Nas eleições presidenciais de 2013, a oposição foi enfraquecida pelos clérigos, que, liderados pelo aiatolá Ali Khamenei, mantêm a supremacia de seu poder sobre o presidente. Terceiro dia de protestos reúne milhares nas ruas de Teerã, Irã (2009). Primavera Árabe: Tunísia § Onde: Sidi Bouzid, Túnis, Menzel Bouzaiene, Kairouan, Sfax, entre outras cidades § Quando: dezembro de 2010 § Motivação: Mohammed Bouazizi, um vende- dor de frutas e vegetais na cidade de Sidi Bouzid, teve seus produtos confiscados por um agente municipal e apanhou quando tentou reagir. Ele então ateou fogo ao próprio corpo, desatando protestos na cidade no centro do país. As mani- festações se espalharam pelo país e passaram a refletir uma série de descontentamentos da po- pulação com o governo. § Reivindicações: Queda do governo, melhores condições de vida, combate à violência policial, mais empregos e direitos humanos. § Repressão: Forças de segurança da Tunísia re- primiram os protestos com violência. Segundo a ONU, os protestos populares deixaram 219 mor- tos, incluindo 72 mortos em revoltas em diversas prisões no país, e 510 feridos. § Desfecho do movimento: O movimento na Tunísia desencadeou a Primavera Árabe, onda de protestos contra regimes autocráticos e contra as condições de vida da população no Oriente Mé- dio e norte da África. O então presidente Zine El Abidine Ben Ali renunciou ao cargo após 23 anos no poder. Em 2011, eleições levaram ao poder is- lâmicos moderados do Partido Ennahda, mas, por causa da influência dos salafistas radicais, novos protestos eclodiram no país desde então. Manifestantes seguram bandeira da Tunísia durante protesto na capital Túnis (2011). Primavera Árabe: Egito § Onde: Cairo, Alexandria, Suez, Mansura, Tanta, entre outrascidades § Quando: janeiro de 2011 § Motivação: Inspirados na revolta da Tunísia, ativistas do Egito tomaram as ruas durante um feriado nacional ligado às Forças Armadas, cha- mando a data de "Dia de Fúria". Milhares mar- charam no centro de Cairo, capital do país, em direção à Praça Tahrir, que virou o epicentro da revolta. Logo, as manifestações se espalharam por todo o país. § Reivindicações: Queda do governo, melhores condições de vida, liberdade de expressão, mais empregos. § Repressão: Desde o início dos protestos, as forças policiais do governo de Hosni Mubarak reprimiram os manifestantes com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo. Depois, a violência saiu do controle e estima-se que os 18 dias de manifestações e confrontos com a polí- cia tenham deixado mais de 800 mortos e 6 mil feridos no país. 6 § Desfecho do movimento: Mobilização de 18 dias pôs fim aos 30 anos do governo de Hos- ni Mubarak. Após um período comandado por uma junta militar, alvo de controversas pelo uso de repressão violenta, eleições levaram os par- tidos islâmicos ao Parlamento e à presidência. Desde então, o país passa por uma crescente tensão entre islamistas e secularistas. A mais recente controvérsia, o decreto do presidente Mohammed Morsi, para garantir imunidade ju- dicial a todas as suas decisões, provocou protes- tos que foram fortemente reprimidos, deixando 8 mortos e centenas de feridos em novembro. A medida foi revogada, mas a instabilidade no país, assolado por uma forte crise econômica, continua. Imagem aérea mostra Praça Tahrir lotada de manifestantes (2011). Primavera Árabe: Líbia § Onde: Benghazi, Trípoli, Sirte, Misrata, entre ou- tras cidades § Quando: fevereiro de 2011 § Motivação: Em 15 de fevereiro, famílias de pri- sioneiros que foram alvo de um massacre pelas forças do regime de Muamar Kadafi, em 1996, fizeram uma manifestação pacífica pelas ruas de Benghazi pedindo por direitos humanos e democracia. A violência começou quando forças de segurança prenderam Fathi Terbil, um jovem advogado e ativista. Em questão de horas, cen- tenas se reuniram do lado de fora da delegacia pedindo a libertação de Terbil. Os protestos se intensificaram em Benghazi e, com o estímulo das revoltas egípcia e tunisiana, logo se espalha- ram pelo país e viraram uma violenta guerra civil. § Reivindicações: Queda do regime, direitos hu- manos, democracia e unidade nacional. § Repressão: Os protestos na Líbia, que tiveram início pacífico, evoluíram para uma sangrenta guerra civil após forte repressão do governo. Em outubro de 2011, as primeiras estimativas indicavam 25 mil mortos e 4 mil desaparecidos. Segundo estimativas mais recentes do governo, porém, 4,7 mil rebeldes foram mortos e 2,1 mil – entre rebeldes e forças leais a Kadafi – estão desaparecidos. Não se sabe ao certo quantos soldados das forças de Kadafi foram mortos. § Desfecho do movimento: A guerra civil na Líbia culminou com a morte do líder Muamar Kadafi pelos opositores em outubro, depois da queda do regime dois meses antes. Eleições gerais foram realizadas em julho, mas a insegu- rança e a disputa de poder entre os diferentes grupos que lutavam contra Kadafi continuam. Os oito meses de conflito armado deixaram seque- las: proliferação de milícias, tráfico de armas e emergência de ameaças terroristas, como o ata- que que deixou quatro mortos no consulado dos EUA, em Benghazi. Forças do governo interino da Líbia comemoram a queda de Sirte (2011). Primavera Árabe: Síria § Onde: Daraa, Damasco, Homs, Hama, Aleppo, Qusair, entre outras cidades § Quando: março de 2011 § Motivação: As prisões de ao menos 15 crian- ças por pichar grafites nos muros de uma escola contra o governo do presidente Bashar al-Assad provocaram revolta na população, que saiu às ruas em manifestações. Logo, os protestos se es- palharam por províncias no centro do país até alcançar Damasco, capital e sede do governo Assad. Desde dezembro de 2011, a ONU reco- nhece que o país está em guerra civil. § Reivindicações: Queda do regime, direitos hu- manos, democracia. § Repressão: O aparato repressor de Assad é um dos mais sofisticados de todos os países da Pri- mavera Árabe. A ONU estima que a guerra civil 7 síria deixou ao menos 93 mil mortos e obrigou mais de 1,5 milhão a se refugiar em países vizi- nhos, desestabilizando uma região já tumultua- da. Recentemente, os EUA confirmaram o uso de armas químicas pelo regime de Assad. § Futuro do movimento: A Síria encontra-se atualmente em guerra civil. Apesar da pressão dos rebeldes contra o regime sírio com a captura de bases aéreas e instalações militares, as tropas do governo, apoiadas por combatentes do grupo xiita libanês Hezbollah, reconquistaram cidades estratégicas, como Qusair. Crucial na geopolítica do Oriente Médio, o conflito sírio afeta outras nações internamente, não só com o número de refugiados, mas também com os grupos favorá- veis e contrários a Assad, que estão em confron- to. Com a confirmação do uso de armas quími- cas, os EUA prometeram enviar ajuda militar aos rebeldes, o que indica um maior envolvimento de outras peças no jogo geopolítico. Imagem de vídeo publicado no YouTube que diz mostrar prostestos em Hama na sexta-feira (2011). Ocupe Wall Street § Onde: Inicialmente, Nova York (EUA) e depois em cidades em cerca de 80 países § Quando: setembro de 2011 § Motivação: A Adbusters, uma revista canaden- se que prega o anticonsumismo, publicou um artigo afirmando que os estadunidense, inspira- dos na revolta na Praça Tahrir, no Egito, deveriam realizar uma ocupação pacífica em Wall Street para condenar a influência das grandes corpora- ções financeiras no governo dos EUA. No dia 17 de setembro, centenas de manifestantes ocupa- ram o Parque Zuccotti em oposição à ganância das corporações de Wall Street e à corrupção. O protesto, depois, ganhou o apoio de sindicatos e movimentos civis, espalhando-se pelo país e por outras cidades do mundo. § Reivindicações: Com o slogan "Somos os 99%", em referência à concentração de renda nos EUA, manifestantes pediram o fim da influ- ência das corporações financeiras no governo, do favorecimento dos ricos e melhoras no siste- ma de saúde e de educação. § Repressão: Desde que as manifestações ti- veram início, milhares de participantes foram detidos pela polícia em várias cidades estaduni- denses e no resto do mundo. Houve uso de gás lacrimogêneo por algumas polícias e alguns ma- nifestantes criticaram a brutalidade dos agentes durante as prisões. § Desfecho do movimento: Hoje, o movimento "Ocupe" se tornou um conjunto de grupos com objetivos semelhantes que usam um mesmo nome, mas não têm como função de fato ocupar espaços publicamente, como no início. Foi funda- do, por exemplo, o Occupy Sandy Recovery, que organizou uma rede de voluntários para ajudar os atingidos pelo furacão que atingiu a costa les- te dos EUA no ano passado. Grupo Occupy Wall Street critica sistema financeiro americano (2011). Distúrbios no Reino Unido § Onde: Londres, Bristol, Liverpool, Manchester, Birmingham, entre outras cidades § Quando: agosto de 2011 § Motivação: Manifestantes saíram às ruas paci- ficamente para protestar contra a morte de um residente de Tottenham, no subúrbio de Londres. Mark Duggan, 29 anos, foi morto por policiais de- pois de ser abordado em um táxi por uma unida- de que investigava crimes com armas de fogo no bairro. O protesto se tornou violento depois que garrafas de vidro foram jogadas contra carros da polícia e um deles foi incendiado. A tropa de cho- que e a cavalaria foram enviadas para conter a 8 manifestação. Logo, jovens nas ruas passaram a vandalizar prédios públicos, saquear lojas ea con- frontar a polícia em várias cidades do país. § Reivindicações: Os distúrbios no Reino Unido não apresentaram demandas claras, mas foram reflexo do crescente desemprego, da recuperação lenta da economia e dos cortes orçamentários para setores públicos caros à juventude, como a educação. § Repressão: Foram registradas cinco mortes e mais de 100 feridos durante os distúrbios no Reino Unido. A polícia deteve mais de 2 mil ma- nifestantes durante as cenas de caos e reforçou o contingente de agentes nas áreas atingidas. O governo também ampliou o poder da polícia, per- mitindo o uso de balas de borracha. § Desfecho do movimento: Parte dos milhares de detidos foram processados pela Justiça britâ- nica após os distúrbios. A polícia do Reino Unido também viu seus poderes ampliados, com a possi- bilidade de decretar toques de recolher em deter- minadas áreas para menores de 16 anos. Estocol- mo, na Suécia, foi alvo de noites de violência em 2013, após a morte de um imigrante pela polícia. Polícia em meio a distúrbios em Croydon, no sul de Londres (2011) Protestos em defesa do Parque Gezi, na Turquia § Onde: Istambul, Ancara, entre outras cidades § Quando: junho de 2013 § Motivação: Manifestantes se reuniram pacifi- camente no Parque Gezi, na Praça Taksim, Istam- bul, para protestar contra planos do governo de construir uma réplica de quartéis militares oto- manos do século XVIII e um shopping no local. A dura repressão policial contra a mobilização provocou fúria entre a população, desatando protestos que se tornaram um dos maiores desa- fios ao premiê Recep Tayyip Erdogan, acusado de autoritarismo pelos manifestantes. § Reivindicações: Manutenção do Parque Gezi, direitos humanos, saída de Erdogan do poder. § Repressão: A polícia na Turquia reprimiu com violência as manifestações, com uso de gás lacri- mogêneo, spray de pimenta e canhões de água. Cinco mortes (incluindo a de um policial) foram registradas desde o início dos confrontos e mi- lhares de participantes ficaram feridos. A Praça Taksim chegou a ser ocupada pelos manifestan- tes, retirados sob violenta força policial. § Futuro do movimento: A manifestação teve início pacífico e logo se tornou o maior protesto contra o governo Erdogan em seus dez anos no poder. Por causa da violenta repressão policial, manifestantes que queriam apenas preservar as árvores do Parque Gezi abraçam novas causas, como o direito à liberdade de expressão. Manifestante joga uma lata de gás lacrimogêneo durante confrontos com a polícia na praça Taksim, Istambul (2013). Protestos contra aumento das passagens de ônibus no Brasil § Onde: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, entre outras cidades § Quando: junho de 2013 § Motivação: O aumento da tarifa do transporte público nas principais capitais brasileiras provo- cou protestos tímidos desde janeiro de 2013, mas as manifestações, paralelamente à agenda turca, intensificaram-se desde maio. Diversas rei- vindicações foram agregadas ao protesto, princi- palmente após a forte repressão policial contra as manifestações em São Paulo, em 13 de junho. § Reivindicações: Redução da tarifa das passa- gens de ônibus e melhora na qualidade do servi- ço de transporte público. § Repressão: A polícia usou gás lacrimogêneo, balas de borracha e cassetetes contra os ma- nifestantes nas principais cidades do país. Em São Paulo, mais de 200 ficaram feridos em 13 9 de junho, após a violenta ação policial contra os protestos. Centenas foram detidos durante as manifestações, incluindo jornalistas que realiza- vam a cobertura do ato. O estopim das manifestações foi o aumento da tarifa no transporte público. In foco Brasil O sistema político partidário brasileiro vivenciou pelo menos oito experiências distintas, desde o Império aos nossos dias, representando atualmente a mais longeva e estável da história brasileira. Apesar das frequentes propostas de reforma política a partir da redemocratiza- ção, além das inúmeras críticas, sobretudo, no tocante à capacidade de enraizamento social das agremiações partidárias e à alta fragmentação no Congresso Nacio- nal, o sistema partidário, nascido com a abertura demo- crática, em 1985, apresentava índices razoáveis (para não dizer elevados) de institucionalização. Desde 1994, a competição eleitoral nas eleições presidenciais se concentra em dois grupos ideológicos, um de centro-esquerda, outro de centro-direita (essas são as classificações mais adotadas para designar tais partidos), liderados por PT e PSDB. A inconstância elei- toral apresenta queda constante, o comparecimento nas eleições é de aproximadamente 80%, os índices de filiação partidária representam cerca de 10% do eleito- rado – um dos maiores do mundo, e o número efetivo de partidos na Câmara dos Deputados, em 2010, residia em torno de 11 legendas – hoje temos 35 legendas. Pesquisa naquele mesmo ano apontava que 46% dos eleitores se identificavam com os partidos políticos, dos quais 23% tinham preferência pelo PT, seguido pelo PMDB com 6% e o PSDB também com 6%. Lista de partidos políticos de 2015 A partir das manifestações de rua de junho de 2013, o quadro mudou consideravelmente. Houve um au- mento crescente da insatisfação popular com a classe política e o lema “Sem partido” se propagou pelo país, com reflexos diretos na eleição de 2014, que representou a maior fragmentação partidária do parlamento brasileiro, com 28 partidos representados na Câmara dos Deputados. 10 Pesquisas recentes do Datafolha apontam para um declínio significativo da identificação partidária, mos- tram os partidos políticos como as organizações menos confiáveis na opinião dos brasileiros, sendo a corrupção uma das maiores justificativas. No que se refere à preferência partidária, em fevereiro de 2016, 71% dos brasileiros disseram não ter sim- patia por partido algum. Em meio a esta conjuntura de transformações e mudanças, a renovação das elites partidárias e a conexão com a juventude se tornam fundamentais para que as legendas possam se manter vivas e, consequentemente, se reaproximar da sociedade. Vale lembrar que os ajustes pontuais no sistema partidário também são necessários, mas a mudança deve vir, sobretudo, de uma reaproximação com os cidadãos. Neste sentido, o clima de despolitização presente na atual política brasileira se torna altamente pernicioso e cada vez mais preocupante. Modernização dos partidos é parte da solução A solução para a crise de representação dos partidos ainda é um mistério para a maioria dos analistas, e poucos arriscam opiniões. O cientista político da FGV Octávio Amorim Neto defende, antes de tudo, uma reforma política – diferente da atual proposta, contudo. “Um grande acordo bem pensado no parlamento, feito com calma e com prudência, para criarmos um sistema eleitoral que não facilite a vida dos partidos com baixa representatividade social”, explica. Contudo, Amorin salienta que a mudança no sistema não altera a cultura partidária, “até porque a Constituição dá aos partidos o monopólio da representação”. Já o analista político Sérgio Abranches defende uma modernização dos partidos e a utilização das redes sociais de modo mais funcional. “Os partidos têm se apropriado das redes sociais para manipular os eleitores e para fazer mensagens de ódio contra os oponentes, quando na verdade tinham de usar as redes sociais para captar os sentimentos dos grupos mais afins dos partidos e formar sua nova agenda.” Ele defende também o uso da rede para criar formas mais diretas de democracia deliberativa. “A política não se modernizou tecnologicamente, nosso último avanço foi a urna eletrônica. É possível fazer uma discussão séria usando as tecnologias adequadas,com fóruns e tomadas de decisões mais democráticas”. História O sistema partidário brasileiro foi marcado por uma série de interrupções e dissoluções de partidos. Confira a evolução: § Período Imperial (1822-1889) Surgem os primeiros partidos do Brasil: o Partido Brasileiro, que cuidava dos interesses de latifundiários e co- merciantes locais, e o Partido Português, que defendia a recolonização do país pelos benefícios que isso traria à metrópole. Depois que Dom Pedro I retorna a Portugal, surge o Partido Restaurador, que visa a volta do imperador. Co- nhecidos como caramurus, os restauradores faziam oposição ao Partido Liberal Exaltado, conhecido como Jurujuba ou Farroupilha, e ao Partido Moderado, cujos membros eram apelidados de chimangos. O Partido Liberal Exaltado deu origem ao Partido Liberal, dos chamados luzias, que se opunham ideologica- mente ao Partido Conservador, também conhecido como saquaremas. Esses dois partidos foram criados em 1937 e extintos com a proclamação da República, em 1889. 11 § República Velha (1889-1937) A extinção dos partidos monarquistas permitiu o surgimento de partidos regionais. Quase todo estado tinha o seu. Os mais representativos, e que se alternaram no poder durante o período conhecido como a República do Café-com-Leite, eram o Partido Republicano Mineiro (PRM) e o Partido Republicano Paulista (PRP). Esses partidos coexistiram, durante um tempo, com partidos ideológicos, como o Partido Comunista Brasileiro (PC do B) e a Ação Integralista Brasileira (AIB), criados em 1922 e 1932, respectivamente. Os partidos regionais foram extintos pela Revolução de 30, que colocou Getúlio Vargas no poder. § Estado Novo (1937-1945) Getúlio Vargas extinguiu todos os outros partidos, e um único partido de oposição se formou: a União Democrática Nacional (UDN), que era, a rigor, uma frente oposicionista. Nas eleições de 1945, os parti- dos foram legalizados, e o Partido Comunista Brasileiro (PCB), então na clandestinidade, veio à tona junto com a UDN e os dois partidos fundados por Getúlio: o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e o Partido Social Democrático (PSD). § Ditadura Militar (1964-1985) O multipartidarismo existiu no Brasil durante a primeira experiência democrática do país, mas o sistema foi reduzido a dois partidos pelo Ato Complementar nº 4, do general Castelo Branco, em 1965: a Aliança Renova- dora Nacional (Arena), dos militares, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), uma oposição artificial. § Período atual (1985-) Com o fim do bipartidarismo, o MDB deu origem ao PMDB e ao PSDB. O PT, criado em 1980, foi reconhecido como partido em 1982. Essas três principais forças partidárias deram origens a várias outras. Atualmente, existem 30 partidos no Brasil reconhecidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). aprofunde seus ConheCimentos Sugestões de filmes e documentários § The Square (2013) – Direção: Jehane Noujaim – duração 108 minutos. § Tahrir: Liberation Square (2012) – Direção: Stefano Savona – duração 91 minutos. § 1/2 Revolution (2011) – Direção: Omar Shargawi e Karim Rl Hakim – duração: 72 minutos. § Mr. Schneider Goes to Washington (2007) – Direção: Jonathan Neil Schneider – duração: 75 minutos. § Michael Moore in Trumpland (2016) – Direção: Michael Moore – duração: 73 minutos. § Batalha de Seattle (2008) – Direção: Stuart Townsend – duração: 111 minutos. § Slacker Uprising (2008) – Direção: Michael Moore – duração: 102 minutos. § A Sombra de um Homem (2011) – Direção: Hanan Abdalla – duração: 15 minutos. fontes http://politica.estadao.com.br/blogs/legis-ativo/sobre-a-crise-da-representacao-politica/ http://exame.abril.com.br/mundo/mundo-vive-crise-politica-por-falta-de-lideranca-diz-mujica/ http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2013-08-02/protestos-mundiais-refletem-crise-de-representacao-politica-dizem-espe- cialistas.html http://www.brasil-economia-governo.org.br/2016/02/22/como-explicar-a-atual-crise-de-representatividade/ http://www.huffpostbrasil.com/sam-jovana/a-crise-de-representatividade-pelo-pluripartidarismo_b_6235680.html http://www.ocafezinho.com/2016/12/09/fim-do-mundo-diz-wanderley-guilherme-sobre-crise-politica-no-brasil/ http://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/crise-de-representacao-partidaria-e-um-problema-historico-c52qr5g4p5pif3x- c63jksanv2
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