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Disciplina: Orientações para a Prática Profissional 
Aula 06:Observação e Visita	
Objetivo:
Nesta aula, iremos conhecer dois importantes instrumentos de coleta de dados utilizados pelos assistentes sociais na realização de seu trabalho – observação e visita -, identificando os cuidados a serem tomados na sua aplicação. 
Introdução da Aula:
	O assistente social lança mão de um conjunto de instrumentos para atingir os objetivos de sua ação profissional. Entre eles estão a observação e a visita. É importante ressaltar que elas não existem isoladamente, sem estarem relacionadas a um objetivo. O que significa que são os objetivos da ação profissional que determinam sua escolha; que primeiro devemos identificar “para que” fazer para em seguida decidirmos o “como fazer”.
Apesar de a observação fazer parte da nossa vida cotidiana, como dormir e comer, na atuação profissional ela deve ser planejada, ou seja, é preciso que existam parâmetros para se chegar a um resultado, caso contrário corremos o risco de nos perder nesse processo.
A visita, que pode ser domiciliar ou institucional, é um recurso empregado quando há necessidade de se conhecer o modo de vida das pessoas (domiciliar) ou a qualidade de um serviço, por exemplo. Neste último caso é denominada de visita institucional.
Entretanto, na medida em que ambos os instrumentos pressupõem a relação com outros seres humanos, é fundamental que sua aplicação seja respeitosa e alicerçada na ética.
Material didático: 
Não há.
Aprenda mais!
	Releitura do artigo “A prática do assistente social: conhecimento, instrumentalidade e intervenção profissional”, de autoria de Charles Toniolo de Souza, prestando bastante atenção ao conteúdo da parte 4 – Instrumentalidade e linguagem (ns).
Síntese da aula:
	Nesta aula, aprendemos que a observação e a visita são importantes instrumentos de coleta de dados utilizados pelos assistentes sociais; que como os demais instrumentos, devem estar sempre vinculadas aos objetivos da ação profissional, ou seja, não existem por elas mesmas e não são mais importantes que os objetivos; que a observação é um instrumento extremamente versátil e que normalmente é conjugada com outros instrumentos, em especial a entrevista; que a visita (domiciliar ou a institucional) é empregada quando se necessita obter informações sobre o fenômeno que está sendo estudado nos locais onde ele acontece; que o registro das informações obtidas contribui para a sistematização da prática profissional. 
Próxima aula:
	Na próxima aula, estudaremos um dos consagrados instrumentos do Serviço Social, que é a entrevista, identificando seus estágios, cuidados a serem tomados na sua aplicação, entre outros aspectos que contribuem para o seu bom desenvolvimento. 
Atividade: 
Não há atividade sugerida. 
Registrar frequência:	
1)Dentre as alternativas abaixo, assinale a única que não é compatível com as afirmações feitas no decorrer da aula sobre os instrumentos observação e visita. 
a) Devem estar sempre articulados aos objetivos profissionais;
b) Devem ser conduzidos com ética;
c) As informações que produzem devem ser registradas; 
d) São considerados indiretos, na medida em que são empregados após a aplicação dos instrumentos chamados “face a face”.
2) Os instrumentos utilizados em Serviço Social estão vinculados à dimensão:
a) Dimensão ético-política;
b) Dimensão técnico-operativa; 
c) Dimensão normativa;
d) Dimensão teórico-metodológica. 
3) Os chamados “jargões profissionais” são exemplos de:
a) Formas próprias de comunicação dentro de uma mesma cultura profissional; 
b) Formas de expressão de profissionais de culturas diferentes;
c) Processos interpessoais de comunicação entre profissionais;
d) Processos grupais de comunicação entre profissionais. 
Aula propriamente dita:
Para falar de instrumentos utilizados pelo Serviço Social, vamos rapidamente fazer uma recapitulação do que aprendemos na aula sobre competências. Como sabemos, a prática do assistente social deve estar alicerçada em 3 dimensões que devem estar sempre em equilíbrio. São elas: a dimensão ético-política; a dimensão teórico-metodológica e a técnico-operativa. Os instrumentos fazem parte da dimensão técnico-operativa, bem como as estratégias de ação abordadas na aula passada.
Mas antes de continuarmos, vamos consultar o dicionário para saber o significado de instrumento? Segundo Ferreira (1980), pode ser um “recurso empregado para se alcançar um objetivo, conseguir um resultado.” E é exatamente essa a função dos instrumentos utilizados pelo Serviço Social, permitir a operacionalização da ação social. Mas não podemos esquecer que eles não podem ser mais importantes que os objetivos da ação profissional. Ou seja, o que queremos alcançar. Como nos ensina Souza (2008), o assistente social deve primeiro definir “para quê fazer” para depois definir “como fazer”.
Esses instrumentos e técnicas não são exclusivos do Serviço Social, mas fazem parte do arsenal desenvolvido pelas Ciências Sociais, onde a profissão está inserida. 
Os instrumentos e as técnicas são empregados numa relação entre pessoas, que se relacionam, que se comunicam. E as pessoas se comunicam através da linguagem, que é um dos recursos mais complexos que o ser humano dispõe para expressar suas ideias e sentimentos. Vamos imaginar que uma pessoa precisa dar uma informação à outra. Esta informação é a mensagem, que chega à outra através da linguagem, que pode ser verbal (escrita ou falada/articulada) ou não verbal (gestos, imagens etc). Vejamos.
(Pessoal da produção de EAD, seria interessante que houvesse um diagrama ilustrando essa ideia. Tentei pensar em algo, mas sou péssima para essas coisas.)
			 Mensagem 
Pessoa A	----------------------------Pessoa B
			 Linguagem
(escrita; falada/articulada)
	A pessoa A tem que pensar, organizar e enviar a mensagem e a pessoa B recebe, decodifica e entende a mensagem, porque possui um arquivo de signos, conceitos etc que permite esse entendimento. Por exemplo, quando vários assistentes sociais estão reunidos e um diz: Hoje fiz uma VD. Todos sabem o que significa VD, que é a abreviação de visita domiciliar, assim como os nutricionistas entendem o significado de “fome oculta”, os fisioterapeutas o de AVD (atividades de vida diária). São os famosos jargões profissionais. Ou seja, existem formas próprias de comunicação mesmo dentro de uma mesma cultura, sob o mesmo idioma. 
	Magalhães citada por Souza (2008:125) resume o que acabamos de dizer na interessante reflexão a seguir:
O homem se comunica através de signos, e estes são organizados através de códigos e linguagens. Pelo processo socializador, ele desenvolve e amplia suas aptidões de comunicação, utilizando os modos e usos de fala que estão configurados no contexto sociocultural dos diferentes grupos sociais dos quais faz parte. 
	Então, se a linguagem é um recurso básico de trabalho do assistente social espera-se que ele se expresse corretamente, tanto através da linguagem oral quanto da linguagem escrita. Para Souza (2008), os instrumentos de trabalho podem ser classificados de acordo com esses tipos de linguagem. Os instrumentos diretos, também chamados de “face a face” e os instrumentos indiretos, ou “por escrito”.
	Para o autor, os instrumentos diretos ou “face a face” mais utilizados pelos assistentes sociais são: observação participante, entrevista, dinâmica de grupo, reunião, mobilização de comunidades, visita domiciliar e visita institucional. Entre os indiretos ou “por escrito” se destacam: atas de reunião, livros de registro, diário de campo, relatório social e parecer social. 
	Nesta disciplina abordaremos: observação e visita (que desenvolveremos a seguir), entrevista, dinâmica de grupo e algumas formas de registro das informações obtidas através da aplicação dos instrumentos “face a face”. 
	Começaremos com a observação, que nada mais é do que o uso dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e paladar) para obter conhecimentos sobre uma dada realidade,uma situação. O observador estabelece uma relação direta com o que é observado, no caso do assistente social, o contexto social. Mas como ele também faz parte desse contexto é ao mesmo tempo observador e observado. Sabem por que isto acontece? Porque a relação do observador das Ciências Sociais com o objeto observado (um grupo social, uma situação) é completamente diferente daquela que é estabelecida pelo observador das Ciências Naturais. 
Por exemplo, um astrônomo observa os astros através de um telescópio de maneira totalmente isenta de ideologia, ele não se identifica com seu objeto de observação por que não é um astro, mas um homem. Também o astro não tem qualquer expectativa quanto à observação realizada, nem com o que será feito com o produto daquela observação. Em outras palavras, não existe uma interação entre eles. Agora, um assistente social é um homem ou uma mulher e, portanto, sempre vai se identificar com o que está sendo observado: contexto em que sempre estarão envolvidos outros homens e mulheres ou produtos de suas relações. Além disso, eles terão expectativas, sim, quanto ao que está sendo observado e poderão influenciar todo o processo, mesmo que sejam de culturas diferentes, classes diferentes do observador. Por isso dizemos que no caso das Ciências Sociais, a ideologia é intrínseca, quer dizer, faz parte do processo, enquanto o mesmo não acontece nas Ciências Naturais. Por este motivo, que ao observar um fenômeno social o assistente social também se observa. Está claro?
Os nossos sentidos captam informações o tempo todo, mas de forma assistemática, de modo geral, sem uma ordem e sem uma finalidade. Entretanto, ao adotarmos a observação no nosso trabalho, temos a finalidade de coletar informações a respeito de uma dada realidade, de uma situação a ser compreendida. 
 Mas quem observa, observa alguma coisa, certo? O que quer dizer que temos que ter parâmetros a serem observados e os resultados devem ser registrados, caso contrário, ao final do processo não nos lembraremos de todos os detalhes observados.
	O registro do produto das observações deve ser feito num caderno de notas, que numa situação de pesquisa é chamado de diário de campo. Mas vamos deixar este ponto para tratar nas disciplinas de pesquisa, ok? Por enquanto, um caderno de notas é suficiente. Sugiro que as observações sejam feitas de forma discreta para não intimidar o (s) observado (s), uma vez este instrumento coloca observador e observado (s) frente a frente.
Antes de continuarmos, é importante ressaltar que a observação é um instrumento bastante versátil. Pode ser aplicada sozinha, num contexto de entrevista, numa dinâmica de grupo, numa reunião etc
Vimos que a observação é um importante instrumento de conhecimento da realidade e por isto devemos ter muito cuidado ao adotá-la. Não esqueçam, o assistente social atua com pessoas em seus diversos contextos e o produto do seu trabalho, na forma de relatórios, pareceres sociais etc, pode interferir positiva ou negativamente na vida dessas pessoas.
Vamos ver como isso pode acontecer. A coluna de Ancelmo Gois, do Jornal O Globo, de 17/07/2011, no Rio de Janeiro, divulgou uma nota bem ilustrativa nesse sentido. A seguir, a nota, com o título de “Cena carioca,” na íntegra:
“Veja como são as coisas. Quarta, uma mulher de uns 50 anos, amiga de uma parceira da coluna, tomou um tombo na Praça da Bandeira, quebrou um dente e cortou o rosto. Um vizinho a levou a UPA (Unidade de Pronto Atendimento – grifo nosso) da Tijuca.
Lá, com a boca ferida, sem poder falar, ouviu da assistente social: ‘Foi seu marido, não foi? É aquele que está lá fora?! Vamos dar apoio para você denunciar.’
Segue...
Na volta para casa, no carro, o vizinho comentou:
- Não entendi nada. Uma funcionária da UPA me deu uma olhada de cima abaixo e disse: ‘Tô de olho em você, hein!’
Há testemunhas.”
	
	Nem sabemos se foi mesmo uma assistente social, nem vamos entrar nesse mérito, o fato é que uma profissional, concluiu apenas baseada no que seus sentidos tinham acabado de captar, que a mulher havia sido vítima de violência doméstica, sem ter o cuidado de checar suas impressões. Esse julgamento poderia ter sérias implicações. Vai saber o que poderia acontecer! 
	Enquanto atuei como assistente social (atualmente estou aposentada) a observação sempre foi uma importante aliada. Vou dar um exemplo. Uma das minhas experiências profissionais foi na Justiça, na área da infância e da juventude. Assim, atuei em muitos processos em que devia avaliar se um abrigo, por exemplo, dispensava às crianças sob sua responsabilidade um atendimento de acordo com o que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente. Para tanto, tinha que fazer uma visita, denominada de visita institucional. O objetivo era verificar a qualidade do serviço oferecido. Para isso, tinha um roteiro para me orientar nessas visitas que continha aspectos objetivos e subjetivos. Os objetivos ainda eram divididos entre aqueles que diziam respeito ao que eu observava nas crianças (se estavam bem cuidadas, vestidas, penteadas, etc, como se comportavam entre elas e com os adultos do abrigo, entre outros aspectos) e as observações referentes ao imóvel (estado de conservação, adequação dos compartimentos à faixa etária, capacidade de atendimento, condições de higiene, entre outros). Os aspectos subjetivos estavam mais relacionados com o desenvolvimento do projeto pedagógico do abrigo.
Mas só ao entrar no local meus sentidos já captavam certas informações: a organização, os cheiros, os sons. Procurava fazer esse tipo de visita em horários de almoço, de lanche, de banho para observar mesmo a rotina e não apenas perguntar por ela. Sempre me impressionavam bem abrigos em que havia uma comida cheirosa, uma “bagunça saudável”, crianças se comportando de forma espontânea. Mas, é claro, estas informações deveriam ser relacionadas com outras para que eu chegasse à conclusão sobre a qualidade do atendimento; se o atendimento estava cumprindo às recomendações do ECA. 
	Vocês sabiam que existem estudos que constataram que a comunicação humana ocorre basicamente através da comunicação não verbal? Em muitos momentos em minha atuação esse tipo de comunicação foi mais importante do que as informações que coletava através das entrevistas ou das dinâmicas de grupo, pois os gestos, a expressão facial, a postura, a entonação da voz, os suspiros, entre outros sinais emitidos pelas pessoas, podem “dizer” muito mais do que as palavras. 
	Viram como a observação é versátil? Sem sentir já começamos a falar de como elas podem ser utilizadas nas visitas. E falando em visitas, existem dois tipos básicos delas: a domiciliar, a famosa VD, e a institucional. 
	Para Souza (2008:128), a visita domiciliar é um instrumento que “[...] tem como principal objetivo conhecer as condições e modos de vida da população usuária em sua realidade cotidiana, ou seja, no local onde ela estabelece suas relações do dia a dia: em seu domicílio.”
	Na visita domiciliar, embora a entrevista seja o instrumento mais utilizado, a observação tem um papel fundamental, pois é ela que pode, em algumas situações, fazer o confronto entre o que as pessoas informam e o que efetivamente acontece. Não me esqueço de uma visita que fiz a um abrigo em que estava havendo uma festa para as crianças. Pessoas da comunidade participavam ativamente, inclusive trazendo doces, refrigerantes, brinquedos etc e quando perguntada se a entidade recebia alguma contribuição a responsável respondeu: “Ah, minha filha, aqui sou só eu e Deus.”
Em outra ocasião, duas alunas minhas estavam visitando uma creche e enquanto conversavam com uma educadora, que dizia maravilhas sobre o projeto pedagógico da entidade, uma criança entrou na sala interrompendo a conversa, sendo literalmente enxotada do local. 
Apesar de a visita domiciliar ser realizada sempre que precisamos conhecer como as pessoas vivem em seu espaço privado, os objetivos podem variar, dependendo da situação a ser trabalhada, da área de atuação do assistente social.Um profissional que atue na área da saúde, num determinado momento, pode estar mais preocupado com aspectos relacionados às condições da habitação (tipo de construção, número de cômodos, saneamento básico, luz etc) do que as relações entre seus moradores, por exemplo. Já um profissional que atue num Conselho Tutelar e esteja trabalhando uma situação de violência doméstica contra uma criança certamente vai estar mais preocupado em coletar informações a respeito das relações entre as pessoas. Não que outros aspectos não sejam importantes, mas é uma questão de foco. 
O importante é que tenhamos clareza que ao realizar uma visita domiciliar estamos penetrando num espaço privado e que é fundamental que as pessoas concordem em nos receber e que o relacionamento estabelecido seja respeitoso. 
As visitas institucionais são realizadas geralmente quando necessitamos conhecer um trabalho desenvolvido por uma instituição, avaliar a qualidade de um serviço, como o exemplo das visitas aos abrigos dado acima. É comum que essas visitas sejam previamente marcadas com seus dirigentes, contudo, existem ocasiões em que essa postura favorece com que a realidade institucional seja maquiada. O exemplo que daremos a seguir é, felizmente, cada vez menos comum tendo em vista as fiscalizações do poder público e do controle social exercido pela comunidade nos abrigos voltados ao público infanto-juvenil, mas imaginem um abrigo voltado ao atendimento de crianças bem pequenas que é denunciado pelos vizinhos pelo mau tratamento dispensado às crianças, por suas dependências estarem sujas, mal cheirosas etc. Se os dirigentes tomarem conhecimento da intenção de uma organização de visitar o abrigo, podem desencadear uma verdadeira “operação limpeza”, e tomar outras providências. Por outro lado, nosso senso de observação aguçado pode denunciar a manobra. Olha a observação de novo aí gente! Até a próxima aula.
	
7ª Aula – Instrumentos: Entrevista
Objetivos da aula:
Nesta aula, abordaremos o consagrado instrumento utilizado pelo Serviço Social: a entrevista. Vamos discutir os vários aspectos envolvidos no uso dessa ferramenta e as condições e habilidades necessárias a que se constitua numa estratégia de ação apropriada aos objetivos determinados. Vamos discutir qual o tipo de entrevista mais adequado à prática do Serviço Social. Abordaremos a questão da neutralidade na escolha e no uso da entrevista.
Introdução:
O instrumental técnico-operativo apropriado pelo Serviço Social para a realização de sua prática não é tão grande, mas o uso combinado de ferramentas permite inúmeras possibilidades de estratégias de ação. Entretanto, o que se verifica é que, nas inúmeras e variadas frentes de atuação, a entrevista é o instrumento mais utilizadopelo assistente social. Mesmo quando o centro da ação é o trabalho com grupos, por exemplo, em geral a entrevista, em algum momento, compõe a estratégia. 
A entrevista, portanto, é um dos momentos privilegiados de contato e comunicação com a população atendida. É através, principalmente, desse instrumento que o profissional acessa o cotidiano e, quase sempre, a privacidade da vida dos indivíduos. E, ao fazer isso, é preciso ter clareza, o faz numa posição de poder, na medida em que tem atribuição institucional para estar ali, para realizar aquele encontro. 
Um dos objetivos desta aula é relevar esse aspecto da entrevista, para que tal assimetria não comprometa a relação entre entrevistador e entrevistado, e, por consequência, os resultados do trabalho. 
Além desse, outros fatores podem eventualmente se constituir em obstáculo ao bom resultado da entrevista. Procuraremos explorá-los ao máximo, ressalvando que não é objetivo desta aula esgotar todas as questões que envolvem a operacionalização do instrumento, tampouco detalhar os tipos de entrevistas e as técnicas aplicadas. Não há treinamento capaz de fazer com que um profissional realize uma entrevista satisfatória. O que vale mesmo, além da experiência obtida não só com a prática, mas com a reflexão crítica sobre ela, é descobrir o que você, profissional, pensa sobre a relação quer estabelecer com entrevistado, se é de ajuda ou apenas de coleta de informações. Ou seja, qual é sua postura frente às determinações sociais que levaram aquele indivíduo a estar ali, diante de você. É isso o que determina teu objetivo com a entrevista e que baliza seus resultados. Saber se uma entrevista foi boa ou não depende desse posicionamento.
Material didático:
Texto padrão
Aprenda mais:
Sugiro que vocês leiam e usem como instrumento de trabalho o livro A Entrevista de Ajuda, de Alfred Benjamin. É o melhor livro sobre o tema que já tive acesso, e considerado assim por profissionais de diferentes áreas.
Síntese da Aula:
Nesta aula você:
Compreendeu que a entrevista, como integrante do arsenal instrumental do Serviço Social, tem caráter de entrevista de ajuda;
Compreendeu que não há neutralidade no uso da entrevista, bem como no de qualquer instrumento e técnicas na prática de Serviço Social;
Identificou que postura, formas de abordagem e técnicas permitem que a entrevista de ajuda se converta num relacionamento de ajuda;
Percebeu o papel da mediação na relação entre as práticas profissionais e as determinações institucionais.
Próxima aula:
Na próxima aula, conheceremos as formas mais utilizadas para registrar a prática profissional, com destaque para o diário de campo, tendo em vista a sua importância para o processo de aprendizagem.
Atividade: Proponho que vocês simulem uma entrevista, alternando pergunta aberta e fechada, e direta e indireta. 
Frequência:
1 – Qual a alternativa que melhor define a entrevista de ajuda?
( ) É aquela que tem por objetivo ajudar o entrevistado a resolver seus problemas.
( ) É aquela que visa obter informações para subsidiar a decisão do profissional.
( ) É aquela que visa ajudar o entrevistado a desenvolver a autonomia na gestão de sua vida. 
( ) É aquela que possibilita um diálogo franco e aberto, sem um propósito definido.
2 – Marque as alternativas que correspondem aos fatores que impedem que a entrevista de ajuda possa se constituir num relacionamento de ajuda.
( ) Representação do usuário como pessoa incapaz de gerir sua vida.
( ) Entrevista baseada no modelo pergunta/resposta.
( ) Valorização da técnica sobre o processo.
( ) Todas as respostas acima.
3 – Por que a pergunta fechada dificulta o relacionamento de ajuda?
( ) Porque restringe a liberdade de expressão.
( ) Porque direciona a resposta.
( ) Porque esse tipo de pergunta é mais adequada a questionários.
( ) Porque a melhor opção para a entrevista de ajuda é a pergunta aberta.
Aula propriamente dita:
Vamos começar a aula repetindo aquilo que já se tornou um chavão entre nós, mas que, apesar disso, é mais difícil de compreendê-lo do que se imagina: Não há ação profissional que seja neutra. Em todas elas há sempre uma intencionalidade, um para que. E este para que, consciente ou não, estará condicionado pelas posições políticas assumidas diante dos fatos, das situações que se apresentam ao profissional. 
Mas os instrumentos e as técnicas em si são neutros, vocês poderiam argumentar. E eu contra argumentaria. Não, nem mesmo os instrumentos e técnicas são neutros. Isto porque não há qualquer sentido em analisá-los, isolando-os das condições e razões que justificaram sua utilização. 
É por isso que vale relembrar: o desenvolvimento da competência profissional do assistente social está indissoluvelmente ligado à sua capacidade de articular as dimensões, teórico-metodológica,ético-política e técnico-operativa na formação de seu saber. Saber, que aqui é entendido como unidade pensamento-ação, teoria-prática, discurso ato. Myriam Veras Baptista sintetiza isso muito bem: “o assistente social não só analisa os acontecimentos, mas tece-os criticamente, toma uma posição e decide por um determinado tipo de intervenção”. (1995, p. 92)
Nós já vimos que o Serviço Social é uma profissão eminentementeprática, de caráter interventivo, de cunho socioeducativo ou socializador, imbricada no cotidiano, e que visa introduzir mudanças imediatas no contexto social. Vimos também que sua função institucional é contribuir para a reprodução das relações sociais e que estas se reproduzem no cotidiano.
O assistente social realiza sua prática vinculada a órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas, entidades e organizações civis. Atua, principalmente, nas áreas da Assistência, Saúde, Educação, Justiça, dedicando-se à assessoria e consultoria em matéria de Serviço Social, mas, sobretudo, ao planejamento, operacionalização e viabilização dos serviços sociais à população. 
Na maioria dos casos, portanto, lida com as demandas dos seguimentos mais pobres da população. Com aqueles sujeitos que, desprovidos das condições materiais para comprar bens, serviços e, porque não dizer, direitos, compõe a “clientela” das instituições que fornecem tais serviços. 
Nesta lida, o assistente social entra em contato com situações, muitas vezes dramáticas, decorrentes de carências de toda ordem. E, em contrapartida, com um estado geral de desqualificação e precarização dos serviços sociais, sempre justificados pelos limites orçamentários do Estado. Situação que, quase sempre, os obriga a ter que escolher, segundo critérios de seleção rígidos, o mais miserável entre aqueles que poderão ser inseridos neste ou naquele programa. 
Este é o sujeito que irá sentar na sua frente para ser entrevistado, em geral, para fornecer informações que lhe permitam tomar uma decisão. É um sujeito que, na condição de solicitante de algum serviço, e já tendo perdido de vista que tem direito àquilo, que não está pedindo favor (ou de nunca ter compreendido desse modo), chega até você, muitas vezes, de cabeça baixa,constrangido, tentando imaginar o que precisa dizer, que história contar, para ter sua demanda atendida. Ele trás as marcas do lugar subalterno que a estrutura social lhe impôs. Ele desconhece as determinações objetivas que o colocaram naquele lugar; ele desconhece que os serviços sociais que precisa requerer para dar conta do seu cotidiano provêm de recursos públicos, e que mesmo as empresas privadas, fundações ou organizações civis, que prestam tais serviços o fazem com dinheiro público, já que o debitam, sempre com vantagens, dos impostos que deveriam pagar ao Estado. Ele desconhece que aquele profissional que irá lhe atender é seu funcionário, na medida em que é um “servidor público”, porque pago com dinheiro público. Ele desconhece que mesmo ele, talvez desempregado, ou isento do imposto de renda por ter renda insuficiente, também paga impostos, embutidos no pão de cada dia, na passagem do ônibus, em todo o pouco que consome.
O que fazer com tudo isso? É possível pensar num tipo de entrevista que ultrapasse a coleta de informações? Que tipo de entrevista realizar, com que objetivo, que postura adotar? 
Essas são as escolhas que o assistente social terá que fazer antes de realizar aquela que é a mais frequente das suas atividades: a entrevista. 
Alfred Benjamin, no livro A Entrevista de Ajuda, diz que há basicamente dois tipos de entrevista: aquela na qual o entrevistador procura a ajuda do entrevistado, e aquela em que o entrevistador tenta ajudar o entrevistado. Na primeira, o autor situa a entrevista jornalística, a de pesquisa e a de seleção de pessoal. Nestas, o entrevistador precisa da história, das informações e do melhor ocupante para o cargo. Em todas as outras, nas realizadas por médicos, fisioterapeutas, professores, conselheiros, psicólogos, assistentes sociais, diz o autor, a entrevista é de “ajuda”. E assume esse caráter porque seu objetivo principal é ajudar o entrevistado. Ele está no centro, ele é o focalizado, ele é o mais importante. (1991, p. 13)
Para o autor:
 “Ajudar” é um ato de capacitação. O entrevistador capacita o entrevistado a reconhecer, sentir, saber, decidir, escolher se deve mudar. Este ato de capacitação exige doação de parte do entrevistador. Precisa dar uma parte de seu tempo, de sua capacidade de ouvir e entender, de sua habilidade, conhecimento e interesse – parte de si mesmo. Se essa doação puder ser sentida pelo entrevistado, o ato de capacitação encontrará receptividade. O entrevistado receberá ajuda de maneira adequada e significativa para ele. A entrevista de ajuda é a ampla interação verbal entre entrevistador e entrevistado, na qual se dá o ato de capacitação. Dá-se, mas não é sempre que os objetivos são alcançados, muitas vezes não sabemos se foram ou não”. (1991, p.14)
Vocês perceberam? Essa forma de ver a entrevista muda tudo. Porque muda a perspectiva da relação que o assistente social irá estabelecer com o usuário. Seja em que área for, tenha o usuário vindo espontaneamente ou obrigado, para além do objetivo específico que motivou aquela entrevista - obter ou fornecer informações para algum fim -, há um objetivo que prepondera e que coloca a seguinte questão: Qual será o melhor modo de ajudar essa pessoa, como fazer da entrevista de ajuda um relacionamento de ajuda?
Essa perspectiva desloca a questão da habilidade para outro lugar. Ao invés da preocupação com treinamento em diferentes técnicas de entrevista: diretiva, não-diretiva, formal, informal, estruturada, não-estruturada etc. A questão da habilidade em entrevista de ajuda está ligada muito mais à consciência de si mesmo, do seu papel profissional, de seus compromissos, de suas atitudes e formas de comunicação. O conhecimento dessas técnicas pode até produzir alguns insights, mas nunca vão ser suficientes ou determinantes para que a entrevista de ajuda se realize satisfatoriamente para ambas as partes. 
Digo, para ambas as partes, porque quando se consegue estabelecer o “relacionamento de ajuda”, quando a entrevista alcança esse patamar, entrevistador e entrevistado, assistente social e usuário, saem dela gratificados, mesmo quando os objetivos imediatos não tenham sido alcançados; e mesmo que você, na hora, tenha se esquecido da maioria daquelas técnicas.
Vamos imaginar uma situação como exemplo:
Um assistente social que tenha que dizer a um usuário que ele não poderá receber esse ou aquele benefício porque sua situação não se enquadra nos pré-requisitos determinados pela instituição. Será que, ainda assim, ele poderá realizar uma entrevista satisfatória?
Se o profissional for capaz de ouvir, de valorizar a queixa e a história do entrevistado; se souber demonstrar respeito, interesse e solidariedade, reconhecendo que ele pode dotar-se de autonomia, que é responsável por si próprio, por suas ações, pensamentos e sentimentos; se fornecer informações úteis e um leque de alternativas para ele decida que uso fazer delas; se agir no sentido de ajudá-lo a tornar-se cada vez mais consciente de si mesmo, de suas potências, de suas próprias referências, é bastante possível que esse profissional possa capacitá-lo a ver o problema sob outra ótica, a reconhecer que, talvez, mudanças de atitude poderiam dar outro rumo à questão. É bem possível que o entrevistado possa sair dali mais fortalecido, mais empoderado para enfrentar o problema. Nesse contexto, com certeza, também o entrevistador.
Mas, o balanço seria outro se, em vez disso, o assistente social se restringisse a dizer: Senhor, infelizmente, sou obrigada a informar que não poderemos atender seu pedido, uma vez que a renda per capta de sua família é superior ao limite estipulado pelo programa. Seria pior ainda, se em resposta às reclamações e manifestações de revolta do entrevistado, o assistente social dissesse: Senhor, essas são as regras, lamento muito, mas eu não posso fazer mais nada. Os recursos que o governo disponibiliza para o programa são insuficientes para atender a todos, e há outros em situação bem pior do que a sua. Por favor, eu pediria que o senhor se retirasse, porque preciso atender outras pessoas. 
O profissional que se deixa engolir pela rotina, pelos procedimentos burocráticos, pelas estatísticas, pelas metas de atendimento; aqueleque, pressionado pelo tempo e pela fila, mal consegue olhar (que dirá ouvir) quem está sentado a sua frente, este, será incapaz de fazer da entrevista de ajuda um relacionamento de ajuda. No final do dia de trabalho, ele estará morto de cansaço, insatisfeito, estressado. 
Vemos aqui uma primeira dificuldade: como é possível dar prioridade ao entrevistado, colocá-lo no centro do meu interesse profissional, nessas condições de trabalho, premido por exigências burocráticas que convertem pessoas em números? Afinal, os assistentes sociais realizam sua prática em condições de relativa autonomia, na medida em que, sendo contratados por alguma instituição, estão submetidos a enquadramentos normativos, funcionais, procedimentais, e a uma lógica funcionalista adequada aos interesses dominantes. 
O primeiro passo está dado: transformar a situação num problema. Se não a vemos como um problema, apesar da insatisfação, nos conformamos. É bem aquele ditado: aquilo que não tem remédio, remediado está. Só quando uma coisa é formulada como problema, é possível pensar em solucioná-lo. Nesse caso, a postura assumida é de recusa. É esta a postura que se deve adotar frente a toda imposição que contrarie os princípios que regem a boa conduta profissional.
Ah, mas isso é discurso acadêmico! Na prática, são outros quinhentos! 
Pode ser, mas a história está cheia de exemplos que confirmam a teoria segundo a qual, em se tratando de relações, sejam elas sociais, institucionais, interprofissionais ou interpessoais, é o conflito, a polarização de ideias, o confronto de interesses e posições, as lutas e jogos de poder, que ditam a dinâmica das mudanças. Na década de 80, quando os primeiros assistentes sociais foram contratados para as Varas de Família do Tribunal de Justiça do Rio, não havia salas para atendimento, muitos faziam suas entrevistas em salas coletivas, sem divisórias, e até nos corredores. E, tenham certeza, essa realidade não teria mudado, se a postura daqueles profissionais fosse a de que “aquilo que não tem remédio, remediado está”. Eles fizeram reuniões, elegeram representante, escreveram documento, solicitaram a interveniência do CRESS, e aos poucos a situação foi mudando. O interessante é que, a partir desse processo, a categoria começou a ser respeitada, adquiriu um novo status institucional, conseguindo, inclusive, o reconhecimento de uma coordenação técnica.
Até aqui, estamos falando de postura profissional, de uma escolha em termos teórico-metológicos e ético-políticos. Agora, vamos falar das condições, dos meios para assegurar que essa opção possa ser operacionalizada satisfatoriamente. 
A Entrevista é um diálogo entre duas pessoas, um diálogo sério que tem um propósito. Nos termos aqui colocados, esse propósito pode incluir obter e/ou fornecer informações, mas o enfoque incide sobre o processo de crescimento do entrevistado. Desse modo, o objetivo da entrevista é desenvolver um relacionamento caracterizado pela confiança mútua e mudança criativa (1991).
Fatores Externos:
A sala de atendimento:Difícil definir condições que, muitas vezes, estão fora de nosso controle. Mas alguns requisitos devem ser assegurados: o primeiro deles é que a sala permita um mínimo de privacidade aos interlocutores. Outro, é que sua decoração, a disposição dos móveis e objetos, não seja ameaçadora, barulhenta ou provoque distrações. Deve-se evitar que sobre a mesa estejam papéis ou fichas sobre outros usuários, bem como lanches ou objetos pessoais do entrevistador.
Normalmente, há uma mesa entre a cadeira do entrevistador e do entrevistado. Atentem para o fato de que essa disposição sinaliza certa hierarquia de papéis. O rumo que a entrevista tomar é que poderá quebrar essa distância. É que poderá demonstrar que mesmo em posições diferentes a relação ali é de natureza horizontal e não vertical. Em certas circunstâncias, talvez o melhor seja que ambos se sentem em cadeiras dispostas em ângulo de 90º, com uma pequena mesa em frente. Assim, o entrevistado poderá desviar o olhar quando sentir necessidade. Em entrevistas com crianças ou adolescentes, essa é a melhor disposição. O objetivo é propiciar uma atmosfera adequada à comunicação espontânea.
Interrupções:Deve-se evitar severamente que a entrevista sofra interrupções que quebram a dinâmica do relacionamento: telefonemas e entradas de colegas para resolver um probleminha sempre urgente são inadmissíveis.
Fatores internos:
A postura do entrevistador:O entrevistador que esteja focado no entrevistado, ouvindo sua história, atento a linguagens e expressões não verbais, não ficará atendendo o celular, remexendo em papéis, olhando o relógio, dispersando-se com seus próprios problemas. Lembrem-se, essas coisas não passam despercebidas pelo entrevistador, e são percebidas como desrespeito.
O entrevistador deve-se se colocar como pessoa, não como um robô ou um técnico. Deve expor sua humanidade, sua falibilidade, desvencilhando-se de qualquer máscara ou fachada que se interponha como barreira no relacionamento que ali se estabelece. Caso não saiba alguma informação solicitada pelo entrevistado, não enrole, diga claramente que desconhece e que ao final da entrevista buscará essa informação com um colega ou supervisor, e realmente o faça. Se dessa informação depender a continuidade da entrevista, interrompa, dê um telefonema. O entrevistado se sentirá respeitado, valorizado com a atenção dispensada.
Não há problemas em, eventualmente, fazer algum comentário sobre seus sentimentos ou sua vida pessoal, desde que a confiança mútua já esteja estabelecida. O que não pode ser feito em hipótese alguma é usar esse recurso para criar confiança e, pior, para sugerir que ele siga seu exemplo. Fale menos, ouça mais.
Nunca diga o que o entrevistado deve fazer, que caminho tomar, o que escolher. Municie-o com o máximo de informações, inclusive, levantando prós e contra, mas sempre tomando cuidado para não ser tendencioso, para não substituí-lo na tomada de decisão. Lembre-se que o importante num relacionamento de ajuda não é qual a decisão a ser tomada, mas que o entrevistado possa saber-se capaz de tomá-la. 
“A mudança que desejamos ajudar a promover é basicamente aquela que o entrevistado será capaz de construir, que seja significativa para ele e lhe permita agir no futuro com mais êxito enquanto pessoa. A mudança em que estamos interessados implica aprendizagem”.(1991, p.56)
Como registrar a entrevista: Toda entrevista deve ser registrada. Faz parte do processo da entrevista e, ademais, de todo o processo de trabalho do assistente social. Os registros são importantes para reavivar a memória do entrevistador na hora em que tiver que fazer um relatório ou como guia nos próximos encontros que, por ventura, tiver com o mesmo entrevistado. Além disso, os registros são a memória da ação profissional, sempre se poderá recorrer a eles para avaliar seu desenvolvimento, sua evolução. 
Numa entrevista, o registro, entretanto, tem que estar cercado de alguns cuidados. O primeiro deles, é que as anotações deverão estar subordinadas ao processo da entrevista. Não permita que o registro atrapalhe o ritmo da entrevista. Coisas do tipo: “fale mais devagar para que eu possa fazer minhas anotações”, são inapropriadas. 
Não transforme as anotações num interrogatório, num fluxo seqüenciado de perguntas e respostas. Isso pode parecer ameaçador.
Não anote coisas que o entrevistado não possa ter conhecimento. Se tiver que fazer alguma anotação de caráter avaliativo, tipo, mostrou-se agressivo, rígido, faça depois. O entrevistador sempre poderá perguntar: o que o senhor escreveu aí sobre mim? E criar uma situação, no mínimo, embaraçosa.
Por último, vale ressaltar que as anotações feitas durante a entrevista devem ser pontuais, com o fito de permitir que, depois, a memória seja acionada. O profissional não deve fazer ali o relatório do atendimento, um texto. Isso deverá ser feito depois da entrevista.
Tomados esses cuidados, existe uma margem bastante larga para que cada profissional adote seu estilode fazer os registros necessários, e, óbvio de criar seu próprio estilo de conduzir a entrevista. 
Sobre a pergunta:Essa questão é chave, a forma como se usa a pergunta determina não apenas a dinâmica da entrevista, mas seu caráter. Dependendo de como se usa a pergunta, toda a estratégia de transformar a entrevista de ajuda num relacionamento de ajuda ficará comprometida. 
O modelo pergunta/resposta pode se prestar a um interrogatório, a um inquérito, mas à entrevista de ajuda é contraproducente. 
“Se iniciamos a entrevista de ajuda fazendo perguntas e obtendo respostas, fazendo mais perguntas e obtendo mais respostas, estamos estabelecendo um modelo do qual nem nós, nem certamente o entrevistado, seremos capazes de nos desembaraçar. Sem oferecer-lhe alternativas, estaremos ensinando que, nessa situação, nossa função é fazer perguntas, e a dele, respondê-las. (...) Assim, ele se verá como um objeto que responde quando interrogado e, quando não, mantém a boca fechada. Ao introduzirmos o modelo pergunta/resposta, estamos dizendo ao entrevistado, de modo tão claro como se estivéssemos usando palavras, que nós somos a autoridade, o chefe, e que só nós o que importante e relevante para ele”. (1991, p.88)
As perguntas que podem ser feitas, e em alguns momentos é cabível fazê-las, são as perguntas que convidam o entrevistado a falar de si, de seus sentimentos, a expressar livremente suas opiniões e concepções. 
A pergunta aberta permite isso; a fechada pode tornar o diálogo monossilábico. Percebam a diferença: “Como você se sente em relação a sua mãe?” ou, “Você gosta da sua mãe, não é?”
Evite perguntas que já contenham a resposta, tipo: “você não teve realmente a intenção de fazer isso, teve?”
Evite perguntas duplas, tipo: “você quer vir amanhã ou depois de amanhã?”
Evite o bombardeio de perguntas, aquele em que o entrevistado mal tem tempo de elaborar a resposta ou de concluí-la que já recebe outra.
Evite antecipar a resposta do entrevistado. Mal ele começa a falar e o entrevistador o interrompe concluindo a resposta. Ou então, quando o entrevistado faz uma pausa (para buscar a melhor palavra, porque está emocionado etc), e o entrevistador o “ajuda” a concluir o raciocínio. 
Prefira as perguntas indiretas, tipo: “Você está no programa há um bom tempo, deve ter muito a dizer”. Ou, “Gostaria que você me falasse sobre seu sentimento em relação ao que aconteceu”.
Há muitas outras questões interessantes a se discutir e pensar sobre a entrevista de ajuda. Nesta aula, procurei ressaltar, mesmo assim superficialmente, os aspectos mais relevantes para quem vai iniciar essa experiência. A primeira entrevista e as subsequentes, durante um longo tempo, vão trazer insegurança, medo e muita ansiedade; não tem como ser diferente. O que posso dizer para reduzir um pouco o peso desses sentimentos e que vocês vão errar muito. Sabe aquele ditado que diz que se aprende com os erros. Para muitas coisas, ele pode não ser verdadeiro, mas para a entrevista ele é incontornável. Sabem por que? Porque, a entrevista é uma equação de dois termos. Aparentemente, só um deles é a incógnita, o entrevistado. Entretanto, há muito de incógnita em nós mesmos. A princípio, não sabemos como vamos reagir e esse contato, que questões nossas vão aparecer naquele momento, se essas questões vão interferir negativamente no processo. E, na medida em que estamos propondo um tipo de entrevista que é, na realidade, um relacionamento, um diálogo, precisamos conhecer a nós mesmos. Autoconsciência, honestidade e paciência. Permitam-se aprender com o entrevistado, com o processo.
Outra coisa muito importante: sendo um relacionamento, é via de mão dupla. E mesmo que caiba ao profissional a responsabilidade por conduzir a entrevista, o entrevistado joga papel ativo, não passivo, no processo. Ou seja, algumas vezes a entrevista pode ser bastante desgastante. Mas, vocês vão experimentar essa sensação, quando o relacionamento de ajuda acontece, o prazer é extremamente compensador.
Gloria Vargas
8ª Aula – O Serviço Social e o Trabalho com Grupos.
Nesta aula, abordaremos os grupos como espaços de relações interpessoais, constitutivos das relações sociais, e constituintes das identidades sociais. Destacaremos os principais aspectos da dinâmica grupal e as competências que o assistente social deve desenvolver para trabalhar com grupos. Veremos como o trabalho com grupos pode se constituir numa ferramenta adequada e fundamental aos objetivos da profissão. 
Objetivos desta aula:
Nesta aula você irá:
Estabelecer a relação da constituição dos grupos humanos na configuração da vida social e na dinâmica dos processos sociais;
Reconhecer a relação dialética entre subjetividade e objetividade na construção das identidades sociais e no desenvolvimento das práticas sociais;
Identificar as características dos grupos originados por demanda externa, os quais constituem o objeto da intervenção profissional;
Compreender a natureza da intervenção do Serviço Social na abordagem grupal;
Reconhecer quais tipos de grupo correspondem ao campo disciplinar do Serviço Social;
Identificar as competências que o assistente social deve desenvolver para trabalhar com grupos.
Introdução da aula:
Houve um tempo em que o Serviço Social era segmentado em Métodos de Caso, Grupo e Comunidade, numa perspectiva claramente tecnicista, referenciada teoricamente no funcionalismo positivista americano, que impregnou a formação profissional dos assistentes sociais a partir da década de 40 até a reforma curricular de 1996. 
Atualmente o trabalho com grupos, assim como o estudo social e outras abordagens, compõem uma das ferramentas possíveis da ação profissional do Serviço social. Faz parte do instrumental técnico-operativo a que o assistente social pode lançar mão ao definir sua estratégia de intervenção. Nessa nova perspectiva, o instrumento, a técnica, o método, não ocupam lugar privilegiado, não tem valor em si, não são autônomos em relação à análise crítica da realidade, ou seja, à teoria, nem aos compromissos éticos e políticos inscritos no projeto profissional. Ao contrário, é uma dimensão do fazer profissional que necessariamente deve estar interligada e articulada às dimensões teórico-metodológica e ético-política. 
Volto a insistir nessa questão porque toda prática tem uma intencionalidade; toda ação está revestida de um “porque fazer” e de um “para que fazer”. E essas respostas só podem ser encontradas na teoria e no tipo de implicação que o sujeito profissional assume frente às análises dela decorrentes. Portanto, o “que fazer” e o “como fazer”, inscritos na dimensão técnico-operativa, só podem ser respondidos com clareza, e eficiência, se iluminados por um prisma que unifique pensamento, intenção e gesto. 
Isso vale para profissionais de diferentes áreas do saber que recorrem ao trabalho com grupos em sua estratégia de ação. Todos, psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, enfermeiros, antropólogos, ao optarem pela abordagem grupal, vão fazê-lo porque consideram que este é o melhor meio de alcançar os objetivos profissionais. Mas, isso não resolve tudo. Sempre remetido aos objetivos que deseja alcançar, esses profissionais terão que fazer outras escolhas: que tipo de grupo, qual método a ser empregado, qual a forma de organização que o grupo vai adotar etc. Tudo isso, evidentemente, mediado pela contextualização conjuntural, pela natureza da instituição à qual estão vinculados, pelas relações entre os agentes institucionais e, sobretudo, pelas demandas da população atendida. 
Já vimos que o Serviço Social é uma especialização do trabalho coletivo, que tem por objeto de sua intervenção profissional as múltiplas expressões da Questão Social na vida cotidiana dos sujeitos sociais. Enquanto prática social e institucional de natureza interventiva, o Serviço Social se inscreve na dimensão educativa, na medida em que o conjunto de atividades que realiza visa transformar as representações dos sujeitos com vistas aodesenvolvimento das potências de liberdade, autonomia e criatividade. Por esse enfoque, parece-me apropriado afirmar que o trabalho com grupos é uma das estratégias de ação mais promissoras. O objetivo desta aula, portanto será trabalhar os principais elementos que interagem na construção do enfoque sócioeducativo no trabalho com grupos e também os principais aspectos envolvidos na atuação de coordenação de grupo. 
Material didático: Texto padrão
Aprenda mais:
Sugiro a leitura dos capítulos 3 e 6, respectivamente, Filosofia e Comunicação, do livro A Entrevista de Ajuda, de Alfred Benjamin (Martins Fontes, 1991). E também a leitura do relatório da Oficina em Dinâmica de Grupo na Área de Saúde, organizado por Maria Lúcia M. Afonso, que se encontra na íntegra, na internet.
Síntese da aula:
Nesta aula você:
Relembrou que a natureza da intervenção profissional do assistente está inserida na dimensão educativa; 
Compreendeu a necessidade de superar a visão objetivista da realidade, valorizando a subjetividade como componente das relações e dos processos sociais;
Percebeu que o desenvolvimento das competências e habilidades para o trabalho com grupos exige a apreensão de conceitos buscados em outros campos disciplinares, como noções de representação, identidades sociais, produção de subjetividades. 
Identificou diferentes tipos de grupo que podem ser trabalhados na construção da estratégia profissional do assistente social;
Identificou aspectos da dinâmica grupal que ajudam a nortear a postura do assistente social na condução do grupo.
Próxima aula: 
Trataremos de apresentar toda a documentação que será utilizada nos campos de estágio. 
Atividade:
Imaginem a estrutura e a dinâmica de dois grupos que, entre outras coisas, se diferenciam pela demanda que lhes originou: um grupo de trabalho escolar -demanda interna - e um grupo de gestantes de uma maternidade - demanda externa. A partir das demandas que lhes deram origem, indiquem os elementos que os diferenciam.
Frequência:
1) A partir do enunciado: “A construção das identidades sociais, a cultura, as escalas de valores, as mentalidades, assim como as condições objetivas e materiais de existência, são condicionados, mediados, explicitadas nas relações sociais, e os grupos constituem a forma dessas relações onde se dão as relações interpessoais”; identifique a afirmativa que melhor lhe corresponde.
( ) A consciência é determinada pelas condições materiais de existência;
( ) A análise das expressões da Questão Social - objeto da intervenção do Serviço Social – deve se ater aos fatores objetivos da realidade;
( ) A produção e reprodução da vida social, para ser compreendida em sua totalidade, deve pressupor a relação dialética entre as dimensões subjetivas e objetivas da realidade humana.
( ) A análise das expressões da Questão Social – objeto da intervenção do Serviço Social – deve se ater aos fatores subjetivos da realidade.
2) Que tipos de grupos, com enfoque sócio-educativo, correspondem à natureza da intervenção profissional do assistente social?
() Grupo Focal
( ) Grupo de Terapia
() Grupo operativo
() Grupo Reflexivo
() Terapia Comunitária
3) Qual a formulação que melhor expressa o objetivo do grupo sócio-educativo e que é coerente com os objetivos do Serviço Social?
() “Mudar o representado para transformar o vivenciado, com o objetivo de desenvolver e ampliar as possibilidades de escolha e as capacidades de liberdade e autonomia dos sujeitos sociais”.
( ) “Ajudar os sujeitos a resolver os problemas da vida cotidiana e suas relações”.
( ) “Mudar as práticas e a conduta social”.
( ) “Refletir sobre fatores psicológicos e emocionais que determinam as condutas e atitudes dos indivíduos”.
Conteúdo da aula:
O trabalho com grupos exige, em primeiro lugar, a superação de uma postura objetivista na análise da realidade humana. Essa postura, assumida, a meu ver, a partir de uma leitura mecânica e simplista do marxismo (materialismo histórico), leva a que muitos assistentes sociais negligenciem o peso da subjetividade como fator da produção e reprodução da vida social. Muitos discursos reduzem as identidades sociais à classe e às condições materiais de existência dos sujeitos. Como se as possibilidades de permanência e ruptura das relações de dominação, principalmente no terreno dos micro-poderes, das relações cotidianas, não tivessem ligação direta com as representações sociais, com as visões de mundo e de si, que atuam como reguladores das práticas sociais, como mecanismos de controle e de recalque das potências de liberdade e autonomia dos sujeitos.
O processo de amadurecimento da profissão vem dando conta dessa limitação, na medida em que se tem buscado uma postura pluralista, não fragmentária, na apreensão dos saberes dos diferentes campos disciplinares que compõe a formação do assistente social, como a Economia, a Sociologia, a Psicologia, a antropologia, a Filosofia, o Direito. 
Concordo com aqueles que não veem contradição no uso coerente de conceitos da teoria marxista, da fenomenologia, da visão sistêmica ou do pensamento foucaultiano. Pois considero que essas referências teóricas não são incompatíveis entre si, quando se pretende uma compreensão dos processos sociais a partir da dialética indivíduo/coletividade. A partir da compreensão dos indivíduos em sua totalidade humana, como sujeitos de emoções, sentimentos, valorações, intuições, desejos. Porque, afinal, são esses sujeitos concretos, e não apenas o sujeito genérico, identificado como operário, desempregado, carente, vítima ou autor de violência, que são os agentes da práxis transformadora. 
Não há mais lugar para o assistente social que acha que é de sua competência apenas a análise descritiva das condições materiais, da estrutura familiar, e a avaliação socioeconômica dos sujeitos. E que acha que tudo o que tem a ver com a subjetividade é de competência do psicólogo. 
Por isso, sugiro que vocês voltem a alguns temas tratados, principalmente, nas aulas de Psicologia Social e Antropologia: representações sociais, ideologia, produção de subjetividade, desenvolvimento da personalidade e dos grupos sociais, relação entre o material e o simbólico na construção das identidades sociais, imaginário social, expressões culturais.Esses conhecimentos são importantíssimos para a formação e capacitação do assistente social, mas, para o trabalho com grupos são imprescindíveis.
Os seres humanos se constituem como sujeitos sociais através de teias de relações nas quais os grupos de pertencimento e os papéis que desempenham neles incidem no desenvolvimento da personalidade, na construção das identidades sociais, na visão de mundo e de si. 
O cotidiano das pessoas é demarcado e organizado pela inserção em diferentes grupos ao longo da vida. A construção das identidades sociais, a cultura, as escalas de valores, as mentalidades, assim como as condições objetivas e materiais de existência, são condicionados, mediados, explicitadas nas relações sociais, e os grupos constituem a forma dessas relações onde se dão as relações interpessoais. A família, os amigos, a turma da escola, o grupo de trabalho, o partido, o sindicato, os torcedores de um time, a igreja, a classe, são grupos sociais através dos quais cada um de nós se reconhece e é reconhecido como participantes de uma sociedade. 
Portanto, Grupo é um conjunto de pessoas unidas entre si porque se colocam objetivos e/ou ideais em comum e se reconhecem interligadas por esses objetivos e/ou ideais.
Assim, uma das características dos grupos é sua ligação com uma instituição, com valores, com práticas sociais. Cada qual a sua maneira, se organiza a partir de normas, leis, práticas, costumes, que definem sua singularidade, seu reconhecimento e seu pertencimento social. Os modos de convivência da família, por exemplo, se diferenciam dos modos de convivência do grupo de amigos, que, por sua vez, se diferenciam do grupo de trabalho, do grupo político, do grupo de terapia, do grupo de autoajuda. 
Os moradoresde uma vila, por exemplo, só se constituem como grupo quando se organizam para resolver um problema comum, para fazer uma festa, quando participam de uma pesquisa sobre a convivência da vila,enfim, quando se ligam e se reconhecem como grupo a partir de uma motivação comum. 
Do mesmo modo, os pacientes que aguardam o atendimento do médico numa sala de espera também não constituem um grupo simplesmente por estarem na mesma sala. Mas, se um assistente social ou um psicólogo propuser que eles discutam um tema de interesse comum enquanto esperam o atendimento, e eles aceitarem, esses pacientes passam a se constituir como grupo.
Aqui, podemos observar uma diferença importante no processo de constituição dos grupos, que nos interessa particularmente como profissionais. Em geral, os grupos se constituem por duas vias: por demanda interna ou por demanda externa. Quando participamos do grupo familiar, ou do grupo de trabalho, ou da turma da faculdade, podemos dizer que a demanda é interna, é uma condição ou uma escolha inerente ao fato de termos nascido naquela família, de estarmos trabalhando naquele setor da empresa, de estarmos fazendo aquele curso universitário. Mas, quando participamos de um grupo instituído a partir da condição de usuário de uma instituição, de demandante de um serviço social, por exemplo, podemos dizer que a demanda é externa. Porque sua constituição foi motivada ou está inserida numa estratégia profissional exterior a nós. 
Ao entrar com um pedido de habilitação para adoção numa Vara da Infância e Juventude, por exemplo, a pessoa não está voluntariamente se dispondo a participar de um grupo, de suas várias reuniões, de se expor diante de pessoas que não conhece. Mas, se a estratégia de ação escolhida pela equipe técnica inclui o trabalho com grupos, o requerente à habilitação não terá outra alternativa se não aceitar. Entretanto, sua disponibilidade emocional para a atividade, seu envolvimento na dinâmica grupal, sua forma de participação dependerão em grande medida da capacidade de sensibilização por parte da equipe e de sua competência e habilidade para conduzir o processo e a dinâmica grupal. 
Em Juizados Especiais Criminais e em Varas de Família tem-se optado por incorporar a mediação de conflitos no curso processual, antes das audiências com o juiz. Em alguns desses órgãos, assistentes sociais e psicólogos inseriram o trabalho com grupos antes das seções de mediação, como forma de sensibilizá-los para a possibilidade de acordos e para a adoção de uma visão menos beligerante do conflito. Nesses casos, a aceitação da mediação é voluntária. E o trabalho de sensibilização, determinante, inclusive, nos resultados da mediação. Pois, um dos objetivos da sensibilização nesses grupos é exatamente a resignificação do conflito e a consequente redução das resistências e posicionamentos rígidos. 
Em muitas maternidades, já é tradicional o trabalho com grupos de gestantes, coordenados por assistentes sociais, enfermeiras, psicólogas. Nesses casos, a participação também é voluntária, dependente, portanto, do trabalho de sensibilização para a participação consciente na atividade.
O que importa reter dessa discussão é que, independente de a participação no grupo ser voluntária ou não, em todos os casos a demanda é externa, vem de fora, normalmente por iniciativa institucional. Esta situação, que particulariza a origem desses grupos, lhes imprime características diferentes daqueles que existem por demanda interna. 
O Grupo como Estratégia de Ação do Assistente Social:
Vocês já ouviram dizer que a intervenção profissional do assistente social é uma prática educativa, não é mesmo? Mas, já pensaram sobre o sentido disso; sobre o que significa dizer que as ações do Serviço Social têm caráter educativo? E, de que tipo de educação está se falando; para que finalidades?
As respostas podem ser várias, partir de diferentes enfoques, mas, certamente, não aqueles que veem no outro o depositário de suas verdades. Aqui, proponho que pensemos a dimensão educativa como um campo de práticas que incidem nas representações sociais (conhecimentos, valorações, sentimentos, visão de mundo e de si) com o objetivo de produzir transformações nos modos de pensar, de sentir e de agir dos sujeitos. Ou seja, como uma prática que se realiza em dois planos dialeticamente articulados: no plano das representações e no plano do agir. Mudar o representado para transformar o vivenciado, com o objetivo de desenvolver e ampliar as possibilidades de escolha e as capacidades de liberdade e autonomia dos sujeitos sociais. 
Vocês concordam que esse modo de pensar é coerente com o Projeto Ético-Político do Serviço Social?
Eu concordo. E penso que para o trabalho com grupos essa visão é iluminadora da prática, porque já indica o caminho do processo de aprendizado, sinaliza para os conhecimentos e habilidades que devemos buscar para aprender a manejá-lo. 
Nessa configuração, e considerando o campo disciplinar do Serviço Social podemos dizer que o assistente social é profissional competente para atuar em diferentes tipos de grupos que tenham caráter socioeducativo. Em trabalho interdisciplinar, o assistente social também é competente para co-dirigir, junto com o psicólogo, grupos de caráter sociopsicológicos. A diferença entre ambos está na ênfase que, no primeiro é dada aos aspectos sociais, e, no segundo, aos aspectos emocionais.
Normalmente, o trabalho com grupos está inserido num programa que articula outras ações, como atendimento individual, visita domiciliar, estudo social. Mas, por ser um instrumento de enorme eficácia, quando se trata de produzir mudanças de ideias, atitudes e práticas, pode se constituir em ação isolada ou em eixo da estratégia. 
O Grupo Focal trabalha sobre temáticas específicas, ligadas à questão que mobilizou sua formação. Em geral, o grupo focal funciona com poucas seções, podendo chegar a cerca de 20 participantes. Mais do que isso, pode se descaracterizar como grupo, tornando-se uma assembleia, uma reunião deliberativa, uma palestra. 
Esse tipo de grupo pode ser aberto ou fechado em termos da frequência dos participantes. O ideal é que não haja rotatividade, porém, por inúmeras razões, isso nem sempre é possível, como em grupos de sala de espera, por exemplo. No caso do grupo de habilitação para adoção, ele é focal, mas a frequência dos participantes é fechada, em razão dos objetivos a que se destina. Ele tematiza sobre questões implicados na adoção de crianças ou adolescentes, mas, embora seu enfoque seja educativo, a função do grupo é a de fornecer aos técnicos elementos que subsidiem a avaliação sobre a habilitação ou não do requerente. 
Nos grupos focais, o papel do coordenador tem destaque no desenvolvimento das seções. É ele – ou eles, no caso de trabalho em equipe - quem previamente decide a metodologia a ser aplicada, as dinâmicas a serem empregadas, os materiais a serem utilizados, o que implica que a autonomia dos participantes de grupo focal é relativa, limitada. 
O Grupo Operativo, por outro lado, objetiva não apenas a reflexão sobre algum tema, mas pretende produzir mudanças que ultrapassem o nível simplesmente cognitivo, da aquisição de novas informações e aprendizados. Visa provocar mudanças nas práticas sociais, no pensar e no agir dos participantes, a partir da introdução de atividades operativas. Por isso, preferencialmente, deve ser fechado. Seu tempo de duração é maior, é o tempo necessário para o alcance dos objetivos. O grau de autonomia dos participantes de um grupo operativo também é maior que num grupo focal. Os participantes, em geral, escolhem o tema a ser trabalhado, decidem democraticamente questões relativas ao seu funcionamento, como horário, periodicidade, e sobre as regras de convivência. 
Esse grupo, embora tenha foco, dá a ele um tratamento mais abrangente, relacionando-o a diferentes níveis de implicação, associando-o às experiências concretas dos participantes, tanto em termos subjetivos como objetivos, para que sejam elaboradas, resignificadas,e resultem em mudanças criativas nas práticas e na relação com seu cotidiano. Por essas características e pelos objetivos a que se destina, o grupo operativo requer maior envolvimento e participação dos seus membros, maior comunicação, mobilização de afetos e criatividade. O número de participantes deve variar de 7 a 12 membros.
Nesse tipo de grupo, o papel do coordenador é o de facilitador da comunicação, de dinamizador da reflexão. Não que ele não possa levar informações, esclarecer dúvidas, mas o fará a partir da compreensão de que ele não detém a direção do processo de mudança pretendida pelos participantes. 
Grupos de gestantes que durem todo o pré-natal podem se constituir como grupo operativo. Além das situações envolvidas no desenvolvimento da gravidez e informações sobre cuidados ao bebê, pode-se abrir para outras questões como a qualidade da relação familiar, responsabilidade parental, expectativas e idealizações em relação ao filho, à maternagem, a si própria, ao casamento. 
Grupos de mulheres vítimas de violência doméstica ou de agressores também reclamam uma estrutura de grupo operativo. O modelo de Escolas de Família criado na Vara da Infância e Juventude do Rio e implantado atualmente em vários municípios, tem duração de um ano e é estruturado segundo a concepção de grupo operativo.
Do ponto de vista da função, os grupos, sejam focais, operativos ou estruturados de outros modos, com enfoque socioeducativo ou psicoeducativo, podem assumir diferentes perfis: de autoajuda, de sensibilização, de reflexão, terapia comunitária etc.
O importante aqui não é aprofundar a discussão sobre estrutura, função, enfoque, mas demonstrar que a escolha do modelo de grupo não é aleatória, mas está determinada por inúmeros fatores, especialmente os que se relacionam à demanda (ou seja, à natureza da situação ou do problema a ser trabalhado e aos interesses e necessidades dos usuários), aos objetivos da ação profissional e às condições institucionais. 
As competências e habilidades que precisam ser desenvolvidas para o trabalho com grupos, ou para qualquer modalidade da ação profissional do assistente social, volto a dizer, estão alicerçadas na teoria, na ética e na prática, apreendidas e incorporadas como um todo articulado. 
Mas a especificidade do trabalho com grupos exige ainda a admissão de alguns pressupostos que bem compreendidos vão nortear a atuação do profissional que vai conduzi-los:
Grupo é um campo de forças, cuja dinâmica depende da interação de seus membros dentro de um contexto, incluindo aí a figura do coordenador. 
Grupo é um processo relacional em constante movimento, onde atuam forças de coesão e dispersão, de cooperação e conflito. 
O grupo se desenvolve numa espiral dialética, avançando e retrocedendo em torno dos problemas.
O grupo se assemelha a um palco, onde seus membros atuam manejando um duplo investimento: serem reconhecidos como iguais (identificados ao grupo), e, ao mesmo tempo, serem reconhecidos como pessoas únicas. É, portanto, permeado por relações de poder;
Diante dessas características, que preocupações devem orientar a postura do profissional que irá conduzir o grupo? Vou citar apenas algumas, e sugiro que vocês acrescentem outras.
Garantir um funcionamento democrático e dialógico que possa absorver as diferenças e disputas num patamar de equilíbrio de forças;
Estabelecer e manter um padrão de comunicação e participação que favoreça um clima de aceitação mútua e respeitosa;
Valorizar a escuta como condição da troca e do compartilhamento das experiências pessoais;
Desencorajar a polarização, evitando que dois ou três participantes monopolizem os debates;
Desencorajar a cristalização de papéis e os estereótipos: o bonzinho, o gaiato, o explosivo, o sabe-tudo;
Desmontar os jogos que coloquem alguém como bode-expiatório;
Estimular que os participantes reflitam sobre suas relações no grupo;
Adotar uma postura proativa e cooperativa;
Falar com simplicidade, sem sarcasmos e ironias, evitando o tom professoral; 
Não expressar, de forma verbal ou não-verbal, julgamentos de qualquer natureza;
Evidentemente, essas colocações não dão conta de tudo o que é necessário para se conduzir satisfatoriamente um grupo. A leitura de livros que descrevam experiências de trabalhos com grupos ajudam muito, assim como a participação em oficinas de dinâmica de grupo. Mas, o que, de fato, lhes dará segurança é a prática, a experiência concreta, desde que criticada permanentemente à luz da teoria. E, já que nesta aula falamos sobre subjetividade, lembrem-se que o trabalho com grupos (e também a entrevista individual) nos confronta com nós mesmos. A busca do autoconhecimento é atitude imprescindível em qualquer atuação profissional pautada nas relações interpessoais.
Glória Vargas 
Disciplina: Orientações para a Prática Profissional
Aula 09 – Registro e produção das informações
Objetivo da aula: 
	Nesta aula, conheceremos as formas consagradas de registro/documentação da atuação do assistente social, bem como sua importância para a qualificação dessa atuação. Destacaremos o diário de campo, dada a sua importância para o processo de aprendizagem.
Introdução da aula:
	A documentação da prática profissional é fundamental para conhecermos melhor a realidade social na qual trabalhamos e, assim, podermos planejar melhor nossas ações. Entretanto, a bibliografia aponta que o assistente social tende a simplificar seus registros, alegando falta de tempo, como se essa atividade não fosse tão importante como os atendimentos que faz.
	Os instrumentos mais adotados pelos profissionais para documentar a prática são chamados de instrumentos de trabalho indiretos ou “por escrito” e são utilizados após a realização dos instrumentos diretos: a entrevista, a dinâmica de grupo, entre outros em que existe o contato “face a face”.
	São exemplos de instrumentos de trabalho indiretos bastante utilizados pelos assistentes sociais: atas de reunião, livros de registro, relatório social, parecer social e diário de campo. Entretanto, o diário de campo não é somente mais uma possibilidade de documentar a prática, mas um instrumento exigidono processo de aprendizagem dos cursos de graduação, devido às possibilidades que apresenta de reflexão e sistematização da prática.
Material didático:
Não há. 
Aprenda mais:
	Sugiro a leitura do artigo “A documentação no cotidiano da intervenção dos assistentes sociais: algumas considerações acerca do diário de campo”, de autoria de Telma Cristina S. de Lima, Regina Célia Mioto e Keli Regina Dal Prá. Foi publicado pela Revista Textos & Contextos, Porto Alegre, volume 6, número 1, 2007. Está disponível na Internet, no seguinte endereço: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/fass/ojs/index.php/fass/article/viewFile/1048/3234>
Síntese da aula:
	Nesta aula, conhecemos os instrumentos de trabalho indiretos mais utilizados pelos assistentes sociais; aprendemos que, entre eles, o diário de campo é o instrumento exigido pelos cursos de graduação no período de estágio; aprendemos, ainda, que o diário de campo não serve apenas para descrever as tarefas realizadas no dia a dia, que nele devem ser anotadas as atividades realizadas pelo estagiário, mas, principalmente, as perguntas que tais atividades suscitam, as dúvidas, as reflexões que fazemos a respeito delas, as propostas, o que significa problematizar a atuação profissional. 
Próxima aula:
	Na próxima, e última, aula, conheceremos os procedimentos práticos a respeito da inserção nos campos de estágio: como vocês devem se apresentar nos campos, os documentos necessários, a elaboração do plano estágio, entre outras questões.
Atividade:
	Sugiro que documentem a entrevista que foi proposta como atividade na aula 7, tentando problematizá-la. 
Registrar frequência:
1) Leia atentamente as afirmativas abaixo e identifique quais são corretas.
I - Tanto os instrumentos face a face quanto os por escrito fazem parte da dimensão ético-política da profissão;
II-Os instrumentos por escrito devem anteceder os instrumentos face a face;
III - O diário de campo é o instrumento exigido no processo de aprendizagem;
IV - Tanto o parecer social quanto o relatório social possuem a função de descrever e avaliar uma determinada situação.
V – Os registros dos profissionais de Serviço Social se caracterizam pela descrição. 
a) Estão corretas as afirmativas IV, II e I;
b) Estão corretas as afirmativas IV, II e III;
c) Estão corretas as afirmativas III, I e IV;
d) Estão corretas as afirmativas III, IV e V. 
2) “............ - nada mais é do que o registro do que foi discutido em uma reunião, as decisões tomadas e a forma pela qual os participantes chegaram a essas decisões.”Qual instrumento por escrito pode preencher o espaço em branco?
a) Diário de campo;
b) Atas de reunião; 
c) Parecer social;
d) Relatório social.
3) Problematizar a ação profissional significa:
a) Organizar logicamente a situação estudada;
b) Descrever minuciosamente a atividade realizada;
c) Colocar questões na situação que está sendo analisada; 
d) Realizar uma avaliação ética da situação estudada.
Aula propriamente dita:
	Vivemos num mundo globalizado e veloz, conectados em tempo real e onde a ideia de documentar o que fazemos pode parecer perda de tempo. Com exceção, é claro, das fotos que tiramos com o celular em punho e postamos nos Orkuts, Facebooks para compartilhar com os amigos. Mas a correspondência virtual tem sido motivo de preocupação e polêmica entre estudiosos. Alguns dizem que ela está vulgarizando e banalizando a comunicação entre as pessoas, até a própria Língua Portuguesa, outros saem em sua defesa alegando que o “internetês” não oferece nenhum perigo desde que seja utilizado na comunicação virtual. Polêmicas à parte, “documentar é preciso”. (Pessoal da EAD, aqui sugiro que seja feita alguma associação com a frase de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E por que não todo o poema, que fala das grandes navegações e que podemos relacionar com o início da globalização? Pensei também na música do Caetano. É apenas uma sugestão.)
	Assim, o registro tem sido cada vez mais importante. Prestem atenção na análise sobre o século XX de um dos mais renomados historiadores da atualidade. Seu nome é EricHobsbawm.
A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do segundo milênio. (2003:13)
	Se não existissem registros documentando a evolução da humanidade, como seria possível olhar para trás, recriar o passado e planejar o presente? Não é diferente da história da nossa profissão.
	Como vimos na aula passada, os instrumentos de trabalho em Serviço Social fazem parte da dimensão técnico-operativa e podem ser classificados de acordo com as linguagens oral e escrita, em instrumentos diretos ou denominados “face a face” (observação, visita, entrevista, dinâmica de grupo, entre outros) e instrumentos indiretos, que conheceremos daqui a pouco. Estes são utilizados após os instrumentos diretos terem sido desenvolvidos. Ou seja, após a realização de uma entrevista, por exemplo, é preciso documentá-la.	
	A documentação em Serviço Social é fundamental, pois é a partir de registros criteriosos é que podemos conhecer melhor a realidade social com a qual trabalhamos, as reais necessidades da população usuária de nossos serviços. Além disso, permite o planejamento da ação profissional e, consequentemente, contribui para qualificar essa ação.
	Mas apesar de todas essas evidências, os poucos trabalhos que analisam o tema, concluíram que a documentação em Serviço Social é formada quase que exclusivamente da descrição da intervenção, sem análises mais consistentes sobre o “para quê” foi realizado. Ou seja, com qual objetivo foi realizado, bem como os resultados da ação. Enfim, devemos perguntar: Os objetivos foram atingidos? E se não foram. Por quê?
	Estudo feito por Lima, Mioto e Dal Prá (2007: 97) constatou que, em geral, “[...] a descrição da intervenção não registra os procedimentos realizados, as redes de proteção acionadas, bem como os encaminhamentos poucas vezes são considerados.”
Para as autoras, os registros mais detalhados são aqueles que envolvem atendimentos individuais, indicando que o atendimento ao usuário parece mais importante do que outras atividades. Entretanto, todas as atividades devem receber o mesmo tratamento criterioso na hora de serem documentadas.
O mesmo estudo indicou que os profissionais alegam falta de tempo para documentar de forma mais substantiva a atuação, devido à sobrecarga de trabalho, principalmente ao número de atendimentos dos quais têm que dar conta. Por esse motivo, o registro das atividades acaba, muitas vezes, sendo realizado em casa, fora do horário de expediente e, consequentemente, considerado um trabalho a mais. 
Antes de conhecermos alguns dos principais instrumentos de trabalho indiretos ou “por escrito”, é importante deixar claro que eles não são exclusivos do Serviço Social e que cada instituição, cada serviço, tem a sua forma de documentar a ação profissional. 
Como nos ensina Souza (2008) são considerados instrumentos indiretos: atas de reunião, livros de registro, relatório social e parecer social e diário de campo, sobre os quais vamos dar informações bem gerais.
- Atas de reunião – nada mais é do que o registro do que foi discutido em uma reunião, as decisões tomadas e a forma pela qual os participantes chegaram a essas decisões. 
- Livros de registro – de modo geral, é um livro-ata (daqueles grandes, pautados e de capa dura e preta), que muitas vezes chamamos de “livrão” onde são registradas as atividades desenvolvidas pelos profissionais: visitas, entrevistas, participação em reuniões, entre outras. É uma forma bastante comum de documentar a atuação.
- Relatório social – se constitui do registro pormenorizado de uma atividade realizada pelo assistente social, contendo as informações coletadas e também as intervenções e análises realizadas e possíveis sugestões. 
- Parecer social – é considerado um estudo rigoroso em que o profissional necessita opinar, se posicionar, sobre uma determinada questão com base nos fundamentos teóricos, técnicos e éticos da profissão.
	Notaram como o relatório social e o parecer socialsão parecidos? Saibam que isto é motivo de muita confusão entre os profissionais e acontece por que ambos têm a função de descrever e avaliar uma determinada situação. Quando fazer um relatório? Quando fazer um parecer? Não há uma resposta simples. Então, sugiro que vocês se perguntem: Eu vou precisar me posicionar/opinar a respeito da situação que estou trabalhando? Vou precisar reunir conhecimentos sobre o que envolve essa situação? Se as respostas forem afirmativas, isto significa que muito possivelmente estejam diante da necessidade de elaborar um parecer social.
	Por exemplo, quando trabalhei na área sociojurídica, elaborava relatórios sociais de muitas atividades que realizava, entre eles, aqueles que descreviam e analisavam a realidade de abrigos voltados ao atendimento da população infanto-juvenil, inclusive com sugestões visando à melhoria do atendimento. Mas se houvesse a suspeita de queas crianças estivessem sendo vítimas de maus tratos, isto exigiria um estudo aprofundado sobre aspectos relacionados à rotina institucional, à saúde, à escolaridade e ao comportamento das crianças, as relações estabelecidas entre elas e os adultos na instituição, contatos fora da instituição, com professores, profissionais de saúde (por exemplo, médicos, dentistas, psicólogos), entre outros que tivessem contato com as crianças. Tais informações, que seriam obtidas através de entrevistas

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