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Contabilidade Social Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Andressa Guimarães Rego Revisão Textual: Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos Setor Externo • Introdução • Política comercial • Argumentos a favor do protecionismo • Política cambial • Taxa de câmbio nominal • Taxa de câmbio real • Regimes cambiais • Paridade do poder de compra (PPC) • Balanço de pagamentos • Necessidade de financiamento externo · Compreender a política comercial e as formas de protecionismo, e a política cambial discutindo o que é a taxa de câmbio e como esta afeta a economia e a estrutura do balanço de pagamentos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Olá, aluno(a)! Nesta unidade, falaremos sobre as políticas comercial e cambial. Leia o conteúdo disponibilizado e o material complementar, o qual o(a) ajudará a entender com maior propriedade as principais implicações da política cambial e comercial para a economia brasileira. Não deixe de registrar as suas dúvidas e encaminhá-las ao professor-tutor. Bom estudo! ORIENTAÇÕES Setor Externo UNIDADE Setor Externo Contextualização Leia a matéria: “Câmbio depreciado milita favoravelmente para balanço de pagamentos, diz Tombini”: Disponível em: https://goo.gl/61jJCSEx pl or Nesta aula veremos os fatores associados ao setor externo da economia, como o BP e a taxa de câmbio. 6 7 Introdução As políticas cambial e comercial são as políticas que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da economia. A política comercial são os instrumentos relacionados ao setor externo, exceto a taxa de câmbio. São os acordos comerciais, as barreiras ou restrições ao comércio, etc. A política cambial é o instrumento de política econômica que define a taxa de câmbio e sua forma de administração. Política comercial A existência do comércio internacional está intrinsecamente associada às diferenças nos custos de produção e na disponibilidade dos recursos. Os principais argumentos a favor do livre comércio, segundo ICONE (2016), são o aumento da quantidade e da variedade de bens disponíveis para consumo; a possibilidade de o país exportar os produtos nos quais é mais eficiente que seus parceiros comerciais; a redução dos custos para a aquisição de insumos produtivos não disponíveis ou de alto custo no país, o que permite à indústria instalada ganhar em produtividade e tornar-se mais competitiva; os ganhos de competitividade e a geração de empregos nos setores domésticos capacitados a competir nos mercados mundiais; a livre alocação dos insumos entre as indústrias; a identificação dos setores e insumos mais competitivos; a eliminação da distorção em preços relativos; o maior acesso a linhas externas de investimento; e a correção de eventual viés antiexportação que tenha se consolidado na estrutura da economia. No entanto, sabemos que existem dificuldades que se apresentam para o comércio entre os países. Existem barreiras que buscam, dentre outros aspectos, a proteção aos meios de produção domésticos. A argumentação básica é que existem falhas no mercado que justifiquem a intervenção pública. A forma usual de barreira ao comércio internacional é a tarifa que é utilizada para proteger o produtor doméstico da concorrência internacional. Uma das consequências é o aumento do preço do produto protegido no mercado do país importador. As barreiras não tarifárias correspondem a restrições impostas pelo funcionamento normal da burocracia e nem sempre visam a reduzir a importação. O termo barreiras não tarifárias tem sido empregado para designar restrições relacionadas a regulamentos sanitários e de saúde, normas técnicas, padrões de segurança, dificuldades relativas à documentação, etc. 7 UNIDADE Setor Externo Dentre os principais argumentos a favor do protecionismo, temos: proteção à indústria nascente, redução do desemprego, estímulo à substituição de importações, redução do diferencial de salário, impedimento ao comércio desleal, promoção da segurança nacional, melhoria no balanço de pagamentos e o favorecimento de barganhas internacionais. A seguir será comentado cada um dos argumentos. Argumentos a favor do protecionismo O termo “indústria nascente” refere-se à etapa de desenvolvimento em que a indústria ainda não alcançou nível de produção que permita beneficiar economias de escala. Se tiver de concorrer com firmas estrangeiras já estabelecidas, não tem chance de sobrevivência. A ideia que pauta a proteção de indústrias nascentes é garantir certa reserva de mercado, temporária, a fim de permitir que a indústria possa expandir-se gradualmente, livre da concorrência de empresas maduras, cujos custos unitários de produção são menores. Uma vez atingido o tamanho ótimo, a proteção deve ser retirada, para que a indústria passe a competir com as demais em igualdade de condições. Quando se importa, há aumento da demanda no exterior, e quando se protege a economia, as importações caem e as exportações tendem a aumentar. A criação de empregos ocorre internamente, isto é, geram-se empregos aqui. O terceiro argumento de estímulo à substituição de importações parte da constatação de que os países menos desenvolvidos são tradicionais exportadores de produtos primários e importadores de industrializados. Tendiam a ser permanentemente prejudicados no comércio internacional porque as relações (termos) de troca lhes eram desfavoráveis. Importante! Termo de troca O termo de troca é calculado pela razão entre o índice de preço das exportações e o índice de preço das importações. Se os preços das exportações sobem mais rapidamente que as importações, diz-se que há aumento ou melhora nas relações de troca. Do contrário, se os preços dos importados crescem mais do que o preço das exportações, há uma queda ou piora nos termos de troca. Essa piora nos termos de troca reduz o poder de compra do país, pois o preço dos bens que são exportados não cresce tanto quando o dos importados e, portanto, a mesma quantidade de bens exportados vale menos, isto é, compra menos importados. Abaixo, o gráfico traz a evolução do índice de termos de troca de janeiro de 2000 a março de 2016. Entre 2003 e 2011 houve um aumento no preço dos produtos exportados, que se reflete na elevação dos termos de troca, atingindo o pico em agosto de 2011. A partir daí, os preços das exportações se reduziram gradativamente, como pode ser observado no gráfico. Importante! 8 9 Figura 1 Fonte: Elaborado pelo Conteudista, a partir de dados mensais do Ìndice de termos de troca. Esta matéria traz uma avaliação recente dos termos de troca: https://goo.gl/fDAu6m Ex pl or Exportando produtos primários, os países da América Latina perdiam capacidade de importar bens industrializados, essenciais ao desenvolvimento. Para superar esse estrangulamento, o Estado deveria promover o desenvolvimento da indústria, capaz de substituir as importações. “A hipótese de Prebisch (1950) e Singer (1950) teve uma grande influência e foi muito popular no debate sobre a industrialização no Brasil. O país adotou durante grande parte do século XX uma estratégia de industrialização por substituição de importações e um modelo de desenvolvimento cuja integração do país aos fluxos de comércio internacional via vantagens comparativas não era vista como prioridade. Após a estagnação econômica dos anos oitenta e do processo de redemocratização, o país passou por um processo de abertura econômica e financeira tendo o modelo anterior de desenvolvimento sido progressivamente abandonado em favor de estratégias mais pró-mercado”. (MARÇAL, 2006, p. 308) O artigo de Marçal testa a validade da deterioração dos termos de troca da economia brasileira utilizando dados de 1850 a 2001. (MARÇAL, Emerson Fernandes. Há realmente uma tendência a deterioraçãodos termos de troca? Uma análise dos dados brasileiros. Revista Economia, Brasília (DF), v. 7, n. 2, p. 307-329, maio - agosto 2006. Disponível em: https://goo.gl/x33QKD Ex pl or O quarto argumento de redução do diferencial de salários se justifica pela maior eficiência na produção quando a remuneração dos fatores de produção é igual em todos os setores. Em uma economia caracterizada pela coexistência de uma agricultura de subsistência e um setor industrial, isso não ocorre. Os salários são mais elevados na indústria, então o argumento seria transferir mão-de-obra do meio rural para o urbano. Isso justificaria a adoção de política protecionista a favor da indústria, o que aumentaria o bem-estar. 9 UNIDADE Setor Externo Ocorre impedimento ao comércio desleal quando há a prática de dumping. O dumping ocorre quando compradores estrangeiros pagam preço menor que o cobrado no mercado doméstico pelo mesmo produto. Dumping: “[...] A diferenciação de preços já é por si só considerada como prática desleal de comércio” (MDIC, 2016). Os tipos mais comuns de dumping são: dumping predatório, dumping esporádico, dumping persistente e dumping social. O dumping predatório ocorre quando o produtor reduz o preço do produto vendido no exterior, com a intenção de expulsar os concorrentes do mercado. Após a eliminação da concorrência, passa a utilizar o poder de monopólio, recém-adquirido, para reintroduzir os preços mais elevados e explorar o mercado. Essa é considerada a pior forma de dumping, até porque os eventuais rivais podem ser desencorajados a entrar no mercado, com receio de repetição da baixa dos preços por parte da empresa monopolista. A prática do dumping esporádico ocorre em situação de eventual excesso de oferta. O excedente da produção é desovado no exterior por preço menor que o praticado no mercado interno. Esse tipo de prática pode decorrer de erro de planejamento das firmas produtoras ou de alteração nas condições de demanda, mas, como é um evento passageiro, os governos dos países importadores são relutantes em tomar qualquer atitude para neutralizar seus efeitos. O dumping esporádico resulta do esforço das empresas monopolistas para maximizar lucros. Para entender o dumping persistente, suponha que um produtor seja beneficiado por certa reserva de mercado em razão dos custos de transporte ou por restrições à importação, impostas pelo governo local e que no mercado externo esse produtor enfrenta a concorrência dos produtores locais ou de terceiros. Isso significa que a elasticidade-preço da demanda por seu produto é menor no mercado interno que no externo. Assim, para maximizar seu retorno líquido, o produtor é induzido a praticar discriminação de preços, cobrando mais no mercado interno, em que falta competição, e menos no exterior, em que precisa ser competitivo. Esse tipo de prática não causa dano à indústria dos importadores porque o país exporta a preço competitivo no mercado internacional. No dumping social a ideia básica é que um país de altos salários perde competitividade em relação a outro em que os salários são ínfimos, porque os baixos custos e preços dos produtos exportados causariam injúria à sua indústria. Ex pl or O sexto argumento a favor do protecionismo, de proteção para a promoção da segurança nacional, diz que a proteção de determinada indústria é considerada essencial para a defesa do país se a exposição à concorrência internacional inviabilizar seu desenvolvimento normal. São consideradas estratégicas a indústria bélica, a produção de energia e a agricultura. Quanto à melhoria no balanço de pagamentos, a imposição de restrições ao comércio internacional através de barreiras e/ou subsídios às exportações podem ter como objetivo reduzir os problemas relacionados ao balanço de pagamentos. Admitem- se certas restrições comerciais para enfrentar desequilíbrios em processos transitórios. 10 11 O Balanço de pagamentos será explicado com mais detalhes abaixo. Por ora, fi camos com o entendimento de que o BP é o registro das transações econômicas entre os países. Entendo as transações basicamente pelas exportações e importações; toda vez que importamos recebemos mercadorias e enviamos o equivalente em dinheiro (divisas/ dólar) e ao contrário na exportação, em que enviamos a mercadoria e recebemos o equivalente em dinheiro. Portanto, registrando as transações econômicas no BP temos a entrega versus a saída de divisas. Ex pl or O último argumento a favor do protecionismo se refere ao favorecimento de barganhas internacionais, que ocorre quando um país que já adote algum tipo de proteção pode usá-lo para obter vantagens na negociação com outros países. A adoção de medidas protecionistas acaba sendo vital para a abertura de mercados estrangeiros. Política cambial “A política cambial diz respeito às decisões do governo sobre a determinação da taxa de câmbio. A política cambial, no caso brasileiro, é executada pelo Banco Central do Brasil” (BACHA, 2004, p. 165). Taxa de câmbio nominal A taxa de câmbio nominal é o preço, em moeda nacional, de uma unidade de moeda estrangeira. A taxa de câmbio nominal afeta a competitividade de um país ao afetar seus termos de troca. Esse é o conceito britânico de taxa de câmbio que é adotado por muitos países e pelo Brasil. Pelo conceito norte-americano, a taxa de câmbio é o preço de uma unidade da moeda nacional em termos de uma unidade da moeda estrangeira. Ex pl or Assim, indica o preço em reais (R$) de um dólar (US$): R$ 3,40 / US$ 1,00. Nessa taxa de câmbio, são necessários R$ 3,40 para comprar um dólar. Quando a taxa de câmbio aumenta, dizemos que há uma desvalorização cambial. Quando a taxa de câmbio aumenta, precisamos de mais reais para comprar um dólar e, portanto, a moeda nacional está mais fraca. Do contrário, quando a taxa de câmbio diminui, dizemos que há uma valorização cambial. São necessários menos reais para comprar um dólar e, portanto, a moeda nacional está mais forte. A desvalorização cambial incentiva as exportações e desestimula as importações. Já a valorização da taxa de câmbio desestimula as exportações e aumenta as importações. A variação da taxa de câmbio afeta diversas variáveis, sobretudo as relacionadas ao comércio exterior, mas também afeta o mercado interno. 11 UNIDADE Setor Externo Uma desvalorização da taxa de câmbio aumenta a competitividade, podendo aumentar as exportações, a produção e o emprego, mas pode levar a aumentos de preços, provocando inflação. Taxa de câmbio real A taxa de câmbio real (E) expressa o preço relativo de bens ou serviços entre dois países. Ou seja, a taxa pela qual alguém pode trocar bens ou serviços de um país por bens e serviços de outro país. E e P P = ∗ . Onde: e: taxa de câmbio nominal. P*: índice de preços do país estrangeiro. P: índice de preços do mercado nacional. Pelo conceito da taxa de câmbio real, “a inflação interna tende a encarecer os produtos exportados e tornar mais baratos os produtos importados. Já a inflação externa tende a encarecer os produtos que importamos e estimular nossas exportações” (PAULINI; BRAGA, 2007, p. 153). Supondo a taxa de câmbio nominal constante, caso os preços nacionais aumentem em proporção maior que os dos Estados Unidos, a taxa de câmbio real diminui. A queda (valorização) da taxa de câmbio real mostra que está mais barato importar dos EUA do que comprar no Brasil. Do contrário, se os preços dos EUA subirem em proporção maior do que os preços brasileiros, teremos um aumento da taxa de câmbio real (desvalorização) e, portanto, a importação ficaria mais cara. As oscilações da taxa de câmbio nominal também afetam a taxa de câmbio real. Supondo que a razão entre os preços do país externo e do mercado nacional se mantenha, uma desvalorização no câmbio nominal étambém uma desvalorização no câmbio real, o que significa um ganho nos termos de troca. Já uma valorização do câmbio nominal é também uma valorização do câmbio real, o que acarreta uma perda nos termos de troca de um país. No Brasil, os dados da taxa de câmbio real são divulgados como taxa de câmbio real bilateral com os principais parceiros comerciais. Como exemplo, segue no mesmo gráfico com a taxa de câmbio nominal (eixo primário) e o índice da taxa de câmbio real bilateral Brasil/ EUA (eixo secundário) divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), considerando 2010 como base. Através do gráfico, vemos que os movimentos da taxa de câmbio nominal e real são bem parecidos. Conforme comentado acima, quando a taxa de câmbio nominal aumenta (desvalorização), a taxa de câmbio real também aumenta. 12 13 Porém, observamos que de junho de 1994 ao final de 2002 a distância entre as curvas da taxa de câmbio real e a nominal diminuiu e, a partir daí, a taxa de câmbio nominal supera o índice da taxa de câmbio real e a diferença entre elas está aumentando, principalmente a partir de 2012. Um crescimento da taxa de câmbio nominal acima da taxa de câmbio real indica que os preços nacionais subiram mais do que os preços norte-americanos. Figura 2 Fonte: Elaborado pelo Conteudista, a partir de dados do BACEN (Boletim/BP) e do IPEA. Regimes cambiais A determinação da taxa de câmbio reflete vários determinantes, sendo um dos principais o regime cambial adotado pelo país. O regime cambial é a regra que a autoridade monetária de um país adota para determinar a taxa de câmbio. Há basicamente dois tipos de regimes: câmbio fixo ou câmbio flutuante. No regime de câmbio fixo, o Banco Central fixa o preço a moeda estrangeira em moeda nacional, garantindo-lhe a conversibilidade. Assim, a autoridade monetária deve estar disposta a intervir passivamente no mercado de câmbio, vendendo ou comprando divisas à paridade oficial. Para desempenhar tal papel, deve-se possuir um estoque suficiente de reservas em moeda estrangeira. Em geral, a taxa de câmbio de um país é fixa em uma moeda estrangeira forte, que pode ser considerada uma âncora. Portanto, adotar o regime de taxas fixas significa ancorar o valor de uma moeda a outra, ou em uma cesta de moedas. No regime de câmbio flutuante, as formas de intervenção do governo no mercado cambial seguem as regras do mercado. O governo compra e vende divisas como se fosse um agente qualquer, dependendo do efeito sobre o mercado de câmbio e na balança comercial. O risco desse regime consiste em uma maior variância cambial, o que acarreta diversos problemas. 13 UNIDADE Setor Externo O quadro abaixo traz, além das características de cada um, as vantagens e desvantagens associadas a cada regime de câmbio, fixo ou flutuante. Tabela 1: Regimes cambiais CÂMBIO FIXO CÂMBIO FLUTUANTE CARACTERÍSTICAS Banco Central fixa a taxa de câmbio. Banco Central é obrigado a disponibilizar reservas cambiais. O mercado determina a taxa de câmbio. Banco Central não é obrigado a disponibilizar as reservas cambiais. VANTAGENS Maior controle da inflação (custo das importações). Política monetária mais independente do câmbio. Reservas cambiais mais protegidas de ataques especulativos. DESVANTAGENS Reservas cambiais vulneráveis a ataques especulativos. A política monetária (taxa de juros) fica dependente do volume de reservas cambiais. A taxa de câmbio fica muito dependente da volatilidade do mercado financeiro nacional e internacional. Maior dificuldade de controle das pressões inflacionárias devido às desvalorizações cambiais. Fonte: VASCONCELLOS (2002, p. 359) O Banco Central permite que o preço da moeda estrangeira oscile, podendo assumir as formas: flutuação limpa, flutuação suja ou bandas cambiais. Na flutuação limpa, não há nenhuma interferência do governo. Raramente ocorre, pois há uma estreita correlação entre o mercado de câmbio e a política monetária. Nesse caso, o governo perderia a possibilidade de utilizá-lo como instrumento de política monetária. Na chamada “flutuação suja”, o Banco Central faz intervenções no mercado cambial quando o preço da moeda estrangeira se afasta daquele que a autoridade julgue conveniente, considerando os efeitos no mercado. Nas bandas cambiais, é fixado um intervalo de flutuação da taxa de câmbio, com um limite inferior e superior, dentro do qual as taxas de câmbio podem flutuar livremente. Porém, caso seja ultrapassada a banda cambial, o governo promoverá a compra ou venda de moeda estrangeira, visando a restabelecer o equilíbrio. No gráfico abaixo, temos a média mensal da taxa de câmbio comercial R$ por dólares no período de junho de 1994, no Plano Real, a abril de 2016. 14 15 Figura 3 Fonte: Elaborado pelo Conteudista, a partir de dados do BACEN (Boletim/BP). Observamos que em junho de 1994, nascimento do Plano Real, temos a adoção do câmbio fixo ou âncora cambial estabelecendo a taxa de câmbio R$/dólar em R$ 1,00. O regime foi imediatamente seguido por uma política de minidesvalorizações da taxa de câmbio com a adoção de bandas cambiais e, a partir de janeiro de 1999, quando a autoridade monetária não conseguiu mais sustentar a taxa de câmbio, o regime cambial passou a ser o de câmbio flutuante. O regime de câmbio flutuante vigora desde janeiro de 1999, com as variações na taxa de câmbio refletindo as condições econômicas internas e externas ao longo do período, como a incerteza política com a disputa presidencial em 2002 e a crise econômica a partir de meados de 2007. Paridade do poder de compra (PPC) Para intervir no mercado de divisas, o governo precisa ter clara qual deve ser a taxa de câmbio mais adequada à sua política econômica. Um dos critérios mais utilizado é o da paridade do poder de compra. Esse é um conceito baseado na lei do preço único, que diz que em um mercado integrado, qualquer mercadoria tem um só preço, ou seja, na ausência de barreiras ao fluxo de informações e mercadorias, não é possível que um mesmo bem seja vendido a preços diferentes. A principal implicação seria a de que o câmbio nominal deveria refletir o nível de preços nos dois países e que tal taxa passaria a variar à medida que os preços em um desses países variassem. Porém, tal teoria possui limitações. A primeira delas é que supõe que não existem barreiras alfandegárias ou custos de transportes que seriam de alta relevância para atrapalhar a arbitragem. A teoria também assume que todos os bens e serviços são comercializáveis e sabemos que alguns bens não são e principalmente serviços. Além disso, assume que tais bens seriam substitutos perfeitos. 15 UNIDADE Setor Externo A teoria da paridade do poder de compra nos diz que todos os preços de um dado produto em qualquer que fosse o país deveriam ser iguais, ou seja, que a taxa real de câmbio deveria ser sempre igual a 1. Pode ser também chamada de lei do preço único; se os preços no exterior e domésticos são iguais, então: e .P P* = e P P = * Onde: P = preço doméstico e = taxa de câmbio nominal P* = preço externo Baseada na lei do preço único, em 1986, a revista The Economist lançou o índice Big Mac, buscando testar a paridade do poder de compra, que diz que a longo prazo as taxas de câmbio devem se mover em direção à taxa, que seria equalizar os preços de uma cesta idêntica de bens e serviços (nesse caso, um hambúrguer) em quaisquer dos dois países. Por exemplo, o preço médio de um Big Mac nos Estados Unidos em janeiro 2016 foi de US $ 4,93; no Brasil, foi de US $ 3,35 em taxas de câmbio de mercado. O índice Big Mac diz que o real estaria desvalorizado em aproximadamente 32%. Se vigorasse a lei do preço único, a taxa de câmbio de equilíbrio de longo prazo seria de 2,74. Ver: https://goo.gl/lOEPZYEx pl or Balanço de pagamentos O Balanço de Pagamentos representa o resumo contábil das transações econômicas de um país com o resto do mundo. Refere-se às transações externas realizadas no período de um ano e mostra o valor dessas transações em moeda de curso internacional (dólares norte-americanos). As trocas econômicas que constam do balanço de pagamentos envolvem bens, serviços, rendas, doações, direitos e obrigações. Regra geral, elas são registradas pelo valor de mercado, acordado entre as partes, à taxa de câmbio vigente na data da transação. A partir de abril de 2015, houve algumas mudanças metodológicas nas estatísticas do Balanço de Pagamentos, seguindo as orientações do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6), do Fundo Monetário Internacional (FMI). BACEN (2014) traz as principais mudanças da nova metodologia. 16 17 O BPM6 define o BP como a estatística macroeconômica que sumariza transações entre residentes e não residentes ao longo de um período. Compreende a conta de bens e serviços, conta de renda primária, conta de renda secundária, conta de capital e conta financeira” (BACEN, 2014, p. 3) Estrutura do balanço de pagamentos (bpm6) Transações correntes Balança comercial Exportações Importações Serviços Renda primária Salários e ordenados Renda de investimento direto Renda de investimento em carteira Renda de outros investimentos Renda de reservas Renda secundária Conta capital Conta Financeira Investimentos diretos no exterior Investimentos diretos no país Investimentos em carteira – ativos Investimentos em carteira – passivos Derivativos – Ativos Derivativos – Passivos Outros investimentos – Ativos Outros investimentos – Passivos Ativos de reserva Erros e omissões Na balança comercial, são registradas as exportações e importações FOB (free on board), isto é, sem os valores de fretes e seguros que são registrados como serviços. Figura 4 17 UNIDADE Setor Externo Nas contas de serviços e renda primária, são registrados os pagamentos e recebimentos referentes à renda de pessoas ou empresas e serviços técnicos ou financeiros, transporte, viagens, etc. Como serviços, temos as viagens internacionais, transportes, fretes, seguros e outros. Já as rendas são as remunerações de fatores de produção remetidos ao exterior ou recebidos do exterior. Na conta renda secundária, estão os pagamentos unilaterais (remessas de empregados migrantes para suas famílias, doações privadas e doações de um governo para outro), que na metodologia anterior eram chamadas de transferências unilaterais; representam a renda gerada em uma economia e distribuída para outra. “Na conta de capital figuram as transações envolvendo compra e venda de ativos não financeiros não produzidos, e transferências de capital. A conta financeira permanece mostrando as aquisições de ativos e passivos, identificados nas categorias de investimento direto, investimento em carteira (ações e títulos) e outros investimentos (depósitos, empréstimos, créditos comerciais e outros ativos e passivos)” (BACEN, 2014) A soma dos resultados das Transações Correntes e da Conta Capital e Conta Financeira (somando-se erros e omissões) fornece o resultado do Balanço de Pagamentos. Mostra a variação no nível das reservas internacionais. Um resultado superavi- tário eleva o nível das reservas internacionais do país; caso contrário, o diminui. Necessidade de financiamento externo Representa a diferença entre o saldo em conta corrente e os investimentos estrangeiros diretos líquidos. Corresponde à parcela do déficit de transações correntes não financiado pela entrada líquida de investimentos diretos. Um resultado positivo demonstra entrada de divisas sob a forma de empréstimos e financiamentos; quando o ingresso é suficiente por cobrir o déficit em conta corrente, as necessidades são negativas. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Dumping MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Dumping. Brasília, 2016. https://goo.gl/P6YjNH Livros Estatísticas do setor externo BACEN. (2014) Estatísticas do setor externo – adoção da 6ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6). Brasília, 2014. Macroeconomia aplicada à análise da economia brasileira BACHA, Carlos José Caetano. Macroeconomia aplicada à análise da economia brasileira. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004. Leitura Revista Economia MARÇAL, E. F. Há realmente uma tendência a deterioração dos termos de troca? Uma análise dos dados brasileiros. Revista Economia, volume 7, número 2, maio - agosto, 2006, p. 307 a 329. https://goo.gl/WA4Qzz 19 UNIDADE Setor Externo Referências BACEN. (2014) Estatísticas do setor externo – adoção da 6ª edição do Manual de Balanço de Pagamentos e Posição Internacional de Investimento (BPM6). Brasília, 2014. ICONE. Instituto de estudos do comércio e negociações internacionais. (2016) Disponível em: <http://www.iconebrasil.com.br/biblioteca/perguntas-e-resposta/ politicas-e-negociacoes-comerciais>. Acesso em: 25 mai. 2016. MANKIW, N. G. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001. MANKIW, N. G. Macroeconomia. 5. ed. Rio de Janeiro: Ltc - Livros Técnicos e Científicos, 2004. PAULINI, L. M. BRAGA, M. B. A nova contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. São Paulo: Saraiva, 2007. PINHO, D. B. Contabilidade social: uma introdução à macroeconomia. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1994. VASCONCELLOS, M. A. S. Economia micro e macro - teoria e exercícios. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2002. 20
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