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A REPRESSÃO POLICIAL AOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS NO RECIFE DURANTE A DÉCADA DE 1930: NOVA FORMA DE APRENDIZAGEM.

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1 
 
A REPRESSÃO POLICIAL AOS CULTOS AFRO-BRASILEIROS NO 
RECIFE DURANTE A DÉCADA DE 1930: NOVA FORMA DE 
APRENDIZAGEM. 
Jaime de Lima Guimarães Júnior
1
 
Jonas Durval Carneiro 
2
 
Profª. Dra. Ana Lúcia do Nascimento Oliveira 
3
 
RESUMO: O presente trabalho pretende apresentar uma nova forma de abordagem 
para o entendimento do tema “Perseguição às religiões não homogêneas” utilizando-
se de recursos como jogo de tabuleiro em sala de aula, saindo dos recursos 
tradicionais, a fim de promover novas vivências e experimentar o jogo como prática 
potencializadora de maneira lúdica, com metodologia bem definida para 
compreender o processo de ensino-aprendizagem dos conhecimentos históricos. A 
idealização desse recurso surgiu a partir da necessidade de se elaborar uma 
atividade da disciplina “Linguagens Alternativas para o Ensino da História” 
ministrada na UFRPE no curso de licenciatura plena em História. O jogo foi pensado 
em uma temporalidade da década de 1930, época marcada por diversas 
transformações na natureza do Estado Brasileiro. Processo que se inicia com a 
Revolução de 1930 e atinge seu ápice com a proclamação do Estado Novo. 
Religiões de matriz africanas e outras pouco difundidas na grande massa da 
população como o Espiritismo e o Judaísmo sofreram perseguição aos seus cultos 
por parte do poder público através da polícia por muito tempo. Vimos na prática do 
jogo uma maneira possível de possibilitar ao aluno, analisar e entender as principais 
ações do governo, o papel da imprensa e da polícia como armas de apoio às 
políticas de perseguição com enfoque na perseguição às religiões de matriz africana 
no Recife pelo governo Agamenon Magalhães em Pernambuco. 
Palavras-chaves: Jogo de tabuleiro; Religiões; Perseguição; Estado Novo. 
 
 
1
 Graduando em Licenciatura Plena em História pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. Bolsista 
BEXT - PRAE – UFRPE. E-mail: jaime.guimaraes@gmail.com 
2
 Graduando em Licenciatura Plena em História Pela Universidade Federal Rural de Pernambuco. E-mail: 
jonasdurval2004@hotmail.com 
3
 Pós-Doutora em História pela Faculdade de Letras do Porto – Portugal. Pós-Graduação em História/UFRPE. 
E-mail: ananascimentoufrpe@gmail.com 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
 No processo de formação dos professores de História, o graduando percorre 
um caminho por entre as disciplinas de educação que lhe permitem entrar em 
contato com várias teorias pedagógicas que vão auxiliá-lo no dia a dia na sala de 
aula. Na Matriz curricular do curso de Licenciatura Plena em História da 
Universidade Federal Rural de Pernambuco, esse subsídio teórico é apresentado ao 
longo de todo o curso, culminando nas disciplinas de Estágio Supervisionado nos 
últimos quatro semestres do curso. Contudo, é no quinto período que é ministrada a 
disciplina de Linguagens Alternativas para o Ensino de História. Segundo Ferreira e 
Paviani (2012), no cenário social contemporâneo atual na qual estamos inseridos, as 
intituladas linguagens alternativas fortalecem o ensino da História, pois utilizando-se 
desses elementos podemos mostrar conceitos e símbolos culturais e sociais de um 
contexto histórico, representando certa imagem de mundo. 
As chamadas linguagens alternativas para o ensino de história mobilizam 
conceitos e processam símbolos culturais e sociais, mediante os quais 
apresentam certa imagem do mundo. [...] Donas de identidades próprias, as 
linguagens exigem uma proposta didática adequada para sua exploração nas 
aulas de história (ABUD, 2005). 
 
O alunado, auxiliados por essas linguagens, são conduzidos na construção do 
conhecimento histórico como: transferência de uma memória coletiva, apropriação 
da capacidade de avaliar, observação e análise de uma situação ou acontecimento e 
geração da consciência política. De certo, podemos atingir a consciência histórica 
como as ações mentais que fazem os seres humanos interpretarem a avanço 
temporal do mundo e de si. 
Dentre as diversas atividades realizadas pelos docentes durante o semestre 
letivo, foi dada à tarefa de elaborar um plano de aula com a utilização da linguagem 
alternativa jogo de tabuleiro, tendo como tema: “A Perseguição às religiões não 
hegemônicas nos anos de 1930 nas Américas/Caribe.” O desafio sugeria a utilização 
de 50 minutos dentro da aula semanal da disciplina usando os docentes da turma 
como estudantes do 3º ano do ensino médio. A proposta do plano de aula foi 
formatada a partir da pergunta orientadora: “O que motivou a perseguição às 
religiões durante a década de 1930?”. Devido à amplitude da temática, decidimos 
por reduzir esse espaço territorial que se situava nossa pesquisa e focamos no tema 
mais direcionado como sendo “A repressão policial aos cultos afro-brasileiros no 
Recife”. 
3 
 
Baseado na apropriação do conhecimento através das linguagens 
alternativas, esse artigo se propõe a divulgar os resultados alcançados, estimulando 
a criação de novos jogos, e ao mesmo tempo, propor o uso do jogo de tabuleiro 
intitulado “Caminho dos Orixás” nas escolas, contribuindo para a formação de um 
discente mais consciente e crítico. 
 
2 A REPRESSÃO POLICIAL AOS CULTOS DE MATRIZ AFRICANA 
 Para o entendimento do conteúdo do jogo proposto é necessário situar o tema 
selecionado num contexto histórico. 
 A década de 1930 se encontrava em um turbilhão político, com a ascensão de 
Getúlio Vargas ao poder por meio da Revolução de 30, o Brasil se assentou num 
processo antidemocrático e ditatorial cujas ações foram sentidas em todo o país. 
Todo um processo de mudança é constatado com as novas prerrogativas do regime 
de Estado vigente cujas alterações foram percebidas em toda a sociedade. 
Por não ser a religião dominante, os cultos de matriz africana ficavam às 
margens da sociedade e os seus praticantes sofriam preconceito, intolerância e 
perseguição. Para que essa repressão ocorresse, usou-se na maioria das vezes 
como base jurídica, o código penal de 1932, cujos artigos 157 e 158, corroborada 
pela Constituição de 1934 já ponderava em seu Capítulo II, inciso 5 que: 
 É inviolável a liberdade de consciência e de crença e garantido o livre 
exercício dos cultos religiosos, desde que não contravenham à ordem 
pública e aos bons costumes. As associações religiosas adquirem 
personalidade jurídica nos termos da lei civil. 
 
“Contravir a ordem pública e aos bons costumes” era algo infinitamente 
subjetivo, qualquer coisa que não seguisse os padrões de civilidade da época 
poderia ser visto ou serviria como motivo para acionar a polícia. 
Como tentativa de fazer essa prática religiosa conhecida foi realizado o 1º 
Congresso Afro-Brasileiro no Recife no ano de 1934 organizado por Gilberto Freyre 
com o apoio do professor e diretor do Serviço de Higiene Mental do Estado, Ulisses 
Pernambucano. Que muitas vezes serviu de ponte entre as “seitas” e a polícia que 
não permitia o livre funcionamento dos cultos. 
As restrições tornaram-se mais latentes com a ascensão de Agamenon 
Magalhães como interventor do Estado em 1937. Em sua gestão ele reforçou a 
atuação da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) por meio da Secretaria de 
Segurança Pública. A DOPS foi utilizada pelo interventor como parte importante para 
4 
 
manutenção da ordem no Estado. Até porque ele tinha o apoio da Igreja, Campos 
(2004) elucida que o Estado e a Igreja empreenderam uma caçada às religiões afro 
descendentes por causa de suas práticas anticatólicas. 
Agamenon Magalhães utilizou-se de todos os meios disponíveis ao seu 
alcance para cercear ou até mesmo acabar com as religiões de matriz africana 
utilizando-se desde o aparato e inteligência policial,como da mídia impressa e 
falada. Quando ocorriam as diligências policiais ao local onde ocorria o culto afro era 
comum os jornais escreverem matérias sobre o acontecimento. 
 Outro processo que resultou em perseguição foi o processo de modernização 
e higienização dos centros urbanos que deslocou para a periferia os espaços de 
cultos afro-descendentes o que ocasionou resistência e atrito com os governos 
locais e a polícia. A partir desta resistência, os grupos sociais negros que buscavam 
a manutenção de suas práticas, habitações, e lugares simbólicos, acabaram também 
por estender o tecido da cidade em áreas marginalizadas pela elite e instâncias 
político-econômicas, redefinindo os bairros. 
 Tendo em vista que o preconceito ainda perdura independente do período 
que as informações se encontram disponível, é essencial e possível conhecer os 
dois lados dessa história de perseguição. É primordial que o aluno obtenha 
conhecimentos prévios sobre os acontecimentos que culminaram com a perseguição 
às religiões de matriz africana a fim de entender o propósito do jogo como objeto 
auxiliar nos conhecimentos abordados e que também possa socializar com seus 
colegas a cerne desse problema ainda tão latente para as religiões de matriz 
africana. 
 Todas essas informações podem ser utilizadas pelo professor em sala de 
aula para complementar a prática de ensino mediante o uso do jogo de tabuleiro. Na 
visão de Giacomoni e Pereira (2013) “Quem sabe o professor de História não deva 
exatamente se constituir em um provocador de encontros, no sentido de permitir a 
aprendizagem, para além do conhecimento.” 
 
3 O JOGO COMO NOVA FORMA DE ENSINO APRENDIZAGEM 
 Nada mais interessante do que utilizar a linguagem alternativa para ser um 
provocador que falta ao ambiente de sala de aula. Pois segundo Giacomoni e 
Pereira (2013), “Nesse ato de jogar, os estudantes estão na origem dos conceitos, 
5 
 
pois que ali, no ato, conceitos históricos se gestam e passam a dar forma à vida, aos 
modos de vida, aos antigos presentes”. Huizinga (2000) complementa que: 
A função do jogo [...] pode de maneira geral ser definida pelos dois aspectos 
fundamentais que nele encontramos: uma luta por alguma coisa ou a 
representação de alguma coisa. Estas duas funções podem também por 
vezes confundir-se, de tal modo que o jogo passe a “representar” uma luta, 
ou se torne uma luta para melhor representação de alguma coisa. 
 
 Diante disso, Giacomoni (2003) apresenta um guia para o desenvolvimento 
de jogos de história. São cinco os passos destacados: delimitar um tema dentro de 
um período histórico e dos conteúdos que o professor planeja, escolher em que tipo 
de superfície o jogo será desenvolvido, qual dinâmica terá e funcionamento, 
estabelecer as regras e layout do jogo. 
 
3.1 A CONSTRUÇÃO DESAFIADORA DO JOGO DE TABULEIRO 
 Dado o desafio do tema a ser tratado no jogo, a equipe debruçou-se nas 
opções existentes como base para a dinâmica do mesmo, de modo a encontrar o 
que melhor representava a proposta. Todos os caminhos escolhidos esbarravam na 
narrativa de batalhas ou corridas que desembocavam numa vitória sem uma 
avaliação crítica do papel do vencedor ou do perdedor. Era óbvio que havia dois 
lados opostos na dinâmica do jogo, os perseguidores e os perseguidos. 
A estrutura do jogo precisava se basear na proposta de perdas e ganhos de 
acordo com a situação vigente na época colocando os jogadores na situação das 
personagens. Além disso, havia muitos dados que corroboravam para dar muita 
força ao lado dos perseguidores gerando desigualdade desproporcional em 
comparação os perseguidos. Contudo o desafio crescia diante da proposta que o 
jogo conseguisse ensinar dentro do processo de ensino aprendizagem com a 
construção de uma narrativa crítica por parte dos jogadores, estejam eles do lado 
que estiverem. 
 Durante a pesquisa por personagens que representassem a historicidade do 
tema, optamos por sujeitos indefinidos para não criar mártires entre os heróis e os 
bandidos. A percepção avaliativa do aluno deveria ser usada como elemento para 
definir quem estava certo ou errado, ou até mesmo se havia certos e errados. A 
melhor proposta foi ambientar o jogo numa corrida entre dois personagens que não 
se enfrentariam diretamente, mas estariam expostos às dificuldades ou vantagens 
do momento proporcionado pelos fatos históricos da época. 
6 
 
 Ultrapassado o processo de idealização do jogo, iniciou-se a fase de definição 
de um contexto e personagens que representassem o tema proposto de forma direta 
e clara. Optamos pela utilização do espaço entre a DELEGACIA de Ordem Política e 
Social - Dops e o TERREIRO que nos cultos afro-brasileiros, é o local onde se 
realizam os cultos cerimoniais e são feitas oferendas aos orixás. Embora nem 
sempre de terra batida, o nome permanece como referência aos barracões e 
quintais onde as celebrações eram realizadas. 
Para ambientar os jogadores, criamos um episódio muito típico da época 
como estopim para iniciar o jogo. 
Uma DELEGACIA recebera denúncia anônima para investigar um TERREIRO 
localizado em Salgadinho4, chamado Terreiro de Mãe Maria. Naquele período, como 
em outros mais recentes, uma simples denúncia anônima era o bastante para se 
prender alguém. Segundo informações do denunciante, o Terreiro estava cometendo 
crime de perturbação à ordem pública e aos bons costumes com base no Artigo 5º, 
Capítulo II da Constituição Federal de 1934. Um INFORMANTE ligado aos Terreiros 
da região do Recife – PE toma conhecimento que um grupo de policiais seguirá em 
diligência para uma batida surpresa naquele endereço. POLÍCIA e o INFORMANTE 
partem simultaneamente da delegacia rumo ao TERREIRO em condições e 
vantagens definidas por trilhas diferentes. Dependendo de quem chegar primeiro, o 
TERREIRO poderá ou não sofrer ações legais do Governo. 
Definidos as personagens e os elementos ligados a elas, como também a 
diferença entre os caminhos para chegar ao objetivo, a equipe se empenhou na 
imagem de fundo do tabuleiro e como seriam representadas as casas trilhadas por 
cada personagem. 
Nos resultados das pesquisas havia mapas do Recife com a localização de 
alguns Terreiros daquela época que poderiam ser utilizados como pano de fundo, 
usando as ruas para traçar caminhos dos competidores ao objetivo definindo um 
ambiente mais realista para o tabuleiro. Contudo, depois de várias avaliações, 
optamos por não demarcar nenhum ambiente geográfico para possibilitar seu uso 
em outros espaços e tempos históricos. 
Outra decisão acertada, foi não tornar o ambiente do jogo um local que 
propagassem a imagem do perseguidor. Historicamente, o perseguidor já acumula 
 
4
 Localidade ao norte do Recife que faz divisa com Olinda – PE. 
7 
 
muito espaço de divulgação de sua imagem de “herói” fomentada pelas ações 
governamentais na imprensa da época, tornando os grupos perseguidos alvos de 
preconceitos e descriminação até os dias atuais. Para fortalecer essa 
representatividade, procuramos nas pesquisas os elementos de expressão das 
religiões de matriz africana e nos deparamos com os Orixás que são deuses 
africanos que correspondem a pontos de força da Natureza e os seus arquétipos 
estão relacionados às manifestações dessas forças. 
Os búzios (conchas marinhas), que antes das moedas de metal, foi usada 
como fonte do poder monetário da África, viajando pelo continente antes de 
tornarem-se oráculo. Ao consultar os orixás através do jogo de búzios, abre-se um 
canal de comunicação espiritual, que se mantém aberto para sempre. Desnudar os 
orixás e cultuá-los é, sobretudo, encontrar socorro, apoioe esperança durante todos 
os momentos. Unindo todos esses elementos, chega-se ao nome do tabuleiro: 
Caminho dos Orixás (Figura 1), em referência às estradas que levavam à periferia 
da cidade para onde foram os Terreiros dos Orixás após o programa de limpeza 
étnica desencadeada pelas forças de governo. 
FIGURA 1 – IMAGEM DO TABULEIRO – CAMINHO DOS ORIXÁS. 
 
Fonte: Os autores (2018) 
8 
 
Por fim, como as personagens não se enfrentam diretamente, e portanto, não 
se encontram durante o percurso, optamos por usar dois caminhos sinuosos de 20 
búzios dispostos em paralelo. Cada búzio foi numerado discretamente de forma 
crescente para sugerir que os búzios foram lançados ao tabuleiro antes do jogo, 
tentando descobrir a sorte dos seus oponentes. Cabe ainda dizer, que a quantidade 
escolhida, apenas 20 búzios, foi a que melhor funcionou em todos os testes de 
tempo necessário para que o jogo acontecesse dentro de uma aula de 50 minutos. 
Comprovamos também, que essa quantidade de búzios foi suficiente para cumprir 
os objetos do plano de aula. 
Acertados os objetos visuais da trilha, centramos na jogabilidade definindo 
todos os elementos que componha o tabuleiro. Usamos apenas 2 pinos5 de cores 
díspares, suficiente para representar os jogadores no tabuleiro. O dado, muito 
comum nos jogos de tabuleiro, seja físico ou digital, foi escolhido para sortear a 
quantidade de búzios um a seis búzios a cada jogada, determinando o que cada 
jogador poderia avançar, colaborando para o uso correto do tempo de aula. 
Enfim surgem as regras, cada jogador (ou grupo) representado por um pino 
lançará o dado para sorteio do valor que representará a quantidade de búzios que 
avançará até chegar ao TERREIRO. Não especificamos qual trilha representaria 
qual jogador, deixamos os alunos decidirem. Cada búzio representa uma fase do 
percurso, definidas previamente pelo professor através de uma tabela auxiliar 
(QUADRO 1) disponibilizada para cada jogador determinando o conteúdo de cada 
búzio. Utilizando o número corresponde ao búzio alcançado, o jogador lê uma 
mensagem na tabela de informações que pode ajudar ou retardar a chegada dos 
jogadores ao destino. 
QUADRO 1 – LISTA DAS CASAS DO JOGO “CAMINHO DOS ORIXÁS” 
B
ú
z
io
 
POLÍCIA 
B
ú
z
io
 
INFORMANTE 
1 
Segundo o Código Penal de 1932 é proibido 
praticar magia e outros sortilégios. A Lei está 
ao seu favor, pule duas casas 
1 
Segundo o Código Penal de 1932 é proibido 
praticar magia e outros sortilégios. A Lei não 
está ao seu favor, fique UMA vez sem jogar 
2 A Viatura está em diligência. Todos prontos 
para cumprir mais uma missão. 2 
Não peça ajuda ao padre. Organizações da 
igreja estão juntas com o Estado na caça aos 
praticantes das religiões afros. 
3 Diretoria Geral de Assistência aos Psicopatas 
era contra aos Pais e Mães de Terreiros de 
3 Em 1934 acontece o 1º Congresso Afro no 
Recife organizado por Gilberto Freire. A luta 
 
5
 Pinos ou peões – são peças plásticas utilizadas para marcar pontos de disputadas ou localização de jogadores 
num tabuleiro. Pode ser utilizado qualquer objeto que realize essa função. Pedras e tampas de garrafas coloridas 
podem ser ótimas opções. 
9 
 
Recife. Entidades de Estado ao seu favor. está ao seu favor, pule DUAS casas. 
4 
Atenção! Ao chegar solicite autorização de 
funcionamento terreiro. Segundo a Lei Estadual 
de 1934, é obrigatório. Fique UMA vez sem 
jogar 
4 
Você tem a seu favor o médico psiquiatra 
Ulisses Pernambucano com informações úteis. 
Ele é chefe do Serviço de Higiene Mental de 
Pernambuco – SHM e um forte aliado. 
5 
O Serviço de Higiene Mental de Pernambuco – 
SHM, criado em 1932 com objetivo principal 
central conhecer, controlar e diferenciar os 
xangôs em prol da moral e contra o 
charlatanismo. 
5 
Você chegou ao Terreiro de Pai Anselmo, amigo 
de Gilberto Freyre. Aproveite para comer um 
delicioso vatapá para recuperar as energias. 
6 
Fique sabendo que uma Lei Estadual lhe 
garante que, chegando ao local, você pode 
apreender todos os objetos como prova. Não 
tenha pressa, retorne UMA casa. 
6 
Cuidado! O Artigo 158 do Código Penal de 
1932, proíbe atividade de curandeiro, 
cartomancia e prescrever ervas. Por isso, 
retorne UMA casa. 
7 
Você chegou ao Terreiro de Pai Antônio Félix 
Marinho na Encruzilhada. Exija mais 
informações sobre o seu destino. 
7 
Está desorientado? Você está próximo do 
Terreiro de Pai José Gomes e pode pedir 
informações importantes. 
8 
Você Sabia? A Umbanda, religião 
genuinamente brasileira, é um misto de 
Cristianismo, Espiritismo, Catolicismo, culto aos 
orixás e Catimbó. 
8 
Lembre-se: O que se entendia no passado 
como Catimbó é o que se chama hoje de 
Umbanda. 
9 
O Interventor Agamenon Magalhães criou 
órgãos de repressão e manutenção da ordem 
pública: DOPS – Delegacia de Ordem Política e 
Social e o SSP – Secretaria de Segurança 
Pública. Avance UMA casa. 
9 
Você está ciente que os maiores Mestres de 
Catimbó foram negros e ainda o são, em 
maioria absoluta, mestiços e mulatos? Avance 
UMA casa. 
10 
Alguns Pais e Mães de Santo ajudavam os 
vários órgãos estaduais para verificar a 
existência de charlatães. Interessados em 
buscar proteção policial e liberdade para suas 
práticas, também denunciavam aqueles vistos 
como concorrentes. Volte para casa 8. 
10 
A maioria das seitas africanas está localizada 
na Zona marginal às linhas do Beberibe e 
Campo Grande, arrabaldes pobres da cidade. 
Encruzilhada, Água Fria, Arruda, Chapéu do Sol 
e Fundão, por todos esses lugares se 
encontram terreiros. Terreiros de culto nagô, 
gege, xanhá com predominância de nagô. 
11 
Em favor da política do Estado Novo (1837-
1945) no Brasil, e, em particular em 
Pernambuco, baixou-se uma portaria em 1938, 
proibindo o funcionamento de centros afro-
religioso no Recife. Avance UMA casa. 
11 
Origem dos cultos afro-religiosos na região pelo 
rio Beberibe, destacando tanto a existência do 
Quilombo do Malunguinho nas matas do 
Catucá. Por sua origem avance UMA casa. 
12 
Reformas urbanas para modernização e 
“higienização” dos bairros centrais do Recife, 
entre outros objetivos, era a erradicação dos 
mocambos, e o controle e repressão aos 
centros afro-religiosos. A polícia participou 
ativamente. 
12 
Algumas agremiações carnavalescas na zona 
de mocambos do Beberibe de Baixo também 
serviram de espaço para celebrações dos cultos 
afro-religiosos. 
13 
Seja esperto! Para impedir o fechamento de 
seus terreiros, os grupos afro descendentes 
disfarçavam suas sedes em centros kardecistas 
ou em agremiações carnavalescas. Não caia 
nessa pegadinha. Para obter mais 
conhecimento, fique uma rodada sem jogar. 
13 
Os rios Beberibe e Água Fria eram caminhos 
utilizados pelos negros fugitivos que ocuparam 
as margens e manguezais aterrados por eles. 
Tal fato favoreceu a concentração de vários 
Xangôs na região entre Olinda e Recife. Fique 
uma rodada sem jogar. 
14 
Grupos religiosos ocultavam seus ancestrais e 
divindades africanas por trás dos santos 
católicos para impedir sua segregação. Seja 
inteligente! 
14 
Algumas estratégias dos grupos afro-religiosos 
era camuflar seus xangôs em agremiações 
carnavalescas como forma de burlar o controle 
e repressão. 
15 
Você parou no Terreiro de Pai José Fausto de 
Oliveira na Estrada de Belém em Campo 
Grande. As informações que você pediu a ele 
foram falsas. Por isso, Retorne UMA casa. 
15 
Abertura de estradas e o desenvolvimento dos 
transportes, com o advento dos trens a vapor, 
acabaram por possibilitar ocupaçãomais 
acelerada dos bairros mais distantes do Centro 
do Recife, ajudando na proliferação dos 
mocambos e dos terreiros. 
16 
A Delegacia de Ordem Política e Social – DOPS 
foi criada tendo como uma das justificativas o 
uso de medidas autoritárias de combate à 
“Desordem Social”. Você vai chegar lá! 
16 
Gilberto Freyre foi preso por delito de opinião. 
Acusado de pornográfico e comunista pelo 
governador intervencionista Agamenon 
Magalhães porque defendia os terreiros. 
Retorne UMA casa. 
17 A Imprensa se tornou referência na interventoria 17 Santa Bárbara ou Iansã, deusa dos raios, 
10 
 
de Agamenon Magalhães. Uma estratégia 
fundamental para a construção dos ideais do 
Estado Novo em Pernambuco. O jornal Folha da 
Manhã foi seu porta-voz. Avance UMA casa. 
ventos e tempestades está te ajudando. 
Avance UMA casa. 
18 
A Folha da Manhã, de propriedade de 
Agamenon Magalhães, veiculava a doutrina 
dominante através do processo de 
“catequização” da sociedade. Os 
afroumbandistas deveriam ser desconstruídos, 
marginalizados e, finalmente, silenciados. 
18 
Você está quase perto! Receba apoio no terreiro 
de Mãe Marcionila. Momento de oração para 
seguir em frente. 
19 
O Estado Novo promoveu medidas de controle 
da sociedade, instaurando, progressivamente, 
um sistema de vigilância ostensivo a toda e 
qualquer forma de manifestação contrária às 
ideias do Governo. 
19 
Depois de percorrer um longo caminho, sua 
jornada está chegando ao fim. Prepara-se para 
chegar ao seu destino final e ajudar o terreiro de 
Mãe Maria. Continue rezando. 
20 
Parabéns você conseguiu chegar ao seu 
destino e está pronto para desmantelar mais um 
terreiro. 
20 
Muito bem! Você conseguiu livrar mais um 
terreiro de ser desmontado pelas forças 
policiais. 
Fonte: Os autores (2018) 
 
Realizada a aula com o jogo de tabuleiro, avaliaram-se todas as 
particularidades encontradas, determinando o sucesso alçando diante do tempo 
proposto, a temática extremamente complexa e polêmica, sobretudo pela falta de 
conhecimento prévio dos alunos do tema escolhido, gerando a necessidade de 
novos encontros para falar sobre esse e outros temas de certa forma ausentes dos 
planejamos de ensino de História. 
 
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Não é fácil para um educador tratar de temas que ainda sejam inquietantes 
na sociedade e em grupos que ainda de alguma maneira são rejeitados e vistos com 
outras perspectivas por uma parte da população. Contudo, é gratificante quando 
existe um esforço por parte desse educador em querer mudar esse traço da história 
apenas plantando uma luz de esperança na mente do corpo discente. 
Um dos intuitos principais do jogo “Caminho dos Orixás” é poder auxiliar o 
professor nessa tarefa árdua proporcionando por meio do jogo de tabuleiro outra 
visão de aprendizagem por meio de atividades que agucem o espírito do aluno na 
sua busca por conhecimento. 
É impossível ficar alheio as perseguições sofridas pelas religiões de matriz 
africana, nem aos percalços por elas enfrentados. Porque em menor grau ela ainda 
acontece. Porém nunca é tarde para disseminar esses fatos e mostrar que todos 
merecem respeito independente dos seus credos. 
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E as linguagens alternativas podem ser uma porta para que esses 
conhecimentos que estão à margem do livro didático, consequentemente das salas 
de aulas, possam ser introduzidos e se fazerem conhecidos pelos alunos. Gerando 
debates, fazendo com que o discente se aproprie da sua própria história e da 
história forjada pelos seus pares. Porque segundo Marc Bloch (2001) a história é a 
ciência que estuda o homem no tempo, onde os fatos históricos são entendidos e os 
acontecimentos compreendidos. 
 
REFERÊNCIAS 
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