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AULA MONOPÓLIO JOSE GUILHERME DE LARA REZENDE

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Microeconomia 2 Nota de Aula 5
MICROECONOMIA 2
Departamento de Economia, Universidade de Bras´ılia
Notas de Aula 5 – Monopo´lio
Prof. Jose´ Guilherme de Lara Resende
1 Monopo´lio
1.1 Definic¸a˜o
Um monopo´lio caracteriza-se por uma estrutura de mercado onde existe apenas um produtor
e vendedor do bem ou servic¸o, que na˜o tem substitutos pro´ximos. Logo, a elasticidade-prec¸o da
demanda desse bem deve ser pequena.
Deve haver alguma raza˜o que justifique a na˜o existeˆncia (ou entrada) de potenciais competidores.
Caso contra´rio, o monopo´lio na˜o se sustentaria. Logo, deve existir algum impedimento a` entrada de
novas firmas na indu´stria. Esses impedimentos sa˜o chamados barreiras a` entrada. Alguns exemplos
de barreiras a` entrada sa˜o:
1. Restric¸o˜es legais (exemplo: EBCT);
2. Patentes;
3. Controle de recursos ou insumos escassos;
4. Barreiras geradas de forma deliberada pelo monopolista;
5. Custos irrecupera´veis altos (sunk costs, custos enterrados)
Tais barreiras podem manter rivais fora da indu´stria e assegurar que ela seja monopol´ıstica.
Todavia, monopo´lios podem tambe´m ocorrer mesmo na auseˆncia destas barreiras, caso uma u´nica
firma possua vantagens de custo sobre as rivais. Dois exemplos disto sa˜o:
1. Economias de escala (monopo´lio natural),
2. Superioridade te´cnica.
1.2 Decisa˜o de Oferta do Monopo´lio
Em uma estrutura de mercado monopolista, na˜o se assume a hipo´tese concorrencial de que o
vendedor toma o prec¸o como dado. O monopolista sabe que pode influenciar o prec¸o do bem no
mercado, ja´ que e´ o u´nico vendedor deste bem (price-maker).
Existem duas varia´veis que afetam o lucro do monopolista: a quantidade vendida e o prec¸o de
venda. O monopolista na˜o pode escolher qualquer combinac¸a˜o de prec¸o de venda e quantidade
vendida: as suas escolhas de quantidade e prec¸o esta˜o restritas pela demanda agregada do bem.
O monopolista deseja escolher o n´ıvel de produc¸a˜o que maximiza o lucro pi = Receita −
Despesa = p(q)q − c(q), onde p(q) denota a func¸a˜o de demanda (inversa) de mercado:
max
q≥0
p(q)q − c(q)
Jose´ Guilherme de Lara Resende 1 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
A CPO desse problema resulta em:
p(q∗) + q∗p′(q∗)︸ ︷︷ ︸
RMg
= c′(q∗)︸ ︷︷ ︸
CMg
(1)
A RMg do monopolista e´ tal que:
RMg = p(q∗) + q∗p′(q∗) < p(q∗) ,
pois p′(q∗) e´ negativo.
Para cada unidade a mais vendida, o monopolista recebe o prec¸o do bem. Mas para vender mais
uma unidade, o monopolista deve baixar o prec¸o de todas as unidades vendidas (termo q∗×p′(q∗)).
Essa e´ a raza˜o da ineficieˆncia do monopo´lio. A Figura 1 ilustra essa situac¸a˜o, em que o custo
marginal se iguala a` receita marginal do monopolita, mas em que esta u´ltima e´ menor do que o
prec¸o cobrado pelo bem. Como a curva de demanda, que define o prec¸o cobrado, mede a valorac¸a˜o
dos indiv´ıduos pelo bem, e´ maior do que o custo marginal de produc¸a˜o de uma unidade a mais do
bem, um mercado monopolista apresenta uma ineficieˆncia econoˆmica.
6
-
Custos,
Prec¸os
Qtde
c′(q)
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
QQ
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
s
s
s
p(q∗)
c′(q∗)
p(q)
q∗
RMg(q)
Figura 1 – Decisa˜o O´tima de um Monopolista
A equac¸a˜o (1) pode ser reescrita como:
p(q)
[
1 +
q
p(q)
dp(q)
dq
]
Sabemos que a elasticidade-prec¸o da demanda, ε(q) = (p/q(p)) × (dq(p)/dp), mede como a sen-
sibilidade da demanda de mercado a uma mudanc¸a no prec¸o do bem, em termos percentuais. O
Teorema da Func¸a˜o Inversa implica que 1/ε(q) = (q(p)/p)×(dp(q)/dq). Usando isso e o fato de que
Jose´ Guilherme de Lara Resende 2 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
na pra´tica a demanda de um bem e´ negativamente inclinada, obtemos que a CPO do monopolista
pode ser reescrita como:
p(q∗)
[
1− 1|ε(q∗)|
]
= c′(q∗) .
Como o prec¸o p(q) e custo marginal c′(q∗) sa˜o na˜o-negativos, a igualdade acima implica que:
1− 1|ε(q∗)| > 0 ⇒ |ε(q
∗)| > 1 ,
ou seja, o monopolista escolhe produzir uma quantidade do bem na parte ela´stica da demanda de
mercado.
Podemos reescrever a CPO em termos da elasticidade-prec¸o da demanda do bem como:
p(q∗) =
c′(q∗)[
1− 1|ε(q∗)|
] = Mc′(q∗) ,
onde M denota o “markup” cobrado sobre o custo marginal de produc¸a˜o,
M =
1[
1− 1|ε(q∗)|
] > 1
Como o monopolista produz apenas na parte ela´stica da demanda, o markup e´ maior que 1. Se
a elasticidade-prec¸o da demanda for constante, o valor do markup e´ constante, qualquer que seja o
n´ıvel de produc¸a˜o. Se c′(q) = c, para todo q, enta˜o p = Mc > c.
Rearranjando mais uma vez a CPO de um monopolista em termos da elasticidade-prec¸o da
demanda, obtemos:
p(q∗)− c′(q∗)
p(q∗)
=
1
|ε(q∗)|
A diferenc¸a, em termos percentuais, entre o prec¸o cobrado e o custo marginal, chamado “´ındice
de Lerner”, e´ o inverso do valor absoluto da elasticidade da demanda calculada no ponto o´timo
de produc¸a˜o do monopolista. Logo, quanto menos ela´stica a demanda nesse ponto, maior essa
diferenc¸a percentual.
O lucro do monopolista e´ obtido substituindo a demanda o´tima encontrada resolvendo o prob-
lema de maximizac¸a˜o de lucro do monopo´lio. Logo, o lucro do monopo´lio e´ calculado como:
pi = p (q∗)× q∗ − c(q∗) ,
onde q∗ e´ a quantidade o´tima produzida pelo monopo´lio, p (q∗) e´ o prec¸o cobrado por unidade da
quantidade q∗ produzida e c(q∗) e´ o custo de produc¸a˜o de q∗.
A existeˆncia de um peso morto (“deadweight loss” – DWL) – um valor econoˆmico que e´ dissipado
na economia, caracteriza uma situac¸a˜o de ineficieˆncia econoˆmica. Vimos que o prec¸o cobrado pelo
monopolista e´ maior do que o custo marginal. Isso leva a uma situac¸a˜o de produc¸a˜o sub-o´tima
no mercado: a firma produz menos do que o socialmente deseja´vel. Ao fazer isso, o monopolista
cobra um prec¸o maior do que o prec¸o competitivo e aufere um lucro econoˆmico positivo. Isso leva
a` perda econoˆmica descrita, ilustrada na Figura 2 abaixo.
Jose´ Guilherme de Lara Resende 3 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
6
-
Custos,
Prec¸os
Qtde
�
�
�
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�
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�
��
c′(q)
Q
Q
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QQ
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S
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S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
S
s
s
s
DWL
p(q∗)
c′(q∗)
p(q)
0 q∗
Figura 2 - Peso Morto de um Monopo´lio
O peso morto gerado por um monopo´lio e´ calculado como a a´rea do excedente total (a soma
do excedente do consumidor com o excedente do produtor) dissipado na economia, ou seja, a a´rea
com DWL escrito na Figura 3 acima. Em geral, essa a´rea e´ calculada como:
DWL =
∫ qcp
qm
(p(q)− c′(q))dq ,
onde qm e´ a quantidade produzida em monopo´lio e qcp e´ a quantidade produzida em competic¸a˜o
perfeita. Se a demanda de mercado e a curva de custo marginal forem lineares, enta˜o basta calcular
a a´rea de um triaˆngulo, ou seja, basta calcular a altura e a base do triaˆngulo representado na figura
acima.
Resumindo, em um monopo´lio, temos que:
• Quantidade produzida e´ menor do que a quantidade socialmente o´tima,
• O prec¸o cobrado e´ maior do que o prec¸o socialmente o´timo,
• Existe uma perda econoˆmica dissipada.
Portanto, o monopo´lio e´ uma situac¸a˜o indeseja´vel do ponto de vista social. O prec¸o de monopo´lio
e´ superior ao custo marginal na quantidade o´tima, logo o monopolista poderia obter lucro na
margem ao produzir mais uma unidade do bem caso ele pudesse cobrar um prec¸o espec´ıfico por
esta unidade, superior ao seu custo marginal, e este item seria consumido por um consumidor
marginal.
O monopolista ao na˜o fazer isso gera uma ineficieˆncia, pois existem consumidores dispostos a
pagar pelo bem um prec¸o maior que o seu custo de produc¸a˜o, mas, mesmo assim, este bem na˜o e´
produzido, pois se o monopolista produzir mais essaunidade, tera´ que baixar o prec¸o de todas as
outras unidades vendidas.
Jose´ Guilherme de Lara Resende 4 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
Exemplo: Demanda Linear e RCE. Suponha que a demanda do bem seja dada por p = a− bq
e a func¸a˜o custo do monopolista seja c(q) = cq, onde c e´ uma constante, com a > c. O problema
do monopolista nesse caso e´:
max
q≥0
(a− bq)q − cq
Observe que no caso de demanda linear, em que a receita e´ R(q) = (a− bq)q, a receita marginal e´
RMg(q) = a − 2bq, ou seja, a receita marginal tambe´m sera´ linear, duas vezes mais inclinada do
que a curva de demanda. A CPO do problema do monopolista resulta na seguinte soluc¸a˜o:
q∗ =
a− c
2b
e p =
a+ c
2
O lucro do monopolista, calculado como pi = pq − c(q), sera´:
pi =
a+ c
2
× a− c
2b
− c× a− c
2b
=
(a− c)2
4b
Portanto, uma condic¸a˜o para que este lucro seja positivo e´ a de que o paraˆmetro a da demanda seja
maior do que o custo marginal de produc¸a˜o c. Intuitivamente, se o mercado for muito pequeno em
relac¸a˜o ao custo marginal de produc¸a˜o (a < c), na˜o compensara´ produzir. Ja´ o peso morto para
este exemplo e´:
DWL =
1
2
(
a− c
b
− a− c
2b
)(
a+ c
2
− c
)
=
(a− c)2
8b
1.3 Imposto sobre a Quantidade
O que ocorre em um mercado monopolista quando o governo estabele um imposto sobre a
quantidade? O prec¸o cobrado pelo monopolista aumenta de que modo? Os dois casos analisados
abaixo mostram que, em geral, na˜o podemos dizer se o prec¸o de monopo´lio ira´ aumentar por um
valor maior ou menor do que o valor do imposto:
• No caso em que o custo marginal e a elasticidade da demanda sa˜o constantes, se o governo
estabelecer um imposto sobre a quantidade no valor de t, temos que o novo prec¸o cobrado
pelo monopolista sera´:
p(q∗) =
c+ t[
1− 1|ε|
]
Logo:
∂p(q∗)
∂t
=
[
1− 1|ε|
]−1
> 1 ,
ou seja, o prec¸o cobrado pelo monopolista aumenta em uma proporc¸a˜o maior do que o valor
do imposto.
• Suponha agora que o custo marginal e´ constante e a demanda de mercado e´ linear. Se o
governo estabelecer um imposto sobre a quantidade, temos que o novo prec¸o cobrado pelo
monopolista sera´:
p(q∗) =
a+ c+ t
2
Logo:
∂p(q∗)
∂t
=
1
2
< 1 ,
ou seja, o prec¸o cobrado pelo monopolista aumenta em uma proporc¸a˜o menor do que o valor
do imposto (nesse caso, o prec¸o aumenta a metade do aumento do imposto).
Jose´ Guilherme de Lara Resende 5 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
1.4 Monopo´lio Natural
Um monopo´lio natural e´ caracterizado por uma curva de custo me´dio de longo prazo decrescente
para todos os n´ıveis relevantes de produc¸a˜o. Ou seja, a tecnologia da firma apresenta retornos
crescentes de escala. Esta e´ uma importante falha de mercado observada em setores importantes,
tais como servic¸os de utilidades pu´blicas.
6
-
Custos,
Prec¸os
Qtde
CMe
CMg
Dilema: apenas uma firma no mercado
minimiza o custo, mas nesse caso a firma
pode cobrar prec¸o de monopo´lio
Figura 3 – Monopo´lio Natural
Um monopo´lio natural permanente tem uma curva de custo me´dio de longo prazo que cai
continuamente a` medida que aumenta a quantidade produzida. Mesmo que a demanda aumente,
ela continua cruzando a curva de custo me´dio em um trecho descendente. Um monopo´lio natural
tempora´rio tem curva de custo me´dio descendente em um primeiro trecho, mas, a partir de certa
quantidade, o custo me´dio passa a ser constante ou crescente. A partir de uma demanda de certo
tamanho (reta D′, na figura 4 abaixo), pode ja´ ser poss´ıvel ter mais de uma firma produzindo e,
portanto, alguma competic¸a˜o no mercado.
6
-
Custos,
Prec¸os
Qtde
B
B
B
B
B
B
B
B
B
B
BB
D
B
B
B
B
B
B
B
B
B
B
BB
D′
CMe
Figura 4 – Monopo´lio Natural Tempora´rio
Jose´ Guilherme de Lara Resende 6 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
Inovac¸a˜o tecnolo´gica pode alterar o formato da curva de custo me´dio, deslocando-a para a
esquerda e fazendo com que atinja seu ponto de mı´nimo a quantidades menores. Logo, a` escala
o´tima de produc¸a˜o (ou escala eficiente), o ponto de mı´nimo da curva de custo me´dio total diminui
e passa a ser mais fa´cil haver competic¸a˜o neste setor.
1.5 Discriminac¸a˜o de Prec¸os
Ate´ agora, estamos supondo que o monopolista vende o bem pelo mesmo prec¸o, qualquer que
seja o comprador e a quantidade comprada por ele. Pore´m, em muitas situac¸o˜es, o prec¸o cobrado
pelo monopolista pode depender de quem compra e da quantidade comprada. Nesse caso, dizemos
que o monopolista esta´ discriminando prec¸os. Exemplos comuns sa˜o descontos por quantidade
comprada e cobranc¸a diferenciada, dependendo do perfil do consumidor.
Vamos discutir treˆs tipos de discriminac¸a˜o de prec¸os:
1. Discriminac¸a˜o de primeiro grau ou discriminac¸a˜o perfeita: monopolista vende difer-
entes quantidades do produto a diferentes prec¸os e cujos prec¸os podem diferir de comprador
a comprador.
2. Discriminac¸a˜o de segundo grau: monopolista vende diferentes quantidades do produto a
diferentes prec¸os e os prec¸os na˜o variam com o comprador (prec¸os na˜o-lineares, descontos de
quantidade).
3. Discriminac¸a˜o de terceiro grau: monopolista vende a prec¸os diferentes para diferentes
tipos de pessoas, mas cada unidade do bem tem o mesmo prec¸o para o comprador (descontos
de cinemas, etc).
Discriminac¸a˜o perfeita e´ rara quando na˜o imposs´ıvel, devido a restric¸o˜es legais e ao fato de que
o monopolista teria que ter informac¸a˜o sobre a valorac¸a˜o de cada consumidor, de modo a cobrar de
cada um o prec¸o mais alto que esta´ disposto a pagar. Uma forma de implementar um mecanismo
que tem efeito similar e´ a tarifa em duas partes (two-part tariff ). Ela consiste em o consumidor
pagar dois prec¸os pelo bem. O primeiro e´ o prec¸o de acesso ao mercado, que permite o consumidor
comprar o bem. O segundo e´ o prec¸o por unidade comprada do bem. Se o monopolista cobrar o
primeiro prec¸o igual ao excedente me´dio consumidor e o segundo igual ao custo marginal do bem,
enta˜o ele extraira´ todo o excedente do consumidor (supondo que a valorac¸a˜o do bem e´ igual para
todo consumidor) e o resultado sera´ similar ao obtido com a discriminac¸a˜o de primeiro grau.
6
-
Custos,
Prec¸os
Qtde
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
Q
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Demanda
0
A s
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��
Exemplo de Two-Part Tariff
Firma cobra valor para o acesso A e pcp por unidade consumida
Figura 5 – Tarifa Bipartite
Jose´ Guilherme de Lara Resende 7 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
Na discriminac¸a˜o do segundo grau, os prec¸os diferem dependendo da quantidade comprada,
mas na˜o do perfil do comprador. Nesse caso, a ineficieˆncia do monopo´lio pode diminuir, mas na˜o
ira´ desaparecer.
Na discriminac¸a˜o de prec¸os do terceiro grau, os prec¸os diferem pelas caracter´ısticas do consum-
idor, mas na˜o pela quantidade consumida. Nesse caso, a ineficieˆncia do monopo´lio tambe´m pode
diminuir, mas na˜o desaparecera´ por completo.
Exemplo – Mercado de Passagens Ae´reas. Suponha que existam dois tipos de consumidores,
um chamado “executivo” e outro chamado “estudante”. O executivo viaja apenas durante a sem-
ana, entre segunda a sexta-feira. O estudante pode viajar em qualquer per´ıodo da semana. Ale´m
disso, o executivo possui maior poder aquisitivo do que o estudante. Companhias a´reas podem
enta˜o oferecer descontos maiores para bilhetes que incluam o sa´bado entre o voˆo de partida e voˆo
de chegada. Com isso, a companhia tenta discriminar entre os dois tipos de clientes, cobrando mais
caro do cliente que pode e esta´ disposto a pagar mais.
Se discriminac¸a˜o perfeita fosse poss´ıvel, a ineficieˆncia do monopo´lio desapareceria. Nestecaso,
ocorreria uma redistribuic¸a˜o de riqueza, com todo o excedente do consumidor sendo capturado
pela firma discriminadora de prec¸os, o que pode na˜o ser aceita´vel para a sociedade. No caso de
discriminac¸a˜o de prec¸os de segundo e terceiro graus, pode ocorrer que a ineficieˆncia diminua, mas
na˜o desaparec¸a, e de modo que parte do excedente do consumidor tambe´m seja apropriado pelo
monopolista.
Exemplo: Discriminac¸a˜o de Terceiro Grau. Suponha que existam dois tipos de consumidores,
cada tipo tem uma curva de demanda pro´pria, p1(q1) e p2(q2) (suponha que os consumidores na˜o
consigam revender o bem). O custo de produc¸a˜o da firma e´ dado por c(q1 + q2). O problema da
firma e´:
max
q1,q2
p1(q1)q1 + p2(q2)q2 − c(q1 + q2)
As CPOs do problema resultam em:
(q1) : p1(q
∗
1) + q
∗
1p
′
1(q
∗
1)︸ ︷︷ ︸
RMg1(q1)
= c′(q1 + q2)
(q2) : p2(q
∗
2) + q
∗
2p
′
2(q
∗
2)︸ ︷︷ ︸
RMg2(q2)
= c′(q1 + q2)
ou seja, a receita marginal obtida no mercado de cada grupo deve ser igual ao custo marginal de
produc¸a˜o total. Reescrendo as receitas marginais dos dois mercados em termos de elasticidade-prec¸o
da demanda, obtemos:
p1(q1)
[
1− 1|ε1(q1)|
]
= CMg(q1 + q2) = p2(q2)
[
1− 1|ε2(q2)|
]
Portanto, se p1 > p2, enta˜o para que a igualdade acima entre as receitas marginais de mercados
diferentes seja igual devemos ter que:
1− 1|ε1(q1)| < 1−
1
|ε2(q2)| ⇒ |ε1(q1)| < |ε2(q2)|
Portanto, o mercado que apresenta maior prec¸o e´ o mercado com menor elasticidade-prec¸o da
demanda (em valor absoluto).
Jose´ Guilherme de Lara Resende 8 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
Exemplo: Monopo´lios Donwstream e Upstream. Considere um monopolista cujo produto e´
usado como fator de produc¸a˜o por outro monopolista. Por exemplo, uma empresa pode ser a u´nica
vendedora de eucaliptos para uma outra empresa, u´nica produtora de papel no mercado (e u´nica
compradora de eucaliptos). A primeira firma e´ chamada monopolista upstream e a segunda firma,
monopolista downstream. Vamos analisar um modelo simples com essa configurac¸a˜o.
O que ocorre em um mercado com esta configurac¸a˜o? Sera´ que se os dois monopo´lios se inte-
grarem (integrac¸a˜o vertical), o resultado sera´ bene´fico para os consumidores? A resposta e´ sim.
Varian desenvolve um modelo simples em que o monopo´lio integrado ira´ produzir mais (e, por-
tanto, cobrar um prec¸o menor) do que a situac¸a˜o com os dois monopo´lios, upstream e downstream,
pois nesta situac¸a˜o ocorre um mark-up duplo, feito por cada um dos dois monopolistas, enquanto
com o monopo´lio integrado, ocorre apenas um u´nico mark-up.
Suponha que o monopolista upstream tenha um custo marginal de produc¸a˜o constante, igual a c,
que vende a sua produc¸a˜o x a um prec¸o k, para ser usado como fator de produc¸a˜o pelo monopolista
downstream, cuja func¸a˜o de produc¸a˜o e´ q = f(x) = x e cuja curva de demanda para o seu produto
e´ linear, representada por p(q) = a− bq, com a, b > 0.
O problema do monopolista downstream e´:
max
q≥0
p(q) q − kq = [a− bq] q − kq
A CPO desse problema resulta em:
a− 2bq∗ = k ⇒ q∗ = a− k
2b
Como q = x, ou seja, para cada unidade de q produzida, o monopolista downstream demanda uma
unidade do insumo, temos que:
x∗ = q∗ =
a− k
2b
.
Tendo conhecimento dessa estrutura de mercado e da decisa˜o o´tima do monopolista downstream,
o monopolista upstream sabe que a curva de demanda do seu produto e´ definida por x∗ = (a−k)/2b,
ou seja, k(x) = a− 2bx. Logo, esse monopolista resolve o seguinte problema:
max
x≥0
k(x)x− c(x) = [a− 2bx]x− cx
A CPO desse problema resulta em:
k′(x)x+ k(x) = c ⇒ a− 4bx = c ⇒ x∗ = a− c
4b
Logo o monopolista upstream ira´ ofertar a quantidade x∗ = (a− c)/4b do insumo. Como a func¸a˜o
de produc¸a˜o do monopolista downstream e´ q = x, enta˜o sera˜o ofertadas q∗ = (a− c)/4b do produto
final.
Vamos agora analisar o que aconteceria se ocorresse um processo de integrac¸a˜o vertical, isto e´,
se esses monopolistas se fundissem em uma u´nica firma, constituindo um u´nico monopo´lio. Nesse
caso, o problema do monopolista integrado e´:
max
q≥0
p(q) q − cq = [a− bq] q − cq
Jose´ Guilherme de Lara Resende 9 Monopo´lio
Microeconomia 2 Nota de Aula 5
A CPO desse problema resulta em:
a− 2bq∗ = c ⇒ q∗ = a− c
2b
Ou seja, a produc¸a˜o do bem final e´ o dobro agora. E´ poss´ıvel mostrar que mesmo considerando
func¸o˜es de demanda, produc¸a˜o e custo mais gerais, o monopo´lio integrado ira´ produzir mais (e,
portanto, cobrar um prec¸o menor) do que a situac¸a˜o com os dois monopo´lios, upstream e down-
stream, pois nesta situac¸a˜o ocorre um mark-up duplo, feito por cada um dos dois monopolistas,
enquanto com o monopo´lio integrado, ocorre apenas um u´nico mark-up.
1.6 Monopsoˆnio
O monopsoˆnio e´ a estrutura de mercado onde existe apenas um comprador para um determinado
bem (nesse caso, dizemos que o monopsonista e´ um fixador de prec¸os). Suponha que esse bem tem
uma curva de oferta inversa w(x) crescente e que a func¸a˜o de produc¸a˜o da firma dependa apenas
desse fator de produc¸a˜o.
O problema do monopsonista e´:
max
x
pf(x)− w(x)x
A CPO resulta em:
pf ′(x) = w(x) + w′(x)x = w(x)
[
1 +
1
η(x)
]
,
onde η(x) e´ a elasticidade-prec¸o da oferta do insumo x. Como a curva de oferta e´ positivamente
inclinada, temos que η(x) > 0. Logo, pf ′(x) > w(x), e o custo marginal do insumo (w(x) +w′(x)x)
e´ maior do que custo me´dio do insumo (w(x)). Isso implica que o prec¸o do insumo w(x) sera´ menor
do que se o mercado do insumo fosse competitivo.
Observe que a interpretac¸a˜o e´ ana´loga a de um monopo´lio: se o monopsoˆnio aumentar o uso
do insumo em uma unidade, ele pagara´ pelo valor dessa unidade, w(x), mais um valor dado pelo
aumento do prec¸o do insumo, para todas unidades compradas, w′(x)x. Temos, enta˜o, uma situac¸a˜o
de ineficieˆncia econoˆmica, onde a ineficeˆncia origina-se no mercado de fatores.
Finalmente, quanto mais ela´stica a oferta do insumo, menor a diferenc¸a entre o custo marginal
e o custo me´dio do insumo. Se o mercado de fatores for perfeitamente competitivo, enta˜o a curva
de oferta do fator sera´ perfeitamente ela´stica (η(x) = ∞) e pf ′(x) = w(x), com o custo marginal
do insumo igualando o seu custo me´dio.
Leitura Sugerida
• Varian, cap´ıtulos 24 (Monopo´lio), 25 (O Comportamento Monopolista) e 26 (O Mercado de
Fatores).
• Nicholson e Snyder: Cap´ıtulo 14 (Monopoly).
Jose´ Guilherme de Lara Resende 10 Monopo´lio

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