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LUTAR COM PALAVRAS : COESÃO E COERÊNCIA
Caio Dério
ANTUNES, Irandé . Lutar com palavras : coesão e coerência . São Paulo ; Parábola Editorial , 2005 . 193 p.
 Este trabalho trata sobre uma das principais obras da linguista brasileira , com doutorado em Linguística pela Universidade de Lisboa , Irandé Antunes , que em seu livro Lutar com palavras coesão e coerência mostra a todos , que escrever não é um dom dado a poucos mortais . Com base em sua familiaridade com o tema e a experiência obtida através de anos com professores do ensino fundamental e da faculdade, a autora consegue passar de maneira clara sua mensagem , e , ate os mais leigos no assunto depois dessa leitura perderiam o medo de escrever e produziriam textos de qualidade.
 “ Pra começo de conversa” , praticamente o começo do livro , remete a uma conversa amigável , mas sem rodeios indo direto ao assunto de maneira a se aproximar do leitor , deixando a leitura mais confortável , tendo em vista que o assunto - tema central - assustaria muitos iniciantes por parecer um tema de difícil compreensão . Uma consideração importante que a autora faz e frisa bem é que escrever é como falar, é uma inteiração social sempre envolvendo duas pessoas ou mais, indo além de escrever corretamente. Outro ponto positivo e de igual importância é como a autora desmistifica os mitos ao longo de toda a obra, mitos como: escrever ser um dom singular , são desfeitos .
 Contudo Irandé faz mais que ensinar e apresentar o tema proposto , ela analise o problema e descreve a coesão e a coerência, na concepção de muitos , como “...uma área geral , sem contornos , onde cabe tudo e tudo se acomoda. E , ai , dizemos : falta coesão; ou o texto não tem coerência “ , fazendo uma analogia : seria como médicos que não sabendo do que se trata a doença especifica do cliente , dizem que o mesmo esta com virose , ou seja , quando muitos professores não sabem explicar ou definir o que falta no texto , jogam para o campo da coesão e da coerência . Entretanto o problema é mais complexo, ou como dizem “o buraco é mais embaixo”, o material disponível é superficial e inconsistente, faltando uma exploração de forma satisfatória ultrapassando a área acadêmica e chegando a quem utiliza da escrita no dia a dia . Outra questão é como a norma culta é priorizada na sociedade, ignorando o fato de que ler e escrever são ações concomitantes e derivadas do meio social . Essa analise se aprofunda no âmbito social , mas principalmente escolar , dando ênfase na maneira de ensinar e como escrever se reduziu apenas a escrever lições do quadro e redações sem destinatário gerando uma escrita superficial que dificilmente irá servir para a vida diária , além do ensino ser feito “separado” da leitura , o que dificulta o aprendizado . 
 Através de perguntas retoricas e redundâncias, a autora retoma o conteúdo, deixando-o mais claro e aos poucos vai se aprofundando no assunto. O ato de escrever ser uma inteiração social deve ser feito pensado no individuo para quem escrevemos, por isso pedir um texto sem um destinatário mesmo que imaginário é um absurdo, se escrevermos para os mais variados tipos de pessoas de diferentes camadas da sociedade, essa atividade irá ampliar os horizontes do escritor, como deixa bem claro a autora. E isso nos mostra que não há o escrever “certo ou errado” já que visões variadas resultam em escritas diferentes. Outra critica feita no texto e se pararmos pra pensar é verdade, é sobre a maneira como as escolas vem ensinando o português , através de frases soltas sendo o texto mais amplo do que simples frases desconexas.
 Após essa critica que Irandé retoma ao longo do texto , ela também ensina a como melhorar a escrita , e nos apresenta os “ três grandes momentos de escrever” : o planejamento , o da escrita e o da revisão sendo que o texto deve ter quatro fatores principais que são a coesão , a coerência , a informatividade ( maneira como o texto se aprofunda e passa a desejada ) e a intertextualidade . A linguista brasileira nos convida a refletir sobre o conceito de coesão e através dos exemplos mostra que seria como um laço que da a estrutura ao texto e o mesmo faz com a coerência, nos levando a conclusão de que é o sentido do texto, contudo o sentido não é o “gramaticalmente certo”, mas também inclui o conhecimento de mundo, e ilustra isso brilhantemente ao fazer uma analise de um poema sobre o amor cujo autor é desconhecido.
 Irandé Antunes em suas analises vai além da superfície do texto, através de quadros ela explica como se faz a coesão textual; Esses quadros podem parecer um pouco confusos de inicio, porém se o leitor prestar atenção eles se tornarão de fácil entendimento. Apresenta também as relações semânticas que dão uma melhor estrutura ao texto através da reiteração, associação e conexão. A primeira se refere aos elementos retomados ; A segunda se faz através da associação de sentido criando uma relação de sentido entre si e o tema ; E o ultimo é mais amplo , pois acontece através das orações e á supra parágrafos e não apenas de palavras ou sentidos como os anteriores. A progressão de uma parte da obra se aprofunda nessas relações semânticas (reiteração, associação e conexão). No caso da reiteração encontramos alguns procedimentos: a repetição, substituição, seleção lexical e a conexão sintático-semântica. A substituição também reitera sendo que através da substituição de um termo por um adverbio, pronome, sinônimo e etc. A repetição (que inclui a paráfrase, paralelismo e a repetição propriamente dita) como o próprio nome diz é a repetição de palavras e termos. Dentro da repetição encontramos a paráfrase, como diz a autora “acontece sempre que recorremos aos procedimentos de voltar a dizer o que foi dito antes”, ou seja, falar com outras palavras a mesma coisa podendo acrescentar informações, propiciando a clarificação de um conceito. O paralelismo indica uma serie de complementos ou adjuntos de um mesmo termo; é quando um “evento” é paralelo ao outro. A repetição propriamente dita é repetir o que foi dito a partir de palavras ou frases já presentes no texto, pode parecer um recurso informal e indesejável, porém como a autora mostra é muito utilizado nos textos publicitários, contudo ajuda a manter a linearidade do assunto e ajuda a dar ênfase , contudo é preciso ter cuidado com esse recurso pois pode gerar ambiguidade . Na Substituição, que seria a repetição de algo sem repetir a mesma palavra assim passando o mesmo sentido, darei ênfase na catáfora e na anáfora. A catáfora é quando, em primeiro lugar vem o pronome, e depois é introduzido o nome a que o pronome remete ; A Anáfora é quando vem o nome em primeiro lugar, o termo antecedente que será pelo pronome ( o contrario da catáfora ). Contudo o uso excessivo pode gerar ambiguidade acarretando em interpretações erradas. Utilizar da substituição não significa apenas colocar qualquer termo, o uso excessivo de pronomes, por exemplo, pode deixar o leitor confuso e não se pode usar qualquer expressão para substituir a outra.
 A coesão pela associação semântica entre as palavras serve para deixar o texto bem articulado, requer o conhecimento de mundo. Já a coesão pela conexão promove a sequencia, nas escolas é visto apenas como exercício de ligação usados para classificação separado do texto , mas sua importância é ele da uma direção argumentativa para o escritor.	
 Irandé continuamente explica que gramatica não se refere apenas à norma culta e isso seria o mesmo que afirmar que a superfície do texto é tudo e que a língua serviria em função de si mesma, descartando o conhecimento de mundo e a questão sociocultural. Quando a autora descreve as regras da gramatica ela deixa isso bem claro, “... as regras da gramatica: uma relação das possibilidades de produzir, em eventos comunicativos, um conjunto de sinais (orais e escritos), de forma a poderem funcionar como expressão se um dizersociocomunicativamente relevante”, ou seja, não existe certo ou errado , o objetivo é passar a mensagem ( de modo que o receptor a entenda ), podemos reforçar esse pensamento com uma seguinte frase deste livro que seria “ sem gramatica , não se faz um texto . Mas , também , que não se faz um texto apenas com gramatica”.
 Terminando o livro, mais exatamente no capitulo dez, a autora utiliza o poema do primeiro capitulo, de certa forma nos faz recapitular todos os capítulos, a fim de ativar a memoria e assim ela já trata unicamente de coesão e coerência e sua relação, retomando as ideias iniciais. Para autora ambas não se confundem, mas separa-las não seria tão produtivo quanto seria se utilizássemos as duas juntas . Ela menciona o “olhar” linguístico que pode nos impedir de analisar melhor o texto por se ater apenas as regras gramaticais, nos limitando. No mesmo capitulo Antunes apresenta as regras de coerência de Charolles: 1- metra-regra da repetição, que seria retomar que foi dito afim retomar o que foi dito; 2 – meta-regra da progressão, que diz que o texto deve progredir com equilíbrio e não introduzir novas informações no texto de qualquer maneira ; e 3 – meta-regra da não contrariedade ; 4 – meta-regra da relação , onde tudo deve se relacionar , tornando o texto bem articulado.
 No ultimo capitulo “ Que a luta não seja vã...” a autora de certa forma retoma o livro dando um ar de finalidade, ela aborda novamente a questão de certo e errado e fecha com um poema de Drummond, “ O lutador “ , o que ficou perfeito por seu conteúdo retratar essa luta com palavras de que Irandé fala .
 Para aqueles que não entendem sobre o assunto e desejam “fazer as pazes com a língua portuguesa”, este livro é uma excelente pedida. Repleto de exemplos, dicas e uma linguagem de fácil acesso a autora consegue no final dessa leitura passar os conceitos e bases necessárias para se escrever bons textos. Uma leitura prazerosa que agrega muito ao conhecimento e com certeza, quem o ler levará este aprendizado para a vida toda.

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