Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPITULO Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 5 EXPLORANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA 1. Quais são algumas das tarefas usadas para o estudo da memória e o que essas várias tarefas indicam sobre a estrutura da memória? 2. Qual tem sido o modelo tradicional predominante de estrutura da memória? 3. Quais são alguns dos principais modelos alternativos da estrutura da memória? 4. O que os psicólogos conheceram sobre a estrutura da memória estudando a memó ria e a fisiologia do cérebro? Quem é o presidentedos Estados Unidos? Que dia é hoje?Qual é a aparência de seu melhor amigo e comoé o timbre da vo: de seu amigo? Quais foram algumasde suas experiências quando começou a cursar a faculdade? De que modo você dá um laço no cadarço de seu sapato? INVESTIGANDO A PSICOLOGIA COGNITIVA Como você sabe as respostas das perguntas precedentes ou de quaisquer perguntas com relação a isso? Como você se lembra de qualquer informação que usa todas as horas em que está desperto todos os dias? Memória é o meio pelo qual retemose nos valemos de nossas experiências passadas para usar essas informações no presente (Tulving, 2000b; Tulving, Craik, 2000). A memória, como um processo, refere-se aos mecanismos dinâmicos associados ao armazenamento, retenção e recuperação de informações sobre experiências passadas (Bjorklund, Schneider, Hernández Blasi, 2003; Crowder, 1976). Os psicólogos cognitivos identificaram especificamente três operações usuais de memória: co dificação, armazenamento e recuperação (Baddeley, 1998, 1999 e 2000b; Brown, Craik, 2000). Cadaoperação representa um estágio do processamento da memória. Na codificação você transforma dados sensoriais em uma forma de representação mental. Na armazena mento você mantém as informações codificadas na memória. Na recuperação você acessa ou usa as informações armazenadas na memória. Estes processos de memória são discutidos detalhadamente no Capítulo 6. Este capítulo introduz algumas das tarefas usadas para o estudo da memória. Em seguida, discute o modelo de memória tradicional. Este modelo inclui os sistemas sensorial, de arma zenamento de curto prazo e de longo prazo. Embora esse modelo ainda influencie o pensa mento atual sobre memória, consideramos algumas perspectivas alternativas e modelos de memória interessantesantes de passar a discutir a memóriadiferenciada e os conhecimentos proporcionados pela Neuropsicologia. 153 Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 154 Psicologia Cognitiva Tarefas usadas para avaliação da memória Os pesquisadores criaram, ao estudar a memória, diversas tarefasque exigem dos participan tes lembrarem-se de informações arbitrárias (por exemplo, conjuntos de números ou de letras) de maneiras distintas. Em virtude de este capítulo incluir muitas referências a essas tarefas, iniciamos esta seção com um organizador antecipado - uma base para organizar as informações a serem fornecidas. Você conhecerá, deste modo, como a memória é estudada. As tarefasdescritasnas seçõesa seguirenvolvem memória de recordação versus de reconhe cimento e memória implícita versus explícita. Tarefas de Recordação versus Tarefas de Reconhecimento Na recordação você apresenta um fato, uma palavra ou um outro item de memória. Os tes tes de preenchimento de espaços em branco e a maioria dos demais testes exigemque você QUADRO 5.1 Tipos de Tarefas Usadas para Avaliação da Memória Algumas tarefas de memória envolvem recordação ou reconhecimento de memória explícita para conhecimento declatativo. Outras tarefas envolvem memória implícita e memória de conhecimento de procedimentos. Tarefas que Exigem Memória Expücita para o Conhecimento Declarativo Tarefas de memória explícita Tarefas de conhecimento declarativo Tarefas de recordação Tarefa de recordação serial Teste de recordação livre Tarefa de recordação Descrição do que as Tarefas Exigem Você deve rememorar consciente mente informações específicas. Você deve recordar fatos. Você deve apresentar um fato, uma palavra ou outro item de memória. Você deve repetir os itens de uma lista na ordem exata em que os ouviu ou leu. Você deve repetir os itens de uma relação na ordem em que conse guir relembrá-los. Você deve memorizar uma relaçãode pares de itens; em seguida, lhe é apresentado um item do par c você precisa se lembrar do item faltante que forma o par. Exemplo Quem escreveu HamleO. Qual é seu primeiro nome? Testes de preenchimento de espaços em branco requerem que você se lem bre de itens da memória. Por exemplo, "O termo para pessoas que sofrem de déficit de memória se- Se lhe fossem mostrados os algarismos 2-8-7-1 -6-4, haveria a expectativa de que você os repetisse exatamente nesta ordem. Se lhe fosse apresentada a relação de palavras "cão, lápis, tempo, cabelo, macaco, restaurante", seria plenamente aceitável se você repetisse "macaco, restaurante, cão, lápis, tempo, cabelo". Suponha que lhe fosse apresentada a seguinte relação de pares: "tem- po-cidade, névoa-lar, chave-papel, crédito-dia, punho-nuvem, número- galho". Posteriormente, quando lhe fosse dado o estímulo "chave", você deveria diier "papel", e assim por diante. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 155 se recorde de itens da memória. No reconhecimento você seleciona ou identifica um item como um dos que aprendeu anteriormente. (Veja o Quadro 5.1 para exemplos e explicações de cada tipo de tarefa.) Testesde múltipla escolha e com a opção verdadeiro-falso envolvem algum grau de reconhecimento. Três tipos principais de tarefas de rememoração são usados em experiências (Lockhart, 2000). O primeiro tipo é recordação serial, no qual você se re corda de itens na ordem exata em que foram apresentados (Crowder, Green, 2000). O se gundo é recordação livre, em que, inicialmente, lhe mostram itens em pares, porém, durante a rememoração, você recebe informação de somente um componente de cada par e é solici tado a lembrar-se do outro componente. A recordação também é denominada "recordação em pares associados" (Lockhart, 2000). Os psicólogos tambémpodemmediro reaprendizado, que é o número de tentativas necessárias para aprender novamente itens que foram aprendi dos em alguma ocasião no passado. A reaprendizagem também tem sidodenominada reapro- veitamento e pode ser observada em adultos, crianças e animais (Bauer, 2005; Lynne, Yukako, McKinney, 2002; Monk et ai., 1996). O efeito de reaprendizagem também foi QUADRO 5.1 Tipos de Tarefas Usadas para Avaliação da Memória (continuação) Tarefas que Exigem Memória Explícita Para o Conhecimento Declarativo Descrição do que as tarefas exigem Exemplo Tarefas de reconhecimento Você deve selecionar ou identificar um item como tendo sido aprendido anteriormente. Testes de múltipla escolha e do tipo verdadeiro-falso. Por exemplo: "O termo para pessoascom capacidade de memória excepcional é (1) amné- sico, (2) semanticista (3) mnemo- nista ou (4) retrógrados". Tarefas de memória implícita Você precisa se valer de informações na memória sem perceber consciente mente que está agindo dessa forma. Tarefas de preenchimento da palavra faltante usam a memória implícita. Seria apresentado a você um frag mento de palavra; você seria solici tado, em seguida, a completar o frag mento com a primeira palavra que lhe viesse à mente. Por exemplo, su ponha que lhe fosse solicitado para indicar as quatro letras faltantes para o preenchimento nestes espaços em branco e formar uma palavra: e ór . Em virtude de ter visto recentemente a palavra memória, você provavelmente indicaria as qua tro letras m m i a para preen cher os espaços, em contraste a alguém que não houvesse sido expostorecentemente à palavra, Tarefas envolvendo conhecimento Você deve se lembrar de aptidões adquiridas e de comportamentos automáticos ao invés de fatos. Se você fosse solicitado a demonstrar uma aptidão de "saber como fazer", po deria ser-lheoferecidaexperiência para resolução de quebra-cabeças ou para leitura de palavras escritas em ordem inversa, e, em seguida, lhe seria solici tado demonstrar do que você se lembra sobre o modo de usar essas aptidões. Ou você poderia ser solicitadopara do minar ou demonstrar aquilo que você já se recorda a respeitode aptidões mo toras específicas {porexemplo, andar de bicicletaou patinar no gelo). Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 156 Psicologia Cognitiva observado em fetos de ratos, que demonstraram intervalos de aprendizagem mais reduzidos para movimentos motores que haviam aprendido anteriormente (Robinson, 2005). Este efeito é nitidamente generalizável de modo extensivo a muitas situações e participantes. A memória de reconhecimento usualmente é muito melhor do que a recordação {em bora existam algumas exceções, que são discutidas no Capítulo 6). Por exemplo, em um es tudo, participantes puderam reconhecer perto de 2.000 fotografias em uma tarefa de memória de reconhecimento (Standing, Conezio, Haber, 1970). E difícil imaginar uma pes soa lembrando-se de 2.000 itensde qualquertipo que lhe foi solicitado para memorizar. Con forme você verá, posteriormente, na seção sobre memória diferenciada, mesmo com treina mento extensivo, o melhor desempenho de rememoração foi de aproximadamente 80 itens. Informar aos participantes o tipo de teste futuro pode influenciar o volume de aprendiza gem que ocorre. Os testes de recordação, em geral, trazem à tona especificamente níveis mais profundos de processamento de informações do que os testes de reconhecimento. Imagine es tudar para um exame. Quando se preparar para uma prova escrita, provavelmente tentará re- lacionar conceitos entre si. No entanto, ao se preparar para um teste de múltipla escolha, possivelmente tentará se lembrar de fatos. E possível que, após estudar para a prova escrita, você se lembre de mais detalhes a respeito das informações. Conforme mencionado anterior mente, a prova escrita é parecidacom a tarefa de recordação, e o teste de múltipla escolha re lembra a tarefa de reconhecimento, embora, evidentemente, não sejam idênticos. Alguns psicólogos referem-se às tarefas de memória de reconhecimento comode obtençãode conhe cimento receptivo. Tarefas de memória de reconhecimento, para as quais você deve dar uma resposta, requerem, diferentemente, conhecimento expressivo. Diferenças entre conhecimento receptivo e expressivo também são observadas em áreas distintas daquelas das tarefas de me mória simples (por exemplo, linguagem, inteligência e desenvolvimento cognitivo). Tarefas de Memória Implícita versus Tarefas de Memória Explícita Os teóricos da memória distinguem entre memória explícita e memória implícita (Mulli- gan, 2003). Cada uma das tarefas discutidas anteriormente envolve a memória explícita, em que os participantes apresentam lembrança consciente. Por exemplo, podem lembrar ou reconhecer palavras, fatos ou imagens de um determinado conjunto prévio de itens. Um fenômeno relacionado é a memória implícita, na qual usamos informações, porém não te mos conhecimento consciente de que estamos agindo dessa forma (McBride, 2007; Roedi- ger, McDermott, 1993; Schacter, 1995a e 2000; Schacter, Chiu, Ochsner, 1993; Schacter, Graf, 1986a e 1986b). Todos os dias você participa de muitas tarefas que envolvem sua lembrança inconsciente de informações. Mesmo enquanto você lê este livro, está se lem brando inconscientemente de muitas coisas, que incluem o significado de determinadas palavras, alguns dosconceitos psicológico-cognitivos a respeito dosquaisvocê leu em capí tulos anteriores e mesmo como ler. Existem diferenças na memória explícita ao longo da vida; a memória implícita, entretanto, não apresenta asmesmas alterações. Crianças peque nas e adultos mais idosos muitas vezes tendem, especificamente, a ter memória explícita relativamente fraca, porém memória implícita comparável à de adultos jovens {Carver, Bauer, 2001; Murphy, McKone, Slee, 2003). Em certos grupos de pacientes também se observam diferenças de memória explícita e memória implícita preservada; esses grupos serão discutidos posteriormente neste capítulo. No laboratório, a memória implícita algumas vezes é estudada fazendo com que as pes soas realizem tarefas de complementação de palavras. Em uma tarefa deste tipo, os partici pantes recebem uma palavra incompleta, como as três primeiras letras de uma palavra. Eles, em seguida, a completam com a primeira palavra que vem à mente. Por exemplo, suponha que você seja solicitadoa preencher os espaços com as seis letras faltantes para formar uma palavra: imp . Em virtude de você ter visto recentemente a palavra implí- Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo 5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 157 cita, provavelmente indicaria as seis letras 1-í-c-i-t-a para os espaços em branco em compara ção a uma pessoa que não tivesse sido exposta recentemente à palavra. Você foi induzido. Indução é a facilitação de sua capacidade para utilizar informações faltantes. Em geral, os par ticipantes possuem melhor desempenho quando tiverem visto a palavra em uma relação apresentada recentemente, embora não tivessem sido instruídos explicitamente a se lembrar de palavras dessa relação (Tulving, 2000a). A indução ocorre mesmo nas situações em que você não tem consciência de ter visto a palavra antes, isto é, se a palavra foi apresentadadu rante uma fração de segundo ou de outra forma degradada. Memória de procedimentos, ou memória de processos, constitui em subtipo da memória não declarativa (Tulving, 1985). Exemplos de memória de procedimentos incluem os procedi mentos envolvidos para andar de bicicleta ou para dirigir um carro. Considere quando você está dirigindo para ir ao shopping center: provavelmente engata a marcha, usa seu pisca-pisca e permanece em sua pista sem pensar ativamente sobre a tarefa. Vocênem precisa lembrar-se conscientemente do que deve fazer quando o semáforo fica vermelho. Muitas das atividades que realizamos todos os dias enquadram-se no âmbito da memória de procedimentos; estas po dem variar de escovar os dentes a escrever uma monografia. O cerebelo parece ter uma participação importante na memória de procedimentos. As descobertasneuropsicológicas e cognitivasque apoiam uma memóriade procedimentosdes contínua têm sido muito bem documentadas (Cohen et ai, 1985; Cohen, Squire, 1980; Rempel-Clower et ai., 1996; Squire, 1987; Squire, Knowlton, Musen, 1993). No laboratório, a memória de procedimentos freqüentemente é estudada por meioda tarefa de acompanha mento rotatório. Esta tarefa exige que os participantes mantenham contato entre uma agu lha com formato de L e um pequeno disco rotativo (Costello, 1967). O disco geralmente é do tamanho de uma moeda, com diâmetro inferior a 2,5 cm. O disco é colocado em uma plataforma que gira rapidamente. O participante precisa tocar o disco pequeno com o esti lete à medida que gira rapidamente em torno de uma plataforma. Após treinarem com disco e velocidade de rotação específicos, os participantes são solicitados a completar a tarefa no vamente, com o mesmo disco e a mesma velocidade ou com um novo disco ou outra veloci dade. Verdolini-Marston e Balota (1994) observaram que, quando um novo disco ou outra velocidade são usados, os participantes exibem um desempenho relativamente fraco. Porém, com disco e velocidade idênticos, os participantes desempenhama tarefa tão bem quanto após terem aprendido a tarefa, mesmo quando não se lembram de haver completado previa mente a tarefa. Outra tarefa usadapara estudar a memória é a reconstituição com o espelho. Na tarefade reconstituição com o espelho, uma placa com o contorno de uma forma desenhada sobre ela é colocada atrás de um obstáculo, onde não possa ser vista. Para além do obstáculo, na linha visual do participante, encontra-se um espelho. Quando o participante aproxima-se do obstá culo, sua mão e a placa com a forma delineada podem ser vistas. Os participantes pegam, em seguida, uma caneta e traçam o contorno da forma desenhada na placa. Quando aprendem essa tarefa pela primeira vez, os participantes têm dificuldade para manter o contorno da forma. Normalmente existem muitos pontos nos quaiso estiletesaido contorno. Além disso, é neces sário um tempo relativamente longo para reconstituir toda a forma. Entretanto, com a prática, os participantes tornam-se bem eficientes e precisos na execução da tarefa. A retenção dessa aptidão pelos participantesproporciona uma maneira para estudar a memória de procedimen tos (Gabrieli etai, 1997; Rodrigue, Kennedy, Raz, 2005). Os métodos para avaliar a memóriaexplícita e a implícitadescritos aqui e no Quadro 5.1 supõem que a memória implícita e a explícita são distintas e podem ser medidas por tarefas diferentes. Alguns pesquisadores questionaram essa suposição. Eles supõem, como alterna tiva, que ambos os tipos de memóriadesempenham um papel em toda resposta, mesmo se a tarefa a ser realizada tiver como finalidade medir somente um tipo de memória. Portanto, os Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 158 Psicologia Cognitiva psicólogos cognitivos desenvolveram modelos que assumem a influência da memória implí cita e da explícita em quase todas as respostas. Um dos primeirose mais amplamente reconhecidos modelos nessa área é o modelo dedis sociação do processo (Jacoby, 1991). O modelo supõe que a memória implícita e a explícita exercem ambas um papel em praticamente toda resposta. Portanto, somente uma tarefa é ne cessária para medir ambos processos. No entanto, duas tarefas diferentes podem ser usadas no âmbito da estrutura de dissociação do processo. Em uma dessas tarefas, os participantes aprendem uma relação de palavras e, em seguida, lhes são apresentadas palavras incompletas. Neste ponto, recebem instruções para inclusão, pelas quais devem fazer uso das informações que obtiveram anteriormente para completar as palavras; ou as instruções referem-se à exclusão, isto é, o participante é avisado a não usar os itens da relação anterior para preencher as letras faltantes. Ao subtrair o número de vezes que uma palavra da relação for usada na condição de exclusão do mesmo evento na condi ção de inclusão, jacoby foi capaz de estimar o efeito da memória explícita. Alguns passos adi cionais permitiram a Jacoby estimar, na mesma tarefa, a memória implícita. A tarefa de dissociação do processo foi usada extensivamente {Memon, Holliday, Hill, 2006; Yonelinas, 2001). No entanto, esse procedimento não está isento de críticas. Estas críticas confirmam que a dissociação do processo produz estimativas distorcidas quando ocorre adivinhação e quando os participantes usam uma estratégia que envolve avaliar e corrigir suas respostas (McBride, Dosher, 2002; McKenzie, Tiberghien, 2004; Yu, Bellezza, 2000). Modelo Tradicional de Memória Existem diversos modelos de memória (Murdock, 2003; Roediger, 1980b). Em meados da década de 1960, com base nos dados disponíveis à época, os pesquisadores propuseram um modelo de memória, diferenciando duas estruturas de memória propostas inicialmente por William James (1890/1970): memória primária, que armazena informações temporárias usa das corretamente, e memória secundária, que inclui informações em caráter permanente ou ao menos durante um longo período (Waugh, Norman, 1965). Três anos depois, Richard Atkinson e Richard Shiffrin (1968) propuseram um modelo alternativo, que conceitualizou a memória em termos de três sistemas de armazenamento: (1) um armazenamento sensorial, capaz de estocar quantidades de informação relativamente limitadas durante períodos muito breves; (2) um armazenamento de curto prazo, capaz de estocar informações por períodos um tanto mais longos, mas também com capacidade relativamente limitada; e (3) um arma zenamento de longo prazo, de grande capacidade, capazde estocar informações por períodos muito longos, talvez mesmo indefinidamente (Richardson —Klavehn, Bjork, 2003). O modelo diferencia entre estruturas para retenção de informações, são receptáculos, e in formações armazenadas nas estruturas, que são denominados memória. Hoje, entretanto, os psicólogos cognitivos comumente descrevem os três receptáculos como memória sensorial, memória de curto prazo e memória de longo prazo. Atkinson e Shiffrin também não esta vam sugerindo que os três receptáculos são estruturas fisiológicas distintas. Os receptáculos são, preferivelmente, constructos hipotéticos - conceitos que não são, por si só, diretamente mensuráveis ou observáveis, mas que atuam como modelos mentais para a compreensão de como opera um fenômeno psicológico. A Figura 5.1 apresenta um modelo de processamento de informações simples desses três receptáculos (Atkinson, Shiffrin, 1971). Conforme a figura, o modelo Atkinson-Shiffrin enfatiza os receptáculos passivos, nos quais as memórias são ar mazenadas. Porém, também se refere a alguns processos de controle que regem a transferên cia de informações de um receptáculo para outro. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 159 FIGURA 5.1 Richard Atkinson e Richard Shiffrin propuseram um modelo teórico para o fluxo de informações por meio doprocessa dor de informações humano, ilustrado por Aüen Beechel e adaptado de "The Contrai of Short-Term Memory", de Richard C. Atkinson e RichardM. Shiffrin. © 1971, Scientific American, Inc. Todos os direitos reservados. O modelo de três receptáculos não é, no entanto, a única maneira para conceitualizar a memória. As seçõesa seguirapresentam inicialmente aquilo que conhecemos sobrea memó ria em termos do modelo de três receptáculos. São descritas, em seguida, algumas maneiras alternativas para conceitualizar a memória. Vamos iniciar com o receptáculo sensorial no modelo de três receptáculos. Armazenamento Sensorial A armazenamento sensorial constitui o repositório inicial de muitas informações que, no final, passam a fazer parte da armazenagem de curto prazo e de longo prazo. Provas convincentes (embora não sem questionamento; veja Haber, 1983) argumentam em favorda existência de uma armazenagem icônica. O armazenamento icônico é um registro sensorial de natureza visual e descontínua que retém informações por períodos muito breves. Sua designação ori gina-se do fato de as informações serem armazenadas sob a forma de ícones. Estes, por sua vez, são imagens visuais que representam algo. Ícones são parecidos usualmente com o que estiver sendo representado. Se você alguma vezescreveu seu nome com uma caneta cintilante (ou com um bastão de incenso) em um fundo de cor preta, percebeu a persistênciade uma memória visual. Você "vê" brevemente seu nome, embora a caneta não deixe um traço físico. Essa persistência visual constitui um exemplo do tipo de informação mantida no armazenamento icônico. A Descobertade Sperling A descoberta inicial relativa à existência do armazenamento icônico originou-se de uma tese de doutorado apresentada por um aluno do curso de pós-graduação chamado George Sperling (1960). Ele estudou o tema relativo à quantidade de informações que podemos codificar em um único e breve olhar de relance a um conjunto de estímulos. Sperling pro jetou intermitentemente em uma tela uma sériede letras e números durante apenas 50 milis- segundos (milésimos de um segundo).Os participantesforamsolicitados a indicara identidade e a localização do maior número possível de símbolos que conseguissem relembrar. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 160 Psicologia Cognitiva Sperling poderia estar seguro de que os participantes somente olharam rapidamente uma única vez porque pesquisas anteriores haviam mostrado que 0,050 segundo é o tempo sufi ciente para apenas olhar de relance o estímulo apresentado. Sperlingconstatou que, quando os participantes eram solicitados a indicar o que tinham visto, se lembravam somente de quatro símbolos. A descoberta confirmou uma anterior feita por Brigden, em 1933. O número de símbolos lembrado era praticamente o mesmo, sem levar em consideração quantos haviam sido apresentados visualmente. Alguns dos participantes de Sperling mencionaram que tinham visto todos os estímulos nitidamente. Entretanto, ao in dicar aquilo que viram, esqueceram-se dos demais estímulos. Sperling concebeu, em seguida, uma idéiagenial que permitia avaliar o que os participantes viram. O procedimento usado por Brigden e no primeiro conjunto de estudos por Sperling é um procedimento de relato integrai. Nesse procedimento, os participantes indicam todo símbolo que viram. Sperling introduziu, a seguir, um procedimento de relato parcial. Neste caso, os participantes precisavam comunicar somente parte daquilo que vêem. Sperling descobriu uma maneira para obter uma amostra de conhecimento de seus parti cipantes. Ele, então, extrapolou essa amostra para estimar o conhecimento total. Sua lógica foi similar àquela das provas escolares, que também são usadas como exemplos de conheci mento total que uma pessoa tem da matéria do curso. Sperling apresentou símbolos em três linhas com quatro símbolos cada. A Figura 5.2apresenta um quadro similaràqueleque os par ticipantes de Sperling podem ter visto. Sperling comunicou aos participantes que teriam de lembrarapenas de uma única linha do quadro. A linha a ser lembrada estava assinalada por um tom de intensidade elevada, média ou reduzida. Os tons correspondiam à necessidade de lembrar-se da linha superior, média ou inferior, respectivamente. Sperling, para estimar a duração da memória icônica, variou o intervalo entre a exibi ção e o tom. A amplitude do intervalo varioude 0,10 segundos antes do inícioda exibição a 1,0 segundo após o início da exibição do quadro. O procedimento de relato parcial alterou drasticamente quanto os participantes conseguiam lembrar. Em seguida, Sperling multipli cou por três o número de símbolos lembrados com esse procedimento. A razão era que os participantes precisam se lembrar somente de um terço das informações apresentadas, porém não tinham conhecimento prévio de qual das três linhas seriam solicitadas a indicar. FIGURA 5.2 H B S T A H M G E L W C Este quadro simbólico é similar àquele usado para a tarefa de rememoração visual de George Sperling. Margaret W. Matiin, Psychology, 2 ed. © 1995, por Hok Rinehart and Winston. Reproduzido mediante autorização do editor. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo 5 * Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 161 Usando esse procedimento de relato parcial, Sperling constatou que os participantes pos suíam disponíveis aproximadamente nove dos 12 símbolos, caso fossem induzidos imediata mente antes ou imediatamente após o aparecimento do quadro. No entanto, quando eram induzidos 1segundo mais tarde, sua rememoração diminuía paraquatroou cincodos 12 itens. Esse nível de rememoração era aproximadamente igual àquele obtido por meio do procedi mentode relato integral. Estes dados apontamque a armazenagem icônica pode conter cerca de nove itens. Eles também indicam que as informações nesse receptáculodesaparecem muito rapidamente (Figura 5.3). Realmente, a vantagem do procedimento de relato parcial reduz-se de modo drástico ao atingir 0,3 segundos de demora. Essencialmente, é obliterado por 1 se gundo de demora no início do tom. Os resultados de Sperling indicam que as informações desaparecem rapidamente do ar mazenamento icônico. Porque permanecemossubjetivamente inconscientes de tal fenômeno de desaparecimento? Primeiro, raramente estamossujeitos a estímulos como osdessa experiên cia. As letras apareceram somente durante 50 milissegundos e desapareceram emseguida, an tes que os participantes precisassem rememorá-las. Segundo e mais importante, somos incapazes, entretanto, de distinguir o que vemos na memória icônica daquilo que efetiva mente vemos no ambiente. O que vemos na memória icônica é aquiloque supomos existir no ambiente. Os participantes da experiência de Sperling geralmente comunicavam que ainda conseguiam ver o quadro até 150milissegundos após ter sido apagado. Por mais refinado que fosse, o uso por Sperlingdo procedimento de relato parcial era im perfeito. Ainda estava sujeito, pelo menos em grau reduzido, ao problema inerente ao proce dimento de relato integral: osparticipantes precisavam informar diversos símbolos. Eles podem FIGURA 5.3 -.10 0 .15 .30 1-0 Atraso do tom (segundos) 100 75 £ O) B 50 I o o Q_ 25 O gráfico mostra noeixo vertical esquerdo o número médio de letras lembradas (e noeixo vertical direito, valores per centuais equivalentes) por um participante, com base na aplicação do procedimento de relato parcial, como função do atraso entre a apresentação das letras e do tom que sinaliza quando demonstrar a rememoração. A barra no canto in- feriar direito indica o número me'dio de letras lembradas quando osparticipantes adotam o procedimento de relato inte gral (Sperling, 1960). Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 162 Psicologia Cognitiva ter constatado uma perda gradual de memória durante o processo de comunicação. Existe realmente uma possibilidade distinta de interferência no resultado. Neste caso, a produção de informações interfere com o fenômeno sendo estudado, isto é, comunicar verbalmente diver sos símbolos pode interferir com relatos da memória icônica. Refinamento Subsequente Em um trabalho subsequente foram mostrados aos participantes quadros com duas linhas de oito letras escolhidas aleatoriamente durante 50 milissegundos (Averbach, Coriell, 1961). Nesta experiência, aparecia um pequenosinal logo acima das posições em que uma letra havia aparecido (ou estava para aparecer). Seu aparecimento ocorria a intervalos de tempovariáveis antes ou após a apresentação das letras. Portanto, nesta pesquisa, os participantes precisavam informar somente uma única letra por vez. Dessa forma, o procedimento minimizava a inter ferência no resultado. Esses pesquisadores descobriram que, quando a barra aparecia imedia tamente antes ou após a apresentação do estímulo, os participantes conseguiam informar corretamente cerca de 75% das tentativas. Portanto, pareciam estar retendo cerca de 12 itens (75% de 16) na memória sensorial. Consequentemente, a estimativa feita por Sperling da capacidade da memória icônica pode ter sido conservadora.As provas nesse estudo indicam que, quando a interferência no resultado for reduzida consideravelmente, as estimativas da capacidade de memória icônica podem aumentar sensivelmente. A memória icônica pode abranger até 12 itens. A segunda experiência (Averbach, Coriell, 1961) revelou uma importante característica adicional da memória icônica: ela pode ser apagada. Esta possibilidade inerente à memória icônica definitivamente torna nossas sensações visuais mais perceptíveis. Enfrentaríamossé rias dificuldades se tudo que enxergássemos em nosso ambiente visual persistisse por muito tempo. Por exemplo, se estivermos observando o ambiente apressadamente, precisamos queas informações visuais desapareçam rapidamente. Os pesquisadores descobriram que, quando um estímulo era apresentado após uma letra- -alvo na mesma posição que a letra-alvo havia ocupado, poderiaapagar o ícone visual (Aver bach, Coriell, 1961). Esta interferência é denominada ocultação visual traseira. Ocultação visual traseira é a eliminação mental de um estímulo causado pelo posicionamento de um es tímulo em que outro havia aparecidoanteriormente. Se o estímulooculto for apresentado no mesmo lugarde uma letra e no intervalo de 100 milissegundos da apresentação da letra, ele é superposto à letra. Por exemplo, F seguido de L seria E. Nos intervalos maiores entre o alvo e o item oculto, este apaga o estímulo original. Por exemplo, somente o L permaneceria se o F e, em seguida, o L tivessem sido apresentados. Em intervalos ainda maiores entre o alvo e o item oculto, este cessa a interferência. Esta não-interferência ocorre presumivelmente por que a informação almejada já foi transferida para uma armazenagem mais permanente da memória. Resumindo, a informação visual parece entrar em nosso sistema de memória por meio de um armazenamento icônico, que a preserva por períodos muito breves. Na seqüência usual dos eventos, essa informação pode ser transferida para outro receptáculo ou pode ser apagada. Isso ocorrese outra informação for superposta à primeira antes de existir temposu ficiente para a transferência de informação a outro receptáculo da memória. A eliminação ou a movimentação para outro receptáculo também ocorre com a informação auditiva que esteja no receptáculo da memória mais durável. Armazenamento de Curto Prazo A maioria de nós possui pouco ou nenhum acesso introspectivo a nossos receptáculos de me móriasensorial. Entretanto, todos possuímos acesso a nossoreceptáculo de memóriade curto Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 163 prazo, que mantém a memória por algunssegundose, ocasionalmente, por até alguns minutos. Por exemplo, você consegue se lembrar do nome do pesquisador que descobriu o armazena mento icônico?Edos nomes dos pesquisadores que refinaramsubseqüentemente esse trabalho? Se você consegue relembrar esses nomes, utilizou alguns processos de controle mnésicos para tal finalidade. De acordo com o modelo Atkinson-Shiffrin, o receptáculo de curto prazo não armazena apenas poucos itens. Também possui disponíveis alguns processos de controle que regulamo fluxode informaçõesdirigido e originado do receptáculo de longo prazo. Neste caso, podemospreservar informações por períodos mais longos. Normalmente osdados permanecem no receptáculo de curto prazo por cerca de 30 segundos, a não ser que esteja treinado para retê-los. As informaçõessão armazenadasauditivamente (pelo modo como soam) ao invés de visualmente (pelo modo como aparentam ser). Quantos itens de informação podemos manter em nossa memória? Em geral, nossa ca pacidade de memória imediata (de curto prazo) para uma ampla gama de itens parece ser de aproximadamente sete itens mais ou menos dois (Miller, 1956). Um item pode ser algo sim ples, como um algarismo, ou algo mais complexo, como uma palavra. Se juntarmos um con junto de, por exemplo, 20 palavras ou números em sete itens significativos, conseguimos relembrá-los. Não conseguiríamos, entretanto, relembrar 20 itens e repeti-los imediatamente. Por exemplo, a maioria de nós não consegue manter na memóriade curto prazoesta série de 21 algarismos: 101001000100001000100. Suponha, no entanto, que façamos a divisão desse número em unidades menores, como 10, 100, 1000, 10000, 1000 e 100. Provavelmente, sere mos capazes de reproduzir com facilidade os 21 algarismos com seis itens (Miller, 1956). Outros fatores também influenciam a capacidade de armazenamento temporário na me mória. Por exemplo, o número de sílabas que pronunciamos com cada item afeta o número de itens que conseguimos nos lembrar. Quando cada item possui um número grande de síla bas, conseguimos rememorar menos itens (Baddeley, Thomson, Buchanan, 1975; Naveh- -Benjamin, Ayres, 1986; Schweickert, Boruff, 1986). Adicionalmente, qualquer atraso ou interferência pode fazer com que nossa capacidade para sete itensdiminua para cercade três itens. Realmente, em geral o limite da capacidade pode estar mais próximo de três a cinco do que está de sete (Cowan, 2001). Algumas estimativas são até menores (por exemplo, Waugh, Norman, 1965). A maioria dos estudos empregou estímulos verbais para testar a capacidade da memória de curto prazo, porém as pessoas também conseguem reter informações visuais na memó ria de curto prazo. Porexemplo, podem manter informações sobre formas bem como suasco res e orientações. Qual é a capacidade da armazenagem de curto prazo reter informações visuais? Émenor, igual ou talvez maior? Uma equipe de pesquisadores propôs-se a descobrir a capacidade do armazenamento de curto prazo para informações visuais (Luck, Vogel, 1997; Vogel, Woodman, Luck, 2001). Eles apresentaram aos participantes da experiência dois quadros visuais. Os quadros foram apresentados em seqüência, um após o outro. Os estímulos foram de três tipos: quadrados coloridos, linhas pretas com diversas orientações e linhas coloridas com orientações dife rentes. Desse modo, o terceiro tipo de estímulo combinava as características dos dois pri meiros. O tipo de estímulo foi o mesmo em cada um dos dois quadrados. Por exemplo, se o primeiro quadro continha quadrados coloridos, o mesmo ocorria no segundo. Os dois qua dros poderiam ser iguais ou diferentes entre si. Caso fossem diferentes, então a diferença se limitava a somente uma característica. Os participantes precisavam indicar se os dois qua dros eram iguais ou distintos entre si. Os pesquisadores descobriam que os participantes po deriam manter na memória cerca de quatro itens, no âmbito das estimativas indicadas por Cowan (2001). Os resultados foram os mesmos, caso somente características individuais fossem variadas (isto é, quadrados coloridos, linhas pretas com diversas orientações) ou Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 164 Psicologia Cognitiva pares de características fossem variadas (isto é, linhas coloridas com orientações diferen tes). Portanto, a retenção parece depender do número de objetos ao invés de número de características. Esse trabalho continha um possível complicador, isto é, outro fator responsável que não pode ser facilmente isolado do fator causai suposto. Nos estímulos de linhas coloridas com orientações diferentes, a característica agregada ocupava a mesma localização espacial que a original, ou seja, a cor e a orientação estavam, em relação ao mesmo item, no mesmo lugar no quadro. Portanto, foi feito um estudo posterior para distinguir os efeitos da localiza ção espacial do número de itens (Lee,Chun, 2001). Nessa pesquisa, os estímulos que incluíam espaçosdemarcados e linhas poderiam estar em localizações distintas ou sobrepostas. As lo calizações sobrepostas separavam, portanto, os itens das localizações fixas. A pesquisa capa citaria alguém a determinar se as pessoasconseguem se lembrar de quatro itens, conforme in dicado no trabalho anterior, ou de quatro localizações espaciais. Os resultados foram os mesmos alcançados na pesquisa anterior. Os participantes ainda conseguiam se lembrar de quatro itens, independentemente das localizações espaciais. Portanto, a memória era de itens e não de localizações espaciais. Adicionalmente, usando a Linguagem Americana de Sinais (LAS), os pesquisadores descobriram que a memória de curto prazo pode reter aproximada mente quatro itens para letras sinalizadas. Essa descoberta é coetente com trabalhos anterio res sobre memória visuo-espacial de curto prazo. A descoberta faz sentido dada a natureza visual desses itens (Bavelieretai, 2006; Wilson, Emmorey, 2006). Armazenamento de Longo Prazo Harry Bahrick é professor- -pesquisador de Psico logiana Ohio Wesleyan University. Ele é mais conhecido porseusestudos de retenção permanentede informações na memória semântica. Demonstrou que o conhecimento não repetido pode permanecer na memória durante 25 ou mais anos, como, por exemplo, no casodo re conhecimento de colegas de escola conhecidos durante os anos de ensino médio e não vistos ou lembrados desde aquela época. (Foto: cortesia Harry Bahrick) Usamos constantemente a memória de curto prazo ao longo de nossas atividades diárias. Entretanto, quando a maioria de nós se refere à me mória, usualmente está se referindo à memória de longo prazo. Nesta condição, retemos memórias que permanecem conosco ao longo de períodos extensos, talvez indefinidamente. Todos dependemos conside ravelmente de nossa memória de longo prazo. Mantemos nela informa ções que precisamos para agir em nossas vidas diárias. Constituem exemplos quais são os nomes das pessoas, onde guardamos objetos, como nos programamos nos vários dias e assim por diante. Também nos preocupamos quando temos receio de que nossa memória de longo prazo não seja de primeira qualidade. Quanta informação podemos reter em nossa memória de longo prazo?Quanto tempo a informação dura? A pergunta sobre capacidade de armazenagem pode ser posta de lado rapidamente porque a resposta é simples. Não sabemos. Também não sabemos como poderíamos des cobrir. Podemos criar experimentos para pôr à prova os limites da me mória de curto prazo. Porém, não sabemos como testar os limites da memória de longo prazo, e, portanto, identificar sua capacidade. Al guns teóricos sugeriram que a capacidade da memória de longo prazo é infinita, pelo menosem termospráticos (Bahrick, 1984a, 1984b e 2000; Bahrick, Hall, 1991; Hintzman, 1978). A pergunta relativa à duração das informações na memória de longo prazo não pode ser respondida de modo fácil. Presentemente, não temos prova sequerda existênciade um limite exterior absoluto relativo ao tempo que as informações po dem ser armazenadas. O que é retido no cérebro?Wilder Penfieldpesquisou este tema ao realizar operações cirúrgicas nos cérebros de pacientes conscientes que Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 165 sofriam de epilepsia. Ele aplicou estímulos elétricos em várias partes do córtex cerebral para localizar as origens do problema de cada paciente. Na realidade, seu trabalho foi instrumen tal para identificar as áreas motoras e sensoriais do córtex descritas no Capítulo 2. No decorrer de tal estimulação, Penfield (1955, 1969) descobriuque os pacientesalgumas vezespareciam se lembrar de memórias dos primórdios de suas infâncias. Essas memórias po dem não ter sido rememoradas durante um grande número de anos. (Observe que os pacien tes podiam ser estimulados para lembrar de episódios como eventos de sua infância e não de fatos como o nome dos presidentes dos EUA.) Estes dados indicaram a Penfield que as me mórias de longo prazo poderiam ser permanentes. Alguns pesquisadores contestaram as interpretações de Penfield (como Loftus, Loftus, 1980). Observaram, por exemplo, o número reduzido de tais casos em relaçãoàs centenas de pacientes operados por Penfield. Além isso, não podemos ter certeza de que os pacientes re almente estavam se lembrando desses eventos. Poderiam tê-los inventado. Outros pesquisa dores, usando técnicas empíricas em participantes mais idosos, depararam-se com provas contraditórias. Alguns pesquisadores testaram a memória que os participantes tinham de nomes e foto grafias de seuscolegas do ensino médio (Bahrick, Bahrick, Wittlinger, 1975). Mesmo após 25 anos, houve pouco esquecimento de alguns aspectos da memória. Os participantes tendiam a reconhecer nomes que se relacionavam a colegasde classepreferencialmente a outras pessoas. A memória de reconhecimento para atribuir nomes às fotografias da formatura foi bem acen tuada. Conforme você poderiaesperar, a recordação de nomes resultou em nívelelevado de es quecimento. A expressão armazenamento permanente refere-se à retenção durante um longo tempo de informações, como o conhecimento de uma língua estrangeira (Bahrick, 1984a, 1984b; Bahrick et ai, 1993) e de matemática (Bahrick, Hall, 1991). Schmidt etai. (2000) estudaram o efeito do armazenamento permanente para nomes de ruas perto das casas em que uma criança morou. Realmente visitei há pouco tempo a casa onde morei na infância, há mais de 40 anos, e lembrei-me perfeitamente dos nomes das ruas vizinhas. Essas constatações indicam que o armazenamento permanente pode ocorrer mesmo para informações que você aprendeu passivamente. Alguns pesquisadores indicaram que a armazenagem permanente constitui um sistema de memória distinto. Outros, como Neisser (1999), argumentaram que um sistema de memória de longo prazo pode explicar am bos os casos. O tema permanece sem resolução até hoje. O modelo de níveis de processamento Um afastamento radical de modelo de memória dos três receptáculos é representado pela estrutura dos níveis de processamento, a qual postula que a memória não possui três ou mesmo qualquer nível específico de receptáculos distintos, mas varia segundo uma dimen são contínua em termos de profundidade de codificação (Craik, Lockhart, 1972). Em outras palavras, existe teoricamente um número infinito de níveis de processamento (NP), nos quais os itens podem ser codificados. Não existem fronteiras nítidas entre um nível e o próximo. A ênfase nesse modelo recai no processamento como chave para a armazenagem. O nível em que a informação é armazenada dependerá, em grande parte, de comoé codifi cada. Além disso, quanto mais profundo o nível de processamento, maior, em geral, a pro babilidade de que um item possaser recuperado (Craik, Brown, 2000). Um conjunto de expetimentos parecia apoiar a visãoNP (Craik, Tulving, 1975). Os par ticipantes receberam uma relação de palavras; uma pergunta precedia cada palavra. As per guntas foram variadas para incentivar três níveis de processamento diferentes. Em ordem progressiva de profundidade, eram de natureza física, fonológica e semântica. Algumas palavras Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 166 Psicologia Cognitiva QUADRO 5.2 Estrutura dos Níveis de Processamento Entre os níveis de processamentopropostos por Fergus Craik e Endel Tulving, encon tram-se os níveis físico, fonológico e semântico, conforme apresentado neste quadro.NÍVEL DE PROCESSAMENTO Base para o processamento Exemplo Físico Características visualmente claras das letras Palavra: MESA Pergunta: A palavra está escrita em letras maiúsculas? Fonológico Combinações de sons associados com as letras {por exemplo, rimas) Palavra: GATO Pergunta: A palavra rima com "MATO"? Semântico Significado da palavra Palavra: NARCISO Pergunta: A palavra significa um tipo de planta? e perguntas estão indicadas no Quadro 5.2. Os resultados da pesquisa foram claros. Quanto mais profundo o nível de processamento incentivado pela pergunta, maior o nível de reme moraçãoalcançado. Resultados similares surgiramindependentemente na Rússia (Zinchenko, 1962, 1981). Palavras que possuíam relação lógica (por exemplo, taxonômica), como cachorro e animai, foram lembradas mais facilmente do que aquelas com relação concreta (por exem plo, cachorro e pata). Palavras com relação concreta foram lembradas mais facilmente, ao mesmo tempo que as palavras sem conexão. A estrutura dos níveis de processamento também pode ser aplicada a estímulos não ver bais. Melinda Burgess e George Weaver (2003) observaram querostos processados emprofun didade foram mais reconhecidos emumteste subsequente doqueaqueles queforam estudados em um nível inferior de processamento. Um benefício de nível de processamento (ou de pro fundidade de processamento) pode ser observado para uma variedade de populações, in cluindo pacientes internados com esquizofrenia (Ragland et ai, 2003). Uma induçãoaté mais intensa para a recordação foi denominada efeitode autorreferência (Rogers, Kuiper Kirker, 1977). No efeito de autorreferência, os participantes demonstram níveis muito elevados de rememoração quando solicitados a relacionar palavras significativas para si mesmos, determinando se as palavras os descrevem. Mesmo as palavras que os participantes consideram que não os descrevem são rememoradas em níveis elevados. Esta recordação ele vada é o resultado de julgar se as palavras descrevem ou não os participantes. Entretanto, os níveis mais elevados de recordação ocorrem com palavras que as pessoas consideramautodes- critivas. Efeitos deautorreferência similares foram constatados pormuitos outros pesquisadores (por exemplo, Bower, Gilligan, 1979; Brown, Keenan, Potts, 1986; Ganellen, Carver, 1985; Halpin et ai, 1984; Katz, 1987; Reeder, McCormick, Esselman, 1987). Surpreendentemente, o tipo de informação que está sendo aprendido pode influenciar o efeito deautorreferência. Os investigadores, aocomparar traços positivos e negativos, des cobriram o efeito de autorreferência para os traços positivos, porém não para os negativos (DArgembeau, Comblain, Van der Linden, 2005). Portanto, estamos mais bemcapacitados para associar a nós mesmos as descrições positivas ao invés das negativas. Alguns pesquisadores sugerem que o efeito de autorreferência é distinto, porém outros propõem que é facilmente explicado em termos da estrutura dos NP ou de outros processos de memória usuais (porexemplo, Mills, 1983). Cada umde nós possui, especificamente, um Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Isto tem muito a com o nosso experimento, pode ser usado na discussão. null Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo 5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 167 modelo próprio muito elabotado. Este modelo é um sistema organizado de induções internas relacionadas aos nossos atributos, às nossas experiências pessoais e a nós mesmos. Portanto, podemos, de modo diversificado e elaborado, codificar informações relacionadas à nossa pes soa em número muito maior do que informações sobre outros tópicos (Bellezza, 1984, 1992). Tambémpodemosorganizarfacilmente novas informações que dizemrespeitoa nós mesmos. Quando outras informações também são prontamente organizadas, podemos rememorar de modo igualmente fácil informações quenãosãoautorreferentes (Klein, Kihlstrom, 1986). Por último, quando geramos nossas próprias induções, demonstramos níveis de recordação muito mais elevados do que quando outra pessoa gera induções paraqueas utilizemos (Greenwald, Banaji, 1989). Apesar das muitas provas disponíveis, a estrutura NP como um todo tem seus críticos. Para citarum exemplo, alguns pesquisadores propõem queos níveis específicos podem envol ver uma definição circular. Nessa visão, os níveis são definidos como mais profundos porque a informação é mais bemretida. Entretanto, a informação é vista como mais bem retida por que os níveis são mais profundos. Além disso, alguns pesquisadores observaram alguns para doxos na retenção. Por exemplo, em algumas circunstâncias, estratégias que usam rimas resultaram em melhor retenção do que aquelas baseadas apenas em ensaio semântico. Por exemplo, concentrar-se em sons superficiais e não nos significados subjacentes pode resultar emmelhor retenção doqueconcentrar-se na repetição designificados subjacentes. Considere, especificamente, o que ocorrequandoo contexto pararecuperação envolve atenção a proprie dades fonológicas (acústicas) das palavras (por exemplo, rimas). Neste caso, ocorre maior de sempenho quando o contexto para codificação envolve ensaio com base em propriedades fonológicas ao invés das propriedades semânticas das palavras (Fisher, Craik, 1977, 1980). Considere, entretanto, o que aconteceu quando a recuperação semântica, baseada na codifi cação semântica, foi comparada com a recuperação acústica (rima), firmada na recuperação da rima. O desempenho foi maiorpara a recuperação acústica (Fisher, Craik, 1977). Em virtude dessas críticas e de algumas descobertas contrárias, o modelo NP foi revi sado. A seqüência dos níveis de codificação pode não ser tão importante quantoa combina ção entre o tipo de elaboração da codificação e o tipo de tarefa exigido para a recuperação (Morris, Bransford, Franks, 1977). Além disso, parece existir dois tipos de estratégias para a elaboração da codificação. O primeiro é a elaboração do próprio item. Essa estratégia elabora a codificação do item específico (porexemplo, uma palavra ou outrofato) emtermos de suas características, incluindo os vários níveis de processamento. O segundo tipo de estratégia é a elaboração entre itens. A estratégia elabora a codificação, relacionando as características de cada item (novamente em vários níveis) às características dos itens já na memória. Por tanto, suponha que você desejasse ter certeza de lembrar-se de algo em particular. Você po deria elaborá-lo em vários níveis para cada uma das duas estratégias. As estratégias de elaboração possuem aplicações práticas: ao estudar, você pode desejar relacionar o modo como codificar a matéria à maneira pela qual se espera que vocêa recupere no futuro. Alémdisso, quanto mais elaborada e diversificadamente você codificar a matéria, é provável que estará mais preparado para relembrá-la no futuro, em uma variedade de contextos en volvendo tarefas. Apenas ler a matéria diversas vezes da mesma maneira apresenta menor probabilidade de serprodutivo para o aprendizado da ma tériado que identificar mais de umamaneira paraaprendê-la. Seo contexto para recuperação exigirá de sua pessoa uma compreensão profunda das in formações, vocêdeveencontrar maneiras paracodificar a matéria em níveis profundos de processamento, como, por exemplo, formular a si mesmo per guntas com conteúdo significativo sobre ela. APLICAÇÕES PRÁTICAS DA PSICOLOGIA COGNITIVA Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce relatorioooo Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 168 PsicologiaCognitiva Um modelo de Integração: A Memória de Trabalho O modelo da memória de trabalho é, provavelmente, o mais amplamente usado e aceito atualmente. Os psicólogos que o adotam encaram a memória de curto prazo e a de longo prazo de uma perspectiva diferente (por exemplo, Baddeley, 1990a, 1995; Cantor, Engle, 1993; Daneman, Carpenter, 1980; Daneman, Tardif, 1987; Engle, 1994; Engle, Cantor, Carullo, 1992). O Quadro 5.3 apresenta o contraste entre o modelo Atkinson-Shiffrin e uma perspec tiva alternativa. Observe as distinções semânticas, as diferenças na representação metafórica e as diferenças de ênfase de cada visão. A principal característica da visão alternativa é o papel da memória de trabalho. A memória de trabalho retém somente a porção da memória de longo prazo mais recentemente ativada, ou consciente, e transfere esseselementos ativados para dentro ou para fora da armazenagem da memória temporária (Dosher, 2003). Alan Baddeleysugeriu um modelo de memória integrador (Baddeley, 1990b, 1992, 1993, 1997; Baddeley, Hitch, 1974), que sintetiza o modelo de memória de trabalho e a estrutura NP. Ele visualiza a estrutura NP, essencialmente, como uma extensão e não uma substitui ção do modelo de memória de trabalho. Baddeley sugeriu, inicialmente, que a memória de trabalho inclui quatro elementos. O primeiro é um esboço visuo-espacial, que retém brevemente algumas imagens visuais. O se gundo é um circuito fonológico, que retém por pouco tempo a fala interior para compreen são verbal e para ensaio acústico. Usamos o circuito fonológico para algumas tarefas diárias, incluindo sondar palavras novas e difíceis e resolver problemas envolvendo palavras. Exis tem dois componentes importantes nesses circuitos. Um é o armazenamento fonológico, que retém informações na memória. O outro é o ensaio subvocal, usado para colocar as informa ções na memória em primeiro lugar. O papel do ensaio subvocal pode ser visto no exemplo a seguir. Considere tentar aprender uma relação de palavras, repetindo a de número cinco. Nesse caso, o ensaio subvocal é inibido e você seria incapaz de ensaiar as novas palavras. Quando o ensaio subvocal é inibido, a nova informação não é armazenada. Isso é denomi nado supressão articulatória, que se torna mais pronunciada quando a informação é apresen tada visualmente e não oralmente. A quantidade de informações que pode ser manipulada no interior do circuito fonoló gico é limitada. Portanto, podemos nos lembrar de um número menor de palavras longas comparativamente a palavras curtas (Baddeley, 2000b). Sem esse circuito, a informação acústica desaparece após dois segundos. O terceiro elemento é uma executiva central, que coordena as atividades de atenção e controla as respostas. A executiva central é crítica para a memória de trabalho por ser o mecanismo de acesso que decide a informação a ser processada adicionalmente e como processá-la. Decide que recursos atribuir à memória e às tarefas relacionadas e como distribuí-las. Também está envolvido no raciocínio e na compreensão de ordem superior, sendo fundamental para a inteligência humana. O quarto elemento é constituído por alguns "sistemas dependentes subsidiários", que desempenham outras tarefas cognitivas ou perceptivas (Baddeley, 1989, p. 36). Recentemente, outro componente, o anteparo episódico, foi agregado à memória de trabalho (Baddeley 2000a, 2001). O anteparo episódico é um sistema de capacidade limitada capaz de fundir informa ções dos sistemas subsidiários e da memória de longo prazo em uma representação episó dica unitária. Este componente integra informações de partes diferentes da memória de trabalho, isto é, visuo-espacial e fonológica, a fim de que façam sentido para nós. Essa in clusão nos permite resolver problemas e reavaliar experiências anteriores por meio de co nhecimento mais recente. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce relatoriooo Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo 5 • Memória: Modelos e Métodos dePesquisa 169 QUADRO 5.3 Visão Tradicional versus Não-tradicional da Memória Diversos modelos alternativos de memória foram propostos desde que Richard Atkinson e Richard Shiffrin propuseram, inicialmente, seu modelo de memória em três receptá culos, que pode ser considerado uma visão tradicional da memória. Visão Tradicional Visão Alternativa da Memória* Terminologia: definição dos receptáculos de memória Memória de trabalho é outra designação para memóriade curto prazo, que é distinta da memória de longo prazo. Memória de trabalho (memória ativa) é aquela parte da memóriade longo prazo que inclui todo o conhecimento de fatos e pro cedimentos que foram ativados na memória recentemente, incluindo a memória de curto prazo breve e efêmera e seu conteúdo. Metáfora para visualizar os re lacionamentos A memória de curto prazo pode ser visuali zada como distinta da memória de longo prazo, talveza seu lado ou hierarquicamente ligada a ela. Memória de curto prazo, memória de traba lho e memória de longo prazo podem ser vi sualizadascomo esferasconcêntricas abriga das, em que a memóriade trabalho contém somente a parte ativada mais recentemente da memória de longo prazo e a memória de curto prazo contém somente uma parte muito pequena e efêmera da memória de trabalho. Metáfora para o movimento de informação A informação move-se diretamente da me mória de longo prazo para a memória de curto prazo e, em seguida, retorna - nunca se encontra em ambas simultaneamente. A informação permanece na memória de longo prazo; quando ativada, a informação move-se para a memóriade trabalho espe cializada da memória de longo prazo, que moverá a informação ativamente para fora do receptáculo de memória de curto prazo contido em seu interior. Ênfase Distinção entre memóriade longo prazoe de curto prazo. Papel da ativação ao mover informação para a memória de trabalho e o papel da memória de trabalho nos processos de memória. * Exemplos de pesquisadores que possuem essavisão: Cantor, EngSe, 1993; Engle, 1994; Engle, Cantor, Carullo,1992. Os métodos neuropsicológicos e, especialmente, as imagens do cérebro, podem ser de grande ajuda para o entendimento danatureza da memória (Buckner, 2000a, 2000b; Cabeza, Nyberg, 1997; Markowitsch, 2000; Nyberg, Cabeza, 2000; Rosenzweig, 2003; Rugg, AUan, 2000; Ungerleider, 1995). As pesquisas neuropsicológicas mostraram provas abundantes de umanteparo de memória breve. O anteparo é usado para a lembrança temporária de infor mações. Édistinto damemória de longo prazo, que é usada para a lembrança de informações durante períodos longos (Rudner et ai, 2007; Schacter, 1989a; Smith, Jonides, 1995, Squire, 1986; Squire, Knowlton, 2000). Além disso, por meio de algumas novas pesquisas promisso ras, que usam técnicas de tomografia poremissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês), pes quisadores descobriram provas de que existem áreas do cérebro distintas envolvidas nos diferentes aspectos da memória de trabalho. O circuito fonológico, mantendo informações relacionadas à fala, parece envolver a ativação bilateral dos lobos frontal e parietal (Cabeza, Nyberg, 1997). É interessante que o esboço visuo-espacial parece ativar áreas ligeiramente diferentes. Dependendo da duração do intervalo de retenção, ele ativa determinadas áreas. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce link com a metria de neuroanatomia170 Psicologia Cognitiva Alan Baddeley foi diretor da MRC Applied Psychology Unit, de Cambridge, Inglaterra, e é professor de Psicologia Cognitiva na York University, na Inglaterra. Baddeley é mais conhecido porseu trabalho sobre o conceito de memóriade trabalho, o qual demonstrou que esta memória podeser considerada uma interface entre muitos dos vários aspectos da cognição. (Foto; Cortesia do Dr. Ahn Baddeley) Intervalos mais breves ativam áreas do lobo parietal e dos lobos fron tais esquerdos (Haxby et ai., 1995). As funções da executiva central parecem envolver ativação, principalmente nos lobos frontais (Ro- berts, Robbins, Weiskrantz, 1996). Finalmente, as operações do ante paro episódico envolvem a ativação bilateral dos lobos frontais e de partes dos lobos temporais, incluindo o hipocampo esquerdo (Rudner et ai, 2007). Enquanto a visão de três áreas de armazenamento enfa tiza os receptáculos estruturais para as informações armazenadas, o modelo de memória de trabalho ressalta as funções desta memória no controle dos processos de memória. Estes processos incluem informa ções de codificação e integração. Exemplos são a integração de infor mações acústicas e visuais por meio de interação cruzada, organizando as informações em conjuntos significativos e unindo novas informa ções a formas existentes de representação do conhecimento na me mória de longo prazo. Podemosconceitualizar as ênfasesdiferentes por meio de metáforas contrastantes. Porexemplo, podemoscomparar a visão de três receptá culos a um armazémem que a informaçãoé retida passivamente. O ar mazenamento sensorial atua como a plataforma de carregamento. O armazenamento de curto prazo inclui a área em torno da plataforma de carregamento. Nessa área, a informação é armazenada temporaria mente até ser transferida (ou a partir dela) para a localização correta no armazém. Uma metáfora para o modelo de memória de trabalho poderia ser a de um estúdio de produção multimídia. A memória de trabalho gera e manipula continuamente imagens e sons. Também co ordena a integração entre imagens e sons para formar arranjos com significado. Após imagens, sons e outras informações serem armazena das, ainda se encontram disponíveis para reformatação e reintegração de maneiras distintas à medida que novas demandas e novas informaçõesse tornam disponíveis. Aspectos distin tos da memória de trabalho encontram-se representados diferentemente no cérebro. A Fi gura 5.4 mostra algumas dessas diferenças. A memória de trabalho pode ser avaliada por intermédio de tarefas distintas. As mais comumente usadas estão indicadas na Figura 5.5. A Tarefa A é de adiamento da retenção. Constitui a tarefa mais simples apresentada na figura. Um item é mostrado - neste caso, uma forma geométrica. (O sinal + no início é me ramente um ponto focai para indicar que a série de itens está se iniciando.) Ocorre, em se guida, um intervalo de retenção, que pode ser preenchido com outras tarefas ou não, caso em que o tempo decorre sem qualquer atividade intermediária especificamente planejada. Apresenta-se então ao participante um estímulo, e ele deve dizer se é anterior ou novo. Na figura, o estímulo sendo testado é novo. Portanto, "novo" seria a resposta correta. A Tarefa B é uma tarefa de carregamento da memória de trabalho ordenada tempora riamente. Uma série de itens é apresentada e, após um intervalo, a série de asteriscos indica que um item do teste será apresentado. Após esta apresentação, o participante precisa dizer se o item é antigo ou novo. Em virtude de "4", o número na figura, não ter sido apresentado antes, a resposta correta é "novo". A Tarefa C é uma tarefa de ordem temporal. Uma série de itens é apresentada. Em se guida, ps asteriscos indicam que um item do teste será indicado. O item do teste mostra dois itens apresentados anteriormente, 3 e 7- O participante precisa indicar qual dos dois números apareceu mais recentemente. A resposta correta é 7 porque este número apareceu após o número 3 na relação. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce FIGURA 5.4 Capítulo 5 • Memória: Modelos e Métodos de Pesquisa 171 Áreas envolvidas na memória de trabalho verbal, na armazenagem fonológica e no ensaio subvocal Hemisfério esquerdo Área motora suplementar ?i^.^r.ietal e pré-motora Hemisfério direito Área de Broca posterior Área motora suplementar e pré-motora Áreas envolvidas na armazenagem fonológica Hemisfério esquerdo Hemisfério direito Área motora suplementar Area Parietal posterior Área motorasuplementar e pré-motora e pré-motora Área de Broca Área envolvida no ensaio subvocal Hemisfério esquerdo Áreas distintas do córtex cerebral encontram-se envolvidas em diferentes aspectos damemória de trabalho. A figura mostra os aspectos envolvidos, principalmente, no circuito de articulação, incluindo o armazenamento fonológico e o ensaio subvocal. De E. Awh et ai. (1996). Dissociação daarmazenagem e ensaio na memória de trabalho ver bal: indícios obtidos por meio de tomografia por emissão depósitrons. Psychological Science, 7, p. 25-31. 1996, Blackuieü, Inc. A Tarefa D ocorre em sentido inverson vezes. Estímulossão apresentados e, em pontos es pecíficos, solicita-se a um participante para repetir o estímulo queocorreu n apresentações an teriores. Por exemplo, umapessoa podesersolicitada a tepetiro algarismo queocorreu em uma posição anterior ou imediatamente antes (como é o caso do 6). Ou pode-se solicitar ao parti cipante que repita o algarismo que ocorreu duas posições anteriores (como é o caso do 7). Joyce Nunes Realce 172 Psicologia Cognitiva FIGURA 5.5 Item da tarefa ~1 Item do teste Adiamento da retenção (preenchido ou não) Item da tarefa: antigo ou novo? (a) Tarefa de adiamento da retenção Tarefa de ordem relacionai (c) Tarefa de ordem temporal Tarefas de transposição Teste Tarefa: qual é mais recente? 53 7 2' Tarefa: reproduzir na ordem correta (e) Carga da memória de trabalho ordenada temporalmente tem da tarefa A „ „ Item do teste / r / 7 Item da tarefa:2 5 + (b) Carga da memória de trabalho ordenada temporalmente Tarefa de ordem relacionai Tarefa: encontrar a repetição n itens anteriores (d) tarefa n itens anteriores Tarefa de transposição contínua 53 72' Sim ou não Tarefa: reproduzir os itens finais na ordem correta (f) Carga da memória de trabalho ordenada temporalmente Tarefas e memória de trabalho. DeEncyclopedia of Cognitive Science, v. 4, p. 571. © 2003. Reproduzido me diante autorização de B. Dos/ter. A Tarefa E é uma tarefa de carregamento da memória de trabalho ordenada temporaria mente. Também pode ser denominada simplesmente uma tarefa de intervalo de algarismos (quando algarismos são usados). Apresenta-se à pessoa uma série de estímulos. Após serem apresentados, são repetidos na ordem em que foram apresentados. Em uma variante dessa ta refa o participante os repete na ordem inversa daquela da que foram apresentados - do fim para o início. Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Capítulo 5 • Memória: Modelose Métodosde Pesquisa 173 Finalmente, a Tarefa F é uma tarefa de carregamento da memória de trabalho ordenada temporariamente. Apresenta-se ao participante uma série de problemas aritméticos simples. A pessoa indica, para cada problema, se a soma ou a diferença está correta. No final, ela re pete os resultados dos problemas aritméticos em sua ordem correta. Cada uma das tarefas descritas aqui e na Figura 5.5 permite o exame de quantas informa ções podemos manipular na memória. Freqüentemente,cada uma dessas tarefas é apresentada com uma segunda tarefa (denominada, apropriadamente, tarefa secundária), formando um par, para que os pesquisadores possam ter mais conhecimento a respeito da executiva central. A executiva central é responsável por alocar recursos de atenção e de outra natureza a tarefas em andamento. Ao fazer com que os participantes realizem mais uma tarefa ao mesmo tempo, podemos examinar como os recursos mentais são atribuídos (Baudoin et ai, 2006; DAmico, Guarnera, 2005). Uma tarefa que freqüentemente forma um par com aquelas relacionadas na Figura 5.5 constitui uma tarefa de geração de números aleatórios. Nessa tarefa, o participante deve tentar gerar uma série aleatória de números completando simultaneamente uma tarefa de memória de trabalho (Rudkin, Pearson, Logie, 2007). Sistemas de Memória Múltipla O modelo de memória de trabalho é coerente com a noção de que sistemas múltiplos podem estar envolvidos na armazenagem e na recuperação de informações. Recorde-se de que, quando Wilder Penfield estimulou eletricamente os cérebros de seus pacientes, eles muitas vezes assegutaram que se lembravam vividamente de episódios e de eventos específicos. No entanto, não se recordavam de fatos semânticos que não tivessem relação com qualquer evento particular. Estas descobertas indicam que podem existir pelo menos dois sistemas distintos de memória explícita. Um seria para organizar e armazenar informações com um referente de tempo diferenciado. Formularia perguntas como "O que você comeu no al moço ontem?" ou "Quem foi a primeira pessoa que você viu esta manhã?". O segundo sis tema seria para informações que não possuem um referente de tempo específico. Formularia perguntas como "Quem foram os dois psicólogos que primeiro propuseram o modelo de memória de três receptáculos?" e "O que é mnemônica?". Endel Tulving (1972), firmado em tais descobertas, propôs uma distinção entre dois ti pos de memória explícita. A memória semântica armazena conhecimento geral do mundo. É nossa memória para fatos que não são diferenciados para nós e que não são lembrados em qualquer contexto temporal específico. A memória episódica armazena eventos ou episódios que a pessoa vivenciou. De acordo com Tulving, usamos a memória episódica quando apren demos relações de palavras ou quando precisamos nos lembrar de algo que nos ocorreu em uma ocasião ou em um contexto específico. Por exemplo, suponha que eu precisasseme lem brar que vi Harrison Hardimanowitz no consultório do dentista ontem. Eu estaria me va lendo de uma memória episódica. Porém, se precisasse lembrar-me do nome da pessoa que vejo agora na sala de espera ("Harrison Hardimanowitz"), estaria me apoiando em uma me mória semântica. Não existe uma relação de tempo específicoassociado ao nome daquele in divíduo ser Harrison. Porém, existe uma relação de tempo associada ao fato de tê-lo visto no consultório do dentista ontem. Tulving (1983, 1989) e outros (por exemplo, Shoben, 1984) apoiam a distinção entre me mória semântica e episódica, com base em pesquisas cognitivas e investigações neurológicas. As investigações neurológicas envolveram estudos de estimulação elétrica, estudos de pa cientes com transtornos de memória e estudos de fluxo de sangue no cérebro. Por exemplo, lesões no lobo frontal parecem afetar a lembrança a respeito de quando um estímulo foi apre sentado. Porém, não afetam a rememoração ou a memória de reconhecimento que um estí mulo específico foi apresentado (Schacter, 1989a). Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce Joyce Nunes Realce 174 Psicologia Cognitiva NO LABORATÓRIO DE M. K. JOHNSON Uma lembrança é uma ex periência mental que é considerada uma repre sentação autêntica (verí dica) de um evento no passado de uma pessoa. As lembranças podem ser falsas de um modo relati vamente secundário (por exemplo, uma pessoa acreditar que viu pela última vez as chaves do carro na cozinha, quando, na realidade, esta vam na sala de estar) e de maneira importante que possui implicações profundas para a pessoa e os demais (por exemplo, uma pessoa acreditar erroneamente ser a fonte ou o inventor de uma idéia ou acreditar que sofreu abuso sexual na infância e isso não tenha ocorrido). Tais distor ções de memória refletem erros que surgem de processos de monitoramento imperfeito da fonte - os processospelos quais fazemos atribuições a respeito da origem das informações ativadasna experiência mental. Erros de monitoramento da fonte incluem confusões entre fontes de infor mação internas e externas e entre várias fontes externas (por exemplo, atribuir algo que foi imaginado à percepção, uma intenção a uma ação, algo que uma pessoa ouviu a algo que testemunhou, algo lido em um tabloide a um programa de televisão, um incidente que ocor reu no local A ou na ocasião A ao lado B ou à ocasião B). A integração das informações com base nas experiências individuais de fontes dis tintas é necessária para todo pensamento com plexo e de ordem superior. Porém, esta própria criatividade nos torna vulneráveis a ter memó rias falsas porque algumas vezes atribuímos er roneamente as fontes das informações que vêm à mente. Diversos tipos de constatações indi cam que o córtex pré-frontal (CPF) desempe nha um papel predominante na identificação das fontesdas experiências mentais. Uma lesão no CPF produzdeficits na memória da fonte. Os deficits da memóriada fonte são maisfreqüentes nas crianças (cujos lobosfrontais apresentaram desenvolvimento lento) e em adultos mais ido sos (que têm propensão para apresentar neuro- patologias no CPF com o avançar da idade). A disfunçãodo CPF pode desempenhar um papel na esquizofrenia, que inclui, algumas vezes, deficits de monitoramento da fonte na forma de delírios. Meu laboratório está utilizando, atual mente, imagens por ressonância magnética funcional (RMf) para ajudar a conhecer as regiões do cérebro envolvidas no monitora mento da fonte. Em uma modalidade de es tudo, os participantes viram uma série de itens de dois tipos (fotografias e palavras). Posterior mente, aplicou-se neles um teste de memória no qual lhes foi mostrado algumas palavras que correspondiam aos itens vistos previa mente (itens antigos) misturados com alguns que não correspondiam a qualquer dos irens vistos anteriormente (itens novos). Compara mos a atividade do cérebro quando os partici pantes foram solicitados a fazer julgamentos sobre a fonte (por exemplo, dizer "sim" a itens vistos previamente como imagens)com a ativi dade de cérebro quando simplesmente foram solicitados a decidir se um item do teste era familiar (dizer "sim" a qualquer item apresen tado anteriormente). Detectamos maior ati vidade no CPF na fonte de identificação comparada com a condição de teste antiga/ nova (e, algumas vezes, no CPF direito, tam bém uma maior atividade). Além disso, diver sos outros laboratórios divulgaram descobertas relacionadas, oferecendo provas convergentes de que o CPF é acionado para o monitora mento da origem das memórias. Outros estu dos indicam que o CPF direito participa quando julgamentos podem ser feitoscom base em informações mais globais e menos específi cas, como familiaridade ou existência recente. Parece que os processos ativados secundaria mente pelo CPF direito e esquerdo contribuem para avaliar a origem das experiências men tais, possivelmente de diferentes maneiras, e as interações entre o hemisfério direito e o es querdo são, provavelmente, importantes. Por tanto, uma meta para pesquisasfuturas consiste em relacionar mais especificamente processos
Compartilhar