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( Direito) - Relacoes Adulterinas Com O Direito Familiar

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REVISTA ÂMBITO JURÍDICO ®
Rela?s adulterinas e uni?est?l: An?se cr?ca ?uz do princ?o da monogamia
 
Resumo: O presente artigo analisa de forma breve mas fundamentada a incompatibilidade das relações adulterinas com o direito familiar brasileiro.
Palavras-chaves: Relações adulterinas – Monogamia – Direito de Família
Abstract: The article analyzes in a brief but based form the incompatibility between the adulterine relations and the brazilian family right.
Keywords: Adulterine relations – Monogamy – Family Rights
Sumário: I. Considerações Gerais; II. Do Direito de Família; III. Da Monogamia; IV. Da União estável x relação adulterina; V. Referências.
CONSIDERAÇÕES GERAIS
O ser humano sempre sentiu a necessidade de relacionar-se com seus iguais, levando John Donne, poeta inglês do século XVI, a proclamar que
“nenhum homem é uma ilha”.
Entre as formas de relacionamento humano, pretende-se abordar n presente discussão a relação homem-mulher, que por muitos séculos foi
reconhecida apenas sob o manto do casamento.
No entanto, desde as civilizações clássicas, como a grega e a romana, o casamento (instituição formal e solene) não era a única forma de um casal
heterossexual se relacionar.
O concubinato (do latim concubinatus, verbo concumbo, is, ubui, ubitum, ere = deitar-se com alguém, compartilhar o leito) já existia como espécie de
relacionamento informal e inferior ao casamento.
Na Idade Média, com a supremacia da religião cristã, o casamento foi instituído obrigatoriamente como a única forma moral e permitida de relação
entre homem e mulher que envolvesse atividade sexual. Muitos destes casamentos, porém, eram realizados mais por questões políticas do que
amorosas.
Nesse contexto, o concubinato continuou existindo, à margem da sociedade, como instrumento de vazão aos desejos carnais não atendidos no
casamento. Esposos e esposas possuíam seus amantes, com quem relacionavam-se em busca do afeto e da realização sexual que não
encontravam em seus lares, com seus cônjuges.
Mas o concubinato não representava apenas estas relações adulterinas. O casamento, à época, representava um procedimento de alto custo,
marginalizando grande parte da população, que então recorria ao concubinato (união livre e informal) como maneira de relacionar-se, sexual e
afetivamente, de forma contínua e duradoura, com pessoa do sexo oposto.
Em todos os casos, porém, o concubinato era considerado pela Igreja (e, por conseguinte, pela sociedade em geral) como profano e sujo, em razão
da natureza de pecado que lhe era imposto (fornicação e adultério).
Com o passar do tempo, foram identificadas duas vertentes do concubinato: as relações “puras” e “impuras”. 
As relações puras eram constituídas por pessoas solteiras, logo, desimpedidas, que relacionavam-se de maneira estável e duradoura, em aparência
de casamento. 
As impuras, por seu turno, representavam relações adulterinas, incestuosas ou efêmeras (cujo fundamento era basicamente o desejo sexual).
As relações puras foram gradativamente sendo reconhecidas na sociedade e nos Tribunais, alcançando, após a Constituição brasileira de 1988, o
grau de entidade familiar, quando então lhes foi conferida a denominação de união estável.
As relações impuras, que continuaram recebendo a denominação de concubinato, por outro lado, permaneceram com grande carga de preconceito
social e jurídico.
Atualmente, portanto, um homem e uma mulher podem se relacionar afetivo e sexualmente não apenas sob o manto do casamento, mas também da
união estável, recebendo ambas as instituições a mesma proteção, as mesmas garantias e os mesmos deveres, com pequenas particularidades.
No entanto, nas duas últimas décadas tem-se percebido a proliferação de decisões jurisprudenciais protegendo até mesmo as relações impuras, com
natureza principalmente adulterina.
Citem-se como exemplos os seguintes acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, considerado pioneiro nestas decisões, e
do próprio Superior Tribunal de Justiça:
“APELAÇÃO CÍVEL. UNIÃO ESTÁVEL PARALELA A OUTRA UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. O anterior reconhecimento judicial de união
estável entre o falecido e outra companheira, não impede o reconhecimento da união estável entre ele e autora, paralela àquela, porque o Direito de
Família moderno não pode negar a existência de uma relação de afeto que também se revestiu do mesmo caráter de entidade familiar. Preenchidos
os requisitos elencados no art. 1.723 do CC, procede a ação, deferindo-se à autora o direito de perceber 50% dos valores recebido a título de pensão
por morte pela outra companheira. 2) RESSARCIMENTO DE DANOS MATERIAIS E EXTRAPATRIMONIAIS. Descabe a cumulação de ação
declaratória com ação indenizatória, mormente considerando-se que o alegado conluio, lesão e má-fé dos réus na outra ação de união estável já
julgada deve ser deduzido em sede própria. Apelação parcialmente provida.” (Apelação Cível Nº 70012696068, Oitava Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: José Ataídes Siqueira Trindade, Julgado em 06/10/2005)
“APELAÇÃO. UNIÃO DÚPLICE. UNIÃO ESTÁVEL. PROVA. MEAÇÃO. "TRIAÇÃO". SUCESSÃO. PROVA DO PERÍODO DE UNIÃO E UNIÃO
DÚPLICE A prova dos autos é robusta e firme a demonstrar a existência de união entre a autora e o de cujus em período concomitante a outra união
estável também vivida pelo de cujus. Reconhecimento de união dúplice. Precedentes jurisprudenciais. MEAÇÃO (TRIAÇÃO) Os bens adquiridos na
constância da união dúplice são partilhados entre as companheiras e o de cujus. Meação que se transmuda em “triação”, pela duplicidade de uniões.
DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. POR MAIORIA”. (Apelação Cível Nº 70011258605, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Rui Portanova, Julgado em 25/08/2005)
“UNIÃO ESTÁVEL. RECONHECIMENTO. DUPLICIDADE DE CÉLULAS FAMILIARES. O Judiciário não pode se esquivar de tutelar as relações
baseadas no afeto, inobstante as formalidades muitas vezes impingidas pela sociedade para que uma união seja "digna" de reconhecimento judicial.
Dessa forma, havendo duplicidade de uniões estáveis, cabível a partição do patrimônio amealhado na concomitância das duas relações. Negado
provimento ao apelo”. (Apelação Cível Nº 70010787398, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em
27/04/2005)
“CONCUBINATO. SOCIEDADE DE FATO. DIREITO DAS OBRIGAÇÕES. Segundo entendimento pretoriano, "a sociedade de fato entre concubinos
é, para as conseqüências jurídicas que lhe decorram das relações obrigacionais, irrelevante o casamento de qualquer deles, sobretudo, porque a
censurabilidade do adultério não pode justificar que se locuplete com o esforço alheio, exatamente aquele que o pratica." Recurso não conhecido”.
(STJ – REsp 229.069/SP – 4ª T. – Rel. Min. Fernando Gonçalves – j. 26/4/2005).
“CONCUBINATO. RELAÇÃO EXTRACONJUGAL MANTIDA POR LONGOS ANOS. VIDA EM COMUM CONFIGURADA AINDA QUE NÃO
EXCLUSIVEMENTE. INDENIZAÇÃO SERVIÇOS DOMÉSTICOS. Pacífica é a orientação das Turmas da 2ª Seção do STJ no sentido de indenizar os
serviços domésticos prestados pela concubina ao companheiro durante o período da relação, direito que não é esvaziado pela circunstância de ser o
concubino casado, se possível, como no caso, identificar a existência de dupla vida em comum, com a esposa e companheira, por período superior a
trinta anos. Pensão devida durante o período do concubinato até o óbito do concubino”. (STJ – REsp 303.604/SP – 4ª T. – Rel. Min. Aldir Passarinho
Junior – DJU 23/6/2003).
“SEGURO DE VIDA EM FAVOR DE CONCUBINA. HOMEM CASADO. Situação peculiar de coexistência duradoura do de cujus com duas famílias e
prole concomitante advinda de ambas as relações. Indicação da concubina como beneficiária do benefício. Fracionamento. Inobstante a regra
protetora da família, impedindo a concubina de ser instituída como beneficiária de seguro de vida, porque casado o de cujus, a particular situação dos
autos, que demonstra“bigamia”, em que o extinto mantinha-se ligado à família e concubinária, tendo prole concomitante com ambas, demanda
solução isonômica, atendendo-se à melhor aplicação do Direito. Recurso conhecido e provido em parte para determinar o fracionamento, por igual,
da indenização secundária”. (STJ - REsp 100.888/BA - Rel. Min. Aldir Passarinho Junior - j. 12/3/2000). (grifos nossos)
Acredita-se que estas decisões, no entanto, infringem toda a lógica do ordenamento jurídico familiar brasileiro. Protegendo a relação concubinária,
pretendem que lhe seja estendida a mesma dignidade e a mesma proteção constitucional conferida à relação mais antiga (de casamento ou união
estável), sob a alegação que o atual Direito de Família busca preservar a afetividade sobre todas as coisas.
Desta forma, o concubino tem sido agraciado, como recompensa pela relação adulterina, com parte da pensão do falecido companheiro (adúltero),
com a terça parte da herança, com a triação (em vez da meação) dos bens adquiridos onerosamente, mesmo quando cientes de que o companheiro
era casado ou já convivia em união estável.
Ocorre, porém, que esta extensão indiscriminada de direitos tem promovido verdadeiro golpe no sistema jurídico familiar brasileiro, ao romper com
um dos maiores princípios informadores e ordenadores do sistema jurídico e da sociedade brasileira: o Princípio da Monogamia.
E, além dessa infração principiológica, testemunha-se verdadeiro retrocesso às sofridas vitórias conquistadas pelos defensores da união estável, pois
as decisões que permitem a existência jurídica de relações simultâneas, na maioria das vezes, identificam a relação adulterina com uma forma de
união estável, contribuindo para o resgate do preconceito sobre este instituto.
Outrossim, autorizar as relações simultâneas indiscriminadamente poderá representar a inserção do modelo de poligamia na sociedade brasileira, e
deve ser ressaltado que as culturas poligâmicas, em regra, inferiorizam e subjugam o gênero feminino, impingindo caráter patriarcal e machista às
relações afetivas.
Por outro lado, a existência de “famílias paralelas” não é promissora nem auto-sustentável. Geralmente as famílias se confrontam, se “descobrem”,
quando o indivíduo em comum (via de regra, o homem) falece, e então inicia-se verdadeira batalha pelos bens do de cujus e pela pensão por morte.
O valor das pensões, muitas das vezes, já é insuficiente para garantir à família “legítima” do falecido as mesmas condições de vida oportunizadas
pelo esforço conjunto (ou isolado) do de cujus. Imagine-se repartindo esta mesma (e única) pensão entre duas, três, quatro famílias, e tantas quantas
o falecido conseguiu formular em vida, pela apregoada “ausência” de óbices legais à constituição de famílias paralelas.
Desta forma, urge analisar, de forma crítica, os aspectos sociais e jurídicos do Princípio da Monogamia, assim como seu papel no ordenamento
jurídico brasileiro, a fim de confrontá-lo com a proteção das relações simultâneas e, assim, identificar a ilegalidade e quiçá a inconstitucionalidade
desta proteção.
1. DO DIREITO DE FAMÍLIA
O Direito sempre existiu em todas as sociedades e culturas como forma de regular a sociedade, pacificar os interesses conflitantes e permitir a vida
harmônica dos seres humanos entre si e até mesmo entre estes e o meio ambiente.
E, ao contrário do que muitos doutrinados alegam, o Direito tem, sim, ingerência sobre os sentimentos do homem.
Ao indivíduo que sente prazer em machucar terceiros, o Direito criou as regras penais. Ao indivíduo que não tem escrúpulos nas negociações com a
comunidade, o Direito criou as obrigações e contratos. Ao indivíduo que vive egoisticamente sem pensar sequer em seu futuro, o Direito criou a
Previdência.
Assim, sentimentos do homem, ou aspectos de sua natureza e personalidade, curvam-se às regras do Direito, sob pena do indivíduo receber
determinadas sanções e ser marginalizado do convívio social – tudo para a finalidade do bem maior da vida harmônica em sociedade.
Nesse mesmo sentido, para regular as relações dos seres humanos no núcleo mais basilar da sociedade – a família – foi criado o Direito de Família,
em dois aspectos: o de orientação (o que existe a fazer; o que é o certo a fazer; como deve ser feito) e o de determinação (o que pode ser feito; o
que não pode ser feito).
Em cada ramo do Direito, existem duas espécies de princípios que representam a espinha dorsal desta área do conhecimento humano: os princípios
informadores e os princípios ordenadores.
Os princípios informadores são princípios abertos, que refletem a idéia diretriz ou justificadora da configuração e do funcionamento do próprio sistema
jurídico[i]; os princípios ordenadores, por sua vez, preservam a organização das idéias centrais do sistema, promovendo harmonia e concórdia[ii].
Celso Ribeiro de Bastos leciona que a não observação de um princípio informador é muito mais grave do que a violação da própria lei aplicada, pois
o princípio se traduz na própria estrutura informadora da norma[iii].
Enquanto a norma possui somente eficácia nas situações por ela disciplinadas, os princípios abarcam um número indeterminado de situações,
fornecendo critérios para as formações das leis, justamente em razão da sua abstratabilidade[iv].
No tocante aos princípios ordenadores, Ives Gandra da Silva afirma que a comunidade não é um aglomerado de pessoas, e sim um todo orgânico,
com uma ordem entre as partes. Todas as coisas que existem estão ordenadas entre si, umas servindo às outras, e as coisas que são diversas,
diferentes, só convivem em comum porque são ordenadas por algo uno[v].
Para o ilustre doutrinador, existem duas espécies de ordem: a ordem das partes entre si (intrínseca), de subordinação de umas e outras em
hierarquia, e a ordem do todo ao fim (extrínseca), fundamentada na busca de todos pelo bem comum. Desta forma, conclui que só existe ordem
interna (das partes entre si) se estas partes convergirem no mesmo fim ordenador comum[vi].
No Direito de Família, vários princípios coexistem para informar e ordenar este sistema.
Existe o princípio da dignidade humana, norteador de todo o ordenamento jurídico, que fundamenta a existência dos direitos da personalidade; existe
o princípio da afetividade, como razão principal para a união de qualquer entidade familiar; e o princípio da monogamia, objeto do presente estudo,
que contribuiu para o respeito ao princípio da igualdade (princípio constitucional), uma vez que nos países onde a poligamia é aceita, implica na
discriminação, inferiorização e subjugação do gênero feminino[vii].
2. DA MONOGAMIA
Ao longo da evolução do conceito de “família”, algumas de suas características se tornaram obsoletas e foram, assim, descartadas, como a
prevalência do homem e a imperatividade do casamento. Por outro lado, certos elementos, por se coadunarem com os anseios da sociedade, foram
mantidos pelo legislador, como é o caso do princípio da monogamia[viii].
Pelo dicionário Aurélio, a monogamia é definida como “sf. Antrop.Costume ou prática segundo a qual uma pessoa (homem ou mulher) não pode ter
mais de um cônjuge”[ix].
Em termos técnicos, a monogamia é o sistema de constituição familiar pelo qual o homem possui uma só esposa ou companheira, e a mulher possui
apenas um esposo ou companheiro. É um dogma imposto pelo próprio ordenamento jurídico, logo, não se trata de mera sugestão proposta aos
indivíduos, tampouco simples regra moral[x].
Rodrigo da Cunha Pereira reforça que um dos princípios basilares da organização jurídica sobre a família é o da monogamia[xi]. Marco Aurélio S.
Viana ressalta que as relações homem-mulher exigem caráter monogâmico, incompatível com o congresso sexual com outra pessoa, pois o
elemento espiritual determina a dedicação exclusiva dos corpos[xii].
Como pressuposto da monogamia, Jesualdo Eduardo de Almeida Junior ressalta que toda a estrutura de uma entidade familiar repousa no dever de
fidelidade, afirmando:“como pressuposto da união monogâmica, em praticamente todas as legislações dos povos modernos encontra-se o dever dos esposos, durante
toda a vida conjugal, manterem-se fiéis à fé jurada de se pertencerem exclusivamente uns aos outros[xiii].” (grifo nosso)
O Princípio da Monogamia, portanto, remanesce como princípio informador e ordenador do Direito de Família, eis que fundamenta as relações
afetivas legais e legítimas, além de orientar os direitos e deveres advindos destas relações, moldando o que seja uma família.
Nesse sentido, as relações reconhecidas como capazes de formar uma entidade familiar, nos termos do artigo 226 da CF[xiv], são o casamento, a
união estável e a relação entre qualquer dos pais e seus descendentes.
3. DA UNIÃO ESTÁVEL X RELAÇÃO ADULTERINA
A presente discussão se baseia na entidade familiar formada pela união estável, pois, como alhures referido, as relações adulterinas têm sido
identificadas com uniões estáveis para fins de receberem a mesma proteção legal.
A Constituição Federal de 1988 foi a primeira a reconhecer a união estável como relação capaz de formar uma família (art. 226, §3.º), retirando a
exclusividade do casamento civil.
Este reconhecimento, no entanto, se faz acompanhar de requisitos para identificação do que seja uma união estável.
A Lei n.º 9.278/1996 é a norma que regula o artigo 226, §3.º da Constituição Federal, conceituando e definindo a união estável.
Em seu artigo 1.º, reconhece como entidade familiar a união estável entre homem e mulher com convivência duradoura, pública e contínua,
estabelecida com objetivo de constituição de família.
A legislação que anteriormente regulava a matéria (Lei n.º 8.971/1994) exigia tempo mínimo de convivência (05 anos) e a existência de filhos como
fatores determinantes da união estável. A omissão da “nova” lei sobre tempo mínimo, no entanto, não significa que o fator tempo tenha sido
desprezado. A previsão de união duradoura pressupõe uma avaliação do tempo da convivência a fim de aferir a estabilidade da relação[xv].
O requisito da publicidade, ou notoriedade, como chama Rodrigo da Cunha Pereira, não significa ostentação da relação, e sim viver em posse do
estado de casados, se não para todo o mundo, ao menos para um pequeno círculo[xvi].
Por contínua não se deve imaginar uma relação sem brigas ou separações. Desde que estas separações ocorram em períodos breves, que não
retirem a união a sua estabilidade, pode-se configurar a união estável mesmo face a curtos períodos de interrupção da convivência[xvii].
Simone Orodeschi Ivanov vai além da letra fria da lei e reúne os seguintes requisitos cumulativos para caracterização da união estável: convivência;
ausência de formalismo; diversidade de sexos; unicidade de vínculo; estabilidade: duração; continuidade; publicidade; objetivo de constituição de
família e inexistência de impedimentos matrimoniais[xviii].
Especificamente sobre o requisito da inexistência de impedimentos matrimoniais (arts. 1.521 e 1.522 do Código Civil), tal previsão é relevante porque
a Constituição Federal, ao elevar a união estável a entidade familiar, determinou a facilitação da sua conversão em casamento (art. 226, §3.º)[xix],
permitindo aferir uma sutil preferência ao casamento civil como modelo de constituição de família.
Desta forma, reconhecer a existência de uma união estável em que o casal (ou um dos conviventes) esteja impedido de contrair casamento, por um
dos impedimentos previstos no artigo 1.521 do C.C., é de certa forma inconstitucional, pois contraria a intenção da Constituição Federal de que as
uniões estáveis possam ser facilmente convertidas em casamento.
Por conseguinte, são ilegais as relações constituídas entre (art. 1.521, CC):
“I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte”.
Fabrício Zampogna Matielo ressalta que:
“A finalidade primacial das construções jurídicas destinadas a tutelar a união estável é a de que os consortes, ao par da manutenção de
relacionamento duradouro e da constituição de família bem organizada, possam decidir pela celebração do casamento civil, selando o compromisso
moral mantido até então e passando a regular totalmente a situação através da incidência normativa correspondente[xx]”.
Se um dos companheiros, na verdade, já é casado com terceira pessoa, não há que se falar em união estável, e sim em relação adulterina. Da
mesma forma, se um dos companheiros, já em união estável com seu consorte, contrai nova relação com terceiro, esta nova relação não se constitui
outra união estável, e sim relação adulterina.
Camilla Fittipaldi Duarte Jales, repetindo a lição de Garcia e Rodrigo Pereira da Cunha, ressalta que houve um tempo em que se justificava a
proteção das relações adulterinas uma vez que o casamento não podia ser dissolvido[xxi].
Nos tempos atuais, porém, em que o divórcio já é amplamente permitido, não mais procede, sob nenhum prisma, a proteção destas relações
clandestinas:
“(...) pois além da sociedade encontrar-se muito mais tolerante, a Constituição de 1988 consagrou enorme abertura à separação e ao divórcio, não se
justificando qualquer tutela jurídica a relacionamentos clandestinos. Entende o autor que tudo é uma questão de liberdade e autodeterminação, de
maneira que se o indivíduo escolheu contrair casamento, e ao mesmo tempo mantém relacionamento de fato com outrem, não seria legítima a
intenção de que se extraíssem efeitos jurídicos desta relação, sobretudo em detrimento do cônjuge, quase sempre ignorante quanto à existência do
concubinato adulterino[xxii]”.
Havendo a construção de patrimônio em comum entre o companheiro ou (cônjuge) com o terceiro na relação adulterina, não serão utilizadas as
regras e princípios do Direito de Família, eis que não se trata de entidade familiar, e sim do Direito das Obrigações, por ser entendida a relação
adulterina como uma sociedade de fato.
Desta forma, serão partilhados os bens adquiridos por esforço comum entre o casal adúltero, e ressalto que não deve ser utilizada a criação
jurisprudencial da “indenização por serviços prestados”.
Tal indenização foi criada para assegurar proteção à companheira que, após vários anos de trabalho doméstico para o companheiro (possuindo
ambos vínculo exclusivo), era abandonada pelo consorte, que havia construído patrimônio em comum mas com todos os bens em seu nome. 
Assim, os Tribunais de todo o país condenavam o companheiro separado a pagar indenização pelos serviços prestados pela ex-companheira, pois o
seu trabalho no lar havia permitido ao companheiro o sossego e a concentração necessários ao sucesso no trabalho externo.
No caso das relações adulterinas (concubinato), não há que se falar em indenização por serviços prestados se o adúltero já possui uma esposa /
companheira exercendo os mesmos serviços. Da mesma forma, não há se falar, em caso de morte, na repartição da pensão previdenciária para o
concubino sobrevivente, pois isto representaria prejuízo e violação às entidades familiares constitucionais.
À guise de conclusão, como se percebe, a matéria é por demais delicada e polêmica, merecendo estudos e discussões mais aprofundadas, a partir
de uma visão sistemática dos dispositivos constitucionais, infra-constitucionais e dos princípios que informam e ordenam o sistema jurídico familiar
brasileiro, a fim de verificar se, de fato, a relação afetiva sub examine merece ser acolhida como entidade familiar passível de produção de plenos
efeitos jurídicos.
Referências ALMEIDA JUNIOR, Jesualdo Eduardo de. As relações entre cônjuges e companheiros no NovoCódigo Civil. Rio de Janeiro:
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<http://www.cjf.jus.br/revista/numero9/ artigo5.htm>. Acesso em: 14 de ago. 2008. [ii] MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. O princípio ético do
bem comum e a concepção jurídica do interesse público. Revista Jurídica Virtual. Brasília, vol. 2, n. 13, junho/1999. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_13/princ-etico.htm>. Acesso em: 14 ago. 2008. [iii] Citado em REGO, Roberto Seixas. Processo
licitatório: contraditório e ampla defesa: doutrina e jurisprudência, p. 63 In MAURANO, Adriana. A instituição do pregão para aquisição de
bens e contratação de serviços comuns. Revista Jus Vigilantibus, Sábado, 13 de março de 2004. Disponível em: <http://jusvi.com/artigos/1674>.
Acesso em: 14 de ago. 2008. [iv] Idem. [v] MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Op. cit. [vi] MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Op. cit. [vii]
GALDINO, Valéria Silva, e BARRETO, Maíra de Paula. Os princípios gerais de direito, os princípios de direito de família e os direitos da
personalidade. Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito. Disponível em: <http://www.conpedi.org/manaus///arquivos/anais/
bh/maira_de_paula_barreto.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2008. [viii] QUADROS, Tiago de Almeida. O princípio da monogamia e o concubinato
adulterino. Jus Navigandi. Teresina, ano 8, n. 412, 23 ago. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5614>. Acesso em: 15
ago. 2008. [ix] FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda, 1910 – 1989. Miniaurélio Século XXI Escolar: O minidicionário da língua portuguesa.
Coordenação de edição, Margarida dos Anjos, Marina Baird Ferreira; lexicografia, Margarida dos Anjos ... [et al]; 4. ed. rev. ampliada. Rio de Jneiro:
Nova Fronteira, 2001, p.470. [x] QUADROS, Tiago de Almeida. Op. cit. [xi] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável. 7. ed., rev. e
atual. Belo Horizonte: Del Rey, 2004, p.74. [xii] VIANA, Marco Aurélio S. Da união estável. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 90. [xiii] ALMEIDA JUNIOR,
Jesualdo Eduardo de. As relações entre cônjuges e companheiros no Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Temas & Idéias, 2004, p.108. [xiv] Art.
226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 1º - O casamento é civil e gratuita a celebração. § 2º - O casamento religioso
tem efeito civil, nos termos da lei. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade
familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. § 4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer
dos pais e seus descendentes. § 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. § 6º
- O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada
separação de fato por mais de dois anos. § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito,
vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas. § 8º - O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada
um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. [xv] SEREJO, Lourival. Direito constitucional da
família. Belo Horizonte: Del Rey, 1999, p.47. [xvi] PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Op. cit. p.29-30. [xvii] Idem, p.35. [xviii] IVANOV, Simone
Orodeschi. União estável: regime patrimonial e direito intertemporal. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007, p.40. [xix] Art. 226. (...) § 3º - Para efeito da
proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em
casamento. [xx] MATIELO, Fabrício Zamprogna. União estável : concubinato : repercussões jurídico-patrimoniais : doutrina, jurisprudência e prática,
incluindo as Leis 8.971/1994 e 9.278/1996. 3. ed. Porto Alegre: Sagra Luzzatto, 1998, p. 107. [xxi] JALES, Camilla Fittipaldi Duarte. O concubinato
adulterino sob o prisma do Código Civil de 2002. Instituto Brasileiro de Direito de Família. 10 de Abril de 2008. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/?artigo&artigo=400>. Acesso em: 18 de ago. 2008. [xxii] JALES, Camilla Fittipaldi Duarte. O concubinato adulterino sob o
prisma do Código Civil de 2002. Instituto Brasileiro de Direito de Família. 10 de Abril de 2008. Disponível em:
<http://www.ibdfam.org.br/?artigo&artigo=400>. Acesso em: 18 de ago. 2008.
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