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Análise do diálogo A vida feliz_REVISADO

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Análise do diálogo A vida feliz: A distinção entre buscar e o encontrar de Deus 
Em nossa análise do diálogo A vida feliz, nosso objetivo será compreender de que modo o desejo pela felicidade, bem orientado, é indissociável do desejo pela posse de Deus. Para tanto, será necessário analisar também por que Deus cumpre todos os requisitos que os interlocutores do diálogo aprovam para que Ele venha a ser aquilo que satisfaça esse desejo, isto é, para que Deus seja aquilo que suprima a falta constituinte desse desejo.
	“Que todos querem ser felizes” é evidente e Agostinho já destaca esse desejo universal como sendo a raiz de todos os desejos. A vontade de ser feliz é a vontade humana em sua essência. A vontade humana não tem outra finalidade a não ser a felicidade. Ela compartilha com o ser e com a verdade uma universalidade, pois ninguém gostaria de não ser e todos buscam a verdade. Esse caráter universal da felicidade é tão inerente ao ser humano que ele persiste em todas as fases da humanidade. Adão ainda no Éden, nós, após a queda e os salvos após a ressureição partilhamos desse desejo.[1: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, 1998, cap. 2, par.10, p.128.]
	Desse modo, podemos notar que à vontade pela felicidade é presente em todos os homens, independente de seu estado moral. Essa vontade busca o repouso, de modo que é uma vontade que persegue a sua satisfação. 
O diálogo se inicia com a questão acerca da natureza humana. Agostinho pergunta se somos feitos de corpo e alma. Todos os interlocutores aprovam tal questão, porém um dos interlocutores, ainda receoso prefere não fazer tal afirmação logo de pronto. 
E como ele hesitasse, interroguei: 
— Sabes, pelo menos, que vives? 
— Isso eu sei. 
— Sabes, portanto, que tens vida, visto que ninguém pode viver a não ser que tenha vida? 
— Isso também sei. 
— Sabes, igualmente, que possuis um corpo? Ele concordou. 
— Sabes, então, que constas de corpo e vida? 
— Sim, todavia tenho dúvidas se não existe alguma coisa a mais do que isso. 
— Assim, não duvidas destes dois pontos: possuis um corpo e uma alma. Mas estás em dúvida se não existe outra coisa que seria para o homem um complemento de perfeição.[2: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, 1998, cap. 2, par. 7, p.125.]
	Não é por acaso que Agostinho, após o interlocutor proferir sua duvida, faz algumas mudanças na disposição dos termos de sua pergunta. Se inicialmente ele pergunta “Se somos feitos de corpo e alma”, em seguida ele altera o termo “alma” e concede outro nome, no caso “vida”, no lugar de “alma”. E por que o autor faz isso? Por que da concessão de que o homem tem “vida”, conclui-se que o homem tem “alma”.
	Ora, “alma” é tradução de anima em latim, de forma que é o que anima o corpo, é o princípio de movimento do homem. O corpo sem alma é inanimado, é um cadáver, logo a alma vivifica o corpo, isso para Agostinho é claro e evidente. Constatamos, então, que a alma é mais elevada do que o corpo, pois sem ela não existe movimento, não existe vida. Daí o nome vida, se a alma é que concede a vida, somos compostos de corpo e vida ou corpo e alma. 
	Em seguida, Agostinho destaca que o corpo precisa de um alimento para que não venha a padecer. Se o corpo sem alimento perece, quem dirá a alma, ela é quem dá vida ao corpo e tem então mais importância do que ele. Segue-se que será relevância maior alimentá-la. Mas quais seriam esses alimentos necessários para alma?
	Os interlocutores chegam à conclusão de que o conhecimento das coisas, a ciência e a virtude (moderação, temperança ou frugalidade), são os alimentos necessários para a alma. Se a alma busca esses alimentos, é porque ela carece deles, sendo assim ela não é a fonte deles. 
	Por consequência, os sábios seriam as pessoas com o espírito pleno por terem um maior conhecimento das coisas e de si mesmos, pois quanto maior a sabedoria, mais alimentada está a alma. Sendo assim, as pessoas indoutas ou ignorantes teriam suas almas cheias de vícios e maldades. Teriam a alma infrutífera (estéril)(nequicia - vício do qual origina se todos os outros ). E o que a alma necessita não é de vícios, que a conduzem ao não-ser, mas sim de virtudes, que a conduzem ao ser. Afinal, “quando existe algo que perdura, se mantém não se altera e sempre fica semelhante a si mesmo, aí está à virtude”. ( Fazer uma introdução dizendo que Agostinho a partir daí começa a investigar mais propriamente a felicidade) [3: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, 1998, cap. 2, par.8, p.127.]
	Agostinho pergunta então se é possível alguém ser feliz sem ter o que se quer? Todos os interlocutores dizem que não. Mas e aquele que tem tudo o que quer , seria ele feliz? 
	Mônica, uma das interlocutoras do diálogo, mesmo que sem querer parafraseia Cícero, dizendo que se as coisas que o indivíduo deseja forem boas, ele será feliz, mas ao contrário, mesmo que possua coisas que se quer, se essas coisas forem más, ele, mesmo as possuindo será infeliz.
Agostinho sem mais a elogia e cita Cícero em referência ao que sua mãe disse. O problema que se segue é que mesmo tendo o que se quer, a felicidade poderia não estar nessas coisas. Afinal, como Cícero em sua obra diz “não há desgraça pior do que querer o que não convém”. Há de desejar algo para a felicidade, mas esse algo não pode ser qualquer coisa, deve ser o que se convém. 
Nesse caso, argumentei aquele que possuísse bens em abundância, rodeado de benefícios sem conta, supondo que pusesse limite/medida a seus desejos e que vivesse satisfeito com o que possuísse, no gozo honesto e agradável desses bens, a teu parecer seria ele feliz? 
—Não seriam essas coisas que o tornariam feliz, mas a moderação de seu espírito. . [4: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, cap. 2, par.11, p.130.]
	Esse limite a que a citação se refere pode ser traduzido também por medida (modus), então o que traria a felicidade seria essa medida dos desejos. A “moderação do espírito”, que é uma virtude, é apresentada no início do diálogo como “frugalidade” ou “temperança” e está intrinsicamente relacionada a um bem permanente e interior.
	O que se vê no diálogo nesse momento é uma moralização do conceito de felicidade. A moralização desse conceito não é à toa, pois para Agostinho a felicidade é vista como a maior expressão da vontade. Isabelle Koch destaca em seu texto “ Sobre o conceito de voluntas em Agostinho” que a voluntas em Agostinho é vista como a disposição do homem em dar início a uma sucessão de atividades, sejam elas no âmbito da sensação, imaginação, sonho e conhecimento racional. Lançando sobre o homem um julgamento de valor moral em suas ações e decisões, uma intenção sobre cada ação. Todas as percepções derivam então dessa intencionalidade. Logo, a felicidade seria então desejo que tenderia tanto para o ser ou para o não ser, no que depender da intenção do sujeito. 
— Muito bem! Não poderia haver melhor resposta à minha pergunta, nem outra poderia eu esperar de ti. Por conseguinte, estamos convencidos de que, se alguém quiser ser feliz deverá procurar um bem permanente, que não lhe possa ser retirado em algum revés de sorte[5: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, cap. 2, par.11, p.130.]
	Dessa maneira, a felicidade deve tender para um objeto estável, imutável, perpétuo, objeto que sujeito jamais deva perder. Para ser plena e verdadeira não pode ser condicionada. Uma felicidade sujeita à perda seria uma felicidade relativa, uma felicidade que se daria juntamente com o receio. Desse modo, ela não mais seria uma felicidade, mas sim um medo constante da perda da felicidade. Por isso, é essencial que o bem que o homem deva possuir seja permanente. 
Assim, o que Agostinho faz ao longo do diálogo é remover a felicidade de toda a exterioridade e trazê-la para o interior, pois ela é um desejo que jamais seria realizado na aquisição de bens temporais. É um conceito de felicidade que só podeser compreendido através de uma noção de interioridade. Com efeito, a felicidade consiste na posse de um bem interior superior a mim.
O que é este melhor? O que há de melhor para o homem não pode ser inferior ao homem, pois querer o que é inferior é diminuir-se. Ao contrário, poder-se-ia dizer que o que há de melhor para o homem é o próprio homem, se não houvesse nada de superior a ele que ele pudesse gozar com a certeza de não mais poder perdê-lo[6: GILSON, É. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. São Paulo: Discurso Editorial; 2007, p. 23,24.]
	Dessa maneira, podemos notar que existe algo que é maior do que o homem de que ele necessite para satisfazer o desejo de ser feliz. O fato de o homem não poder ele mesmo ser o objeto de felicidade, mostra que o prazer buscando o próprio ser é um prazer ínfimo. Além disso, o bem que Agostinho diz que devemos possuir deve ser um bem superior e, por isso, contemplado. O homem quando contempla a si mesmo se torna um homem orgulhoso, e onde há o orgulho a felicidade não pode subsistir. O homem em si mesmo não é apto a cumprir os requisitos para essa busca de prazer. 
	A evidência de que todas as coisas terrenas são mutáveis é clara. Nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos. Estamos em constante transformação e mudança. Não temos a estabilidade que o divino tem. Por isso, Deus, como o único ser imutável, é o único capaz de nos fornecer a felicidade. Ele é o bem imutável de que precisamos. Agostinho faz essa afirmação e todos, sem exceção, aprovam-na. 
	Temos claro qual é o bem que traz a felicidade, isto é, Deus. Mais exatamente a posse da presença de Deus na alma. “Logo, quem possui a Deus é feliz!”. Possuir a Deus é o requisito para a felicidade.[7: AGOSTINHO. A vida feliz. Col. Patrística, 11. São Paulo: Paulus, 1998, cap. 2, par.11, p. 131. ]
	Além disso, esse Deus precisa ser único, uma vez que ele não poderia ser confundido com outros deuses. Nesse ponto, o politeísmo é rejeitado porque dele somente pode decorrer uma relativa felicidade. Assim, somente um Deus absoluto é capaz de ser em um grau tão elevado e tão completo de ser, que Dele não se mudaria nada e nele residiria toda a fonte de ser e fundamento ontológico de todas as coisas. 	Enquanto nós somos seres em Deus, ele é em si mesmo, daí a suficiência e a perfeição de Deus. Esse possuir a Deus não seria possuir Deus de modo que ele seria menor do que nós, sujeito a nós. Ao contrário, a posse de Deus seria a contemplação do ser de Deus em nós. Contemplar o que em nós tem participação em Deus.

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