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planos collor i e ii

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Planos Collor I e II
Eduarda Oliveira Rodrigues
Faculdade de Economia - UFF
A mudanc¸a no cena´rio externo: o Consenso de Washington e o Plano Brady
Em 1989, durante encontro do Institute for International Economics, em Washing-
ton, D.C., treˆs regras foram estabelecidas, que deveriam ser adotadas por todas as
economias, independentemente do vie´s do governo; de acordo com esse Consenso,
tais regras eram indiscut´ıveis e fundamentais para o crescimento auto-sustentado
das economias em desenvolvimento (tal como o Brasil). As treˆs regras eram, em
termos gerais,
1. Disciplina fiscal, que enfatizava a importaˆncia do equil´ıbrio das contas pu´blicas
2. Liberalizac¸a˜o comercial e financeira, seguindo a tendeˆncia a` globalizac¸a˜o e
privilegiando o fluxo de investimentos e o come´rcio
3. Reduc¸a˜o do papel do Estado, que e´ entendido como praticamente um pre´-
requisito para a disciplina fiscal - um Estado grande gera inflac¸a˜o e desordem
fiscal, de acordo com o Consenso.
O governo Collor, iniciado a partir de 15 de marc¸o de 1990, aderiu a`s regras
do Consenso de Washington, de modo que o capital estrangeiro volta a entrar no
pa´ıs, se preparando para comprar as empresas estatais a sere privatizadas (o que
reduziria o papel do Estado, que detinha diversas empresas estatais). A partir disso,
o balanc¸o de pagamentos, depois de 15 anos numa situac¸a˜o negativa, da´ um novo
foˆlego a` economia.
Para ale´m disso, outro fator importante para a recuperac¸a˜o do balanc¸o de pa-
gamentos foi o Plano Brady, tambe´m de 1989, que reestruturou a d´ıvida externa,
abatendo o encargo d´ıvida de 32 pa´ıses pobres, ao reconhecer que tais eram im-
paga´veis.
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A abertura comercial, privatizac¸o˜es e o Plano Collor I
Inserida no contexto do PICE, a Pol´ıtica Industrial e de Come´rcio Exterior, a
atitude do governo Collor procurou aumentar a competitividade dos mercados, sob
a hipo´tese de que o Brasil precisava ser exposto a um choque de produtividade para
aliviar a disparidade do mercado interno em relac¸a˜o ao externo, especificamente
em termos qualitativos. Ale´m disso, a recuperac¸a˜o do atrasado industrial era fun-
damental, de acordo com o governo, para a estabilidade de prec¸os de modo mais
prolongado.
O projeto de desestatizac¸a˜o, de privatizac¸a˜o das empresas estatais, foi priorita´rio
durante a e´poca. Tal ac¸a˜o era complemente compat´ıvel com as regras do Consenso
de Washington, diminuindo a atuac¸a˜o do Estado no mercado, e usando as transac¸o˜es
como modo de reduzir a d´ıvida pu´blica.
No pro´prio dia de posse de Collor, e´ anunciado o Plano Collor I, que resgatava
como moeda corrente o Cruzeiro (dado fracasso de criac¸a˜o de novas moedas), con-
gelava prec¸os e sala´rios, estabelecia o caˆmbio flutuante (na expectativa de manter o
balanc¸o de pagamentos equilibrado, e sendo coerente com a abertura comercial), e
pol´ıtica fiscal que envolvida aumento do IPI e IOF, dentre outros, e corte no custeio1.
Ale´m disso, o ponto mais memora´vel do Plano Collor I foi na a´rea financeira:
houve sequestro de aplicac¸o˜es que ultrapassassem NCr$50.000 (cerca de U$1.200
a` e´poca), com bloqueio por 18 meses. O governo se comprometeu a devolver o
montante em 12 parcelas, convertidas em cruzeiro e sob correc¸a˜o moneta´ria de 6%
ao ano. Isso foi providenciado pelo decreto de feriado banca´rio feito por Sarney treˆs
dias antes da posse de Collor. A iniciativa para evitar uma corrida especulativa para
ativos reais, que geraria um salto inflaciona´rio. A primeira das consequeˆncias foi a
escassez de liquidez, e muitas empresas reclamavam de sequer ter capital de giro.
As heranc¸as do Plano Collor I envolvem recessa˜o, o custo da estabilidade mo-
neta´ria (o PIB foi a -3,1%) e inflac¸a˜o de 10% ao meˆs - acima da proposta, mas como
o dinheiro foi sendo liberado aos poucos, a integridade do plano foi comprometida.
Esses 10% ao meˆs de inflac¸a˜o, entretanto, voltou a se acelerar ao longo do ano.
1“Suspensa˜o de benef´ıcios e incentivos fiscais na˜o garantidos pela Constituic¸a˜o, ale´m de uma
se´rie de medidas de combate a` sonegac¸a˜o. Promoveu-se, ainda, uma reduc¸a˜o do nu´mero de mi-
niste´rios (de 23 para 12 – incluindo a agregac¸a˜o das pastas da Fazenda e do Planejamento, no
Ministe´rio da Economia, que passou a ser comandado pela ministra Ze´lia Cardoso de Mello), ex-
tinc¸a˜o de uma se´rie de autarquias, fundac¸o˜es e uma campanha para a demissa˜o de funciona´rios.
Implementou-se ainda um regime de caˆmbio flutuante.” (GIAMGIABI ET AL, 2006, p.148)
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O Plano Collor II
Com a introduc¸a˜o de um novo ministro, Marc´ılio Marques Moreira, que substi-
tuiu Ze´lia Cardoso de Mello. Em primeiro de fevereiro foi lanc¸ado o Plano Collor II,
que buscava principalmente conter a inflac¸a˜o (que a` e´poca girava em torno de 20%
ao meˆs).
A hipo´tese que guiava o plano era a de que os agentes observam o comportamento
fiscal corrente do governo e constroem suas expectativas sobre a inflac¸a˜o baseadas
nisso. Portanto, para controlar a inflac¸a˜o, a decisa˜o foi de racionalizar os gastos
pu´blicos, cortar despesas e acelerar a modernizac¸a˜o do parque industrial - sendo
fiscalmente disciplinado, a inflac¸a˜o seria menor. Ale´m disso, de modo coerente, o
plano se comprometeu em eliminar qualquer tipo de indexador da economia, que
perpetuavam a inflac¸a˜o inercial.
A sequeˆncia de escaˆndalos pol´ıticos - inclusive com o pro´prio irma˜o do presidente
Collor denunciando uma se´rie de roubos do governo em pleno Programa do Joˆ, o
programa mais popular da televisa˜o aberta - comprometeu qualquer tentativa de
pol´ıtica econoˆmica que dependesse da credibilidade do governo. Isso culminou no
processo de impeachment de Collor.
Com a sa´ıda Fernando Collor, Itamar Franco, seu vice, assume a presideˆncia do
pa´ıs. O ministe´rio da Economia passa por grande rotatividade no comec¸o do governo
Franco. Primeiramente foi novamente dividida entre ministe´rio da Fazenda e do
Planejamento. Gustavo Krause assumiu o ministe´rio da Fazenda e Paulo Haddad o
ministe´rio do Planejamento; Krause permaneceu por apenas dois meses, sendo subs-
titu´ıdo por Paulo Haddad na pasta. O segundo ficou por treˆs meses no ministe´rio,
dando lugar a Eliseu Resende por um per´ıodo de dois meses, e finalmente a Fer-
nando Henrique Cardoso, que trouxe equipe da PUC-Rio, dentre eles Pe´rsio Arida,
Andre´ Lara Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan e Gustavo Franco. Naturalmente
a expectativa geral era de um novo plano econoˆmico, que deveria ter dimensa˜o fiscal
e de ajuste de estrutura de prec¸os. Como trunfo, a equipe econoˆmica tinha reservas
cambiais de US$ 40 bilho˜es, uma quantia bem razoa´vel pra a e´poca. De fato, em
fevereiro de 1994 foi lanc¸ado o Plano Real.
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