Buscar

Direito ao Esquecimento

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DISSERTAÇÃO SOBRE ACÓRDÃO REFERENTE AO DIREITO AO ESQUECIMENTO
 Direito Civil I
 Prof. Mauricio Pessoa
Bruna Becker 
RA00211112
MG1, sala 319
Na noite do dia 23 de julho de 1993 8 jovens moradores de rua foram mortos e vários outros foram feridos por policiais perto da Igreja da Candelária no Rio de Janeiro, evento que ficou conhecido como Chacina da Candelária. 13 anos após o ocorrido, no dia 27 de julho de 2006, foi lançado um documentário no programa Linha Direta da Rede Globo a respeito da chacina que gerou processo ao trazer “veiculação inconsentida de nome e imagem de indiciado nos crimes”; a veiculação foi vista como contrária ao direito ao esquecimento, o direito de não ser lembrado contra vontade (em particular, neste caso, em se tratando de memórias que ferem a relação com a sociedade; o autor foi indiciado pelos crimes cometidos mas foi posteriormente absolvido por não envolvimento). Um agravante foi o fato de não se tratar de uma notícia recente e sim de um acontecimento passado que foi então reincorporado na consciência coletiva por conta do documentário veiculado pela Globo em rede nacional brasileira.
	O autor do processo é Jurandir Gomes de França, representado por Pedro D’Alcântara Miranda Filho (e outros). Jurandir era um serralheiro que, na época do acontecimento, foi acusado de estar envolvido com a cachina. Jurandir foi, entretanto, absolvido de todas as acusações anos antes de ser retratado no programa da Globo, ocasião na qual teve seu direito ao esquecimento violado de acordo com decisão unânime pelos ministros da Quarta Turma do Supremo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Foi decidido também o dever da Rede Globo de pagar R$ 50 mil em indenização à Jurandir.
A primeira questão importante trazida pelo confronto entre Globo Comunicações e Participações S/A e o autor, Jurandir Gomes de França no processo que culminou no recurso especial nº 1.334.097 – RJ (2012/0144910-7) é o conflito entre direito a liberdade de imprensa (liberdade esta que é prevista na Constituição da República Federativa do Brasil), umas das defesas utilizadas pelos advogados da Rede Globo no caso em questão, e os direitos da personalidade (no geral e, especificamente a este caso, pertencentes ao autor Jurandir Gomes de França).
	A liberdade de imprensa está prevista na própria Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada no dia 5 de outubro de 1988, que conta com um capítulo dedicado a comunicação social (Capítulo V, artigos 220 a 224). Segue parte do texto do artigo 220 da Constituição em que se refere a este caso:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
 	§ 1º. nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, incisos IV, V, X, XIII e XIV
Já os direitos da personalidade são os direitos intransmissíveis e irrenunciáveis pertencentes a todas as pessoas nascidas com vida; no momento do nascimento com vida (como previsto no Art. 2º do Código Civil de 10 de janeiro de 2002) o Estado confere à todas as pessoas personalidade jurídica/civil, o que as torna sujeito de direitos e obrigações (direitos estes que incluem os direitos da personalidade). Os direitos da personalidade estão expressos no Capítulo II do Código Civil de 2002, artigos 11 a 21. Artigos especialmente importantes em se tratando do conflito entre Rede Globo e Jurandir Gomes de França são os artigos 17, 20 e 21.
A veiculação não autorizada do nome e imagem de Jurandir pelo documentário da Globo a respeito da chacina de Candelária expusera-o ao desprezo público, por exemplo, ao mostrar o autor do processo em momento passado em que este havia sido indiciado por crime de homicídio; isso vai diretamente contra o estabelecido pelo Artigo 17 do Código Civil, texto abaixo:
Art. 17. “O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda que não haja intenção difamatória”. 
Um ponto importante ressaltado pelo acórdão é a não contemporaneidade da notícia tratada pelo programa Linha Direta da Rede Globo, algo que “reabriu feridas já superadas pelo autor e reacendeu a desconfiança da sociedade quanto a sua índole”. É possível que, fosse o tema abordado mais próximo do acontecimento em si, a decisão da Quarta Turma do STJ fosse diferente. Também é deixado claro que o julgamento, por mais transversal e abrangente que seja, se refere apenas a mídia televisiva; no caso de propagação de informação pela internet, por exemplo, teriam de ser levados em conta muitos outros aspectos como a circulação internacional do conteúdo, o que envolve o tema de soberania dos Estados.
Um caso de processo por direito ao esquecimento que ficou internacionalmente conhecido e é frequentemente utilizado como referência em casos semelhantes – o caso Google Spain vs. Mário Costeja Gonzáles – é um bom exemplo das diferenças entre a mídia televisiva e a internet. Ao procurar o nome de Mário Costeja Gonzáles no mecanismo de pesquisa Google, um dos primeiros resultados levava a um artigo de 1998 do jornal espanhol La Vanguardia a respeito de uma dívida previdenciária do mesmo que levou ao leilão do imóvel de Mário e sua esposa; mesmo após a quitação da dívida e anos entre a notícia e a situação atual do autor do processo, este ainda era um dos primeiros resultados à busca do nome de Mário na ferramenta Google, o que acarretou em constrangimento social e profissional. Em 2014 o Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu a favor de Mário, condenando o Google a retirar os links relacionados à noticia de seus sistemas de busca.
Duas discussões importantes surgiram desta sentença: por conta da decisão de Mário de exercer seu direito ao esquecimento todos agora sabem quem ele é e que ele teve em 1998 uma séria dívida previdenciária (algo conhecido como o paradoxo do direito ao esquecimento: seu exercício pode gerar ainda mais lembrança do que se queria manter esquecido). Além disso, entra em cena uma famosa frase a respeito da internet frequentemente empregada para ensinar jovens sobre seus perigos: uma vez na internet, sempre na internet. O mecanismo do Google realmente retirou o link que causou por tantos anos constrangimento à Mário, mas em seu lugar surgiram centenas de resultados referentes ao seu processo na justiça espanhola – resultados estes que também mencionam a dívida previdenciária e o leilão do imóvel. No caso de Jurandir Gomes de França vs. Globo Comunicações e Participações S/A, o modo de propagação ser a mídia televisiva fez uma grande diferença no resultado objetivo e subjetivo da ação.

Outros materiais