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2 Apresentação 3 Apresentação Neste início de século, em que o mundo vem passando por um importante processo de reorganização, a questão ambiental tenta resgatar sua essência frente às relações sociedade/natureza. A compreensão tradicional das relações entre a sociedade e a natureza desenvolvidas até o século XIX, vinculadas ao processo de produção capitalista, considerava o homem e a natureza como pólos excludentes, tendo subjacente a concepção de uma natureza objeto, fonte ilimitada de recursos à disposição do homem. Até então se acreditava que o crescimento econômico não tinha limites e que o desenvolvimento significava dominar a natureza e os homens. Entretanto, nos anos 60/70 percebeu-se que os recursos naturais são esgotáveis e que o crescimento sem limites começava a se revelar insustentável. Nesse contexto, emerge a necessidade de se elegerem novos valores e paradigmas capazes de romper com a dicotomia sociedade/natureza. Este documento é composto de notas de aulas da disciplina “Introdução à Engenharia Ambiental” do Curso de Engenharia Civil do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará. O documento apresenta os avanços ocorridos nos últimos anos que se seguiram desde a implantação de uma política de gestão ambiental no Brasil e no Ceará, no contexto da evolução legal e institucional da Política Nacional de Meio Ambiente, bem como as ações realizadas nos principais setores envolvidos com a questão ambiental. Pretendemos com esta publicação contribuir para a formação da consciência dos nossos alunos, de que os recursos ambientais são limitados, dotado de valor econômico e, assim, para sua utilização, devem ser observados os princípios de ética e eficiência, procurando-se eliminar o desperdício e a poluição. 4 Sumário 5 Sumário 1. FUNDAMENTOS DE MEIO AMBIENTE ......................................................... 011 1.1. DEFINIÇÕES IMPORTANTES EM MEIO AMBIENTE .................................... 011 1.2. DATAS IMPORTANTES PARA O MEIO AMBIENT ....................................... 015 2. A CRISE AMBIENTAL ................................................................................. 020 2.1. CAUSAS ........................................................................................... 020 2.2. POLUIÇÃO ......................................................................................... 021 2.2.1. Conceito ................................................................................... 021 2.3. POLUIÇÃO AMBIENTAL ....................................................................... 021 2.4. O HOMEM CAUSA POLUIÇÃO AMBIENTAL ............................................... 022 2.5. CONSEQÜÊNCIA DA POLUIÇÃO AMBIENTAL ........................................... 023 2.6. MODALIDADES DA POLUIÇÃO AMBIENTAL ............................................. 023 2.7. MODALIDADES CITADAS EM BIBLIOGRAFIA ESPECIALIZADA ................... 023 3. SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL ............................................................. 025 3.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 025 3.2. GESTÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL ................................................... 025 3.3. RELAÇÕES COM O MEIO EXTERNO ........................................................ 032 3.4. INTRODUÇÃO SOBRE SGA ................................................................... 038 3.5. O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL COMO PARTE INTEGRANTE DA GESTÃO GLOBAL DA EMPRESA ..................................... 038 3.5.1. Objetivo ................................................................................... 038 3.6. ASPECTOS AMBIENTAIS IMPORTANTES PARA UM SGA ............................ 039 3.7. PRINCÍPIOS IMPORTANTES PARA UM SGA ............................................ 040 4. RECURSO ÁGUA ........................................................................................ 043 4.1. DISPONIBILIDADE E USOS DA ÁGUA .................................................... 043 4.2. PROPRIEDADE DA ÁGUA ...................................................................... 046 4.3. INDICADORES DE QUALIDADE DA ÁGUA ............................................... 049 4.3.1. Indicadores de Qualidade Física ................................................... 049 4.3.2. Indicadores de Qualidade Biológica .............................................. 053 4.4. PADRÕES DA QUALIDADE DA ÁGUA ...................................................... 054 4.4.1. Classificação das Águas .............................................................. 054 4.4.2. Padrões de Potabilidade .............................................................. 057 4.4.3. Padrões de Balneabilidade .......................................................... 060 4.4.4. Água para Irrigação ................................................................... 062 6 4.5. POLUIÇÃO DA ÁGUA ........................................................................... 065 4.5.1. Fontes de Poluição da Água ......................................................... 065 4.5.2. Conseqüências da Poluição da Água ............................................. 067 4.5.3. Principais Impactos dos Lançamentos de Esgotos nos Corpos D'Água 071 4.5.3.1. Consumo de Oxigênio .................................................... 072 4.5.3.2. Demanda de Oxigênio .................................................... 079 4.5.3.3. Eutrofização .................................................................. 082 4.5.3.4. Contaminação por Microrganismos................................... 084 4.5.4. Controle da Poluição da Água ...................................................... 085 4.5.5. Diagnóstico da Situação Existente ................................................ 086 4.5.5.1. Definição da Situação Desejável ...................................... 091 4.5.5.2. Medidas de Controle ...................................................... 093 4.5.5.3. Programas de Acompanhamento ..................................... 099 4.5.5.4. Suporte Institucional e Legal ........................................... 100 5. RECURSO SOLO ......................................................................................... 103 5.1. CARACTERÍSTICAS ............................................................................. 103 5.2. DEGRADAÇÃO DO SOLO ...................................................................... 105 5.2.1. Salinização do Solo .................................................................... 107 5.2.2. Erosão do solo ........................................................................... 108 5.2.3. Controle da Erosão do Solo ......................................................... 113 5.3. POLUIÇÃO DO SOLO ...........................................................................117 5.3.1. Poluição por Fertilizantes ............................................................ 117 5.3.2. Poluição por Pesticidas ............................................................... 118 5.3.3. Poluição por Resíduos Sólidos e Esgotos ....................................... 121 5.3.4. Controle da Poluição do Solo ...................................................... 123 6. O ECOSSISTEMA DO AR – A ATMOSFERA .................................................. 127 6.1. INTRODUÇÃO .................................................................................... 127 6.2. COMPONENTES DO AR ....................................................................... 127 6.3. PRINCIPAIS COMPONENTES A TMOSFÉRICOS ....................................... 128 6.3.1. O Oxigênio (O2) ........................................................................ 128 6.3.2. O Gás Carbônico (CO2) ............................................................... 129 6.4. OS ESTRATOS ATMOSFÉRICOS............................................................. 130 6.5. DESLOCAMENTO DO AR ATMOSFÉRICO ................................................. 131 6.6. QUESTIONARIO .................................................................................. 133 6.7. AGENTES POLUIDORES A TMOSFERICOS ............................................... 133 6.7.1. Compostos Nitrogendos, Óxidos de Nitrogênio (NOx) ...................... 134 6.7.2. Óxidos de Carbono (CO3, CO2) ..................................................... 134 6.7.3. Compostos Sulfurosos (SO2, H2S) ................................................ 136 7 6.8. OUTROS POLUENTES .......................................................................... 137 6.8.1. Flúor (F) ................................................................................... 137 6.8.2. Hidrocarbonetos ........................................................................ 137 6.8.3. Ozônio (O3) ............................................................................... 138 6.8.4. Chumbo (Pb) ............................................................................. 138 6.8.5. Material Particulado ................................................................... 138 6.9. FENÔMENOS AMBIENTAIS DECORRENTES DE POLUENTES ATMOSFÉRICOS 139 6.9.1. Os Clorofluorcarbonos e a Camada de Ozônio ................................ 139 6.9.2. Chuva Ácida .............................................................................. 140 6.9.3. Smog Fotoquímico ..................................................................... 140 6.10. CONDICIONANTES ATMOSFÉRICOS INTERVENIENTES NA POLUIÇÃO DO AR ............................................................................. 141 6.10.1. Inversão Térmica................................................................... 141 6.10.2. Ventos ................................................................................. 142 6.10.3. Chuvas ................................................................................. 142 6.10.4. Temperatura ......................................................................... 142 6.11. CONTROLE DAS EMISSÕES POLUIDORAS............................................. 142 6.11.1. Processos usados para a Retenção de Poluentes ........................ 142 6.11.1.1. Retenção de Material Particulado ............................... 142 6.11.1.2. Retenção de Resíduos Gasosos .................................. 143 7. RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................................................. 145 7.1. INTRODUÇÃO ..................................................................................... 145 7.2. DEFINIÇÃO ........................................................................................ 148 7.3. CLASSIFICAÇÃO DO LIXO .................................................................... 149 7.3.1. Fatores que influenciam na origem e formação do lixo .................... 149 7.4. TÉCNICAS DE DESTINAÇÃO DO LIXO .................................................... 150 7.4.1. Aterro Sanitário ......................................................................... 150 7.4.1.1. Vantagens dos Aterros Sanitários .................................... 150 7.4.1.2. Desvantagens dos Aterros Sanitários ............................... 151 7.4.2. Incineração ............................................................................... 151 7.4.2.1. Vantagens da Incineração .............................................. 152 7.4.2.2. Desvantagens da Incineração.......................................... 152 7.5. COMPOSTAGEM .................................................................................. 153 7.5.1. Classificação da Compostagem .................................................... 153 8. CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL – ISO 9000 ................................................... 156 8.1. PASSOS DE IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE ISO SÉRIE 9000 .................................................................................. 156 8 8.2. CONVENCIMENTO DA DIREÇÃO ............................................................ 156 8.2.1. Escolha do Coordenador de Implementação (Gerente ou Coordenador do Projeto)........................................... 157 8.2.2. Avaliação da Situação Atual ........................................................ 160 8.2.3. Elaboração do Cronograma de Trabalho ........................................ 161 8.2.4. Planejamento Estratégico ........................................................... 164 8.2.5. Unificação Conceitual nos Vários Níveis......................................... 165 8.2.6. Definição e Mapeamento de Processos .......................................... 166 8.2.7. Formação e Implementação dos Grupos de Trabalho ...................... 167 8.2.8. A Primeira "Vassourada" (Housekeeping) ...................................... 168 8.3. ELABORAÇÃO DO MANUAL DA QUALIDADE ............................................ 169 8.3.1. Uma Nota de Alerta.................................................................... 169 8.3.2. Algumas Notas sobre Projeto da Documentação ............................ 170 8.3.3. O Manual da Qualidade ............................................................... 171 8.4. ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DOS DEMAIS DOCUMENTOS ................ 173 8.4.1. Implementação ......................................................................... 174 8.5. FINALIDADE, ORGANIZAÇÃO E CONTROLES DOS REGISTROS (DA QUALIDADE) .............................................................. 178 8.5.1. Implementação do Manual da Qualidade ....................................... 179 8.6. AUDITORIAS INTERNAS DA QUALIDADE ................................................ 180 8.6.1. Informação Básica sobre Auditorias da Qualidade .......................... 181 8.6.2. Auditor ..................................................................................... 184 8.6.3. Treinamento de Auditores Internos .............................................. 185 8.6.4. Condução das Auditorias Internas da Qualidade ............................. 186 8.7. TREINAMENTO DE SUPORTE ................................................................ 188 8.8. IMPLEMENT ANDO O PROCESSO DE ANALISE E MELHORIA ...................... 188 8.9. PRÉ- AUDITORIA (PRE- ASSESSMENT) .................................................. 1918.10. ASPECTOS DE PREPARAÇÃO DO CONTRATO E AVALIAÇÃO PRÉ-CONTRATUAL ............................................................ 192 8.10.1. Preparação do Contrato .......................................................... 193 8.10.2. Auditoria de Certificação ......................................................... 193 8.10.2.1. Certificação da Qualidade .................................................... 193 8.10.2.2. Esquemas de Auditoria e Certificação da Qualidade no Mundo .. 198 8.10.2.3. Realização da Auditoria de Certificação .................................. 199 8.11. MANUTENÇÃO DO SISTEMA DE GESTÃO DA QUALIDADE ....................... 202 9. CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL – ISO 14000 ................................................. 208 9.1. PANORAMA DA DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE ................................. 208 9.2. EVOLUÇÃO DOS CONCEITOS E PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO AMBIENTAL 208 9 9.3. DEFINIÇÃO ........................................................................................ 209 9.4. ESTRUTURA DA NORMA NBR ISO 14001 ................................................ 210 9.5. DETALAHAMENTO IMPLANTAÇÃO SGA ................................................... 210 9.6. PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO .............................................................. 214 10. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ................................................................. 216 10.1. LICENÇA AMBIENTAL ......................................................................... 216 10.2. TIPOS DE LICENÇA ........................................................................... 216 10.2.1. Licença Prévia ....................................................................... 216 10.2.2. Licença de Instalação ............................................................. 217 10.2.3. Licença de Operação .............................................................. 217 10.3. ESTUDOS AMBIENTAIS ...................................................................... 217 10.3.1. Estudo de Impacto Ambiental - EIA e respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA ................................... 218 11. IMPACTO AMBIENTAL ............................................................................. 221 11.1. CONCEITOS ..................................................................................... 221 11.2. EMPREENDIMENTOS SUJEITOS A ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL ....... 223 11.3. COMPONENTES DE UM ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL ...................... 226 11.3.1. Informações Gerais ................................................................ 228 11.3.2. Caracterização do Empreendimento ......................................... 228 11.3.3. Áreas de Influência ................................................................ 228 11.3.4. Diagnóstico Ambiental ............................................................ 228 11.3.4.1. Qualidade Ambiental ................................................ 228 11.3.4.2. Fatores Ambientais .................................................. 229 11.3.5. Análise dos Impactos Ambientais ............................................. 229 11.3.6. Proposição de Medidas Mitigadoras .......................................... 230 11.3.7. Programa de Acompanhamento e Monitoramento dos Impactos .. 230 11.4. O RELATÓRIO DE IMPACTO AMBIENTAL (RIMA) .................................... 230 11.5. MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS .......................... 232 11.6. EXEMPLOS DE IMPACTOS AMBIENTAIS DE ALGUNS EMPREENDIMENTOS .............................................................. 235 11.6.1. Impactos Ambientais de Obras Hidráulicas ................................ 235 11.6.2. Impactos Ambientais de Projetos de Irrigação ........................... 238 11.6.3. Impactos Ambientais da Geração de Energia ............................. 239 11.6.4. Impactos Ambientais da Execução de Aterros Sanitários ............. 245 11.6.5. Impactos Ambientais de Obras Rodoviárias ............................... 245 11.6.6. Impactos Ambientais da Mineração .......................................... 249 10 Capítulo I Fundamentos de Meio Ambiente 11 Capítulo I – Fundamentos de Meio Ambiente 1. FUNDAMENTOS DE MEIO AMBIENTE 1.1. DEFINIÇÕES IMPORTANTES EM MEIO AMBIENTE Ação Corretiva - Ação realizada para corrigir e eliminar, as causas de não conformidades associadas aos impactos ambientais verificados. Ação Preventiva - Ação realizada para corrigir e eliminar, potenciais causas de não conformidades associadas aos impactos ambientais verificados. Ambiente - Envolvente na qual uma organização opera incluindo ar, água, o solo, os recursos naturais, a fauna, a flora, os seres humanos e as suas inter-relações. Aspecto Ambiental - Elemento das atividades, produtos ou serviços de uma organização que possa interagir com o meio ambiente. Auditoria do Sistema de Gestão Ambiental - Processo de verificação, sistemático e documentado executado para obter e avaliar, de forma objetiva, evidências que determinem se o sistema de gestão de uma organização está em conformidade com os critérios de auditoria do sistema de gestão ambiental estabelecidos pela organização, e para comunicação dos resultados deste processo à Direção. Auditado - Organização a ser auditada. Auditor Ambiental - Pessoa que possui qualificação para realizar auditorias ambientais. 12 Auditor Ambiental Coordenador - Pessoa qualificada para coordenar e realizar auditorias ambientais. Comportamento Ambiental - O resultado da gestão dos aspectos ambientais de uma organização. Critério de Auditoria - Política, práticas ou procedimentos com os quais o auditor compara as evidências de auditoria recolhidas sobre uma determinada matéria. Desempenho Ambiental - Resultados mensuráveis do sistema de gestão ambiental, relacionados com o controlo de uma organização sobre os seus aspectos ambientais, baseados na sua política, objetivos e metas ambientais. Equipa Auditora - Auditor ou grupo de auditores designado(s) para efetuar uma determinada auditoria, podendo igualmente incluir peritos técnicos e auditores em formação. Um dos auditores da equipa auditora assume a função de auditor coordenador. Evidência - Informação, registro ou documentação verificável de um fato. Pode ser qualitativa ou quantitativa e usada pelo auditor para determinar a conformidade. As evidências são baseadas em entrevistas, avaliação de documentos, observação de atividades e condições, resultados de medições e testes ou outros meios dentro do âmbito da auditoria. Impacto Ambiental - Qualquer alteração no meio ambiente, adversa ou benéfica, resultante, total ou parcialmente, das atividades, produtos ou serviços de uma organização. Levantamento Ambiental - Análise inicial exaustiva das questões, aspectos, impactos e comportamentos ambientais relacionados com as atividades de uma organização. 13 Licenciar – Licenciar uma atividade ou empreendimento, significa fazer uma avaliação dos processos tecnológicos, parâmetros ambientais e sócios econômicos, para estabelecimento de condições, restrições e medidas de controle que deverão ser adotadas pelo empreendedor, com vistas à conservação,defesa e melhoria da qualidade ambiental e o ordenamento territorial do Estado. Licenciamento Ambiental – procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental licencia a localização, instalação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. Medidas Mitigadoras – ações ou programas utilizados para minimizar os impactos de um projeto ou de um empreendimento. Melhoria Contínua - Processo de aperfeiçoamento do sistema de gestão ambiental, por forma a atingir melhorias no desempenho ambiental global, de acordo com a política ambiental da organização. Meta Ambiental - Requisito de desempenho pormenorizado, quantificado quando possível, aplicável à organização ou a partes desta, que decorre dos objetivos ambientais e que deve ser estabelecido e concretizado de modo a que sejam atingidos esses objetivos. Monitoramento - Medida, de controle e avaliação de diversos parâmetros e fatores. Não Conformidade - O não cumprimento dos requisitos especificados para o referencial tido em conta na realização da auditoria ambiental. 14 Objetivo Ambiental - Finalidade ambiental geral, decorrente da política ambiental, que uma organização se propõe atingir e que é quantificada, sempre que possível. Organização - Companhia, sociedade, firma, empresa, autoridade ou instituição, parte ou combinação destas, de responsabilidade limitada ou com outro estatuto, públicas ou privadas, que tenha a sua própria estrutura funcional e administrativa. Parte Interessada - Indivíduo ou grupo interessado ou afetado pelo desempenho ambiental de uma organização. Perito Técnico - Pessoa que fornece à equipa auditora os seus conhecimentos técnicos ou experiência, mas que não participa nessa equipa como auditor. Política Ambiental - Declaração da organização relativa ás suas intenções e seus princípios relacionados com o seu desempenho ambiental geral, que proporciona um enquadramento para a atuação e para a definição dos seus objetivos e metas ambientais. Prevenção da Poluição - Utilização de processos, práticas, materiais ou produtos que evitem, reduzam ou controlem a poluição; que podem incluir reciclagem, tratamento, alterações de processo, mecanismos de controlo, utilização eficiente de recursos e substituição de materiais. Obs.: Os benefícios da prevenção da poluição incluem a redução de impactos ambientais adversos, eficiência e a redução de custos. Probabilidade - A incidência de ocorrência de um impacto ambiental originado pelas atividades, produtos ou serviços de uma organização. 15 Risco Ambiental – O efeito combinado da probabilidade da ocorrência de um acontecimento não desejado e a gravidade ou severidade das suas conseqüências em termos ambientais. Sistema Ambiental – À parte de um sistema global de gestão, que inclui estrutura organizacional, atividades de planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para desenvolver, implementar, alcançar, rever e manter a política ambiental. 1.2. DATAS IMPORTANTES PARA O MEIO AMBIENTE Anos 1500 – Chegada dos portugueses no litoral brasileiro. 1505 – Inicia a comercialização de pau-brasil, no início um monopólio da coroa portuguesa. Em seguida participa a Inglaterra, a França, a Espanha e a Holanda. 1542 – A primeira Carta Régia do Brasil estabelece normas disciplinares para o corte de madeira e determina punições para os abusos que vinham sendo cometidos. 1557 – Publicado na Alemanha, o livro de Hans Stadem, que descreve sua viagem pelo Brasil e responsabiliza os índios brasileiros pela devastação da natureza, citando os manejos adotados – derrubada da mata, uso do fogo, práticas agrícolas, de caça, da pesca etc. 1827 – Carta de Lei de Outubro, do império, delega poderes aos juízes de paz das províncias para a fiscalização das matas. 1849 – Henry Wallce Batea, Inglês, percorre a Amazônia e recolhe 8 mil espécies de plantas e animais. A sua coleção, levada, a Inglaterra, subsidia Charles Darwin nos seus estudo. 16 1850 – D. Pedro edita a lei 601, proibindo a exploração florestal em terras descobertas e dando poderes às províncias, para sua aplicação. Na época a lei é ignorada e verifica-se uma grande devastação de florestas (desmatamentos pelo fogo) para a instalação de monocultura – café – para alimentar as exportações brasileiras. 1859 – Lançado o livro A origem das Espécies de Charles Darwin. 1869 – O biólogo alemão Ernt Heckel (1834-1919) propõe o vocábulo <<ecologia>> para os estudos das relações entre as espécies e o seu meio ambiente. Já em 1866 este biólogo sugere, em sua obra Morfologia Geral dos Organismos, a criação de uma nova disciplina para estudar tais relações. 1864 – A princesa Izabel autoriza a operação da primeira empresa privada especializada em corte de madeira. O ciclo econômico do pau-brasil encerra-se em 1875 com o abandono das matas exauridas. 1891 – A constituição brasileira promulgada não trata, nem mesmo superficialmente, de qualquer questão ligada à preservação das nossas matas – então sob forte pressão extrativista pelos europeus – e da nossa fauna. 1896 – É criado o primeiro parque no Brasil: Parque estadual da cidade de São Paulo. 1908 – Conservação passa a ser tema na política americana e é introduzida nas escolas daquele país. 1934 – criação do Código florestal de 1931. Em decorrência, é criada a primeira unidade de conservação do Brasil, o parque Nacional de Itatiaia. 17 1947 – É criada na Suíça a “União Internacional para a Conservação da natureza” (IUNCN). É considerada a organização conservacionista mais importante até a criação do Programa das Nações Unidas para o meio Ambiente (PNUMA), em 1972. Anos 50 – A População do Planeta – 2,5 bilhões habitantes. 1958 – Criação da Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza – FBCN. Anos 60 – Preocupações com a poluição da água e do ar e com o desmatamento – surgem os primeiros movimentos ambientalistas. Clube de Roma – reunião de cientistas que fizeram modelos matemáticos sobre os riscos de crescimento contínuo. Anos 70 – Regulamentação e Controle Ambiental Poluir passa a ser crime em diversos países. 1972 – 1ª Conferência Mundial Sobre Meio Ambiente (Estocolmo). Denunciada a relação entre deterioração ambiental e pobreza. 1974 – Realiza-se em Haia, Holanda, o primeiro Congresso Internacional de Ecologia. 1977 – Criação de cursos voltados à área ambiental em várias universidades brasileiras. 14 a 26 de outubro, “Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental”, Conferência de Tibilisi, organizada pela UNESCO. Considerada em nossos dias, como o evento mais decisivo para os rumos da EA em todo o mundo. 18 Anos 80 – Constatação da destruição da camada de ozônio e efeito estufa. 1981 – Criação da “Política Nacional de Meio Ambiente” – Lei n o 6.938, de 31 de agosto de 1981. 1986 - 26 de abril de 1986 - explosão no reator no 4 da usina de Chernobyl na ex-União Soviética. Em 5 de outubro de 1988 - promulgada a Constituição da República Federativa do Brasil – contendo um capítulo sobre o meio ambiente. Anos90 – Conferência Mundial Sobre Meio Ambiente (Rio 92) – Agenda 21. Discussão sobre escassez de matérias-primas não renováveis. Racionalização da energia, água, reciclagem e combate ao desperdício. 1977 – Protocolo de Quioto – metas para redução de emissões gasosas. Normas Verdes – BS 7750 e ISO 14000. Ano 2003 – Ano Internacional da Água doce. 19 Capítulo II A Crise Ambiental 20 Capítulo II – A Crise Ambiental 2. A CRISE AMBIENTAL Até a década de 1960 os problemas ambientais eram um tema restrito a um pequeno grupo de ecologistas, pois eram preocupações consideradas próprias de visionários idealistas, que não faziam parte dos problemas concretos da sociedade. No início tínhamos apenas uma percepção dos efeitos ambientais localizados de determinadas atividades, mas hoje praticamente toda a humanidade reconhece a gravidade da crise ambiental, que alcançou uma escala planetária, decorrente não de ações irresponsáveis de alguns, mas reflexo do modelo de desenvolvimento. Diferentes causas foram apontadas para explicar essa dinâmica de degradação, tais como: o incremento populacional, a moderna indústria e o consumismo supérfluo, os sistemas de dominação hierárquicos próprios da sociedade industrial, o sistema capitalista, a distribuição de riquezas entre países e de populações. Praticamente todas as correntes da economia ecológica são consensuais em dois pontos: a contradição entre as limitações dos recursos naturais, em contraposição a uma sociedade de consumo de expectativas ilimitadas, e a compreensão de que os reflexos ambientais das atividades econômicas se caracterizam como externalidades negativas, no sentido econômico do termo. Nessa perspectiva os recursos naturais foram ficando escassos devido à poluição em alguns setores. 2.1. CAUSAS Crescimento Populacional A população mundial cresceu de 2,5 bilhões em 1950 para 6 bilhões no ano de 2000 e, atualmente, a taxa de crescimento está em aproximadamente 1,3 por cento ao ano. 21 Anos 50 – População do Planeta – 2,5 bilhões habitantes Em 2000 – 6 bilhões. Taxa de crescimento – 1,3 por cento ao ano. 230 nações nos 5 continentes. 20% da população total países desenvolvidos. 80% da população total países em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Em 1950 países desenvolvidos – 32% da população mundial. 1998 países desenvolvidos – 20% da população mundial. 2050 países desenvolvidos – 13% da população mundial. A partir da revolução industrial, a tecnologia proporcionou uma redução da taxa. 2.2. POLUIÇÃO 2.2.1. Conceito Qualquer alteração indesejável nas características físicas, químicas ou biológicas da atmosfera, litosfera ou hidrosfera que cause ou possa causar prejuízo á saúde, à sobrevivência ou às atividades dos seres humanos e outras espécies ou ainda deteriorar materiais. Lei no 6.938 de 31 de agosto de 1981 – Política Nacional de Meio Ambiente. 2.3. POLUIÇÃO AMBIENTAL “Degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: 1. Prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; 2. Criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; 22 3. Afetem desfavoravelmente a biota; 4. Afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; 5. Lancem matéria ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Resulta do lançamento ou liberação, em um ambiente, de matéria ou energia, em quantidade ou intensidade tais que o tornem impróprio às formas de vida que ele normalmente abriga, ou prejudiquem os seus usos. Poluição qualquer alteração de um ambiente (ar, água ou solo), que resultem em prejuízos aos organismos vivos ou prejudiquem um uso previamente definido para ele. Contaminação um ambiente está contaminado quando o seu estado de poluição pode provocar doenças no homem. Está associada às doenças que o ambiente pode ocasionar. 2.4. O HOMEM CAUSA POLUIÇÃO AMBIENTAL Lançamento de resíduos de seu próprio processo biológico. (dejetos) Resultante de suas atividades nas formas sólidas. (lixo) Forma líquida. (esgotos) Forma gasosa ou de energia. (calor, som, radioativo) 23 2.5. CONSEQÜÊNCIA DA POLUIÇÃO AMBIENTAL Prejuízo à saúde humana (transmissão de doenças). Danos à fauna e flora. Prejuízos materiais. Prejuízos às atividades sociais, econômicas e culturais. Desfiguração da paisagem. Desvalorização de áreas. 2.6. MODALIDADES DA POLUIÇÃO AMBIENTAL Poluição do solo. Poluição da água. Poluição do ar. Poluição sonora. 2.7. MODALIDADES CITADAS EM BIBLIOGRAFIA ESPECIALIZADA Poluição térmica. Poluição visual. Poluição radioativa. 24 Capítulo III Sistema de Gestão Ambiental "A gestão do meio ambiente em uma empresa deve estar bem integrada com os demais setores que regem seus negócios". 25 Capítulo III – Sistema de Gestão Ambiental 3. SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL 3.1. INTRODUÇÃO A gestão das questões ambientais em uma empresa já é reconhecida como uma função organizacional independente e necessária, com características próprias que a distinguem das funções segurança, relações industriais, relações públicas e outras mais com as quais interage. Com a disseminação dos conceitos de garantia de qualidade e qualidade total, a Gestão Ambiental passou a ocupar uma posição de destaque entre essas funções organizacionais, não somente pela contribuição positiva que agrega à imagem de qualidade da empresa, como também pelos efeitos danosos que um mau desempenho ambiental pode causar a essa imagem. A qualidade ambiental tornou-se, assim, parte da qualidade totall almejada pela empresa e desempenha, portanto, papel importante na estruturação de sua imagem. 3.2. GESTÃO DA QUALIDADE AMBIENTAL A Gestão Ambiental consiste de um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos introduzidos por um empreendimento sobre o meio ambiente. O ciclo de atuação da Gestão Ambiental, para que essa seja eficaz, deve cobrir, portanto, desde a fase de concepção do projeto até a eliminação efetiva dos resíduos gerados pelo empreendimento depois de implantado, durante toda sua vida útil. Deve também assegurar a melhoria contínua das condições de segurança, higiene e saúde ocupacional de todos os seus empregados e um relacionamento sadio com os segmentos da sociedade que interagem com esse empreendimento e a empresa. A Figura 3.1 mostra, esquematicamente, o ciclo de aplicação da Gestão Ambiental na busca da melhoria contínua das condições ambientais em uma empresa. 26 IDENTIFICAR RISCOS DEFINIR OBJETIVOS ESTABELECER METAS REVER CORRIGIR APERFEIÇOAR TREINAR PREVINIR CONTROLAR MONITORAR AUDITAR AVALIAR 27 Figura 3.1 – Modelo de gestão ambiental objetivando a melhoria contínua. A Gestão Ambiental requer como premissa, um comprometimento da alta direção da empresa e de seus acionistas com o estabelecimento de uma Política Ambiental clara e definida que irá nortear as atividades da organização com relação ao meio ambiente. A Política Ambiental da empresa deve expressar, por conseguinte, seu compromisso ambiental formal, assumido perante a sociedade, definindo suas intenções e princípios com relação a seu desempenho ambiental. A definição de uma Política Ambiental própria é uma forma da empresa explicitar seus princípios de respeito ao meio ambiente e sua contribuição para a solução racional dos problemas ambientais. Ela deve fazer parte do planejamento estratégico da empresa e ser considerada sempre como um fator positivo na elaboração de seus planos de marketing. A Política Ambiental não deve ser encarada como um ônus, mas sim como uma ferramenta importante para o sucesso daquela empresa que, além de cumprir a lei, deseja firmar sua boa imagem. A empresa que decide implantar uma Política Ambiental deve estar preparada para rever suas normas de atuação e eliminar tradições muitas vezes arraigadas, submetendo-se a uma corajosa autocrítica. A Política Ambiental deve estabelecer os objetivos ambientais estratégicos da organização, a partir de um processo de discussão interna no qual participem seus dirigentes e funcionários. A partir de sua Política Ambiental, expressa por diretrizes e normas internas que deverão ser de conhecimento de todos os seus empregados diretos, prestadores de serviço e colaboradores em geral, a empresa deve estabelecer seu planejamento ambiental comprometendo-se a: a) Manter um sistema de gestão ambiental que assegure que suas atividades atendam à legislação vigente e aos padrões estabelecidos pela empresa. Na falta de uma legislação específica, a empresa 28 deverá pautar-se pelas melhores práticas de proteção ambiental disponíveis. b) Estabelecer e manter um diálogo permanente com seus empregados e a comunidade, visando ao aperfeiçoamento de ações ambientais conjuntas. c) Educar e treinar seus funcionários para que atuem sempre de forma ambientalmente correta. d) Exigir de seus fornecedores produtos e componentes com qualidade ambiental compatível com a de seus próprios produtos. e) Desenvolver pesquisas e patrocinar a adoção de novas tecnologias que reduzam os impactos ambientais e contribuam para a redução do consumo de matérias-primas, água e energia. f) Assegurar-se de que seus resíduos são transportados corretamente e em segurança até o destino estabelecido, de acordo com as boas práticas ambientais. Tomando como ponto de partida princípios como esses, definidos pela Política Ambiental, serão estruturados, a seguir, o Sistema de Gestão Ambienta (SGA) da empresa que compreende as responsabilidades, práticas, procedimentos, processos e recursos para implementar e manter a Política Ambiental da empresa e seus objetivos. O SGA deve ter como objetivo o aprimoramento contínuo das atividades da empresa, através de técnicas que conduzam aos melhores resultados, em harmonia com o meio ambiente. O SGA constitui um primeiro passo obrigat6rio para a certificação da empresa nas normas da série ISO 14000 que possibilitarão incorporar a Gestão Ambiental na Gestão pela Qualidade Total. Nesse Sistema de Gestão Ambiental deve estar também incluída a gestão dos recursos hídricos e energéticos utilizados pela empresa, por serem, água e energia, dois insumos intimamente relacionados com a qualidade ambiental e 29 que tendem a se tornar cada vez mais escassos e, por conseqüência, mais onerosos em sua utilização futura. Também a segurança e a higiene do trabalho podem estar integradas no sistema, por constituírem temas que afetam o desempenho de seus operadores e a qualidade do ambiente de trabalho. Não se deve perder de vista que a implantação de um SGA pode também trazer como resultados, a curto prazo, a redução nos prêmios de ap6lices de seguros e o acesso a alguns financiamentos a taxas de juros preferenciais. Três devem ser os módulos a compor o Sistema de Gestão Ambiental da empresa: Planejamento, Gerenciamento dos Resíduos e Monitoramento. O planejamento deve estabelecer as prioridades e metas a serem atingidas e definir os montantes de recursos que deverão ser alocados a cada uma das atividades. O gerenciamento dos resíduos deve incluir o cadastramento e a classificação, quantitativa e qualitativa, de todos os resíduos gerados e estocados pela empresa, a fim de possibilitar escolha das melhores soluções técnicas e alternativas econômicas para a destinação de cada resíduo. Devem ser levantadas, para cada tipo de resíduo, a quantidade estocada, quantidade gerada mensalmente, composição, forma de acondicionamento e destinação atual. Uma análise química do resíduo permitirá estabelecer sua classificação e grau de periculosidade, de acordo com as normas vigentes. O monitoramento, terceiro módulo do sistema, visa a aferir os resultados obtidos com as diversas tecnologias escolhidas para o tratamento e disposição dos resíduos e otimizar as futuras ações a serem tomadas. Através da coleta de amostras e realização de análises, poderão ser controlados os padrões de qualidade alcançados, atendendo-se assim, ao mesmo tempo, as exigências dos órgãos de controle ambiental. O SGA é operacionalizado através de um Programa de Gestão Ambiental (PGA) que é um instrumento gerencial dinâmico e sistemático, com metas ambientais e objetivos a serem alcançados em intervalos de tempo definidos. Programas plurianuais são freqüentemente estabelecidos pelas grandes 30 empresas que os reavaliam e revisam a intervalos regulares de tempo. Para elaboração do PGA requer-se a identificação precisa dos processos, matérias- primas e insumos energéticos utilizados na instalação e dos resíduos sólidos, efluentes e emissões gerados. A Figura 3.2 mostra como interagem esses elementos na elaboração do PGA. Através do PGA se estabelecem as ações preventivas e corretivas identificadas pelas inspeções e auditorias, e se elabora o replanejamento de ações que assegurem padrões de Qualidade Ambiental compatíveis com a Política Ambiental da empresa. Para implementar o PGA deve ser designado um Gerente Ambiental, profissional que coordenará o tema meio ambiente no âmbito da empresa e em suas relações externas. Cabe esclarecer, todavia, que o Gerente Ambiental, por não ter poder sobre a produção e a geração de resíduos, não pode ser o responsável único pelo desempenho ambiental da empresa. 31 Figura 3.2 – Informações básicas para elaboração do Programa de Gestão Ambiental – PGA. 3 1 32 Sua função de coordenar e articular providências deverá ser exercida em estreita colaboração com os responsáveis pela produção, aos quais compete, em última instância, assegurar a observância dos principais aspectos da Política Ambiental. O Gerente Ambiental deve ter familiaridade com as tecnologias utilizadas na empresa, com a legislação ambiental e com as técnicas de análisee gerenciamento de riscos. Seu relacionamento com o órgão local de controle ambiental deve ser profissional e positivo, objetivando manter atualizado o licenciamento ambiental da empresa. É também muito importante que o Gerente Ambiental tenha acesso às decisões da empresa que possam afetar o cumprimento das metas e objetivos estabelecidos pelo PGA e que participe de suas revisões periódicas. Sua participação é também importante nas eventuais revisões que possam ser introduzidas na Política Ambiental e no Sistema de Gestão Ambiental, além de participar também dos programas de educação e conscientização ambienta I instituídos pela empresa. 3.3. RELAÇÕES COM O MEIO EXTERNO A Gestão Ambiental da empresa não pode resumir-se apenas a providências técnicas e atividades internas de relacionamento com seus empregados. É também importante que a empresa estabeleça e mantenha contatos externos com as comunidades vizinhas, órgãos de comunicação, autoridades e órgãos do poder público, entidades ambientalistas, sindicatos de classe, órgãos de segurança e da defesa civil, fornecedores, subcontratantes, consumidores, clientes, acionistas e o público em geral. O relacionamento da empresa com o meio externo que a cerca e com o qual deve interagir continuamente constitui uma parte fundamental de sua Política Ambiental. A síntese desse relacionamento está exposta na Figura 3.3 que mostra as interfaces da empresa com quatro setores do meio externo dos quais depende para atingir seus objetivos comerciais e sociais: 33 Mercado Sociedade Fontes de Tecnologia Organismos de Controle Ambiental Não foram incluídas, para facilitar a visualização gráfica, as vinculações da empresa com fornecedores, subcontratantes e empresas associadas, entidades com as quais a empresa interage e transfere, no seu dia-a-dia, as ações e pressões que recebe dos setores externos. As forças de mercado, atuando através da decisão do consumidor de comprar ou não um produto, exercem influência considerável sobre as decisões estratégicas de uma empresa. A Figura 3.4 mostra as inter-relações da imagem da empresa e de seus produtos com as ações necessárias para assegurar a Qualidade Ambiental e, através desta, seu bom posicionamento no mercado. As ações exercidas sobre a empresa pelos organismos de controle ambiental e as interações da empresa com o mercado, a sociedade e as fontes de tecnologia fazem parte de um sistema de forças cujo equilíbrio tem que ser metodicamente articulado e cuidadosamente mantido. 28 Figura 3.3 – Relacionamento Externo da Empresa. 3 4 35 Figura 3.4 – Influência do consumidor sobre a estratégia ambiental da empresa. 36 Para manter o sistema em equilíbrio, face ao papel desempenhado hoje em dia pelos movimentos comunitários e pela legislação ambiental, algumas condições são indispensáveis: a) A empresa deve expressar claramente seu compromisso com a Qualidade Ambiental, tornando públicos os princípios estabelecidos em sua Política Ambiental. b) Os objetivos a atingir e os resultados alcançados pela empresa através de seu PGA devem ser postos à disposição dos interessados. A empresa deve posicionar-se sempre de maneira receptiva a crítricas e sugestões. c) A empresa deve demonstrar comprometimento e competência na solução de seus problemas com resíduos e no controle de suas fontes de poluição, recorrendo, quando necessário, a fontes acreditadas de tecnologia e a organismos de pesquisa e desenvolvimento para dotarse das melhores soluções disponíveis. d) As autoridades responsáveis pela qualidade do meio ambiente na região devem receber toda colaboração da empresa, durante eventuais inspeções e visitas para coleta de amostras e informações. e) A empresa deve contribuir para a solução dos problemas ambientais da região, cooperando com as autoridades, órgãos da defesa civil e associações comunitárias, no controle de ocorrências e acidentes em que sua experiência no trato de problemas ambientais possa ser requerida e utilizada. f) Consumidores e processadores dos produtos da empresa devem receber informações adequadas sobre riscos potenciais no uso e na disposição do produto adquirido e sua respectiva embalagem. 37 g) O relacionamento com as comunidades vizinhas deve ser direto, franco e objetivo, orientado por um espírito de mútua aceitação e colaboração permanente. Deve-se implantar um programa "Fábrica Aberta", possibilitando a visita de interessados em conhecer suas instalações. A empresa deve informar sobre a localização e as principais características das instalações perigosas que poderiam causar acidentes capazes de afetar as propriedades e os ecossistemas locais. h) A empresa deve elaborar e divulgar planos de contingência para os casos de ocorrência de eventuais acidentes e dar alarme imediato, informações completas e assistência no caso de acidentes que ocorram. Por mais capaz e correta que seja no trato do meio ambiente, uma empresa não pode manter-se isolada do meio externo. Sua imagem perante a sociedade e sua credibilidade junto aos órgãos ambientais são fatores fundamentais para assegurar sua posição competitiva no mercado, do qual depende, em última instância, para sustentar suas operações e assegurar sua sobrevivência. E a maneira mais eficaz de externar essa postura de empresa comprometida com a qualidade de vida da comunidade e com o meio ambiente é promover a certificação de suas instalações e de seus produtos em conformidade com as normas ISO 14000. A implementação de um sistema de gestão ambiental (SGA) em uma empresa permite incluir os aspectos ambientais na estratégia da empresa, de uma forma organizada, sistemática e contínua. O SGA é parte do sistema global de gestão que inclui a estrutura funcional, responsabilidades, práticas, processos, procedimentos e recursos para a definição e realização da política de ambiente. 38 3.4. INTRODUÇÃO SOBRE SGA 3.5. O SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL COMO PARTE INTEGRANTE DA GESTÃO GLOBAL DA EMPRESA 3.5.1. Objetivo O SGA tem por objetivo promover a melhoria contínua do desempenho ambiental das empresas, através de uma avaliação periódica, sistemática e objetiva dos resultados obtidos e a disponibilização de informação ao público. Trata-se, portanto de atuar de uma forma mais organizada, mais pró-ativa e mais transparente, obtendo benefícios a nível econômico (redução dos consumos, dos custos relacionados com a poluição, dos riscos de responsabilidade ambiental, entre outros), à nível da imagem da empresa (com conseqüentes benefícios econômicos e de relacionamento com os consumidores e clientes, autoridades, etc.) e, evidentemente, a nível ambiental. As fases de implementação do SGA em uma empresa são: 39 • Compromisso da empresa e definição da política ambiental; • Realização do levantamento ambiental da empresa; • Estabelecimento de objetivos ambientais; • Definição e implementação do programa ambiental;• Elaboração de procedimentos, instruções de trabalho • Elaboração do manual de gestão ambiental; • Realização de auditoria ambiental interna; • Elaboração da declaração ambiental e pedido de verificação para registro no Sistema. 3.6. ASPECTOS AMBIENTAIS IMPORTANTES PARA UM SGA 1. Consumo de água 2. Consumo de energia 3. Consumo de matérias-primas 4. Utilização de substâncias perigosas 5. Produção de resíduos não perigosos 40 6. Produção de resíduos perigosos 7. Descarga de águas residuais 8. Emissões para a atmosfera externa 9. Emissões para a atmosfera interna 10. Emissão de calor para o ambiente interno 11. Emissão de ruído para o ambiente externo 12. Emissão de ruído para o ambiente interno 13. Contaminação do solo e águas subterrâneas 14. Desempenho de sub contratados e fornecedores 15. Concepção do Produto. 3.7. PRINCÍPIOS IMPORTANTES PARA UM SGA Princípio 1 Comprometimento e política Recomenda-se que uma organização defina sua política ambiental e assegure o comprometimento com o seu SGA. Princípio 2 Planejamento Recomenda-se que uma organização formule um plano para cumprir sua política ambiental. Princípio 3 Implementação Para uma efetiva implementação, recomenda-se que uma organização desenvolva a capacitação e os mecanismos de apoio necessários para atender sua política, seus objetivos e metas ambientais. Princípio 4 Medição e avaliação Recomenda-se que uma organização mensure, monitore e avalie seu desempenho ambiental. Princípio 5 Análise crítica e melhoria Recomenda-se que uma organização analise criticamente e aperfeiçoe continuamente seu sistema global. 41 42 Capítulo IV “Recurso Água” 43 Capítulo IV – “Recurso Água” 4. RECURSO ÁGUA 4.1. DISPONIBILIDADE E USOS DA ÁGUA Embora a maior parte do nosso planeta esteja coberta por água, somente uma pequena parcela da mesma é utilizável na grande maioria das atividades humanas, Os oceanos e mares constituem 97,2% da água existente na Terra, cobrindo 71% de superfície. Além disso, existem as água presentes na neve, nas geleiras, no vapor atmosférico, em profundidades não acessíveis, entre outras, que não são aproveitáveis. A quantidade de água livre sobre a Terra atinge 1.370 milhões de Km3. Dessa quantidade, apenas 0,6% de água doce líquida se torna disponível, naturalmente, correspondendo a 8,2 milhões de Km3. Desse vapor, somente 1,2% se apresentam sob forma de rios e lagos, sendo o restante (98,8%) constituído de água subterrânea, da qual somente situada abaixo de uma profundidade de 800 m, inviável para captação pelo homem. Assim, restam aproveitáveis 98.400 Km3 nos rios e lagos e 4.050.800 Km3 nos mananciais subterrâneos, o que corresponde a cerca de 0,3% do total de água livre do Planeta (SETTI, 1994). Em termos globais, a água disponível é muito superior ao total consumido pela população. No entanto, a distribuição é extremamente desigual e não está de acordo, na maioria dos casos, com a população e as necessidades para a indústria e a agricultura. A maior parte da Terra tem déficit de recursos hídricos, porque predomina a evaporação potencial sobre a precipitação (ARAÚJO, 1988). Além da má distribuição e das perdas, deve ser consultado da ação antrópica, tornando parte da água imprópria para diversos usos. Assim muitas regiões do mundo apresentam problemas relacionados com a água, seja pela escassez, ou seja, pela quantidade inadequada da mesma. 44 O homem utiliza a água para diversos fins, dela dependendo para sobreviver. Os usos da água podem sem consuntivos, quando há perdas entre o que é retirado e o que retorna ao sistema natural, e não consuntivos. São os seguintes os principais usos da água: Consuntivos: Abastecimento humano Abastecimento industrial Irrigação Dessedentação de animais Não Consuntivos: Recreação Harmonia paisagística Geração de energia elétrica Conservação da flora e fauna Navegação Pesca Diluição, assimilação e afastamento de despejos O consumo de água tende a crescer, com o aumento da população, o desenvolvimento industrial e outras atividades humanas. Cada vez mais se retira água dos mananciais e se produzem resíduos líquidos, os quais voltam para os recursos hídricos, alterando a sua qualidade. Para cada uso de água, há necessidade de que a mesma tenha determinada qualidade. A água para beber, por exemplo, deve obedecer a critérios mais rígidos do que a utilizada na reação ou para fins paisagísticos. A qualidade desejável para a água usada na irrigação varia em função dos tipos de culturas onde será aplicada, se alimentícia ou não. O mesmo acontece com a água destinada às indústrias, cujas características dependem dos tipos de processamentos e produtos das fábricas. 45 Alguns usos provocam alterações nas características da água, tornando-a imprópria para outras finalidades. A recreação pode modificar a qualidade da água, prejudicando o abastecimento humano. A irrigação, com o uso de fertilizantes e pesticidas, pode provocar a poluição de mananciais, causando prejuízos a outros usos. A água utilizada para diluir despejos, mesmo tratados, torna-se imprópria para consumo humano e para outros fins. Observa-seque há necessidade do manejo adequado dos recursos hídricos, compatibilizando-se os seus diversos usos, de forma a garantir a água na qualidade e na quantidade desejáveis aos diversos fins. Este é um dos grandes desafios da humanidade: saber aproveitar seus recursos hídricos, de forma a garantir os seus múltiplos usos, hoje e sempre. Em algumas regiões, há água em abundância, suficiente para suprir as necessidades da população e para diluir os resíduos líquidos resultantes dos diversos usos. Em outras, com características áridas ou semi-áridas, há escassez de água, muitas vezes até para fins mais nobres, como o abastecimento humano. No Brasil, por exemplo, na região semi-árida do Nordeste, em períodos longos de estiagem, a população de algumas áreas é obrigada a apanhar água, muitas vezes, a grandes distâncias, e de qualidade péssima. Em outras regiões do país, onde há relativa abundância de água, os problemas de poluição são graves, resultantes da urbanização, industrialização, mineração, irrigação, e outras atividades, havendo, muitas vezes, dificuldade de se obter água na qualidade adequada para determinados usos. Com isso, torna- se necessária a implantação de processos de tratamento mais rigorosos, o que se reflete no custo da água fornecida. Constata-se, assim, que no manejo dos recursos hídricos é importante considerar-se os aspectos de qualidade e quantidade da água. Os múltiplos usos desse líquido devem ocorrer de forma equilibrada, considerando as suas disponibilidades e a capacidade dos mananciais de diluir e depurar resíduos líquidos. 46 4.2. PROPRIEDADE DA ÁGUA A água possui propriedades que a caracterizam, diferenciando-a dos ambientes terrestre e aéreo, e que são responsáveis pela sobrevivência de grande variedade de animaise vegetais. Peso específico – o elevado peso específico da água, em relação ao do ar (cerca de 800 vezes maior), possibilita a existência, nesse ambiente, de uma fauna e flora próprias, que vivem em suspensão, compreendendo o plâncton. Os seres aquáticos têm estruturas não muito rígidas, não conseguindo sobreviver, se retirados do ambiente hídrico. Viscosidade – a resistência que a água oferece ao deslocamento ou atrito dos corpos em suspensão (viscosidade) é, também, bem mais elevada na água do que no ar, permitindo a existência de grande número de espécies animais e vegetais, microscópicas e macroscópicas. Esses organismos, integrantes do plâncton, conseguem sobreviver em suspensão no meio líquido, devido à sua viscosidade. Tensão superficial – a película de tensão superficial, existente no limite4 entre a água e o ar, tem grande importância, por várias razões: alguns organismos conseguem manter-se sobre a superfície da água devido à mesma (ex.: aves aquáticas); outros animais, de pequeno peso, conseguem sustentar-se sobre a película; outros organismos, como os insetos, reproduzem-se dependurados nessa película. A introdução de substâncias tenso-ativas na água (sabões e detergentes) causa a redução ou o rompimento da rigidez da película de tensão superficial, provocando alguns problemas, tais como o afundamento de aves e de outros organismos aquáticos e dificuldades à reprodução de alguns animais. Calor específico e Temperatura – o calor específico da água (quantidade de calor necessário para elevar de 1ºC a sua temperatura) é 47 muito alto. Assim, a água tem capacidade de absorver grandes quantidades de calor, sem que ocorram elevações bruscas de temperatura. Este é um fenômeno importante, pois proporciona que os imensos volumes de água dos oceanos absorvam grandes quantidades de calor durante o dia, devolvendo-as à noite, de forma que não ocorram elevadas variações de temperatura do ar atmosférico. A temperatura da água também varia pouco, e de forma lenta, durante o dia, garantindo a sobrevivência dos seres aquáticos. Mudanças na temperatura podem resultar em modificações em outras propriedades da água: A viscosidade da água reduz-se com a elevação da temperatura, podendo ocorrer o afundamento de muitos microorganismos aquáticos, principalmente do fitoplâncton. Reduções na temperatura da água causam o aumento da sua densidade. Esse fenômeno ocorre até a temperatura de 4º C, abaixo da qual a densidade diminui. A água possui densidade máxima a 4º C. Quanto maior a temperatura, menor o teor de oxigênio dissolvido na água. Oxigênio dissolvido – a sobrevivência dos organismos aeróbios, como os peixes, na água, depende da presença de oxigênio dissolvido, o qual provém do ar e da atividade de oxigênio fotossintética das algas e de outros vegetais aquáticos. Quanto maior for a agitação da água (velocidade, quedas d’água), maior quantidade de oxigênio será absorvida. Em águas paradas, é importante a transparência do líquido, pois, quanto mais elevada for a mesma, maior será a penetração da luz solar e, conseqüentemente, maior será produção fotossintética de oxigênio. 48 O teor de oxigênio da água depende da altitude e da temperatura. O QUADRO 5.1 contém valores de oxigênio dissolvido de saturação, na água, para diferentes temperaturas e altitudes. QUADRO 4.1. TEOR DE SATURAÇÃO DE OXIGÊNIO DISSOLVIDO NA ÁGUA DOCE, AO NÍVEL DO MAR, PARA DIFERENTES TEMPERATURAS (em mg/l) TEMPERATURA (º C) ALTITUDE (m) 0 250 500 750 1000 0 2 4 6 8 10 15 20 25 30 14,6 13,8 13,1 12,5 11,9 11,3 10,2 9,2 8,4 7,6 14,2 13,4 12,7 12,1 11,5 11,0 9,9 8,9 8,1 7,4 13,8 13,0 12,3 11,7 11,2 10,7 9,5 8,6 7,9 7,2 13,3 12,6 12,0 11,4 10,8 10,3 9,3 8,4 7,6 7,0 12,9 12,2 11,6 11,0 10,5 10,0 9,0 8,1 7,4 6,7 A saturação de oxigênio da água do mar é, em média, 20% inferior à da água doce, devido ao seu elevado de sais dissolvidos (DACACH, 1989). Transparência – Como já foi dito no item anterior, a transparência da água tem grande importância ecológica, pois, em função da mesma, os raios solares podem penetrar a maior ou menor profundidade, e, em função disso, pode ocorrer maior ou menor atividade fotossintética. A elevação da cor ou da turbidez da água causa a diminuição da sua transparência, reduzindo a fotossíntese e, em conseqüência, o teor de oxigênio dissolvido, causando impactos sobre os organismos aquátricos aeróbios. Gás carbônico – este gás desempenha, também, importante papel no meio ambiente, pois é indispensável à realização da fotossíntese. É introduzido na água a partir do meio aquático, ou da decomposição da matéria orgânica. 49 Sais minerais – os sais minerais são indispensáveis à atividade fotossintética das algas e de outros vegetais aquáticos. Esse s elementos (nitrogênio, fósforo, potássio) existem, geralmente, na água. Algumas atividades humanas resultam no lançamento de grandes quantidades desses sais, ocasionando o problema de eutrofização da água. Matéria orgânica – a matéria orgânica é utilizada na alimentação dos seres heterótrofos e como fonte de sais nutrientes e gás carbônico, para os autótrofos, após a decomposição bacteriana. A matéria orgânica n água origina-se, normalmente, da atividade fotossintetizante dos organismos autótrofos (ou produtores) ou da presença de folhas, solo carreado das margens, restos de animais, etc. O lançamento de resíduos na água pode aumentar bastante a quantidade de matéria orgânica, provocando desequilíbrios ecológicos, pois a sua elevação significa mais atividade de decomposição pelas bactérias aeróbias, com elevado consumo e conseqüente redução do oxigênio dom meio. 4.3. INDICADORES DE QUALIDADE DA ÁGUA A água contém, geralmente, diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente natural ou foram introduzidos a partir de atividades humanas. Para caracterizar uma água, são determinados diversos parâmetros, os quais representam as suas características físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros são indicadores da qualidade da água e constituem impurezas quando alcançam valores superiores aos estabelecidos para determinado uso. Os principais indicadores de qualidade da água são discutidos a seguir, separados sob os aspectos físicos, químicos e biológicos. 4.3.1. Indicadores de Qualidade Física Cor: Resulta da existência, na água, de substâncias em solução; pode ser causada pelo ferro ou manganês, pela decomposição da matéria 50 orgânica da água (principalmente vegetais), pelas algas ou pela introdução de esgotos industriais e domésticos. Turbidez: presença de matéria em suspensão na água, como argila, silte, substâncias finamente divididas, organismos microscópicos e outras partículas. Temperatura: medida da intensidade de calor; é um parâmetro importante, pois, como já comentado, influi em algumas propriedades da água (densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido), com reflexos sobre a vida aquática. Sabor e odor: resultam de causas naturais (algas; vegetação em decomposição; bactérias; fungos; compostos orgânicos, tais como sulfídrico, sulfatos e cloretos) e artificiais (esgotos domésticos e industriais). pH (potencial hidrogeniônico): representa o equilíbrio entre íons H+ e íons OH-; varia de 7 a 14; indica se uma água é ácida (pH inferiora 7), neutra (pH igual a 7) ou alcalina (pH maior do que 7); o pH da água depende de sua origem e características naturais, mas pode ser alterado pela introdução de resíduos; pH baixo torna a água corrosiva; água com pH elevado tendem a formar incrustações nas tubulações; a vida aquática depende do pH, sendo recomendável a faixa de 6 a 9. Alcalinidade: causada por sais alcalinos, principalmente de sódio e cálcio; mede a capacidade da água de neutralizar os ácidos; em teores elevados, pode proporcionar sabor desagradável a água; tem influência nos processos de tratamento da água. Dureza: resulta da presença, principalmente, de sais alcalinos terrosos (cálcio e magnésio) ou de outros metais bivalentes, em maior intensidade; em teores elevados, causa sabor desagradável e efeitos laxativos; reduz a formação da espuma do sabão, aumentando o seu 51 consumo; provoca incrustações nas tubulações e caldeiras. Classificação das águas, em termos de dureza (em CaCO3): < 50 mg/l CaCO3 – água mole entre 50 e 150 mg/l CaCO3 – água com dureza moderada entre 150 e 300 mg/l CaCO3 – água dura > 300 mg/l CaCO3 – água muito dura Cloretos: Os cloretos, geralmente, provêm da dissolução de minerais ou da intrusão de águas do mar; podem, também, advir dos esgotos domésticos ou industriais; em altas concentrações, conferem sabor salgado à água ou propriedades laxativas. Ferri e manganês: podem originar-se da dissolução de compostos do solos ou de despejos industriais; causam coloração avermelhada à água, no caso do ferro, ou marrom, no caso do manganês, manchando roupas e outros produtos industrializados; conferem sabor metálico à água; as águas ferruginosas favorecem o desenvolvimento das ferrobactérias, que causam mais odores e coloração à água e obstruem as canalizações. Nitrogênio: o nitrogênio pode estar presente na água sob várias formas: molecular, amônia, nitrito, nitrato,; é um elemento indispensável ao crescimento de algas, mas em excesso, pode ocasionar um exagerado desenvolvimento desses organismos, fenômeno chamado de eutrofização; o nitrato, na água, pode causar a metemoglobinemia; a amônia é tóxica aos peixes; são causas do aumento do nitrogênio na água: esgotos domésticos e industriais, fertilizantes, excrementos de animais. Fósforo: encontra-se na água nas formas de ortofosfato, polifosfato e fósforo orgânico; é essencial para o crescimento de algas, mas, em excesso, causa a autrofização; suas principais fontes são: dissolução de compostos do solo; decomposição da matéria orgânica; esgotos domésticos e industriais; fertilizantes; detergentes; excrementos de animais. 52 Fluoretos: os fluorestos têm ação benéfica de prevenção da cárie dentária; em concentrações mais elevadas, podem provocar alterações da estrutura óssea ou a fluorose dentária (manchas escuras nos dentes). Oxigênio Dissolvido (OD): é indispensável aos organismos aeróbios; a água, em condições normais, contém oxigênio dissolvido, cujo teor de saturação depende da altitude e da temperatura; águas com baixos teores de oxigênio dissolvido indicam que receberam matéria orgânica; a decomposição da matéria orgânica por bactérias aeróbias é, geralmente, acompanhada pelo consumo e redução do oxigênio dissolvido da água; dependendo da capacidade de autodepuração do manancial, o teor de oxigênio dissolvido pode alcançar valores muito baixos, ou zero, extinguindo-se os organismos aquáticos aeróbios. Matéria Orgânica: a matéria orgânica da água é necessária aos seres heterótrofos, na sua nutrição, e aos autótrofos, como fonte de sais nutrientes e gás carbônico; em grandes quantidades, no entanto, podem causar alguns problemas, como: cor, odor, turbidez, consumo do oxigênio dissolvido, pelos organismos decompositores. O consumo de oxigênio é um dos problemas mais sérios do aumento do teor de matéria orgânica, pois provoca desequilíbrios ecológicos, podendo causar a extinção dos organismos aeróbios. Geralmente são utilizados dois indicadores do teor de matéria orgânica na água: Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e Demanda Química de Oxigênio (DQO). A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): é a quantidade de oxigênio necessária à oxigenação da matéria orgânica, por ação de bactérias aeróbias. Representa, portanto, a quantidade de oxigênio que seria necessário fornecer às bactérias aeróbias, para consumirem a matéria orgânica presente em um líquido (água ou esgoto). A DBO é determinada em laboratório, observando-se o oxigênio consumido em amostras do líquido, durante 5 dias, à temperatura de 20º C. 53 A Demanda Química de Oxigênio (DQO): é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria organiza, através de um agente químico. A DQO também é determinada em laboratório, em prazo muito menor do que o teste da DBO. Para o mesmo líquido, a DQO é sempre maior que a DBO. Componentes Inorgânicos: alguns componentes inorgânicos da água, entre eles os metais pesados, são tóxicos ao homem: arsênio, cádmio, cromo, chumbo, mercúrio, prata, cobre e zinco; além dos metais, podem-se citar os cianetos; esses componentes, geralmente, são incorporados à água através de despejos industriais ou a partir das atividades agrícolas, de garimpo e de mineração. Componentes Orgânicos: alguns componentes orgânicos da água são resistentes à degradação biológica, acumulando-se na cadeia alimentar; entre esses, citam-se os pesticidas, alguns tipos de detergentes e outros produtos químicos, os quais são tóxicos. 4.3.2. Indicadores de Qualidade Biológica Coliformes: são indicadores da presença de microorganismos patogênicos na água; os coliformes fecais existentes em grande quantidade nas fezes humanas e, quando encontrados na água, significa que a mesma recebeu esgotos domésticos, podendo conter microorganismos causadores de doenças (Ver Capítulo II). Algas: as algas desempenham um importante papel no ambiente aquático, sendo responsáveis pela produção de grande parte do oxigênio dissolvido do meio; em grandes quantidades, como resultado do excesso de nutrientes (eutrofização), trazem alguns inconvenientes: sabor e odor; toxidez; turbidez e cor; formação de massas de matéria orgânica que, ao serem decompostas, provocam a redução do oxigênio dissolvido; corrosão; interferência nos processos de tratamento da água; aspecto estético desagradável. 54 4.4. PADRÕES DA QUALIDADE DA ÁGUA Os teores máximos de impurezas permitidos na água são estabelecidos em função dos seus usos. Esses teores constituem os padrões de qualidade, os quais são fixados por entidades públicas, com o objetivo de garantir que a água a ser utilizada para um determinado fim não contenha impurezas que venham a prejudicá-lo. Os padrões de qualidade da água variam para cada tipo de uso. Assim, os padrões de potabilidade (água destinada ao abastecimento humano) são diferentes dos de balneabilidade (água para fins de recreação de contato primário), os quais, por sua vez, não são iguais aos estabelecidos para a água de irrigação ou destinada ao uso industrial. Mesmo entre as indústrias, existem requisitos variáveis de qualidade, dependendo do tipo de processamento e dos produtos das mesmas. Uma forma de definir a qualidade das águas dos mananciais, é enquadrá-los em classes, em função dos usos propostos para os mesmos, estabelecendo-se critérios ou condições a serem atendidos. 4.4.1. Classificação das Águas Um modo de definir critérios ou condições a serem atendidos pelos mananciais é estabelecer
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