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FACULDADE ESTÁCIO DE SERGIPE NUTRIÇÃO CLÍNICA EM PEDIATRIA MATERIAL DIDÁTICO – AULA 10 DIABETES MELITUS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA DEFINIÇÃO • Síndrome metabólica que se caracteriza por hiperglicemia crônica associada a distúrbio no metabolismo dos macronutrientes - lipídios, proteínas e carboidratos. INTRODUÇÃO • Os tipos mais frequentes: - DM1 – é uma doença metabólica autoimune(destruição das células beta pancreáticas levando a deficiência de insulina) de caráter multifatorial; O pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina , insulino dependente (exige a aplicação de injeções diárias de insulina) , próprio da infância e adolescência, mas pode manifestar em idades avançadas. - DM2 - As células são resistentes à ação da insulina, não insulino dependente (nos estágios iniciais), comum na idade adulta, mas acontece em adolescentes obesos. Deve-se a resistência à insulina em combinação com a deficiência relativa em sua produção. CONCEITO E INCIDÊNCIA • Caracterizada pelo excesso de glicose no sangue, devido a alterações no metabolismo normal dos carboidratos, proteínas e lipídeos; • Pode evoluir com complicações macro e microvasculares, oculares, renais e neurológicas, dentre outras, quando não manejada de forma adequada; • A incidência aproxima-se de 0,5 casos novos para cada 100.000 habitantes ao ano e acomete principalmente crianças, adolescentes e adultos jovens, sendo a maior idade de ocorrência por volta da adolescência. EPIDEMIOLOGIA • Grave problema de saúde pública • A incidência do DM1 demonstra acentuada variação geográfica, apresentando taxas por 100 mil indivíduos com menos de 15 anos de idade: de 38,4 na Finlândia, de 7,6 no Brasil é de 0,5 na Coréia; • Atualmente sabe-se que a incidência do DM1 vem aumentando, particularmente na população infantil com menos de 5 anos de idade. • Taxas de mortalidade por DM para faixa etária de 0 a 29 anos → 0,5/100 mil habitantes ADA, 2013 ETIOLOGIA • Defeito nas células Beta ou no receptor de insulina (indivíduos pré- dispostos geneticamente para a reação auto imune contra as células beta que são produtoras de insulina) levando a diminuição da produção do hormônio Insulina; • Doenças do pâncreas exócrino (fibrose cística) • Drogas (toxinas ambientais) • Infecções virais (enterovírus, rubéola, caxumba, rotavírus e outros) são cogitados como desencadeadores da ativação de anticorpos contra antígenos da célula beta • Outras síndromes genéticas SINAIS CLÍNICOS – DM1 Aparecem de forma aguda pelos sintomas da doença como : • Desencadeado por algum estresse (infecção, trauma, cirúrgico ou emocional); • Perda de peso, poliúria(aumento da frequência urinária) , polidipsia(sede excessiva) e polifagia (fome excessiva), podendo levar a desidratação; • Sensível a cetoacidose (condição clínica de grave desarranjo metabólico que deve ser tratado a nível hospitalar) acarreta aumento na produção hepática e renal de glicose levando a hiperglicemia e hiperosmolaridade; • Manifestações clínicas: hálito cetônico(cheiro de cetonas, maçã velha), anorexia, náuseas, vômitos, sonolência, confusão mental e coma diabético. SINAIS CLÍNICOS – DM2 • Quadro clínico de instalação lenta. Sintomatologia tardia; • Astenia (fraqueza), irritação e nervosismo; • Conforme grau de deficiência na secreção de insulina a evolução da doença pode levar semanas, meses ou anos; • Por isso, é comum aparecer as complicações antes da descoberta do DM2 (infarto, doença vascular, outras). TRATAMENTO CLÍNICO • O tratamento engloba quatro aspectos fundamentais: • Insulinoterapia • Alimentação • Exercício físico • Processo educacional do paciente e familiares TRATAMENTO CLÍNICO - Insulinoterapia • 90 % dos paciente pediátricos são do tipo 1 e necessitam insulina, a qual age nos músculos, tecidos e fígado, evitando catabolismo. A prioridade é devolver ao paciente seu equilíbrio metabólico propiciando um estado mais próximo da fisiologia normal do organismo. • A insulinoterapia tem como objetivos: manter o paciente compensado com a glicemia dentro dos parâmetros aceitáveis e evitar a complicações crônicas decorrentes da hiperglicemia; • Deve ser iniciada assim que diagnosticar a DM1 (regiões do corpo para aplicação de insulina) TRATAMENTO CLÍNICO - Insulinoterapia Tipos de insulina – existem diferentes tipos, com diferentes características, sendo 3 as mais importantes: • Tempo de ação da insulina - tempo que leva para a insulina chegar à corrente sanguínea e agir. • O pico da insulina – Hora em que a insulina está no seu ponto máximo em termo de redução do nível de glicose. • A duração – tempo que a insulina permanece atuando metabolicamente. TERAPIA NUTRICIONAL - Alimentação • Deve ser iniciada logo após o diagnóstico; • Plano alimentar deve ser individualizado e de acordo com a idade/crescimento e desenvolvimento da criança/adolescente; • Adequar plano alimentar à atividade física, ao estado fisiológico e à medicações; • Promover hábitos alimentares adequados (educação em saúde); • Considerar estilo de vida, situação sócio econômica e grau de escolaridade; • Consta de duas opções : Tradicional e contagem de carboidratos Treinar auto monitorização da alimentação EDUCAÇÃO NUTRICIONAL • A intervenção nutricional direcionada as pessoas com diabetes tipo 1 aponta a importância de integrar insulina, dieta e atividade fisica, reforcando o ajuste da terapia insulinica ao plano alimentar individualizado como a chave para o adequado controle metabólico ; • Educação nutricional é parte do plano alimentar como ferramenta para otimizar a aderência a terapia nutricional. Através do conhecimento é possível para o portador de diabetes compreender a importância e influência dos alimentos na homeostase glicêmica (equilíbrio) e prevenção de complicações tardias. DM e ATIVIDADE FÍSICA Atividade física é importante na redução da gliconeogênese(síntese da glicose), bem como na regeneração dos tecidos e na socialização do paciente, mas só devem fazer após bom controle da glicemia. EDUCAÇÃO NUTRICIONAL – Processo educacional Estratégias educacionais incluem: • Atividades em grupos operativos, oficinas e palestras. A alimentação esta diretamente relacionada com questões psicossociais e culturais, sendo, portanto, necessário que essas abordagens estejam inseridas no processo educativo ; • É um processo continuo e tem como objetivos: adesão ao plano alimentar prescrito, independência quanto a trocas alimentares, atitudes e decisões em situações não rotineiras e conscientização da influência das escolhas alimentares no controle glicêmico e na prevenção de complicações agudas e crônicas. METAS DA TERAPIA NUTRICIONAL • Manter níveis glicêmicos mais próximos do normal ; • Manter/promover níveis lipoproteínas e de lipídeos adequados – evitando risco de doenças macrovasculares( AVC, Doença arterial coronariana) • Fornecer energia suficiente para crescimento e desenvolvimento normais e recuperação em estado de doença ; • Prevenir e tratar complicações agudas relacionadas à insulinoterapia (como hipoglicemia na atividade física) e nas complicações relacionadas à doença renal, neuropatia, entre outras ; • Manter níveis de pressão arterial adequados; • Promover saúde através escolhas alimentares adequadas e incentivo à atividade física.TERAPIA NUTRICIONAL TRADICIONAL • Elaboração de uma dieta saudável, com adequação de todos os nutrientes, acompanhados de tratamento insulínico. • Não há recomendações nutricionais específicas para crianças/adolescentes – manter o crescimento , logo seguir as recomendações tradicionais para a faixa etária PLANO ALIMENTAR - Tradicional • ENERGIA Mesmo cálculo para crianças não diabéticas, utilizando peso ideal/idade Em caso de DM2 (obesidade infantil), programar perda ponderal de até 3 kg/mês com dietas moderadamente hipocalóricas • PROTEÍNAS Em torno de 15% - 20%do VET. Verificar nefropatia, não ultrapassar 1,0g/kg/dia PLANO ALIMENTAR - Tradicional • LIPÍDEOS Não ultrapassar 30% do VET - 10% poliinsaturadas (Omega 3 e 6) - 10-15% mono insaturadas (azeites, nozes, abacate,etc) - <10% saturadas - Evitar gorduras trans, pois reduzem HDL - Colesterol em torno de 300 mg/dia. Em caso de dislipidemia → colesterol =200 mg e 7% de gorduaras saturadas. PLANO ALIMENTAR – Tradicional • CARBOIDRATOS - 45 a 65%, distribuído nas refeições com ingestão constante para evitar grandes oscilações da glicemia- atualmente não se excluem Sacarose →até 10% do total de CHO, dar ênfase ao CHOs complexos - Frutose → usar frutas como fonte, evitar adoçante a base de frutose(grandes quantidades aumentam os níveis de glicose) - Fibras → fibras solúveis (pectinas das frutas e gomas das leguminosas e aveia) e insolúveis (celulose do trigo, hemicelulose dos grãos e lignina das hortaliças) – diminuem a absorção de gorduras e açúcares , 14g/1000kcal (ambas as fibras) - Acompanhar o índice glicêmico dos alimentos pois dietas com baixo índice diminuem a glicose pós-pandrial mas não conseguem ser mantidas por períodos prolongados. PLANO ALIMENTAR - Tradicional • MICRONUTRIENTES - Necessidades semelhantes as de crianças/adolescentes sem DM - Sem necessidade de suplementação quando em dieta balanceada. • ADOÇANTES E PRODUTOS DIETÉTICOS – permitidos de acordo com FDA - Sacarina –sintético, geralmente associado ao ciclamato . Poder adoçante 400 vezes maior que a sacarose. Não ultrapassar 5mg/kg/dia - Sucralose – derivado clorado da sacarose. Sabor agradável e poder edulcorante 600 vezes maior que ao da sacarose, não possui valor energético. Dose máxima e 15 mg/kg/dia - Aspartame - Sabor mais aproximado ao da sacarose. Poder adoçante 200 vezes, valor calórico de 1 Kcal/g. Ingestão máxima recomendada 50 mg/Kg/dia. - Acessulfame K – artificial, sal sintético de potássio. Poder adoçante 180 a 200 vezes . IDose máxima de 15 mg/kg/dia • Produtos Dietéticos: Seu uso deve ser bem avaliado, observando o que é conveniente para diabéticos (sem adição de açúcar) CONTAGEM DE CARBOIDRATOS • Recomendada pela ADA desde 1994 – recente aplicação • Baseada em estudos (1988) aonde comprovaram que a ingestão de quantidades semelhantes de carboidratos oriundos de vários tipos de amido, não produziam aumento significativo da glicemia; • Método baseado no reconhecimento do impacto do CHO na glicemia pós-prandial(após a refeição) • Deve-se conhecer o total de carboidratos ingeridos em cada refeição; • É uma técnica que consiste na contagem de CHO das refeições por meio de agrupamentos dos alimentos em lista de equivalentes. CONTAGEM DE CARBOIDRATOS • A contagem de carboidratos oferece um resultado bastante objetivo e facilita o cálculo da dose de insulina a ser administrada antecedendo cada refeição. CONTAGEM DE CARBOIDRATOS • Em geral, para cada 10 g a 20 g de carboidratos, administramos 1 U de insulina . • Uma regra simples para este calculo é a divisão de 500 pela quantidade de insulina utilizada durante o dia. • Por exemplo, se a criança recebe 20 U de insulina/dia, podemos estimar que, para cada 25 g de carboidrato, devemos administrar 1 unidade de insulina (500/20 = 25). • Todavia esse é um cálculo inicial, que pode e deve ser modificado se ele não se mostrar adequado ao paciente = a glicemia 2 h após a refeição não deve diferir por mais que 20-30 mg/dl da glicemia pré- prandial. CONTAGEM DE CARBOIDRATOS • Vantagem devido flexibilidade no estilo de vida e na escolha dos alimentos, podendo fazer uso racional de sacarose e produtos confeccionados com esse carboidrato • Em usuários de insulina, é possível estabelecer re;lação entre quantidade de carboidrato ingerido e dose de insulina de ação rápida ; • A SBD (sociedade Brasileira de diabetes) fornece uma lista de equivalentes padronizada em porções de alimentos 1 U de insulina regular → 15 g de CHO ingerido CONTAGEM DE CARBOIDRATOS - Método Alimento Medida caseira Peso (g) CHO (g) Arroz cozido 2 c. sopa 40 15 Feijão cozido 1 concha 54 12 Beterraba 3 c. sopa 42 3 Bife grelhado 1 pedaço pequeno 80g 0 laranja 1 unidade média 150 18 TOTAL 48 INSULINA NECESSÁRIA = 3,2 U insulina rápida ou ultrarrápida 1 U – 15g de CHO x - 48g CHO = 48/15= 3,2 CONTAGEM DE CARBOIDRATOS – método de substituições Alimento Medida caseira porção CHO (g) Arroz cozido 2 c. sopa 1 15 Feijão cozido 1 concha 1 15 Beterraba 3 c. sopa 1 0 Bife grelhado 1 pedaço pequeno 1 0 laranja 1 unidade média 1 15 TOTAL 45 INSULINA NECESSÁRIA = 3 U insulina rápida ou ultrarrápida 1 U – 15g de CHO x - 45g CHO = 45/15= 3 CARGA GLICÊMICA • Considera o valor do índice glicêmico associado à quantidade de CHO no alimento - é o resultado da multiplicação do índice glicêmico pela quantidade de CHO , considerando o efeito na glicemia comparado a uma porção usual de alimento . • Dietas com baixo índice glicêmico reduzem glicemia pós prandial, porém depende de diversos fatores (fibras, quantidade do alimento, amido resistente***, etc...). Por isso considerar a carga glicêmica é a estratégia mais eficaz pois incentiva a utilização de uma escolha saudável. • Desvantagem porque no Brasil a tabela com carga glicêmica de alimentos regionais ainda é restrita. ****Amido resistente - não são digeridos pelas enzimas gástricas e são facilmente eliminados pelo bolo fecal com parte de gordura e açúcar digeridos – Batata, mandioca, banana verde, inhame, etc. OBSERVAÇÕES • HIPOGLICEMIA → oferecer bala, açúcar ou bebida doce. Em caso de desmaio ou coma, passar açúcar na gengiva, massageando levemente para melhor absorção. • ATIVIDADE FÍSICA → para prevenir hipo, reforçar alimentação antes do exercício programado . • EVENTOS SOCIAIS → substituir o jantar pelos salgados da festa, evitando bolos ou docinhos. Fazer contagem de carboidratos é mais eficiente. Preferir sucos em lugar de refrigerante. REFERÊNCIAS • ALVAREZ, M. M.; PEREIRA, H.D.; LUESCHER, J.L. Diabetes melito na infância e adolescência. IN: ACCIOLY.Nutrição em obstetrícia e pediatria. 2ª ed. Guanabara-Koogan. 2009.393- 406. • Sociedade Brasileira de Diabetes- Diretrizes para o tratamento e acompanhamento do diabetes melito. 2013
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