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29 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 5 GESTÃO SOCIAL: A ADMINISTRAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR A administração era ignorada pelas organizações do terceiro setor até meados dos anos 70, pois se acreditava que a preocupação com a gestão dizia respeito apenas às empresas que se preocupavam com a política de lucros, não sendo, pois, afeta a tais organizações. No entanto, hoje se reconhece que o processo de gestão de organizações do terceiro setor possui especificidades, mas é um fator essencial para o desenvolvimento e sobrevivência das mesmas, por isso procuram novas alternativas para a sua gestão organizacional, buscando, seja na esfera pública ou na privada, subsídios para sua modernização e atualização gerencial. A administração passa a ser vista como importante para o sucesso dessas instituições e para que atinjam os objetivos a que se propuseram. Assim, as organizações públicas e privadas passam a ser vistas como espaços para a captação de tecnologias gerenciais a serem incorporadas pelos gestores do terceiro setor. Isso se dá não só pela absorção de profissionais disponíveis no mercado que atuavam como executivos privados, mas também pela atuação de consultores, e pela incorporação de modelos gerenciais de órgãos e empresas financiadoras das organizações do terceiro setor. 5 10 15 20 Unidade II 30 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Naturalmente, as técnicas de administração originadas pelos setores público e privado não podem simplesmente ser transferidas, devem sofrer as alterações e adaptações necessárias, tornando-se, assim, mais adequadas às especificidades das organizações do terceiro setor, pois, caso contrário, poderiam gerar distorções à gestão das organizações, fazendo-as perder suas virtudes gerenciais. Diferentemente do modelo de gestão utilizado em organizações públicas e privadas, as políticas sociais das organizações do terceiro setor incorporam, em sua formulação, o conceito de cidadania. Em tais organizações, não existem clientes ou usuários e sim cidadãos- beneficiários. Os objetivos traçados no processo de gestão de organizações do terceiro setor buscam o exercício da cidadania e o bem- estar coletivo, por isso torna-se necessária a substituição de parâmetros quantitativos por critérios que considerem, principalmente, a metodologia direcionada à superação dos problemas sociais e à evolução do papel que desempenham. Sente-se a necessidade de tornar conhecida a finalidade da organização, a fim de que seus dirigentes, gerentes e demais empregados possam canalizar seus esforços para atingi-la, e a fim de que a organização seja considerada legítima pela sociedade. Outra tendência tem sido definir a finalidade a partir de processos mais participativos, com um número maior de empregados contribuindo para esta tarefa. Dentre as particularidades gerenciais presentes em organizações do terceiro setor, podem-se citar: • a proximidade do beneficiário; • ações em rede; • estruturas desburocratizadas e enxutas; 5 10 15 20 25 30 31 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 • gestão participativa; • imagem institucional consolidada; • motivação da mão de obra voluntária. Estas características têm sido consideradas como virtudes administrativas pelas organizações do setor privado, tendo em vista que estas particularidades são apontadas como as principais responsáveis por atingir seus objetivos. Em geral, observa-se que estas organizações realizam suas operações com estruturas reduzidas; detêm uma sólida imagem institucional; possuem um modelo de gestão participativo, no qual a mão de obra (maioria voluntária) permanece motivada e centrada no foco principal da organização; permanecem próximas aos beneficiários e de seus projetos sociais, podendo atender suas necessidades com mais eficácia e; finalmente, estabelecem parcerias com outras organizações do mesmo setor (ação em redes) visando a superar suas limitações operacionais, mobilizar recursos, trocar informações, experiências, etc. Cabe destacar que a estratégia de formação de redes não implica, necessariamente, convergência de interesses nem tampouco eliminação da competição. No terceiro setor, essa política gerencial manifesta-se na troca de informações, recursos e metodologias de um lado, e, por outro, pela intensa disputa por fontes de financiamento, reconhecimento social e formação de parcerias com o Estado, organismos internacionais e grandes corporações privadas. Observa-se a crescente necessidade de profissionalização das pessoas que atuam no terceiro setor, principalmente das que ocupam cargos gerenciais com sólida formação e domínio de técnicas administrativas e com conhecimento de práticas e políticas organizacionais no terceiro setor, que se tornariam mais sistematizadas, articuladas e voltadas ao cumprimento dos objetivos propostos pelas instituições sociais. 5 10 15 20 25 30 32 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Tais gestores devem ser capazes de realizar a compatibilização entre o ambiente interno e o ambiente externo à organização, de modo a buscar novos conhecimentos que levem ao aumento da competência gerencial e à racionalização da utilização dos recursos disponíveis (financeiros, humanos e materiais), viabilizando o alcance dos objetivos organizacionais. Devem deter conhecimentos em finanças, marketing e administração de recursos humanos, além de possuir ou desenvolver habilidades nas relações interpessoais e políticas. Durante o desempenho de sua função, ele deve ser capaz de se comunicar de forma transparente e de se relacionar com os diferentes envolvidos no processo: voluntários, funcionários, financiadores, doadores, mídia, usuários, governo, dentre outros, atendendo, ao mesmo tempo, aos interesses e prioridades de cada um destes grupos. Deve ser capaz, ainda, de dividir suas preocupações entre problemas de ordem gerencial, como captação de mão de obra voluntária aliada ao tratamento de conflitos e assuntos estratégicos, além de lidar com problemas relacionados à imagem da instituição junto à sociedade. Devido ao movimento de proliferação de organizações do terceiro setor, observa-se o aparecimento de diversos problemas que variam da má gestão de recursos até o desvio de verbas. Pelo fato de essas instituições possuírem um modelo de gestão particular, elas enfrentam problemas administrativos diferenciados dos encontrados nas organizações dos demais setores, implicando riscos no desenvolvimento de seus projetos e no questionamento sobre a razão de ser dessas organizações. Para garantir sua sobrevivência, as organizações do terceiro setor devem desenvolver um estilo de gestão que 5 10 15 20 25 30 33 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 lhes permita pensar no futuro e, aomesmo tempo, resolver problemas cotidianos que ameaçam a sua sobrevivência em curto prazo, principalmente os relacionados à escassez de recursos. Os principais problemas inerentes à gestão de organizações do terceiro setor relacionam-se com as dificuldades encontradas de se especificar, precisamente, os objetivos organizacionais e de se estabelecer critérios de avaliação para os projetos sociais desenvolvidos por elas. Muitas vezes tais organizações estão intimamente ligadas às empresas que as financiam e sofrem suas influências, principalmente em relação à avaliação do trabalho sob a ótica da eficiência financeira. No entanto, essa pressão em geral não se aplica, já que os objetivos propostos se relacionam a conceitos como valorização das pessoas ou melhoria da condição de vida de determinada comunidade, cuja mensuração deverá se dar por meio de outros parâmetros, que não os econômicos. Tais dificuldades estão levando muitas destas instituições a buscar instrumentos eficazes, mas compatíveis de avaliação, de forma a conseguirem comprovar a utilidade dos serviços prestados, bem como oferecer aos seus patrocinadores, credibilidade. Para conseguir superar os desafios gerenciais e assim garantir o cumprimento dos objetivos da instituição, os gestores das organizações do terceiro setor devem ser capazes de incorporar novos modelos de gestão, adaptando-os às particularidades presentes em suas organizações. Pode-se esperar como resultado deste processo: trabalho por meio de redes, identificação de áreas de atuação, produtos e cidadãos beneficiários, criação de mecanismo de controle e avaliação das ações desenvolvidas e alcance de maior visibilidade perante a sociedade para divulgação do trabalho realizado. 5 10 15 20 25 30 34 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Assim, chega-se à conclusão de que essas organizações, como quaisquer outras, precisam de um bom gerenciamento para conseguir sobreviver. Para que se possa viabilizar a administração dessas organizações, torna-se necessário desmistificar as necessidades de lucro, levantar e analisar suas particularidades e equilibrar as necessidades das organizações com o alcance de sua missão final. Finalmente, pode-se concluir também, que o processo de gestão de organizações do terceiro setor é marcado por particularidades e complexidades, o que explica por que a metodologia gerencial, utilizada em outros setores, é apenas parcialmente aplicável nestas organizações, justificando então, a necessidade de se desenvolver tecnologias administrativas particulares para estas instituições. 6 A UTILIZAÇÃO DA ARTE EM PROCESSOS DE INCLUSÃO SOCIAL Sem sombra de dúvidas, a utilização da arte como meio para se atingir mudanças sociais nas comunidades têm sido cada vez mais frequente. Tal afirmação pode ser observada nos diferentes projetos desenvolvidos, que têm como meio para atingir seus objetivos, ações voltadas para música popular ou erudita, teatro, cinema, artes plásticas, etc. Em geral, estes trabalhos se voltam a comunidades com alto risco para crianças e jovens, seja pelo forte apelo do crime organizado, seja pela falta de infraestrutura para que os pais deixem seus filhos em segurança enquanto trabalham. Assim, tais ações cumprem um papel complementar à escola, cuja presença e aproveitamento passam a ser exigidos. Assim, a criança desenvolve suas habilidades artísticas e ao mesmo tempo melhora seu rendimento escolar, já que esta é uma exigência dos programas. 5 10 15 20 25 30 35 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Apesar de voltarem sua atenção, preferencialmente, às crianças e jovens, os projetos não se fecham à participação dos adultos. Profissionais que desenvolvem trabalhos nesta área afirmam que por meio da arte, as crianças e jovens conseguem traduzir sua expectativa de vida e suas mazelas sociais, como fome, falta de carinho e revolta pela desigualdade social a que estão submetidos. Outro aspecto observado é o desenvolvimento ou o fortalecimento da identidade cultural da comunidade em que o trabalho é desenvolvido, já que as apresentações dos trabalhos desenvolvidos atingem a comunidade como um todo, que passa a se ver retratada nas diferentes manifestações artísticas. Arte como forma de mudança social De um modo geral, empreendimentos sociais que utilizam a arte como forma de atuação social possuem como características: • apelo diferenciado; • audiência ampliada; • concretização da ação; • crença e formação de empreendedores; • preservação da identidade cultural; • consolidação da arte como forma de mudança social. Em termos de desafios, notam-se as questões de consolidação da arte como forma de mudança social, mensuração de resultados e atuação em rede. Apelo diferenciado: há algo de contagiante, diferente e descontraído em um primeiro momento, com um apelo diferenciado, quando se trata de uma atuação por meio da 5 10 15 20 25 36 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 arte, já que se trata de outra linguagem, muitas vezes não verbal, que indica outra forma de comunicação. Ela desperta o curioso nas pessoas. Vira uma maneira diferente de superar obstáculos ou de descobrir potenciais adormecidos justamente por utilizar essa linguagem diferente, que não tem os vícios e bloqueios da linguagem usual do cotidiano, ajudando na redução de possíveis resistências e fortalecendo o trabalho de mudança social objetivado pelo projeto. O apelo diferenciado que a atividade artística possui é importante para incutir valores como disciplina, exercícios, técnica, esforço e dedicação, realizando, desse modo, um trabalho de promoção humana. Essa atuação permite a percepção de anseios e problemas do beneficiário. Tudo isso é comunicado por meio de uma linguagem que, da forma tradicional, jamais seria possível e este é um fator contagiante. Audiência ampliada: ligada à questão do apelo diferenciado, pode-se dizer que, como o contágio não chega apenas ao beneficiário direto da ação, a atuação por meio da arte atinge uma audiência ampliada. Ao ver um grupo de pessoas pintando, por exemplo, um observador externo no mínimo para, querendo ver o que está acontecendo e pode até querer se integrar na atividade. Grupos musicais, circenses, de percussão ao se apresentarem, chamam muito a atenção do público. O trabalho feito por meio da arte acaba por levar a proposição de valor e a missão dos empreendimentos sociais a um público além do beneficiário direto de sua ação. Com esse poder de levar a mensagem ao grande público ou a outros públicos que não os beneficiários diretos da ação, a atuação social por meio da arte acaba por criar um outro canal para levar sua proposição de mudança social. Logo, além de promover seu trabalho junto aos beneficiários diretos, são sensibilizados e mobilizados para a causa, 5 10 15 20 25 30 37 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 outros públicos também importantes para a mudança social pretendida.Outra vantagem relacionada a isso, é o desenvolvimento de uma nova experiência para os beneficiários diretos, já que ao fazerem suas apresentações, têm oportunidade de conhecer outras localidades, dentro e fora do país, permitindo um conhecimento inestimável, além de obterem mais confiança e experiência de vida. O desenvolvimento de trabalhos por meio da arte como instrumento de inclusão social, apresenta ainda resultados concretos em prazos relativamente curtos, ou seja, este não é um trabalho em que os resultados aparecem a médio e longo prazo. Assim, a cada tela pintada, a cada apresentação de um grupo musical, a cada apresentação de um grupo de teatro, seus participantes vão criando símbolos, que vão lhes dando sentido de plenitude. À medida que os símbolos vão se somando, vai se construindo o resgate da autoestima e do conceito de cidadania, o que também atinge aos que assistem ao trabalho desenvolvido, em geral a própria comunidade que também vive o processo de reconhecimento de sua essência cidadã. Com a metodologia estabelecida, o desafio seguinte é comprovar os resultados dos projetos, analisando e mensurando tais resultados. Para tanto, faz-se necessário o desenvolvimento de indicadores. Considerando que o trabalho com arte lida com a atitude das pessoas, é muito difícil mensurá-lo. Indicar apenas o número de pessoas atendidas não é um indicador válido, pois nada fala a respeito da qualidade da forma do trabalho. O grupo Doutores da Alegria desenvolveu alguns indicadores como o número de vezes em que o médico tocou a criança, o número de vezes em que a criança sorria e a redução do tempo de internação. Em 5 10 15 20 25 30 38 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 bairros de extrema violência, projetos que atuam por meio da arte, contabilizam quantidades de pessoas que deixaram de atuar na criminalidade para auxiliar nos projetos. Outro indicador é o aumento do rendimento escolar da criança, para poder continuar no projeto, e também o aumento da sociabilidade. Assim, percebemos que como em outras áreas de atuação, também em organizações que buscam atuar junto à sociedade utilizando a arte como meio, faz-se necessário o conhecimento administrativo para estabelecer metas, objetivos, público alvo e mensurar resultados. Resumo Nesta unidade trabalhamos a questão do controle social das políticas públicas, quando analisamos a importância da sociedade estar presente e atuante na definição e execução de projetos sociais, cuja fonte principal de recurso é pública. Vimos também os desafios que se colocam para que o exercício do controle seja eficaz, como se espera que as políticas públicas sejam, bem como os fundamentos jurídicos que embasam esta atuação da sociedade civil organizada. Em seguida, passamos a discutir a importância da administração na gestão de organizações do terceiro setor que vem ampliando sua participação na elaboração e execução de projetos, visando a melhorar as condições de vida da população, especialmente aquela que vive às margens da sociedade. Neste aspecto, procuramos enfatizar a importância da profissionalização de gestores que tenham conhecimento gerencial e administrativo para estas entidades, que sejam, ao mesmo tempo, capazes de atuar junto à população e aos órgãos públicos e privados que financiam tais projetos. 5 10 15 20 25 30 39 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 5 10 15 20 25 Ainda dentro deste aspecto, destacamos entidades que utilizam a arte como meio de inclusão e de transformação social que, dadas suas especificidades, demandam um esforço maior de seus gestores, além de um conhecimento específico na área de atuação. 7 DEFINIÇÃO DE PLANEJAMENTO O planejamento é um instrumento administrativo que permite analisar a realidade, avaliar os meios e estabelecer referenciais, organizando a tramitação adequada de todo o processo a que o planejamento se destina, com posterior reavaliação. É, portanto, a racionalização da ação. Trata-se de um processo de deliberação que escolhe e organiza ações, antecipando os resultados esperados. Esta deliberação busca alcançar, da melhor forma possível, alguns objetivos predefinidos. Uma atividade predeterminada exige deliberação, principalmente quando se volta para novas situações ou tarefas e objetivos complexos, ou quando se trata de uma ação menos familiar. O planejamento também é necessário, quando a adaptação das ações é pressionada por um ambiente crítico, envolvendo alto risco ou alto custo; por uma atividade em parceria com terceiros ou por uma atividade que necessite estar em sintonia com um sistema dinâmico. Uma vez que o planejamento é um processo complexo, que exige tempo e dinheiro, recorre-se a ele quando é realmente necessário ou quando a relação custo/ benefício o exigir. É importante que o planejamento seja entendido como um processo cíclico e prático das determinações do plano, o que lhe 40 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 garante continuidade, havendo uma constante realimentação de situações, propostas, resultados e soluções, conferindo-lhe, assim, um dinamismo baseado na multidisciplinaridade, interatividade, num processo contínuo de tomada de decisões. As experiências de planejamento por parte do Estado, em geral estão relacionadas a sua necessidade de reconstrução econômica, social e, em algumas situações como o pós-guerra, até mesmo física. A primeira nação a utilizar o planejamento para sua reconstrução foi a União Soviética, após a Primeira Guerra Mundial. Dadas suas características, o planejamento naquela situação foi sistematizado de forma centralizada, o que pode ser observado na maioria dos planejamentos desenvolvidos, mesmo nos países capitalistas e que só vão adotar a prática do planejamento após a Segunda Guerra Mundial, quando foi utilizada na França e no Japão para suas reconstruções. Como técnica, o planejamento chega aos países menos desenvolvidos entre as décadas de 1950 e 1960. 8 PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO O planejamento estratégico que se tornou alvo da atenção de muitas empresas, direciona-se para as medidas que uma empresa poderá tomar para enfrentar problemas e aproveitar oportunidades. Diferentes empresas chegam à conclusão de que a atenção sistemática à estratégia é uma atividade muito proveitosa. Empresas pequenas, médias e grandes, fabricantes, comerciantes, bancos e instituições sem fins lucrativos podem e devem decidir os rumos mais adequados aos seus interesses. 5 10 15 20 25 41 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Dentre as causas para o crescimento recente do planejamento estratégico, podemos citar a rapidez com que os ambientes das empresas sofrem alterações nos âmbitos econômico, social, tecnológico e político. A empresa somente poderá crescer e progredir se conseguir ajustar-se à conjuntura, sendo o planejamento estratégico uma técnica comprovada para que tais ajustes sejam feitos com inteligência. Trata-se de um instrumentomais flexível que o planejamento a longo prazo, tradicionalmente utilizado. Um dos pontos fundamentais da estratégia é a seleção de apenas algumas características e medidas a serem tomadas. É um instrumento que força os administradores a pensar no que é importante e a se concentrar em assuntos de relevância. Ao lançar mão do planejamento estratégico, faz-se necessária a adoção da administração estratégica nas organizações, já que não se pode tratar o planejamento estratégico sem entrar no processo estratégico, contribuindo, assim, de forma mais eficaz com a gestão dos administradores na obtenção dos seus resultados. O processo de administração estratégica A administração estratégica envolve um processo ou uma série de etapas. As etapas básicas incluem: • análise do ambiente: o processo de administração estratégica inicia-se com o estudo do ambiente interno e externo à organização, buscando identificar os riscos e as oportunidades presentes e futuras; • definição da diretriz organizacional: ao estabelecer a diretriz da organização, será definida a sua meta, ou seja, sua missão e objetivos organizacionais, a 5 10 15 20 25 30 42 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 razão de sua existência, incluindo, neste aspecto, os valores e a filosofia que a norteiam e a diferenciam das demais; • formulação de uma estratégia organizacional: define as ações para garantir que a organização alcance seus objetivos; • implementação da estratégia organizacional: trata-se da implementação efetiva da estratégia, a operacionalização do que foi estabelecido como estratégia para se atingir os objetivos da empresa; • controle estratégico: monitoramento e avaliação do processo de administração estratégica no sentido de melhorá-la e assegurar um funcionamento adequado. 9 PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO Quando tratamos de planejamento participativo, não estamos falando de se estimular a participação das pessoas. Isto existe em quase todos os processos de planejamento. O planejamento participativo é, de fato, uma tendência quando falamos em intervenção na realidade. Como uma corrente de pensamento, tem uma filosofia própria e desenvolveu conceitos, modelos, técnicas e instrumentos específicos. Foi desenvolvido para instituições, grupos e movimentos que não têm como principal objetivo a missão de aumentar o lucro, competir e sobreviver no mercado, mas sim contribuir para a construção da realidade social. Tais entidades, governamentais ou não, lançam mão desta ferramenta para organizar seus processos de intervenção na realidade e vão, aos poucos, aproveitando-se do que o planejamento participativo lhes oferece para isto. 5 10 15 20 25 43 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Ele parte da constatação de que não existe participação real em nossas sociedades, isto é, da percepção de que há pessoas e grupos dentro da sociedade que não podem dispor dos recursos necessários ao seu mínimo bem-estar, e buscam alternativas para corrigir tais injustiças. Propõe-se uma ferramenta para que as instituições, grupos e movimentos possam ter uma ação direcionada a influir na construção externa da realidade. Constrói um conjunto de conceitos, de modelos, de técnicas e de instrumentos que permitam utilizar processos científicos e ideológicos e organizar a participação para intervir na realidade. O planejamento participativo pretende ser mais do que uma ferramenta para a administração, disponibilizando conceitos, modelos, técnicas, instrumentos para definir e fazer as coisas certas, com vistas ao crescimento da entidade, do grupo ou do movimento popular; pretende ser um instrumento para a construção de uma sociedade mais justa. Neste sentido, estabelece como sua tarefa contribuir para a construção de novos conceitos humanos e humanísticos, de novos valores, promovendo o exercício pleno da cidadania. Pretende ser, essencialmente, o planejamento da decisão de quais são as coisas certas a fazer e quais os motivos para fazê- las, utilizando os instrumentos e as técnicas que permitam sua execução com competência. Acredita que participação efetiva possibilita a garantia da satisfação das necessidades básicas de todos, que passam a ter o direito de usufruir dos bens. Inclui distribuição do poder, propiciando a interferência na decisão sobre o que fazer, para que fazer, como fazer e com que fazer. A realidade da sociedade que passa por grandes transformações, e a consciência cada dia maior dos cidadãos 5 10 15 20 25 30 44 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 prenuncia um mundo com o poder distribuído e não mais concentrado nas mãos de alguns, sejam pessoas, governos ou instituições. Estamos ultrapassando uma época em que o mundo era considerado pronto e determinado para um tempo em que é preciso construir a cada momento uma visão de mundo, do ponto de vista ecológico e humano. Com isso, firma-se cada vez mais a convicção de que não são só os poderosos ou os técnicos que têm capacidade de propor alternativas. Todos temos esta sabedoria e o direito à participação não pode ser subtraído das pessoas. Cada vez mais se aponta para o tempo em que governar ou administrar entidades não governamentais é o mesmo que coordenar o processo de definição dos rumos sociais e, conjuntamente, administrar os meios para seguir a caminhada nos rumos estabelecidos. Neste sentido, vem o tempo em que o governante e o dirigente não só dirão que são, mas realmente serão, servidores da comunidade. O planejamento participativo incorpora a visão estratégica e situacional. Por entender a ideia de missão de forma mais abrangente e situada no contexto da globalidade social, com a perspectiva não apenas de ajudá-las a sobreviver, mas a intervir na realidade estrutural da sociedade, oferece às instituições, grupos, movimentos e organismos governamentais uma ferramenta que incorpora as conquistas do planejamento na perspectiva situacional e estratégica. Os passos para o planejamento participativo 1. Marco referencial: inclui uma dimensão política, ideológica, de opção coletiva, e divide-o em três partes, para: a) compreender a realidade global na qual se insere a instituição planejada (marco situacional); b)propor um projeto político-social de ser humano e de sociedade (marco doutrinal); c) firmar um processo técnico ideal para contribuir com a construção deste ser humano e desta 5 10 15 20 25 30 45 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 sociedade (marco operativo). O planejamento estratégico importa-se muito com este primeiro momento, dando-lhe o nome de missão, mas deixando-o dentro dos limites da sobrevivência e do crescimento da empresa. 2. Diagnóstico: é a ponderação entre a proposta ideal e a proposta de prática, tangível. Neste sentido, o diagnóstico é a avaliação contínua sobre a prática para verificar a distância em que ela está da proposta ideal estabelecida em seu referencial. No planejamento participativo, o plano não começa com um diagnóstico,mas com um referencial. 3. Marco situacional: é a descrição da realidade e da prática. 4. Programação: propõe-se a fazer mudanças, fazendo-as, refletindo e reprogramando. É verdade que o planejamento sozinho não realiza aquilo que teríamos que fazer e vivenciar; mas é verdade também que o planejamento participativo contém os elementos necessários, enquanto ferramenta, para realizar o que é vontade de todos ou de maiorias expressivas. Naturalmente, para transformar a realidade, é preciso que exista um conjunto de ideias e um querer que nasça da convicção. De qualquer modo, um contínuo processo de planejamento participativo levado, rigorosa e persistentemente, tem sido fonte de crescimento de grupos, tanto em ideias como em convicções. Do ponto de vista metodológico, o planejamento participativo desenvolveu um conjunto de conceitos, de modelos, de processos, de instrumentos e de técnicas para dar importância ao crescimento (do coletivo e do pessoal) e, neste crescimento, construir o referencial, avaliar a prática, propor e realizar uma nova prática. A construção coletiva necessita de processos rigorosos que incluem trabalho individual, trabalho 5 10 15 20 25 30 46 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 em pequenos grupos e plenários para reencaminhamentos. Há, no planejamento participativo, um conjunto de técnicas e de instrumentos para que se chegue ao que é o pensamento coletivo e para evitar discussões polarizadas. 10 PLANEJAMENTO: UMA DISCIPLINA IMPRESCINDÍVEL À FORMAÇÃO PROFISSIONAL EM SERVIÇO SOCIAL Partindo da premissa que o planejamento é um processo racional e que pressupõe desenvolvimento sequencial, podemos afirmar que o serviço social também vem se desenvolvendo ao longo da história, e que o planejamento sempre esteve presente na sua atuação, desde que a atividade deixou de ser uma prática voluntária e passou a ser reconhecida como atividade profissional. As primeiras manifestações da influência do planejamento na profissão são percebidas nas propostas metodológicas de intervenção e tratamento social dos usuários dos diferentes organismos que absorviam tais profissionais. Sendo assim, a racionalidade como atributo essencial do processo de ação planejada do serviço social foi fator desencadeador para a conformação e o reconhecimento da profissão. Hoje, fica evidenciada a importância do preparo do assistente social, para que este esteja em condições de atuar corretamente para avaliação das diferentes situações que enfrenta, em relação aos indivíduos, às famílias, aos grupos de pessoas, aos serviços comunitários, ao desenvolvimento da comunidade, aos grandes programas governamentais, ou às questões de política social nacional. Desde os primeiros documentos produzidos por profissionais do serviço social, podemos observar a utilização da expressão “plano de tratamento”, o que pressupunha o ato de planejar com o cliente os mecanismos que seriam utilizados para a solução do seu problema. 5 10 15 20 25 47 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Mais tarde, os profissionais incorporam não só a palavra planejamento, mas passam a adotar a sua prática como fundamental na execução de suas atividades, dada a necessidade de intervir a partir de um planejamento prévio e em conjunto com o usuário, o que passa a ser objeto de amplos debates entre assistentes sociais, traduzido nos artigos e livros publicados. Assim, no processo de reconceituação da profissão e ao se aproximar da teoria marxista, o serviço social busca na teoria da práxis ( ação – reflexão – ação), o seu referencial de atuação em conjunto com os usuários dos diferentes serviços em que exerce suas funções, e busca no planejamento participativo, os instrumentos que lhe permitam atingir seus objetivos. Dessa forma, planejar a ação como processo natural de ordenação, decisão e controle passa a não suprir as demandas inerentes à profissão. Surge a necessidade de utilização do planejamento como processo e como método. Pode-se considerar que na fase anterior ao movimento de reconceituação do serviço social, o planejamento delineava- se como um processo, caracterizado pela forma ordenada e racional de tomada de decisões. Posteriormente, ou seja, a partir do movimento de reconceituação, o planejamento passa a ser visualizado e adotado também como método e instrumento. Inicia-se então o ensino da disciplina de planejamento na formação do assistente social. O processo de repensar a profissão traz em seu bojo a necessidade crescente de rever o referencial teórico e de instrumentalizar seus profissionais para a prática do planejamento, mais como aplicação técnica do que como consciência critica da realidade para sua transformação. Na ação planejada, é a reflexão que garante a dimensão do real e permite ainda o caminhar por aproximações sucessivas, em 5 10 15 20 25 30 48 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 que a prática amplia os conhecimentos da realidade e possibilita que se definam novos cursos de ação. Assim, a reflexão parece e segue a prática social, numa relação dialética em face da prática real, concreta. Novamente nos deparamos com o planejamento participativo influenciando diretamente a prática profissional. Neste sentido, é necessário ao assistente social ter uma postura crítica frente ao real, capaz de possibilitar aos usuários participação ativa, dinâmica e consciente no processo de planejamento. A participação dos usuários neste processo envolve uma questão de coerência profissional, pois o tema participação é chave em qualquer debate dentro da profissão, portanto, na prática, os usuários não podem ser alijados do processo de planejamento, senão estaríamos incorrendo em problema de ordem teórico-prática. Percebemos que os autores de serviço social, com raras exceções, trabalham o tema do planejamento. No seu entendimento contemporâneo, o planejamento é inerente à prática profissional. Cada vez mais, os assistentes sociais sentem a necessidade de incluir o planejamento como instrumento auxiliar da metodologia de serviço social. Anterior ao movimento de reconceituação, reconhecia-se no serviço social um processo de “metodologismo” vivenciado a partir da visão tripartite do sujeito da ação (caso, grupo e comunidade). Após o movimento de reconceituação, houve a necessidade, como inferimos anteriormente, de dar cientificidade à profissão. Podemos perceber assim, que apenas em 1996 se consolida o planejamento como uma disciplina indispensável para o currículo de serviço social, que vem complementar o estudo dos processos de trabalho desta área. 5 10 15 20 25 30 49 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Atualmente, o planejamento é um instrumento imperativo na organização das ações desenvolvidas pelos assistentes sociais, conforme estabelece a Lei de Regulamentação da Profissão em seu artigo 4º, que aponta, dentre outras, as seguintes competências do assistente social: “[...] II - Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos,programas e projetos que sejam do âmbito do serviço social com participação da sociedade civil; VI - Planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais; VII - Planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a analise da realidade social e para subsidiar ações profissionais; X - Planejamento, organização e administração de serviços sociais e unidades de serviço social. [...]” (CRESS, 2000, p. 12-13) Baseado na mesma lei, o artigo 5º, inciso II, estabelece o planejamento, a organização e administração de programas e projetos em unidade de serviço social como uma atribuição privativa do assistente social. O serviço social, no seu cotidiano, vem ao longo dos anos tentando elaborar e reelaborar propostas de planejamento que possam auxiliar no desenvolvimento do fazer profissional. Como apontamos acima, esse movimento é ainda incipiente e pouco qualificado, sobretudo por não contar com referencial teórico específico. O planejamento nada mais é do que o exercício de racionalidade e ordenação das ações, inerente ao 5 10 15 20 25 50 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 desenvolvimento do ser humano. Sendo assim, cotidianamente o utilizamos como processo de prospecção do futuro, a partir da nossa realidade. É indispensável que os assistentes sociais tenham uma qualificação para a utilização do planejamento nas atividades que desenvolvem nas instituições, e, principalmente, que se comprometam junto ao segmento de usuários com o processo de elaboração, implantação e avaliação do planejado. É importante destacar que o planejamento não pode e não deve ser visto como um processo estático; ao contrário, deve ser visto como um processo dinâmico e ativo no cotidiano da profissão. O planejamento está além de uma estrutura mínima, criada e reproduzida por alguns assistentes sociais. O planejamento de que falamos pressupõe também planificar as ações das mais diversas ordens. Certamente o assistente social deve estar sempre atento à questão social e suas múltiplas formas de expressão, para poder compor/elaborar um planejamento que possa compreender a realidade, que sirva como diretriz para o alcance dos objetivos propostos, prévia e conjuntamente estabelecidos. Deve ainda, estar disposto a rever o planejamento, a partir do surgimento de novas demandas. 11 DESENVOLVIMENTO E INCLUSÃO SOCIAL: O PLANEJAMENTO COMO ESTRATÉGIA DE INCLUSÃO SOCIAL Planejar o desenvolvimento na perspectiva da inclusão social não é desafio fácil e exige o envolvimento e o empenho de amplas e diferentes forças sociais e políticas, presentes na sociedade civil, no Estado, e, em particular, no governo. 5 10 15 20 25 51 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Este gigantesco empreendimento não pode ser desenvolvido, exclusivamente, pelo governo e menos ainda pela sociedade civil. Exige, ao contrário, o exercício do diálogo e da cooperação do governo e da sociedade civil na mobilização de recursos e de iniciativas. A responsabilidade primária na efetivação desta empreitada pertence ao governo. Não é possível se ter ilusões quanto às possibilidades de redução das desigualdades sociais sem a forte presença do Estado. A solidariedade do voluntariado, embora fundamental do ponto de vista moral e como processo de humanização, tem alcance limitado; por outro lado, é improvável que o mercado, espaço de competição exacerbada, possa ser, paradoxalmente, o lugar da satisfação das necessidades humanas e da justiça social. Todavia, não é qualquer Estado que promove a inclusão social e busca alternativas sociais para a população excluída. É preciso construir um Estado com conteúdo social, concebido mais para as realizações humanas e menos para as transações do mercado. Cabe destacar que este Estado com conteúdo social é produto da sociedade civil. Daí a crença de que a efetivação do processo de inclusão social seja uma prerrogativa do governo em conjunto com a sociedade civil organizada, a quem cabe a autoridade para delegar mandato e definir objetivos, metas e compromissos históricos do governo e do Estado. Portanto, se efetivamente desejamos a inclusão social, precisamos produzir bons governos e boa sociedade civil. O bom governo é aquele que, sentindo-se um comissário do povo, governa no interesse da coletividade. A boa sociedade civil é aquela que, valendo-se de dinâmicas democráticas e de mecanismos participativos, ao eleger os governantes, o faz sem abdicar da autoridade que lhe foi delegada. 5 10 15 20 25 30 52 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 Nas oportunidades em que se discutem novas modalidades de gestão, - e planejar o desenvolvimento com inclusão é algo recente - particularmente na perspectiva da descentralização e da participação popular, estamos revivendo um dilema: como delegar poderes ao governante sem, no entanto, perder a autoridade? Ao discutirmos tais questões estamos apontando para a necessidade de mecanismos que permitam à população exercer maior influência e melhor controle sobre os atos do governo, já que transferimos o poder e não a vontade. Portanto, a sociedade delega poder, mas não perde a autoridade para fazer escolhas. Desta forma, cabe ao povo a fiscalização sobre as ações do governo, pois esta atitude é a forma mais segura para evitar usurpação e predomínio do interesse privado sobre o interesse coletivo. A utilização da expressão “planejar a inclusão social”, subentende que o planejamento do desenvolvimento é uma condição necessária, porém insuficiente para assegurar inclusão social. As experiências vivenciadas no campo do desenvolvimento planejado produziram mais exclusões e desigualdades sociais. Duas premissas são fundamentais para o sucesso do planejamento com inclusão social, a primeira é a existência de uma sociedade civil politicamente ativa, civicamente convicta, mobilizada e cooperativa. A segunda é a existência de governantes democráticos, afeitos ao diálogo responsável, moralmente honrados, política e eticamente comprometidos com a justiça social e com o ideal de cidadania. Estas duas premissas não estão dadas, ou seja, ainda não existem, contudo são produtos da experiência humana, 5 10 15 20 25 30 53 ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO SOCIAL Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 historicamente possíveis. Aqui, entra o papel dos diferentes conselhos (de políticas sociais, de direitos, de defesa, etc.). Se observarmos atentamente, a maior incidência de conselhos está situada no Poder Executivo, exatamente no âmbito do governo. É importante considerar que os conselhos foram concebidos com a finalidade de democratizar a gestão das políticas públicas e com o desafio de impor limites ao poder autárquico dos governantes, por isso tem papel significante em gestões descentralizadas e participantes. Apesar de muitas vezes a burocracia dificultar a ação dos conselhos, que se veem mergulhados em relatórios infindáveis ou tolhidos em seu papel de gestor e/ou fiscalizador, o ideal de democraciaparticipativa que fundamenta a existência dos mesmos, parece adquirir vitalidade teórica e prática, nas mais singelas experiências favorecedoras do diálogo entre o governo e a sociedade. Neste sentido, os conselhos representam uma importante, embora limitada, novidade no processo de gestão das políticas públicas em nossa sociedade. Um dos grandes desafios que os conselhos enfrentam, para se credenciarem como experiências inovadoras nas relações democráticas entre o governo e a sociedade civil, é a conversão destes em câmaras politizadas, em ambientes para o exercício de ações propositivas e de trabalho fiscalizador. A resolução deste desafio exige a superação de um problema relevante e persistente: a baixa representatividade de amplas camadas da população da maioria dos seus membros. É preciso, porém, articular recursos e mobilizar forças, buscar aliados na sociedade civil e no governo, construir parcerias e, sem declinar do debate político que muitas vezes acentua o conflito 5 10 15 20 25 30 54 Unidade II Re vi sã o: A na M ar so n - Co nv er sã o de c or es e n ov a di vi sã o de u ni da de : M ár ci o - 21 /0 6/ 10 de interesses, precisamos encontrar motivos para o exercício da parceria entre lideranças credenciadas. Resumo Nesta unidade trabalhamos a definição de planejamento como instrumento de avaliação da realidade e de proposição na solução de problemas, para se atingir um objetivo. Trabalhamos também o planejamento estratégico, que aliado à administração estratégica, busca a definição da missão e das metas a serem atingidas, bem como os meios para seu sucesso. Vimos, ainda, o planejamento participativo, voltado principalmente para órgãos governamentais ou instituições privadas sem fins lucrativos, segundo o qual os envolvidos no processo podem e devem ser envolvidos no planejamento, de forma democrática, buscando a melhoria da qualidade de vida da coletividade. Achamos importante traçar um paralelo entre o planejamento e o serviço social, dada a importância desse no exercício profissional do assistente social, que tem no planejamento uma de suas funções precípuas. Finalmente, trabalhamos a questão do planejamento como estratégia de inclusão social, tema também bastante relevante para o profissional do serviço social. Referências bibliográficas AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia. São Paulo: Bookman, 2000. ALBRECHT, K. Programando o futuro. 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