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DIREITO CIVIL PARTE GERAL 2ª AULA

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DIREITO CIVIL – PARTE GERAL – 3ª AULA
DAS PESSOAS 
1- Das incapacidades.
As incapacidades estão ligadas à idade, saúde e ao desenvolvimento mental e intelectual que não permitem que a pessoa exerça pessoalmente os atos de seu interesse. Essas situações “representam, de uma forma ou de outra, um déficit no poder de deliberar do indivíduo”.� No Brasil não há incapacidade de direito ou jurídica, salvo se houver enquadramento em alguma restrição legal (p.ex. o impedimento para realizar os negócios jurídicos mencionados nos artigos 496; 504; 1.521; 1.618; 1641; 1.735; 1.749, I e II; 1.872; todos do CC). 
O que a lei prevê é a incapacidade de fato ou de exercício, isto é, aquela capacidade que permite ao indivíduo uma aptidão concreta para o exercício livre e direto de direitos e deveres. O que distingue a capacidade de direito da capacidade de fato é que a capacidade de direito representa uma situação estática do sujeito, o que não acontece na capacidade de fato que traduz uma atuação dinâmica onde o sujeito age por si mesmo adquirindo direitos e contraindo obrigações. 
A incapacidade pode ser absoluta ( art. 3º CC) e relativa (art. 4º CC). Os absolutamente incapazes são representados (art. 166,I, do CC), sob pena de nulidade. Já os relativamente incapazes são assistidos ( art. 171, I do CC), pena de anulabilidade do ato realizado.
Ressalve-se que a capacidade é a regra enquanto a incapacidade é a exceção. Dessa forma, até prova em contrário presume-se que a pessoa é capaz.� Elemento relevante para a verificação da capacidade da pessoa é a possibilidade desta ter discernimento que lhe permita exprimir a sua vontade de forma livre e plenamente, defendendo os seus interesses em face de terceiros, com consciência dos atos praticados e de suas conseqüências.�
2 - Incapacidade absoluta. 
O art. 3º do CC aponta três casos de incapacidade absoluta: 
a) menores de dezesseis anos (Inc. I, art. 3º do CC).
São considerados absolutamente incapazes por uma questão de política legislativa. Neste caso, o legislador entendeu que todos os que não completaram 16 anos de idade não possuem discernimento suficiente para dirigir a sua vida e negócios para poderem escolher o que fazer ou não, o que lhes é conveniente ou prejudicial�. Em outras legislações adotam-se outros critérios. Assim, em França não se regulamenta a incapacidade absoluta e relativa, cabe ao juiz dizer se o menor tem ou não discernimento. A Argentina estabelece 14 anos� para a incapacidade absoluta (art. 54). Na Alemanha são absolutamente incapazes os menores de 7 anos de idade (§ 104). Na Itália não havia distinção entre incapacidade absoluta e relativa do menor, como ocorre em França, mas o Código Civil de 1942, fez cessar a incapacidade absoluta aos 18 anos,salvo casos especiais em que a maioridade é alcançada aos 21 anos (art. 2º e 3º do CC Italiano)�.
Os menores de dezesseis anos são representados pelos seus representantes legais nos negócios jurídicos de seu interesse, sob pena de nulidade do ato celebrado (art. 166, I do CC). Em princípio, por lhes faltar discernimento, não participam dessas relações jurídicas. Lembremos, no entanto, que em alguns casos a lei expressamente manda ouvir o menor em situações de seu interesse, como o ECA em casos de guarda, tutela, etc.
Nesse sentido o Enunciado 138 do Conselho da Justiça Federal:
	Enunciado 138 – A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto.
b) os privados de necessário discernimento por enfermidade ou deficiência mental (Inc. II, art. 3º do CC). 
Entenda-se por enfermidade toda a anomalia que comprometa as funções psíquicas do indivíduo que o impedem de discernir sobre os assuntos de seu interesse. Podemos apontar nessa situação os dementes e fracos de memória, demência afásica (problemas da fala); degeneração, psicose tóxica, depressão, paranóia, etc.� 
Por sua vez, entenda-se deficiência mental como o atraso no desenvolvimento psíquico. Acabou a antiga denominação: loucos de todo o gênero. Agora o termo é mais técnico e mais abrangente, porque envolve casos de deficiência de proveniência congênita ou adquirida tais como maníacos, imbecis, oligofrenia, esquizofrenia, doença do pânico, etc.
Os incapazes previstos neste inciso estão sujeitos a curatela (art. 1.767, I e II do CC), isto é, são representados por um curador.
 
c) Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade (Inc. III, art. 3º do CC).
 Estes casos referem-se a patologias não permanentes, mas temporárias. Tais como: arteriosclerose, bebedeira não habitual, hipnose, uso eventual de entorpecentes, estado de coma etc. Estas pessoas não serão interditadas, pois a patologia é temporária e a interdição exige uma causa duradoura, mas o atos praticados por elas, caso não estejam representados por um curador que lhes deve ser nomeado, nos termos do artigo 1.768 do CC, são nulos. É claro que no caso do indivíduo se embriagar ou se dopar de forma voluntária, o negócio jurídico não será anulado, salvo se o terceiro estiver de má-fé.�
Há críticas à redação do artigo. Afirma-se que estas pessoas não podem ser denominadas incapazes, porque apenas estão momentaneamente num estado de incapacidade que desaparece com o fim da situação transitória em que se encontravam privados de consciência. �
3 - Questões controvertidas nos casos de incapacidade. 
3.1 - Intervalos Lúcidos. 
A lei brasileira não admite que o incapaz tenha intervalos de lucidez. Embora em certos momentos aparente lucidez é sempre incapaz. Se estiver interditado deve ser representado sempre pelo seu curador, pena de nulidade.
Se quem sofre da incapacidade não for interditado a parte interessada na anulação terá de fazer prova de que no momento do ato praticado a deficiência mental já existia e era do conhecimento da outra pessoa. Esta posição da legislação brasileira é criticada por causa da evolução da medicina na área da psiquiatria biológica. De fato, nos tempos atuais é possível manter o doente mental por largos períodos saudável através do uso de drogas, restando-lhe apenas alguns pequenos lapsos de enfermidade.
3.2 - Efeito retroativo da sentença que decreta a interdição. 
A sentença produz efeitos ex nunc e não ex tunc. Logo, atos praticados pelo amental pouco tempo antes da sentença não poderão ser anulados pelo efeito retroativo da sentença, devendo a questão da anulação ser discutida em processo próprio, onde terceiro interessado deverá participar necessariamente. Restando provado que o amental estava doente ao tempo do negócio jurídico realizado este é anulado.� A sentença de interdição para ter eficácia erga omnes deve ser registrada no Cartório do 1º Ofício de Registro Civil da Comarca onde for proferida e publicada na imprensa, por três vezes. Após a interdição o incapaz interditado só pode praticar atos na vida civil se estiver representado por seu curador�, pena de nulidade.
3.3 - Velhice como causa de interdição. 
Não existe, embora seja comum haver pedidos de interdição de pessoa por motivos de idade avançada. Só será viável a interdição se envolver estado patológico que impeça o agente de ter discernimento, como ocorre no caso de demência senil.�.
3.4 – Os surdos-mudos e os ausentes.
Quanto aos surdos-mudos o novo Código não os colocou com absolutamente ou relativamente incapazes. Poderão eles dependendo da situação ser relativamente incapazes ou absolutamente incapazes (art. 3º, II e 4º III), bem como capazes. Os ausentes também não se encontram mais no rol dos absolutamente incapazes, pois não sofrem de qualquer patologia.
4 - Incapacidade relativa (art. 4º do CC).
Os relativamente incapazes são aquelas pessoas que têm possibilidade de manifestar a sua vontade, mas devem ser assistidos. Estão numa situação intermediáriaentre a incapacidade absoluta e a capacidade plena. Alguns atos não podem ser praticados pelos relativamente incapazes, mesmo assistidos, como ocorre com a adoção. Em outras situações, podem praticar atos, sem assistência, como testar, ser procuradores e prestarem testemunho.� Os casos de incapacidade relativa são os seguintes: 
a) Maiores de dezesseis e menores de dezoito anos (Inc. I, art. 4º do CC).
São pessoas que já tem certo discernimento e, por isso, a sua opinião já deve ser levada em consideração. São assistidos pelos seus representantes. Não há negócio jurídico possível se o menor discordar ou o seu assistente. Devem também ser citados nas ações em que forem partes, sob pena de nulidade do processo. O relativamente incapaz equipara-se ao maior quando dolosamente oculta a sua idade, sendo responsável pelos prejuízos que causar. (art. 928 CC).
b) Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido (Inc. II, art. 4º do CC).
As pessoas com discernimento reduzido (a jurisprudência deverá estabelecer o que será, exatamente, este discernimento reduzido�, pois o termo é aberto cabendo apreciar caso a caso), por serem dependentes de tóxicos ou bebidas alcoólicas são considerados pelo legislador relativamente incapazes. Se, no entanto, a sua dependência de bebida ou drogas evoluir para um estado patológico que aniquile de forma absoluta a capacidade de autodeterminação da pessoa, esta passará a ser absolutamente incapaz.
c) Excepcionais sem desenvolvimento mental completo (Inc. III, art. 4º do CC). 
Podem ser incluídos os que sofrem da síndrome de Down, os surdos-mudos, etc. Estas pessoas excepcionais se não receberam educação que lhes permita expressar a vontade, de forma plena ,são consideradas relativamente incapazes. Também neste caso caberá à jurisprudência fixar os limites do que seja desenvolvimento mental incompleto. 
d) Os pródigos (Inc. IV, art. 4º do CC). 
Pródigos são aqueles que dissipam o seu patrimônio sem razão aparente, imoderadamente, por causa de um distúrbio da personalidade. Normalmente, a origem da prodigalidade está na prática do jogo e no alcoolismo. A interdição do pródigo visa protegê-lo e à sua família, evitando que caiam na ruína. O pródigo não pode dispor de seu patrimônio, mas os outros atos da vida civil pode praticar normalmente, como contrair matrimônio, autorizar o filho para casar, fixar domicílio da família,� etc. A interdição do pródigo pode ser requerida pelo cônjuge ou familiar autorizado por lei e também pelo Ministério Público, na ausência de parentes habilitados. A interdição do pródigo não se levanta mesmo que deixe de ter família, pois, nos dias de hoje, a interdição do pródigo não visa apenas salvaguardar os interesses da sua família, mas também os dele mesmo. Não pode ser comerciante, transigir, hipotecar “dar quitação, estar em juízo e praticar, em geral, atos que não sejam de mera administração,”� para casar precisa de ser assistido pelo curador se o casamento implicar alteração do seu patrimônio.
5 - A incapacidade do índio. A lei 6001/73 é que regulamenta a situação jurídica dos índios, colocando-os como absolutamente incapazes. Esta lei, no entanto, considera válido o ato que o índio praticar se dele teve consciência e se não lhe causou prejuízo. Ao nascer, o índio que não viver nas comunidades integradas à civilização, de forma automática, está sob a tutela da Funai. E só sai dela aos 21 anos se estiver aculturado. Esta idade é mantida apesar do Código Civil ter fixado a maioridade civil aos 18 anos.
	“O índio integrado à civilização brasileira derivada da colonização européia é plenamente capaz para a prática de atos e negócios jurídicos. Se não estiver integrado, por pertencer a comunidades desconhecidas ou em via de integração, submete-se à tutela da FUNAI.” (COELHO, 2003, p. 180).
EXERCÍCIOS DE REVISÃO
1.- Como se distingue a incapacidade absoluta da relativa?
2.- Aquiles, engenheiro, casado, 50 anos de idade, foi vítima de acidente vascular cerebral devido à elevação excessiva de sua pressão arterial. Em decorrência desse mal, ficou impossibilitado de exprimir sua vontade. Contudo, depois de 18 meses de tratamentos médico e fisioterápico intensivos. Ele recobrou a mesma aptidão que tinha antes. Levando-se em conta o tempo em que padeceu da referida patologia, pode-se dizer que, naquele período, Aquiles tornou-se absolutamente incapaz? Justifique.
3.- O que você entende por pródigo? No interesse de quem é ele interditado? Justifique.
4. - Antônio foi interditado por prodigalidade (artigo 4° do CC), a pedido de sua esposa, com quem não tinha filhos. A esposa de Antônio faleceu cinco anos depois e este não tem qualquer outro parente na classe dos ascendentes e descendentes. 
Pergunta-se: A interdição de Antônio, não tendo ele outros parentes, pode ser levantada? Justifique a sua resposta.
5. - João, com 19 anos de idade, é surdo-mudo. Recebeu, no entanto, educação que lhe permite manifestar a sua vontade de maneira plena e sem necessidade de ajuda de terceiros. No mês passado, João vendeu o seu carro Mini Cooper, por preço de tabela. Mário, pai de João, entendendo que o filho fizera um mau negócio, por causa de não saber falar e nem ouvir, entrou na justiça com pedido de anulação da venda, argumentando que o filho era absolutamente incapaz no momento de negociar. 
Pergunta-se: a pretensão de Mário é procedente? Justifique a sua resposta.
6.- Antônio começou a apresentar distúrbios mentais no ano de 2000, mas apenas foi interditado em 30.06.2006, sendo-lhe nomeado como curador seu Irmão Alberto. Em abril de 2005, Antônio realizou um contrato de compra e venda com Rodrigo a quem vendeu um automóvel, transferindo o veículo para o adquirente. Em setembro de 2006, Alberto pediu judicialmente a anulação da compra e venda do veículo, aos argumentos de que a interdição de Antônio, automaticamente, tornava nulos os negócios por reste realizados, mesmo antes da interdição. 
Pergunta-se: Alberto terá sucesso na sua pretensão com os argumentos utilizados? Justifique a sua resposta.
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Comentários ao no código civil: das pessoas: (arts. 1º a 78); coordenador Sálvio Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.46.
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Op. cit., p.47.
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Op. cit., p.46-47.
� DINIZ. Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, v.1, 26ª ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2009, p. 156.
� DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p.157.
� DINIZ, Maria Helena. Op. cit., p. 157
� Idem, ibidem
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Op. cit., p.61
� GONGALVES, Carlos Roberto. Op. cit., p. 86 – 93.
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Op. cit., p.58.
� Idem, ibidem.
� FILHO, Raphael de Barros Monteiro [et al.]. Op. cit., p.62.
� TEPEDINO, Gustavo.[Et al.] Código civil interpretado conforme a Constituição da República. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 14.
� TEPEDINO, Gustavo.[Et al.]. Ob. cit., p.15
� Idem, ibidem.
� TEPEDINO, Gustavo.[Et al.]. Ob. cit., p.15

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