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CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi CO N H EC IM EN TO , T EC N O LO G IA E IN O VA ÇÃ O P A R A O F O R TA LE CI M EN TO D A A G R IC U LT U R A F A M IL IA R mda.gov.br Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi CO N H EC IM EN TO , T EC N O LO G IA E IN O VA ÇÃ O P A R A O F O R TA LE CI M EN TO D A A G R IC U LT U R A F A M IL IA R mda.gov.br Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi Org s CO N H EC IM EN TO , T EC N O LO G IA E IN O VA ÇÃ O P A R A O F O R TA LE CI M EN TO D A A G R IC U LT U R A F A M IL IA R mda.gov.br Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação ' CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA CONHECIMENTO, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO PARA O FORTALECIMENTO DA AGRICULTURA FAMILIAR Hur Ben Corrêa da Silva e Flaviane de Carvalho Canavesi CO N H EC IM EN TO , T EC N O LO G IA E IN O VA ÇÃ O P A R A O F O R TA LE CI M EN TO D A A G R IC U LT U R A F A M IL IA R mda.gov.br Ministério do Desenvolvimento Agrário Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiar CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiar CONTRIBUIÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES ESTADUAIS DE PESQUISA AGROPECUÁRIA 1ª Edição Hur Ben Corrêa da Silva Flaviane de Carvalho Canavesi (Organizadores) Brasília Ministério do Desenvolvimento Agrário 2014 DILMA ROUSSEFF Presidenta da República MIGUEL S. ROSSETTO Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário LAUDEMIR ANDRÉ MULLER Secretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário VALTER BIANCHINI Secretário de Agricultura Familiar ARGILEU MARTINS DA SILVA Diretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural HUR BEN CORRÊA DA SILVA Coordenador Geral de Relações Institucionais e Gestão do Sibrater Ficha catalográfica Elaborada pelo Centro de Documentação Ivan Otero Ribeiro/CPDA/UFRRJ C749 Conhecimento, tecnologia e inovação para o fortalecimento da agricultura familiar: contribuições das organizações estaduais de pesquisa agropecuária / Hur Ben Corrêa da Silva, Flaviane de Carvalho Canavesi (organizadores). – Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2014. 267 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8354-004-5 1. Conhecimento. 2. Tecnologia. 3. Agricultura familiar. 4. Pesquisa. 5. ATER. I. Silva, Hur Ben Corrêa da. II. Canavesi, Flaviane de Carvalho. III. Título. CDD - 630. Bibliotecária: Silvia Alves de Andrade CRB-7ª/RJ 5070 Copyright 2014 MDA MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO (MDA) www.mda.gov.br SECRETARIA DE AGRICULTURA FAMILIAR SBN – Quadra 1 – Bloco D – Palácio do Desenvolvimento – 7º andar CEP 70057-900 – Brasília/DF Telefone: (61) 2020 0910 - www.mda.gov.br Projeto Gráfico Alessandro Ribeiro Diagramação Cleiton Parente e Marcela Nunes Edição de Texto Kelly Kareline Cordova 1ª Edição Tiragem: 2.000 exemplares Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. Agradecimentos Agradecemos aos pesquisadores e às pesquisadoras, às suas equipes e às par- cerias que contribuíram enviando seus resumos expandidos. Para o conjun- to desta publicação, o pronto atendimento a esta solicitação foi importante para disponibilizarmos os conhecimentos produzidos ao longo do trabalho. Agradecemos também ao apoio e empenho dados pelo Consepa, refletindo sobre o potencial das pesquisas realizadas pelas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária. Ao MCTI/CNPq, pela parceria. A toda a equipe da Coordenação de Inovação e Sustentabilidade do Dater/ SAF/MDA, da qual fazem parte os organizadores – Hur Ben Corrêa da Silva (coordenador) e Flaviane de Carvalho Canavesi –, Cesar Reinhardt, Chris- tianne Belinzoni, Denise Cavalcanti, Alexandra Ferreira Pedroso, Jean Pier- re Passos Medaets, Thaís do Carmo Ferreira dos Santos e Manoel Mendon- ça, cujo empenho está expresso neste documento. E a todos(as) consultores(as), servidores(as) e gestores(as) que contribuíram para que o Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 pudesse ser lançado, permitindo apoiar 51 projetos, dos quais alguns resumos expandidos com os principais resultados aqui se encontram. Valter Bianchini Secretário de Agricultura Familiar Siglas Agerp – Agência Estadual de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão Agraer/MS – Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural do Mato Grosso do Sul APTA/SP – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Consepa – Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária Dater – Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural Dipap-PI – Diretoria de Pesquisa Agropecuária e Desenvolvimento Rural EBDA – Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola S.A. Emater/AL – Instituto de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas Emater/GO – Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária Emdagro/SE – Empresa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Emepa/PB – Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba Empaer/MT – Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural Emparn – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte Epagri/SC – Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Fepagro/RS – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária FNDCT – Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Incaper/ES – Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural Iapar – Instituto Agronômico do Paraná IPA/PE – Instituto Agronômico de Pernambuco MCTI – Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário Oepas – Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária Pesagro/Rio – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro Pnater – Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural SAF – Secretaria de Agricultura Familiar Secis – Secretaria de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social Unitins/TO – Fundação Universidade do Tocantins Apresentação Prefácio PARTE 1 - REFLEXÕES SOBRE A GERAÇÃO DO CONHECIMEN- TO NA AGRICULTURA FAMILIAR O papel das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) para o fortalecimento da agriculturafamiliar Florindo Dalberto Itinerários de produção e socialização do conhecimento na pes- quisa agropecuária e extensão tecnológica para a agricultura de base familiar Joaquim A. P. Pinheiro PARTE 2 - ALGUMAS EXPERIÊNCIAS Formulação de estratégias para o desenvolvimento da piscicultu- ra no Território da Cidadania do Sertão do Apodi/RN, com base em uma Unidade Padrão de Produção de Tilápias em Gaiolas Ana Célia Araújo Barbosa Desempenho produtivo de espécies florestais nas regiões semi- árida e litorânea do Rio Grande do Norte Manoel de Souza Araujo Uso de mudas micropropagadas de cultivares de bananeira (Musa spp.) resistentes ao Mal-de-Sigatoka e Mal-do-Panamá para transição agroecológica na agricultura familiar do Rio Grande do Norte Maria Cléa Santos Alves, Ana Julia Rebouças Pereira de Medeiros, Edilma da Costa Pereira e Maria de Fátima Batista Dutra Sumário 71 65 59 61 41 21 19 15 17 Controle biológico da mosca-minadora do melão, Liriomyza trifo- lii (Diptera: Agromyzidae), em áreas de agricultores familiares no Rio Grande do Norte José Robson da Silva, José Roberto Postali Parra, Tiago Cardoso da Costa Lima, André Luiz Guedes de Sousa, Elton Lúcio de Araújo, Evi- lásio Dantas de Faria, Fernanda Aspazia Rodrigues de Araújo, Fran- cisco Cipriano de Paula Segundo Eficiência do uso da terra na associação de culturas para produ- ção de biodiesel em sistemas de produção familiar José Simplício de Holanda, Flávio de Oliveira Basílio, Miguel Ferreira Neto e Tarcísio Batista Dantas Utilização de fungos entomopatógenos para o controle da Traça das Crucíferas em áreas com uso abusivo de defensivos e em sis- temas de cultivo de base ecológica Elizabeth Araújo de Albuquerque Maranhão Sistemas de cultivo agroecológicos para produção de inhame na Paraíba Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda Sistema alternativo para tutoramento da cultura do inhame (Dioscorea cayennensis) Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda Características de crescimento e produtivas de cultivares de mandioca em base agroecológica na Paraíba Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda Características morfológicas de seis cultivares de mandioca cultivadas em sistema agroecológico na Paraíba Elson Soares dos Santos 117 109 101 93 87 81 75 Cultivo agroecológico da mandioca cultivar Toninha para pro- dução de forragem no Agreste Paraibano Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante e Selma Soares dos Santos Desempenho de zebuínos submetidos à alimentação com man- dioca no Agreste Paraibano Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante, Selma Soares dos Santos e Paulo Leonardo Correia Guedes Capacitação técnica para produção de inhame e mandioca em base agroecológica na Mata Paraibana e no Agreste Elson Soares dos Santos, Valdemir Ribeiro Cavalcante, Selma Soares dos Santos, Paulo Leonardo Correia Guedes, Rômulo Pontes Freitas de Albuquerque, Saulo Vilarim de Farias Leite, Nielson Gonçalves Cha- gas e Maria do Carmo dos Santos Lima Difusão e transferência de tecnologias agroecológicas de inha- me e mandioca na Paraíba Elson Soares dos Santos, Edson Cavalcante Matias, Maildon Martins Barbosa e José Teotônio de Lacerda Inseminação artificial em bovinos para fortalecimento da agri- cultura familiar Paula Fernanda Barbosa de Araújo Lemos Desenvolvimento e validação de um modelo de produção orgâ- nica de leite, para agricultura familiar, em bases agroecológi- cas, resguardando a biodiversidade local Farouk Zacharias Identificação dos pontos de contaminação do leite, com vistas à elaboração de procedimentos-padrão de higiene para proprieda- des de agricultura familiar localizadas nos Territórios da Cidada- nia do Rio Grande do Sul. Cristine Cerva 167 163 157 145 139 131 123 Sanidade animal de rebanhos leiteiros em propriedades de agricultura familiar localizadas em Territórios da Cidadania do Rio Grande do Sul Alexander Cenci Condicionantes, estratégias, organização e agroindustrializa- ção nos sistemas de produção familiares com a cadeia do leite no Território Sudoeste do Paraná Norma Kiyota Caracterização de sistemas de produção tradicionais e agroe- cológicos de erva-mate de agricultores familiares, nas regiões Centro-Sul do Paraná e Norte Catarinense Francisco Paulo Chaimsohn Sistema de produção de leite de búfala em base agroecológica José Lino Martinez Melhorias dos sistemas de produção e da base genética da cultu- ra da mandioca no Paraná Mário Takahashi Instalação de redes de inovação tecnológica para a melhoria de sistemas de produção familiares no Território Norte Pioneiro do Paraná Dimas Soares Júnior Avaliação de fruteiras de clima temperado em unidades de di- fusão tecnológica situadas em diferentes regiões de Santa Cata- rina Marco Antonio Dalbó Envolvimento, validação, geração e difusão no processo de de- senvolvimento tecnológico da agricultura orgânica de base fa- miliar do Espírito Santo Jacimar Luis Souza 217 213 207 205 197 191 185 173 Estratégia de desenvolvimento tecnológico e social local para melhoria nos agroecossistemas produtores de hortaliças e grãos da Região Centro-Serrana do Espírito Santo Maria da Penha Angeletti Desenvolvimento sustentável e vigilância ambiental em pro- priedades rurais de agricultura familiar, com a equação de situ- ações de risco da ocorrência de doenças infectocontagiosas no noroeste do Estado do Rio de Janeiro C. H. C. Costa, P. C. Romijn, J. G. Pinheiro, L. M. S. Kimura, R. F. Nasci- mento, H. Magalhães, W. M. Gonçalves, L. M. P. Bruno, A. M. P. Bruno, L. Carvalho, M. W. Santos e A. S. Lopes Sistemas de produção de morango para agricultores familiares para diversificação da produção e como nova alternativa de ren- da na região central de Minas Gerais Juliana Carvalho Simões Desenvolvimento de um sistema silviagrícola em uma comu- nidade de agricultores familiares da Zona da Mata de Minas Gerais Flávio Pereira Silva Variedades de abacaxi cultivadas em diferentes espaçamentos por produtores familiares do Projeto Jaíba e Gorutuba Maria Geralda Vilela Rodrigues 259 255 247 241 231 - 15 - Apresentação Esta publicação faz parte de uma das estratégias de comunicação da Co- ordenação de Inovação e Sustentabilidade do Departamento de Assistên- cia Técnica e Extensão Rural (Dater) da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para promover a divulgação de resultados de pesquisas realizadas com o apoio deste Minis- tério por meio do Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/ CNPq – Nº 24/2008. Em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tec- nológico (CNPq) foram apoiados, nos últimos anos, 627 projetos voltados para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inova- ção tecnológica para a agricultura familiar, contribuindo para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos visando potencializar a inserção nos mercados e a geração de rendas agrícola e não agrícola. Especificamente neste edital – um dos instrumentos utilizados pelo MDA para o apoio ao desenvolvimento tecnológico no fortalecimento da agricul- tura familiar –, foram beneficiados 49 projetos das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas). Isso se deve ao apoio expresso pelo MDA no fortalecimento dessas instituições no bojo dos conhecimentos gerados no campo. Além de projetos apoiados por via deEdital, com os resultados aqui apresentados, o MDA aplicou, entre 2011 e 2014, um montante de R$ 14.000.000,00, segundo dados da CPIP/SAF, de 21 de março de 2014, en- tre ações de ATER, tecnologia, insumos e formação. Pretendemos com esta divulgação parcial de resultados na execução de projetos, promover um rico e intenso processo de integração entre ATER, pesquisa e agricultores familiares e suas organizações, reafirmando nos- so compromisso. Miguel Soldatelli Rossetto Ministro de Estado do Desenvolvimento Agrário - 17 - Prefácio A extensão rural brasileira, no pós-período de declínio na década de 1990, passou por uma efervescente reconstrução participativa que culminou na Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater) tornada lei em 2010. A extensão rural então, debilitada por mais de uma década, pas- sou a contar com estruturas e orçamento respondendo às demandas cres- centes para o desenvolvimento rural baseado no fortalecimento da agricul- tura familiar. Tal fato demandou repensar o modelo difusionista, bastante marcante no nascimento e desenvolvimento da extensão no Brasil, passando a considerar as metodologias participativas e a perspectiva do desenvolvi- mento rural sustentável como princípios. Este novo contexto fez com que houvesse a necessidade de aportes de recursos tanto para a formação dos agentes de Assistência Técnica e Extensão Rural quanto para a geração e dis- ponibilização de conhecimentos conectados a essa nova realidade, sob ino- vações metodológicas distantes do marco referencial difusionista. Isso posto, a parceria do MDA com o Conselho Nacional de Desenvolvimen- to Científico e Tecnológico (CNPq) vem apoiando projetos voltados para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura familiar, com intuito de contribuir para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social, por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos visando potencializar a inserção nos mercados e a geração de rendas agrícola e não agrícola. No edital que deu origem a esta publicação, as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) foram beneficiadas, entendidas como instituições importantes no bojo dos conhecimentos gerados no campo. Da mesma forma, também foram apoiados projetos em universidades bra- sileiras que hoje representam 107 Núcleos de Agroecologia em atividade, cujos resultados serão expressos em publicações posteriores. Para a elaboração deste documento, foi solicitado aos pesquisadores que tiveram projetos apoiados pelo Edital MDA/SAF/MCT/Secis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 o envio de resumos expandidos de pes- quisas realizadas no período entre 2008 (ano de lançamento do edital) e 2012 (data do encerramento dos últimos projetos). - 18 - Esse edital teve como objeto apoiar projetos voltados para a produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura familiar que pudessem contribuir para a promoção da susten- tabilidade econômica, ambiental e social, por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos para a conquista de melhores condições de inserção nos mercados e na geração de rendas agrícola e não agrícola. Foi direcionado exclusivamente para apoio a projetos ligados a pesquisado- res nas Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas). Por este edital foram apoiados 56 projetos em 11 das 18 Oepas existentes, dos quais 49 foram executados. Esses projetos também foram submetidos a uma avaliação ex post por parte da Coordenação de Inovação e Sustentabilidade para mensurar os princi- pais resultados do ponto de vista da disponibilização de conhecimentos, das mudanças institucionais, da estruturação e do fortalecimento das Oe- pas para a geração de conhecimento que fortaleça a agricultura familiar e integre ATER e pesquisa. Assim, uma avaliação de projetos apoiados via Edital MDA/SAF/MCT/Se- cis/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 é apresentada no artigo assinado pelo consultor Joaquim Pinheiro. Uma reflexão sobre o papel das Oepas na produção do conhecimento para a agricultura familiar é trazida pelo presidente do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa), Florindo Dalberto. Os resumos expandidos com os resultados de pesquisas nas regiões onde foram desenvolvidas e os respectivos contatos das equipes de pesquisa nas Oepas compõem a segunda parte desta publicação. Esperamos que as experiências aqui compartilhadas possam, além de dis- ponibilizar informações e conhecimentos para extensionistas, pesquisado- res e agricultores familiares, contribuir para o incremento da articulação entre esses atores rumo a uma transição agroecológica, objeto central dos esforços desta Secretaria para a promoção da inovação e sustentabilidade na agricultura familiar. Valter Bianchini Secretário de Agricultura Familiar 1 P A R T E Reflexões sobre a geração do conhecimento na agricultura familiar - 21 - O papel das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oe- pas) para o fortalecimento da agricultura familiar1 Florindo Dalberto2 O presente artigo tem o propósito de contextualizar o papel das Organi- zações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas) na geração de tecno- logias para o segmento da agricultura familiar (AF), elencando algumas das suas principais contribuições em produtos e serviços tecnológicos. Ainda, sugere desafios e estratégias das instituições estaduais para fazer frente, com sucesso, aos desafios dinâmicos do desenvolvimento da agri- cultura brasileira. 1. Introdução A agricultura brasileira, principalmente a realizada em estabelecimentos familiares, tem contribuído substancialmente para o mercado domésti- co, produzido alimentos a preços relativamente baixos, colaborando para o controle da inflação (GONÇALVES, 2002; ALVES et al., 2013). Esse papel, aliás, assemelha-se ao exercido em outros períodos históricos, como na in- dustrialização e urbanização do país durante a fase desenvolvimentista do século passado. Aliada à produção de alimentos para o autoconsumo, tal contribuição da agricultura familiar guarda elevada importância estratégi- ca nas políticas de segurança alimentar. Daí a necessidade de incluí-la, com seu devido protagonismo, na agenda de pesquisa agropecuária, a fim de incorporar ganhos de produtividade e qualidade permitidos pela inovação tecnológica, bem como oferecer eficiência econômica e adequada perfor- mance ambiental. O processo de inovação tecnológica é dependente da contínua busca e apli- cação de novos conhecimentos. Na agricultura, adicionalmente, é requeri- da a adaptação das inovações às condições agroecológicas e socioeconômi- cas específicas das regiões onde ocorre a produção. Portanto, o desenvolvi- mento de inovações para o agronegócio depende de uma robusta estrutura de pesquisa regional, capaz de tornar as tecnologias aplicáveis localmente, respeitando condições sociais e ambientais específicas para a sustentabi- 1 A elaboração deste artigo teve a colaboração de Tiago Pellini, pesquisador e coordenador da Área Técnica de Socioeconomia do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), e de Talize Alves Garcia Fernandes, ex- secretária executiva do Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Consepa). Também colaborou, com sugestões à versão final, Danilo Rheinheimer dos Santos, presidente da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro-RS). 2 Presidente do Consepa e diretor-presidente do Iapar - 22 - lidade dos sistemas produtivos. E, para tornar ainda mais complexo esse contexto, as peculiaridades culturais e socioeconômicas das regiões geo- gráficas – em que diferentes processos de colonização podem determinar distintasnecessidades de inovação por parte dos produtores rurais – e a estratificação fundiária requerem o desenvolvimento de soluções viáveis para os diferentes segmentos de produtores (DALBERTO; PELLINI, 2013). É justamente nesse contexto que está a essência da missão das Oepas, ou seja, atuar em P&D e na validação de tecnologia agropecuária no âmbito local e regional, por meio de uma estrutura de bases físicas, equipes e proje- tos com suficiente capilaridade para permitir sua maior proximidade com usuários específicos. A argumentação central do artigo é no sentido de revelar a natureza es- sencial das instituições estaduais de pesquisa agropecuária: atuar na sis- tematização de informações tecnológicas, relacionando-as com os diver- sos estratos de produtores e domínios específicos de recomendação. Em paralelo, expõem-se os presentes desafios das Oepas para aprimorar sua complexa interação com outros organismos de P&D e instituições relacio- nadas à transferência de tecnologia para a agropecuária e para as cadeias do agronegócio Nesse contexto destacam-se o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Informação (SNCTI), constituído por universidades, institutos de pesquisa e agências financiadoras de C&T e, mais particular e direta- mente, o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que congrega a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e as 17 institui- ções estaduais representadas pelo Conselho Nacional dos Sistemas Estadu- ais de Pesquisa Agropecuária (Consepa). As seções que seguem relacionam brevemente a importância da agricul- tura familiar na economia, elencam aspectos históricos da formação ins- titucional da estrutura da pesquisa agropecuária brasileira e destacam algumas contribuições das Oepas no desenvolvimento agrícola, caracte- rizando seus principais ativos e sua estrutura de pesquisa. Na conclusão, reitera-se o papel estratégico das organizações estaduais de pesquisa para a agricultura brasileira e a permanente necessidade de manter os sistemas estaduais fortalecidos e atuantes para um desenvolvimento rural que seja inclusivo aos diferentes segmentos de agricultores e regiões. - 23 - 2. A importância econômica e social da Agricultura Familiar A agricultura familiar, segundo o Censo Agropecuário de 2006 (IBGE, 2006), emprega quase 75% da mão de obra no campo e detém pouco menos de 85% dos estabelecimentos agropecuários. Embora ocupe menos de 25% da área total, responde por 38% do valor da produção agropecuária nacional. Destaca-se na produção de feijão (70%), mandioca (87%), leite (58%) e milho (46%) e possui expressiva participação nos rebanhos de suínos (59%) e aves (50%), produtos importantes para garantir a segurança alimentar do País. Guilhoto et al. (2007) estimaram a participação da AF na composição do PIB, conforme mostra a Figura 1, indicando forte ligação das cadeias indus- triais da avicultura, da suinocultura, dos lácteos, do fumo e do processa- mento de alguns produtos vegetais com o agronegócio familiar. Figura 1 – Participação da agricultura familiar e empresarial na composição do PIB agropecuário Fonte: GUILHOTO et al. (2007). % PIB Familiar e Patronal PIB - Familair 0% 50% 100% 0 2,6 6,4 3,1 7,8 5,8 2,3 4,3 2,7 1,0 1,3 3,0 7,3 2,3 2,6 1,8 2,0 0,4 5 10 Bilhoes de reais (valores de 2005)PIB - Patronal PIB do Setor Rural Familiar Outros pecuária 49 51 Leite Suínos 59 55 45 41 Aves 48 82 18 59 43 43 41 37 31 28 23 13 8 92 87 77 72 69 63 59 57 57 41 28 96 72 52 Bovinos Fumo Mandioca Feijão Trigo Milho Arroz Frutas e hortaliças Café Soja Outros cultivos Cana Algodão - 24 - 3. A pesquisa agropecuária numa perspectiva histórica Numa perspectiva histórica, é útil dividir a pesquisa agropecuária no Brasil em dois períodos distintos, um anterior à década de 1970 e, outro, a partir dos anos 1970 (BEINTEMA et al., 2001). O primeiro período inicia-se tendo como protagonistas os institutos imperiais do final do século XIX. Também naquele século é que se materializaram as estruturas estaduais que evo- luíram para uma rede de unidades de pesquisa agropecuária. Assim, em 1859-60 o imperador criou cinco Institutos de Pesquisa nas províncias da Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Sergipe, tendo êxi- to os Institutos Imperiais de Agricultura no Rio de Janeiro (IIFA) e na Bahia (IIBA), concentrando-se no trabalho com café e cana-de-açúcar. No final do século XIX a produção de café foi deslocada do Rio de Janeiro para o estado de São Paulo e, por pressão dos cafeicultores, foi criada em 1887 a Estação Imperial Agronômica de Campinas, renomeada em 1891 como Instituto Agronômico de Campinas (IAC), denominação que permanece até hoje. Ainda no primeiro período, mas já na República, vários outros Institutos de Pesquisa foram criados sob a coordenação do Ministério da Agricultu- ra nos anos 1920, entre os quais: a Estação Experimental de Campos, em 1910, hoje pertencente à estrutura da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); a Estação de Sementes Alfredo Chaves, em 1919, no município de Veranópolis (RS), hoje parte da Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro); o Instituto Biológico de São Paulo (IB), em 1927; e o Instituto de Pesquisa Agropecuária (IPA), em Per- nambuco, em 1935. Com o advento do Estado Novo, em 1937, o Ministério da Agricultura criou o Centro Nacional de Ensino e Pesquisa Agrícola (CNEPA). Em 1943, o en- sino foi separado da pesquisa e experimentação, e essas últimas foram consolidadas em uma agência, o Serviço Nacional de Pesquisa Agronômica (SNPA), composto por três unidades centrais e uma rede de estações expe- rimentais agrupadas em cinco regiões. Em 1962, esse Serviço foi reorganizado, constituindo, juntamente com o Departamento Nacional de Produção Animal, o Departamento de Pesquisa e Experimentação (DPEA). A partir de nova reorganização, em 1967, passou a chamar-se Escritório de Pesquisa e Experimentação (EPE), sendo poste- riormente transformado no Departamento Nacional de Pesquisa e Experi- mentação Agropecuária (DNPEA) em 1971, tendo o direcionamento de suas - 25 - atividades na promoção das exportações de produtos agrícolas brasileiros. Após avaliações realizadas pelo Ministério da Agricultura no DNPEA, deci- diu-se em 1972 pela criação de uma empresa pública, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que assumiu os Institutos de Pesqui- sa e as Estações Experimentais que estavam sob a coordenação do DNPEA. Essa reorganização, na década de 1970, dá início ao segundo período. É quando surge a Embrapa, em 1974, e são criados diversos órgãos estadu- ais: no Paraná, o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), em 1972; em Mi- nas Gerais, a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), em 1974; em Santa Catarina, a Empresa Catarinense de Pesquisa Agrope- cuária (Empasc, atual Epagri) e, no Espírito Santo, o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), em 1975; no Rio de Janeiro, a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janei- ro (Pesagro), em 1976; na Paraíba, Empresa Estadual de Pesquisa Agrope- cuária da Paraíba (Emepa), em 1978; e, no Rio Grande do Norte, a Empre- sa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), em 1979. A agenda de pesquisa dessas instituições inicialmente atendeu à deman- da por informações básicas para a agricultura estadual, que não tinham referências técnicas precisas, tais como sobre adubação e correção de so- los, teste e recomendação de cultivares, teste de eficiência de defensivos agrícolas e sistemas motomecanizados de preparo do solo. Isso habilitou os técnicos e agricultores àprescrição e adoção das tecnologias preconizadas pelo modelo de modernização da Revolução Verde. Numa fase posterior, que se entende ao presente, estabeleceu-se uma pauta de atividades de P&D que abordava os sistemas agrícolas de produção, além da eficiência agro- nômica, as possibilidades de diversificação e redução de riscos, o resultado econômico e a adequada proteção dos recursos solo e água. - 26 - 4. As principais contribuições das Oepas à agropecuária brasileira As Oepas têm uma diversificada agenda de pesquisa, que envolve uma am- pla gama de áreas do conhecimento, com destaque para as seguintes: Nesta parte, são destacadas algumas linhas de atuação institucional e re- sultados tecnológicos circunscritos às Oepas. Parte das referências aqui apresentadas foi organizada pelo pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA) José Sidnei Gonçalves (in memoriam) para o Consepa e enca- minhada por Talize Alves Garcia Fernandes ao autor. Todas as variedades de café plantadas no Brasil foram desenvolvidas pela pesquisa estadual. E em função dessa contribuição tecnológica, expressivos incrementos de emprego e renda foram viabilizados no País, dado que foi triplicada a produtividade. No caso do café arábica, sua expansão se deu no Vale do Paraíba fluminense, adentrando São Paulo, passando pelo norte do Paraná e atingindo o Cerrado Mineiro. A base técnica dessa expansão e a consolidação desse complexo produtivo reestruturador da economia e da sociedade brasileira teve contribuição relevante de resultados da pesquisa estadual, envolvendo variedades e outras técnicas que colocam o Brasil na liderança mundial nessa cadeia, como o maior exportador. O café, que antes seguia a trilha da terra roxa, recebeu nos anos 1950 importante contribui- ção em termos de diversas variedades que permitiram a ocupação dos solos podzolizados, considerados menos férteis. Por sua vez, para o café robusta (o Brasil é, atualmente, o segundo maior produtor de café robusta do mundo), a cultura tomou grande impulso no país a partir de 1993, quando foram lança- das três variedades clonais no estado do Espírito Santo, que é o maior produ- tor brasileiro deste café. Essas variedades, além de mais produtivas e de maior • Genética e melhoramento • Biotecnologia • Meio ambiente • Manejo e conservação do solo • Sementes • Genômica • Fitossanidade/Fitopatologia • Sanidade animal • Botânica • Nutrição de plantas • Entomologia • Fruticultura • Nutrição animal • Pedologia • Sensoriamento remoto • Forragens e rações • Qualidade dos alimentos - 27 - uniformidade de plantas e de tamanho de grão, comparativamente à tradicio- nal, possuem período de colheita diferenciado – precoce, médio e tardio –, per- mitindo, assim, melhor utilização da mão de obra familiar na colheita e maior oferta do produto. Elas têm contribuído para um aumento médio de cerca de 200% na produtividade e na qualidade do produto brasileiro, bem como têm permitido a expansão da cultura nos estados do norte e nordeste do país. A produção de café em sistemas de plantio adensados, cujo modelo tecno- lógico foi desenvolvido pelo Iapar, viabiliza mudanças estruturais impor- tantes, permitindo elevada renda e geração de oportunidades de trabalho. Propriedades familiares que plantam café em cultivos adensados obtêm elevada produtividade e qualidade superior da bebida, geram três vezes mais renda e cinco vezes mais emprego por unidade de área, ou seja, os novos cultivos de cafés ampliam a perspectiva de desenvolvimento com justiça social, como multiplicação de propriedades familiares rentáveis. O sistema de Alerta Geada do Iapar para proteção das lavouras de café é tido como referência nacional em agrometeorologia operacional e está dis- ponível na página do Iapar na internet (<www.iapar.br>), com emissão de boletins diários atualizados (entre 1º de maio e 31 de agosto); via linha te- lefônica de discagem gratuita, com mensagem gravada atualizando a pre- visão diariamente (telefone 43 3391-4500); ampla divulgação aos meios de comunicação e, ainda, lista de e-mails cadastrados em <alerta_geada@ia- par.br>. Após as fortes geadas ocorridas em julho de 2000, levantamentos comprovaram os benefícios do Sistema, demonstrando que foram evitadas perdas em torno de 20 milhões de reais na cafeicultura, por meio da prote- ção de lavouras com até dois anos de campo (IAPAR, 2010). Outra atividade na qual as organizações públicas estaduais de pesquisa agropecuária ocupam posição de liderança em ciência e tecnologia nacio- nal, em razão de sua competência técnica, é a citricultura. A produção de citros brasileira destaca-se como segmento de ponta no panorama mundial, sendo essa construção resultado de políticas públicas estaduais de pesquisa e desenvolvimento persistentes no tempo. Com isso, houve a troca de todo o plantel de variedades por outras desenvolvidas nos laboratórios estaduais, com maior produtividade e rendimento industrial, além de alargarem o período de colheita e serem dotados de resistência a doenças limitantes. Há que se destacar a superação de limitações fitossanitárias, que tinham o potencial de dizimar os pomares citrícolas, como tristeza dos citros, cancro cítrico, declínio dos citros e, mais recentemente, a clorose variegada dos - 28 - citros. Foram os resultados do trabalho das organizações estaduais de pes- quisa que permitiram manter a potencialidade produtiva nacional, e nos laboratórios estaduais é que foram desenvolvidos os projetos genomas que colocam o Brasil na liderança mundial da fronteira do conhecimento ge- nético. O complexo citrícola brasileiro é líder em termos de competitivida- de no mercado internacional – tanto assim que os norte-americanos, para proteger a produção da Flórida de sucos cítricos, precisam manter elevadas barreiras tarifárias ao suco brasileiro – graças à capacidade de inovação da pesquisa estadual, associada à capacidade empresarial e à ação proativa na construção do mercado externo para seus produtos. Um fato emblemático da importância da pesquisa estadual é a cultura co- mercial de frutas cítricas no Paraná. Essa atividade foi retomada no final da década de 1980 graças ao empenho de pesquisadores do Iapar, que de- senvolveram variedades resistentes ao cancro cítrico. Antes, desde a déca- da de 1960, o estado estava impedido, pelo Ministério da Agricultura, de plantar citros de forma comercial. Essa barreira foi rompida graças a uma articulação técnico-política que envolveu o Governo do Estado e os institu- tos de pesquisa, permitindo a expansão da citricultura e a constituição de importantes polos de produção no norte e noroeste do Paraná. Numa atividade predominantemente familiar – a bovinocultura de leite –, o desenvolvimento do potencial genético de produção leiteira, com a in- trodução de raças melhoradoras, como a holandesa, e seu cruzamento com outras mais adaptadas à variabilidade da diversidade edafoclimática brasileira, foi resultado de intenso esforço da pesquisa agropecuária esta- dual. Deve-se salientar que as características socioculturais são elemento determinante no sucesso dos sistemas de produção leiteira, exigindo uma forte ação adaptativa de tecnologia, com testes em sistemas de produção locais, para se conseguir avanços significativos em termos de desempenho global de produtividade e qualidade. Nesse processo, a disponibilização da base genética melhoradora da pesquisa estadual, em associação com as or- ganizações de criadores, revela-se condicionante de mudanças estruturais visando a competitividade da cadeia de produção de leite. Ainda como demonstração da expressão nacional dos resultados da pes- quisa estadual nos grandes complexos da produção animal, a introdução e o desenvolvimento da genética da moderna pecuária zebuína no Brasil foi apoiada pela pesquisa agropecuáriaestadual, em suporte às organizações privadas de desenvolvimento de raças bovídeas. Os rebanhos melhorados - 29 - de zebuínos das organizações estaduais de pesquisa formam um patrimô- nio de inestimável valor estratégico para a pecuária nacional. O fato de o Brasil ter o maior rebanho comercial do mundo decorre da qualidade das pastagens disponíveis em termos de variedades e técnicas de manejo e da qualidade genética do rebanho. A produtividade e qualidade da produção de carne advêm da interação derivada de cruzamentos com raças europeias de carne marmorizada, propiciando ao Brasil a posição de liderança tecno- lógica mundial da produção de carne a pasto, uma vantagem competitiva para ampliação das exportações brasileiras. Ainda, em sanidade animal, existe uma inestimável estrutura de pesquisa e desenvolvimento de mé- todos avançados de diagnoses e diagnóstico das organizações estaduais de pesquisa agropecuária que são uma garantia da inserção competitiva brasileira no mercado internacional de produtos de origem animal. Pelo padrão de suas unidades laboratoriais de referência, com qualidade com- patível com as exigências internacionais, além do desenvolvimento de es- tudos em zoonoses e problemas fitossanitários limitantes, as organizações estaduais de pesquisa agropecuária alicerçam o complexo produtor de pro- teína animal no Brasil. A pesquisa agropecuária estadual detém resultados de reflexos nacionais inequívocos, na pesquisa em milho, arroz e feijão. No caso do milho, a di- versificação de cultura e a sua disseminação por todas as regiões brasilei- ras com incrementos de produtividade de 350% desde os anos 1940 teve im- portante protagonismo da pesquisa agropecuária estadual. No momento atual, ainda que predominantemente a base genética do milho utilizada na produção brasileira seja oriunda das empresas multinacionais de semen- tes, a pesquisa pública estadual tem um papel relevante na validação de tecnologias regionais e para a propriedade familiar. Além disso, foi resul- tante do esforço da pesquisa agropecuária estadual, a viabilização de outra safra de milho fora do plantio tradicional das águas, o denominado milho safrinha, que ampliou as possibilidades da produção nacional. Os arrozais irrigados do sul do Brasil foram desenvolvidos pela excelência da pesquisa pública estadual, que resultou em níveis de produtividade e qualidade compatíveis com aqueles observados nas maiores nações rizí- colas mundiais. Nos sistemas irrigados das demais unidades da federação, também houve um intenso ganho de produtividade, fruto de variedades locais, em especial decorrentes da necessidade de selecionar materiais resistentes a diferentes raças de brusone, doença limitante da produção. - 30 - Por outro lado, nos plantios de sequeiro e de várzea úmida, a superioridade dos materiais e das inovações resultantes da pesquisa agropecuária estadu- al está presente em todas as zonas de produção nacionais. O resultado de pesquisa em feijão pela pesquisa agropecuária estadual tem destaque em âmbito nacional. Exemplo disso é o feijão tipo carioquinha, ge- rado em São Paulo pelo IAC no final dos anos 1960 e irradiado amplamente no território brasileiro. Esse material foi trabalhado pelas unidades esta- duais de pesquisa agropecuária, produzindo variações importantes para características locais, além de técnicas de cultivo que elevaram seu poten- cial produtivo. Na mesma linha, as variedades de feijões desenvolvidas pelo Iapar, que são adaptadas às diversas regiões paranaenses, atraem interesse e avançam sendo cultivadas em outras áreas do Brasil. Isso porque trazem características culinárias que atendem ao mercado e características técni- cas que respondem às necessidades específicas dos produtores em relação a exigências de fertilidade, tolerância a doenças, épocas para semeadura, potencial produtivo e mesmo para a diminuição do uso de agroquímicos. Os inoculantes, que na atualidade são amplamente difundidos e recomen- dados em substituição aos fertilizantes nitrogenados na cultura da soja e de outras leguminosas, tiveram participação fundamental da pesquisa estadual. Estima-se que o uso da fixação biológica de nitrogênio permita uma economia de R$ 9 bilhões para o Brasil, devido ao seu custo muito in- ferior em relação aos fertilizantes nitrogenados. Em 1950, na antiga Seção de Microbiologia Agrícola (Semia), da Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul, hoje Centro de Fixação Biológica do Nitrogênio, da Fun- dação Estadual de Pesquisa Agropecuária (Fepagro), iniciou-se a pesquisa para a seleção de estirpes e a produção de inoculantes, principalmente para soja (FREIRE; VERNETTI, 1999). Destaca-se que o Laboratório de Mi- crobiologia da Fepagro é o único no Brasil autorizado a realizar análises de qualidade para controle oficial de inoculantes junto ao Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), trabalho que vem sendo prestado desde 1975. Contudo, um dos aspectos notórios do trabalho das Oepas no que se refe- re à contribuição à AF é a abordagem sistêmica dos sistemas de produção agropecuária. Para ilustrá-la, relata-se a seguir a experiência das Redes de Propriedades de Referência, realizadas no Programa de Pesquisa em Siste- mas de Produção (PSP) do Iapar. Em seu esforço de desenvolver metodolo- gias para as etapas básicas de seu trabalho de investigação em sistemas de - 31 - produção (tipologia, diagnóstico, validação de tecnologias e validação de sistemas), o PSP adotou as Redes de Propriedades de Referências, desenvol- vidas pelo Institut l’Élevage desde 1981, aproveitando um programa de coo- peração entre o Brasil e a França que vigorava em 1988. Houve a instalação de duas Redes de propriedades em regime experimental em 1994, seguida da implantação de uma proposta mais abrangente em 1998, envolvendo o Iapar e o Instituto Emater-PR, no Projeto Paraná 12 Meses, com aporte de recursos financeiros do Banco Mundial. Uma Rede de Referências é um conjunto de propriedades representativas de determinado sistema de produção familiar predominante na região, que após processo de otimização visando ampliação de sua eficiência e susten- tabilidade, conduzido por agricultores e técnicos, serve como referência técnico-econômica para as outras unidades por ela representadas. Seus ob- jetivos específicos são os seguintes: • levantar demandas de pesquisa a partir de diagnósticos nas propriedades; • realizar testes, ajustes e validação de tecnologias; • ofertar opções técnicas que ampliem a eficiência dos sistemas de produção; • disponibilizar informações e propor métodos para orientar os agriculto- res na gestão do empreendimento agropecuário; • servir como polo de difusão e capacitação de técnicos e agricultores; e • subsidiar formulação de políticas de promoção da agricultura familiar. As etapas do trabalho das Redes de Referências são apresentadas na Fi- gura 2. Inicialmente se realiza um estudo prévio da região de trabalho, com caracterização dos recursos naturais e das condições socioeconômi- cas. Esse é seguido pela tipologia dos agricultores familiares, levando em conta as atividades econômicas mais importantes na geração de renda em suas propriedades e sua categoria social, permitindo a identificação dos principais sistemas de produção, utilizando critérios tais como a fre- quência absoluta dos estabelecimentos, a área total, o pessoal ocupado (equivalente-homem), o valor bruto da produção e o potencial produtivo para o desenvolvimento regional. Nessa etapa os dados censitários de- sempenham um papel primordial. - 32 - Figura 2 – Metodologia de trabalho na Rede de Referência Fonte: Consepa, 2005. De posse dessas informações, uma comissão regional, composta por repre- sentantes do governo e de beneficiários do projeto, seleciona os sistemas deprodução que irão integrar as Redes. Nos estabelecimentos agropecuários escolhidos é efetuado um diagnóstico expedito, com base em informações fornecidas pelos agricultores e por observações feitas por extensionistas locais, tendo como objetivo a planificação das atividades de validação de inovações tecnológicas. Conforme indicado na Figura 2, o objetivo das “Re- des” é a obtenção de referências técnicas adequadas às condições socio- econômicas dos agricultores, servindo também para o embasamento das ações de difusão de tecnologias e provimento de subsídios para políticas públicas. Trabalhos com Redes de Referências são também relatados para os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina (CONSEPA, 2005). Com o apoio do Consepa foram realizadas capacitações em Redes de Referências na Emparn, Idaterra, Agenciarural e Incaper. Os resultados expostos nesta seção exemplificam a contribuição da pes- quisa pública estadual, sendo algumas dentre um grande número de ações com reflexos relevantes na dinâmica econômica local ou regional. D I F U S Ã O Diagnóstico Caracterização Regional Tipificação Escolha dos Sistemas Seleção das Propriedades Planejamento Referências (Sistemas e Modulares) • Políticas públicas • Pesquisa • Extensão S U B S Í D I O S - 33 - 5. As organizações estaduais no contexto do SNPA O surgimento da Embrapa foi uma decorrência das realidades político-eco- nômica e institucional dos anos 1970 no país, em que prevalecia a abundân- cia de recursos financeiros e centralização decisória das políticas públicas. Durante os anos 1970 e 1980 a Embrapa estimulou a criação de empresas estaduais de pesquisa agropecuária seguindo o seu modelo organizacio- nal, as quais constituíram, com ela e sob sua coordenação, inicialmente o Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária (SCPA) e, posteriormente, o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). No final dos anos 1980 e no início dos 90, como consequência das mudan- ças na Constituição de 1988, que deu aos estados e municípios maior par- ticipação na distribuição dos recursos arrecadados pelo governo federal, o montante de recursos financeiros que a Embrapa repassava às empre- sas estaduais foi reduzido substancialmente. Isso foi exacerbado em de- corrência da crise fiscal brasileira, e os problemas dos sistemas estaduais acirraram-se nos anos 1990, levando ao desaparecimento de várias dessas entidades. À medida que a crise do SNPA se aprofundava, as Oepas que conseguiram sobreviver sofreram processos de rearranjos institucionais, uma vez que os estados tiveram dificuldades em manter as instituições es- taduais, ante a escassez de recursos. De um total de 21 sistemas estaduais especializados em pesquisa agropecuária, que existiam no final dos anos 1970, permanecem atualmente 18 entidades, sendo apenas seis delas vol- tadas exclusivamente à pesquisa agropecuária, com as demais formando parte de sistemas mais amplos, que englobam atividades de extensão rural, fomento, ensino ou fiscalização agropecuária. Em 1993 foi criado o Conselho Nacional das Entidades Estaduais de Pes- quisa Agropecuária (Consepa), com o objetivo de buscar o fortalecimento dos sistemas estaduais. Hoje é composto por 18 Oepas (Figura 3): Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn); Empresa Es- tadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (Emepa); Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig); Empresa de Pesquisa Agropecuá- ria do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio); Agência Paulista de Tecnolo- gia dos Agronegócios (APTA); Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro); Instituto Agronômico do Paraná (Iapar); Fundação Universidade do Tocantins (Unitins); Agência Goiana de Assis- tência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater-GO); Em- presa de Desenvolvimento Agropecuário de Sergipe (Emdagro); Instituto - 34 - de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas (Ema- ter-AL); Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA); Empresa Mato-Grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT); Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri); Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA); Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper); Agência Estadu- al de Pesquisa Agropecuária e de Extensão Rural do Maranhão (Agerp) e Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul (Agraer). Figura 3 – As Oepas em 2014 Fonte: Consepa. A G R Í C O L A Pesquisa e Desenvolvimento Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável de Alagoas Pesagro-Rio EMDAGRO EMPRESA DE DESENVOLVIMENTO AGROPECUÁRIO DE SERGIPE - 35 - O Quadro 1 apresenta, em termos quantitativos, informações sobre a infra- estrutura de pesquisa compreendida pelo conjunto das Oepas. Quadro 1 – As Oepas em números Fonte: Consepa. Obs.: O sistema APTA, de SP, compreende o Instituto Agronômico (IAC), o Instituto de Zootecnia (IZ), o Ins- tituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), o Instituto Biológico (IB), o Instituto de Economia Agrícola (IEA) e o Instituto de Pesca (IP). Esses números indicam que os sistemas estaduais, juntos, representam aproximadamente uma estrutura semelhante à de mais uma Embrapa, a qual compreende 47 centros nacionais, temáticos e ecorregionais de pes- quisa, 2.427 pesquisadores e 9.800 funcionários. Instituições (em 17 estados) 21 Total de funcionários 10.200 Total de pesquisadores 2.032 Graduados 408 Mestres 706 Doutores 918 Estações e fazendas experimentais 239 Laboratórios 298 Projetos de pesquisa e inovação tecnológica 2.800 Número de experimentos 9.685 Bibliotecas 34 Orçamento anual (bilhão de reais) 1,1 - 36 - Contudo, diferentemente da Embrapa, cuja estratégia de atuação é prin- cipalmente por centros com atuação e resultados de alcance nacional, as estruturas estaduais de pesquisa atuam em proximidade com as questões locais e regionais. Possuem maior capilaridade, o que as habilita a uma ar- ticulação estreita com entidades e aderência à realidade local. Essa forma de atuação também resulta em maior competência para promover o de- senvolvimento local e para gerar modelos tecnológicos próprios. Resulta, ainda, em capacidade de envolver os segmentos que fazem parte do setor agrícola na priorização dos programas de pesquisa e adoção do enfoque sistêmico na condução da pesquisa. Destacam-se como pontos fortes das Oepas: capilaridade e conhecimento histórico da realidade regional; facilidade de articulação com o agronegócio local; compreensão dos sistemas de agricultura familiar e interação com suas organizações; conhecimento do patrimônio genético local; integração tecnológica aos programas estaduais de desenvolvimento da agricultura; integração com os sistemas estaduais de extensão rural; diversidade institucional adequada às condições locais. Tais características credenciam as instituições estaduais a atuar diante das novas exigências do desenvolvimento local, que incluem novos conceitos sobre o espaço rural, o qual deve ser transformado a fim de criar condições dignas para os que ali habitam. Esse desenvolvimento só pode ser alcança- do como produto da ação articulada entre os diversos segmentos atuantes no município ou região; e é nessa articulação e nesse desenvolvimento que se torna ainda mais relevante o papel da pesquisa agropecuária estadual. O desenvolvimento dos espaços rurais demandam soluções próprias e especí- ficas que só as instituições que vivenciam o cotidiano local têm a percepção para buscar as respostas para esses desafios. É nesse contexto que se há de examinar a importância institucional e funcional das Oepas, em projetar novos, mais avançados e sustentáveispadrões de agricultura no País. Essa forma de atuação das Oepas também resulta: na maior competência para promover o desenvolvimento local; na maior capacitação para promover o desenvolvimento sustentável; no efetivo envolvimento do segmento produtivo no desenvolvimento dos programas de pesquisa; e - 37 - na capacidade de gerar modelos tecnológicos próprios, que garantam a autonomia tecnológica dos estados. 6. Considerações finais O conhecimento local e a reconhecida competência dos seus quadros tor- nam as Oepas especialmente habilitadas para detectar e solucionar os pro- blemas das atividades agropecuárias. Dada a diversificação da agricultura familiar brasileira, em termos sociais, culturais e ambientais, essa capaci- dade de suplantar um paradigma setorial e trabalhar localmente, de forma multidisciplinar, é uma virtude das Oepas. Essas organizações se diferen- ciam por não realizar pesquisa apenas de forma prescritiva, mas também por avaliar a adaptabilidade das tecnologias levando em conta a realidade dos agricultores nas suas diversas dimensões, tal como foi ressaltado na introdução deste trabalho. As Oepas, pela sua singular capilaridade, constituem-se em estruturas particularmente efetivas para, por um lado, identificar, sistematizar e so- lucionar a grande diversidade de problemas de tecnologia agropecuária e, por outro, desenvolver as potencialidades dos sistemas de produção locais. Portanto, complementam-se com a Embrapa no papel de prover, de forma continuada, inovações tecnológicas ao agronegócio nacional. Apesar das sucessivas reordenações institucionais no decorrer da história, as Oepas contribuíram com a construção de grande parte do patrimônio científico e tecnológico em agricultura no país, e são na atualidade man- tenedoras de importantes ativos da pesquisa agropecuária, considerando infraestrutura física de laboratórios e estações experimentais, gestão de recursos genéticos/germoplasma e capital humano altamente qualificado. Essa condição possibilita, paralelamente ao desenvolvimento de pesquisas relevantes localmente, a execução de projetos com abrangência territorial ampla, tais como experimentos em rede. Os principais problemas e desafios que as Oepas enfrentam na atualidade referem-se à crise fiscal dos estados, que repercute em falta de investimen- to em pesquisa; à retração do apoio financeiro federal, em termos de fluxo contínuo; à obsolescência de equipamentos e instalações; à dificuldade de renovação e reciclagem dos quadros de pessoal; e, ainda, à necessidade de modernização das estruturas organizacionais. - 38 - Com a criação, pela Lei nº 12.897, de 18 de dezembro de 2013, da Agência Na- cional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) – organização em âmbito federal com a missão de: i) realizar assistência técnica ao produtor rural em todas as etapas da produção e ii) atuar de forma integrada com a pesquisa para a transferência de tecnologia –, o espaço para a aplicabilida- de da pesquisa das Oepas se torna maior e mais relevante, ou seja, em fun- ção da sua dimensão, capilaridade e aparato de transferência tecnológica já estruturado e consolidado, e da sua inerente sinergia com os serviços de assistência técnica e extensão rural, as Oepas terão papel fundamental na operacionalização da Anater. Considerando sua trajetória na pesquisa agropecuária nacional e os novos papéis que se apresentam, as Oepas são estratégicas no fortalecimento da agricultura, em particular da AF. Assim, as organizações estaduais devem, portanto, ser incluídas com apropriado grau de importância na agenda das políticas públicas voltadas ao desenvolvimento rural. Referências ALVES, Eliseu Roberto de Andrade; SOUZA, Geraldo Silva e; GOMES, Eliane Gonçalves (Ed.). Contribuição da Embrapa para o desenvolvimento da agrope- cuária no Brasil. Brasília: Embrapa, 2013. 291p. BEINTEMA, N. M.; AVILA, A. F. D.; PARDEY, P. G. P&D agropecuário: política, investimentos e desenvolvimento institucional. Washington, D.C.: IFPRI, Embrapa and Fontagro, 2001. 116p. CONSEPA – Conselho Nacional dos Sistemas Estaduais de Pesquisa Agro- pecuária. Redes de referências: um dispositivo de Pesquisa & Desenvolvimen- to para apoiar a promoção da agricultura familiar. Campinas: Consepa, 2005. 44p. DALBERTO, F.; PELLINI, T. A contribuição da C&T para o desenvolvimento do agronegócio: a trajetória da pesquisa no Instituto Agronômico do Para- ná (Iapar) e seus principais resultados. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE POLÍTICA ECONÔMICA: A CONTRIBUIÇÃO DA CIÊNCIA E DA TECNO- LOGIA PARA O DESENVOLVIMENTO DO AGRONEGÓCIO, 25., 2013, Viço- sa. Anais... Viçosa: UFV, 2013. FREIRE, J. R. J; VERNETTI, F. J. A pesquisa com soja, a seleção de rizóbio e a produção de inoculantes no Brasil. Pesquisa Agropecuária Gaúcha, Porto Alegre: Fepagro, v. 5, n. 1, 1999. - 39 - GONÇALVES, J. S. Benefícios da pesquisa agrícola estadual. São Paulo: IEA, 2002. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out//LerTexto.php?codTex- to=325>. Acesso em: 12 mar. 2014. GUILHOTO, J. J.; ICHIHARA, S. M.; SILVEIRA, F. G. D.; DINIZ, B. P. C.; AZZO- NI, C. R.; MOREIRA, G. R. A importância da agricultura familiar no Brasil e em seus estados. Brasília: NEAD, 2007. IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná. Ciência, tecnologia e inovação na agropecuária do Paraná. Londrina: Iapar, 2010. 66p. (Iapar. Documento, 33). IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário de 2006: agricultura familiar – primeiros resultados. Rio de Janeiro: IBGE, 2006. 267p. SUGAMOSTO, M.; ARAUJO, A. G.; RODRIGUES, A.; LIBARDI, D.; MIRANDA, G. M.; TORRENS, J. C.; MARQUES, L.; DORETTO, M.; WAVRUK, P.; PELLINI, T. Identificação das inovações tecnológicas desenvolvidas pela agricultura fa- miliar: subsídios e diretrizes para uma política pública. Curitiba: Ipardes; Iapar; Deser, 2006. v. 1. - 41 - Itinerários de produção e socialização do conhecimento na pes- quisa agropecuária e extensão tecnológica para a agricultura de base familiar1 Joaquim A. P. Pinheiro2 RESUMO: O artigo analisa resultados de projetos de pesquisa e extensão tecnológica e itinerários de produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura de base familiar. Esses projetos foram apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrá- rio, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, por meio de edital público. Busca-se compreender como a pesquisa realizada em unidades experimentais ou em propriedades de agricultores familiares se desenvolve com a participação de agricultores familiares, como atua em parceria com a Ater na mediação da produção de conhecimento e como a divulgação e apropriação de resultados é realizada por esses atores. 1. Introdução O presente trabalho analisa um instrumento de política pública cujo objetivo é motivar processos de produção do conhecimento, por meio de projetos de pesquisa e extensão tecnológica para o fortalecimento da agricultura de base familiar, importante setor socioeconômico para o desenvolvimento rural. Ainda nos tempos atuais, a produção de conhecimento realizada pela pesquisa agropecuária privilegia majoritariamente empreendimentos agrícolas baseados na grande propriedade rural com uso intensivo de insumos industrializados, tecnologias de engenharia genética e uso de máquinas. Em outro sentido, a produção de conhecimento para a agri- cultura de base familiar foi desconsiderada, apesar da sua importância para a segurança alimentar mundial, a preservação dos alimentos tradi- cionais, a proteção da agrobiodiversidade e o uso sustentável dos recur- sos naturais, além de representar uma oportunidade para impulsionar as economias locais (FAO, 2014).1 Este artigo é resultado parcial da consultoria realizada para o Projeto de Cooperação Técnica BRA/11/009 – PNUD/ SAF firmado entre o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e a Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA 2 Engenheiro agrônomo, doutorando em Sociologia pela Universidade de Brasília – UNB. Pesquisador da área de Estudos Sociais de Ciência e Tecnologia – ESCT. - 42 - O artigo analisa resultados de projetos de pesquisa e extensão tecnológica e itinerários de produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados e de inovação tecnológica para a agricultura de base familiar. Esses projetos foram apoiados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por meio de edital público. São analisados, neste trabalho, projetos apoiados por um instrumento de qualificação da PnAter: o Edital MDA/SAF/MCT/SECIS/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – Nº 24/2008 de seleção pública de propostas de pesqui- sa e extensão tecnológica para produção de tecnologias, de conhecimentos apropriados, de inovação tecnológica para a agricultura familiar. Mediante apoio financeiro, o Edital teve como objetivo “promover a sustentabilidade econômica, ambiental e social por meio da adoção de produtos, processos e gestão tecnológicos para a conquista de melhor inserção nos mercados e na geração de rendas agrícola e não agrícola”. O objetivo do artigo é avaliar como a pesquisa realizada em unidades experimentais em propriedades de agricultores familiares e em estações experimentais articulam a parti- cipação desse público, e a interface com a Extensão Rural que atua como mediadora na produção do conhecimento e na apropriação de resultados pelos agricultores. A base de dados refere-se aos 49 projetos apoiados pelo referido Edital e executados especificamente por pesquisadores e pesquisa- doras das Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (Oepas). A metodologia de avaliação consistiu na análise preliminar dos projetos e relatórios finais de pesquisa de todos os projetos disponibilizados pelo CNPq, visitas de campo a pesquisadores, extensionistas e agricultores de seis projetos selecionados utilizando como critérios a contribuição do pro- jeto para a promoção da sustentabilidade econômica, ambiental e social da agricultura familiar, a contribuição para a relação pesquisa agropecuária e extensão rural e a participação de agricultores familiares na elaboração, execução e avaliação do desenvolvimento dos projetos. Cenário da pesquisa agropecuária nas Oepas Estudo realizado para o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e Em- brapa (EMBRAPA, 2006) aponta para a situação de dificuldade das Oepas em razão da descontinuidade no repasse de recursos, da redução no orça- - 43 - mento para a pesquisa pelos governos estaduais ao longo dos anos 2001 a 2006 e da ausência de política de ciência e tecnologia em muitos Estados. O estudo revelou ainda um descompasso entre a missão de pesquisa e o aten- dimento a duas clientelas diferenciadas: a agricultura de base familiar e o agronegócio. A avaliação dos resultados dos projetos apoiados constatou a permanência desse quadro. Neste sentido, diante da dificuldade dos pesquisadores das Oepas em obter apoio financeiro dentro de suas instituições para executar seus projetos, principalmente aqueles voltados para a agricultura familiar e a agroecolo- gia, o Edital apresentou-se como uma oportunidade de financiamento de pesquisa. O Gráfico 1 apresenta a distribuição das pesquisas por Oepas e Unidade da Federação onde se encontram. Foram apoiados projetos em 12 das 18 Oepas existentes no Brasil. Observa-se maior concentração de pro- jetos na Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig). Isso ocorreu principalmente em razão de muitos de seus pesquisadores serem recém-ingressos e o Edital ter sido uma oportunidade de apoio a novos pro- jetos. Outro fato foi a política de apoio a projetos de pesquisa da Epamig, baseada em autofinanciamento a partir da busca de pesquisadores por apoio externo de órgãos, instituições ou empresas financiadoras de proje- tos. Além disso, o foco do Edital foi direcionado à apresentação de proposta para a sustentabilidade ambiental, ao relacionamento com a extensão ru- ral e à agricultura familiar, garantindo uma estratégia de estímulo a pro- jetos inovadores. - 44 - Gráfico 1 – Distribuição dos projetos por Oepas e Unidade da Federação apoiados pelo Edital MDA/SAF/ MCT/SECIS/FNDCT/Ação Transversal I/CNPq – nº 24/2008 O Edital não restringiu a apresentação de projetos somente a pesquisado- res com grau de doutor, o que fez com que 36% dos projetos fossem apre- sentados por pesquisadores com grau de mestre, segundo mostra o gráfico 2. Comprovou-se, pela análise dos projetos, relatórios finais de pesquisa e visita in loco, que o rigor metodológico foi garantido, independente da titu- lação dos coordenadores dos projetos. Além disso, verificou-se a realização de pesquisas inovadoras por pesquisadores mestres que associaram o rigor científico à participação de técnicos de Ater e de agricultores familiares no desenvolvimento das pesquisas, como será analisado adiante. IAC/APTA (SP) 6% EMEPA (PB) 4% IAPAR (PR) 11% IAPAR (PR) 10% PESAGRO (RJ) 2% IPA (PE) 10% EBDA (BA) 6% AGRAER (MS) 4% INCAPER (ES) 6% EPAGRI (SC) 6% EPAMIG (MG) 35% - 45 - Gráfico 2 – Titulação de coordenadores de projetos de pesquisa Outro aspecto identificado na análise geral foi a diversidade dos projetos apoiados. Optou-se pelo recurso metodológico de agrupá-los em três cate- gorias de análise: validação, transferência de tecnologias e mista (conjun- tamente validação e transferência de tecnologias). Tal agrupamento por ca- tegoria permitiu destacar, de um lado, aqueles projetos de pesquisa experi- mental, ou seja, de validação de técnicas e métodos e, de outro, projetos de transferência de tecnologia. Para uma elucidação conceitual, Dereti (2009) aponta a validação tecnológica como sendo o processo metódico e contro- lado de determinação da indissociabilidade de aplicação de tecnologia e de segurança de sua confiabilidade de um produto, serviço ou processo, sob diferentes circunstâncias de aplicação. Em outro sentido, destaca que a transferência de tecnologia é o “conjunto de ações articuladas visando à incorporação de recursos de ordem instrumental, que possibilitem aumen- tos de produção e de produtividade, considerando-se variáveis econômi- cas em conjunção com fatores sociais, ambientais, a situação anterior e os impactos posteriores à sua adoção” (DERETI, 2009, p. 35). O gráfico abaixo mostra a distribuição dos projetos em relação a esses dois grupos, além de GRADUAÇÃO 2% MESTRADO 36% DOUTORADO 62% - 46 - apresentar aqueles que articulam a validação e a transferência de tecnolo- gias num mesmo projeto. Gráfico 3 – Processo de produção e acesso a conhecimento e a tecnologias A validação (pesquisa experimental) e a transferência de tecnologia (socia- lização de resultados) foram conjugadas em 35% dos projetos, que realiza- ram pesquisas e posterior socialização de resultados por meio de cursos, dias de campo, viagens de intercâmbios, seminários, reuniões e visitas téc- nicas. Em 22% dos projetos foi feita a validação, com implementação de unidades experimentais ou em estações de pesquisa; e em 43% foi feita a transferência de tecnologia, com a realização de eventos de socialização de conhecimento e de tecnologias. A análise dos projetos a partir de Linhas Temáticas, definidas no Edital (Tabela 1), possibilitou o agrupamento e a verificação da participação per- centual dos projetospor grandes temas. Observa-se que foram apresenta- dos projetos majoritariamente para agroecologia e agriculturas de base 22% 35% 43% Validação de tecnologia Validação/Transferência Transferência de tecnologia - 47 - ecológica (27%) e Mais Alimentos3 (33%). Em agroecologia e agriculturas de base ecológica destacaram-se trabalhos de manejo e transição agroecoló- gica, agricultura orgânica e controle biológico de doenças. Na Linha Mais Alimentos destacaram-se cadeias produtivas como a do leite, perfazendo a metade dos projetos apresentados, seguido de frutas, café e mandioca. Houve ainda apresentação de projetos na Linha de sistema produtivos (12%) e sistemas agroflorestais (8%). Nas demais Linhas o número foi me- nor: recursos hídricos, com 2%, e mudas, sementes e variedades, também com 2% dos projetos. Percebeu-se, pela análise dos objetos dos projetos e suas metodologias, que o objetivo do Edital foi alcançado – qual seja, fomentar projetos de pes- quisa e extensão tecnológica com foco na sustentabilidade ambiental e na agricultura familiar –, tanto pelos projetos com abordagem agroecológica e agricultura orgânica, como pelos projetos direcionados para a agricultura de base familiar. Tabela 1 – Projetos apoiados por linha temática 3 Política pública criada pelo Governo Federal para estimular ganhos de produção e produtividade nas cadeias produtivas. Linhas temáticas N° % Agroecologia e agriculturas de base ecológica 13 27% Agregação de valor 2 4% Convivência com o semiárido 1 2% Gestão de sistemas produtivos 6 12% Alternativas energéticas 2 4% Mais Alimentos 16 33% Manejo sustentável 2 4% Sistemas agroflorestais 4 8% Recursos hídricos 1 2% Mudas, sementes e variedades 1 2% Sem identificação 1 2% Total 49 100% - 48 - Participação de técnicos de Ater e de agricultores nos projetos Outro aspecto de destaque na análise dos trabalhos é a participação de téc- nicos de Ater. A separação entre pesquisa e extensão tecnológica é evidente ao analisar os tipos e os percentuais de participação no desenvolvimento dos projetos de pesquisa, conforme mostrado no Gráfico 4. Gráfico 4 – Participação dos técnicos de Ater nos projetos Observa-se que na maioria dos projetos a participação dos técnicos de Ater restringiu-se à mobilização e seleção de agricultores que participariam do projeto (35%), ao apoio à pesquisa na parte logística e de infraestrutura (14%), ao acompanhamento da pesquisa como técnicos de campo (6%), ou na exe- cução técnica da implementação de unidades demonstrativas ou experimen- tais (2%). Em 25% dos projetos a participação de técnicos de Ater deu-se como público capacitado. Por fim, um número reduzido de projetos envolveu os técnicos no desenvolvimento das pesquisas (8%), nas diversas etapas do pro- jeto, quais sejam: proposição de problema e questão de pesquisa, definição de objetivos, definição de metodologia e de análise os dados. 2% 8% 14% 6% 2% 8% 25% 35% Mobilização e seleção de agricultores Apoio á pesquisa Acompanhamento e execução da pesquisa Execução técnica Desenvolvimento da pesquisa Capacitação de técnicos Não especificado Unidade de treinamento - 49 - Quanto à participação de agricultores familiares, a análise dos projetos realizou-se a partir de duas categorias: como beneficiários e como atores. A atuação como beneficiários reconhece os agricultores como público ao qual a pesquisa é direcionada, no entanto os agricultores não intervieram na elaboração e execução da pesquisa como sujeitos do processo, nem seus conhecimentos resultantes da prática de trabalho foram reconhecidos no projeto. Sua atuação foi a cessão de áreas experimentais, como mão de obra ou beneficiários dos resultados da pesquisa por meio de acesso à informa- ções geradas. Compõem o grupo majoritário de projetos. Observou-se que a maior parte foi de capacitação de agricultores (39%), nas quais estavam inclusos cursos, intercâmbios, dias de campo ou outras formas de repas- se do conhecimento produzido. Outro tipo de participação foi a cessão de áreas para implantação de unidades demonstrativas/experimentais (20%). A conjugação dos dois grupos, capacitação e cessão de áreas, representa- ram 21% do total de projetos. O gráfico abaixo apresenta a distribuição per- centual das formas de participação dos agricultores familiares no projeto. Gráfico 5 – Análise da participação de agricultores familiares no projeto 39% 21% 20% 10% 8% 2% Capacitação Capacitação e cessão de área Cessão de área Desenvolvimento da pesquisa Não especificado Entrevistas - 50 - A participação de agricultores como atores destaca a intervenção ativa, a participação com poder decisório na elaboração e no desenvolvimento, por meio da análise crítica dos processos e resultados. Representou 8% dos projetos. Nessas formas de participação, os saberes do agricultor foram reconhecidos e incorporados no trabalho de pesquisa e extensão tecnoló- gica, por meio da definição da demanda de pesquisa, de poder intervir no desenvolvimento, da atuação na análise de dados gerados, na avaliação e apropriação dos resultados e na recriação de conhecimento a partir das informações produzidas pelos projetos. Itinerários de pesquisas Nos projetos, a participação de agricultores familiares e técnicos de Ater na produção do conhecimento foi diferenciada, conforme analisado. Muitos se caracterizaram por pesquisas desenvolvidas em estações experimentais ou em propriedades de agricultores e posterior repasse a esse público, por meio da transferência de tecnologia. Outro tipo de pesquisa observado foi a devolução dos resultados no processo de pesquisa, mas ainda caracte- risticamente de validação experimental sem a participação protagonista dos agricultores. Serão comentados a seguir aspectos qualitativos das pesquisas a partir de itinerários de pesquisa selecionados que apresentaram dificuldades e possibilidades da pesquisa de campo com a participação de agricultores familiares e de técnicos de Ater. Percebeu-se, a partir de visitas e entrevis- tas, que, de diferentes modos, os pesquisadores abordaram em suas me- todologias os desafios e as possibilidades da validação articulada à trans- ferência de tecnologias para agricultores de base familiar. A maioria dos selecionados incorporaram a participação dos agricultores para coleta de dados, ou seja, partiram de suas realidades para desenvolver tecnologias e produzir conhecimento. O trabalho da pesquisadora Ana Cristina Pinto Juhász (Epamig) é um caso interessante, por apresentar os desafios de desenvolver pesquisa de cam- po em unidades familiares. O objetivo do projeto foi avaliar a viabilidade econômica do plantio de uma cultivar e um híbrido de girassol e, com isso, averiguar e recomendar aos agricultores familiares, a melhor tecnologia a ser adotada no norte de Minas Gerais. A pesquisadora aponta, no relatório final da pesquisa, atrasos na implantação do experimento de campo devido à perda de período de plantio, em decorrência da demora na contratação - 51 - do projeto de pesquisa. Tal problema interferiu no levantamento de dados, fazendo com que duas safras fossem avaliadas no experimento, e não três, como proposto no projeto. Outra dificuldade foi a indisponibilidade de im- plementos agrícolas adaptados aos cultivos no momento necessário, o que provocou atraso nos tratamentos experimentais, além da dificuldade de acesso às propriedades que tinham unidades experimentais. Relata ainda que houve desinteresse de agricultores em implantar o experimento em suas propriedades, apesar da mediação de técnicos da Empresa de Pesqui- sa Agropecuária e Extensão Rural de Minas Gerais (EmAter-MG). Informa a pesquisadora que durante
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