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Disciplina: SCR001 – Teorias do Currículo Professor Formador: Dr. Marcos Garcia Neira Aluna: Julia Rany Campos Uzun Curso: Pedagogia Polo: Monte Mor Atividade para avaliação – Semana 6 Tome o processo de construção de um documento curricular oficial para explicar o conceito de ciclo de políticas educacionais de Stephen Ball e Richard Bowe. O “ciclo de políticas” é um conceito elaborado por Stephen Ball e seus colaboradores, como Richard Bowe e Anne Gold, no princípio da década de 1990, a partir de uma perspectiva pós-moderna. Esta abordagem para com as políticas educacionais pretende ressaltar sua complexidade e sua natureza controversa, enfatizando a articulação entre os processos macro (como a sociedade mais ampla) e micro (ligadas às práticas de sala de aula, às políticas locais e à ação dos profissionais de educação). Desde o princípio de sua análise, Ball e seus colaboradores definem este referencial teórico-analítico como um sistema dinâmico e flexível. Em um livro publicado em 1992, Ball, Bowe e Gold1 pretendem caracterizar o processo político através da introdução do conceito de um ciclo contínuo nas políticas educacionais, constituído por três divisões distintas. Estas três “etapas contextuais” estão constantemente inter-relacionadas, não possuem uma dimensão sequencial ou temporal definida e não são lineares, apresentando espaços, grupos de interesse e arenas próprias e envolvendo embates e disputas. A primeira se daria pelo contexto de influência, referindo-se ao espaço onde os discurso políticos são construídos, sendo o palco de disputas de diversos grupos que pretendem influencia a produção das políticas educacionais – e, no caso desta análise, a produção dos currículos – como as diversas igrejas, os empresários, os partidos políticos, o governo e o processo legislativo. Os conceitos aqui empregados adquiram legitimidade e formam um discurso de base para a política. Este discurso, por sua vez, recebe apoio ou é desafiado pelos meios de comunicação, podendo ser influenciado por comissões e grupos representativos que pretendem se apropriar dele ou transformá-lo. A segunda divisão indicada pelos autores é o contexto de produção, que é sempre contextualizado pois, no caso das políticas curriculares, é o momento em que os curriculistas se reúnem e produzem o texto curricular. Normalmente, é um espaço 1 BOWE, R.; BALL, S.; GOLD, A. Reforming education & changing school:: case studies in policy sociology. London: Routledge, 1992. contraditório e incoerente, pois sofre muitas influências distintas, gerando um documento que é produto de diversas disputas. Os textos políticos, portanto, representam a política. Essas representações podem tomar várias formas: textos legais oficiais e textos políticos, comentários formais ou informais sobre os textos oficiais, pronunciamentos oficiais, vídeos etc. Tais textos não são, necessariamente, internamente coerentes e claros, e podem também ser contraditórios. Eles podem usar os termos-chave de modo diverso. A política não é feita e finalizada no momento legislativo e os textos precisam ser lidos com relação ao tempo e ao local específico de sua produção. (...) Assim, políticas são intervenções textuais, mas elas também carregam limitações materiais e possibilidades2. A terceira, o contexto da prática, é o espaço onde a política está sujeita à interpretação e à uma série de recriações, podendo produzir efeitos e consequências capazes de representar transformações significativas na política original. Para os autores, os professores não são leitores ingênuos dos documentos políticos, mas sim os verdadeiros produtores do currículo, pois são eles quem vão selecionar as propostas a partir de seus conceitos e de seu arcabouço teórico. Na prática, as políticas são recriadas, visto que os autores que as conceberam não podem controlar os significados dos textos nem seus usos. Como o conceito de ciclo de políticas acima destacado pode ser verificado na prática? Vejamos o exemplo o caso da Reforma do Ensino Médio, ocorrida nos últimos anos. Já em 2013, circulava no Congresso Nacional um documento que pretendia dividir o Ensino Médio em áreas, mas como foi bastante criticado pelos especialistas em educação, foi retirado temporariamente de pauta – os antecedentes da Reforma apontam para uma necessidade de determinados grupos para a realização de transformações nos currículos do Ensino Médio que validassem seu discurso, apontando para o contexto da influência. Em 22 de setembro de 2016, foi publicada a Medida Provisória nº746, que instituía que parte da carga horária do Ensino Médio deveria seguir a BNCC, sendo ministrada por meio de disciplinas, enquanto a outra parte da carga horária seria oferecida por meio de itinerários, reelaborando a ideia original discutida em 2013 e excluindo do currículo as disciplinas de Filosofia, Sociologia, Artes e Educação Física. Nota-se o contexto de produção inicial da Reforma, quando determinados grupos se juntam para produzir o texto da política pública a ser empregada. No entanto, antes de ser aplicada e passar para o contexto da prática, houve uma grande reação da sociedade à esta Medida Provisória, tanto através dos meios de comunicação como por manifestações dos meios intelectuais, fazendo com que ela fosse revista a partir dos embates, levando à criação da Lei nº 13.415, em 16 de fevereiro de 2017, que consolidou a Reforma do Ensino Médio no Brasil, transformando as quatro disciplinas que haviam sumido do currículo em “estudos e práticas”. Cabe agora aos professores e gestores da educação conceber a forma adequada de colocar em prática, dentro do prazo estabelecido, o texto da Reforma. Bibliografia 2 MAINARDES, Jefferson. “Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise de políticas educacionais”. Educ. Soc. vol.27 no.94 Campinas Jan./Apr. 2006. BOWE, R.; BALL, S.; GOLD, A. Reforming education & changing schools: case studies in policy sociology. London: Routledge, 1992. MAINARDES, Jefferson. “Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise de políticas educacionais”. Educ. Soc. vol.27 no.94 Campinas Jan./Apr. 2006. MAINARDES, Jefferson. “Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise de políticas educacionais”. Educ. Soc. vol.27 no.94 Campinas Jan./Apr. 2006.
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