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A Importância da família para o tratamento de álcool e outras drogas

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11 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO 
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS 
ESCOLA DE SERVIÇO SOCIAL 
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O 
TRATAMENTO DE ÁLCOOL E OUTRAS 
DROGAS 
 
 
 
 Joelma Santos da Costa 
 
 
 
 
 
 
12 
 
Rio de Janeiro 
 2008 
 
 
 
Joelma Santos da Costa 
 
A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA O TRATAMENTO 
DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso de 
Graduação, apresentado ao 
Departamento de Fundamentos do 
Serviço Social da Escola de Serviço 
Social da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro. 
 
 
 
 
Orientadora: Prof. Dr. Mariléia Franco 
Marinho Inoue 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A importância da família para o tratamento de álcool e outras 
drogas 
 
Autor: 
Joelma Santos da Costa 
 
 
Orientador: 
Prof. Dr. Mariléia Franco Marinho Inoue 
 
 
Examinadores: 
Prof. Dr. Luiz Eduardo Acosta Acosta 
 
 
 
 
 
 
 
14 
Prof. Dr. Rogério Lustosa Bastos 
 
 
 
 
 
Departamento de Fundamentos do Serviço Social 
Escola de Serviço Social – UFRJ 
Rio de Janeiro, RJ – Brasil. 
Fevereiro de 2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho a todos que contribuíram para a 
realização desta etapa inesquecível e fundamental em minha vida. 
A minha mãe principalmente que sempre esteve ao meu lado 
colaborando em todos os momentos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
15 
Joelma Santos da Costa 
 
 
 
 
 
 
 
16 
AGRADECIMENTOS 
 
 Agradeço a Deus por tornar possível esta conquista em minha vida que 
sem dúvida possibilitou meu crescimento pessoal e sempre me amparou nos 
momentos difíceis que não foram poucos. 
 
 À minha família principalmente a minha mãe Maria José, pela 
compreensão e ajuda que me foi dada durante toda a minha vida e 
especialmente durante o período acadêmico, o que tornou possível a 
concretização desta vitória. 
 
 Ao meu irmão George que muito contribuiu para minha permanência na 
universidade. 
 
 À minha orientadora a professora Mariléia Inoue que teve muita 
paciência e sempre entendeu as minhas dificuldades, inclusive quando 
desanimei em algumas situações, tranqüilizou-me nos momentos em que 
estava apreensiva se conseguiria tornar realidade um sonho, a conclusão 
deste trabalho que é algo cristalino em minha vida, um troféu, por tudo que vivi. 
 
 Ao meu namorado Luiz Carlos que de forma indireta contribuiu com o 
trabalho através de discussões sobre assuntos que mesmo sem que ele 
percebesse articulei a pesquisa realizada neste estudo. 
 
 Agradeço ao empenho e dedicação do meu supervisor de estágio Ivan 
Freire Nunca esquecerei o incentivo e presteza dedicado durante todo período 
de convivência no Hospital Escola São Francisco de Assis. 
 
 Aos meus amigos e todos os professores que me deram força e apoio 
sempre com muito otimismo e palavras positivas. 
 
 
 
 
 
 
17 
Agradeço a todos pela contribuição! 
 
 
 
 
 
 
 
Eu sei, 
Que os sonhos são pra sempre. 
Eu sei, 
Aqui no coração... 
Eu vou ser mais do que eu sou 
Pra cumprir as promessas que eu fiz 
Porque eu sei que é assim 
Que os meus sonhos dependem de mim 
Eu vou tentar, sempre 
E acreditar que sou capaz 
De levantar uma vez mais. 
Eu vou seguir, sempre 
Saber que ao menos eu tentei 
E vou tentar mais uma vez 
Eu vou seguir... 
Não sei, 
Se os dias são pra sempre. 
Guardei, 
Você no coração... 
Eu vou correndo atrás, 
Aprendi que nunca é demais 
Vale a pena insistir 
Minha guerra é encontrar minha paz... 
Eu vou tentar, sempre 
E acreditar que sou capaz 
De levantar uma vez mais. 
Eu vou seguir, sempre 
Saber que ao menos eu tentei 
E vou tentar mais uma vez 
Eu vou seguir... 
 
Versão de Marina Elali e Dud Falcão 
 
 
 
 
 
 
18 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente Trabalho de Conclusão de Curso discorre sobre a 
importância da família para o tratamento de álcool e outras drogas e o 
interesse pelo referido tema surgiu a partir da experiência de estágio no 
HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis e tem como objetivo 
compreender o processo no qual as famílias de usuários de álcool e outras 
drogas estão inseridos. 
Buscou-se enfatizar a importância da família no processo de tratamento 
familiar, articulando o contexto social à dinâmica vivenciada pela família em 
relação a dependência química. A família como principal agente de 
socialização do indivíduo tem uma contribuição fundamental a dar na 
recuperação e na reintegração social de usuários de álcool e outras drogas. 
Foram analisados os prejuízos ocasionados em decorrência do uso de 
drogas para que se possa encontrar alternativas saudáveis e trazer a 
discussão das drogas para o âmbito da saúde na perspectiva de qualidade de 
vida e descriminalização do usuário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABREVIATURAS 
 
ABEAD – Associação Brasileira de Estudos do Álcool 
AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida 
A A – Alcoólicos Anônimos 
AL-ANON – Grupos Familiares 
CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas 
DST – Doenças sexualmente Transmissível 
HESFA – Hospital Escola São Francisco de Assis 
HUPE – Hospital Universitário Pedro Ernesto 
MS – Ministério da Saúde 
N A – Narcóticos Anônimos 
NEPAD – Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas 
OBID – Observatório Brasileiro de Informação sobre Drogas 
OEA – Organização dos Estados Americanos 
OMS – Organização Mundial de Saúde 
SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas 
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro 
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro 
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e 
Cultura 
UNIAD – Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas 
UNIPRAD – Unidade de Projetos Relacionados ao Uso de Drogas 
 
 
 
 
 
20 
ONU – Organização das Nações Unidas 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE TABELAS 
 
Tabela I - Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas 
 
Tabela II – Classificação das Drogas Quanto a Ação no Sistema Nervoso Central 
 
Tabela III - Classificação dos Níveis de Prevenção 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
21 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11 
 
1 - CAPÍTULO I – A família em constante mudanças ..................................... 15 
1.1 Perspectiva Histórica .....................................................................................15 
1.2 O que é família..................................................................................................19 
1.3 A mulher no âmbito familiar ............................................................................20 
1.4 A configuração da família nos anos 90 ............................................................22 
 
 2 - CAPÍTULO II – Droga e Família ....................................................................27 
2.1 Considerações sobre drogas ...........................................................................27 
2.1.1 Dependência .................................................................................................29 
2.1.2 Por que tratar...................................................................................................302.1.3 Por que a família é importante no tratamento ................................................32 
2.1.4 A influência da mídia no consumo de drogas .................................................35 
 
3 - CAPÍTULO III – Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares no 
 
 
 
 
 
22 
 Tratamento da Dependência Química.........................38 
3.1 O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes Químicos e suas 
Famílias......................................................................................................................38 
 3.1.1 Alcoólicos Anônimos (AA)..............................................................................38 
 3.1.2 Narcóticos Anônimos (NA).............................................................................39 
3.1.3 Grupos Familiares (AL-ANON)........................................................................41 
3.2 O Trabalho do NEPAD.....................................................................................42 
3.2.1 O Trabalho do HESFA................................................................................... .43 
3.2.2. O Trabalho do Centra-Rio ...............................................................................44 
 
4 - CAPÍTULO IV - A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa.................... 45 
4.1 Universo Pesquisado..................................................................................... 45 
4.2 Identificação das famílias entrevistadas.........................................................46 
4.3 Quanto à percepção do que é família.............................................................48 
4.4 Quanto aos prejuízos que ocorreram na família em decorrência do uso da 
droga..........................................................................................................................49 
4.5 O processo de Co-dependência......................................................................51 
4.6 Análise do discurso das Assistentes sociais....................................................51 
4.6.1 Quanto ao trabalho interdisciplinar ................................................................53 
 
 
 
 
 
23 
4.7 Análise do discurso dos demais profissionais.................................................55 
4.7.1 A relevância da família no tratamento ............................................................55 
4.7.2 Fatores negativos e positivos no Grupo de Família ........................................56 
4.7.3 O acolhimento aos familiares de usuários em tratamento...............................57 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................59
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................61 
 
ANEXOS....................................................................................................................71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
24 
INTRODUÇÃO 
O uso de drogas1 vem tomando proporções muito expressivas em todo o 
mundo. 
De acordo com a ONU, em todo o planeta, 162 milhões de pessoas, 
entre 15 e 64 anos de idade, seriam usuárias de maconha, ou seja, 
4% da população mundial. O Brasil é o quinto país da América do Sul 
no consumo de maconha entre estudantes de ensino médio, de 
acordo com estudo realizado pelas Nações Unidas e pela 
Organização dos Estados Americanos (OEA) (Revista, Mundo em 
Foco, 2007. p. 47). 
 
Diante desse quadro, este estudo de graduação inicialmente intenciona 
analisar a família do usuário ou dependentes de drogas como uma categoria 
que em decorrência das transformações que ocorrem na sociedade capitalista 
sofrem implicações nas relações sociais e tem conseqüências singulares no 
indivíduo e conseqüentemente em sua família. 
O uso de álcool e outras drogas vêm expressando significados distintos 
de acordo com o processo histórico. O consumo e agravos sociais decorrentes 
do uso e abuso de substâncias constatam a proporção de grave problema de 
saúde pública no país por isso o enfrentamento desta problemática constitui 
uma demanda mundial. 
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cerca de 10% das 
populações dos centros urbanos de todo o mundo consomem 
abusivamente substâncias psicoativas2, independentemente de sexo, 
idade, nível de instrução e poder aquisitivo (BRASIL, 2004, p.5). 
 
É necessária uma ação política eficaz que vise o fortalecimento das 
redes de assistência associada à de saúde que possibilite a reinserção social 
e a reabilitação dos usuários. A política social não pode ser analisada sem se 
remeter a questões de desenvolvimento econômico, ou seja, a transformação 
quantitativa e qualitativa das relações econômicas decorrentes do processo de 
acumulação particular de capital (VIEIRA, 2004, p.142). 
Os assistentes sociais compõem uma das categorias profissionais 
envolvidas na implementação de políticas sociais e seu significado social só 
 
1 Droga é toda substância que introduzida no organismo, pode modificar uma ou mais de suas 
funções (Organização Mundial de Saúde). 
2 As substâncias psicoativas atuam no cérebro alterando o psiquismo. 
 
 
 
 
 
25 
será entendido ao levar em consideração tal característica (IAMAMOTO e 
CARVALHO, 2003). 
Os diversos serviços sociais previstos em políticas sociais específicas 
são uma expressão da classe trabalhadora em sua luta por melhores 
condições de trabalho e de vida, que são consubstanciadas e 
ratificadas na legislação trabalhista (IAMAMOTO e CARVALHO, 
2003, p. 2). 
 
A afirmação de elaboração de estratégias e propostas para efetivar e 
consolidar o modelo de atenção ao usuário de álcool e outras drogas não deve 
reduzir esta questão a um problema exclusivo de atenção à saúde. É preciso 
buscar uma articulação com outras políticas que visem subsidiar a intervenção 
profissional, tais como assistência, habitação e previdência. 
O presente trabalho se estrutura da seguinte forma: no capítulo I A 
Família em constante mudança, é trabalhado o contexto no qual se constitui a 
família a partir das transformações presentes na sociedade. 
No capítulo II Drogas e Família, abordamos em primeiro lugar os 
conceitos acerca da droga a fim de subsidiar o exercício profissional dos 
envolvidos no tratamento da dependência química, e, em seguida, a dinâmica 
das famílias dos dependentes e qual a importância de inseri-las neste 
processo, bem como a influência da mídia no consumo de drogas. 
O capítulo III Trabalhos Diferenciados e Equipes Interdisciplinares no 
Tratamento da Dependência Química, apresentamos alguns trabalhos que são 
desenvolvidos no tratamento de dependentes químicos e suas famílias, nas 
diversas instituições que atuam no município do Rio de Janeiro. 
No capítulo IV A Análise dos Dados Obtidos na Pesquisa, através da 
pesquisa qualitativa realizada nas instituições HESFA, Alcoólicos Anônimos, 
NEPAD Narcóticos Anônimos, Narcóticos Anônimos, AL-ANON e Centra Rio 
realizamos uma análise das formas de atendimento acerca desta demanda e o 
direcionamento do Serviço Social na prática interventiva. 
O presente estudo pretende contribuir para sinalizar não apenas a 
importância da família em todo o processo de recuperação dos adictos3 como 
 
3 O termo mais utilizado em grupos de auto-ajuda para designar o indivíduo que tem dependência química de 
determinadas substâncias. 
 
 
 
 
 
26 
também o adoecimento vivenciado pelos familiares ea necessidade de apoio e 
atendimento profissional. 
 Os relatos dos que trabalham com o uso de drogas e dependência 
química tem mostrado que é imprescindível incluir a família no processo de 
reabilitação do dependente. Esta discussão será iniciada no capítulo I 
ilustrando as constantes mudanças vivenciadas pela família e aprofundada no 
capítulo II. 
Muitos estudos, de diferentes referenciais teóricos, ressaltam a 
importância da família tanto na prevenção quanto no tratamento dos 
dependentes químicos, o que reforça a visão da dependência química como 
um fenômeno que atinge não apenas o individuo, mas toda a família. 
Tanto os jovens quanto os adultos fazem uso de drogas porque a 
realidade social não está atendendo as necessidades humanas. Inserir a 
discussão do uso de drogas na perspectiva de qualidade de vida evitando a 
criminalização do indivíduo amplia o debate em estudo. 
 O objetivo geral desta pesquisa é analisar as repercussões do uso 
abusivo de álcool e outras drogas na família de usuários em tratamento. Assim 
pretendemos traçar um perfil das famílias, o tipo de auxílio prestado pela 
família no tratamento de usuários de drogas, também analisar as diferenciadas 
modalidades de atendimento disponibilizadas a estes usuários e abordaremos 
os encaminhamentos do Serviço Social no tratamento. 
 O problema das drogas interroga a natureza e o sentido da existência. A 
ciência pode contribuir muito significativamente para a clareza do debate, 
operacionalizando conceitos e elucidando aspectos psicológicos, socioculturais 
e biológicos das toxicodependências4 (BAPTISTA e INEM, 1997,p.195 ). 
 Sendo a família o principal agente de socialização do indivíduo 
(CARVALHO, 2005 p.13), e o lugar inicial para o exercício da cidadania se faz 
necessário dispensar a esta categoria sua devida importância na vida do 
indivíduo. Por ser a família um espaço privilegiado de convivência isto não 
significa que não haja conflitos e a forma de lidar com as dificuldades poderá 
 
4 Toxicodependência é um fenômeno gerado pelo uso contínuo de drogas que leva o corpo a produzir outro equilíbrio. 
 
 
 
 
 
27 
favorecer o tratamento, mas em algumas situações o resultado pode ser 
contrário. Não basta apenas o paciente querer deixar de ser dependente 
químico é preciso ter o apoio da família para que se efetive a superação desta 
doença. A família através das articulações constantes no dia-a-dia pode 
favorecer ou atrapalhar o andamento do tratamento por isso o trabalho a ser 
desenvolvido com as famílias é fundamental para obtenção de resultados 
satisfatórios. 
É conferida relevância à reflexão sobre a questão da importância da 
família no tratamento, nas instituições que desenvolvem trabalhos na 
perspectiva de prevenção e recuperação de adictos, a fim de buscar o apoio da 
família durante o processo de acompanhamento dos atendimentos, mas 
também trabalharem fatores externos que determinaram ou levaram o usuário 
à dependência5. 
O impacto que a família sofre com o uso de drogas por um dos seus 
integrantes abala as estruturas de todos os seus membros embora a origem do 
uso de drogas possa estar na própria família. 
A perspectiva da saúde pública considera todas as drogas em pé de 
igualdade e analisa as suas implicações globalmente em termos de riscos para 
a população formulando os problemas (BAPTISTA e INEM, 1997, p.198). 
O presente estudo faz-se necessário devido à intervenção do Serviço 
Social, que pode esclarecer aspectos da questão junto à família no que se 
refere ao uso de drogas, tendo em vista que esta temática está cada vez mais 
presente na sociedade como mediadora das relações sociais (HYGINO e 
GARCIA, 2003, p.220). O Assistente Social, em seu exercício profissional se 
depara cotidianamente com esta demanda e suas decorrências vivenciando 
impasses e limites devido à escassez de recursos disponibilizados na rede 
pública de atendimento ao usuário de drogas. 
 
5 Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/livre_das drogas acessado em 08 de agosto de 2007. 
 
 
 
 
 
28 
 CAPÍTULO I 
 FAMÍLIA EM CONSTANTE MUDANÇA 
 
1.1 - Perspectiva Histórica. 
 
A família brasileira no decorrer da história sofreu transformações que 
justificam o mapeamento da realidade vivenciada por estas famílias nos dias 
atuais. 
Numa retrospectiva breve da história a partir do século X, tomando como 
base Àries (1981), veremos que até o referido século, a família, inclusive em 
termos de patrimônio, não tinha expressão. A partir de então, em decorrência 
das oscilações do Estado, a concepção de linhagem ganha força tendo como 
uma das preocupações a não divisão do patrimônio. 
Na sociedade agrária e escravocrata do Brasil colonial, a família era a 
organização fundamental, desempenhando as funções econômicas e políticas. 
O modelo de família patriarcal decorreu da transposição para os trópicos 
brasileiros, de padrões culturais portugueses. Impondo seu domínio na Colônia, 
subjugando os indígenas e mais tarde, importando escravos negros, os 
portugueses foram destruindo formas familiares próprias desses grupos. 
No século XIV, começam a se operar mudanças na família medieval, 
que vão se processar até o século XVII. Neste período é importante destacar 
que a situação da mulher é também alvo de mudanças, caracterizadas pela 
perda gradativa de seus poderes, o que culmina, no século XVI, com a 
formalização da incapacidade jurídica da mulher casada e a soberania do 
marido na família (GUEIROS, 2002). 
“Desta forma, a legislação reforça poder do marido e dos homens em 
geral, estabelecendo a desigualdade entre o homem em geral, estabelecendo a 
desigualdade entre o homem e a mulher”. (GUEIROS, p. 106). A escolaridade, 
por exemplo, passa a ser extensiva a meninas somente no final do século XVII 
e início do século XIX . 
 
 
 
 
 
29 
Somente no século XV as crianças (especificamente os meninos) 
passam gradativamente, a ser educadas em escolas e a família 
começa a se concentrar em torno delas, garantindo-se, entre outras 
coisas, a transmissão de conhecimentos de uma geração a outra por 
meio da participação das crianças na vida dos adultos (GUEIROS, 
2002, p. 105). 
 
As transformações ocorridas no século XIX com o advento da 
urbanização, o início da industrialização, a abolição da escravatura e a 
imigração provocam, segundo Antônio Cândido, autor clássico da literatura a 
passagem da família extensa para o modelo conjugal, com privilégio das 
funções afetivas. O ingresso da mulher na força de trabalho rompe a tradicional 
divisão do trabalho. Os casamentos começam a ser realizados por interesses 
individuais. As atitudes em relação ao namoro se alteram e este se desloca dos 
limites da casa para os espaços abertos. Na “nova família” há maior igualdade 
entre os sexos, maior controle de natalidade, maior número de separações e 
de novos casamentos. 
A partir da segunda metade do século XIX, o processo de modernização 
e o movimento feminista provocam outras mudanças na família o modelo 
patriarcal6, vigente até então, passa a ser questionado. Começa a se 
desenvolver a família conjugal moderna, na qual o casamento se dá por 
escolha dos parceiros, com base no amor romântico, presente na sociedade 
durante muito tempo, tendo como perspectiva a superação da dicotomia entre 
amor e sexo e novas formulações para os papéis do homem e da mulher no 
casamento (GUEIROS, 2002, p. 107). 
A urbanização e a expansão da indústria se acentuam nas primeiras 
décadas deste século, produzindo mudançassignificativas nas feições da 
família e de toda sociedade (BRUSCHINI, 1990, p.69). 
A partir da década de 70 vêm à tona novas questões para se pensar a 
família como agência de reprodução ideológica, onde a vida cotidiana é o 
ponto de partida para o estudo do âmbito ideológico. É no “fazer” de todos os 
 
6 Denominamos família patriarcal, genericamente, a família na qual os papéis do homem e da 
mulher e as fronteiras entre o público é o privado são rigorosamente definidos; o amor e o 
sexo são vividos em instâncias separadas, podendo ser tolerado o adultério por parte do 
homem e atribuição de chefe da família é tida como exclusivamente do homem (GUEIROS, 
20021, p. 107). 
 
 
 
 
 
30 
dias que surgem e se modificam ou desaparecem idéias, atos e relações. A 
origem de pressupostos ideológicos se encontra na casa, nos hábitos das 
pessoas ou de um grupo. Para reproduzir a sociedade é preciso que os 
homens particulares se reproduzam como tal. A vida cotidiana é um conjunto 
de atividades que caracteriza a reprodução dos homens particulares criando, 
por sua vez a possibilidade de reprodução social. A construção de uma vida 
pautada na felicidade é, portanto um compromisso de cada ser humano e, 
mais especialmente, da família enquanto grupo voltado para tal fim ( HELLER, 
1987, p. 7). 
Não dá para pensar no átomo do parentesco a partir da unidade 
biológica, o que o leva a introduzir na análise a dimensão cultural: para se 
formar a família precisa de dois grupos que se casam fora do seu próprio 
grupo. O casamento nas sociedades primitivas, contudo não se originava dos 
indivíduos, mas de grupos interessados. A união entre os sexos não era um 
assunto privado (Lévi-Strauss, 1980). 
Foi Lévi- Strauss, com as estruturas elementares do parentesco quem 
deu o passo decisivo para a desnaturalização da família biológica o 
foco principal [...] A família passou a ser vista como a atualização de 
um sistema mais amplo [...] Para ele o fundamento da família não 
está na natureza biológica do homem, mas na natureza social 
(SARTI, 1995, p. 41). 
Freud mostrou que a mente não é algo previamente dado, mas sim uma 
estrutura construída na infância através de um longo processo de formação da 
personalidade e de estabelecimento de vínculos afetivos e emocionais que 
ocorre dentro da estrutura familiar (BRUSCHINI, 1990, p.62). 
 O fato de a vida familiar fazer parte do mundo simbólico de todas as 
pessoas e estar fortemente influenciada por valores morais, religiosos e 
ideológicos tem feito com que muitas vezes se tenha a ilusão de que as 
discussões sobre família estão assentadas sobre bases comuns. Ao estudar o 
discurso dos Assistentes Sociais sobre família, Silva (1984) assinalou a 
tendência de conceituarem a família a partir de suas próprias famílias e de 
enfatizarem as relações parentais a partir da consangüinidade. Ainda hoje no 
contexto das discussões dos profissionais que trabalham com famílias estão 
presentes esta visão de família. A família pode ser entendida como um fato 
 
 
 
 
 
31 
cultural, historicamente condicionada que não se constitui, a priori, como um 
“lugar de felicidade”. O ocultamento do caráter histórico determina socialmente 
a família como um espaço de felicidades (MIOTO, 1997). 
 Por meio do estudo das estruturas elementares do parentesco, Lévi-
Strauss (1976) chegou à tese de que a família surgiu no imbricamento entre a 
natureza e a cultura. Essa tese permitiu afirmar a supremacia da regra cultural 
da afinidade sobre a regra natural da consangüinidade. 
 A pesquisa histórica de Ariès (1981) sobre a sociedade européia mostra 
claramente as diferenças na organização familiar ao longo da história, de modo 
que, foi na modernidade que se estabelecem os limites entre o familiar e o 
social. Nesta época se desenvolveu a idéia de privacidade, o “sentimento da 
casa”, e assim o sentimento familiar (originário da aristocracia e da burguesia) 
estendeu-se praticamente a toda sociedade, persistindo até nossos dias. 
Dentro dessa nova ordem as crianças foram retiradas da vida comum bem 
como de grande parte do tempo e das preocupações dos adultos. 
 A família no contexto das fronteiras entre o público e o privado com base 
na sociedade francesa do pós-guerra até os nossos dias, aponta para 
historicidade da construção desses espaços. As mudanças no mundo do 
trabalho, com a dissociação família e empresa, foram fundamentais na 
constituição da família atual, cujas relações se alteraram significativamente. 
Dentro dessa nova ordem os indivíduos conquistaram na família o direito à 
autonomia, reconhecimento de uma vida privada individual até então 
desconhecida. Ressaltamos que esta alteração significa que a família pode 
estar deixando de ser uma instituição para se tornar um ponto de encontro de 
vidas privadas, e assim estaria se encaminhando para as famílias informais. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
1.2 - O que é Família. 
 No mundo externo ninguém tem piedade do outro e é dentro da família 
que cada um deseja receber atenção, respeito e reconhecimento. A casa não 
significa mais apenas o local de moradia agora é mais do que isso. Assim a 
família torna-se a esfera íntima de existência, o local exclusivo onde se pode 
exprimir a própria emoção e agregar-se aos outros. Representa ainda o lugar 
onde se pode refazer-se das humilhações sofridas no mundo externo, expandir 
a agressividade reprimida, exercitar o próprio autocontrole, repreender e vencer 
o outro. Diante de vários conflitos vivenciados pelos sujeitos na atual 
conjuntura, a família pode ainda ser um lugar onde se pode contar para 
extravasar suas angústias e ansiedades frente a tantos problemas 
(desemprego, desentendimentos com amigos, transportes, trabalho precário, 
baixos salários e outros) (HELLER, 1987). 
Na família são reproduzidos os padrões, os valores e os sistemas de 
relações sociais que são particularizados, vividos interiorizados ao 
nível da família e de cada membro, na forma de continuidade e 
descontinuidade ( VITALE, 1987, p. 35). 
As trocas afetivas na família imprimem marcas que as pessoas carregam a 
vida toda, definindo direções no modo de ser com os outros afetivamente e no 
modo de agir com as pessoas. Esse ser com os outros, aprendido com as 
pessoas significativas, prolonga-se por muitos anos e freqüentemente projeta-
se nas famílias posteriormente (SZYMANSKI,2002, p.12). 
 Nas últimas décadas do século XX, novas mudanças ocorrem e são 
incorporadas pela Carta Constitucional: famílias monoparentais, por exemplo, 
e a condição do homem ou da mulher como chefe de família. Essas mudanças 
se processam entre conflitos e tensões e que certas características dos 
diferentes “modelos” de família convivem numa mesma família, acentuando, 
assim seu grau de complexidade (GUEIROS, 2002, p. 110). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
33 
1.3. A mulher no âmbito familiar 
 
 Ao examinar a história da civilização até a separação entre sociedade 
civil e Estado, ocorrida em fases sucessivas,do final do século XVIII em 
diante, seremos forçados a considerar meramente tautológica7 a expressão 
“as mulheres na família”. Na idade média, inclusive, as mulheres eram 
excluídas das reuniões do Estado. Tudo aquilo que se verificava fora do 
âmbito familiar, discussões políticas, comércio e guerra, era atividade 
reservada aos homens. As mulheres casadas, por outro lado, eram até mesmo 
excluídas das práticas religiosas. Durante todo processo histórico as mulheres 
envolvidas em questões relacionadas ao âmbito familiar, mesmo que de certa 
forma excluídas ou sem a sua devida importância (HELLER, 1987, p.8-9). 
 A mulher tem um papel inquestionável no núcleo familiar e são 
destacadas como propulsoras de mudanças por meio de lutas no 
reconhecimento de seus direitos. Tidas sempre como a responsável pela 
socialização dos filhos e pelas tarefas domésticas. 
A mudança na ordem econômica mundial, a partir da década de 1970 
concorreu para a opção governamental no Brasil de adoção de um 
modelo de desenvolvimento econômico que trouxe como 
conseqüência o empobrecimento acelerado das famílias na década 
de 1980. Acrescido a esse fato, houve a intensa migração do campo 
para a cidade e a ampliação dos padrões de exploração de mulheres 
e crianças no mercado de trabalho, além da deterioração do setor 
público na prestação de serviços, contribuindo para a queda das 
condições de vida (COELHO, 2002, p. 76). 
 
 Os cuidados com a saúde da família sempre foram competência 
exclusiva da mulher, cabia às mulheres ocuparem-se dos doentes, dos feridos 
e dos moribundos. Hoje na sociedade ainda estão vinculadas a mulher estes 
cuidados embora sua inserção no mercado de trabalho tenha submetido-a a 
outra dinâmica no seu dia-a-dia (HELLER, 1987). 
 As mulheres no passado por não participarem mais diretamente das 
instituições sócio-políticas da sociedade, viveram quase sempre “em meio” aos 
acontecimentos. Estavam envolvidas nas batalhas dos homens, na troca de 
visita com os vizinhos, conservando, porém, além disso, suas atividades 
 
7 Consiste em dizer sempre a mesma coisa por formas diferentes. 
 
 
 
 
 
34 
produtivas. (HELLER, 1987, p.12). 
A família emerge, portanto como esfera prioritária de identificação 
feminina, isto é, o lócus no qual sua identidade é gerada, construída e 
referida. Tal fenômeno se expressa, inclusive, no fato de a mulher só 
conseguir se definir na ou através da família, esposa ou mãe 
(SALEM, 1981, p. 60 ). 
 
A história da sociedade em que vivemos está repleta de modelos de 
famílias, que correspondem a diferentes papéis para homens e mulheres. 
Dentro desses papéis, aprendemos a pensar e a nos reconhecer. Nesta 
dinâmica no processo histórico as mulheres destacaram-se pela constante 
importância no âmbito familiar a exemplo da mãe que ocupa um lugar de 
destaque. A divisão sexual dos papéis é uma realidade que vem sendo 
questionada pelas mulheres (mas também pelos homens) há alguns anos. A 
família contemporânea, que a literatura especializada chama de moderna 
intimista, nuclear, é uma realidade que vem constantemente sendo 
questionada em nosso dia-a-dia, o que, por implicação, tem demandado a 
revisão desses modelos (FREITAS, 2002). 
Na construção desses papéis, historicamente, coube às mulheres o 
espaço privado, o mundo da casa. Ser mãe foi o principal papel para 
as mulheres nos discursos que a igreja e a medicina social 
estabeleceram. Uma das grandes transformações presentes na 
constituição desse ideal de família foi o sentimento da infância. Desde 
o século XVIII, a criança passa a ocupar um lugar central no núcleo 
familiar. Em torno dos filhos passa a girar a família, e à mulher coube 
a tarefa de materná-lo, educá-lo, de cuidar dele para que se tornasse 
um adulto disciplinado e ordeiro (FREITAS, 2002 p. 81). 
 
É necessário que toda análise acerca da família leve em consideração 
às condições em que vivem as famílias, “não existe a mulher, a mãe” (Freitas, 
2002) ou a família. A construção desses papéis é resgatada a todo instante na 
sociedade. 
A entrada e o desempenho das mulheres (especialmente das mulheres 
casadas) no mercado de trabalho, nas universidades e nos mais diversos 
segmentos sociais é vista por Hobsbawm ( 2001 ) como um fenômeno novo e 
revolucionário. 
Embora a participação da mulher na esfera pública esteja associada 
às próprias dificuldades econômicas que exigiam a participação de 
um número maior de membros da família na composição do 
orçamento doméstico, certamente o movimento feminista nos 
espaços públicos contribuiu significativamente para esta vivência da 
 
 
 
 
 
35 
mulher também nos espaços públicos, anteriormente ocupados 
predominantemente pelo homem (GUEIROS, 2002, p. 109). 
 
1.4 - A configuração da família nos anos 90 
 
 Em decorrência do processo de modernização da sociedade na segunda 
metade do século XX a família brasileira sofreu mudanças significativas. Estas 
mudanças são compreendidas como decorrentes de diversos aspectos, dentre 
os quais se destacam: 
- o desenvolvimento técnico-científico, que proporcionou tantas invenções, os 
anticoncepcionais e o avanço dos meios de comunicação de massa. 
- a transformação e liberalização dos hábitos e dos costumes, especialmente 
relacionados à sexualidade e à nova posição da mulher na sociedade. 
Estas transformações revelaram um novo padrão demográfico na 
sociedade brasileira e acarretaram uma fragilização dos vínculos familiares e 
uma maior vulnerabilidade da família no contexto social onde não é possível 
falar de família, mas sim de famílias. O uso do plural se faz no sentido de 
abarcar, dentro da concepção família a diversidade de arranjos familiares 
existentes hoje na sociedade brasileira (MIOTO, 1997, p. 118). 
O reconhecimento da família como totalidade implica também 
reconhecê-la dentro de um processo de continuas mudanças. Estas 
são provocadas por inúmeros fatores nos quais estão aqueles 
referentes à estrutura social em que as famílias estão inseridas e 
aqueles colocados pelo processo de desenvolvimento de seus 
membros. Tais fatores constituem-se em fontes de estresse familiar e 
concorrem significativamente para o aparecimento das dificuldades 
familiares e, conseqüentemente, para o surgimento dos membros 
sintomáticos (MINUCHIN, 1990). 
 
 Pode-se dizer que a qualidade de vida das famílias depende da 
articulação que cada um consegue fazer entre as demandas internas e as 
demandas advindas de seu espaço social e as formas de lidar com as 
transformações ocorridas no âmbito das relações sociais (MIOTO, 1997, 
p.122). 
As mudanças produziram efeitos sobre a estrutura familiar, e na 
chamada “nova família” modernizaram-se as concepções sobre o lugar da 
mulher nos alicerces da moral familiar e social. Ao contrário da família 
 
 
 
 
 
36 
tradicional a nova mulher “moderna” deveria ser educada para desempenhar o 
papel de mãe (também uma educadora dos filhos) e de suporte do homem 
para que ele pudesse trabalhar (NEDER, 2002, p. 31). 
 Como exemplo das mudanças que ocorreram na estrutura familiar há 
que se ressaltar que duas famílias com a mesma composição podem 
apresentar modos de relacionamento completamente diferentes. O relevante, 
nesse caso são suas histórias, a classe social de pertencimento, a cultura 
familiar e sua organização significativa no mundo (SZYMANSKI, 2002, p. 17). 
Na família pobre as relações entre seus membros seguem um padrão 
tradicional de autoridade e é uma questão de ordem moral a subordinação dos 
projetos individuais aos familiares e a insistência na hierarquia. É nesse 
contextoque se estabelece a tarefa socializadora da família (SARTI, 1996). 
Numa cultura que valoriza o homem como o poderoso provedor da 
família, é desconcertante a situação em que a mulher, ou mesmo 
filhos adolescentes, consigam trabalho e remuneração mais 
facilmente do que o “chefe da família” (SZYMANSKI, 2002, p. 18). 
 Na sociedade moderna não existe um modelo padrão de organização 
familiar, devido às transformações no mundo do trabalho, nas relações sociais, 
culturais e políticas. Os diversos problemas vivenciados no âmbito familiar são 
decorrentes das mudanças mais amplas que estão ocorrendo. A dependência 
química é uma dessas conseqüências. 
Na história da civilização há presença de drogas em vários contextos: 
religioso, cultural, social, econômico, medicinal e cultural. A relação entre o 
homem e a droga é de longa data e está atualmente massivamente presente 
nos meios de comunicação estimulando o seu uso e propiciando em 
decorrência deste uso uma série de problemas dentre os quais darei enfoque 
aos que ocorrem no âmbito familiar. 
Nos séculos XIX e XX, o advento da economia capitalista provocou 
grandes transformações sociais que repercutiram nos padrões de 
comportamento e conseqüentemente levaram a mudanças na 
estrutura familiar. Embora algumas dessas mudanças tenham sido 
grandemente reparadoras, outras provocaram o progressivo 
isolamento familiar, fatos que aliados a uma ideologia de consumo e 
condutora de uma busca de prazer instantâneo e imediato 
contribuíram para o surgimento de conflitos e desastres dentre os 
quais apontamos o uso abusivo de drogas (BUCHER, 1988, p.52). 
 
 
 
 
 
 
37 
No Brasil as mudanças desencadeadas na década de 1990 com as 
políticas neoliberais através da reestruturação produtiva, o avanço tecnológico 
e a fragmentação e precariedade do trabalho ocasionou impactos na 
reprodução social. O crescente desemprego, a violência, a pobreza, o 
desmonte dos direitos sociais conquistados na década de 1980 e a 
vulnerabilidade dos grupos que cada vez mais tornam-se excluídos à margem 
da sociedade. Martins mostra que a pobreza, muito mais que falta de comida, e 
de habitação é “carência de direitos, de possibilidades, de esperança” 
(MARTINS, 1991, p. 11-15). 
Historicamente o homem e a droga são companheiros de muitos séculos 
conforme mencionado anteriormente, no entanto um fato se destaca nos dias 
de hoje em todo o mundo há uma expansão rápida. Podendo se assinalar à 
metade do século XX como ponto referencial. 
As mudanças que ocorrem no mundo afetam a dinâmica familiar como 
um todo e, de forma particular, cada família conforme sua composição historia 
e pertencimento social. (SZYMANSKI, 2002, p. 17). 
Jovens e adultos tem feito uso abusivo de drogas em nossa sociedade 
questões como a violência doméstica, por exemplo, não pode ser vista 
separada do alcoolismo e consumo de outras drogas, que tem efeitos 
devastadores nas famílias e que não podem ser analisados fora de um quadro 
de referência da sociedade mais ampla (SZYMANSKI, 2002, p.20). 
É indispensável examinarmos aspectos que são compatíveis com o 
aumento do consumo de drogas numa sociedade cada vez mais competitiva, 
individualista e consumista. Há um favorecimento quanto ao uso de drogas 
onde não há restrição à classe social ou a determinada faixa de idade. 
Nesta perspectiva, 
Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, um em 
quatro habitantes do mundo recorre a drogas. Outro dado que se 
destaca diz respeito à indústria farmacêutica que é, atualmente, uma 
das mais rendosas do mundo. Esses dados nos remete a existência 
de regras tóxicas de sobrevivência. É um problema que envolve 
aspectos psicológicos, sanitários, educativos, políticos e sociais, 
exigindo, portanto integração entre ações preventivas, repressivas e 
de tratamento. (BUCHER, 1988, p. 48-49). 
Para entendermos as implicações do Neoliberalismo nas políticas 
 
 
 
 
 
38 
públicas sociais mais atuais, é significativo resgatar a conformação da política 
social no capitalismo do século XIX, construída a partir das mobilizações 
operárias sucedidas ao longo das primeiras revoluções industriais (VIEIRA, 
2004, p.140) e presente nas principais reivindicações trabalhistas, como fruto 
de contradições históricas do próprio capitalismo. 
A redução considerável dos gastos sociais indica uma redução dos 
serviços sociais públicos e dos subsídios ao consumo popular, 
contribuindo para deteriorar as condições de vida da maioria absoluta 
da população, incluindo amplos setores das camadas médias 
(LAURELL, 1995, p. 151). 
Neste contexto a viabilização das políticas públicas de saúde deve ser 
reafirmada e o Assistente Social no seu exercício profissional deverá estar 
envolvido neste processo. 
 Inúmeros são os desafios que permeiam a vida da família 
contemporânea. Várias temáticas estão envolvidas como violência intra e extra-
familiar, desemprego, pobreza, drogas e tantas outras situações que atingem a 
família e desafiam sua capacidade para resistir e encontrar saídas. O impacto 
desses desafios e dessas mudanças sobre o cotidiano das relações familiares 
é absorvido pelo profissional que trabalha com famílias (VITALE, 2002, p. 45). 
Quando se lida com famílias, portanto depara-se com uma primeira 
dificuldade, a de estranhar-se relação a si mesmo. Como reação 
defensiva, há uma tendência a projetar a família com a qual nos 
identificamos – como idealização ou como realidade vivida – no que é 
ou deve ser a família, o que impede de olhar e ver o que se passa a 
partir de outros pontos de vista (SARTI, 1999, p.100). 
 
Entre as mudanças que estão ocorrendo no mundo, nenhuma é mais 
importante do que aquelas que acontecem em nossas vidas pessoais – na 
sexualidade, nos relacionamentos, no casamento e na família. É uma 
revolução que avança de maneira desigual em diferentes regiões e culturas, 
encontrando muitas resistências. O Assistente Social, assim como todos os 
profissionais também, estão inseridos nestas mudanças e precisam considerar 
estas transformações na atuação profissional (VITALE, 2002, p.60). 
Devido às imposições do neoliberalismo o Estado restringe sua 
participação, embora legalmente seja o responsável pela “solução” de 
questões de determinados segmentos – como, por exemplo, crianças, 
adolescentes, idosos, portadores de deficiências e pessoas com problemas 
 
 
 
 
 
39 
crônicos de saúde – a família tem sido chamada a preencher esta lacuna, sem 
receber dos poderes públicos a devida assistência para tanto (GUEIROS, 
2002, p.102). Diante do exposto coloca-se a reflexão da importância no que 
refere-se a família frente os desafios impostos aos profissionais e em particular 
ao Assistente Social que tem deparado com esta demanda cotidianamente. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
 
 CAPÍTULO II 
DROGA E FAMÍLIA 
 
2.1 - Considerações sobre drogas. 
 Considerando a complexidade que envolve a discussão acerca 
desta temática na perspectiva multidisciplinar é necessário ir além da 
simplificação imposta na abordagem farmacológica médico-legal ou jurídica 
(Palatinik, 2002, p. 110). 
 É importante ressaltar os conceitos básicos sobre drogas, os 
diferentes tipos de usuários, a classificação das drogas e os níveis de 
prevenção para entendermos a dinâmica na qual o profissional e o usuário está 
inserido. Estas informações podem contribuir na evolução do tratamento e 
instrumentalizar o profissional na sua atuação. 
TABELA I – Terminologia e Conceitos Básicos sobre Drogas 
TERMINOLOGIAConceitos Básicos 
MEDICAMENTO substância ou produto que se utiliza como remédio no 
tratamento de doença física ou mental. 
DEPENDÊNCIA QUÍMICA é um estado caracterizado pelo uso descontrolado de 
uma ou mais substâncias químicas psicoativas com 
repercussões negativas em uma ou mais áreas da vida 
do individuo. 
TOLERÂNCIA é a necessidade do uso de doses crescentes de uma 
determinada droga, para obter efeitos originalmente 
alcançados com doses menores ou a redução 
significativa do efeito, quando a dose consumida se 
mantém estável. 
SINDROME DE 
ABSTINÊNCIA 
é o conjunto de sintomas decorrentes da interrupção do 
uso de uma droga. 
OVERDOSE é o uso de qualquer droga com produção de efeitos 
físicos e ou mentais e freqüentemente letais, seja por 
quantidade excessiva, pureza da droga ou pela 
diminuição da tolerância do indivíduo. 
Fonte: “ Drogas: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à 
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 
s/data. 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
 
TABELA II – CLASSIFICAÇÃO DAS DROGAS QUANTO A AÇÃO NO 
SISTEMA NERVOSO CENTRAL 
TIPO DE DROGAS EFEITO SOBRE O ORGANISMO HUMANO 
ESTIMULANTES Aceleram a atividade cerebral. Há uma aceleração do 
pensamento e euforia. Seus usuários tornam-se mais ativos. 
“ligados”. Exemplos: anfetaminas ( remédio para emagrecer), 
cafeína, cocaína, ecstasy e nicotina. 
DEPRESSORAS Pessoas sob o efeito dessas substâncias tornam-se 
sonolentas, lerdas, desatentas e desconcentradas. Exemplos: 
álcool, opiáceos (heroína e morfina), tranqüilizantes, inalantes 
ou solventes (cola) e indutores do sono. 
PERTUBADORAS Modificam o sentido da realidade, provocando alterações na 
percepção, emoções e pensamento. O consumo pode 
desencadear também quadros psicóticos permanentes em 
pessoas predispostas a essas doenças ou novas crises em 
indivíduos portadores de doenças psiquiátricas (transtorno 
bipolar, esquizofrenia). Exemplos: anticolinérgicos, LSD 
(ácido), maconha, chá de cogumelo, trombeta e lírios. 
Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à 
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data. 
 
Os efeitos das drogas dependem basicamente de três fatores: a droga, o 
meio ambiente e o usuário. Por isso é importante observarmos aspectos 
relacionados a estes três elementos. A forma como a substância é utilizada, a 
quantidade consumida e o grau de pureza também terão influência no efeito e 
as expectativas do usuário em relação à droga e seu estado emocional 
também poderão interferir nos efeitos. 
TABELA III – CLASSIFICAÇÃO DOS NÍVEIS DE PREVENÇÃO 
Níveis de Prevenção Descrição 
Primária deve intervir antes e consiste num conjunto de ações de 
caráter educativo, face à perspectiva de consumo de drogas. 
Secundária intervém quando é detectado um problema inicial de 
consumo de drogas, tentando evitar o agravamento. 
Terciária intervém quando o problema de dependência química já está 
instalado e atua, antes, durante e após o tratamento, no 
intuito de reintegrar o indivíduo na sociedade e prevenir 
recaídas. 
Fonte:“ Drogas,: Conceitos Básicos”, Folder da Secretaria Especial de Prevenção à 
Dependência Química, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, s/data. 
 
 
 
 
 
 
42 
 
 
 
O álcool e as demais drogas são substâncias químicas que causam 
alterações na percepção e no comportamento das pessoas e cujo uso 
continuado pode levar a dependência. 
Em termos de consumo de drogas o país campeão de uso de drogas é 
os Estados Unidos, seguido do Canadá e de vários países europeus. Os dados 
norte americanos apontam que mais de um terço dos habitantes daquele país 
já usaram maconha (34,2%)8. 
 
2.1.1 - Dependência. 
A dependência encontra-se classificada mundialmente entre os 
transtornos psiquiátricos, o sujeito não se torna dependente de drogas de uma 
hora para outra; trata-se de um processo lento e gradual (SCHENKER, 2003, p. 
211). 
Muitas pessoas que consomem bebidas alcoólicas, por exemplo, não se 
tornam dependentes do álcool, porém é bom lembrar que o uso de drogas 
ainda que experimental pode vir a causar danos à saúde. 
O uso de algumas medicações podem ocasionar dependência também. 
É de suma importância a investigação das expectativas do paciente 
quanto ao tratamento. expectativas irreais, exageradas, acarretam 
frustração e denotam, às vezes, pouca disponibilidade individual para 
mudança do estilo de vida, fator essencial para a manutenção dos 
resultados do processo terapêutico (LEITE, 2001, p. 8). 
 
A dependência é um desejo incontrolável que a pessoa tem de consumir 
a droga, a fim de sentir seus efeitos e para evitar as sensações desagradáveis 
causados pela sua falta. No Brasil, as estatísticas indicam que o alcoolismo é 
responsável por: internações em hospitais psiquiátricos; grande número de 
faltas ao trabalho; parcela significativa dos acidentes de trânsito; parte dos 
acidentes de trânsito. 
O abuso de álcool pode levar à dependência física e psicológica com 
 
8 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e 
inalantes 
 
 
 
 
 
43 
danos irreversíveis no cérebro, fígado e outros órgãos. 
 
2.1.2 Por que tratar? 
Levantamentos epidemiológicos apontam que o alcoolismo e outras 
drogas é um dos problemas mais importantes na saúde pública em todo 
mundo. Sendo a saúde um dos principais campos de atuação do Serviço Social 
se faz necessário à discussão sobre drogas, assunto presente em várias 
dimensões da sociedade – trabalho, escola, comunidade etc. 
O uso de drogas em nossa sociedade tem se ampliado em larga escala 
por isso é necessário aprofundarmos as discussões sobre o tema em questão 
para os cidadãos tenham uma melhor qualidade de vida. Pesquisas dos mais 
variados tipos têm demonstrado como o uso de bebidas alcoólicas e de cigarro 
de nicotina têm conseqüências altamente danosas para a saúde individual e, 
em vários casos com de violência física e de acidentes (VELHO, 1997, p. 9). 
No ano de 2001 o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas 
Psicotrópicas (CEBRID) realizou uma pesquisa domiciliar de caráter 
nacional em 107 cidades brasileiras com população superior a 
200.000 habitantes na faixa etária compreendida entre 12 e 65 anos. 
A pesquisa teve como principal objetivo estimar pela primeira vez no 
país a prevalência do uso de álcool e outras drogas. Os resultados 
encontram-se em um relatório intitulado “I Levantamento Domiciliar 
sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil”. Os resultados em 
relação ao uso de álcool no Brasil 1,2 revelam que 77,3% dos 
homens e 60,6% das mulheres já fizeram uso de álcool na vida, 
totalizando em 68,7% o número de participantes que já fizeram uso 
de álcool na vida. Em todas as faixas etárias estudadas, os indivíduos 
do sexo masculino fizeram mais uso de álcool na vida do que os 
indivíduos do sexo feminino. Quanto ao uso regular de bebidas 
alcoólicas (mínimo de 3 a 4 vezes por semana, incluindo aqueles que 
bebem diariamente), 9,1% dos homens e 1,7% das mulheres fazem 
uso regular de álcool, totalizando em 5,2% o número de indivíduos 
que bebem regularmente. É importante notar a diferença entre o 
consumo regular de álcool por homens e mulheres. 
No ano de 2005, o CEBRID realizou a segunda versão desse estudo, 
intitulado de “II Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas 
Psicotrópicas no Brasil – 2005”, visando acompanhar o panorama 
geral de uso de álcool e outras drogas na sociedade brasileira e de 
notar possíveis flutuações na prevalência deuso dessas substâncias. 
A pesquisa indicou que o número de brasileiros, com idades entre 12 
e 65 anos, dependentes de bebidas alcoólicas foi de 12,3%, o que 
corresponde à população de 5.799.005 pessoas.9 
 
9 Dados fornecidos no II levantamento Domiciliar sobre ouso de drogas psicotrópicas no 
Brasil. 
 
 
 
 
 
44 
 
 Para aqueles que injetam cocaína, o risco de contrair hepatites, AIDS e 
outras infecções, pelo uso de seringas contaminadas é também alto.10 Esta 
situação torna-se cada vez mais preocupante em nossa sociedade 
principalmente entre os jovens. 
Um estudo conduzido no Instituto Médico Legal de São Paulo, em 1994, 
analisou os laudos de todas as pessoas que morreram por acidentes ou 
violência na Região Metropolitana de São Paulo e constatou que: 
52% das vítimas morreram de homicídios, 
64% daqueles que morreram afogados e 
51% dos que faleceram em acidentes de trânsito apresentaram álcool na 
corrente sanguínea em níveis mais elevados do que o que permitido por lei 
para dirigir veículos (0,6 gramas de álcool por litro de sangue). 
É um equívoco pensar a questão das drogas de forma limitada e restrita 
a análise do produto. Aspectos fundamentais e importantes relativos ao 
indivíduo e ao contexto social e cultural devem ser considerados. Através do 
diálogo é possível fazer uma avaliação, qual é o lugar da droga na vida do 
usuário ou dependente. Às vezes criamos problemas onde não existe e 
atribuímos ao uso de drogas qualquer conduta ou comportamento fora dos 
padrões normais. 
De acordo com a OMS, no ano 2000 o álcool foi responsável por 4% 
da incidência de doenças, em países emergentes como a China 
tendo nessa substância o maior fator de risco à saúde. O uso 
moderado de álcool, contudo, apresenta efeitos controversos sobre a 
saúde. Está tanto associado com a diminuição na mortalidade em 
decorrência de doenças coronárias entre indivíduos de mais de 40 
anos de idade quanto com o aumento no risco de manifestação de 
câncer. Ademais, seu uso está associado com problemas sociais, em 
especial a violência11. 
 
 
 
Diante da insuficiência dos mecanismos de fiscalização e repressão da 
oferta de drogas houve reconhecimento da necessidade de medidas 
 
10 Disponível na série por dentro do assunto. Drogas: Cartilha sobre maconha, cocaína e inalantes. 
Brasília: Presidência da República, 2001. 
 
11 Disponível em: http://www.alcoolismo.com.br acessado em 30 de outubro 2007. 
 
 
 
 
 
45 
preventivas. 
 
 
Em 1970, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a 
Educação, a Ciência e a Cultura) convocou, pela primeira vez 
especialistas de vários países para que discutissem a abordagem 
preventiva do uso de drogas. Em seguida, vários encontros 
internacionais foram realizados. A partir de 1972, a educação 
destinada a prevenir o abuso de drogas foi considerada uma 
necessidade universal e premente (BUCHER, 1998, p. 55). 
 
 O uso abusivo de drogas tem provocado constantes discussões na 
sociedade a partir de diversos casos principalmente envolvendo jovens que 
colocam não somente suas vidas em jogo como também abalam toda a família, 
conforme ilustrado a seguir: 
“Festa rave de Itaboraí termina em morte” 
Dezoito freqüentadores de uma festa rave que começou na noite de 
sábado deram entrada, domingo, no Hospital Estadual Prefeito João 
Batista Caffaro, em Itaboraí. Um deles, um jovem de 17 anos morador 
de Vila Isabel, chegou à unidade em coma e, de acordo com o diretor 
do hospital, Marcelo Bagueira, morreu em conseqüência de uma 
parada cardiorespiratória. Das 7h30m até o fim da tarde de domingo, 
foram registrados 18 atendimentos de pessoas que estavam na festa 
Tribe, realizada na Happy Land Diversões. De 16 atendimentos, 
segundo a assessoria do governo do estado, 14 estavam ligados ao 
uso de drogas ou álcool.- A maioria dos atendidos era do sexo 
masculino, indo até a faixa etária de 31 anos. Jornal O DIA, 
01.11.2007 pág. 05. 
 
 
2.1.3 - Por que a família é importante para o 
tratamento. 
 
A família é sem dúvida fundamental para o sucesso do tratamento de 
dependência química. Acreditar que tudo se resolverá a partir de algumas 
consultas ambulatoriais ou de uma internação é no mínimo uma postura cética. 
O dependente muitas vezes não tem noção da gravidade do seu 
estado e pode sentir vontade de se “testar”, expondo-se a situações de risco. A 
família deve ajudá-lo estabelecendo regras para evitar a recaída. É importante 
evitar os locais de risco por isso todos devem ajudar: o patrão, os vizinhos, os 
 
 
 
 
 
46 
amigos, mas o suporte maior deve vir da família. Não se trata de fiscalizar, 
mas de chamá-lo à reflexão. Nesta perspectiva há uma desmistificação da 
culpabilidade do usuário de drogas para o campo da responsabilidade. 
É preciso entender que o uso abusivo de drogas é uma doença. Em 
primeiro lugar é preciso a motivação do dependente para iniciar o tratamento e 
em seguida o apoio da família para mantê-lo motivado. 
A família por estar desprovida de informações sobre a questão das 
drogas, principalmente as ilícitas, pode ter sua participação no tratamento 
comprometida por distorções presentes na sociedade. Afinal as drogas são 
apresentadas como algo demoníaco. 
O tratamento da dependência deve passar pela avaliação da família. 
Estudos mostram que vítimas de maus tratos, a presença de consumo 
problemático de drogas entre os mais velhos, violência, ausência de rotina 
familiar e a dificuldade dos pais em colocar limites nos filhos aumenta o risco 
do surgimento de dependência entre os seus membros. 
No espaço familiar são construídos valores, regras, papéis que 
solidificam a história de cada família que esta inserida numa realidade social e 
quando ocorre algo que provoca distorções nos comportamentos surgem 
conflitos. Em casa somos classificados pela idade, sexo e papel que 
desempenhamos e nossa conduta é regida por valores como honra, vergonha 
e respeito (GARCIA E MENANDRO, 2000, p. 344). 
 É importante destacar aspectos do contexto familiar em que estão 
inseridos os dependentes químicos: desemprego, violência, insegurança. Um 
conjunto de ações que configuram expressões da questão social, por isso é 
fundamental trabalhar o papel da família que dada à realidade da sociedade 
ocupa posição difícil e conflitante. 
A família pode levar muito tempo para se dar conta que há um membro 
na família que é dependente químico, seja por desconhecimento das reações 
do uso da droga ou pelo fato de não considerar a droga uma doença. 
A família está sujeita às influências que a realidade econômica, social, 
cultural e histórica determinam e por isso constantemente vem atravessando 
 
 
 
 
 
47 
crises. A idéia que temos de família como um grupo relativamente bem 
estruturado envolvendo o pai, a mãe e os filhos muitas vezes não corresponde 
à diversidade dos modelos de família existentes e das realidades em que 
vivem. Criamos em nossa cultura a idéia de uma família-modelo, porém vale 
ressaltar que nenhum relacionamento está livre de conflitos. Por isso nem 
sempre podemos ter a resposta ideal de nossas famílias. 
No âmbito familiar deve-se buscar espaço para o diálogo, na busca da 
superação de problemas, conflitos e na construção no dia-a-dia do respeito 
mútuo, consolidando comportamentos preventivos em relação ao uso de 
drogas. Em toda família coexistem tendências para saúde e para doença, o 
diferencial se fará a depender de como a família enfrente situações de crise, 
de como está à afetividade e a comunicação entre seuscomponentes. 
 A família se organiza com padrões que dão sentido a sua dinâmica. E a 
estrutura familiar se constitui de um conjunto de regras que determinam os 
relacionamentos de seus membros, localizando o lugar de cada um, 
estabelecendo seu papel e função. Para ele, cada indivíduo aprende a 
relacionar-se dentro do sistema através de regras verbalizadas ou não. Estes 
padrões se formam pela troca do cotidiano, podendo não ser visíveis aos 
membros da família. Com isso, se ocorrer uma mudança num membro da 
família, conseqüentemente os outros serão afetados. Quando um indivíduo da 
família apresenta algum problema, isto pode significar que toda a família está 
com dificuldade. Ou seja, cada tipo de tensão vivida pela família, exigirá um 
processo de adaptação, transformações de interações familiares, a fim de 
manter-se o equilíbrio da família, conduzindo ao crescimento de seus membros 
(MINUCHIN, 1990). 
O Assistente Social deve saber que o dependente químico desenvolve 
um comportamento auto-destrutivo de desestruturação de sua pessoa e do 
meio onde se encontra, desenvolvendo reações disfuncionais em relação ao 
outro e que o primeiro alvo a ser atingido é a família. (BEATTIE, 1997, p. 15). 
Logo a atuação do Assistente Social ao lidar com o dependente e sua 
família, é de fundamental importância para a facilitação da reinserção social de 
 
 
 
 
 
48 
ambas as partes, a fim de promover a recuperação dos envolvidos. É preciso 
orientar o dependente e a família quanto aos prejuízos físicos e sociais 
causado pela droga, ou seja, envolver a família no tratamento. A abordagem 
familiar deve ser considerada como parte integrante do tratamento. 
A maioria dos usuários que chega às unidades para tratamento é 
trazida por parentes. O discurso utilizado pelas famílias responsabiliza o 
usuário assim, como a sociedade que criminaliza e estigmatiza o dependente 
sem considerar fatores externos que determinam sua condição. Nesta 
dinâmica é importante incluir a família que necessita participar ativamente do 
tratamento e do processo de recuperação do dependente, como núcleo de 
suporte fundamental do indivíduo (LEITE, 2001, p. 23). No capítulo IV 
demonstraremos através da pesquisa que, no entanto, esta tarefa não é fácil 
devidos os prejuízos sofridos em decorrência do uso da droga. 
É comum o dependente ou a família se autodenominarem vítimas e se 
contrapor uns aos outros, sem perceber que ambos estão no processo de 
saúde-doença. Neste contexto vale ressaltar a co-dependência, onde co-
dependente é uma pessoa que deixou o comportamento de outra afetar a si 
própria e tem obsessão em controlar o comportamento de outras pessoas. 
(BEATTIE, 1997, p. 28). 
Uma condição emocional, psicológica e comportamental que se 
desenvolve como resultado da exposição prolongada de um individuo 
a – e a prática de – um conjunto de regras opressivas que evitam a 
manifestação aberta de sentimentos e a discussão direta de 
problemas pessoais e interpessoais (BEATTIE, 1997p. 45). 
A co-dependência não ocorre apenas no que refere-se ao uso de 
substâncias químicas, no entanto é muito comum lidarmos com esta demanda 
quando o assunto em questão é drogas. 
2.1.4 - A influência da mídia no consumo de 
drogas. 
A mídia tem estimulado o uso de bebidas alcoólicas, o que banaliza e 
legitima o consumo de álcool, sem revelar os verdadeiros efeitos que o seu uso 
excessivo pode ocasionar ao indivíduo. É interessante observar que os 
 
 
 
 
 
49 
alcoólicos não consideram o álcool uma droga, porque seu uso é legalizado. 
No entanto o álcool é classificado conforme tabela II como uma droga 
depressora12 que produz através do consumo indevido, diversas 
conseqüências ao usuário: perda da auto-estima, conflitos na família, acidentes 
de trânsito, absenteísmo no trabalho, além de distúrbios físicos e psicológicos 
que podem levá-lo a dependência, interferindo de forma negativa no seu 
convívio social. Durante a vida, o ser humano cria relações de dependência. 
Algumas dessas relações são importantes para o bem-estar, outras causam 
prejuízo. A dependência química reflete no âmbito familiar de diversas formas, 
especialmente nos conflitos originados não apenas do usuário. 
É importante demarcarmos que neste contexto as pessoas que se 
encontram no estágio de co-dependência estão tão envolvidas pelo “outro” que 
esquecem de si mesmas. O Assistente Social precisa no seu exercício 
profissional estar atento a este usuário que dificilmente chegará ao 
atendimento com uma demanda sua e sim sempre do “outro”. 
[...] e não se pode negar o peso simbólico que a mídia, principalmente 
a televisiva, desempenha em nossa sociedade (FREITAS, 2002, 
p.86). 
 A visão proibicionista tem o foco na droga e não no sujeito, a questão 
do uso deixa de ser vista como algo inerente à individualidade de cada ser 
humano, e passa a ser uma questão de segurança pública. Nesta perspectiva o 
inimigo passa a ser o usuário que assume características de pessoa ruim e 
violenta, sem valores éticos ou morais. “O termo drogado começa a ser 
utilizado no Brasil ao lado da categoria subversivo como uma categoria de 
acusação” (VELHO, 1997). 
A lógica de somente publicar o que se encaixa no imaginário social 
acaba potencializando o problema do estigma no qual está inserido o usuário 
de drogas. Uma pessoa usuária, por exemplo, não necessariamente será um 
dependente. No entanto a sociedade vê todo usuário como um dependente. O 
profissional deve observar em que estágio se encontra o usuário que esta 
sendo atendido para que seja viabilizada uma intervenção eficaz e objetivar um 
 
12 grifo nosso 
 
 
 
 
 
50 
encaminhamento adequado. 
Um dos caminhos para se alcançar o objetivo de diminuir os riscos 
associados ao uso de drogas começa na capacidade de discernimento do 
cidadão bem informado. 
Algumas palavras como “vício”, “drogado”, “bêbado” e “alcoólatra”, 
utilizadas cotidianamente principalmente nos noticiários reforça a imagem 
estigmatizada do usuário de drogas. “ O drogado se apresenta como uma 
pessoa sem autonomia sobre seu consumo e não como um ator de cena do 
uso” (VELHO, 1997, p.28). 
A droga deixa através da mídia suas marcas e suas seqüelas. 
Representações perpassam o imaginário dos cidadãos a seu respeito. Dos 
“paraísos artificiais” passam a “demônios do mal”. Suas conotações variam 
como variam as perspectivas daqueles que buscam compreendê-las. Aceita-
se como realistas, visões provenientes da mídia sensacionalista, perpetuando 
uma situação de alienação no consumo. Estando atualmente associado à 
marginalidade, à improdutividade e à violência. O uso de drogas é referido de 
forma muitas vezes generalizada em conexão com esses aspectos. O impacto 
disso sobre a família é freqüentemente reforçado pela desinformação e pela 
associação imediata à criminalidade, podendo provocar reações de rejeição, 
exclusão e criminalização do usuário e muitas vezes um incremento do 
consumo (GARCIA, 1997, p. 25). 
A influência do marketing tem sido importante fator para o aumento 
da ingestão de bebidas no nosso país. O consumo per capita de 
álcool cresceu 154,8% entre 1961 e 2000, situando o Brasil entre os 
25 países do mundo que mais aumentaram o consumo de bebidas 
durante esse período (OMS, 2000). 
 Vivemos numa sociedade capitalista altamente individualista, com um 
incessante apelo a adicção consumista – comprar, comprar; ter, ter: ser; 
consumo esse patrocinado pela mídia, principalmente a TV que se instala nos 
lares. Assim a sociedade vem se mostrando personalista e individualista.(SCHENKER, 2003). 
 
 
 
 
 
51 
CAPÍTULO III 
 TRABALHOS DIFERENCIADOS E EQUIPES 
INTERDISCIPLINARES NO TRATAMENTO 
 DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
 
3.1 - O Trabalho dos Grupos de Apoio aos Dependentes 
Químicos e suas Famílias. 
3.1.2 - Alcoólicos Anônimos (AA). 
 Alcoólicos Anônimos iniciou-se em 1935 nos Estados Unidos através do 
encontro de um corretor de bolsa de valores de Nova Iorque, o Sr. Bill W., e um 
cirurgião de Akron o Dr. Bobvia ambos eram alcoólicos. 
Alcoólicos anônimos é uma irmandade de homens e mulheres que 
compartilham suas experiências, forças e esperanças, a fim de 
resolver seu problema comum e ajudar os outros a se recuperarem do 
alcoolismo. O único requisito para tornar-se membro é o desejo de 
parar de beber. Para ser membro de A.A. não há taxas ou 
mensalidades; somos auto-suficientes, graças às nossas próprias 
contribuições.A.A. não está ligada a nenhuma seita ou religião, 
nenhum movimento político, nenhuma organização ou instituição; não 
deseja entrar em qualquer controvérsia; não apóia nem combate 
quaisquer causas. Nosso propósito primordial é nos mantermos 
sóbrios e ajudar outros alcoólicos a alcançar a sobriedade.13 
Há cerca de 2 milhões de alcoólicos em recuperação em 
aproximadamente 150 países. Os integrantes se reúnem em grupos que 
podem ocorrer diariamente duas ou três vezes por semana a depender do 
grupo com duração de 1h. 30min. a 2 horas por encontro. Não há distinção de 
sexo ou idade, é importante ressaltar que é predominante a presença de 
homens e tem sido significativa a inserção de jovens nos grupos, no entanto, 
não há uma continuidade na permanência destes jovens nos encontros. 
Os alcoólicos anônimos se intitulam auto-suficientes. Não é obrigatória 
a contribuição financeira dos integrantes do grupo. Contribuem aqueles que 
podem e com o valor que quiser dentro dos limites pertinentes, ou seja, não é 
 
 
 
 
 
52 
aceito doações com valores muito expressivos. Todas as aquisições de objetos 
para os grupos são definidas em assembléia. 
Não há distinção nos grupos. Os freqüentadores de um determinado 
grupo podem participar de outros grupos, inclusive freqüentemente há 
intercâmbio entre os mesmos. Não há controle de freqüência e a permanência 
depende exclusivamente do membro do grupo. As reuniões são realizadas 
geralmente às 19h30min e conduzidas por um coordenador que inicialmente 
expõe aspectos formais e em seguida indica os que irão se pronunciar ao 
grupo. 
No estado do Rio de Janeiro há cerca de 400 grupos e na Baixada 
Fluminense aproximadamente 96 e 02 escritórios que dão suporte aos grupos. 
14 
 
3.1.3 - Narcóticos Anônimos (NA). 
Narcóticos Anônimos é uma associação comunitária de adictos em 
recuperação. Iniciado em meados de 1953, o NA é um dos maiores e mais 
antigos grupos deste tipo de demanda, com aproximadamente trinta mil 
reuniões semanais em 100 países. 
 O primeiro grupo de Narcóticos Anônimos no Brasil estabeleceu-se em 
1985, no Rio de Janeiro. 
 A base do programa de recuperação de Narcóticos Anônimos é uma 
série de atividades pessoais conhecida como Doze Passos15, adaptados dos 
Alcoólicos Anônimos. Estes "passos" incluem o reconhecimento de que existe 
um problema. A busca de ajuda visa reparar danos causados e trabalhar com 
outros adictos que queiram se recuperar. É importante ressaltar que tanto nos 
NA quanto nos AA a abstinência é cobrada aos usuários. 
 Nas reuniões, cada membro partilha experiências pessoais com os 
outros buscando ajuda, não como profissionais, mas simplesmente como 
 
13 Disponível: http//www.alcoolicosanonimos.org.br acesso em : 18 de novembro de 2007. 
14 Informação sistematizada em visita realizada em: 03 de dezembro de 2007. 
15 Ver anexo I 
 
 
 
 
 
53 
pessoas que tiveram problemas similares e encontraram uma solução. 
Narcóticos Anônimos não tem nenhum tipo de acompanhamento profissional. 
 O principal serviço oferecido por Narcóticos Anônimos é a reunião em 
um grupo de NA. Cada grupo administra a si próprio, tendo como base 
princípios comuns a toda a organização. 
Narcóticos Anônimos é inteiramente auto-sustentado e não aceita 
contribuições financeiras de pessoas de fora do grupo. É recolhido em cada 
reunião um valor que não é estipulado a fim de colaborar com a manutenção 
do lanche, água e demais utensílios. 
 As reuniões do NA são realizadas reuniões diárias em alguns grupos e 
em alguns espaços com 3 reuniões por dia (manhã, tarde e noite). Ocorrem 
reuniões fechadas e abertas. Geralmente as reuniões abertas são realizadas 
na 1ª e 2ª quarta-feira do mês. Não há limite de participantes, distinção de 
classe, gênero, droga de uso ou etnia. As reuniões são conduzidas sempre por 
membros mais antigos os quais fazem o acompanhamento da freqüência e 
direcionam os relatos. Cada integrante do grupo dirige-se à frente de todos e 
inicia seu relato. 
Dos 5000 membros de NA que responderam a uma pesquisa informal feita 
em 1989, 64% eram homens e 36% eram mulheres. Entre estes mesmos 
5.000 membros, 11% tinham menos de 20 anos de idade, 37% tinham entre 
20 e 30, 48% tinham entre 30 e 45, e 4% tinham mais de 45.16 
 
 Nos relatos dos adictos a família estava presente em todas as falas 
sempre num tom de sofrimento e angústia17. A palavra perda18 chamou minha 
atenção quando referia-se a família. Era dita num tom mais baixo e com seus 
os olhos em lágrimas, e foi muito visível pra mim tendo em vista que eu era a 
única visitante na reunião e estava sentada na primeira fileira. Ao fazerem 
seus relatos se dirigiam a mim, portanto não pude conter a minha emoção. 
Interessante que participo de Grupo de Reflexão em outra instituição há um 
ano e esta experiência foi completamente diferente. A observação participante 
ampliou minha visão sobre a dinâmica da dependência química. 
 
16 Disponível: http//www.na.org.br acesso em : 13 de dezembro de 2007. 
17 Informação sistematizada em isita realizada em: 02 de janeiro de 2008. 
18 Grifo nosso. 
 
 
 
 
 
54 
Após a inserção no grupo os integrantes destacam o que recuperaram e 
destacam como sendo a maior conquista, a família19. Em vários discursos 
ressaltam “agora sou pai, marido, amante, filho, irmão e amigo. Antes não eram 
nada nem pelo nome eram chamados. As pessoas se dirigiam a mim como 
psiu, viciado e ai! Neguinho! Malandro!”20. Através deste discurso é possível 
perceber o quanto à questão da família é valorizada pelos adictos e a 
importância de trabalhar também no grupo os aspectos que norteiam esta 
dinâmica. 
 
3.1.4 - Grupos Familiares (AL-ANON). 
 
Os Grupos Familiares Al-Anon são associações de parentes e amigos 
de alcoólicos que compartilham sua experiência, força e esperança, a fim de 
solucionar os problemas que têm em comum. A família pode fazer muito para 
se ajudar, quer o alcoólico procure ajuda ou não. 
 Desde 1951 este grupo vem prestando serviço a familiares e amigos de 
alcoólicos. Hoje, existem mais de 30.000 Grupos em mais de 100 países. O 
Alateen, que é para adolescentes, tem mais de 3.500 Grupos no mundo todo. 
Já existem no Brasil desde 1965, mas somente em 1966 o Grupo foi registrado 
no Escritório de Serviços Mundiais. Hoje o Brasil dispõe de aproximadamente 
1000 Grupos.21 
O propósito primordial do programa Al-Anon é dar compreensão e apoio 
a familiares e amigos de alcoólicos. Qualquer pessoa

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