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RESUMO DE PED – 7º P – P1 – FAGOC 2018/2 Lucas Magalhães de Oliveira Ø Mordeduras e Acidentes por Animais Peçonhentos Incidência: Configuram um problema de saúde pública no Brasil. Maior incidência entres os meses de setembro e março. Ex.: 2 mil picadas de aranha marrom (Curitiba); Mil casos de acidentes por escorpião (Belo Horizonte). Ofidismo São notificados cerda de 24 mil casos por ano de acidentes por ofídicos. A identificação correta é importante para a instituição de tratamento correto o mais rápido possível. PRESENÇA DE FOSSETA LOREAL PRESENTE Quando presente, a fosseta loreal indica animais peçonhentos. AUSENTE No geral, se trata de animais não peçonhentos, com exceção daqueles que possuem anéis coloridos (pretos, brancos e vermelhos). As falsas corais podem apresentar o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, distinguindo-se pela presença de dente inoculador. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS BOTRÓPICO JARARACA, URUTU, JARARACUÇU, JARARACA DO RABO BRANCO, JARARACA VERDE, OUTROS. ® Fosseta loreal presente. ® Maioria dos acidentes ofídicos no Brasil. ® Veneno coagulante, hemorrágico e proteolítico. ® Quadro Clínico: Varia de acordo com a quantidade de veneno inoculada. Apresenta dor local, equimose e edema, flictenas e necrose de partes moles, epistaxe, gengivorragia, petéquias e sangramentos com repercussão clínica. Risco de aborto em gestantes. ® Tratamento: Soro antibotrópico, se já existirem evidências do acidente pela serpente; Manter o paciente em repouso e o membro elevado diminui o edema; Drenagem de abscessos se necessário; Antibioticoterapia se houver sinais de infecção secundária para cobertura de Gram positivo e negativo e anaeróbios; Manter o paciente hospitalizado por 3-5 dias. CROTÁLICO CASCAVEL ® Fosseta loreal presente. ® 40-45% dos acidentes por ofídicos em MG. ® Maior morbimortalidade ® Veneno neurotóxico, miotóxico, nefrotóxico e coagulante. ® Quadro Clínico: Dor local intensa ou ausente, fácies neurotóxica (ptose palpebral e flacidez da musculatura da face), disfagia, diplopia, mioglobinúria (por rabdomiólise), insuficiência respiratória, convulsões, mialgia e rebaixamento do nível de consciência. ® Tratamento: Soro anticrotálico; Hiper-hidratação para prevenir IRA. Manter diurese 3-4 vezes acima do normal; Alcalinização da urina nos casos de mioglobinúria (1-2mEq/kg em 10 min seguido de infusão contínua. Mantendo pH da urina em torno de 8,0); Tratamento suporte em caso de instabilidade respiratória, hemodinâmica em UTI e diálise em caso de IRA. ELAPÍDICO CORAIS ® Fosseta loreal ausente. ® Corais verdadeiras apresentam anéis completos, cauda romba e presa proteróglifa. ® Veneno tem absorção rápida devido ao baixo peso molecular e causa bloqueio neuromuscular e paralisia muscular. Não tem atividade coagulante e miotóxica. Há discreta dor local e parestesia. ® Sintomatologia Sistêmica: Náuseas, sialorréia, ptose palpebral, oftalmoplegia, disfagia, paralisia da musculatura respiratória. ® Tratamento: Soro específico, 10 ampolas IV; Fisiostigmina 0,5mg IV 30-30 min (anticolinesterásico); Atropina 1mg antes de cada dose de fisiostigmina. Assistência respiratória em caso de insuficiência respiratória. LAQUÉTICO SURUCUCU ® Fosseta loreal presente. ® Fisiopatologia e sintomatologia semelhante ao botrópico (dor local, equimose e edema, flictenas e necrose de partes moles, epistaxe, gengivorragia, petéquias e sangramentos com repercussão clínica). ® Tratamento: Soro antiplaquetário (10-20 ampolas). Araneísmo Acidentes causados por aranhas. ACIDENTES POR ARANHAS PHONEUTRIA ® São aranhas agressivas e que se apoiam nas patas traseiras. ® São capazes de dar saltos de até 30cm ® Peçonha tem ação neurotóxica ® Os acidentes podem ser: Leves (com dor local, edema e eritema); Moderados (dor mais intensa, náuseas, vômitos, dor abdominal, sialorréia, ansiedade, sudorese e HAS); e Graves (apresentam os sintomas acima e hipotensão, arritmia, EAP, ICC, convulsões e coma). ® Tratamento: Os casos leves são tratados com analgésicos e anti-inflamatórios, opióides e bloqueio anestésico nos casos refratários. Não havendo melhora da dor, deve ser administrado o soro (5 ampolas). A soroterapia está indicada nos casos moderados e graves (5-10 ampolas de soro IV sem diluição). Suporte ventilatório e hemodinâmico nos casos graves. LOXOCELES ® Conhecida como aranha marrom. São pequenas e normalmente encontradas no interior das residências, dentro de sapatos e roupas. ® Veneno tem ação proteolítica, hemolítica e coagulante. Normalmente é assintomático nas primeiras 12 horas do acidente. ® Quadro Clínico: Surgem após 12 horas, com halo eritematoso e isquemia no local da inoculação, evolui com placa marmórea, bolhas e equimose e necrose após 36-48 horas. ® Manifestações Sistêmicas: Rash cutâneo, petéquias, equimoses, náuseas, tontura e cefaleia. ® Forma Cutânea Visceral: Hemólise intensa, anemia e icterícia, CIVD e insuficiência renal. ® Tratamento: Soro antiaracnídeo ou antiloxoceles (5-10 ampolas IV). Corticoide pode melhorar a evolução das lesões. Dapsona para regressão das úlceras cutâneas (Adultos 100mg/dia – por 5-10 dias; Crianças 1-4mg/Kg/dia); Analgésicos para controle da dor; Desbridamento cirúrgico nas necroses. LATRODECTUS ® São pequenas aranhas conhecidas com viúva-negra, tem cor vermelha e negra, e são pouco agressivas. ® Tem peçonha neurotóxica, com ação central e periférica. ® Quadro Clínico: Dor local e sensação de queimadura. Pode ocorrer sudorese, pápula com eritema e edema. As manifestações sistêmicas são raras. ® Tratamento: Sintomático, com analgésicos, BZP e soro IM (crianças e idosos). LYCOSA ® Conhecida como tarântula, vivem em jardins e domicílio. ® Os acidentes são de pouca gravidade. ® Possui sinais e sintomas discretos como dor e eritema local e edema leve. ® Tratamento: Analgésicos e limpeza do local com antissépticos. MYGALOMORPHAE ® Conhecida como caranguejeira. São cobertas por pelos negros e podem atingir 30cm. Não possuem veneno ativo para o homem. ® A picada causa dor local e os pelos podem causar reação de hipersensibilidade. ® Tratamento: Sintomático e anti-histamínico, se necessário. Escorpionismo São acidentes de grande importância no Brasil. São representados por 1500 espécies no mundo todo. Os escorpiões de importância médica no Brasil são do gênero Tityus. Os casos graves são mais frequentes em crianças menores de 12 anos. Fisiopatologia: A peçonha age despolarizando os canais de cálcio (libera neurotransmissores), fazendo uma descarga autonômica maciça, com efeitos anticolinérgicos e adrenérgicos. Quadro Clínico: O quadro clínico varia de acordo com a quantidade de veneno, idade do paciente e presença de doença cardíaca. O início dos sintomas é rápido, surgindo entre 1-2 horas após o acidente. Ocorre dor local em 100% dos casos e sinais locais são raros. ® Nos casos moderados podem ocorrer náuseas, vômitos, dor abdominal, sialorréia, ansiedade, sonolência, taquicardia, pico hipertensivo e taquipneia. A intensidade e precocidade dos vômitos está relacionada com a gravidade do quadro. ® Nos casos graves os sinais e sintomas se agravam e surgem sudorese intensa, agitação, hipotermia, convulsões, arritmias, EAP, ICC, choque, coma e óbito. O EAP pode vir acompanhado de alterações do miocárdio com disfunção sistólica esquerda. Tratamento: ® Nos casos leves, analgésicos para dor e, caso não haja melhora da dor, pode ser necessária a anestesia local com xilocaína ou opióides. Não está indicado o uso de soro nesses casos.O paciente deve permanecer em observação por pelo menos 6 horas. ® Nos casos moderados está indicado a administração de soro antiescorpiônico na dose de 2 ampolas IV e tratamento da dor e dos distúrbios eletrolíticos. ® Nos casos graves, uso de soro antiescorpiônico na dose de 4 ampolas IV e tratamento das complicações com antiarrítmicos, anti-hipertensivos, vasodilatadores, atropina e drogas vasoativas. Todos os pacientes vítimas de picadas graves devem ser tratados na UTI. É importante fazer a manutenção das vias aéreas e reposição hidroeletrolítica. Obs.: Todo paciente que receber o soro deve permanecer internado por pelo menos 24 horas. O soro deve ser administrado por via IV em 10 min e sem diluição, independente do peso e da idade do paciente. Não é necessário teste e nem uso prévio de medicação anti-histamínica. O prognóstico é bom na maioria dos casos leves e quando envolve adultos. No casos de crianças, o prognóstico depende da precocidade do atendimento adequado, sendo reservado nos casos graves. Mordeduras A raiva é uma doença transmissível e letal causada por um vírus neurotrópico da família Rhabdoviridae. O vírus é transmitido pela saliva do animal raivoso através de mordeduras e arranhaduras. É uma doença cosmopolita, subnotificada. Nos centros urbanos é transmitida principalmente por cães e gatos, porém, herbívoros e morcegos também são transmissores. Quadro Clínico: O período de incubação varia de 10-40 dias até 7 anos. A evolução da doença até a morte é de 3 a 8 dias na forma encefalítica e de 2 a 5 semanas na forma paralítica, podendo confundir com a síndrome de Guillain- Barret. Os sintomas iniciais são inespecíficos, dificultando o diagnóstico, esses incluem: febre, mal-estar, modificação do caráter, dores generalizadas ou localizadas. Alterações de sensibilidade e insônia são sintomas mais peculiares. Outros sintomas incluem: Inspiração difícil, paroxismos, aerofobia, hidrofobia, alucinações, alterações de atitude, delírios, exacerbação de neuroses pregressas e zoofilia, que podem culminar com a mutilação dos genitais. Podem surgir sintomas gastrointestinais como náusea, vômitos, diarreia e tenesmo. Os adultos raramente são agressivos, mas as crianças podem morder. A insônia e hipersecreção salivar são sintomas presentes em todas as formas de raiva. Na fase final a paralisia ascende para o tórax pescoço e face, e o paciente sucumbe pela paralisia respiratória. Diagnóstico Laboratorial In-vivo: Prova de Sellers – identificação de corpúsculos de Negri na córnea obtida através de esfregaços, pela técnica de imunofluorescência direta. O resultado positivo é patognomônico; Antígeno Rábico (Em folículo piloso); Imunofluorescência na Lágrima e LCR na forma paralítica. Realização de isolamento viral como exame confirmatório. Diagnóstico Laboratorial Post-mortem: Prova biológica com inoculação de material suspeito em camundongo. Identificação de antígeno rábico em tecido nervoso por técnica de imunofluorescência direta; e Pesquisa de corpúsculos de Negri. Profilaxia Anti-rábica ® Pós Exposição ao Contágio: Tratamento Local (Limpeza do ferimento com água e sabão ou detergente, Desbridamento cirúrgico e aplicação de antisséptico local). Nos casos de Ferimentos Profundos e Dilacerados está indicada a aplicação de soro no local do ferimento, principalmente se for necessário sutura. O uso de antimicrobianos é feito em caso de infecções secundárias. Manter o animal em observação por 10 dias. ® Observação do animal por 10 dias: Se o animal se mantiver saudável, significa que não transmitiu a raiva na data do acidente; Se adoecer, deve ser sacrificado e submetido a exame post-mortem; Se morrer, mesmo que por causas acidentais, deve ser submetido a exame post-mortem; Se não for possível a observação do animal, deve ser iniciado tratamento pós exposição com soro e vacina. Imunização Ativa: As vacinas determinam a formação de anticorpos específicos. São divididas em dois grupos: ® Vacina de cultivo celular. ® Vacina preparada em ovo embrionário. Obs.: A OMS preconiza o uso de vacina cultivada em ovo embrionário. Dose: 1mL IM em 5 aplicações. Imunização Passiva: Administração de imunoglobulina heteróloga (soro de equinos hiperimunizados) ou homológa (soro hiperimune humano). A imunoglobulina deve ser usada associada à vacina nas lesões na cabeça, extremidade e pescoço, nas lesões extensas e profundas, e o animal agressor for silvestre ou morcego. A imunoglobulina deve ser usada apenas uma vez. Profilaxia Pré-Exposição: Indicada para pessoas com risco de exposição constante em três doses no esquema zero, 7, 21, 28. Se a titulação de anticorpos for inferior a 0,5UI/ml, doses mensais devem ser feitas até atingir nível adequado de anticorpos. Reações Adversas: Podem ocorrer reações locais, como dor, hiperemia e prurido, e podem ser tratadas com anti- histamínicos. Reações neurológicas incluem polineurite periférica ou Síndrome de Guillain-Barret, sendo o tratamento sintomático. Reações adversas do soro são choque anafilático e a doença do soro. Tratamento: Não há tratamento curativo. O tratamento é paliativo e visa a reidratação, sedação e isolamento sensorial. A sedação deve ser intensiva. O óbito ocorre por paralisia respiratória. Tétano Doença causada por neurotoxina da bactéria Clostridium tetani, que provoca paralisia espástica aguda. É causa de 500 mil óbitos neonatais por falta de imunização materna. Cerca de 20% das crianças entre 10 e 16 anos não possuem imunidade adequada para o tétano. Patogênese: O tétano ocorre após a multiplicação dos esporos introduzidos no local do ferimento, quando eles germinam e se multiplicam, produzindo toxina tetânica. Essa toxina penetra no nervo motor por endocitose atingindo a medula espinhal, impedindo a liberação do neurotransmissor glicina e GABA. Desta forma impede a inibição dos músculos antagônicos, provocando contração máxima sustentada. Quadro Clínico: O tétano pode ser localizado ou generalizado. ® Generalizado: Trismo, riso sardônico por espasmo dos músculos faciais e bucais, opistótono. Podem ocorrer ainda disfagia, cefaleia, irritabilidade, febre por consumo metabólico excessivo, taquicardia e arritmia. ® Localizado: Resulta de espasmo dos músculos adjacentes à lesão e precede o tétano generalizado. Obs.: O paciente sempre mantém o sensório preservado. Tratamento: Desbridamento cirúrgico do ferimento; Administração de imunoglobulina tetânica humana (TIG) IM a fim de neutralizar a toxina. 500UI de TIG geralmente são suficientes, mas pode ser necessário doses de 3000 a 6000UI. Na ausência de TIG, pode ser utilizada imunoglobulina humana ou toxina antitetânica. Antibióticos (Penicilina G; Metronidazol; Eritromicina e Tetraciclina). Relaxantes Musculares (Diazepam; Outros BZP; clorpromazina e baclofeno). Obs.: Tratamento também inclui ambiente tranquilo, escuro e isolado. Além de monitorização cardiorrespiratória e suporte ventilatório. Manipulações terapêuticas devem ser programadas e coordenadas a fim de diminuir os estímulos. Prognóstico: É reservado nos casos de início precoce (inferior a 1 semana de incubação), pacientes muito jovens ou idosos, ou sintomas com febre e doença local associada. Podem ocorrer sequelas de lesão hipóxico-isquêmica, déficit mental e comportamental. Prevenção: Imunização ativa com vacina combinada com 2, 4, 6 meses e reforço entre 4 e 6 anos, e posteriormente em intervalos de 10 em 10 anos com dT; As medidas de prevenção após acidente visam fornecer imunização ativa com toxina tetânica e anticorpos antitoxina de forma passiva; Limpeza da lesão e desbridamento cirúrgico com remoção de corpo estranho a tecidonecrótico.
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