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Negócio jurídico e seus elementos acidentais - Renata Guimarães Pompeu

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O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
NEGÓCIO JURÍDICO E SEUS ELEMENTOS ACIDENTAIS 
 
Renata Guimarães Pompeu 
 
 
SUMÁRIO: 1. Aspectos conceituais e etimológicos. 2. Considerações gerais sobre o 
negócio jurídico. 3. Condição. 3.1. Condições suspensivas e resolutivas. 3.2. 
Condições impróprias. 4. Termo. 4.1. Espécies. 4.1.1. Termo certo e incerto. 4.1.2. 
Termo inicial e final. 4.2. Termo e prazo. 5. Encargo. 5.1. Natureza jurídica do 
encargo. 5.2. Encargo ilícito e impossível. 6. Nota final. 7. Referências 
bibliográficas. 
 
 
1. ASPECTOS CONCEITUAIS E ETIMOLÓGICOS 
A noção de elemento aciental consiste, como sua etimologia sugere, numa 
parte constitutiva ou constituinte de um todo, que apresenta natureza não essencial. Essa 
unidade ou item poderá compor ou não os negócios jurídicos, já que o adjetivo significa 
eventual, ocasional, não essencial, suplementar, acessório ou adicional. 
Isto denota a existência de elementos ou pressupostos essenciais ou estruturais 
do negócio jurídico e que se diferem destes denominados acidentais. Considerando os 
planos do mundo jurídico, que permitem uma visão tridimensional do que se chama de 
negócio, este se projetaria, simultaneamente, em três universos denominados existência, 
validade e eficácia. 
A existência do negócio jurídico traz os seus pressupostos ou elementos 
essenciais1 que poderiam ser elecandos da seguinte forma: conduta humana (um 
agente), ou seja, um sujeito de direito que externaliza sua vontade (manifestação de 
vontade), por um meio legítimo (forma), em relação a determinado conteúdo jurídico 
(objeto). 
Junto a esses aspectos básicos aparecem igualmente os requisitos que lhe são 
 
1 “Nesta matéria, por sinal, reina uma imprecisão terminológica que propicia muita confusão. O que 
alguns autores chamam requisitos, outros denominam elementos e há, ainda, os que preferem usar o 
vocábulo pressupostos”. VELOSO, Zeno. Condição, termo e encargo. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 14. 
Ficamos com Antônio Junqueira de Azevedo, que distingue: “o negócio jurídico, examinado no plano da 
existência, precisa de elementos, para existir; no plano da validade, de requisitos, para ser válido; e, no 
plano da eficácia, de fatores de eficácia, para ser eficaz”. AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio 
jurídico: existência, validade e eficácia. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 38. 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
obrigatórios em termos de validade para permitir sua plena e regular eficácia. Desta 
maneira, o agente que pratica a conduta qualificada deve apresentar capacidade de fato 
plena. A capacidade de exercício dos direitos que lhe são reconhecidos deve ser operada 
de maneira livre e consciente como expressão da autonomia privada, ou mais 
precisamente, da autonomia negocial. Essa atuação deve ainda observar a forma 
legalmente prevista ou não probida pela lei, em atenção às solenidades que se impõem. 
E por fim, o conteúdo jurídico sobre o qual se delibera deve ser minimamente 
determinável, lícito e possível, tanto sob o ponto de vista legal como físico. 
Se o Direito se orienta pela lógica deôntica constituída por tipos proibidos, 
obrigatórios e permitidos, os elementos acidentais se incluem nesta última categoria, 
pois não se tratam de requisitos estruturantes, mas sim de partes facultativas da 
composição do negócio jurídico. A inclusão dos elementos acidentais decorre da 
autonomia privada do agente e estes atuarão no conteúdo eficacial, pois transformam ou 
alteram a produção das consequencias jurídicas tradicionais do negócio.2 
Os elementos acidentais podem então ser conceituados como cláusulas 
acessórias ou facultativas dos negócios jurídicos3, diferentemente dos seus elementos 
essenciais ou pressupostos de existência. Todavia, quando presentes na composição do 
negócio jurídico alterando ou regulando os seus efeitos naturais, os elementos acidentais 
passam a pertencer a sua estrutura fundamental e tornam-se parte efetiva do seu 
conteúdo. 
 
 
2 “Permite, pois, a lei que a emissão de vontade apareça limitada pelo próprio agente estabelecendo-se 
uma volição complexa, em tais termos que o efeito do negócio jurídico se encontra na dependência de 
fatores exógenos. A vontade, em vez de se emitir apenas com os elementos essenciais do negócio – 
essenctialia negotti – acrescenta-lha modalidades secundárias, que não obstante isto subordinam ora a 
própria criação do direito, ora a produção das conseqüências jurídicas ao seu implemento. Como não 
integram o esquema natural do negócio, dizem-se acidentais – accidentalia negotti -, não no sentido de 
que concretamente o negócio se desenvolva sem elas, pois que na verdade vinculam-se para sempre, mas 
na acepção de que a figura abstrata do ato negocial constrói-se sem a a sua presença. Considerado, porém, 
um dado negócio jurídico in concreto, a vontade, modificada pelo elemento acidental não se liberta dele, 
ficando, ora sua existência mesma, ora os seus efeitos, dependentes de sua incidência”. PEREIRA, Caio 
Mário da Silva. Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2004, v. 1, p. 551. 
3 Para o estudo dos elementos acidentais do negócio jurídico recomendam-se as seguintes obras: 
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. São Paulo: Saraiva, 
2002; BETTI, Emílio. Teoria geral do negócio jurídico. Campinas: LZN, 2003; BEVILÁQUA, Clóvis. 
Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1940; GOMES, 
Orlando. Transformações gerais dos direitos das obrigações. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980; 
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. São Paulo: Saraiva, 2003; 
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da validade. São Paulo: Saraiva, 2003; 
RAO, Vicente. Ato jurídico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997; ROPPO, Enzo. O contrato. 
Coimbra: Almedina, 1988; ROPPO, Vicenzo. Il contratto. Milano: Giuffrè, 2001. 
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2. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O NEGÓCIO JURÍDICO 
Se a missão aqui é investigar e debater sobre os denominados elementos 
acidentais, antes de qualquer coisa devem-se fazer algumas considerações de ordem 
geral sobre o próprio negócio jurídico. 
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que o Código Civil vigente desde 2003 
tratou de especificar que os elementos acidentais aplicam-se, exclusivamente aos 
negócios. Isto por que o Código Civil de 1916 os trazia sob o título de modalidades do 
ato jurídico. Sabe- se que neste contexto, a expressão ato jurídico aparecia em sentido 
lato, como todo comportamento humano, lícito, que pretendesse criar, resguardar, 
transferir, modificar ou extinguir direitos. 
Justifica-se o esclarecimento, pois os elementos acidentais não se aplicam aos 
atos jurídicos em sentido estrito. Este tipo de fato pressupõe uma conduta humana, de 
natureza necessária4 - apesar do fundamento na autonomia privada- cujos efeitos são 
previamente estabelecidos pelo texto da lei. “Tem-se, assim, o seguinte processo: o ser 
humano, por desejar certos efeitos fixados em lei, adota o comportamento nela 
descrito”.5 
O conteúdo eficacial do ato jurídico estrito senso não pode assim ser alterado 
como se dá como o negócio jurídico em que se verifica a possibilidade de composição 
da carga de conseqüências. “É essa liberdade de atuar que explica a possibilidade de 
introduzir no negócio certas cláusulas que direcionam a produção de efeitos, tais como 
modo, termo e encargo”.6 Nos atos jurídicos em sentido estrito a manifestação de 
vontade se limita à escolha da categoria jurídica, sem a possibilidade de atermá-los ou 
condicioná-los. 
 
4 “Relativamente ao negócio o agente pode, em primeiro lugar, praticá-lo ou abster-se de fazê-lo. E 
depois, se opta por praticá-lo, dar-lhe o conteúdo específico e a forma que livremente eleger. Já nos atos a 
liberdade não existe nem para a prática, nem para o conteúdo. Frequentemente tampouco para a forma, 
aberta, em princípio, quando se trata de negócios. É verdade que, ainda nos atos, reconhece-se ao agente 
uma relativa autonomia, precisamente aquela necessária para o mais adequado cumprimento de um dever. 
Mais adequado quer indicar aqui apenas a máxima fidelidade ao objeto da prestação, como também o 
menor ônus para o agente. Daí por que a autonomia, sendo sempre necessária, é também, ao menos 
tendencialmente, mais do que suficiente para o estrito cumprimento do dever. O suplemento visa, 
exatamente a garantir ao agente o mais baixo custo no desempenho da prestação. Ou, indistintamente, a 
melhor performance e o mais reduzido dispêndio”. VILELA, João Baptista. Do fato ao negócio jurídico: 
em busca de precisão conceitual. In DIAS, Adahyl Lourenço. Estudos em homenagem ao professor 
Washington de Barros Monteiro. São Paulo: Saraiva, 1992, p. 264. 
5 LIMA, Taisa Maria Macena de. Os planos do mundo jurídico e a teoria das nulidades. Revista da 
Faculdade Mineira de Direito. Belo Horizonte, v. 2, n. 3, 1999, p. 238. 
6 LIMA, Taisa Maria Macena de. Os planos do mundo jurídico e a teoria das nulidades. Revista da 
Faculdade Mineira de Direito. Belo Horizonte, v. 2, n. 3, 1999, p. 239. 
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Assim, a disposição encontrada no Código Civil de 1916 deveria ser apenas 
entendida e analisada sob o âmbito dos negócios jurídicos que comportam as alterações 
discutidas. E, atualmente o Código Civil os traz previstos no Livro III, Título I, 
dedicado aos negócios jurídicos, entre os artigos 121 e 137, o que parece dar aos 
elementos acidentais um tratamento terminológico mais adequado. 
Além disso, e como já se mencionou, os negócios jurídicos apresentam 
elementos que lhe são essenciais, pois compõem o seu esquema natural. E é em razão 
desse contexto que se reafirma o fato dos elementos acidentais serem determinações 
acessórias, de natureza anexa ou inexa,7 ao conteúdo do negócio. 
Igualmente destaca-se que nem todos os negócios jurídicos apresentam 
natureza que legitime a presença dos elementos acidentais como transformadores de sua 
eficácia natural. Por exemplo, em relação aos atos que dizem respeito ao estado das 
pessoas, como o casamento, a adoção ou a emancipação. Outro exemplo bastante 
ilustrativo da impossibilidade de elementos acidentais pode ser verificado nos direitos 
da personalidade. Nota-se que, de maneira geral, os elementos acidentais são 
admissíveis naqueles negócios jurídicos de conteúdo econômico direto, que poderiam 
ser melhor classificados como patrimoniais. 
Definidas algumas questões ou aspectos essenciais sobre os negócios pode-se 
passar à análise de seus elementos acidentais, legalmente definidos, como condição, 
termo e encargo. E, de saída, destaca-se que a estipulação legal das cláusulas acessórias 
não é taxativa: 
inúmeros elementos acessórios outros, nominados ou inominados, podem os agentes 
ou partes criar livremente, segundo suas conveniências ou necessidades do comércio 
jurídico, sendo igualmente válidos desde que não contrariem a ordem pública, os 
preceitos imperativos de lei, os bons costumes e não contradigam, de modo a 
invalidá-los, os elementos essenciais dos atos que, por lei, possam recebê-los.8 
 
3. CONDIÇÃO 
O primeiro e talvez o mais complexo dos elementos acidentais é a condição, e 
ela pode ser conceituada como uma cláusula do negócio jurídico que subordina seu 
conteúdo eficacial à ocorrência de um evento futuro e incerto. O mais relevante na 
 
7 VELOSO, Zeno. Condição, termo e encargo. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 15. 
8 VELOSO, Zeno. Condição, termo e encargo. São Paulo: Malheiros, 1997, p. 17. 
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condição é exatamente a indeterminação quanto à realização deste evento e 
consequentemente quanto à produção dos seus efeitos. A ocorrência do fato futuro e 
incerto estipulado pode gerar a aquisição de um direito com suas consequências 
próprias, bem como pode resolver efeitos já deflagrados. Um exemplo simples seria a 
doação feita à determinada pessoa, se ela se casar. O negócio jurídico aqui é a doação 
que deixa de ser simples para ser condicional, subordinando os seus efeitos tradicionais 
a um fato futuro e incerto. Mesmo que se diga depender da atuação do beneficiário da 
doação para que a condição ocorra a cláusula acidental mantém sua natureza de 
incerteza. Ela deriva de algum comportamento do agente, mas não exclusivamente dele. 
A condição apresenta como seus principais elementos, inclusive conforme se 
nota pela definição trazida pelo artigo 121 do Código Civil, a voluntariedade, que reside 
no exercício da autonomia privada das partes, a incerteza quanto à ocorrência do fato e a 
futuridade deste. O fato contido na cláusula como condição não poderá ser algo já 
ocorrido, ainda que desconhecido do emitente da declaração. Caso assim o seja, faltará 
o elemento da futuridade e o negócio será considerado puro e simples. 
Outro aspecto que diz respeito às propriedades das condições é aquele relativo 
à objetividade da incerteza. Quando se diz que o evento deve ser incerto significa que, 
em termos reais, ele seja assim. Ou, que não importa a suposição, antecipação, 
expectativa ou contribuição da parte para sua ocorrência, mas substancialmente que ele 
seja um fato donde não se extrai a possibilidade ou não de se realizar. 
A voluntariedade confirma a natureza acessória ou acidental da cláusula, que 
deriva do poder jurídico de recepção e definição do conteúdo jurídico, que é a 
autonomia privada. A vontade, intenção ou pretensão do agente é decisiva para a 
presença ou não do elemento condicional. 
 
3.1. Condições suspensivas e resolutivas 
A principal classificação das condições, encontrada na doutrina especializada, 
dividiu-as em suspensivas e resolutivas. Quando se formula uma condição suspensiva 
articula-se a produção de efeitos do negócio jurídico em razão de evento futuro e 
incerto. Os efeitos tradicionais de determinado negócio ficam suspensos, ou melhor, 
impedidos de ocorrer enquanto o fato incerto não se der. Desta forma, existe uma 
dúvida sobre a produção de efeitos do negócio quetem sua carga eficacial contida até o 
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implemento do fato incerto. Alguém que se compromete a comprar um bem imóvel, por 
determinado valor, se o comprador for transferido para outra cidade no prazo de um 
mês. 
O artigo 125 do Código Civil dispõe sobre a condição suspensiva, afirmando 
que quando a eficácia do negócio jurídico estiver subordinada à condição de natureza 
suspensiva, enquanto esta não ocorrer, não se adquirirá o direito a que ela visa. 
Constata-se que a condição suspensiva impede inclusive a aquisição do direito 
pretendido pelo negócio jurídico, pois não permite que este chegue ao plano da eficácia. 
O negócio jurídico existirá e será válido, mas não se sabe sobre a deflagração de suas 
consequências próprias, pois elas estão contidas por cláusula de ocorrência possível, 
mas incerta. 
Ainda sobre a condição suspensiva dispõe o artigo 126, com acertada 
prudência, que o devedor do direito em expectativa diante do evento futuro e incerto, 
não poderá fazer em relação à coisa “prometida” novas disposições e se o fizer estas não 
terão valor se forem incompatíveis com a condição. A previsão aqui verificada pretende 
proteger o direito do credor condicional para o que devedor nada possa fazer na 
pendência da condição em prejuízo ao direito potencial do primeiro. Percebe-se que 
apesar da natureza acessória da condição, quando ela é inserida no negócio jurídico 
passa a integrá-lo de maneira efetiva, compondo assim sua estrutura. 
Tratando-se de condição resolutiva pretende-se com a cláusula aposta que o 
negócio jurídico produza seus efeitos desde logo, mas que um fato incerto e no futuro os 
faça cessar se ocorrer. O evento previsto na condição tem a propriedade de resolver, ou 
seja, de por fim aos efeitos produzidos desde a realização do negócio jurídico. 
Conforme se constata pelo teor do artigo 127 do Código Civil, a condição resolutiva 
promove a conclusão do direito estabelecido pelo negócio jurídico. Quando alguém 
realiza doação por subvenção periódica e a condiciona às notas, num determinado 
patamar, obtidas pelo donatário que está na faculdade. O negócio jurídico existente e 
válido adentra ao plano de eficácia, mas terá seus efeitos resolvidos caso, por exemplo, 
as notas do beneficiário da doação são sejam aquelas inicialmente combinadas e 
estipuladas. Ou seja, a subvenção periódica terminará se o patamar de notas não for 
atingido. 
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Refere-se o artigo 124 do Código Civil às condições de natureza resolutiva que 
forem impossíveis, seja física ou juridicamente, positivas ou negativas (de fazer ou não 
fazer). Se a condição é impossível, significa que o evento que resolveria os efeitos do 
negócio jurídico jamais ocorrerá. O fato futuro e incerto que deveria extinguir as 
consequencias jurídicas não se produzirá, dada a sua impossibilidade. Desta maneira, o 
negócio jurídico que poderia ter os seus efeitos extintos não verá isso ocorrer. 
Por fim, refere-se o artigo 128 exclusivamente às condições resolutivas 
afirmando que se estas forem apostas a negócios jurídicos de execução continuada ou 
periódica, a ocorrência do evento que daria fim aos efeitos não alcançaria os atos já 
praticados, desde que compatíveis com a condição e comprometidos com a boa-fé, em 
sua acepção objetiva. 
“Vê-se que, se a condição é suspensiva, o negócio jurídico não produz efeitos 
desde logo; se resolutiva, os efeitos são imediatamente produzidos, mas podem vir a 
cessar”.9 E é com suporte nestas definições que se deve analisar os artigos 129 e 130 do 
Código Civil. O primeiro deles discorre sobre procedimento malicioso que possa 
impedir a ocorrência do evento previsto pela cláusula condicional (praticado pela parte 
desfavorecida), ou da conduta ilícita levada a efeito por aquele que se aproveita do 
implemento da condição. Na primeira hipótese, ou seja, de se obstaculizar a ocorrência 
da condição, ela se reputará verificada. E na segunda hipótese, daquele que favorecido 
por ela a implementa, ela deverá ser considerada não ocorrida. Em ambas as hipóteses 
nota-se que o elemento de incerteza da condição foi dela extirpado e retirado por 
condutas contrárias à acepção objetiva da boa-fé que deve moldar e conformar a 
autonomia privada nos negócios jurídicos. 
Em sentido semelhante, qual seja o de proteger os sujeitos favorecidos pelos 
negócios condicionais, o artigo 130 estabelece ao titular do direito eventual, seja diante 
de condição suspensiva ou resolutiva, a faculdade de praticar atos destinados a 
conservar este direito. Ressalte-se que os atos de conservação deferidos como faculdade 
ao titular do direito condicional não interferem em nenhum dos elementos que 
caracterizam a condição, mantendo intacta sua constituição legalmente exigida. 
 
3.2. Condições impróprias 
 
9 OLIVEIRA, Eduardo Ribeiro de. Comentários ao Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008, v. 2, p. 
306. 
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São chamadas de condições impróprias aquelas que, por qualquer razão, não 
preenchem as características específicas ou que são próprias deste elemento acidental, 
quais sejam a futuridade, incerteza e voluntariedade. Os artigos 122 e 123 do Código 
Civil trazem um rol não taxativo de situações que em isto pode ocorrer. O teor dos 
artigos define que as condições, sejam elas suspensivas ou resolutivas, devem ser 
essencialmente lícitas, o que implica não contrariedade à lei, à ordem pública e aos bons 
costumes. Diante destes referenciais valorativos o artigo informa que as condições 
proibidas são aquelas que privarem o negócio jurídico de todo e qualquer efeito e 
aquelas submetidas ao puro arbítrio de uma das partes. 
A primeira hipótese, da segunda parte, ilustra condição geralmente denominada 
de perplexa ou contraditória, pois neste caso a previsão do evento futuro e incerto 
esvaziará de qualquer eficácia o negócio jurídico. Um exemplo deste tipo de condição 
proibida seria o contrato de comodato de bem imóvel desde que o comodatário não 
pudesse usá-lo. Neste caso, a própria previsão do fato impede que o negócio jurídico 
atinja o plano da eficácia, não pela incerteza do evento, mas porque este não permitirá, 
pelo conteúdo da cláusula, o que negócio alcance suas tradicionais consequências. 
A segunda hipótese traduz um tipo de condição chamada de puramente 
potestativa, em que se vislumbra a ausência de incerteza quanto à ocorrência do evento, 
pois como a expressão sugere, ele é deixado ao puro poder de uma das partes. Quando 
se realiza um contrato de doação condicional, por exemplo, à admissão de um estudante 
em determinada universidade, no presente ano, mesmo que tal fato dependa em parte do 
desempenho do estudante, a incerteza permanece, pois persistem elementos alheios à 
sua vontade que podem interferir na realização da condição. Neste caso a condição é 
chamada de simplesmente potestativa e é permitida.Ao contrário da puramente 
potestativa em que o evento futuro somente ocorreria em razão do arbítrio da parte, por 
isso é considerada defesa pela legislação. Seria inconsistente a presença de fato que 
deveria ser incerto e derivar do exercício da autonomia negocial, mas que, ao contrário, 
impõe a ocorrência de evento deflagrador de efeitos ou que os extingue apenas ao 
querer, ao poder (potesta) exclusivo de seu agente. 
E ainda sobre as condições impróprias, dispõe o artigo 123 do Código Civil 
sanção de nulidade para o negócio jurídico que as contiver. O referido dispositivo 
afirma que serão assim punidos os negócios com cláusulas contendo eventos física ou 
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juridicamente impossíveis. Ou seja, são condições irrealizáveis, seja do ponto de vista 
físico, quando o empréstimo está condicionado à participação de tetraplégico em evento 
esportivo, seja do ponto de vista jurídico, quando se afirma a doação de determinado 
bem condicionada à venda de outro bem, de natureza pública. 
O artigo continua sua previsão sobre nulidade do negócio jurídico que contiver 
condição ilícita ou de fazer coisa ilícita. Em ambas as hipóteses, o conteúdo essencial do 
negócio jurídico estaria subordinado à promoção de condutas repudiadas pelo Direito, 
ou seja, à realização de condutas consideradas proibidas. Seja a doação de uma casa 
condicionada ao tráfico de drogas, seja aquela que prevê que seu beneficiário jamais se 
case, ambas conduzirão à nulidade do negócio diante da ilicitude da exigência. 
Por fim, prevê o artigo 123, que serão também considerados nulos, os negócios 
jurídicos que contiverem condições contraditórias ou incompreensíveis. Como já foi 
dito nos comentários ao artigo 122, estas condições são aquelas que estipulam eventos 
sem qualquer grau de incerteza, tornando impossível a produção de efeitos pelo 
negócio. São as condições que o privam de qualquer efeito seja por seu conteúdo 
completamente incompreensível, seja pelo conteúdo que se contradiz, causando 
perplexidade diante da pretensão confusa e impraticável pretendida pelo agente. 
Percebe-se que o artigo 123 determina como sanção ao ato que viola as 
disposições legais sobre condição a nulidade de todo o negócio jurídico e não apenas da 
cláusula irregular. O que se imagina é que tais condições proibidas previstas, apesar de 
serem cláusulas, poderiam contaminar todo o conteúdo eficacial do negócio jurídico 
impondo a nulidade completa e não apenas parcial. 
 
4. TERMO 
O termo consiste no elemento acidental que subordina o começo ou o fim da 
produção de efeitos do negócio jurídico a um evento futuro e certo. O termo mantém a 
futuridade encontrada na condição. O que o diferencia substancialmente daquela é a 
certeza da ocorrência do evento. Neste sentido destaca-se que o termo representa 
cláusula que ocorrerá, ou seja, sabe-se que o evento acontecerá, mesmo que não se 
conheça quando. Na condição existe uma incerteza quanto à ocorrência ou não do 
evento. Já o termo representa previsão articulada a fato que por certo se dará, às vezes 
até se conhecerá quando, e em outras apenas que ocorrerá sem se saber a data exata. 
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4.1. Espécies 
 
4.1.1. Termo certo e incerto 
Quanto ao momento de sua ocorrência o termo pode ser classificado em certo e 
incerto ou determinado e indeterminado. Essa divisão pressupõe que a cláusula irá 
ocorrer e quando se sabe esse momento com exatidão o termo será chamado de certo ou 
determinado, por exemplo, no dia 25 de outubro do ano corrente o contrato se 
extinguirá. Diferentemente, quando se sabe apenas que o evento futuro ocorrerá, mas 
não se conhece de maneira determinada o momento desta ocorrência, estar-se-á diante 
de um termo incerto ou indeterminado. O exemplo ilustrativo do termo incerto é a 
morte, pois se sabe que o evento se verificará, mas não se pode precisar quando. 
 
4.1.2. Termo inicial e final 
Quando se tem como referência o início ou fim da eficácia do negócio jurídico, 
o termo pode ser dividido em inicial (ou suspensivo, dilatório) e final (resolutório). O 
primeiro, conforme inclusive previsão legal do artigo 131 do Código Civil, marca o 
início da produção de efeitos, os quais dizem respeito ao exercício do direito e não à sua 
aquisição. Ao contrário da condição suspensiva que interfere na aquisição e exercício do 
direito, o termo inicial pressupõe a titularidade do direito, atuando a cláusula como 
impedimento do seu exercício até o acontecimento do evento. E o termo final ou 
resolutório traduz-se como a cláusula que põe fim aos efeitos do negócio jurídico. 
Em relação aos termos iniciais e finais dispõe o artigo 135 que a eles aplicam-
se as disposições relativas às condições suspensivas e resolutivas. Diga-se que as regras 
legais aplicáveis às condições podem ser utilizadas na interpretação dos negócios 
jurídicos que contenham termos. Isto se justifica, por exemplo, diante da condição 
suspensiva e do termo inicial, pois estes se assemelham em tornar pendente a eficácia 
do negócio jurídico até a ocorrência de um evento futuro. A diferença entre eles reside 
na incerteza de uma e na certeza do outro, quanto à ocorrência do evento estipulado. 
Além disso, a condição suspensiva impede a aquisição do direito e o termo inicial 
impede apenas o seu exercício pressupondo que o agente já é titular do direito desde a 
realização do negócio jurídico. 
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Igualmente sugere-se a aplicação das regras pertinentes à condição resolutiva 
ao termo final, pois ambos tratam da extinção da carga eficacial do negócio jurídico. A 
condição resolutiva assinala esse fim com à realização de evento que não se sabe se 
ocorrerá ou não. E o termo final, trata de por fim ao direito e ao seu exercício com um 
acontecimento sobre o qual se tem certeza da realização. De qualquer forma, neste 
ponto de semelhança, que é a extinção dos efeitos, autoriza-se a possibilidade de 
aplicação das regras sobre condição também ao termo. 
 
4.2. Termo e prazo 
O Código Civil traz em seu capítulo sobre os elementos acidentais, três 
disposições sobre termo e prazo, artigos 132, 133 e 134. Antes de qualquer coisa, deve-
se reafirmar que a expressão termo pretende traduzir o evento futuro e certo que 
interferiria no exercício do direito. Já a noção de prazo consiste no espaço temporal 
compreendido entre os termos, ou entre a vontade manifestada e um termo, ou entre o 
evento futuro e certo e outra determinada disposição do negócio jurídico. A expressão 
prazo transmite, assim, a noção de espaço de tempo entre o início e o fim da existência 
de efeitos jurídicos. Clóvis Beviláqua define uma das possíveis diferenças entre as 
expressões ao dizer que “Termo é o dia, no qual tem de começar ou de extinguir-se a 
eficácia de um negócio jurídico. Prazo é o lapso de tempo decorrido entre a declaração 
de vontade e a superveniência do termo”.10 Como se sabe que otermo não precisa ser 
necessariamente um dia, mas pode ser apenas um fato, como a morte, o prazo representa 
o lapso temporal em que se alcança ou que se dá o referido evento considerado como 
termo certo ou incerto. 
O artigo 132 do Código Civil explicita regras de contagem desse lapso 
temporal denominado prazo. E de saída ilustra a liberdade característica da autonomia 
negocial ao afirmar que os prazos serão computados da maneira ali prevista, salvo 
disposição legal ou convencional em contrário. Em seguida enuncia clássica regra sobre 
os prazos, afirmando que sua contagem exclui o dia do seu início e leva em 
consideração o dia do vencimento. Assim, um contrato cujo prazo seja de 20 dias e o 
termo inicial tenha se dado no dia 03 de março de 2010. Para que se saiba exatamente o 
dia do termo final, deve-se iniciar a contagem excluindo o dia do começo e 
 
10 BEVILÁQUA, Clóvis. Código Civil dos Estados Unidos do Brasil comentado. Rio de Janeiro: 
Francisco Alves, 1940, p. 377. 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
considerando o dia subseqüente, qual seja dia 04 de março. E, posteriormente, incluindo 
o dia do final, ou seja, o dia 23 de março, como o termo determinado da extinção dos 
efeitos. 
Em seguida, o mesmo artigo dispõe algumas regras sobre feriados acontecidos 
na data do termo final, quando considerar-a-se-á o prazo prorrogado até o primeiro dia 
útil. Esclarece, ainda, o que se quer dizer com a expressão meado, afirmando consistir 
essa no décimo quinto dia em qualquer mês. Acrescenta que os prazos fixados em 
meses ou anos se concluem no mesmo dia, ou de igual número do dia de início. Ou seja, 
iniciado em 20 de março de 2010 negócio jurídico de vigência ou prazo de 02 anos, este 
se concluirá em 20 de março de 2012. Caso o mês não tenha o número exato ao do 
começo, será considerado o dia subseqüente imediato. E por fim, o artigo enfatiza que 
os prazos fixados em hora, serão contados minuto a minuto para que se saiba o termo 
final. 
O artigo 133 estipula hipótese de presunção no que diz respeito aos prazos 
fixados em testamentos, e nos negócios jurídicos bilaterais que são os contratos. No 
caso dos testamentos, (o termo que estipular o início ou o fim do direito do herdeiro) 
pode o legatário efetuar o pagamento da prestação ou, cumprir o encargo, 
eventualmente aposto, a qualquer momento, inclusive antes do termo. Interpretação 
semelhante é fixada em relação aos contratos, em que a presunção se dará em favor do 
devedor para o cumprimento das prestações. Como se trata de regra supletiva, o próprio 
dispositivo faz a ressalva que, em relação aos contratos, pode-se estipular a 
interpretação favorável ao credor ou a ambos os contratantes. 
Por fim, prevê o artigo 134 do Código Civil que os negócios jurídicos 
praticados entre vivos e sem a previsão de prazo, ou melhor, dizendo, sem a previsão de 
termo inicial para o exercício do direito, este serão executados desde logo, sempre que 
for possível o cumprimento da prestação. Isto porque, se a realização da prestação 
definida nos contratos se der em local diverso ou depender de tempo para a sua 
realização, sua exigibilidade deve ser dar de acordo com a natureza dessas 
circunstâncias, dada a impossibilidade de realização imediata. 
 
5. ENCARGO 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
O último dos elementos acidentais tipificados pelo Código Civil denomina-se 
modo ou encargo. Este, tradicionalmente, se encontra aposto em negócios jurídicos 
gratuitos limitando, assim, a liberalidade praticada. Como a própria terminologia 
sugere, o modo consiste em uma cláusula acrescentada ao negócio dispondo sobre a 
forma como deverá ser realizado. Trata-se de uma disposição sobre a maneira de se 
conduzir ou de fazer alguma coisa. O sinônimo encargo sugere, no seu sentido étimo, 
encarregar alguém de alguma coisa. Em sentido amplo pretende significar a obrigação, 
o gravame ou o ônus imposto como restrição ou limitação a um direito. 
 
5.1. Natureza jurídica do encargo 
Esse ônus admitido apenas nos negócios jurídicos gratuitos representa uma 
atribuição a ser desempenhada pelo beneficiário da liberalidade confirmando assim os 
efeitos desta. A concepção jurídica de ônus11 passa pela idéia de carga, peso, obrigação 
que deve ser atendida, para que, então, possa o onerado se beneficiar plenamente do 
bônus ou da vantagem que lhe foi concedida. 
É de se destacar que o negócio jurídico de natureza gratuita que recebe a 
disposição anexa do encargo não se torna, por isso, oneroso, já que o modo representa 
uma obrigação sem qualquer caráter de contraprestação ou sequer equivalência com a 
prestação oferecida na liberalidade. O encargo não tem natureza de retorno da vantagem 
percebida, mas apenas do cumprimento de um ônus para a fruição plena dos efeitos 
deste bônus. 
O modo como elemento do negócio jurídico que é deriva do exercício da 
autonomia negocial do agente e pode ter natureza patrimonial quando a prestação de 
dar, fazer ou não-fazer tem apreciação econômica de avaliação direta. Neste caso, o 
onerado terá alguma despesa, obra por realizar. Enfim, um sacrifício econômico. Já no 
encargo extrapatrimonial, ou que mais precisamente consiste em realizar algo de valor 
 
11 “A diferença entre o dever e o ônus reside no fato de que no primeiro, o comportamento do agente é 
necessário para satisfazer interesse do titular do direito subjetivo, enquanto no caso do ônus o interesse é 
do próprio agente. No dever, o comportamento do agente vincula-se ao interesse do titular do direito, 
enquanto que, no ônus, esse comportamento é livre, embora necessário, por ser condição de realização de 
interesse próprio. O ônus é, por isso, o comportamento necessário para conseguir-se certo resultado que a 
lei não impõe, mas faculta. No caso do dever, há uma alternativa de comportamento, um lícito (o 
pagamento, por exemplo) e outro ilícito (o não pagamento); no caso do ônus, também há uma alternativa 
de conduta, ambas lícitas, mas de resultados diversos”. AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 
Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 200. 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
moral, e às vezes, até custeado pelo autor da liberalidade. Agora o ônus requerido prevê 
a realização de um comportamento sem conteúdo econômico direto. 
A realização de um negócio jurídico que contenha encargo, conforme a 
previsão verificada no artigo 136 do Código Civil vigente não suspende a aquisição nem 
o exercício do direito concedido por meio da liberalidade. Verifica-se que o negócio 
modal produz sua carga eficacial desde logo e é exatamente em razão destes efeitos que 
surge para o beneficiário a obrigação de cumprir o que lhe é exigido. A vantagem 
contida no encargo é imediata, o que lhe impõe o ônus de cumprir a determinação 
anexada para que se tornem plenos os efeitos. Diz-se isto, pois na doação, por exemplo, 
o benefício pode ser revogado porinexecução do encargo aposto. 
Desta forma, percebe-se que a estrutura do encargo, como disposição anexa do 
negócio jurídico, não influencia ou não se propõe a impedir a aquisição do direito, como 
a condição suspensiva, nem por fim aos seus efeitos, como a resolutiva, muito menos 
impedir o exercício deste, como o termo inicial. O modo representa cláusula acessória 
para que se confirmem os efeitos que desde a formação do negócio, ou, como no caso 
do testamento com a ocorrência do termo morte, são deflagrados. 
O encargo se diferencia da condição suspensiva, pois também como diz o 
artigo 136 já citado, ele não suspenderá nem a aquisição nem o exercício do direito, 
salvo se previsto como condição suspensiva. Isto significa que na interpretação do 
negócio jurídico, como direciona o artigo 112 também do Código Civil, deve-se 
perquirir para além da linguagem literal do negócio, mas igualmente a intenção nele 
consubstanciada, definindo a natureza da cláusula acessória como modal ou 
condicional. 
A diferença entre o encargo e a condição resolutiva é também evidente, ou 
talvez até mais, pois neste caso a ocorrência do evento futuro e incerto conduz à 
extinção dos efeitos produzidos e não à sua confirmação como se dá no modo. 
Na condição e no termo (que impede o exercício do direito) ocorre a previsão 
de cláusula inexa ao negócio jurídico, pois compõem a substância do negócio, ora 
impedindo/extinguindo a produção de efeitos, ora impedido o exercício do direito 
recebido. O encargo, diferentemente, representa cláusula autônoma em relação ao 
negócio, libertando o conteúdo deste da interrupção ou suspensão das suas 
conseqüências. 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
 
5.2. Encargo ilícito e impossível 
A previsão contida no artigo 137 do Código Civil dispõe que o encargo ilícito 
ou impossível será considerado não escrito, salvo se constituir motivo determinante da 
liberalidade, quando invalidará todo o negócio jurídico. A ilicitude ou impossibilidade 
da cláusula modal, conforme a disposição citada, e em razão de sua autonomia, pode 
não atingir o conteúdo do negócio jurídico, mas apenas prejudicar a cláusula em si 
mesma. Resta apenas saber o que se quer dizer com a expressão “não escrito”. 
Pode-se afirmar que a expressão representaria verdadeira causa de nulidade da 
cláusula estipulada, com inspiração no teor do artigo 166 do Código Civil, que afirma 
ser nulo o negócio com objeto ilícito. Todavia, tal interpretação tornaria necessário 
pronunciamento judicial da nulidade verificada que até tal momento produziria efeitos 
irregulares, antes de chegar à extirpação de sua eficácia. Talvez, a expressão do artigo 
137 possa ser entendida como verdadeira causa de ineficácia, tornando o encargo ilícito 
ou impossível, inoponível ao beneficiário da liberalidade. E somente o sancionaria com 
a nulidade quando o vício lhe acometesse a causa do negócio jurídico, ou como diz o 
artigo de maneira menos técnica, o motivo determinante. Neste caso, apenas quando o 
modo disser respeito à razão determinante do negócio, ou seja, vincular-se 
indissociavelmente à sua substância e nestas circunstâncias tiver natureza ilícita ou 
impossível, será nula toda a estipulação. 
 
6. NOTA FINAL 
O que parece realmente ter destaque no estudo e na articulação dos elementos 
acidentais reside no fenômeno de recepção e conseqüente definição da carga de efeitos 
que será produzida pelo negócio jurídico. A autonomia privada de natureza heterônoma 
é exercida em âmbito negocial de acordo com as antecipações, tendências, inclinações, 
estratégias, liberdade e pretensões dos seus agentes. Eles podem promover a ocorrência 
do negócio jurídico apenas com os seus elementos de existência, validade e eficácia 
clássicos ou podem definir estratégias outras de realização dos efeitos, conforme 
definição e autorização legal. A lógica deôntica jurídica coloca os elementos acidentais 
no espaço das condutas facultativas e permitidas. Porém e como todo comportamento 
desta natureza na órbita jurídica, a autonomia negocial somente se realiza se observadas 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011. 
as definições legais obrigatórias e proibidas. Assim, os elementos acidentais 
modificarão a tradicional ocorrência do plano eficacial do negócio jurídico se forem 
conformados pelas estipulações legais que lhe autorizam e legitimam. 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. 
 
AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 
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Saraiva, 2003. 
 
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MORA, José Ferrater. Dicionario de filosofia. Barcelona: Ariel, 1994. 
 
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2004, v. 1. 
 
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VELOSO, Zeno. Condição, termo e encargo. São Paulo: Malheiros, 1997. 
 
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In DIAS, Adahyl Lourenço. Estudos em homenagem ao professor Washington de 
Barros Monteiro. São Paulo: Saraiva, 1992. 
O TEXTO NÃO DEVE SER CITADO. UTILIZAÇÃO APENAS PARA FINS ACADÊMICOS. 
POMPEU, Renata Guimarães. Negócio jurídico e seus elementos acidentais. In RIBEIRO, Gustavo Pereira Leite; 
TEXEIRA, Ana Carolina Brochado (org). Manual de teoria geral do direito civil. Belo Horizonte: Del Rey, 2011.

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