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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS – DCHT – XXIV CAMPUS UNIVERSITÁRIO PROFESSOR GEDIVAL SOUSA ANDRADE CURSO DE LETRAS VERNÁCULAS VIII SEMESTRE NOTURNO MAILTON BORGES DA FRANÇA TALITA PEREIRA DE SOUZA DAS MÃOS E GESTOS À CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM: A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LIBRAS NA FORMAÇÃO ESCOLAR DOS SURDOS Xique-Xique 2014 2 MAILTON BORGES DA FRANÇA TALITA PEREIRA DE SOUZA DAS MÃOS E GESTOS À CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM: A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LIBRAS NA FORMAÇÃO ESCOLAR DOS SURDOS Xique-Xique 2014 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para aprovação do Curso de Licenciatura Plena em Letras Vernáculas com Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus professor Gedival Sousa Andrade – DCHT –XXIV. Orientadora: Profª. Mestra Rita de Cássia de Chagas Carvalho. 3 FOLHA DE APROVAÇÂO MAILTON BORGES DA FRANÇA TALITA PEREIRA DE SOUZA DAS MÃOS E GESTOS À CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM: A IMPORTÂNCIA DO ENSINO DE LIBRAS NA FORMAÇÃO ESCOLAR DOS SURDOS Data de aprovação _____/____/______ ______________________________________________ Profa. MS Rita de Cássia de Chagas Carvalho. Orientadora _____________________________________________ Profa. MS. Líbia Gertrudes Mello Membro da Banca ______________________________________________ Profa. MS. Sidnei Carvalho de Oliveira. Membro da Banca Xique-Xique 2014 Trabalho de Conclusão de Curso em Letras Vernáculas com Habilitação em Língua Portuguesa e Literaturas, submetido à Banca Examinadora composta pelos Professores da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – DCHT XXIV Campus Professor Gedival Sousa Andrade como parte dos requisitos necessários à obtenção deLicenciatura Plena em Letras. 4 AGRADECIMENTOS Nossa gratidão a Deus por ter nos presenteado com essa conquista e que nos momentos mais difíceis estendestes a mão. Aos nossos pais por terem sido a coluna que sustentou os possíveis desabamentos; Aos mestres, que nos proporcionaram vivenciar ricas experiências de aprendizado. Agradecemos de maneira especial a Professora Líbia Gertrudes Mello e Sidnei de Carvalho Oliveira pelo apoio oferecido, e nossa orientadora Rita de Cássia de Chagas Carvalho, que não se limitou em ser apenas professora, nos completando com seus ensinamentos, dedicação e compromisso. A todo corpo do Projeto Fonte do Saber, surdos, amigos e profissionais que de forma direta ou indireta, colaboraram na execução da pesquisa, tornando possível a efetivação deste trabalho. 5 RESUMO O presente trabalho se propôs a estudar o processo de ensino e aprendizagem na aquisição da Língua Brasileira de Sinais (Libras) pelo Surdo, considerada fundamental para a efetivação do diálogo entre Escola e Surdo. Refere- se a um estudo, realizado no Projeto Fonte do Saber uma escola pública que atende pessoas com necessidades especiais, inclusive os Surdos, localizada na cidade de Xique-Xique/BA. A partir da escrita do trabalho em questão, fez-se necessário uma reflexão acerca do uso da Libras pela família do surdo, bem como o mundo que o rodeia, escola, comunidade e sociedade em geral, assim como sua influência no fortalecimento do diálogo, principalmente entre os ouvintes e os surdos. A metodologia empregada neste trabalho foi composta de uma pesquisa bibliográfica, seguida de pesquisa de campo, fundamentada em vários autores, dentre eles, Gesser (2009), Quadros (2004 a 2008), Strobel (2008) e outros. Foi perceptível nas pesquisas a inclusão do surdo dentro da escola regular, e seu bom desempenho comunicacional com os pares ouvintes. Ainda dentro deste viés foi notado também a necessidade de formação continuada para profissionais que trabalham com essa classe e algumas dificuldades enfrentadas por eles. Assim, a importância deste estudo se materializa como instrumento no qual, docentes, discentes e sociedade em geral possam ter um maior conhecimento a respeito das pessoas com deficiência auditiva. Palavras-chave: Libras. Educação Inclusiva. Formação continuada. 6 ABSTRACT This work proposes to study the process of teaching and learning in the acquisition of Brazilian Sign Language (Libras) by Deaf, considered essential to the realization of the dialogue between school and Deaf. Refers to a study carried out in the Project of Knowledge Source a public school that serves people with special needs, including the Deaf, located in Xique-Xique / BA. From the work involved writing, it was necessary to reflect on the use of Libras by deaf family and the world around him, school, community and society in general, as well as his influence in strengthening dialogue, especially among listeners and the deaf. The methodology used in this study consisted of a literature review, followed by field research, based on several authors, among them Gesser (2009), Tables (2004-2008), Strobel (2008) and others. Was evident in the inclusion of deaf research within the regular school, and her good communication performance with listeners pairs. Also within this bias was also noted the need for continuing education for professionals working with this class and some difficulties faced by them. Thus, the importance of this study is materialized as an instrument in which teachers, students and the general public may have greater knowledge about people with hearing loss. Keywords: Pounds. Inclusive Education. Continuing education. 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 08 2 DEFICIENTES OU DIFERENTES? FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES SURDAS NO CONTEXTO EDUCATIVO....................................................................................... 12 2.1 AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES DOS INDIVÍDUOS SURDOS............................... 19 3 MÃOS QUE FALAM: A IMPORTÂNCIA DA LIBRAS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA.................................................................................................................... 25 4 INTÉRPRETE DE LIBRAS NO ENSINO REGULAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM...................................................... 32 5 LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS: A ESCUTA DA VOZ DO SURDO..................... 40 5.1 CONHECENDO PASSOS E DADOS DA PESQUISA............................................. 42 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 47 REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 49 APÊNDICE A............................................................................................................... 51 APÊNDICE B................................................................................................................. 52 APÊNDICE C.................................................................................................................55 ANEXO A....................................................................................................................... 56 8 1 INTRODUÇÃO O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi elaborado com o objetivo de ser um instrumento no qual, docentes, discentes e sociedade em geral passam ter um maior conhecimento a respeito das pessoas com deficiência auditiva. Concordando com Quadros e Sutton-Spence (2007), em que ter um conceito de surdez, num determinado contexto histórico, social ou educacional não é tão simples, pois isso requer conhecimento dos diferentes graus de perdas auditivas do sujeito, a maneira como ele vê e ouve o mundo que o cerca. O conhecimento destes elementos é de grande importância para que se possa iniciá-los no mundo das letras. Desta forma, a educação inclusiva não pode ficar somente no imaginário, é preciso colocá-la em prática. Sendo proposto por várias pessoas, profissional ou não, muitas das vezes acabam entrando em contradição, gerando dúvidas, principalmente dos professores. E é o que está acontecendo, poucos têm conhecimentos sobre o assunto, a discussão fica gerando aquela velha história de que a escola não está preparada e que professores não darão conta. Segundo Paulo César Machado, um dos colaboradores da obra “Estudos Surdos I”, organizado por Ronice Quadros (2007), focaliza a integração/inclusão na escola regular, mostrando que por mais bem elaborada que seja essa integração/inclusão, vem apresentando dificuldades em sua implantação pela instituição escolar, ou seja, muitos educandos surdos encontram-se à margem da escola, alguns estão incluídos em classes regulares e apenas estes poucos conseguem permanecer no sistema. A escola integracionista/inclusivista é entendida como espaço de consenso e da tolerância para com os diferentes. Isso se dá, devido a um sistema que visa apenas a melhoria da maioria, sendo essa maioria os ouvintes, os Surdos ficam tidos como rejeitados a espera de algo que possa atendê-los. A inclusão de alunos portadores de deficiência é um assunto que vem sendo muito discutido no meio educacional e na sociedade de modo geral. Fazendo uma análise sobre o assunto, percebemos que esta é uma questão que envolve diferentes visões e opiniões que tem que ser discutida com maior cuidado para que alcance o objetivo proposto. 9 Não basta apenas a fundação de escolas regulares que ingressem os alunos surdos, é preciso também a formação de profissionais na área do ensino, para que não se tenha um aprendizado de má qualidade, que faça com que o aluno surdo dificulte a conclusão de seus estudos, pois em muitas ocasiões são colocados para trabalhar nessa área, professores despreparados, que mesmo sabendo do processo de ensino regular para Surdos, usam apenas o oralismo para ensinar, fazendo com que o sujeito Surdo se torne obrigado a aprender apenas a prática da cópia, sem contar com certos preconceitos sofridos na escola em que frequenta. As questões geradas a partir dos problemas supracitados nos conduziram a compreender a importância dos estudos surdos e a necessidade de inclusão da LIBRAS nos componentes curriculares nas escolas de ensino regular, isso se deve à preocupação no que se refere ao ensino dos surdos, uma vez que já foi comprovado que estes possuem a mesma capacidade de aprendizado que o ouvinte, deste modo questões como esta se fizeram relevantes neste trabalho. A escolha da temática foi feita a partir da leitura do livro Estudos Surdos I, organizado por Ronice Quadros (2006) que levanta várias questões a respeito do assunto em questão, e que mostra também “soluções” para problemas encontrados por estes surdos na sociedade, além da grande riqueza em compreender os estudos surdos. É nessa dinâmica de aprendizagem que essa temática nos proporciona, novos olhares sobre os estudos e educação dos Surdos. Fica extremamente visível a importância do conhecimento sobre vários fatores mostrados e vividos em nossa sociedade, como a exclusão de pessoas por serem diferentes ou possuir algo a mais ou de menos que as outras pessoas, trazendo para nosso contexto, principalmente os Surdos. A partir daí acreditamos que a sociedade atual possa ter uma nova concepção e olhar crítico perante as desigualdades ocorridas pela elite social, possibilitando que se construa uma nova sociedade com valores e conceitos iguais e equânimes. Desta forma, assegurados pela lei 9394/96, entendemos que a escola não deve tomar decisão de questionar se aceita ou não o aluno com deficiência, é preciso que ela entenda que isso é lei, e deve ser cumprido. 10 Partindo dessas afirmativas, utilizamos como referenciais teóricos os textos de vários estudiosos: Ronice Müller de Quadros (2004, 2006, 2007 e 2008), Ana Paula Santana (2007), Karin Strobel (2008), Audrei Gesser (2009), Maria Cristina Cunha Pereira (2011), entre outros. No decorrer do texto é perceptível a repetição de alguns trechos importantes e substanciais da escrita. Tal artifício é usado para que o leitor compreenda a grande importância da LIBRAS1 na educação dos Surdos. Esse trabalho está organizado em quatro capítulos. O capítulo intitulado DEFICIENTES OU DIFERENTES? FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES SURDAS NO CONTEXTO EDUCATIVO/INCLUSIVO nos mostra, além do processo histórico de surgimento da LIBRAS, os modos de formação e construção das identidades surdas no contexto escolar, como também na formação do profissional nesta área, buscando compreender nos alunos surdos sua identidade, sua especificidade e maneira de ver o mundo. A partir do capítulo MÃOS QUE FALAM: A IMPORTÂNCIA DA LIBRAS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA abordamos sobre a sociabilização de deficiente auditivo através da língua de sinais, em uma sociedade dominante, a qual se encontra educadores não qualificados nesta área de ensino e ambiente inadequado para o entendimento necessário do aluno surdo, revelando as maiores dificuldades dos professores, e quais as influências no processo ensino-aprendizagem que envolve os pais. Discutiremos também sobre o papel da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), como fator primordial para uma escola inclusiva, para que este sirva não só à educação específica de uma comunidade surda, mas também a sociedade em geral, em especial as famílias de alunos surdos que, em sua grande maioria, são desconhecedores da importância do ensino da LIBRAS logo nos primeiros anos de vida. No capítulo intitulado: INTÉRPRETE DE LIBRAS NO ENSINO REGULAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM são apresentadas as questões pesquisadas por teóricos como: Ronice Müller de Quadros 1 Língua Brasileira de Sinais é a língua utilizada pelos surdos que vivem em cidades do Brasil, portanto não é uma língua universal. 11 (2004) e Ana Paula Santana (2007), em que estes dão ênfase aos problemas escolares quando se tratam de ensino especial, nesse caso o Surdo, onde nos mostram a importância de um intérprete em sala de aula, para que assim, com a ponte em que ligam o meio comunicacional do aluno surdo ao professor e outros alunos, quebram preconceitos criados pela sociedade, fazendo-nos refletir sobre as diversas crendices e a valorização do intérprete de Libras. No último capítulo, LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS: A ESCUTA DA VOZ DO SURDO, foi realizada uma análise de perto do intérprete de Libras no ensino regular e suas contribuições para o processo de ensino e aprendizagem. Discutiremos ainda sobre a importância de um intérprete em sala de aula, que emita por meio dos sinaisa língua natural dos surdos, com suas próprias estruturas sintáticas, além de promover a relação professor/aluno e aluno/aluno, trazendo aqui, resultados concretos por meio de pesquisas na comunidade xiquexiquense. Ao analisarmos historicamente o processo educacional dos surdos de épocas anteriores aos dias atuais, fundamentados na pesquisa de campo e no arcabouço teórico, refletimos imediatamente como está a situação da educação para surdos, e fica extremamente visível a importância da Língua de Sinais como parte integrante do currículo escolar, bem como do papel do intérprete desta língua para fazer o intercâmbio de comunicação entre os Surdos e os pares ouvintes. 12 2 DEFICIENTES OU DIFERENTES? FORMAÇÃO DAS IDENTIDADES SURDAS NO CONTEXTO EDUCATIVO As diversas manifestações culturais que tem como base as identidades, as singularidades e as diferenças observadas sobre o prisma político de cunho desigual, culminando nas relações de poderes e saberes, são objetos de estudo da pesquisadora Sá (2002), que cita Skliar (1998), evidenciando que os Diversos trabalhos dos chamados ‘estudos surdos’ baseiam-se nos Estudos Culturais, os quais buscam “um horizonte epistemológico na definição da surdez, onde ela possa ser reconhecida como uma questão de diferença política, de experiência visual; de identidades múltiplas num território de representações diversas que se relaciona, mas não se refere à deficiência”. (SKLIAR, 1998, apud SÁ, 2002, p. 10). Desta forma, a Cultura2 assume papel fundamental na construção identitária dos Surdos. Um dos elementos fundamentais na construção de identidade é a língua. No caso dos surdos, a língua de sinais é o elo de fundamento nesta construção identitária, além de artefato principal para o acesso ás informações e conhecimentos de construção da identidade. Conforme afirma Strobel: A língua de sinais é uma das principais marcas da identidade de um povo surdo, pois é uma das peculiaridades da cultura surda, é uma forma de comunicação que capta as experiências visuais dos sujeitos surdos, sendo que é esta a língua que vai levar o surdo a transmitir e proporcionar-lhe a aquisição de conhecimento universal. (STROBEL, 2008, p. 44). No intuito de traçar caminhos para o entendimento da educação de surdos no cotidiano mundial, faz-se necessário voltar ao tempo. Nos anos 400 e 300 a. C. é que se reconhece os primeiros registros com a preocupação de se entender o comportamento humano. Aristóteles, filósofo essencial para este entendimento, traz 2 A cultura é uma produção. Tem sua matéria-prima, seus recursos, seu “trabalho produtivo”. Depende de um conhecimento da tradição enquanto “o mesmo em mutação” e de um conjunto efetivo de genealogias. Mas o que esse “desvio através de seus passados” faz é nos capacitar, através da cultura, a nos produzir a nós mesmos de novo, como novos tipos de sujeitos. Portanto, não é uma questão do que as tradições fazem de nós, mas daquilo que nós fazemos das nossas tradições. Paradoxalmente, nossas identidades culturais, em qualquer forma acabada, estão à nossa frente. Estamos sempre em processo de formação cultural. A cultura não é uma questão de ontologia, de ser, mas de se tornar. (Hall (2003, p. 43). 13 a filosofia para a sociedade, no entanto, não faz menção eficaz em relação aos Surdos. Em Roma e Grécia, cidades respeitadas por serem excelentes guerreiras, não admitiam pessoas com deficiências em suas sociedades. Bianchetti e Freire declaram que, “Se, ao nascer, a criança apresentasse qualquer manifestação que pudesse atentar contra o ideal prevalecente, era eliminada. Praticava-se, assim, uma eugenia radical, na fonte. A eliminação dava-se porque a criança não se encaixava no leito de Procrusto dos Espartanos” 3. (BIANCHETTI e FREIRE, 2002, p.29). Em relação aos Surdos, Veloso e Maia Filho (2009) afirmam que em Atenas os Surdos normalmente eram deixados nas praças públicas ou campos, em Esparta, jogados de rochedos e em Roma atirados no Rio Tiger. Eram adotados tratamentos diferenciados para as pessoas com deficiência: extermínio, oferta aos deuses, abandono; cada um baseado em sua cultura. Porém, nenhum com o devido respeito a estas pessoas. Aristóteles (384 a.C.) defendia que o homem expressava seus conhecimentos através da fala. Diante deste conceito, o indivíduo que não detinha o poder da fala não era considerado “inteligente”. Baseados nestes aspectos os Surdos não podiam ser educados. Em Veloso e Maia Filho se verifica que Aristóteles afirmava que: “[...] de todas as sensações, é a audição que contribui mais para a inteligência e o conhecimento…, portanto, os nascidos surdos se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão’. Ele achava absurda a intenção de ensinar o surdo a falar”. (Veloso e Maia Filho, 2009, p.21). Percebe-se que a Filosofia não contemplava estudos direcionados aos surdos mesmo sendo tão preocupada com os estudos da mente e da consciência humana. Para buscar registros sobre a educação dos surdos é necessário lançar outro olhar, 3 Procrusto era um bandido que vivia na serra de Elêusis. Em sua casa, ele tinha uma cama de ferro, que tinha seu exato tamanho, para a qual convidava todos os viajantes a se deitarem. Se os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Uma vítima nunca se ajustava exatamente ao tamanho da cama porque Procrusto, secretamente, tinha duas camas de tamanhos diferentes. 14 uma vez que aos registros históricos estão mais próximos de práticas de cuidados que das metodologias e procedimentos educacionais. Só após muita evolução de fundamentos educacionais que alguma preocupação com a educação especial e, neste caso pesquisado, a educação de Surdos começou a receber alguma atenção. Com o sentimento de “piedade cristã” inculcada pela Igreja, a sociedade passa a não mais exterminar os considerados deficientes. As famílias que tinham em seu seio indivíduos deficientes passou a deixá-los aos cuidados da Igreja para que estas os educassem até se tornarem adultos. É a partir deste comportamento que surgem, na idade Média, as casas de Misericórdia. Os cuidados oferecidos pela Igreja não contemplava a igualdade de direitos destes indivíduos; eles não podiam receber a Comunhão, eram excluídos da herança, dentre outras exclusões. Contudo, a partir das Santas Casas de Misericórdia, aparece a preocupação de ensino a estes indivíduos e, segundo Veloso e Maia Filho (2009, p. 22), é nesta fase que “começa um caminho para a educação do surdo”. Mesmo surgindo interessados e até mesmo defensores da capacidade dos Surdos para a aprendizagem (meados de 1500), somente no século XVI, a educação para surdos fica demarcada. Neste período aparece, na Espanha, Pedro Ponce de Léon, um monge beneditino, contratado por famílias nobres para educar seus filhos e provavelmente futuros herdeiros reais. Nascido em data indeterminada e tendo vivido até 1584, Ponce tinha por objetivo ensiná-los a ler e escrever. Era herbólogo e também manipulava alguns remédios a base de ervas com o intuito de “curar” e fazer falar os Surdos (GOMES, 2008). O monge beneditino Ponce abre uma escola para Surdos em seu próprio monastério, utilizando para educar seus alunos surdos, um alfabeto bi-manual, em que utilizava ambas as mãos – e alguns sinais simples. Para Gomes (2008, p.9) esse método não preparava o aluno para a comunicação. Ele afirmaque “[...] Dessa forma, com o alfabeto bi-manual o estudante aprendia a soletrar, letra por letra, qualquer palavra, mas não a se comunicar”. 15 Mesmo sendo alfabetizados, estes alunos não podiam utilizar os sinais aprendidos. Gomes (2008) assegura que era proibido o uso de gestos, pois o objetivo principal ainda era torná-los o mais normal possível perante a sociedade. A experiência de Ponce de Leon provou, com esta atitude, que era sim possível educar e ensinar conteúdos científicos para Surdos. Ponce de Leon, por motivos ainda não explicados, não publicizou para a sociedade seus métodos de ensino e sua importância para a educação dos surdos. Os registros por ele deixados ficaram abandonados após sua morte e segundo pesquisas de GOMES (2008) o monge beneditino, considerado pela modernidade, o primeiro Professor de Surdos na história, “[…] só se tornou conhecido a partir de 1986, ano em que foi encontrado no Arquivo Histórico Nacional de Madri (Espanha), um manuscrito com relatos rudimentares de seu método” (GOMES, 2008, p.9). Décadas após décadas foram surgindo profissionais preocupados com a Educação dos surdos. No século XVII, Juan de Pablo Bonet recebe a responsabilidade de educar o filho Surdo de Juan Fernandéz de Velasco, o jovem Luis Velasco. Alcançando sucesso em sua empreitada, o Professor passou a se dedicar à elucidação dos mistérios da fala e aos segredos do som, das letras e das estruturas gramaticais e fonéticas, com o objetivo de fazer com que as crianças “[...] conseguissem ler e até falar com mais facilidade”. (GOMES, 2008, p.12). Pablo Bonet utilizou alfabeto gestual das mãos como metodologia apenas como meio e facilitador na comunicação e aprendizagem em sala. O método utilizado pelo Professor ficou conhecido como Oralismo, e tinha como objetivo principal o desenvolvimento individual dos Surdos, a partir do aprendizado dos gestos, a capacidade e o hábito da leitura visual e, mais tarde, da escrita (GOMES, 2008). Por volta de 1778, na França, entra em cena o Abade Charles Michel L’Epée (1712 – 1789),que recebe grande reconhecimento e respeito pelos Surdos,é repudiado pelos educadores oralistas, por L’Epée mostrar interesse e preocupação com os Surdos carentes que viviam pelas ruas de Paris. Desse convívio, o Abade apreende o meio de comunicação (realizado através de sinais) dos Surdos. Transformou sua própria casa em uma escola para Surdos carentes ensinando-os através da 16 combinação da Língua de Sinais e da gramática francesa sinalizada, denominada de “Sinais Metódicos” (VELOSO e MAIA FILHO, 2009). Embora bastante criticado pelos seus colegas de Profissão, L‘Epée defendia que a Língua de Sinais constitui a linguagem natural dos Surdos e que esta seria o verdadeiro meio de comunicação e de desenvolvimento do pensamento deste grupo de pessoas. Publicou, de acordo com Veloso e Maia Filho (2009), o primeiro Dicionário de Sinais e em 1789, quando faleceu, já havia fundado 21 escolas para Surdos na França e Europa. O Abade deixou seu legado escrevendo algumas obras sobre a Educação dos Surdos. A mais importante foi: “A Verdadeira Maneira de Instruir os Surdos-Mudos”, publicada em 1776; é reconhecido como o “Pai dos Surdos” (HONORA e FRIZANCO, 2009). Após idas e vindas da Educação para Surdos no cenário mundial, em 1855 chega ao Brasil o professor Surdo francês chamado Eduard/ Hernest Huet4 (1822 – 1882), por solicitação de Dom Pedro II, com o intuito de criar uma escola de Surdos no país. A escola era direcionada à Educação de alguns privilegiados, isto é, Surdos nobres deste País. Em junho de 1855, Huet apresenta ao Imperador D. Pedro II um relatório cujo conteúdo revela a intenção de fundar uma escola para surdos no Brasil. Neste documento também informa sobre a sua experiência anterior como diretor de uma instituição para surdos na França: o Instituto dos Surdos-Mudos de Bourges. Depois de dois anos da chegada do Professor, surge no Rio de Janeiro, em 26 de Setembro de 1857, o primeiro instituto de Surdos (Instituto de Surdos Mudos - ISM), atualmente Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES. A data atualmente é comemorada como o Dia Nacional do Surdo (VELOSO e MAIA FILHO, 2009). No início de sua fundação, o Instituto funcionava como um internato e atendia apenas os surdos do sexo masculino que vinham de todo lugar do Brasil. Estes eram preparados não só para se comunicar como também para o mercado de 4 Encontram-se os dois nomes em referencias teóricas. 17 trabalho. Com o passar do tempo, por volta do ano de 1931, surge dentro do Instituto, oficinas de bordados e costuras, incluindo na Educação os surdos do sexo feminino. A partir da formação oferecida pelo Instituto, é que surgem os primeiros líderes surdos, que passam a divulgar a Língua Brasileira de Sinais por todo País, formando assim associações, escolas, projetos e grupos de estudo e de luta pelos direitos da educação do Surdo. Mesmo antes da língua de sinais tomar uma estrutura no Brasil, educadores de todo o mundo mobilizam-se para convenções mundiais no intuito de discutir sobre a definição do que realmente era a inclusão do Surdo na sociedade: os métodos de ensino da Língua de Sinais ou seria mesmo o Método do Oralismo? Os anos compreendidos entre 1880 e 1987 foram marcados por debates e movimentos sociais a favor e/ou contra os direitos Educacionais e Sociais da sociedade surda. Os avanços conseguidos se restringiram à criação, da Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos – FENEIS também no Rio de Janeiro, que só conseguiu uma sede própria em 1993. De acordo a Declaração de Salamanca, lançada em 1994, fica assegurado o direito de todas as crianças, com deficiência ou não, de estarem inseridas em escolas de rede regular de ensino. A Lei também define que estas crianças recebam o devido atendimento e que as suas necessidades deverão ser atendidas (BRASIL, 1994). É a partir da assinatura da Declaração de Salamanca que o termo Educação inclusiva passa a ser uma questão de conquista de cidadania e, mais ainda, passa a ser encarada de outra maneira, servindo como suporte para outras mudanças e leis que se seguiriam. Em decorrência disso, a Declaração Salamanca, aponta que inclusão e participação são essenciais à dignidade ao desfrute e exercício dos direitos humanos. E se tratando da educação inclusiva, estas concepções refletem-se no desenvolvimento de estratégias que procuram alcançar uma própria igualdade de oportunidades. 18 De acordo com a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5°: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Sendo assim, o posicionamento contrário a este direito, no que diz respeito aos deficientes e o acesso destes à “normalidade social”, fere o princípio básico do direito ao conhecimento, sem distinção dos indivíduos. Impulsionadas pela Declaração de Salamanca, as mudanças começam a tomar corpo no Brasil e, em vinte e quatro de Abril de 2002, o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso sanciona a Lei número 10.436, Lei esta que oficializa a Libras – Língua Brasileira de Sinais, como segunda língua do Brasil e declara a mesma como de direito de todo cidadão Surdo como sua língua materna (BRASIL, 2002). Em 2005, aprova-se também o Decreto 5.626, no dia 22 de Dezembro, que subsidia a Lei 10.436 de 24 de Abril de 2002 e especifica os demais direitos dos cidadãos Surdos em todos os âmbitos: social e educacional. Incluído nas mudanças á Lei está a de defender a Cultura Surda, sua importância e a obrigatoriedade do Intérprete de Libras noensino regular. (BRASIL, 2005). Atualmente, seguindo as exigências das legislações em vigor, a Língua Gestual- Visual Brasileira ou Língua Brasileira de Sinais vêm sendo inserida paulatinamente nos cursos de graduação com licenciatura; intérpretes de Libras vêm sendo contratados para atuarem em diversos espaços da sociedade. Em algumas Universidades Federais do Brasil também já encontramos o curso de Letras / Libras com Licenciatura para formar Professores de Libras e Bacharelado para formação de Intérpretes. Veloso e Maia Filho (2009), declaram que estes cursos tiveram início, respectivamente, em 2006 e 2008, contemplando alunos Surdos e Ouvintes. A LDB (lei nº 9394/96 Art.: 58.) assegura que “portadores de necessidades educativas especiais” devem ter sua escolaridade atendida, fundamentalmente, pela escola regular, de modo a promover sua integração/inclusão. É direito de todos os portadores de necessidades especiais, ter educação especializada, para que esse indivíduo passe a ser visto na sociedade como verdadeiros cidadãos “normais” que lutam por direitos iguais. Qualquer indivíduo tem o direito e a capacidade de aprender e interagir frente ao meio social do qual faz parte. 19 2.1 AS MÚLTIPLAS IDENTIDADES DOS INDIVÍDUOS SURDOS A utilização da língua de sinais (LIBRAS) é o meio mais eficaz para promover maior conhecimento de mundo e consequentemente uma maior facilidade de viver nele, quando se trata da Educação de Surdos. Baseados nestes aspectos consideram-se fundamental a participação da família no processo educativo do membro familiar com deficiência auditiva. Em relação ao sujeito ouvinte, o Surdo o enxerga como o outro. Esta afirmação se processa como uma afirmativa salutar. A experiência de ser o outro se processa como o ser surdo é o contrário de ser ouvinte. Ser surdo é ser diferente, é descobrir coisas no ouvinte. A sociedade ainda hoje, nos ditos tempos modernos, exclui o ser humano pelo fato da surdez ou pelo simples fato de ser diferente. Percebe-se aí que, o que se discute não é o caso de ser surdo ou diferente, é de o sujeito não ser “normal” ou de não alcançar a normalidade, não levando em consideração que a normalidade se dá quando o indivíduo assume que é surdo ou assume sua diferença. A Educação oferecida ao Surdo, nas unidades de ensino regular, não atende às reais necessidades desse sujeito. Trata-se de uma educação sem nenhum comprometimento com sua inclusão. Esses sujeitos são “jogados” em meio a tantos outros alunos ouvintes que desconhecem sua diferença. O desconhecimento e o não entendimento das diferenças pela Escola promovem maior exclusão destes sujeitos. Os indivíduos tratados com indiferença são excluídos cada vez mais da sociedade e esta indiferença os torna indivíduos confusos em relação à constituição de suas identidades, vez que estas transitam entre a normalidade e anormalidade. É condição primaz, neste ínterim, da discussão do conceito identificação na educação e, sobretudo, no que tange os Estudos Surdos, o entendimento de um espaço preexistente a partir do qual se tece um novo olhar para o processo de identificação. (QUADROS e PERLIN, 2007, p.88). 20 Se identificar com o outro sujeito surdo é simples e complexo. E é a partir do contato com o outro que as identidades surdas são descobertas e fortalecidas, pois é o semelhante, as mesmas ações e maneiras, o estímulo, que levará este surdo a se aceitar enquanto surdo. (ROSA e BENTO, 2010). É importante lembrar que não há uma única e pura identidade surda, como se ele, o surdo, tivesse uma única maneira de viver. São diversas e polivalentes suas identidades. As identidades surdas mudam de sujeito para sujeito, e cada surdo, ainda com as mesmas influências do meio em que vive, é único, tem sua identidade própria. Como diz Perlin (apud ROSA e BENTO 2010) as identidades são contraditórias, cruzam quadros políticos, mudam de acordo com o sujeito e são formadas pelo pertencimento a uma cultura. Há casos relevantes, em que há surdos que não aceitam sua identidade porque não conhecem ou não sabem o que é identidade. Aqui entra a educação inclusiva, na qual o papel do professor é educar e ensinar o aluno, e também ensinar e mostrar ao surdo o que é identidade, pois é direito dele, reconhecer e aceitar seus traços identitários e a sua cultura a fim de que se tornem indivíduos sociáveis, de identidades próprias, sem a necessidade de seguir ou viver uma cultura que não o identifique. Os surdos que nasceram surdos usam sua comunicação em sinais. O surdo que nasceu ouvinte terá sempre presente às duas línguas, mas sua identidade teria de ir ao encontro das identidades surdas (Perlin apud ROSA E BENTO, 2010). Muitos surdos vivem em dois diferentes mundos – o ouvinte e o surdo – cresceram em famílias ouvintes e possui contato com a comunidade surda. (ROSA e BENTO, 2010) Não há uma “fórmula secreta” para a identidade do sujeito surdo, esta identidade é modificada de surdo para surdo levando em consideração sua história, sua educação e visão de mundo. Qualquer indivíduo tem o direito e a capacidade de aprender e interagir frente ao meio social do qual faz parte. A educação inclusiva para o surdo, onde suas identidades são aperfeiçoadas, não pode ficar somente no imaginário, é preciso colocá-la em prática. Nesta educação é 21 notório e de importante relevância a formação do profissional na área, em que este servirá de ponte para a formação identitária do surdo frente ao ouvinte. O destaque não deve ser dado à falta/deficiência da audição, mas a dimensão linguística, identitária e cultural, ou seja, na diferença, porque nela se baseia a essência psicossocial da surdez. O surdo não é diferente porque não ouve, e sim porque desenvolve potenciais psicológicos e culturais diferentes das dos ouvintes, fundamentadas na experiência visual que envolve uma diferença na questão de significado ou de formas de ser surdo e formas de ser ouvinte. Todo ser humano possui suas características identitárias e com o surdo não seria diferente, portanto pensar em oralizar o sujeito surdo, seria negar a ele sua própria língua, como diz Gesser (1971, p. 50): “oralizar é sinônimo de negação da língua dos surdos. É sinônimo de correção, de imposição de treinos exaustivos, repetitivos e mecânicos da fala”. Tal oralização tem sido causa de marcas profundas na vida de vários surdos, esta decisão tomada em épocas anteriores, no objetivo de tentar recuperar a audição e desenvolver a fala do surdo, se tornou na vida desses sujeitos, sentimentos de dor, privação, discriminação, entre outros. Isso deixou traumas em diversos surdos, nos tempos onde a Língua de sinais foi banida e violentada. É muito frequente nos discursos em livros, perceber a rejeição do oralismo por surdos mais politizados, assim comenta Gesser (1971, p. 52), o surdo oralizado não é “surdo de verdade”: “Surdo que é surdo defende e só usa sua língua de sinais”. Segundo Quadros (apud Gesser 1971, p. 54), os surdos têm características culturais que marcam seu jeito de ver, sentir e se relacionar com o mundo, e a cultura do povo surdo “é visual, ela traduz-se de visual”. Isso não afirma que o surdo mesmo com sua identidade e cultura própria, não partilharia de outras culturas, até mesmo dos ouvintes, só que do seu jeito. Gesser, 1971 afirma que O surdo tem uma identidade e uma cultura própria tem outra face que, a meu ver, é extremamente significativa no processo de afirmação coletiva de grupos minoritários, que não apenas se exprime no singular “uma”, mas também está inscrita no adjetivo “própria”. (GESSER, 1971, p. 53). 22 Quando aceitamos novaslínguas, estamos aceitando novas pessoas, novas culturas, e quando aceitamos a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais), passamos automaticamente a aceitar o surdo e seu jeito de ser, essa aceitação dá-se quando o surdo passa a se aceitar. É preocupante a formação acadêmica do profissional de LIBRAS, pois este precisa estar atento ao ensino educativo como também nos valores identitários do surdo, ele o intérprete de Libras, é que vai fazer o intercâmbio necessário para a aprendizagem da língua de sinais, como também na valorização das identidades surdas. É preciso, por lei, que se estabeleça uma formação voltada para o aperfeiçoamento das habilidades profissionais do educador de língua de sinais, para que o aluno surdo possa sentir-se seguro no meio educativo e valorizado na exposição de suas ideias, tendo certeza de que seu posicionamento está sendo respeitado independentemente dele ser surdo. Como aponta Lodi [...] esta educação assentada e construída a partir da Língua de Sinais, é vista numa dimensão que ultrapassa o aspecto meramente linguístico e metodológico, ou seja, do simples acesso a duas línguas – a Língua de Sinais e o Português (no caso do Brasil) – assumindo uma postura política e ideológica de respeito às minorias étnicas, culturais e linguísticas. (LODI, 2000, p. 68). A Língua de Sinais não é vista como maléfica ao surdo, e sim como algo que, se obtido frequentemente, até mesmo no âmbito escolar, permite ao surdo melhor desenvolvimento cognitivo e psicossocial. É como se ele passasse, então, a fazer parte tanto da cultura surda quanto da ouvinte. Toda pessoa nasce dentro de um grupo e vai aprendendo as normas e valores desse grupo e da sociedade, a mesma coisa acontece com o sujeito surdo. Para a educação inclusiva este é um desafio colocado ao professor profissional, de ter sempre a percepção do desenvolvimento de cada um dos alunos, seja ele surdo ou não, para que este professor possa apoiá-los em suas especificidades, causando entre eles situações de envolvimento e interação de turma, para que favoreçam as mudanças e crescimentos em seu meio cultural, dando mais ênfase em suas aprendizagens. 23 Com isso, este professor em sua proposta de ensino deve permitir a inclusão de todos os alunos. Em se tratando de alunos surdos, é de fundamental importância que o professor profissional use a Língua Brasileira de Sinais, com o objetivo de inclusão desta língua e dos que fazem uso dela, provocando na turma uma só comunicação de modo geral. Para os alunos surdos a Língua Brasileira de Sinais tem a mesma função que a Língua Portuguesa, na modalidade oral, para os ouvintes e, por este motivo, ela vai possibilitar à comunidade surda a alcançar os objetivos propostos pela a Educação inclusiva, incluindo neste meio educacional o aprendizado da Língua Portuguesa na modalidade escrita desenvolvida por esses alunos. É de extrema importância que a sociedade atual, entenda que o sujeito surdo não é deficiente, mas diferente. Por isso, a LIBRAS como parte do currículo escolar deve ser estudada pelos alunos surdos, na influência mútua com adultos ou professores surdos, pois isso é o que vai lhes permitir, não só na aprendizagem desta língua, mas também nos aspectos culturais. A língua de sinais sendo a primeira língua do Surdo indica que todos os conteúdos escolares devem ser trabalhados e estudados por meio desta língua, e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, precisa ser trabalhada como disciplina, com base e técnicas de ensino de segunda língua. Essas técnicas devem partir de habilidades interativas e cognitivas já adquiridas pelos alunos surdos em suas experiências com a língua de sinais (Quadros, 1997). Deste modo, na interação e participação nas aulas com professores surdos, este aluno surdo irá constituir sua própria identidade em relação a ser surdo, o que muitas vezes torna-se um obstáculo para essa classe quando se tem um professor ouvinte que se utiliza das duas modalidades linguísticas, a oral e a de sinais para se comunicarem. É perceptível que, assim como o contato do ouvinte com a língua oral nos primeiros dias de vida, também o surdo deve-se ao contato com a Língua Brasileira de Sinais desde cedo, para que deste modo ele possa se adequar à sua língua, seguindo o mesmo processo utilizado para a educação linguística dos ouvintes. 24 O professor profissional sendo surdo se torna modelo não só no uso da Língua Brasileira de Sinais, mas, como já citado no texto, torna-se também modelo da cultura surda. Para que assim, nas escolas onde há a disciplina de Língua Brasileira de Sinais, os alunos possam conhecer e compartilhar aspectos relacionados à sua cultura surda, costumes, interação, formas de expressão, entre outros, reforçando aqui que ele, o surdo, é diferente do ouvinte. 25 3 MÃOS QUE FALAM: A IMPORTÂNCIA DA LIBRAS PARA A EDUCAÇÃO INCLUSIVA A educação de surdos torna-se ainda hoje um assunto preocupante. Várias práticas pedagógicas, que envolvem esses alunos, apresentam uma série de limites, como: a formação do professor sobre a disciplina LIBRAS, preparo da escola para receber esses alunos, atenção especial dada a eles. Por conta destas dificuldades os alunos, não são capazes de desenvolver a leitura e escrita correta da língua Portuguesa no final da escolarização básica. Este problema segue até a universidade, em que os alunos demonstram falta de domínio nos conteúdos acadêmicos (LACERDA, 1989). Isso envolve diferentes enfoques apresentados em entrevistas feitas, em que a grande dificuldade está na questão linguística e cognitiva do surdo, no processo de alfabetização e aprendizagem da criança surda, dificultando as relações com os pares ouvintes, entre outros. O processo de estudos sobre a educação dos surdos se deu com a fundação da Escola em Paris, 1760. Era uma escola em que mesmo sendo pública, era voltada para os filhos dos mais ricos e nobres da sociedade francesa na época. Foi elaborado com o propósito de ser um instrumento na qual, professores, alunos com necessidades especiais e sociedade em geral, possam ter um maior conhecimento a respeito do processo de aprendizagem das pessoas com deficiência auditiva. Falar da educação inclusiva de pessoas com necessidades especiais, em que possuem algo a menos5 que as outras, e que por não ser de um grupo dito normal, visto pela sociedade, requer conhecimento dos diferentes graus de perdas auditivas do sujeito, a maneira como ele vê e ouve o mundo que o cerca. Assim, surge a idéia de criação de uma escola inclusiva, buscando os métodos que visam a inclusão desses indivíduos no mundo das letras por meio da língua e sinais. 5Termo em que se refere, geralmente, a perder uma qualidade ou aspecto de algo, mas ganhando em troca outra qualidade ou aspecto. Perca auditiva do sujeito surdo. 26 A ênfase não deve ser dada à falta/deficiência da audição, mas a dimensão linguística e cultural, ou seja, na diferença, porque nela se baseia a essência psicossocial da surdez. O surdo não é diferente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicológicas e culturais diferentes das dos ouvintes, baseadas na experiência visual que envolve uma diferença na questão de significado ou de formas de ser surdo e formas de ser ouvinte. A pessoa surda é alguém que vivencia a falta da audição num mundo de sons que a impede de adquirir naturalmente a língua oral usada pela comunidade majoritária e que constrói sua identidadebaseada nessa diferença, utilizando estratégias cognitivas, comportamentais e culturais diferentes da maioria dos ouvintes. No Brasil, em 2002, a língua de sinais adquire status linguístico com a sanção da Lei nº 10.436.“É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados” (art. 1º). Sendo compreendida como […] forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil (Parágrafo único.). Partindo dessas questões, conclui-se que o portador de surdez tem as mesmas possibilidades de desenvolvimento linguístico que a pessoa ouvinte, necessitando tão somente, que tenha suas necessidades comunicativas supridas. Considerada e aceita a surdez como diferença, o individuo surdo deve ser amplamente compreendido em suas angústias, expectativas e demandas individuais e sociais. As barreiras comunicativas criam uma incompreensão das estruturas mentais do surdo embora se saiba que a pessoa surda é capaz de ter um desenvolvimento cognitivo compatível e aprender habilidades como qualquer ouvinte. 27 Devemos observar com bastante cuidado, o que acontece nos trabalhos realizados nas escolas regulares com o aluno surdo. Percebe-se que há escolas em que não se preocupam com as possibilidades de ensino na educação do surdo, trazendo para si, um método em que todo aluno aparenta ser “igual e normal”. Fazendo com que se todos os outros alunos falam ou ouvem este também tem que falar e ouvir, isso mostra que há o desconhecimento da educação acerca da língua de sinais, dando a entender que a educação para o surdo o torne ouvinte como os outros. Se tratando da educação dos surdos, há um ponto em que merece ser destacado, que é a participação das famílias nesse processo de inclusão educacional. Muitas vezes as famílias não sabem se comunicar com a LIBRAS, preferindo criar uma linguagem semelhante à mímica, sem perceber que assim dificulta ainda mais a convivência do surdo na sociedade. A LIBRAS é um meio com a qual os alunos terão um maior conhecimento de mundo e consequentemente uma maior facilidade de viver nele. Sendo assim, ainda neste contexto, a família tem papel primordial nesse processo, dando apoio e suporte para que não só os próprios filhos, mas também os alunos de modo geral continuem a frequentar o âmbito escolar tendo assim uma maior convivência à socialização. O processo de aprendizagem, por meio da língua de sinais na atualidade, está bem escasso devido a exemplos de professores que atuam nesta área sem experiência. Muitos professores sequer conhecem a LIBRAS, portanto estão incapacitados de ministrar aulas a uma escola inclusiva com alunos portadores de deficiência auditiva. Formar uma classe surda por meio da Libras é um desafio que aparenta ser impossível mais não o é, desde que corpo docente de uma instituição, que cuida dessa educação comece a se preocupar mais com a forma de ensinar e como está sendo desenvolvido este ensino. A falta de formação inicial do professor, é a causa em que mais se discute, quando uma turma com necessidades especiais surdas, não se desenvolve nos estudos ou não compreendem o que se é dito em sala de aula. Aí surge a importância da Libras como meio de comunicação, para a inclusão desses alunos na escola regular. 28 A Lei n° 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão, determinando que sejam garantidas formas institucionalizadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da disciplina de Libras nos cursos de formação de professores, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs. Essa lei que diz só para os pedagogos aprender Libras e coloca só uma disciplina por formação de graduação é pouco. A filosofia das escolas de surdos, classes especiais e da inclusão em geral dizem que elas devem ser bilíngües, mas trabalham pouco com a Língua de Sinais (QUADROS, 2008, p. 26). Passar conteúdos de qualquer forma, apenas para cumprir um calendário escolar ou para satisfazer uma direção, não é papel de um educador competente. Ao assumir uma turma com necessidades especiais, como o ser surdo é preciso ter conhecimento do que está se tratando. A Libras não é mímica, por tanto como qualquer outra língua deve ser usada e trabalhada de forma clara e a mais perfeita possível tendo conhecimento sobre ela, para que assim exista comunicação entre professores e alunos. “[...] a possibilidade de transformação na educação dos surdos passa pela adoção de uma pedagogia surda” (QUADROS, 2008, p. 28). Ministrar aulas, com uma turma em que os alunos são de uma comunidade surda, é preciso bastante atenção e acessibilidade à língua de sinais. Nossos maiores esforços estão na construção de uma pedagogia surda que conduza à transformação desejada, pois sendo da própria sociedade a tarefa de tornar-se menos excludente é das escolas o papel de acolher o diferente, não repetir a segregação e induzir em seus alunos a observação e o comprometimento com comportamentos éticos e construtivos diante das diferenças (QUADROS, 2008, p. 28). As crianças normais que aprendem a Libras em escolas regulares percebem a diferença entre a cultura e a linguagem surda, fazendo com que os preconceitos sejam quebrados e inicie-se uma vivencia especial com essa comunidade, a qual faz uso dessa linguagem através das mãos para expressão e comunicação, a favor da vida. “A língua de sinais em turmas regulares é uma forma de experienciar a aprendizagem pelo viés linguístico e cultural para cada um de nós, diferentes na maneira de pensar, falar e agir na diversidade a vida” (DUTRA, 2011, p.14). 29 Sempre houve buscas de elos/ligações entre as Associações de Surdos no Brasil, para que dessa forma tivesse mais facilidade de compreensão entre o contato com os surdos de diversas regiões, buscando apoiar a língua de sinais nos grupos surdos e entre as famílias surdas ou com portadores da deficiência auditiva. Há muito tempo atrás não se refletiam sobre as práticas, estudos e importâncias sobre a língua de sinais. Segundo Quadros, as gerações da década de 30 e 40 não tiveram tantas oportunidades de estudar, pois não havia opções de estudos no Brasil, e, além disso, existiam na época apenas duas instituições com o nível de ensino para surdos, sendo uma em São Paulo, o Instituto Santa Terezinha, e outra no Rio de Janeiro o Instituto Nacional de Educação de Surdos. Por esse motivo, só uma minoria dessa geração tiveram estudos especializados, e muitos não tiveram pela baixa renda familiar. Ainda nas entrelinhas quadrianas, só a partir de 50 é que começou a ter uma maior importância para este ensino, dentro dos institutos de Educação Especial, em que atendia gente de várias ordens de deficiência, mas que o processo de educação oral sempre prevalecia. Quando os alunos surdos recebiam uma instrução de educação na linguagem oral, recebiam ao mesmo tempo, um impacto de negação de sua ferramenta de comunicação, ou seja, uma negação da língua de sinais. Todo País possui sua língua de sinais, a Libras não é universal. Segundo Quadros (1998, pg. 64), assim como as línguas faladas,as línguas de sinais não são universais: cada país apresenta a sua própria língua. No caso do Brasil, temos a LIBRAS. Desde as primeiras escolas para surdos, escolas regulares, não tinham o uso da Libras como sistema de ensino, a língua portuguesa sempre foi privilegiadanos processos educacionais, esse sistema vem sendo usado até os dias atuais, trazendo as grandes consequências de “negações” para a comunicação dos surdos.Portanto é necessário que se tenha uma conscientização e qualificação para que seja evidenciada a importância da Libras no ensino inclusivo, pois o aluno surdo deve ir à escola para aprender, e não somente, para socialização com outros indivíduos; daí, a importância, não só dos professores, conhecerem a Linguagem Brasileira de Sinais – LIBRAS, mas também de todos os Educadores envolvidos no processo educacional, incluindo a família. 30 Grande parte dos alunos com deficiência não conhecem a Libras antes de entrarem na escola, pois sua maioria vem de famílias ouvintes e que não sabe como integrar o seu filho ao ensino da língua de sinais, portanto quando o aluno entra na escola começa-se tudo do inicio, cabendo ao professor integrá-lo ao ensino da língua de sinais, e para que isso aconteça faz-se necessário um amplo envolvimento da relação família-escola. “No Brasil, existem cerca de 519.460 surdos de até 17 anos de idade, e 256.884 entre 18 e 24 anos. Desse total apenas 56.024 estão matriculados no sistema escolar, ou seja, quase 93% estão fora da escola. (Dados IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000)”. O desafio é enorme, se com apenas 7% dos alunos surdos matriculados a escola já encontra grandes dificuldades em incluí-lo, o que aconteceria se todos os deficientes auditivos estivessem matriculados e frequentando a escola? Segundo SKLIAR (2005, p. 27): “Usufruir da língua de sinais é um direito do surdo e não uma concessão de alguns professores e escolas”. A escola é o meio educativo fundamental para o ensino da língua de sinais. Por isso, não basta somente que esta escola proporcione duas línguas nas classes, é preciso que haja a adequação curricular necessária, apoio para os profissionais especializados para favorecer surdos e ouvintes, a fim de tornar o ensino apropriado à particularidade de cada aluno. É direito do aluno e dever do estado oferecer a estes uma educação em que realmente estejam inclusos e que de fato aprendam, cabendo ao profissional a escolha das distintas metodologias de ensino. Também no âmbito escolar, devem apresentar alternativas voltadas ás necessidades linguísticas dos surdos, promovendo estratégias que permitam a inclusão e o desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua. As diferentes formas de proporcionar uma educação à criança de uma escola dependem das decisões político-pedagógicas adotadas pela escola. Ao optar por essa educação, o estabelecimento de ensino assume uma política em que duas línguas passarão a ser exercitadas no espaço escolar, portanto a inclusão do 31 deficiente auditivo deve ser integral, acima de tudo, digna de respeito e direito a educação com qualidade atendendo aos interesses individuais e nos grupos sociais. Ainda hoje é muito visto lugares que excluiu o ser humano pelo fato de ser surdo, ou diferente, aí se percebe que, o que se discute não é o caso de ser surdo ou diferente, é de o sujeito não ser “normal” ou de não alcançar a normalidade. Sabendo que a normalidade se dá quando o indivíduo assume que é surdo ou assume sua deficiência. Assegurados pela lei 10.436, entendemos que a escola deve incluir em seu currículo mais um componente de boa qualidade, a LIBRAS, para que esta seja desenvolvida pelos que dela necessitam em sua sobrevivência num meio onde o oralismo prevalece, e que desta forma todos entendam que a comunicação não se dá apenas através da fala, mais que pelas mãos, também é possível falar aquilo que a boca não pronuncia. Do ponto de vista biológico a surdez se apresenta como um “defeito” menor que a cegueira, mas, do ponto de vista social não, pois a surdez afasta o individuo do convívio social tendo em vista que a falta da fala o exclui da sociedade falante. Portanto, com esse trabalho visamos contribuir para um olhar crítico perante as desigualdades ocorridas pela sociedade preconceituosa, possibilitando que se construa uma nova sociedade inclusiva com valores e conceitos iguais. Ademais, pouco se tem escrito sobre a temática em questão e, sobre a importância da LIBRAS, como meio de comunicação e inclusão de uma comunidade surda, e particularmente em nossa cidade, que em conversas com professores intérpretes, percebemos a necessidade que há entre a educação inclusiva na nossa realidade, com a temática estudada. Na aquisição da linguagem, os surdos utilizam o sistema motor porque apresentam o sistema sensorial (audição) seriamente prejudicado. Assim, o sinal é a língua natural do surdo e, no aspecto funcional, é igual à fala para o ouvinte, pois possui sintaxe, gramática e semântica completa que permite desenvolver a expressão de emoções e articulação de ideias. 32 4 INTÉRPRETE DE LIBRAS NO ENSINO REGULAR E SUAS CONTRIBUIÇÕES NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM Desde muito tempo os surdos eram vistos, como seres incapazes de atuar na sociedade, ao direcionar nosso olhar para os tempos atuais, proporcionamos novas concepções do Ser Surdo. Deixando de lado a visão daquele “coitado”, ser patológico, um “doente auditivo” que é encarado de maneira diferenciada dos outros, passamos a enxergá-lo com outros olhares. Com a expectativa de acabar com o preconceito da surdez, lançamos novos olhares e nova maneira de ver o indivíduo surdo na sociedade, sob uma perspectiva epistemológica, reconhecedora de valores, leis, crença, língua, entre outros. Strobel (2008), autora surda, afirma que cultura Surda É o jeito de o sujeito surdo entender o mundo de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das almas das comunidades surdas. (STROBEL, 2008, p. 24). Sobre todos esses estudos no campo da surdez, entendemos que o termo surdo- mudo não é aceito culturalmente pela comunidade surda, sendo esta forma encarada como inadequada. Partindo deste conceito, podemos perceber que o surdo possui seu aparelho fonador igual ao de uma pessoa ouvinte. O que diferencia é a capacidade dele ouvir sua fala, e de monitorar com o ouvido o som de sua voz. Santana (2007) faz um comentário sobre a diferença e anormalidade, em que Se ser anormal é caracterizado pela ausência de língua e de tudo o que ela representa (comunicação, pensamento, aprendizagem etc.), a partir do momento em que se tem a língua de sinais como a língua do surdo, o padrão de normalidade também muda. Ou seja, a língua de sinais legitima o surdo com “sujeito de linguagem” e é capaz de transformar a “anormalidade” em diferença (SANTANA, 2007, p. 33). Por esse motivo é que há a grande dificuldade de uma pessoa surda se comunicar através da fala. Sua amplitude e tom ficam anormais, permitindo ainda, que se pronunciem apenas algumas consoantes. A partir daí é que se percebe o valor e a 33 necessidade da língua de sinais como meio de comunicação, bem como a presença de um profissional intérprete em sala de aula, aos sinalizadores. Com o passar do tempo e com a necessidade de inclusão desses surdos, surgem mudanças no olhar e no pensar as coisas e seus conceitos. E o conceito de surdez não ficou ausente dessas transformações; atualmente este conceito está se redefinindo. O ambiente escolar torna-se o meio educativo fundamental para o ensino da Libras. Por isso, não basta somente que esta proporcione duas línguas nas classes, é preciso que haja a adequação curricular necessária, apoiopara os profissionais especializados para favorecer surdos e ouvintes, a fim de tornar o ensino apropriado à particularidade de cada aluno. Na realidade atual percebemos que, socialmente a surdez é vista como uma diferença e não como uma deficiência e “cremos que é nela que se baseia a essência psicossocial da surdez: ele (o surdo) não é diferente unicamente porque não ouve, mas porque desenvolve potencialidades psicoculturais diferentes das dos ouvintes” (BEHARES, 2000, p. 2). No uso da linguagem como comunicação, os surdos utilizam o sistema motor porque apresentam o sistema sensorial (audição) seriamente prejudicado. Assim, o sinal é a língua natural do surdo e, no aspecto funcional, é igual à fala para o ouvinte, pois possui sintaxe, morfologia e semântica completa que permite desenvolver a expressão de emoções e articulação de ideias, partindo desse pressuposto é necessário um estudo que embase essas questões. A elaboração deste estudo mostra também, que o uso da LIBRAS não é um tanto frequente em nosso meio educacional. Os conteúdos trabalhados em sala de aula hoje são voltados mais, ao estudo da Língua Portuguesa, dificultando assim o domínio e a compreensão do surdo, pois é complicada a interpretação do surdo com uma língua que ele não conhece ou não tem domínio. Ao que diz Santana: 34 A fala do surdo, caracterizada em geral por distorções, omissões e modulação vocal fixa, não é aceita. Talvez por isso seja comum a ideia de que a fala dele é sempre artificial, como se fosse um estrangeiro diante de uma língua desconhecida (SANTANA, 2007, p.39) Para tais questões, além de falarmos sobre a importância do intérprete em sala de aula, faz-se necessário conhecermos mais sobre a figura desse profissional tradutor. A história de reconhecimento desses profissionais da língua de sinais se deu com as atividades que eles realizavam voluntariamente, com isso elas foram sendo valorizadas e exercidas pelos surdos até que estes começaram a conquistar seu exercício de cidadania, suas participações foram sendo mais representativas no meio social, dando valor e importância ao trabalho dos interpretes de libras. Desta forma, a língua brasileira de sinais adveio ser mais reconhecida em cada país enquanto línguas de verdade a partir daí os surdos passaram a ter mais garantia e acesso ao seu direito linguístico, fazendo com que todas as instituições obrigatoriamente dessem acessibilidade aos surdos, por meio dos intérpretes de línguas de sinais, e oferecessem a esses intérpretes formação e capacitação. Segundo informações sobre a constituição do profissional intérprete, no Brasil entre 1988 a 1992, são realizados dois Encontros Nacionais de Intérpretes de Línguas de Sinais, organizado pela Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS), onde promoveu o intercâmbio entre intérpretes do Brasil e a avaliação sobre a ética do interprete de Libras. A Língua Brasileira de Sinais é uma língua de uso natural pela comunidade surda. Cada indivíduo surdo, que se utiliza desta língua, possui um sinal como personalidade própria para identificação entre os que fazem uso da língua de sinas, por ser uma língua visual-espacial, articulada através das mãos, expressão facial e corporal. Dificilmente esses indivíduos surdos são reconhecidos entre eles por seus nomes próprios, cada um possui seu sinal que representa o motivo de utilização da língua 35 de sinais, por isso como qualquer outra língua não basta saber sua teoria é preciso saber articulá-la dentro de suas peculiaridades. Algumas características apresentadas pela língua de sinais, em muitos casos são poucas reconhecidas pelos profissionais, isso acontece normalmente, pelo fato da Libras ser uma língua percebida pelos olhos, onde “seus articuladores primários são as mãos, ambas se movimentam em frente ao corpo” (KARNOPP, 1999), e que, às vezes, dificulta a compreensão, de alguns ramos linguísticos, uma vez que: [...] a principal tarefa da fonologia, no que concerne às línguas de sinais, é determinar quais unidades mínimas formam os sinais. A segunda tarefa consiste em estabelecer padrões possíveis de combinação entre unidades e variações no ambiente fonológico. Em se tratando das línguas orais-auditivas, a Fonética é a ciência que se dedica ao estudo da realidade físico-articulatória dos sons produzidos pelo aparelho fonador humano. Tem, portanto, como interesse, a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala. O objeto de estudo da fonética nas línguas orais é o fone (som).Nas línguas de sinais, o principal objetivo da Fonética é descrever as unidades mínimas dos sinais. Quanto à Fonologia, presta-se ao estudo dos sons de uma língua do ponto de vista funcional. Assim, tem a função de analisar os sons capazes de opor significados e observar como estes sons se organizam e se combinam para constituir unidades linguísticas e estabelecer a relação língua e mente (QUADROS e KARNOPP, 2004 apud ROSA; BENTO, 2010, p. 23). Quadros (2004) apresenta a compreensão da fonologia com as configurações da língua de sinais, em que “nas línguas de sinais, as configurações de mãos juntamente com as localizações em que os sinais são produzidos, os movimentos e as direções são as unidades menores que formam as palavras”. Para tais usos e entendimentos desta língua pela comunidade surda, faz-se necessário a atuação de um intérprete profissional em sala de aula regular, no intuito de alcançar os objetivos de responsabilidade da FENEIS, que é o reconhecimento da Libras como língua de fato no Brasil, promovendo interação entre professor/aluno e aluno/aluno, através do papel do intérprete. O ato de interpretar, “é um processo em que o profissional intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam 36 línguas diferentes” (QUADROS, 2004, p. 27). O interpretar, ato produzido pelo profissional intérprete envolve processo mitos complexos. O intérprete precisa está completamente envolvido na interação da comunicação, ou seja, no social e cultural. Ele tem o dever e formação, para processar a informação dada pela língua fonte e fazer escolhas dentro da semântica, léxico, estrutura e pragmática, da língua de sinais, para que a interpretação aproxime-se o possível da informação da língua fonte. O profissional intérprete, para atuação em sala de aula regular, precisa também ter domínio na língua de sinais e a língua falada do país em que cumpre sua função, para nós brasileiros, o intérprete deve ter domínio da Libras e da Língua Portuguesa (expressão e recepção), como também do inglês, espanhol e da língua de sinais americanas, para interpretação da Libras e vice-versa. Além de todo o domínio, o intérprete tem que ter qualificação especifica para atuação na área da educação. Além de interpretar as línguas faladas para as sinalizadas e vice-versa, o intérprete tem por obrigação assumir alguns preceitos éticos, promovendo a confiabilidade entre o produto e o produtor, imparcialidade sendo fiel no que está sendo interpretado, sem o direito de interferir na informação dada, ter dom e amor ao que faz, para não envolver problemas pessoais com a profissão. Uma vez que esses preceitos são quebrados, há o desrespeito do intérprete aos surdos causando exclusão desses dos meios sociais, educacionais, culturais e políticos, pois o mesmo não é obrigado se fazer ouvinte. A importância do profissional intérprete em sala de aula regular faz-se necessário pelo fato de que professores de alunos surdos não são intérpretes: Na verdade,os professores são professores e os intérpretes são intérpretes. Cada profissional desempenha sua função e papel que se diferenciam imensamente. O professor de surdos deve saber e utilizar muito bem a língua de sinais, mas isso não implica ser intérprete de língua de sinais. O professor tem o papel fundamental associado ao ensino e, portanto, completamente inserido no processo interativo social, cultural e linguístico. O intérprete, por 37 outro lado, é o mediador entre pessoas que não dominam a mesma língua abstendo-se, na medida do possível, de interferir no processo comunicativo (QUADROS, 2004, p. 29-30). Com isso, nem todo indivíduo que domina a língua de sinais, está apto a exercer a profissão de um intérprete, para isso acontecer o profissional intérprete precisa ter formação especializada e almeja atuar como tal no meio educacional, por ser a área de interpretação requisitada nos dias atuais. Considerando a realidade brasileira na qual as escolas públicas e particulares têm surdos matriculados em diferentes níveis de escolarização, seria impossível atender às exigências legais que determinam o acesso e a permanência do aluno na escola observando-se suas especificidades sem a presença de intérpretes de língua de sinais. Assim, faz-se necessário investir na especialização do intérprete de língua de sinais da área da educação (QUADROS, 2004, p. 59). Para que haja um resultado mais positivo nas relações entre os surdos e os pares ouvintes em sala de aula, busca-se também a atuação dos intérpretes profissionais em vários níveis de ensino, como: na educação infantil, fundamental, ensino médio, superior e pós-graduação, e para isso exige níveis diferentes de cada intérprete em sua formação especializada, Quadros reforça que: Nos níveis mais iniciais, o intérprete estará diante de crianças. Há uma série de implicações geradas a partir disso. Crianças têm dificuldades em compreender a função do intérprete puramente como uma pessoa mediadora da relação entre o professor e o aluno. A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto lidam melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder realizar a interpretação compatível com o grau de exigência dos níveis cada vez mais adiantados da escolarização (QUADROS, 2004, p. 62-63). Com isso surge a preocupação do Ministério de Educação (MEC), em formar professores intérpretes, devido a carência destes, e alguns professores assumirem um bom domínio da Libras, tendo como objetivo facilitar essa comunicação e relação. 38 Desta maneira o professor passa a exercer essas duas funções: de professor e intérprete, sem esquecer-se de separar seus papeis de atuação. Quadros afirma: [...] há vários professores que também são intérpretes de língua de sinais. O próprio MEC está procurando formar professores enquanto intérpretes. Isso acontece, pois alguns professores acabam assumindo a função de intérprete por terem um bom domínio da língua de sinais. Nesse caso, esse profissional tem duas profissões: a de professor e a de intérprete de língua de sinais. A proposta do MEC em formar intérpretes selecionando professores da rede regular de ensino objetiva abrir este campo de atuação dentro das escolas. Assim, o "professor-intérprete" deve ser o profissional cuja carreira é a do magistério e cuja atuação na rede de ensino pode efetivar-se com dupla função: 1) Em um turno, exercer a função de docente, regente de uma turma seja em classe comum, em classe especial, em sala de recursos, ou em escola especial (nesse caso, não atua como intérprete). 2) Em outro turno, exercer a função de intérprete em contexto de sala de aula, onde há outro professor regente (QUADROS, 2004, p. 63). Assim sendo, buscamos mostrar a grande necessidade de atuação de um profissional intérprete de Libras na educação regular, para a promoção nas relações professor/aluno e aluno/aluno, tornando a educação mais inclusiva. Pois segundo Skliar (2005, p. 27): “Usufruir da língua de sinais é um direito do surdo e não uma concessão de alguns professores e escolas”. Contudo, a partir de estudos importantes sobre o ser Surdo e a atuação de um intérprete de Libras para contribuição nas relações docentes e discentes, fica extremamente visível a importância do conhecimento sobre vários fatores mostrados nesta pesquisa, e vividos em nossa sociedade, como a exclusão de indivíduos (os surdos) por serem diferentes, que possuem algo a mais ou de menos que outras pessoas, trazendo para nosso contexto, principalmente os surdos, por não haver uma “pessoa” para fazer este intercâmbio de comunicação. Deste modo torna-se eficaz a construção de uma nova sociedade com valores, conceitos e direitos igualitários, que atenda todos os que realmente carecem, pois um profissional intérprete de línguas de sinais em sala de aula, ele não estará interpretando apenas a Libras como uma educação e formação acadêmica, ele será 39 também intérprete da cultura, identidade, língua, e outros, fazendo que com sua ferramenta de trabalho possa oferecer caminhos para todo e qualquer diálogo oral, fazendo multiplicar ainda mais as relações não só no âmbito educacional escolar, mas também no educacional familiar e social. 40 5 LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS: A ESCUTA DA VOZ DO SURDO Na atualidade, o estudo da LIBRAS está se tornando cada vez mais preocupante no meio educacional como forma de ensino/aprendizagem. Partindo dessa afirmativa fica visível a preocupação da classe educadora quando se refere a tal assunto. Isso se dar pela falta de conhecimento desses educadores na área da LIBRAS, principalmente quando um professor regente depara-se com alunos surdos em sua classe e este profissional não consegue se comunicar. Pensando na preparação dos profissionais de educação, algumas instituições de ensino superior implantaram a disciplina LIBRAS em sua grade curricular. Porém esta implantação da disciplina não foi feita de maneira organizada, uma vez que o referido componente curricular é ministrado em apenas um semestre, com a confiança de que seja possível ensinar e aprender a Língua de Sinais durante este período ou, pelo simples fato de desconhecerem a especificidade existente no ensino-aprendizagem de uma língua compreendida por sinais. Inserir uma disciplina na grade curricular de uma instituição apenas para que se cumpra uma lei sem dar a atenção merecida para o ensino de tal disciplina e ao papel fundamental que ela desempenha, é subornar e ferir a formação de profissionais que trabalham com educandos, neste caso os profissionais que lidam com sujeitos surdos. Como reforça Moura e Harrison abordando esta questão, em que: A introdução da LIBRAS como disciplina curricular na Universidade traz mais do que apenas o ensino de uma língua, pois há a necessidade de que todos os envolvidos nessa aprendizagem compreendam a especificidade do Surdo, não apenas com relação à sua língua, mas também com relação à sua cultura e forma que estar na sociedade. Apenas a compreensão desses aspectos possibilitará uma atuação que contemple a singularidade dos sujeitos Surdos. (MOURA e HARRISON 2010: 336) Muitos profissionais questionaram esta formação
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