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1 ROTEIRO DE ESTUDO Curso: SERVIÇO SOCIAL Série: 1ª Disciplina: FAMILIA E SOCIEDADE Professor EAD: Ma. Ana Lúcia Americo Antonio Tema: Tema 3: Os Impactos Sociais da Família como Coletividade Ameaçada Conteúdo: A família e sua relação com o público e o privado. A construção da intimidade na sociedade capitalista. O processo de individualização e a perda da coletividade. A formação de grupos representativos para resgatar a coletividade Roteiro do Tema 3 Este tema deve possibilitar que você analise: A vida privada da família antes da modernidade Como a família moderna que se conhece hoje se formou De que forma a intimidade passa a ser elemento integrante das relações familiares Os Impactos Sociais da Família como Coletividade Ameaçada A Família é um espaço de proteção. Será? Será mesmo que o espaço da casa é realmente o espaço privado? Ou melhor, essa sensação que se tem ocorreu sempre desta forma? Você verá neste tema, que ao contrário do que possa parecer a Família nem sempre foi o espaço privado, pelo menos desta privacidade individual e burguesa que se conhece a partir do século XVIII. Se você pensar na vida privada das famílias dos séculos XIX, XVIII e aqueles que os antecedem, a privacidade é algo raro e quase inimaginável para a maioria dos lares destes períodos. Assim, a Família estava envolvida em todas as instâncias da individualidade dos sujeitos. Você é capaz de se imaginar em uma situação como essa? Ter que “ir ao banheiro” diante de toda sua família? Hoje é difícil imaginar a pressão do grupo familiar sobre seus membros. Não havia como se isolar. Pais e filhos viviam todos os atos da vida cotidiana às claras. A toalete se fazia necessariamente sob as vistas dos próximos, que desviariam o olhar quando a ocasião 2 pudesse chocar o pudor (PROST; 1992). Difícil imaginar? Pesquisas constatam que nas famílias pobres essa realidade ainda persiste, as condições materiais limitam o advento da intimidade e da privacidade. Dessa forma, o individualismo que muitos conhecem hoje era até algum tempo atrás e ainda o é hoje para alguns grupos familiares, algo insustentável. A ideia de ter o “seu” quarto, as “suas” coisas, de poder “trancar-se” em um espaço reservado só para você é algo recente na sociedade. O máximo de “privacidade” que se conseguia era escrever seus pensamentos e angústias nas páginas do Diário (para as famílias mais abastadas, é claro!). “Difícil ter um cantinho neste espaço saturado. Impossível esconder algo aos familiares: a menor indisposição é imediatamente identificada, e qualquer tentativa de isolar chama logo a atenção” (PROST, 1992), pode-se concluir que a privacidade e a ideia de intimidade são concepções sociais recentes, ambas fundamentam a Família contemporânea, ao contrário do que se possa pensar as Famílias nem sempre foram o espaço da privacidade. [...] a noção de intimidade não tem muito sentido. A sexualidade, tabu nas famílias burguesas que dispunham de espaços privativos – o quarto do casal, o toucador ou pelo menos a alcova, parte privada de um aposento em comum –, aqui não podia se manter em segredo. As moças não podiam ficar menstruadas sem que os outros soubessem [...] a data das regras era inclusive marcada no próprio calendário de serviço, pendurado na parede da cozinha (PROST, 1992). A vida burguesa, incipiente no século XIX e predominante no século XX, imprime outra perspectiva ao modelo familiar. A propriedade privada adentra na estrutura familiar e na organização do espaço domiciliar, os aposentos garantem ambientes separados na casa, assim como o indivíduo é “livre” na sociedade ele passa a ser “livre” em sua casa! Nada mais justo do que garantir a ele a posse de sua própria vida, a liberdade de sua intimidade. Em condições de modernidade, assim como em todos os cenários culturais, as atividades humanas permanecem situadas e contextualizadas. Mas o impacto das três grandes forças dinâmicas da modernidade — a separação de tempo e espaço, os mecanismos de desencaixe e a reflexividade institucional — desengaja certas formas básicas de relações de confiança dos atributos de contextos locais. Nenhum dos quatro principais focos de confiança e segurança ontológica nos cenários pré- 3 modernos tem uma importância comparável em circunstâncias de modernidade. As relações de parentesco, para a maioria da população, permanecem importantes, especialmente no interior da família nuclear, mas já não são os veículos de laços sociais intensamente organizados através do tempo-espaço (GUIDDENS, 1991). Dessa forma, a Família que se conhece hoje é resultado de um processo relacionado à modernização trazida pela industrialização e pela urbanização, ambas pautadas em princípios burgueses e liberais de garantir aos sujeitos suas liberdades individuais, até mesmo em um espaço guiado até então por uma prerrogativa essencialmente coletiva como a Família, planejada para cuidar, prover e proteger seus membros. “Pois, na medida em que as pessoas se tornavam urbanizadas, as antigas tradições e práticas, que elas haviam trazido do campo ou da cidade pré-industrial, tornavam-se irrelevantes ou impraticáveis” (HOBSBAWM, 2007). Como garantir as conversas familiares depois de 16 ou 18 horas diárias de trabalho contínuo, no caso das famílias operárias? Como legitimar o direito à propriedade privada sem transferi-lo a todas as instâncias imagináveis, internalizá-lo nas práticas mais cotidianas, como ir ao banheiro, por exemplo? Com a habitação moderna, como o uso moderno da água encanada e do aquecimento, cada membro da família pode se apropriar de um espaço pessoal. A generalização do lazer [...] a jornada de quarenta horas e as férias remuneradas – proporciona o tempo para viver neste espaço conquistado. A vida propriamente familiar se concentra em momentos determinados – as refeições, o domingo – e em locais definidos [...] A existência se divide em três partes distintas: a vida pública, essencialmente profissional, a vida privada familiar e a vida pessoal, ainda mais privada (PROST, 1992). Dessa maneira, pode-se afirmar que a vida moderna “inaugura” a intimidade. O indivíduo é um advento da modernidade urbana, assim como a vida privada e a Família contemporânea. Em que resulta esta intimidade moderna, que se instaura no espaço familiar? Um dos graves efeitos deste processo é a individualização cada vez maior dos sujeitos, esvaziando os sentidos de comunidade e coletividade, minando os efeitos da participação social. E como espaçar desta armadilha? Uma das formas apontadas é a consolidação dos conselhos na esfera 4 pública, estes dividiriam com o Estado e suas instituições o papel do controle social. Tal descentralização garante a democratização nas tomadas de decisões e constituem a coletividade dos grupos representados. Provavelmente, em efeito reverso, o fortalecimento de laços comunitários e identitários dos grupos representativos, seja capaz de resgatar o espírito de coletividade e solidariedade que, em última (e primeira) instância, deve-se encontrar na família. Como os grupos representativos podem resgatar a coletividade Para melhor compreender e aperfeiçoar seu conhecimento sobre o tema reflita a Leitura Complementar que se apresenta no PLT 267, Política Social, Família e Juventude, dos autores Mione Apolinário Sales, Maurílio Castro de Matos e Maria Cristina Leal, editora Cortez, 2010. Faça a Leitura Obrigatória no capítulo 1 da Parte III de seu Livro-Texto,para se garantir tal participação é necessário que haja autonomia das entidades populares, sendo assim, a partir do momento em que se instaura uma sociedade cada vez mais individualista, as lutas sociais se dissolvem e os espaços de atuação da sociedade civil diminuem, permitindo que o controle social do Estado se sobreponha às vontades dos grupos que teoricamente ele representa., correspondente ao tema 2 do seu caderno de Atividades.. Realize as atividades propostas no Caderno de Atividades para o Tema 3: “Os Impactos Sociais da Família como Coletividade Ameaçada”. As atividades são um valioso instrumento para que você não apenas fixe os conceitos abordados pelo tema, mas os transforme em competências sólidas na sua formação profissional. Bibliografia Básica MATOS, Sales (org.). Política Social, família e juventude : Uma questão de direitos. 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2010. Bibliografia Complementar LÉVI-STRAUSS, Claude. As Estruturas Elementares do Parentesco. Vozes: São Paulo, 1976. ENGELS. F. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. Bertrand Brasil: São Paulo, 1995. ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. São Paulo: Martins Fontes, 1999. BOURDIEU. Escritos de educação. Petrópolis: Vozes, 1999. CARVALHO, Inaiá Maria Moreira de; ALMEIDA, Paulo Henrique. Família e Proteção Social. In: São Paulo em Perspectiva, 17 (2): 109-122, 2003. PERROT, Michele. “Os Atores”. In: História da vida Privada: da Revolução Francesa à Primeira Guerra. vol. 4; Cia das Letras: São Paulo, 1991. 5 Leia o artigo “Família e cuidado: uma leitura para além do óbvio”, de Maristela Stamm, Regina Célia Tamaso Mioto. Disponível em: <http://eduemojs.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/5539>. Acesso em: 15 dez. 2014.
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