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História da África (20 Unid - História - SEC)

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HISTÓRIA
HISTÓRIA DA ÁFRICA
Rudnei Francisco Funes
http://unar.info/ead2
 
 
 
 
HISTÓRIA DA ÁFRICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Rudnei Francisco Funes
2 
 
SUMÁRIO 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ............................................................................................................. 3 
PROGRAMA DA DISCIPLINA ..................................................................................................................... 6 
UNIDADE 01. PRÉ-HISTÓRIA ..................................................................................................................... 9 
UNIDADE 02. PRÉ-HISTÓRIA – O HOMO SAPIENS ........................................................................ 19 
UNIDADE 03. PRIMÓRDIOS DO HOMEM MODERNO.................................................................. 23 
UNIDADE 04. PRIMÓRDIOS DO HOMEM MODERNO – A AGRICULTURA ........................... 29 
UNIDADE 05. PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA .................................................................... 36 
UNIDADE 06. CIVILIZAÇÃO NÚBIA ...................................................................................................... 40 
UNIDADE 07. O MERCANTILISMO EUROPEU...................................................................................51 
UNIDADE 08. EUROPEUS E ÁRABES NO ÍNDICO E PORTUGUESES EM DECLÍNIO............57 
UNIDADE 09. A ESCRAVIDÃO NO MUNDO......................................................................................68 
UNIDADE 10. INGLESES NA ÁFRICA DO SUL....................................................................................71 
UNIDADE 11. INVASÃO EUROPEIA E RESISTÊNCIA AFRICANA.................................................88 
UNIDADE 12. JUSTIFICANDO A DOMINAÇÃO.................................................................................92 
UNIDADE 13. CONSTRUÇÃO DE INFRAESTRUTURA: EDUCAÇÃO E SAÚDE........................97 
UNIDADE 14. ÁFRICA SÉCULO XX - ÁFRICA DO SUL..................................................................102 
UNIDADE 15. DESCOLONIZAÇÃO.......................................................................................................113 
UNIDADE 16. DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA FRANCESA ....................................................... 118 
UNIDADE 17. DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA BRITÂNICA....................................................... 139 
UNIDADE 18. COLÔNIAS BRITÂNICAS NA REGIÃO CENTRO AFRICANA ........................... 143 
UNIDADE 19. IMPÉRIOS DE CONCEPÇÃO PATERNALISTA.......................................................152 
UNIDADE 20. O FIM DO IMPÉRIO PORTUGUÊS ........................................................................... 156 
 
 
3 
 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA 
 
Vivemos em um mundo onde as diversidades culturais são marcantes. 
Estas entendidas em seu sentido social e antropológico possibilitam a nós 
compreensão do comportamento dos indivíduos no contexto das sociedades. 
Este entendimento da diversidade sócio cultural é de extrema importância para 
construirmos uma relação social que respeite os limites legais de cada cultura 
preservando a estas o direito da manifestação de suas heranças históricas. 
A disciplina História da África pode nos apontar como a historiografia 
ocidental, no correr dos séculos XIX e XX, criou estereótipos que marcaram com 
o símbolo da apatia e da indolência sociedades que se construíram no 
transcorrer de séculos no continente africano. Transformaram as mesmas em 
pré-figuração do conceito de civilização não respeitando o seu tempo de 
desenvolvimento sócio cultural, político e econômico, delegando as mesmas 
uma rusticidade que chegava próximo do conceito de sociedades bestiais. 
As incorporações de tais valores nestas sociedades criaram por décadas 
um sentimento de inferioridade em seus povos e descendentes que somente 
contribuíram para alimentar o interesse mal intencionado das nações 
desenvolvidas sobre mão de obra e os recursos naturais existentes em seus 
territórios. 
Para desmistificar os fatores que ajudaram na criação desses 
preconceitos, buscaremos trazer como referência de estudo, documentos que 
demonstram como o processo de desenvolvimento no continente africano se 
deu dentro de um imbricado curso de formação social. 
A história da África vem sendo relegada em seu passado histórico, nos 
principais círculos acadêmicos, frutos e mais fruto de uma historiografia 
absolutamente eurocêntrica, estas ficaram no limbo da história. 
4 
 
Povos subjugados tiveram seus matizes culturais dilapidados e 
dilacerados como se fossem desprovidas de humanidade. 
Para tanto este curso de história necessita a invenção das invenções, 
descobrimos que o homem tangenciou séculos e séculos de transposições. 
Muitas vezes anômalas em territórios hostis foram capazes de dar 
soluções a seus problemas através de técnicas que permitiram a sua 
sobrevivência e coexistência com o meio natural. Dessa feita e de imprescindível 
responsabilidade reforçar novamente que toda epopéia do grande e 
magnânimo continente africano, não seria possível se não nos tivéssemos dado 
a oportunidade, para avançarmos sobre territórios “nunca dantes caminhados”; 
a História estaria sem seu principal fundamento. 
Pretendemos inicialmente demonstrar com foi o processo das primeiras 
hordas neanderthalenses no continente africano, como os homens pré- 
históricos conseguiram sobreviver a tantos neofitismo pungente e as várias 
dificuldades geográficas do continente. Em seguida, apresentaremos as várias 
adaptações dos africanos a climas e topografias do continente. 
Em etapa posterior buscaremos mostrar como o século XV foi marcante 
no processo de modificação de hábitos civilizacionais e tribais com o período 
das grandes navegações. 
O século XIX observará no decorrer dos estudos, é de extrema 
importância para a compreensão do novo colonialismo e a destruição das 
estruturas políticas do continente africano. 
Para finalizar analisaremos o difícil processo pós segunda guerra mundial, 
o da descolonização.bem como espaço potencial de produção de cidadania; a 
Museologia e sua relação com o ensino de História na Educação Básica, 
apresentando as possibilidades do museu como produtor de educação não 
formal e importante parceiro da escola e dos professores nos processos 
educativos; as possibilidades de programas educativos em museus com 
5 
 
evidências de práticas importantes para estudos interdisciplinares; Tipos de 
museu, acervos, temáticas e recursos museográficos revelando o vasto campo que pode 
contribuir com o trabalho do professor de história; arquivo e memória instigando a percepção 
desse espaço como possibilidade de preservação da memória social; o documento e sua 
função para o ensino de História ilustrando com exemplos as suas formas de utilização como 
recurso didático; as formas de organização dos arquivos oportunizando o diálogo entre 
técnicas e potencialidades para o ensino e, finalmente, algumas perspectivas para essas duas 
instituições na sociedade contemporânea. 
Como você já sabe, o ensino por meio da EAD é um recurso inovador e 
muito importante na sociedade atual. É bastante flexível, dinâmico e permite ao 
aluno adequar suas condições de vida e de trabalho à formação acadêmica. No 
entanto, ressaltamos que é fundamental o estabelecimento de uma rigorosa 
disciplina de estudos que concilie as leituras e a realização de todas as 
atividades complementares. Afinal, o que está em jogo é a qualidade da sua 
formação. 
Bom estudo. 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
PROGRAMA DA DISCIPLINA 
 
Ementa 
A importância do estudo da História da África. Fontes documentais e 
metodologia. Origens da espécie humana e da cultura. As grandes migrações 
ancestrais, civilizações e impérios africanos. Diferentes colonialismos. O 
comércio atlântico e a formação do Brasilnos seus aspectos culturais. 
Neocolonialismo. A questão do subdesenvolvimento africano como 
consequência da exploração europeia. As lutas pela independência. Guerras 
civis e regionais na atualidade. 
 
Objetivos 
∑ Levar o aluno a entender o desenvolvimento político, econômico e 
cultural do continente africano, como forma de compreensão da 
importância histórica do mesmo. 
 
Programa da Disciplina 
∑ Pré-história africana 
∑ Precedentes da organização social do homem moderno 
∑ Primeiras civilizações da África 
∑ O mercantilismo europeu e seus impactos no continente africano 
∑ A presença de europeus e árabes no oceano Indico e o declínio do 
domínio português 
∑ A escravidão no mundo e na África 
∑ A presença dos Ingleses na África do Sul 
∑ As sucessivas ocupações europeias no continente e a resistência dos 
povos africanos. 
7 
 
∑ As bases da elaboração da infraestrutura: a questão da educação e da 
saúde. 
∑ A África do século XX – África do Sul 
∑ O processo de descolonização 
∑ As colônias britânicas na região central da África 
 
Bibliografia Básica para o aluno 
COSTA E SILVA, Alberto. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. 
São Paulo: Nova Fronteira, 1996. 
FLORENTINO, Manolo. Em costas negras. Uma história do tráfico de escravos 
entre a África e o Rio de Janeiro. São Paulo: Cia. das Letras, 1997. KI-ZERBO, 
Joseph. Metodologia e pré-história da África. In: História Geral da África. São 
Paulo/Paris, Ed. Ática/UNESCO, 1982. 
Viscentini, Paulo Fagundes. Breve história da África/Paulo Fagundes 
Vicentini; Luiz Dario Ribeiro e Analucia Danilevicz Pereira – Porto Alegre: 
Leitura XXI, 2007. 
 
Bibliografia Complementar para o aluno 
ALENCASTRO, Luiz Felipe. O Trato dos Viventes. Formação do Brasil no 
Atlântico Sul. São Paulo: Cia. das Letras, 2000. 
AZIZ, Philippe. Os impérios negros da Idade Média. Col. Grandes Civilizações 
desaparecidas. Rio de Janeiro: Otto Pierre Editores, 1978. 
CUNHA, Manuela Carneiro. Negros estrangeiros. Os escravos libertos e sua 
volta à África. São Paulo: Brasiliense, 1985. 
DAVIDSON, Basil. Os africanos. Uma introdução à sua história cultural. Edições 
70, Lisboa, 1981. 
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra. Publicações Europa-América. 
Portugal, s/d. (1ª ed. francesa, 1972). 
8 
 
MILLER, Joseph. O Atlântico escravista: açúcar, escravos e engenhos. Salvador: 
CEAO, Afro-Asia 19-20, 1997. 
9 
 
UNIDADE 01. PRÉ-HISTÓRIA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Identificar as características da evolução da espécie humana; 
Relacionar as principais características da indústria lítica, compreendendo a 
lugar de destaque que ela produz para o desenvolvimento da vida em sociedade. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Sobre a descendência do homem e a seleção sexual, Charles Darwin, 1871, 
escreveu o seguinte: “Em cada grande região do mundo os mamíferos existentes 
relacionam-se de modo estreito com as espécies extintas da mesma área.” (Silva 2006, 
pag. 57) 
Como a África era habitada por macacos extintos, ligados aos chipanzés e ao 
gorila, espécie esta mais afim com os seres humanos, é mais provável que nossos 
primitivos ancestrais vivessem em algum lugar da África do que qualquer outro lugar 
do mundo. 
Essa intuição de Darwin parece ser confirmada por pesquisas científicas dos 
últimos tempos. 
Os estudiosos, a partir de 1924, embora divirjam bastante, fixam-se no 
Australopithecus, encontrado em várias regiões da África, como os primeiros bípedes e 
ancestrais de Homo Habilis, datando-os de mais de 2.900 mil anos, dos quais se 
recolheram ossos e vestígios de utensílios feitos de pedra ou ossos no vale do rio Omo. 
“O primeiro australophiteco foi localizado por Raimond A. Dart, em 1924, em 
Taig, na África do Sul. Desde então, descobriram-se várias centenas de 
espécimes, classificados, geralmente, em dois gêneros, embora ocorram 
grandes divergências a respeito da taxionomia dos australophitecus: um 
franzino e baixo, com cerca de 1 a 1,40 metro de altura e peso estimado em 
23 a 45 quilos, nominado australophiteco graciles; o outro mais alto, com 
quase 1,60m, mais corpulento, pesando 35 a 68 kg, caracterizado por uma 
crista óssea a correr desde a frente até a parte posterior do crânio, o 
Australophitecus robustus”. 
10 
 
 
Figura 1- australophiteco graciles 
Fonte: http://www.sciencephoto.com/media/170833/enlarge 
 
 
Figura 2- Australophitecus robustus. 
Fonte: http://recursostic.educacion.es/ciencias/biosfera/web/alumno/4ESO/evolucion/paranthropus.htm 
 
Considera-se do primeiro gênero a mais antiga espécie de Australophitecus, 
revelada até agora e morfologicamente a mais primitiva no rosto e na dentadura. Tinha 
apenas 1,25 m o australopitécus ramidus ou (Ardipithecus), revelado por Tim White em 
1994. Este hominídeo deve ter vivido na floresta que então cobria a região de Aramis, 
ao nordeste de Adis Abeba, há uns quatro milhões e 400 mil anos. Um pouco maiores 
11 
 
seriam os australophitecus anamensis, datados de quatro milhões e duzentos mil anos e 
descobertos entre 1988 e 1995, nas margens do lago Turcana e o australophitecus 
afarensis, nome que deu Donald Johanson aos restos achados em 1973, em Hadar, na 
Etiópia. Tanto este último quanto os hominidas que se creem da mesma espécie e 
cujos ossos foram escavados de Laetole e do Vale do Omo (na Etiópia), viveram a uns 
três milhões e seiscentos mil anos. 
 
Figura 3- australopitécus ramidus 
Fonte: http://www.sciencenews.org/view/access/id/52262/title/Standing_tall 
 
 
Figura 4- australophitecus anamensis 
Fonte: http://www.biolib.cz/en/taxonimage/id124269/ 
12 
 
 
Figura 5: australophitecus afarensis 
Fonte: http://picasaweb.google.com/lh/photo/K2Cj2mjebkFLSEQeYyP3uw 
 
Acredita-se que deles possa ter derivado o australophitecus graciles a que Dart 
chamou africanus e que alguns consideram como restrito à África do Sul, enquanto 
outros classificam como tal muito dos australophitecus baixos e franzinos do Rift Valley 
“(Silva 2006 p. 59, 60.) 
 
Figura 6- 
Fonte: http://www.transformingcommunication.com/sign-up/australopithecus-africanus/ 
 
13 
 
Posterior ao Homo Habilis surge o Homo Erectus, cujos instrumentos de osso 
(biface), forma oval, ponta saliente (machado de mão), o cutelo, encontrado em várias 
regiões da África, próximo ao Saara no Quênia Thanzania, Quênia Zâmbia e Etiópia, de 
forma padronizada, dão a entender que o Homo Erectus já se comunicava para 
transferir conhecimento e habilidades. 
As teses de que o Homo Erectus teriam, através do Nilo, chegado ao Jordão, 
região onde se descobriram instrumentos, acheulenses dos mais antigos fora da África, 
os quais teriam 1 milhão de anos a.C. ou pouco mais, prosseguindo posteriormente 
para o interior da Europa. 
 
 
Figura 7- Homo Erectus 
Fonte: http://www.britannica.com/EBchecked/media/73034/Artists-rendering-of-Homo-erectus-which-
lived-from-approximately-1700000 
 
Respaldado na descoberta de restos do Homo Sapiens Sapiens, na África do Sul, 
em Clasies, River Month na base de um depósito com mais de 150 mil anos que não 
diferem dos nossos, criou-se a teoria da Eva Africana, enquanto, na Europa, os vestígios 
do Sapiens Sapiens datam de 95 a 30 mil anos apenas. Além desses foram encontrados 
ossos de Homens Modernos, porém menos evoluídos datados de 195 mil anos em 
14 
 
Border Cave em Suazilândia em Floeresbad, África do Sul, Kaugera no Quênia na 
formação Kisbich vale do Rio Omo e na caverna Porc Epic na Etiópia. 
Essas últimas descobertas levam a suspeita de que o Homo Sapiens Sapiens 
surgiu na parte Sul Oriental da África e que tal qual o homo Erectus se propagou da 
África da Ásia para a Europa. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
GÊNESE DA VIDA HUMANA 
Antonio Rodrigues Cordeiro 
A gênese da vida humana na Terra é uma complexa história evolutiva devido ao 
excepcional desenvolvimento mental que nossa espécie alcançou,possibilitando a 
povoação gradual de todos os continentes, a partir da África, há cerca de 200 mil anos. 
Stringler e Gambler (1993) propuseram quatro graus na evolução dos Hominidae até 
o Homo sapiens sapiens, iniciando com os Australopitecinos há 4 milhões de anos, que 
adotaram uma posição ereta mas cujo crânio era reduzido a cerca de 1/3 do tamanho 
do crânio do homem atual. Os primeiros Homo habilis são reconhecidos cerca de 2 
milhões de anos atrás como primitivos do gênero Homo, que inclui o Homo erectus da 
Ásia há pouco mais de 1 milhão de anos, que derivou do primitivo H. erectus da África 
há 2 milhões de anos. No estágio de Homo erectus, o cérebro dobrou de tamanho, mas 
não está claro quais as forças seletivas que levaram nosso cérebro a aumentar de 
tamanho nessa época. 
A maior parte dos utensílios permaneceu sem melhorias por milhões de anos; 
inovações maiores só ocorreram há 40 mil anos. Esse aumento da capacidade craniana 
em quase três vezes não parece ser devido somente ao aumento das habilidades 
técnicas: devemos acrescentar-lhe o aumento da complexidade da linguagem e do 
tamanho das tribos, ou grupos sociais segundo Dumbar (1992). Esse aumento de 
tamanho das tribos exigiu aumento das interações sociais e, conseqüentemente, da 
linguagem. 
Cerca de meio milhão de anos atrás, o Homo erectus estava vivendo nas regiões 
temperadas e tropicais da Europa, fato que suscitou uma disputa entre os que 
acreditavam que o H. sapiens se teria originado localmente nas diversas regiões e os 
15 
 
que acreditavam na origem única, na África, subseqüentemente se expandindo pelo 
mundo, substituindo as populações locais do H. erectus. Essa última hipótese foi 
reforçada pela análise de DNA mitocondrial (mitDNA) por Cann et al. (1987). Sendo o 
mitDNA transmitido somente pela linha materna, seu grau de variação pode ser 
determinado. Cann e os demais autores estimaram que a mulher ancestral comum 
viveu há uns 200 mil anos atrás na África em uma pequena tribo. Essa conclusão é 
coerente com os dados sobre fósseis e arqueológicos. 
Há cerca de 40 mil anos, as populações da Europa e de outras regiões 
produziram grande variedade de artefatos, começaram a enterrar seus mortos, a pintar 
as paredes de suas cavernas e a negociar seus produtos, desenvolvimento esse que foi 
acompanhado pelo aprimoramento da linguagem. 
 
DESCOBERTAS RECENTES 
Apesar de haver controvérsia sobre os detalhes do processo migratório dos 
nossos ancestrais, os dados paleontológicos demonstram que, a partir da África central, 
houve uma ampla dispersão direcionada a norte, atingindo a Europa, e a oeste, 
chegando à China, há cerca de 45 mil anos. Na Europa, distinguimos o Neanderthal e o 
menos dominante Cromagnon, prováveis ancestrais do Homo sapiens sapiens. 
Aparentemente a vantagem do Neanderthal deveu-se à sua superioridade física, 
estrutura e tamanho de suas tribos, maior variedade de caça etc, sendo intrigante o 
fato de terem sido os Neanderthal indivíduos com significante superioridade no 
tamanho cerebral. 
O trabalho de Hong et al. (2007) sobre o homem da caverna de Tanyuan, "An 
early modern human from Tianyuan Cave, Zhoukoudian, China", descreve 
detalhadamente 34 elementos, datando-os em 39 mil a 42 mil anos de idade, usando 
modernos métodos de espectrometria de rádio carbono. Um esqueleto mostra uma 
série de características do homem moderno. Considerando que várias características 
arcaicas estão também presentes, o conjunto dessa mistura de características indica 
que uma única invasão do homem moderno proveniente da África não é provável. 
Esses achados de fósseis reforçam outros tantos que constam do quadro da evolução 
humana multifilética, rechaçando ideias da evolução supostamente monofilética. Essas 
16 
 
descobertas reforçam a observação de que foi mais rápida a evolução dos Hominidae 
que a dos chimpanzés, em parte devida à vigorosa tendência migratória destes, 
exigindo um processo adaptativo mais amplo. 
Os Hominidae também se diferenciaram dos grupos de chimpanzés com 
relativa rapidez por terem uma estrutura de "pequenas populações semi-isoladas", 
tribos de algumas centenas de indivíduos, trocando genes, sendo sujeitas à deriva 
genética, oscilação genética que, segundo demonstrou Sewall Wrigth (1940), constitui 
um excelente complemento à seleção natural, acelerando o processo evolutivo pela 
perda e/ou fixação casual de novos mutantes, posteriormente sujeitos à seleção 
natural. 
Em grandes populações, os novos mutantes têm menos chance de se expressar, 
enquanto não alcançam freqüências suficientes. A concepção de Sewall Wright 
constitui a mais importante contribuição para a teoria evolutiva darwiniana, 
completando-a, e, no caso da gênese da vida humana, fornecendo a chave para 
explicar a diferenciação da "linhagem" humana das demais do grupo de populações de 
primatas. 
Ainda podemos perguntar: que outras vantagens tiveram essas populações para 
desenvolverem tanto sua capacidade mental? Se a inteligência é uma vantagem para 
toda e qualquer espécie ou raça, é provável que a supremacia dessas populações foi 
favorecida por essa vantagem na dinâmica da estrutura em pequenas populações 
semi-isoladas. 
Bakewell, Shi e Zhang (2007) testaram a opinião comum segundo a qual mais 
genes foram selecionados positivamente em humanos do que em chimpanzés, nos 
últimos 6 a 7 milhões de anos de sua divergência e isolamento. 
Para testar essa hipótese analisaram cerca de 14 mil genes de humanos e 
chimpanzés que mostraram substituições não sinônimas. Os autores estudaram 154 
genes em humanos e 233 genes em chimpanzés, e com P = 5% pelo método da 
máxima verossimilhança foi obtido 1,7% para os chimpanzés e 1,1 % para o H. sapiens 
sapiens. 
A questão é: quais são esses genes e qual sua importância na evolução humana 
e dos macacos? Os humanos evoluindo em pequenas populações semi-isoladas foram 
17 
 
beneficiados por um processo evolutivo mais rápido, associando a seleção natural com 
a deriva genética (genetic drift). 
Outro interessante trabalho sobre o homem moderno foi desenvolvido por uma 
equipe liderada por Erik Trinkaus, analisando fósseis de primitivos homens modernos 
da caverna de Tianyuan, Zhoukoudian, China, de 42 mil a 39 mil anos atrás. As óbvias 
diferenças na mandíbula, úmeros e peitorais indicam sua posição como um humano 
moderno primitivo, migrante direto da África, no fim do Pleistoceno, confirmando que 
houve uma dispersão múltipla da África, com sucessivas migrações. 
Essa dispersão foi em todas as direções a partir de uma ampla zona central da 
África para o norte, alcançando a Europa e daí para o Oriente; outros grupos 
atravessaram o centro da Abissínia, os estreitos do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico 
em direção à China, enquanto outros foram para o norte da África, atravessando o 
delta do Nilo em direção ao leste atingindo a China. Esses migrantes apresentam 
características variáveis que são distintivas dos Neanderthal e ancestrais, que foram 
perdidas entre os africanos do Paleolítico moderno. Essas características incluem a 
forma craniana, a base cranial externa, ramal mandibular, forma sinfiseal, morfologia 
dentária, além de proporções antero-posteriores, assim como aspectos das clavículas e 
metacarpos. Concluindo, os autores indicam que houve um modesto nível de 
assimilação dos Neanderthal que se dispersaram na Europa, e essa análise coincide 
com os dados moleculares atuais e do passado. 
Quais os fatores determinantes da divergência evolutiva do Homo sapiens 
sapiens que promoveram a separação definitiva dessa espécie das diferentes formas do 
gênero Homo? Todos os dados indicam que a exclusão dos dinossauros facilitou o 
domínio dos mamíferos, dentre os quais os placentários se mostraram mais ativos, 
talvez por não se isolarem em um continente reduzido. As vantagens dos antropóides e 
do Homo s. s. foram mais consistentes para oprogressivo uso das mãos, conduzindo o 
cérebro ao aperfeiçoamento da visão próxima, detalhada, e o progressivo uso de 
utensílios, a manufatura de armas, a representação simbólica de seus sentimentos, 
desejos e temores. O custo, em termos de tempo, para a evolução biológica da célula 
aos vermes procordados foi de 3,5 bilhões de anos; depois, para toda a evolução dos 
seres multicelulares até o H. sapiens sapiens foram suficientes 650 milhões de anos. 
18 
 
Antonio Rodrigues Cordeiro é professor emérito da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro (UFRJ) e foi fundador do Departamento de Genética da Universidade Federal do 
Rio Grande do Sul (UFRGS). 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
BAKEWELL, Margaret A.; SHI, Peng & ZHANG, Jianzhi. 2007. "More genes underwent 
positive selection in chimpanzee evolution than in human evolution". PNAS 104, pp. 
7489-7494. 
CANN, R. L.; STONEKING, M. & WILSON, A. C. 1987. "Mitochondrial DNA and human 
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DUMBAR, R. I. M. 1992. "Neocortex size as a constraint on group size in 
primates". Journal of Human Evolution 20, pp. 469-93. 
DOBZHANSKY, Th. 1951. Genetics and the origin of species. Nova York: Columbia 
University Press. 
HONG, Shang; TONG, Haowen; ZHANG, Shuangquan; CHEN, Fuyon & TRINKAUS, Erik. 
2007. "An early moderm human from Tianyuan Cave, Zhoukoudian, China". PNAS 104, 
pp. 6573-78. 
MAYNARD SMITH, J. & SZATHMÁRY, Eörs. 1995. The major transitions in evolution. 
Oxford: W. H. Freeman Spektrum. 
STRINGLER, C. & GAMBLER, R. 1993. In search of the Neanderthals: solving the puzzle of 
human origins. Londres: Thames and Hudson. 
TRINKAUS, Eric. 2007. "European early modern human and the fate of 
Neandethal". PNAS104, pp. 7367-7372. 
WRIGHT, Sewall. 1940. "The breeding structure of populations in relation to 
speciation".American Naturalist 74, pp. 148-232. 
 
 
19 
 
UNIDADE 02. PRÉ-HISTÓRIA – O HOMO SAPIENS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo 
Conhecer os processos que marcaram a produção do homo sapiens. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Pesquisas modernas com DNA mitocondrial em indivíduos contemporâneos 
indicam que todos os investigados descendem de uma só ancestral - uma única Eva – 
que viveu na África entre 143 a 233 mil anos. Por que Eva? Porque a mitocôndria, 
embora existindo em cada uma de nossas células, possui DNA próprio; que a nós 
transmitidos pela mãe; os homens não as transmitem aos filhos. 
Existem os que têm crítica a fazer a respeito das pesquisas do DNA 
mitocondrial, mas praticamente todos concordam que a Eva surgiu na África e que 
coincide com a datação dos mais antigos fósseis Homo Sapiens Sapiens encontrados 
naquele continente. 
Parece claro, contudo, que a aparição do Homo Sapiens diversifica e espalha 
por quase todas as regiões da África, a indústria Lítica. Dos instrumentos de pedra 
mudam-se apenas suas formas e tamanhos, de conformidade com as variações das 
rochas a serem trabalhadas, da aplicação, tipo de caça ou coleta de vegetal da região, 
enfim dos desafios que o homem tinha pela frente. 
Nas regiões de terrenos fortemente arborizados, os instrumentos, embora 
pertencentes às tradições acheulense, apresentam-se mais pesados, os bifaces 
mais maciços e mais largos, desaparecem o cutelo e a machadinha e surgem 
peças bifaciais longas e estreitas, goivos bupes e punhais, os quais 
ultrapassam os vinte e cinco centímetros de comprimento, o chamado 
complexo cultural Sangoense, com os quais o homem arranca raízes, corta 
galhos de árvores e trabalha a madeira. Estes instrumentos são encontrados 
na Baía de Sango, parte ocidental do lago Vitória, predominam na África 
Atlântica, na Zâmbia, Zimbábue e planície de Moçambique e ficou conhecido 
como cultura Sangoense. Ou seja, cultura procedente da Baía de Sango, parte 
ocidental do lago Vitória SILVA, 2006, p. 72 
20 
 
Ao norte do continente, bem como na península Ibérica, França, Itália 
prevaleceu a cultura musteriensi, também incidente no Oriente Próximo, caracterizada 
por duas novas técnicas de talhar as pedras, a saber: método levallois, que consistia em 
arranjar pedras que pudessem resultar em lascas ovais e blocos triangulares, que 
davam lascas triangulares. 
Havia o método discóide, no qual se utilizavam pedras arredondadas, lascadas 
como se foram descascadas com intuito de obter peças triangulares bem menores que 
as obtidas pela técnica levallois. 
Vale dizer que, embora ainda ocorram pequenos bifaces em forma de coração, 
eles eram mais leves e finos, sendo empregados como raspadores. Ressalte-se que as 
com pontas triangulares serviam para lanças ou outros projéteis. 
Provavelmente, originária da cultura musteriense, estendeu-se pelo Saara a 
cultura ateriense que vivia, sobretudo nas montanhas, então verdejantes e nas margens 
dos rios, num período compreendido entre 100 a 38 mil a.C. 
Aos instrumentos que herdaram da cultura musteriense os Ateriense 
acrescentaram nova invenção: consistindo em uma espécie de pedículo que servia para 
inserir o instrumento no cabo, encaixá-la no instrumento de um caniço, de um bambu 
ou de um osso. 
A espiga permitia uma ligação segura da peça de pedra com seu cabo, 
reduzindo o peso do utensílio. 
Prova-se assim que há mais de quarenta mil anos o homem aprendeu a fixar na 
ponta de um fuste uma ponta de pedra, formando lanças úteis na caça. 
Possivelmente, até antes desses povos da Etiópia ao extremo Meridional do 
continente, já se usavam essas lâminas de pedras, muitas vezes, triangulares formando 
lanças, ligadas à extremidade da madeira por fibras, resinas ou gomas, sem o uso dos 
pedículos. 
Na África Indica e Meridional, as técnicas Levallois e do Núcleo discóide 
apresentam-se com algumas modificações, rareando os bifaces, ou machado de mão, 
predominando lascas em lâminas de lados paralelos, de talhadeiras, goivas, buris, facas, 
raspaduras e pontas de lança, estas importantes como armas de caça. Na África 
meridional, a produção desse tipo de utensílio é chamada de “Pietersburg”. 
21 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
HOMO SAPIEN SAPIENS 
Nos arredores do lago Vitória, quando o Sangoense foi substituído, há pelo 
menos 40 mil anos, na bacia do Rio Zaire, pelo complexo que se denominou 
Lupembiense, o Homo Sapiens Sapiens, possivelmente já seria senhor do 
terreno. 
Entre os Lupembienses, de Lupemba, República do Congo, os instrumentos 
Sangoenses, subsistiram, como os bifaces e picões, mas surgem longas 
lâminas de duas pontas. Nestas, uma das pontas poderia servir para ser 
inseridas no cabo, ou usadas como punhais, pois possuía 15 a 35 cm de 
comprimento. Ali se desenvolveu também; grande variedade de peças 
pequenas como: pontas triangulares com espiga, enxós, serras e trinchete de 
gume oblíquo ou reto. 
SILVA, 2006, pag.73/74. 
 
 
Figura 8: Homo sapiens sapiens 
Fonte: http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=24055&op=all 
 
Por toda África registram-se pegadas do Homo Sapiens Sapiens na fase lítica, 
com pequenas variações no formato, tamanho peso ou sofisticação dos artefatos 
fabricados, possivelmente dada a variação do entorno, topografia, animais vegetação 
ou clima. 
22 
 
Há incidência de registros, muitas vezes, paralelos com o Homo Erectus ou 
Neendertalis e Homo Sapiens Sapiens, na fase lítica. Tal fato parece ter se dado num 
longo período, cerca de 70 mil anos, com início por volta dos 100 milhões distantes de 
nós. 
Ao longo desse período, o homem aprendeu a transportar e armazenar água, 
utilizando-se de cabaças, cascas de árvores, ovos de avestruz e sacos de couro. Com 
isso, tornou-se apto a se afastar da beira dos rios e lagos, carregando seus apetrechos, 
às vezes, vivendo em abrigos de pedra ou cavernas. Acabou alcançando as praias do 
Sul, conforme se constatou em Klasies River Mouth e na Baia do Saldanha, na Líbia 
(Hua Fteah) e, pela primeira vez, explorou os recursos do oceano, caçando focas, 
mariscando e pegandopássaros, tipo pinguins, ou seja, pássaros incapazes de alçar 
voo. 
Que tenham tido certa capacidade de criar utensílios para necessidades 
específicas, dão testemunho almofarizes e quebra nozes de pedra, encontrados nas 
savanas, utilizados para partir ou moer grãos e sementes, dos quais alguns grupos se 
alimentavam. Há a possibilidade de que almofarizes tenham se prestado a triturar 
minérios corantes, para com o pó, pintarem seus corpos ou suas armas ou utensílios. 
Achados desenterrados em Haua Ftea, na Líbia, bocais de flauta e apitos, podem 
indicar preocupação estética ou noção de vida sobrenatural, o que dá a entender o 
cuidado maior, em algumas regiões, ao enterrarem os mortos. 
A não ser nas Costas do Mediterrâneo, com poucas evidências, nas demais 
regiões Africanas, não há como determinar, com precisão, na pré-história, povos que 
não estejam num estágio bem primitivo da era neolítica. 
Encontrou-se em Kelasies Mouth, Border Caver, África do Sul, peças líticas que 
remontam há 150 mil anos, interpostas ao material da indústria Putersburg. Descendo 
do lago Vitória e do Sul do Quênia até o Rio Zambé, registra-se uma diminuição 
sistemática no tamanho das lamelas, ao longo do tempo, chegando a peças com 
menos de um centímetro, aperfeiçoamento considerável em peças de pedra. 
No nordeste de Angola, em Dundo, dá para se acompanhar a redução dos 
artefatos, bem como um microtrinchete que se fazia cada vez menor, possivelmente, 
para utilizar com ponta de flecha. 
23 
 
UNIDADE 03. PRIMÓRDIOS DO HOMEM MODERNO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Identificar as principais produções de utensílios e técnicas que caracterizaram os 
agrupamentos humanos, no período que compreende os anos 12.000 a 1.000 a.C. 
Analisar as características físicas e biológicas dos grupos humanos que se 
distribuíram pelo território africano e que deram origem ao Homem Moderno. 
Relacionar as técnicas de cultivo ao processo de sedentarização dos 
agrupamentos humanos. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
O aparecimento do arco e flecha, na África, acredita-se que tenha ocorrido há 
mais ou menos 12 mil anos, tendo revolucionado a caça, já que alonga o braço 
humano, mais que a lança. Permite abater pássaro em pleno voo e animais na carreira. 
Percebe-se a diminuição no tamanho das lamelas que eram colocadas na ponta do 
hastil, os quais podiam ter mais uma lamela logo abaixo da ponta, formando uma 
farpa. 
Conforme (Silva, 2006, pag.77), ao Norte da Etiópia e da Somália, ao redor do 
lago Nakuru; trabalhava-se uma pedra muito dura, a absidiana, com a qual faziam 
talhadeiras, buris, longas lâminas, com um lado rombudo, como facas modernas, e 
mais tarde lamelas em forma de crescente. 
A essa altura, cerca de doze mil anos, deu-se o nome de Capisiense do Quênia, 
à cultura Eburriense no Norte da África. 
Ainda entre os doze e sete mil anos, variando sua maior ou menor sofisticação, 
o homem dispunha de uma gama bastante variada de utensílios de pedra, osso e 
madeira, aprendera usar cavilha e cunhas, a usar cortiças como bandeja, palhas e 
folhas. Para forrar onde dormia; começava a fabricar as primeiras agulhas com fibras 
vegetais ou tiras de pele, costurar o couro, já fabricava adornos de conchas e osso. 
24 
 
Ao longo dos milênios aumentaram cuidados no sepultamento dos mortos, 
encontram-se restos acompanhados de adornos, instrumentos ou troféus de caças, 
aparecem os primeiros sinais de rituais mágicos. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
No cabo da Boa Esperança, foram localizados vestígios, de grupos de até 25 
pessoas, que viviam da coleta de frutos raízes, ovos, mel, pesca e caça e que alternavam 
sua permanência, litoral no inverno e verão na montanha. 
Existe registro, na Etiópia, no norte do Quênia, África do Norte, o chamado 
Chifre da África, de terem essas regiões sido habitadas há dez mil anos por 
caucasóides, semelhantes aos que habitavam a Europa o Oriente Médio e Costas do 
Mediterrâneo. 
Segundo Silva (2006, pag. 78), há esta época, o Saara Meridional, desde o 
atlântico até o sul do Nilo e o largo Turcana já eram habitados pelos negróides. Os 
antepassados khoissan ou coissã ocupavam as savanas, as estepes e os serrados do 
leste e do sul do continente. Há registros de proto-bosquimanos, há 17 mil anos a. C, 
nos campos da África Oriental e Meridional estendendo-se até o norte. Seus 
descendentes seriam os Khoisan, de Kahoi, (homem) que os hostentotes se 
denominam, e San (bosques) aos homens da floresta, aqueles que colhem frutos, raízes 
e pequenos animais. Suas características linguísticas seriam cliques ou estalidos com 
valor de consoantes. 
Ambos, hostentotes e bosquímanos, têm face e nariz achatado, cor da pele 
parda amarela, olhos estreito e oblíquos, diferem na cultura; só os bosquímanos têm 
cabelos encarapinhados e rolinhos pregados ao crânio parecendo grãos de pimenta do 
reino. Em ambos, as mulheres são famosas pela esteatopigia. 
25 
 
 
Figura 9: Mulher com esteatopigia 
Fonte: http://gaveta-da-sis.blogspot.com/2008/11/tribo-das-bundas-grandes.html 
 
Os bosquímanos são marcados por estatura média bem menor que os 
ostentotes, medem cerca de um metro e quarenta, enquanto os últimos chegam a um 
metro e setenta e cinco. 
Existem teses de que os pigmeus também descenderiam dos bosquímanos. 
Teriam os pigmeus sofrido esta redução no processo biológico de adaptação com as 
matas muito úmidas, quentes e em função da necessidade de se esgueirarem no 
interior das mesmas. 
É certo que as condições adversas na floresta não permitiram a conservação dos 
restos dos ossos de pigmeus da antiguidade, mas é possível que sejam tão antigos, 
26 
 
quanto os demais habitantes da África e que antes de se circunscreveram à selva do 
Congo, tenham estado em várias partes do continente como indicam as lendas do lago 
Caha no Senegal e no Quênia. Existem lendas sobre gente miúda que povoam também 
as superstições nas regiões onde predominou o trabalho escravo, nas Américas. 
Os ossos descobertos em Iwo Elerú, em um abrigo rochoso a 24 km de Acure, 
na Nigéria, com 12 milênios e do lago Eduardo (ou Kotewe), no nordeste da República 
do Congo, cerca de oito a nove mil anos, indicam que o surgimento do negro se deu 
na orla das florestas, nas regiões limítrofes com as Savanas do Saara. Acredita-se que 
dessa região, por volta de 6.000 a.C., tenham chegado a Tamaya Milet, no Níger, às 
margens do lago Turcana no vale oriental das grandes falhas e avançado norte acima, 
atingindo Cartun, primitiva Amekni, locais onde se encontraram restos negróides. 
Alguns teriam descido o Nilo e se miscigenado com caucasóides, dando origem à 
predominância de mestiços na cultura pré- dinástica de Badari (4.000 anos a.C.). 
 Há mais de 12.000 a.C., os caucasóides, chamados afro-mediterrâneos, entraram 
na África pelo istmo de Suez e se espalharam pelo Magrebe, substituindo populações 
do tipo Cro-Magnon. Chegaram às savanas e estepes, ao norte do Saara pela Etiópia, 
Somália e norte do Quênia. O Saara alterna períodos extremamente secos e áridos, 
com outros bem úmidos, o que parece fazer o trabalho de unir culturas, forçar o 
aprendizado na domesticação. 
O período de maior umidade na África, aproximadamente dez mil a.C., o Saara 
passou a abrigar grande lagos e rios, formou-se extensas Savanas, as quais se tornaram 
ricas e diversificadas em caças, fazendo com que multiplicassem os grupos humanos no 
seu entorno. Por volta de oito a seis milênios a.C, o mais intenso de umidade, podia-se 
traçar uma curva imaginária, unindo as águas do Níger até o Nilo Médio e dali seguir 
pelos vales das grandes falhas Sul a baixo. 
Nessa curva de grande lagos e rios, desenvolveu-se, por volta do oitavo milênio 
a.C., novos sistemas de vida, ensejou o surgimento de moradias fixas, já que a 
abundância de pesca, animais aquáticos plantas domesticáveis, induziam a um modo 
de vida mais sedentário. 
O meiofavorável levou ao aprimoramento no fabrico de pontas de arpões de 
osso, em cuja extremidade havia, de início, uma ranhura, mais tarde um entalhe, ou 
27 
 
furo, onde se amarrava o cordel ou tira de pele. Teceram puçás, construíram-se barcos, 
fizeram cestas, poliram pratos de pedra, modelaram os potes de barro e outros 
recipientes, às vezes, de grandes proporções que lhes permitiam guardar líquidos e 
cozinhar peixes, mariscos, a carne de tartaruga, de hipopótamo, outros animais e ainda 
plantas aquáticas e grãos. 
Admite-se que a cerâmica tenha sido inventada na África por essa gente 
ribeirinha, antes de aparecerem na Cilícia, Síria e Iraque; assim indicam numerosos 
restos de louça e barro encontrados do Quênia ao Saara, datados de mais de oito mil 
anos a.C. 
Estudiosos afirmam também que tais peças precedem as do Egito, Núbia ou 
Magrebe, revelando o fato de descerem e não subirem o Nilo, procedentes da África 
Subsaariana e da região dos grandes lagos, onde a pesca favoreceu um tipo de vida 
sedentária e a adoção da agricultura e da pecuária. Certamente, eram negros ou 
negróides os que impunham o arpão de ponta de osso, embora não se descarte para 
essa região de abundantes rios e lagos tenha afluído povos do Norte do Sul e Oeste, 
tipos diferentes que se miscigenaram entre si. 
Ao sul, em Gamblé Cave, próximo ao lago Elmeteita e ao norte na Cantun 
primitiva, esses povos enterravam seus mortos em posição contraída, fetal, sugerindo 
um novo nascimento, em outra vida. Por volta de seis mil anos a.C, na Cantun primitiva, 
detectaram-se vestígios de choupanas de barro. Morada permanente ou semi-
permanente, acompanhadas de cerâmicas, peças frágeis para a vida nômade. 
 
Figura 10 
Fonte: http://discoveryblog-discoveryblog.blogspot.com/2011/04/cientistas-encontram-esqueleto-do-
que.html 
28 
 
Há cinco mil anos a.C., novo ressecamento na África, força a mudança de 
costumes ligados à sobrevivência, devido ao estancamento de Rios e secagem de 
lagos. 
Posteriormente, no quarto e terceiro milênio, o clima volta a melhorar, 
renascem as culturas aquáticas no médio Nilo e vários pontos da faixa sudanesa e no 
Chade. As pontas dos arpões são agora sempre furadas para atar a corda. As mós são 
maiores, mais numerosas e diversificadas, presumindo-se aumento de consumo de 
grãos. 
Surge o anzol, cortado na concha, a leste, e, no osso, a oeste. 
Nesse mesmo período no Oriente Médio, ocorre a domesticação das gramíneas 
e animais e consequente sedentarização do Homem, a que Gordon “Child” denominou 
“Revolução Neolítica”. 
O êxito da cultura aquática, rica e diversificada no período úmido, em uma faixa 
horizontal, cortando o continente, do Níger, lado do Atlântico, até o baixo Nilo, 
próximo do Índico; parece explicar o atraso da cultura agrícola no interior da África, em 
relação ao Oriente e dali ao Egito. No Oriente Médio, há dez mil e sete mil a.C., já se 
semeava o trigo e cevada e o linho, os quais cresciam selvagem na região, criava-se 
cabra, carneiro, boi e outros animais. 
Embora a agricultura tenha sido praticada em várias partes do mundo, Sudoeste 
da Ásia e nas Américas do Sul e Central, mais de uma vez e em mais de um lugar na 
própria África, foi daquele duplo Crescente fértil, no Oriente Médio que o cultivo da 
terra se propagou para a Europa e o Egito. 
29 
 
UNIDADE 04. PRIMÓRDIOS DO HOMEM MODERNO – A 
AGRICULTURA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivo 
 Analisar o processo de sedentarização humana e o desenvolvimento da 
agricultura no vale do rio Nilo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Na África, a prática da agricultura chegou ao Delta do Nilo, entre 6.000 e 5.000 
a.C., embora já estivesse mil anos antes no Deserto Ocidental em Bir Kesseiba e Nabta 
Playa. Em Nabta Playa, ao redor de um pequeno lago, ficaram vestígios de uma gente 
caçadora e coletora, que vivia numa aldeia com casas de planta oval ou circular, com 
poços cavados na terra, os quais parecem ter cultivado sorgo, tamareiras e dois tipos 
de cevadas (uma das quais de origem local), bem como ter possuído alguns bois. 
Para que a cultura agrícola da África tenha grande defasagem em relação às 
demais regiões, mesmo as vazantes próximas, o Nilo serve a duas teses. 
É possível que o vale Nilótico, tido por muitos como coberto de densas florestas 
e cheio de pântanos, tenha sido um obstáculo à marcha da agricultura para o nordeste 
do continente africano, tão próximo das terras palestinas. 
Para outros, o vale do Nilo, durante esse período úmido, não guardava, a não 
ser no Delta, maior semelhança com o atual Sud. Nas entre cheias ele se cobria de 
gramíneas e matas baixas ladeado por acácias, socomoros e tamareiras, com um ou 
outro charco, deixado pelo fluir do rio, o vale em nada se oporia à ocupação humana. 
Para os que assim pensam o avanço lento da agricultura ter-se-ia ocorrido devido à 
resistência cultural a novas práticas. Serviam de barreira, o próprio êxito com que, a 
partir de 16 mil anos a.C. e, portanto, em período bem anterior, de extrema aridez dos 
desertos cortados pelo Nilo, comunidades ribeirinhas, sobretudo no Alto Egito (como 
se vê no ued Kubbaniya), faziam uso intensivo de tubérculos e grãos selvagens e 
procuravam aumentar a densidade e a qualidade dessas plantas silvestres, por meio de 
30 
 
combate às ervas daninhas que entre elas cresciam, da limpeza do solo e, talvez, da 
rega em épocas de seca. 
Na longa fase úmida que se seguiu, de predomínio no vale expandido do Nilo, 
das chamadas culturas aquáticas, as plantas silvestres de beira rio e das terras 
molhadas continuaram a ser, logo após o pescado, o elemento principal da dieta de 
suas populações. Não que faltem sinais de caça, ossos de galeirões, gansos, patos e 
outros pássaros migratórios, bem como, ainda que menos freqüentes, de gazelas 
arouques (o Bos primogenius) e hipopótamos. O ajuste de milênios a um tipo de vida 
em que não faltavam, além do peixe e da caça, os tubérculos, os grãos, as nozes, os 
brotos, os talos, as folhas e os frutos, de plantas silvestres, tendiam a desestimular as 
inovações, conforme Silva (2006). 
Admite-se que, ao longo dos milênios, aqueles povos perceberem as 
vantagens do cultivo dos alimentos e assim, aos poucos, a dependência 
exclusiva da natureza e, ao mesmo tempo, desenvolveram atividades como a 
pesca, caça e criação de animais possibilitando estacionarem-se mais em 
locais propícios, inclusive pela dificuldade de se locomover dado o aumento 
de bagagens ou pela existência de competidores em outros lugares. Só ao 
longo do tempo, perceberam que algumas plantas não suportavam o excesso 
de água e desapareciam. Para produzi-las, passaram a transferi-las, ou suas 
sementes para locais mais altos onde conseguissem produzir. Na vazante, as 
margens dos rios ressecavam, morriam as plantas que necessitavam de 
bastante umidade. Dessa maneira, antes que se exaurissem, passaram a 
transferir as mudas para sítios úmidos ou possíveis de se regar. 
Existem sérias razões para supor, que dessa prática teria surgido a domesticação 
do arroz africano, (Oriza glaberrima stendel), sorgo o milhete, um tipo de cevada, 
outros milhos miúdos, como o fonio negro, o carite, a melancia, a batata de cafre e a 
batata hauca. 
As terras africanas são ricas em animais, os rios piscosos, há abundância de 
frutos raízes e mel. Caçar pescar e colher frutos supriam até as necessidades de lazer, 
demandavam menos esforços e horas de trabalho. Juntem-se a isso tudo o isolamento 
que o ressecamento do Saara provocou por volta de 1.000 a.C. e se completam as 
razões do atraso cultural africano, no que diz respeito à agricultura. 
31 
 
No Egito, a cultura agrícola e o sedentarismo parecem se consolidar, a partir, 
aproximadamente, de 3.000 a.C., de quando dataria a cultura amratiana. O linho vai se 
tornando material corrente para enrolar os mortos. Os acampamentos assumem feição 
de aldeotascom cabanas ovais ou redondas, semi-afundadas no terreno e que podiam 
ser moradia ou depósitos. No final da ocupação de Hermamieh, os silos passam de 
subterrâneos a construídos acima da terra. Talvez, não mais precisassem ser mantidos 
em segredo, pois recebiam a proteção dos que teriam passado a viver quase todo o 
ano, senão o tempo todo junto deles. 
Desses acampamentos ou vilotas, no alto dos tabuleiros que margeiam o Nilo, 
com pequenas choças feitas de palma entrançadas ou de uma mistura de palha e 
barro, a agricultura desceu, de forma permanente, para o vale, quando o clima se 
tornou mais seco. Foi desse início de aparência modesta, que se desenvolveu a grande 
civilização agrícola do Egito, na qual o culto da terra iria provocar as invenções da 
drenagem do regadio e do arado que multiplicariam seus efeitos. 
Por volta de 1.000 a.C., o Saara converte-se, novamente, num imenso oceano 
árido a separar a África Mediterrânea da maior parte do continente. Só a parte norte do 
deserto que se situa na grande faixa asiática e europeia, face ao Mediterrâneo, 
continuou percorrida pelo comércio e pelos exércitos. Cada cultura adiciona aos seus 
achados os inventos das outras. Ali há intensa troca de Deuses, costumes e bens há a 
rivalidade criadora entre as culturas. 
O insulamento fez com que as invenções de outros povos só muito depois, 
quando já não era novidade, se tornassem conhecidas dos africanos ao Sul do Saara; 
de muitas descobertas, só quase em nossos tempos chegaram a ter ciência. Doravante 
necessitam de um intercâmbio justo ou até favorecido para atingirem o nível das 
demais regiões. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
Civilizações africanas da Antiguidade: Vale do Nilo e Península Somali 
Érica Turci 
 
Egito e Núbia 
32 
 
Segundo os arqueólogos, o vale do rio Nilo já era habitado desde o Paleolítico, 
ou seja, entre 3 milhões e 100 mil anos atrás. Muitos séculos depois, em torno do 7º 
milênio a.C., a agricultura e o pastoreio já eram praticados no delta do rio Nilo, e 
progressivamente se expandiram em direção ao sul, seguindo as margens desse rio. 
A partir do 5º milênio a.C., com o processo de formação do deserto do Saara, 
vários povos nômades e seminômades, do norte da África e do Oriente Médio, 
buscaram as margens do rio Nilo para ali se fixarem. 
Esses migrantes se misturaram com os povos locais e fundaram aldeias tanto no 
Alto Nilo (ao sul), quanto no Baixo Nilo (ao norte). Em algum momento (ainda não se 
sabe quando), essas aldeias se unificaram, formando pequenas cidades independentes. 
Até então existia certa identidade cultural entre as várias cidades ao longo do vale do 
Nilo, devido a suas origens comuns e suas relações comerciais. Com o passar do 
tempo, o processo de centralização política se acelerou na região do Baixo Nilo, até 
que, em torno de 3100 a.C., um rei chamado Menés unificou toda a região, tornando-
se o primeiro faraó de uma das mais antigas civilizações: o Egito. 
Enquanto isso, ao sul, pequenos reinos se mantiveram independentes e 
formaram a civilização Núbia. A fronteira entre as duas civilizações ficava próxima da 
primeira catarata do Nilo; e a mais importante cidade núbia era Siene (atual Assuan), 
um rico centro comercial. 
Sabemos pouco sobre como os núbios se organizavam ou o que pensavam 
sobre eles mesmos, já que não desenvolveram a escrita. Mas os egípcios deixaram 
muitos documentos que demonstram a importância da Núbia. 
Os núbios praticavam a agricultura e o pastoreio às margens do Nilo, e 
desenvolveram uma sofisticada cerâmica. As riquezas da Núbia, como o ouro, o ébano, 
o marfim, atraíam a atenção dos egípcios, que desde a 1ª Dinastia já travavam guerras 
com os núbios. 
Os conflitos entre o Egito e a Núbia ocorreram por séculos, sendo a Núbia uma 
poderosa rival do Egito. Muitas muralhas foram construídas pelos egípcios na fronteira 
com a Núbia, o que prova que não só o Egito queria controlar as riquezas da Núbia, 
mas que os núbios também atacavam o território egípcio. 
33 
 
Foi somente durante a 18ª Dinastia egípcia (século 15 a.C.) que a Núbia foi ocupada 
pelos egípcios, tornando-se um vice-reino. A partir de então a cultura núbia passou a 
sofrer forte influência egípcia: a escrita hieroglífica, os deuses e os costumes egípcios 
foram impostos à Núbia. 
 
O reino de Kush 
Dentre os reinos núbios, um merece destaque: Kush (ou Cush). Não se sabe ao 
certo quando surgiu o reino de Kush, mas documentos egípcios já citam os kushitas 
desde o século 20 a.C. A primeira capital de Kush teria sido Kerma, na região da terceira 
catarata do Nilo, mas a capital kushita mais importante foi Napata, próxima da quarta 
catarata do Nilo. Muitos arqueólogos supõem que a transferência da capital para uma 
região mais ao sul foi uma forma de os kushitas se afastarem da ameaça egípcia. 
Num revés da história, ainda pouco compreendido, mas ligado ao 
enfraquecimento do Egito, causado por disputas políticas internas, em 713 a.C. o rei 
kushita Shabaka invadiu e controlou o Egito, iniciando assim a 25ª Dinastia. No Antigo 
Testamento, encontramos várias citações sobre os temíveis guerreiros negros do 
império kushita. 
Contudo, em sua expansão pelo delta do Nilo, os kushitas entraram em contato 
com guerreiros ainda mais poderosos: os assírios (da Mesopotâmia). O rei assírio 
Assaradão tentou conquistar o Egito governado pelos kushitas, mas foi derrotado. Seu 
sucessor, Assurbanipal, no entanto, ocupou o delta do Nilo em 663 a.C. 
A partir de então os kushitas se retiraram para o sul e mantiveram o controle 
sobre a Núbia, a partir de Napata. A fim de se afastarem ainda mais dos conflitos do 
território egípcio, os kushitas transferiram sua capital para Meroé (século 6 a.C.), ainda 
mais ao sul. Essa cidade era um dos mais importantes entrepostos comerciais entre a 
África e o mar Vermelho, além de possuir ricas minas de ferro. (A tecnologia de 
fundição do ferro é uma das principais características dos povos africanos dessa região. 
Aliás, quando os portugueses chegaram à África, no século 15 d.C., aprenderam com os 
africanos como fundir ferro de maneira mais eficiente.) 
Enquanto o Egito foi sucessivamente conquistado por assírios, persas, 
macedônicos e romanos, o reino de Kush (a partir de então também conhecido como 
34 
 
reino Meroíta) manteve sua independência por mais 9 séculos (alguns historiadores 
falam em 8 séculos), controlando várias rotas comerciais que ligavam o interior da 
África ao mar Vermelho, e ainda mantiveram relações amistosas com os faraós da 
linhagem macedônica (os ptolomaicos). 
Quando os romanos conquistaram o Egito e não conseguiram submeter os 
kushitas, cortaram o comércio kushita com o Oriente Médio e o Mediterrâneo, o que 
levou Meroé a uma progressiva crise econômica. No século 4 d.C., a já decadente 
Meroé foi conquistada por povos vindo do Chifre da África (ou península Somali): os 
axumitas. 
 
O reino de Axum 
O reino de Axum se localizava na atual Etiópia. Segundo a lenda, esse reino teria 
sido fundado por Menelik, filho do rei Salomão com a rainha de Sabá (o que nos 
remete à história contada no Livro dos Reis, no Antigo Testamento. Apesar de tal lenda 
não ter ainda nenhum fundamento comprovado, manteve-se por muitos séculos). 
A cidade de Axum se localizava às margens do rio Atbara. Sua população era 
formada por povos locais (a Etiópia é considerada um dos mais antigos berços da 
humanidade) e por migrantes vindos da Arábia antes do século 6 a.C. 
Em torno do século 3 a.C., os kushitas (ou meroítas) mantinham comércio com 
Axum. Em torno do século 2 a.C., o porto de Adulis, no mar Vermelho (que ficava a oito 
dias de viagem até Axum), era um dos maiores centros comerciais entre a África e a 
Arábia. 
No século 1 d.C., o comércio transformou Axum num dos centros mais ricos da 
África. Entre os séculos 2 e 4 d.C., os axumitas controlavam grande parte da navegação, 
tanto mercantequanto de guerra, no mar Vermelho. Embaixadores axumitas viajavam 
pelos grandes reinos do Oriente Médio e da África, impondo os interesses comerciais 
de Axum. 
Como os axumitas desenvolveram a escrita (chamada de gueze ou geês), 
escavações arqueológicas ainda hoje revelam muitos textos axumitas talhados em 
argila e pedra. E devido à grande atividade política de Axum, vários desses textos 
35 
 
trazem uma versão em grego (a língua diplomática da época), o que facilita muito a 
compreensão da história desse povo. 
Em 335 d.C., os axumitas invadiram, saquearam e incendiaram a capital kushita, 
Meroé, pondo fim ao reino de Kush, que representava um centro comercial 
concorrente. Acredita-se que a elite kushita tenha fugido em direção do oeste, 
chegando até o Chade, e difundindo assim a cultura kushita. 
O império axumita se cristianizou a partir da influência egípcia, e se tornou um 
importante centro de difusão dessa nova religião no leste da África. 
Com a expansão árabe muçulmana, a partir do século 7, o reino axumita cristão 
perdeu sua força, tanto econômica quanto cultural. Mesmo assim, séculos mais tarde, 
durante a expansão marítima e comercial de Portugal (século 15), muitos navegadores 
tinham como meta encontrar o reino lendário de Prestes João, um reino cristão 
africano que, provavelmente, seria o antigo reino de Axum. 
E vale lembrar: muito tempo depois, enquanto toda a África era repartida e 
dominada pelas potências imperialistas europeias (no século 19), a Etiópia foi um dos 
poucos reinos que conseguiu manter sua independência. Ainda hoje, portanto, 
conhecer e valorizar a cultura etíope pode ser um caminho interessante para se 
compreender parte da história da humanidade. 
 
Bibliografia 
GIORDANI, M. C. História da África anterior aos descobrimentos. RJ: Vozes, 1985. 
MUNANGA, K. Origens africanas do Brasil contemporâneo. SP: Global, 2009. 
SILVA, A. C. A África explicada aos meus filhos. RJ: Agir, 2008. 
Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/civilizacoes-africanas-
da-antiguidade-vale-do-nilo-e-peninsula-somali.htm 
36 
 
UNIDADE 05. PRIMEIRAS CIVILIZAÇÕES DA ÁFRICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Objetivos: Identificar as primeiras civilizações do continente africano e suas 
características econômicas, sociais e políticas. 
Analisar o reino de Axum nos seus aspectos geopolítico, econômico, com ênfase 
nas principais episódios que marcaram o seu domínio na região. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Não há uma só e simples resposta, o Brasil tem interesse em participar no 
desenvolvimento daqueles povos, ali exercer influência e não só naqueles que utilizam 
a Língua Portuguesa. 
Muito mais que isso, tem afinidades e esses povos são vistos como parceiros 
capazes, mais confiáveis do que aqueles que por lá estiveram e dos quais ficaram 
ressentimentos pela exploração humana, da quase exaustão de alguns recursos 
naturais e que nada lhes deixaram em contrapartida. Mais que exaurir recursos naturais, 
desestruturaram culturas, desmontaram suas lideranças, impuseram-lhes estereótipos 
prejudiciais a sua autoestima e imagem, colocaram uns contra os outros em lutas 
fratricidas. Por preconceito, ignorância ou presunção, consideraram e trataram o 
Africano como não humano, como mais um animal exótico do continente, não muito 
diferente dos naturais das Américas, indivíduo sem a alma do conceito cristão, o 
mesmo que macaco, girafa ou onça, ou seja, por não corresponder aos padrões 
Europeus, lhes foi negada a condição de humanos. 
Obviamente, não teremos, nesta unidade, estudo completo das primeiras 
civilizações da África, não caberia nela a grandiosidade, riqueza, os enigmas, variedade 
de formas organizacionais e culturais daquele imenso continente. 
Mesmo as grandes obras de pesquisadores, assumem a precariedade de alguns 
dados e informações colhidas, pesquisadas e deixam clara a necessidade de contínua 
37 
 
busca e interpretação dos arquivos que o subsolo esconde e até releitura de achados 
para aos quais ainda não há consenso. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
O reino de Axum 
O reino de Axum foi um dos mais poderosos da África. Chegou ao seu apogeu 
no século IV d.C., e neste mesmo século se converteu ao cristianismo. 
 
 
O reino de Axum se notabilizou por se tornar um reino cristão na África e por 
fazer grandes edificações religiosas 
A história do reino de Axum está relacionada à das civilizações que se 
desenvolveram na África, abaixo do Egito. Isto é, nas antigas regiões da Núbia e da 
Etiópia. Os vestígios deste reino datam do século V a.C., mas seu apogeu se deu por 
volta de meados do século IV d.C., quando os axumitas (nome que designa os 
habitantes de Axum) levarem o reino Kush, seu rival, à ruína. 
Durante os séculos III e IV, Axum conquistou territórios da Península Arábica, a 
Etiópia do Norte e parte da antiga Pérsia, tornando-se um dos mais poderosos 
impérios da passagem da Idade Antiga para a Idade Média. Ainda no século IV, os 
axumitas destruíram a cidade de Meroé, capital do império Kush, fragmentando então 
este antigo centro político do sul do Egito. Da derrota de Kush nasceram três reinos 
diferentes, o Nobatia, o Makuria e o Alodia, que ficaram todos sobre influência de 
Axum. 
38 
 
Com o vasto território conquistado, o reino de Axum passou a dominar todas as 
rotas de comércio que passavam pelo sul da Península Arábica e pela Arábia 
meridional, pela região da Núbia e da Etiópia, que atravessavam o Mar Vermelho. 
Conseguiu também terras férteis que possibilitaram a agricultura e a pastagem de 
alguns bovinos. Para administrar e controlar o fluxo comercial desta região, o reino de 
Axum cunhou sua própria moeda também, chegando a estabelecer trocas comerciais 
com a Índia e a China. 
Um dos acontecimentos mais importantes da história do reino de Axum foi a 
conversão ao cristianismo do rei Ezana, no século IV, por um monge cristão de origem 
fenícia, chamado Frumêncio (que depois foi bispo de Axum e considerado santo). Após 
a conversão do rei Ezana, toda a região da Etiópia e grande parte da região da Núbia 
receberam forte influência do cristianismo e a maior parte da população também se 
converteu, tornando Axum um império eminentemente cristão. 
 
 
 
39 
 
 
As Igrejas esculpidas em rocha, em Axum, na Etiópia, são hoje consideradas 
patrimônio histórico da humanidade. 
Uma das características desta fase é a construção das famosas onze Igrejas, que 
foram esculpidas em rochas, no solo. Essas Igrejas são consideradas patrimônio 
histórico da humanidade e fazem parte da tradição da Igreja Ortodoxa Etíope. Além 
das Igrejas, várias outras construções do reino de Axum são notáveis, tais como 
obelisco, imensas torres de pedra, tumbas e outros templos na época anterior à 
conversão ao cristianismo. 
O reino de Axum continuou imponente até o século XI d.C., época em que o 
islamismo já havia se expandido pela Península Arábica e conquistado boa parte do 
território que os axumitas dominavam. 
 
Por Me. Cláudio Fernandes 
Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiag/o-reino-axum.htm 
 
40 
 
UNIDADE 06. CIVILIZAÇÃO NÚBIA 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
Objetivos 
Conhecer as principais características da civilização Núbia. 
Analisar a Civilização Núbia nos seus aspectos geopolítico, econômico, com 
ênfase nas principais episódios que marcaram o seu domínio na região. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
As fronteiras da civilização Núbia foram sempre imprecisas, suas divisões 
políticas sempre multifacetadas por convivência com outros povos, não raras impostas 
por invasores. Considerada na antiguidade um prolongamento do Egito, a região que 
se denomina por esse nome está dividida hoje entre o norte do Sudão e o Sul do Egito. 
Uma só característica geográfica pode defini-la. Começa ao Sul em Cantun, com a 
junção do Nilo Azul e do Nilo Branco e termina em Assua – antigaSiena – com a 
primeira catarata. O Egito propriamente dito se estende do Mediterrâneo a Assua. O 
nome Núbia deriva da palavra hieroglífica nub, o mesmo que ouro, adaptada pelos 
árabes para nuba, visto que a região era realmente rica em ouro. 
 
Figura 11 
Fonte: http://www.specialtyinterests.net/map_nile2nubia.html 
41 
 
Núbia e Egito, na pré- história, fazem parte de única entidade: o vale do Nilo. 
Sobre as margens desse Rio se estabelece uma civilização comum ainda que primitiva e 
pouco a pouco se diferencie. Ao norte da primeira catarata, desenvolve-se brilhante 
civilização agrícola: a Egípcia, que segundo (SILVA: 2006. p.86), desceu da África 
Meridional de Aldeolas localizadas entre a primeira e segunda catarata, e não como se 
pensa, tenham se iniciado ao longo do Mediterrâneo. Ao sul da primeira catarata, 
ficaram populações variadas, originais, mais rústicas, mas que já trabalhavam uma 
cerâmica diferenciada das do Egito e dominavam a criação de gado. Esses países até o 
longínquo Sudão serão, por inúmeras vezes, invadidos, conquistados e pilhados pelos 
Egípcios, a exemplo do ano 2680 a.C., na quarta dinastia, o faraó, Esneferu, regressa de 
uma expedição a Núbia conduzindo sete mil escravos e duzentas mil cabeças de gado, 
deixando a região completamente debilitada. 
Essa expedição conduziu os Egípcios até a segunda catarata, a partir da qual o 
rio se tornava impróprio para navegação. Não longe de lá, Bouhen, seria 
instalado um centro metalúrgico especializado no tratamento do cobre. 
Em 1961, 1962, o Professor W. B. Emery reencontra os cadinhos, as mós e o 
que servia de autos fornos; ele afirma que por volta de 2600 a.C., os reis do 
Antigo Império aí vinham se abastecer de metal, os Egípcios exploraram, 
igualmente as pedreiras de diorito situadas no deserto núbio ao norte de Abu 
Simbel, não longe de Huadi Halfa; daí extraíram sobretudo as pedras da 
estátua do Rei Quéopes. Eles controlavam também o tráfico de caravanas 
carregadas de ébano, marfim, pedras preciosas, ungüentos, peles de panteras, 
penas de avestruz e incenso, vindos da Núbia ou da profunda África 
Civilização Núbia (BRISSAUD: 1978. p.64). 
 
Por volta 2.423 a.C., sentindo diminuir sua autoridade percebendo que se 
agitavam as tribos não pacificadas na fronteira meridional, o faraó Pepi I nomeou 
Merirenefer em Edfu, acima de Elefantina, encarregou-o da abertura da porta de 
Elefantina, de controlar as marchas núbias e de examinar uma possível colonização da 
Baixa Núbia. 
Enfraquecido o Egito, há um recuo de sua influência na Baixa Núbia, onde se 
instala por volta de 2300 a.C., à cultura do “Grupo C”, que será a civilização indígena 
que a domina durante 700 anos aproximadamente. Dela restam poucos vestígios e 
42 
 
nada se sabe dessas tribos de pastores criadores de cabras e de bois de chifres longos, 
que são representados sobre falésias nílicas, e vindos das estepes do sudoeste, 
expulsos pela seca prolongada. 
Únicos vestígios encontrados, túmulos rudes, posteriormente mais elaborados, 
registram as deduções seguintes: 
 As sepultura redondas as vezes ligeiramente ovais, escreve Jean Leclant em 
Historie Générale de /Àfrique Noire (P.U.F., 1970), são construídas de pedras 
secas, com a forma de cilindros, tendo a parte superior plana; perto do 
cadáver, muita vezes envolvida em pele de animais,só são depositados 
objetos muito pessoais,amuletos jóias, conchas do mar vermelho) as vezes 
armas (adagas com botão de punho redondo). Vasos de oferendas são 
colocados no exterior, lado leste, onde se encontram as vezes uma capela e 
um nicho para culto; ao lado das tigelas e taças vermelhas de borda 
negra.que são uma sobrevivência do Grupo A Vê-se aparecer uma belíssima 
louça de barro ( tigelas hemisféricas vasos com pé ) com motivos geométricos 
incisos, muito variados. As casas dos ricos eram provavelmente situadas sobre 
os terraços férteis do Nilo; o que explica porque nada resta delas hoje. Apenas 
as moradas humildes da margem desértica do vale chegaram até nos; 
entretanto não devemos concluir que todos os membros do Grupo C, viviam 
em tais condições primitivas Essas pobres habitações consistiam em uma série 
de peças de forma desiguais, coladas uma as outras, construídas com 
grosseiras pedras chatas colocadas diretamente sobre o solo e unidas por um 
cimento enlameado. A guisa de teto,esteiras ou tecidos de tenda. 
BRISSAUD,1978, pag. 70/71. 
 
Nessa época, a Baixa Núbia afastada da zona das agitações que devastavam o 
Egito, era praticamente independente. Foi encontrado o nome de dois príncipes locais 
de origem egípcia que a governavam: Kakarê Anef e ly-ib-Khent-rá. 
Ao sul, na bacia de Dongola, estende-se a cultura dita de Kerma, tipicamente 
Núbia, aparentadas do chamado Grupo C, que por volta de dois mil a.C., formam o país 
de Cuch, como os egípcios os chamavam, a uns 700 km de Elefantina, levados pelo 
ressecamento ao redor da primeira catarata, procurando ali terras mais úmidas para 
pastorear seus rebanhos dos bois de chifre longos. Em Dongola, curva Ocidental do 
grande S do Nilo médio, não só as margens planas, mas muito amplas, também 
43 
 
existem áreas formadas por leitos abandonados do Nilo, como Querma e Letti, que 
permitem fácil cultivo, dado a pequena umidade e aluvião que permanecia no ex- leito 
do rio. Todos os anos o rio deposita seu aluvião nessas terras baixas, um rio que entre a 
quarta e a terceira catarata, corre largo e tranqüilo, deixando ver, além de suas 
margens, estepes ralas, interrompidas aqui e acolá por acácias e palmeiras. Quase todo 
o ano chove, nos meses de verão, pouquíssimo, fazendo enverdecer as fimbrias dos 
uedes, os rios geralmente secos, do deserto. ”Os dirigentes, assinala Jean Legrant”, se 
fazem enterrar em sepulturas cuja superestrutura é um túmulo achatado de grandes 
dimensões e por ocasião dos funerais havia sacrifícios humanos que atingiam até 300 
pessoas. Acompanhavam-no também, vasos de vários tipos, com um bico longo à 
moda de chaleira, de base arredondada e boca bem ampla; ou com alça e forma de 
animais. 
Ali também foram alcançados pela XII dinastia egípcia com Sesóstris III, (1887-
1850), um dos maiores faraós do Egito, cujas conquistas se deram, igualmente grande 
parte da Ásia. Excessivamente severo com os Néhsey, negros no dizer egípcio, 
”Civilização Núbia até a conquista Árabe” (Brissud 1978. p.83), onde o Professor 
Reisner, relata o enterro em Kerma de um príncipe Egípcio, monarca de Assiut, 
chamado Hapidjéfa, e que Sesóstris enviara como governador do novo território. 
Deram um festim funerário por ocasião do qual abateram mais de mil bois, 
cujos crânios foram inumados ao sul, no exterior da cerca. O corpo do príncipe foi 
então, depositado para seu último repouso na Câmara abobadada, no meio das 
oferendas e selaram a porta de madeira. As vítimas do sacrifício - em número de dois a 
três centos, inclusive crianças - apenas Núbios, drogados durante a última refeição, 
foram deitados no chão no corredor. Depois “entulharam o corredor, o que formou um 
montículo, que foi recoberto de tijolos crus.”, conforme Brissaud, 1978, p 135. 
A Núbia torna-se importante como parte do império Egípcio e Ramsés II 
nomeia para governá-la vários vice-reis, como Hequanekhty, Paser II Ey, Mersuwy, 
Sethi, Hori I, seu filho Hori II, e Uentauat e Panehsi, já sob Ramsés X e XI, incorporando 
dessa forma, na defesa ou conquistas egípcias, soldados, quando não o exército Núbio. 
Assim a Núbia permaneceu sob domínio egípcio até a XX dinastia com os 
últimos Ramsés. 
44 
 
Em seguida um silêncio quase total cai sobre a Núbia por três séculos, constata 
Jean Leclant, a ligação entre a África e o mundo mediterrâneo parece cortada até que a 
dinastia cuchita de Napata suba ao trono do Egito. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
DOMÍNIO NÚBIO NO EGITO 
Por volta do ano 730 a.C., o reino da Núbia acha-se consolidado, e se estendedesde a sexta catarata até Heracleópolis, bem ao sul do Delta e tem como centro de 
poder Napata, cujos dirigentes estão totalmente egipcianizados, religião, cultura escrita 
e mesmo raça bem miscigenada. Em 751 a.C. morre seu rei Kachta; sucede-o seu filho 
Piânki. Em 730 a.C., Tefnakht, fundador da XXIV dinastia em Tebas, decide uma vez 
reunificado o Baixo Egito, opor-se ao domínio cuchita sobre o Alto Egito. Para isso 
prepara o cerco diante da cidade de Heracleópolis. Piânki contra ataca descendo o Nilo 
com seus exércitos e vence o faraó egípcio e torna-se assim senhor de todo o Egito. 
No ano 21 do reinado de Piânki, que permaneceu governando de Napata, o 
príncipe de Neter, Tefnakht, reagrupa seus exércitos, apoderou-se de todo o Oeste 
desde as terras baixas, chegando ao Sul, sem que as fortalezas reagissem em nome de 
Piânki e montou cerco diante de Heracleópolis dominando-a completamente. 
Piânk, instado pelos príncipes e os oficiais militares das cidades tomadas dos 
nomos (estados) do Sul, toma consciência de que o faraó do delta se aproxima 
perigosamente de Tebas e reage contra seu ex- vassalo, mandando atacar a cidade de 
Hermópolis, cidade principal do nomo da Lebre ao sul do Oryx e do qual Nemrod é o 
príncipe. Sua Majestade enviou (suas ordens) aos príncipes e aos comandantes dos 
exércitos que estavam no Egito. 
Acelerem a colocação em linha de combate, ataquem-na (Hermópolis) e 
capturem seus habitantes, seu gado e seus barcos no rio. Não deixem os 
camponeses irem ao campo, nem os lavradores lavrarem: cerquem as 
fronteiras do nomo da Lebre e suas ordens foram cumpridas. 
Como Piânki, que ficou em Napata ordenara, seus exércitos desceram o Nilo e 
passaram por Tebas para receber a benção de Amon. Partindo para o Norte 
ao encontro dos Egípcios, ultrapassaram a cidade rebelde de Hermópolis. 
Logo o grosso dos exércitos núbios chegava a Heracleópolis aonde a batalha 
45 
 
ia-se desenrolar ao mesmo tempo em terra e na água. Encontraram, subindo a 
corrente, numerosos barcos carregados de soldados, de marinheiros e de 
comandantes. Todos esses homens bravos do norte estavam equipados com 
armas de guerra para combater o exército de sua Majestade Piânki. Então 
foram feito um grande massacre ente eles, cujo número era desconhecido. Os 
barcos foram capturados e suas tropas conduzidas cativas até onde estava sua 
Majestade. BRISSAUD, 1978, p: 148. 
 
Comandados por Piânki, os Núbios vencem os Egípcios os quais fogem para as 
terras do Norte, prosseguindo Piânki vence o príncipe Nemrod em Hermópolis, lhe 
perdoa a infidelidade, mas toma seus tesouros e prossegue com seus exércitos a 
caminho de Mênfis no Baixo Egito, onde Tefenakht, tenta resistir exortando sua 
infantaria e marinheiros afirmando estarem à cidade abastecida de grãos, os celeiros 
cheios, tem todas as armas de guerra e está fortificada por uma grande muralha. Em 
seguida, Tefnakht parte para o Norte aonde vai se assegurar da cooperação dos 
príncipes do Delta, e promete voltar em poucos dias. 
No mesmo dia da partida de Tefmokht, os exércitos de Piânki chegam a Mênfis 
desembarcam pelo lado norte e se apoderam do porto e de uma frota intacta. Diante 
das altas muralhas banhadas pelas vagas do Nilo, encimada por fortes soldados, o rei 
enfileirou seus navios juntamente com os que capturaram e através de seus mastros, 
ordenou que suas tropas galgassem o cimo da muralha para combater os egípcios. 
Dessa forma o exercito núbio invadiu a cidade massacrando seus defensores inclusive 
iniciando uma pilhagem. 
No dia seguinte, o rei Piânki tomou posse da cidade e restaurou a ordem. 
Determinou a limpeza da cidade, a purificação por incenso e a proteção dos templos 
com a reintegração dos sacerdotes em suas funções.Purificada a cidade, dirige-se ao 
templo de Ptah para se fazer reconhecer Rei, pelos Deuses. 
Depois de seus exércitos serem esmagado na cidade de Mesed, Tefnakht, 
rende-se e promete fidelidade ao soberano Piânki o qual se tornou assim, soberano do 
Egito, filho de Amon, designado pelos Deuses com autoridade para governar aquele 
império das margens do Mediterrâneo até a sexta catarata. 
46 
 
Contudo, os egípcios do norte continuam suas divisões, após a morte de Piânki, 
reina no Norte Bocchoris, filho de Ternakht, mas Shabaka sucessor de Piânki em 711 
a.C. conquista o Egito como fizera seu pai, esfola e queima vivo a Bocchoris e se instala 
em Tebas onde se proclama único faraó de Cuch e do Egito. 
Embora com algum desagrado, os egípcios do norte, por se acharem diferentes, 
pois tinham a tez mais clara, em virtude de sua miscigenação com povos do outro lado 
do Mediterrâneo, submetem-se ao monarca Núbio, pois confiavam nos exércitos 
núbios com seus grandes guerreiros, para resistirem a poderosa Assíria de Senaquerib, 
o qual ameaçava dominar todo o Oriente inclusive o Egito. 
Em 705 a.C., atendendo pedido do rei de Judá, Ezequias, o faraó Shabaka envia 
um exército núbio, chefiado pelo seu irmão Taharqua em socorro a Jerusalém. Não 
chega a se defrontar com os Assírios que fogem. O exército Sírio sofre baixa estimada 
em 185 mil homens. Segundo a Bíblia, livro dos Reis XIX; versículo 35 é Javé quem 
intervêm por intermédio do gládio de um Anjo. 
Para Heródoto, o faraó do Egito antes de seus exércitos partirem ora a seu 
Deus e esse lhe diz que nada aconteceria se enfrentasse os Assírios. A noite 
uma onda de ratos dos campos se espalhou entre os Assírios roendo as 
correias das armas e dos escudos, de forma que,no dia seguinte sem armas 
nem defesas, os mesmos fugiram e pereceram em grande número. BRISSAUD: 
1978. p. 170. 
 
Segundo registros de Heródoto, o faraó núbio Shabataka, teve reinado piedoso 
e tranqüilo, reinando de 701 a. 687 a.C.; sucede-o seu irmão Taharqua, 689 a 664 a.C. 
Taharqua, inquieto com a potência Assíria, abandona Tebas e se instala em 
Tânis, no delta, de onde se dedica a administrar seu vasto império que vai do 
Mediterrâneo ao Sudão, além da sexta catarata, até Kosti no Nilo Branco e Semnar no 
Nilo azul; Sucede-o Tanutamon. 
Assurbanipal rei da Assíria invade o Egito, destrói e pilha Tebas. Tanutamon 
foge para Napata, segundo registros do próprio Assurbanipal e alusão feita na Bíblia, 
Livro de Naun (III, 8), descrevendo a queda de No-Amon, isto é, Tebas; a Capital; 
terminando assim a XXV Dinastia e os faraós vindos da Núbia. 
47 
 
A dinastia núbia não influencia as crenças egípcias, os deuses núbios não se 
misturam com o panteão egípcio. Amon com cabeça de carneiro em Napata é 
representado antropomorfo em Tebas. Nos mesmos recintos acolhem-se capelas de 
Ozires e de Amon e os sacerdotes tebanos invocam as tríades amonianas e ozirianas, 
não aparece no período; falando como rivais, desenvolve-se, antes, uma divindade 
solar comum “Amon-Rá-Montu”, são cultuados paralelamente. 
 
Divinas Adoradoras 
 A função de Divina Adoradora surgiu no período agitado que precede a 
instalação, no Egito da XXV dinastia. Consagrada ao culto de Amon, esposa do 
Deus é forçada ao celibato, a Divina Adoradora é bem mais que uma princesa: 
é uma verdadeira soberana espiritual. Representa sob a forma de esfinge real, 
ela figura, depois de sua morte, entre os Deuses. Tem a realeza do Duplo País; 
e seu trono deve ser honrado em todos os países. BRISSAUD;1978, p.190. 
 
Jean Leclant descreve assim as representações dessas Divinas Adoradoras, que 
se conservam muito femininas: 
Estreitamente apertadas num vestido colante, que anima o contorno 
arredondado de suas longas coxas, elas deixam irromper, acima de seu talhe 
alto e delgado, a brusca plenitude de seus seios... 
Ordinariamente, sua cabeça é coberta por uma grande touca, de várias 
camadas de pregas, que encerra a pele de um abutre, cuja cabeça aponta para 
frente. “A cabeça do pássaro é às vezes, substituída por uma uraeus, proteção 
suprema. BRISSAUD,1978 p.191. 
 
O Egito sob Psamético I, XXVI dinastia, restabelece

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