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Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente Sérgio Haffner http://slhaffner.phpnet.us/ haffner@ieee.org slhaffner@gmail.com Desenvolvido para ser utilizado como notas de aula para a disciplina de Análise de Sistemas de Potência (ASP). Fevereiro 2008 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução – Sérgio Haffner Versão: 3/3/2008 Página 4 de 4 Introdução Estas notas de aula têm como objetivo apresentar, de forma resumida, o conteúdo integral da disciplina introdutória na área de Sistemas de Energia para um curso em nível de graduação em Engenharia Elétrica (parcial para uma disciplina em nível de pós-graduação em Engenharia Elétrica) que consiste na análise de sistemas de energia elétrica em regime permanente senoidal. Estas notas não detalham em profundidade todos os aspectos relacionados com o tema, mas podem ser utilizadas para balizar estudos nesta área, cuja bibliografia em português não é muito abundante, em função da retirada dos títulos já esgotados dos catálogos das editoras. A análise de sistemas elétricos em regime permanente é de extrema importância, pois é desta forma que as redes operam quase na totalidade do tempo. Nestas condições, busca-se que todos os equipamentos elétricos (geradores, transformadores, linhas de transmissão, alimentadores, motores, etc.) estejam operando dentro de seus limites (tensão, freqüência, potência, etc.) e, se possível, de forma ótima (visando maximizar a segurança e minimizar o custo de geração, as perdas de transmissão, etc.). Para efetuar esta análise, em cada condição de carga e geração possível para o sistema ou sub-sistema elétrico, deve-se conhecer: • O carregamento nas linhas de transmissão e nos transformadores, visando verificar se há sobrecarga ou elementos ociosos; • A potência gerada em cada unidade de geração, visando efetuar uma análise de custos; • A potência consumida em cada unidade, visando efetuar projeções do crescimento do consumo; • A tensão nos diversos pontos do sistema, para verificar se existem tensões muito acima ou abaixo dos valores nominais; • As perdas de transmissão, visando compara alternativas de alimentação das cargas; • As conseqüências, em regime permanente, da perda de algum equipamento, visando verificar se o estado de operação é seguro. Desta forma, é possível verificar com objetividade a forma de operação que o sistema elétrico se encontra. A avaliação destes indicadores é a base dos métodos empregados na definição das alterações necessárias para modificar o ponto de operação do sistema com o objetivo melhorar sua forma de funcionamento em regime permanente. O conteúdo está dividido em oito capítulos, da seguinte forma. No Capítulo I é feita uma revisão dos conceitos necessários da análise de circuitos em regime permanente senoidal juntamente com a apresentação da notação empregada nos demais capítulos. Adicionalmente, descrevem-se o sistema por unidade e a análise por fase, muito freqüente em sistemas de energia, quando o sistema pode ser considerado equilibrado. No Capítulo II é feita uma breve análise do balanço de potência e suas implicações com a magnitude da tensão nas barras e com a abertura angular das linhas e dos transformadores. Ainda, descrevem-se as equações do fluxo de carga em linhas de transmissão e transformadores em fase. No Capítulo III descreve-se a forma pela qual os elementos que são conectados em um nó do sistema de energia elétrica são modelados para análise por fase (aplicada para circuitos equilibrados). Nos Capítulos IV e V o problema denominado Fluxo de Carga (ou Fluxo de Potência) não-linear que consiste, basicamente, na determinação das tensões nodais (em módulo e fase) é formulado e resolvido. No Capítulo VI é descrito o modelo linearizado para o problema do Fluxo de Carga, que consiste em uma simplificação do modelo não-linear que é muito utilizada em estudos de planejamento. Fabiano Rectangle Análise de Sistemas de Potência (ASP) Bibliografia – Sérgio Haffner Versão: 3/3/2008 Página 1 de 1 Bibliografia 1. Alcir J. Monticelli (1983). Fluxo de carga em redes de energia elétrica. Edgar Blücher. 2. Alcir J. Monticelli, Ariovaldo V. Garcia (2003). Introdução a sistemas de energia elétrica. Editora da Unicamp. 3. Alcir Monticelli, Ariovaldo Garcia, Osvaldo Saavedra (1990). Fast decoupled load flow: hypothesis, derivations and testing, IEEE Transactions on Power Systems, Vol. 4, No. 4, November, pp. 1425-1431. 4. Arthur R. Bergen, Vijay Vittal (2000). Power systems analysis. Prentice Hall. 5. Charles A. Gross (1986). Power system analysis. J. Wiley. 621.3191 G878p 6. Dorel Soares Ramos (1982). Sistemas elétricos de potência: regime permanente. Guanabara Dois. 621.3191 R175s 7. IEEE recommended practice for industrial and commercial power systems analysis (1997). IEEE. 621.31042 I42i 8. John J. Grainger, William D. Stevenson Jr. (1994). Power system analysis. McGraw-Hill. 621.3191 G743 9. J. Arrillaga, N. R. Watson (2001) Computer modelling of electrical power systems. John Willey & Sons Ltd. 10. Hadi Saadat (1999). Power system analysis. McGraw-Hill, New York, 697p. 11. O. I. Elgerd (1981). Introdução à teoria de sistemas de energia elétrica. McGraw Hill do Brasil. 621.3191 E41ib (Edição 1981) 621.3191 E41ia (Edição 1978) 621.3191 E41i (Edição 1970) 12. Syed A. Nasar (1991). Sistemas eléctricos de potencia. McGraw-Hill. 13. Turan Gonen (1988). Modern power system analysis. J. Wiley. 621.3191 G638m 14. W. D. Stevenson Jr. (1986). Elementos de análise de sistemas de potência. McGraw-Hill. 621.3191 S847eb (edição de 1981) 621.3191 S847ea (edição de 1978) Fabiano Rectangle Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 1 de 22 I – Introdução ao estudo de sistemas de potência I.1 – Representação fasorial Nos circuitos elétricos assintoticamente estáveis 1 , a análise do regime permanente senoidal pode ser realizada através da simples operação com números complexos por intermédio da transformada fasorial. Na análise fasorial, todas as correntes e tensões senoidais são representadas por números complexos que quantificam a amplitude e o ângulo de fase das senóides, sendo a freqüência destas considerada implicitamente. Qualquer função do tipo senoidal pode ser representada pela função ( ) ( )φω += tGtg cos através da escolha dos valores adequados para: G – valor máximo (amplitude); T f π πω 2 2 == – velocidade angular [rad/s]; f – freqüência [Hz]; T – período [s]; φ – ângulo de fase [rad]. A Figura I.1 apresenta o gráfico de uma função senoidal genérica, indicando os valores de G e φ. t [rad] g(t) −φ G -G ω Figura I.1 – Função tipo senoidal. Observar que quando o ângulo de fase φ é igual a 2 π− , a função cosseno transforma-se em um seno, conforme mostra a Figura I.2, ou seja, são válidas as seguintes relações: += 2 sencos π ωω tt −= 2 cossen π ωω tt 1 Circuitos assintoticamente estáveis são aqueles que não apresentam nenhuma das raízes de sua equação característica no eixo imaginário ou no semiplano direito do plano complexo. Neste caso, a resposta natural tende a zero: ( ) 0lim = ∞→ tynt e a resposta completa tende à sua resposta forçada: ( ) ( ) ( ) ( )tytytyty ffntt =+= ∞→∞→ limlim Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 2 de 22 π/2 ω t [rad] cos sen Figura I.2 – Relação entre as funções seno e cosseno. Define-se como defasagem a diferença entre os ângulos de fases de duas funções do tipo senoidal demesma velocidade angular ω. Sendo ( ) ( )111 cos φω += tGtg e ( ) −+= 876 2 122 cos φ αφωtGtg , a defasagem entre ( )tg1 e ( )tg 2 é dada por ( ) ααφφφφ =−−=− 1121 , conforme ilustra a Figura I.3. α g1(t) g2(t) ω t [rad] Figura I.3 – Defasagem entre duas funções senoidais. Assim, pode-se dizer que: ( )tg1 está adiantada em relação à ( )tg 2 do ângulo αααα e ( )tg 2 está atrasada em relação à ( )tg1 do ângulo αααα. Considere a função senoidal geral: ( ) ( )φω += tYty cosmax (I.1) Note que a função tem três parâmetros: maxY – amplitude ω – velocidade angular φ – ângulo de fase Observar que qualquer função senoidal pode ser representada através da escolha adequada de maxY , ω e φ . Utilizando a identidade de Euler: θθθ sencos je j += Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 3 de 22 ( ) ( ) ( )[ ] ( ) ( )[ ] ( )[ ] [ ] = ===+++= +=+= + tj Y j tjjtj ee Y eeYeYtjYtY tYtYty ωφ ωφφω φωφω φωφω 48476 2 Re2 ReResencosRe cosRecos max maxmaxmaxmax maxmax ( ) ( )tjeYty ωRe2= (I.2) onde φje Y Y 2 max = é definido como a representação fasorial de ( )ty ou a transformada fasorial da função senoidal ( )ty . Observar que a transformada fasorial transfere a função senoidal do domínio do tempo para o domínio dos números complexos, que também é chamada de domínio da freqüência, já que a resposta envolve implicitamente uma função senoidal de freqüência ω. Notar que Y contém 2 /3 das informações de ( )ty a saber, maxY e φ . Considerando 2 maxYY = , o valor RMS 2 de ( )ty , tem-se: φφ YYeY j == (I.3) A representação gráfica em um sistema coordenado de um fasor genérico encontra-se na Figura I.4. φcosY φsenY φYY = Im Re φ Figura I.4 – Representação gráfica do fasor Y Observar que o fasor é diferente de um vetor porque a posição angular do fasor representa posição no tempo; não no espaço. Resumo: ( ) ( )φω += tYty cosmax ou ( ) ( ) tjeYty ωRe2= φ φ YYeY j == Forma polar 2 maxYY = φφ sencos jYYY += Forma retangular 2 maxYY = 2 “Root Mean Square” ou valor quadrático médio (eficaz). Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 4 de 22 I.2 – Impedância [ΩΩΩΩ] e admitância [ΩΩΩΩ-1 ou siemens] A impedância Z de um componente ou circuito é a relação entre os fasores tensão e corrente (vide convenção de sinais da Figura 1.5): ( ) = = +== ∆ reatância aresistênci X R jXR I V jZ ω (I.4) A admitância Y de um componente ou circuito é o inverso de sua impedância: ( ) ( ) = = +=== ∆ iasusceptânc acondutânci1 B G jBG V I jZ jY ω ω (I.5) Circuito linear invariante em regime permanente senoidal ( ) [ ]tjeVtv ωRe2= + – ( ) [ ]tjeIti ωRe2= ( ) Y jZ 1 =ω Figura I.5 – Definição de impedância e admitância. Um resumo das relações entre tensão e corrente para os elementos simples encontra-se na Tabela I.1. Tabela I.1 – Relação tensão/corrente dos elementos simples. Elemento Equações Relação de fase Forma fasorial: ( ) [ ]tjeIti ωRe2= ( ) [ ]tjeVtv ωRe2= Diagrama fasorial Relação no tempo ( )tv + – ( )ti R ( ) ( )φω += tVtv cosmax ( ) ( )φω += tIti cosmax ( )ti e ( )tv em fase IRV = I φ V i(t) v(t) ( )tv + – ( )ti L ( ) ( )φω += tVtv cosmax ( ) −+= 2 cosmax π φωtIti ( )ti atrasada de ( )tv de 90 ° ILjV ω= LX L ω= I φ V i(t) v(t) ( )tv + – ( )ti C ( ) ( )φω += tVtv cosmax ( ) ++= 2 cosmax π φωtIti ( )ti adiantada de ( )tv de 90 ° I Cj V ω 1 = C X C ω 1 = I φ V i(t) v(t) Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 5 de 22 I.3 – Associação de impedâncias Para a associação série de impedâncias (vide Figura I.6), a impedância equivalente é dada pela soma das impedâncias de cada um dos componentes, ou seja: neq ZZZZ +++= K21 (I.6) – V + – 1V+ – I 2V+ – nV + 1Z 2Z nZ V + – I eqZ ≡ Figura I.6 – Diagrama para associação série de impedâncias. A expressão (I.6) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Tensões, da forma como segue: n nn eq ZZZ I V I V I V I VVV I V Z +++=+++= +++ == KK K 21 2121 LKT Sabendo que Y Z 1 = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação série, a partir da expressão (I.6): n eq neq YYY Y YYYY 111 11111 21 21 +++ =⇒+++= K K Para a associação paralela de impedâncias (vide Figura I.7), a impedância equivalente é dada pelo inverso da soma dos inversos das impedâncias de cada um dos componentes, ou seja: n eq neq ZZZ Z ZZZZ 111 11111 21 21 +++ =⇒+++= K K (I.7) V + – I 1Z 2Z nZ V + – I eqZ≡ 1I 2I nI Figura I.7 – Diagrama para associação em paralelo de impedâncias. A expressão (I.7) pode ser demonstrada utilizando-se a Lei de Kirchhoff das Correntes, da forma como segue: nn n eq ZZZZ V Z V Z V V III V I V Z 111 1 2121 21 LKC +++ = +++ = +++ == KK K Novamente, sabendo que Y Z 1 = , pode-se determinar a expressão da admitância equivalente da associação série, a partir da expressão (I.7): neq YYYY +++= K21 Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 6 de 22 I.4 – Potência complexa Considere o sistema da Figura I.8 que se encontra em regime permanente senoidal. + )cos()( max φω += tVtv )cos()( max θφω −+= tIti - )(tv )(ti φ V I θ Re Im φ 2 maxV V = θφ −= 2 maxII SISTEMA Figura I.8 – Sistema em regime permanente senoidal. A potência instantânea fornecida para o sistema é dada por: ( ) ( ) ( ) ( ) ( )θφωφω −++== ttIVtitvtp coscosmaxmax (I.8) mas ( ) bababa sensencoscoscos −=+ , daí ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) θφωθφωθφωθφωθφω sensencoscossensencoscoscos +++=−+−−+=−+ ttttt (I.9) Substituindo (I.9) em (I.8), ( ) ( ) ( ) ( )[ ] ( ) ( ) ( )φωφωθφωθ θφωθφωφω ++++= =++++= ttIVtIV tttIVtp sencossencoscos sensencoscoscos maxmax 2 maxmax maxmax (I.10) Mas 2 2cos1 cos2 a a + = e aaa cossen22sen = , logo: ( ) ( )[ ] ( ) ( ) ( ) 2 22sen sencos 22cos1 2 1 cos2 φω φωφω φωφω + =++ ++=+ t tt tt (I.11) Aplicando (I.11) em (I.10), chega-se a: ( ) ( )[ ] ( )φωθφωθ 22sensen 2 22cos1cos 2 maxmaxmaxmax ++++= t IV t IV tp Definindo 2 maxVV = e 2 maxII = como os valores eficazes da tensão e da corrente senoidais, VI IVIV == 222 maxmaxmaxmax chega-se à seguinte expressão: ( ) ( )[ ] ( )φωθφωθ 22sensen22cos1cos ++++= tVItVItp (I.12) A forma de onda da potência instantânea dada por (I.12) apresenta uma parcela constante, igual a θcosVI , e uma parcela variável e alternada variante no tempo, igual a ( ) ( )φωθφωθ 22sensen22coscos +++ tVItVI , cuja freqüência corresponde exatamente ao dobro da freqüência da tensão e da corrente. Quando a tensão está em fase com a corrente, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência instantânea é oscilante e apresenta sempre valores positivos. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 7 de 22 01 2 3 4 5 6 -5 0 5 10 Corrente em fase com a tensão wt v (t ), i (t ), p (t ) v(t) i(t) p(t) Figura I.9 – Gráfico da potência no tempo – corrente em fase com a tensão. Quando a corrente está atrasada de 90°°°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Observar que a função potência é oscilante e apresenta valor médio nulo. 0 1 2 3 4 5 6 -5 0 5 Corrente atrasada de 90 graus wt v (t ), i (t ), p (t ) v(t) i(t) p(t) Figura I.10 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 90 o em relação à tensão. Quando a corrente está adiantada de 90°°°° em relação à tensão, os gráficos das funções tensão, corrente e potência instantâneas são de acordo com a Figura a seguir. Novamente, observar que a função potência é oscilante e apresenta valor médio nulo. 0 1 2 3 4 5 6 -5 0 5 Corrente adiantada de 90 graus wt v (t ), i (t ), p (t ) v(t) i(t) p(t) Figura I.11 – Gráfico da potência no tempo – corrente adiantada de 90 o em relação à tensão. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 8 de 22 Uma situação intermediária é aquela na qual a corrente está atrasada de um ângulo qualquer (por exemplo, 30°, conforme Figura a seguir). Neste caso a potência apresenta valores positivos e negativos, sendo a predominância dos positivos. 0 1 2 3 4 5 6 -5 0 5 10 Corrente atrasada de 30 graus wt v (t ), i (t ), p (t ) v(t) i(t) p(t) Figura I.12 – Gráfico da potência no tempo – corrente atrasada de 30 o em relação à tensão. A partir da expressão (I.12) é fácil determinar o valor da potência ativa (eficaz ou útil, que produz trabalho) que é igual ao valor médio da potência instantânea fornecida ao sistema: ( )[ ] ( )[ ]∫∫ ++++=∆ TT dttVItVI T dttp T P 00 22sensen22cos1cos 1 )( 1 φωθφωθ θcos VIP = [W] (I.13) A potência reativa corresponde ao valor máximo da parcela em ( )φω 22sen +t da potência instantânea: θθ sensenI VIVQ =∆ [var] (I.14) para a qual adota-se a seguinte convenção 3 : INDUTOR: “consome” potência reativa CAPACITOR: “gera” potência reativa A potência aparente é obtida pela combinação das potências ativa e reativa P e Q: 22 QPVIS +== [VA] (I.15) As expressões (I.13), (I.14) e (I.15) sugerem uma relação de triângulo retângulo (similar ao triângulo das impedâncias) na qual a potência aparente S é a hipotenusa, conforme ilustra a Figura I.13. S P jQ IV ∠−∠=θ S P jQ IV ∠−∠=θ Característica INDUTIVA Característica CAPACITIVA Figura I.13 – Triângulo das potências. 3 Observar que para qualquer elemento ou combinação de elementos, a parcela representada pela potência reativa apresenta valor médio nulo, ou seja, não existem geração nem consumo efetivo, na metade do ciclo o elemento absorve energia que será devolvida na metade seguinte do ciclo. A convenção é adequada porque na metade do ciclo em que o indutor está absorvendo energia o capacitor está devolvendo e vice-versa. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 9 de 22 O fator de potência é obtido pela relação entre as potências ativa e aparente: θ θ cos cos === VI VI S P FP Utilizando-se os fasores tensão e corrente, θφ φ −= = II VV pode-se definir a potência complexa através do produto do fasor tensão pelo conjugado do fasor corrente: jQPjVIVIVIIVIVS +=+==+−=⋅= θθθθφφ sencos * (I.16) Notar que desta forma, o ângulo da potência só depende do ângulo entre a tensão e a corrente (θ), conforme ocorre nas expressões (I.13), (I.14) e (I.15). I.5 – Sentido do fluxo de potência Considere os dois sistemas elétricos interligados mostrados na Figura I.14. + - V I αVV = βII = SISTEMA A SISTEMA B Figura I.14 – Situação geral do fluxo de potência em circuitos CA. De acordo com a notação da Figura I.14, a potência complexa fornecida para o Sistema B pelo Sistema A é dada por: ( ) ( ) jQPjVIVIVIIVIVS +=−+−=−=−=⋅= βαβαβαβα sencos * O sentido do fluxo de potência ativa P e reativa Q entre os dois sistemas para βαψ −= variando de 0 a 360 o está mostrado na Figura I.15. oo 900 : : << → → ψ BA BA Q P oo 18090 : : << → → ψ BA AB Q P oo 360270 : : << → → ψ AB BA Q P oo 270180 : : << → → ψ AB AB Q P P [W] Q [var] βαψ −= αVV = βII = Figura I.15 – Sentido dos fluxos de potência ativa (P) e reativa (Q) entre os Sistemas A e B. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 10 de 22 Na Figura I.15, observar que quando o ângulo de abertura é igual a 100 o ( o100=ψ ), o valor de ψcos é negativo e, portanto, o fluxo de potência ativa de A para B também é pois ψcosVIP = . Isto significa que o fluxo de potência ativa neste caso é de B para A. Por outro lado, o valor de ψsen é positivo e, portanto, o fluxo de potência reativa de A para B também é, pois ψsenVIQ = . Isto significa que o fluxo de potência reativa neste caso é de A para B. Observar que dependendo do ângulo de abertura existente entre os fasores tensão e corrente é possível qualquer combinação de fluxo de potências ativa e reativa entre os dois sistemas. I.6 – Fonte trifásica ideal Uma fonte trifásica ideal é constituída por três fontes de tensão em conexão estrela ou triângulo, conforme ilustra a Figura I.16. BNV ANV + + N CNV + ABV BCV CAV + – + – – + (opcional) A B C ABV BCV CAV + + + ABV BCV CAV + – – – + + N (a) Conexão estrela (b) Conexão triângulo. Figura I.16 – Fonte trifásica, ligação estrela. As diferenças de potencial entre as fases e o neutro (referência) são denominadas tensões de fase; as diferenças de potencial entre as fases 2 a dois são denominadas tensões de linha. Na seqüência ABC, o sistema é formado pelas seguintes tensões de fase ( )CNBNAN VVV ,, e de linha ( )ACCACBBCBAAB VVVVVV −=−=−= ,, , ilustradas na Figura I.17: 0 φ VV AN = oo 30303 LBNANAB VVVVV ==−= φ o120−= φ VV BN oo 90903 −=−=−= LCNBNBC VVVVV φ o120 φ VV CN = oo 1501503 LANCNCA VVVVV ==−= φ Tensões de Fase (φ): ANV ω CNV BNV CNBNAN VVV ;; ABV BCV CAV ANV ω CNV BNV ABV BCV CAV Tensões de Linha (L): CABCAB VVV ;; CACBBA VVV ;; BAV CBV ACV Figura I.17 – Tensão de fase e de linha em um sistema trifásico simétrico (seqüência ABC). Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 11 de 22 A constante que relaciona a magnitude da tensão de fase com a de linha ( ) φ VVL 3= pode ser obtida, conforme mostrado na Figura I.18. ANV BNV BNANAB VVV −= o120 o30 o30 φ VV VVVV L ANANABL 3 330cos2 = === o BNV− o60 Figura I.18 – Relação entre as tensões de fase e de linha. I.7 – Carga trifásica ideal A carga trifásica ideal é constituída por três impedâncias de igual valor conectadas em estrela ou triângulo, conforme mostra a Figura I.19. N YZ YZ YZ A B C N ∆Z ∆Z ∆Z A B C (a) Ligação estrela. (b) Ligação malha ou triângulo. Figura I.19 – Carga trifásica equilibrada. A equivalência entre uma carga equilibrada conectada em estrela com outra em triângulo é: YZZ 3=∆ (I.17) I.8 – Potência complexa em circuitos trifásicos equilibrados Para um sistema trifásico qualquer (a três ou quatro fios, ou seja, com ou sem condutor neutro), conforme o ilustrado na Figura I.20, a potência complexa fornecida pelo Sistema A parao Sistema B é dada por: 333322221111 * 33 * 22 * 113 βαβαβαφ −+−+−=⋅+⋅+⋅= IVIVIVIVIVIVS NNNNNN Substituindo iii βαθ −= e separando a parte real da imaginária, chega-se a: ( ) 33322211133 coscoscosRe θθθφφ IVIVIVSP NNN ++== ( ) 33322211133 sensensenIm θθθφφ IVIVIVSQ NNN ++== φφφ 333 jQPS += Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 12 de 22 1φ 2φ 3φ 1I 2I 3I NI NV 1 + NV 2 + NV 3 + N Sistema A Sistema B 333 222 111 333 222 111 β β β α α α II II II VV VV VV NN NN NN = = = = = = 333 222 111 βαθ βαθ βαθ −= −= −= Figura I.20 – Sistema trifásico para a determinação da potência complexa. O fator de potência médio da potência fornecida pelo Sistema A para o Sistema B é dado por: φ φ 3 3 médio S P FP = As potências aparentes fornecidas pelas fases são dadas por: 11 2 1 2 11 IVQPS N=+= 22 2 2 2 22 IVQPS N=+= 33 2 3 2 33 IVQPS N=+= e os fatores de potência desenvolvidos em cada uma das fases são dados por: 1 1 1 1 cosθ== S P FP 2 2 2 2 cosθ== S P FP 3 3 3 3 cosθ== S P FP Quando o sistema trifásico é simétrico e alimenta uma carga equilibrada, os ângulos de defasagem entre os fasores tensão e corrente das fases são iguais ( )θθθθ === 321 e as potências ativa, reativa e aparente totais são dadas por: θθ φφ cos3cos33 LLL IVIVP == θθ φφ sen3sen33 LLL IVIVQ == LLL IVIVS 333 == φφ sendo o fator de potência expresso por: θ φ φ φ cos 3 3 3 == S P FP Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 13 de 22 Ainda, para um sistema trifásico simétrico alimentando uma carga equilibrada, tem-se4: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )θφωφω θφωφω θφωφω −++=++= −−+=−+= −+=+= oo oo 120cos120cos 120cos120cos coscos maxmax maxmax maxmax tItitVtv tItitVtv tItitVtv CC BB AA Utilizando a definição de potência instantânea, tem-se: ( ) ( ) ( ) ( ) ( )θφωφω −++== ttIVtitvtp AAA coscosmaxmax (I.18) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )θφωφω −−+−+== oo 120cos120cosmaxmax ttIVtitvtp BBB (I.19) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )θφωφω −++++== oo 120cos120cosmaxmax ttIVtitvtp CCC (I.20) sendo a potência total dada por: ( ) ( ) ( ) ( )tptptptp CBA ++=φ3 ( ) ( ) ( ) ( ) ( )[ ( ) ( )]θφωφω θφωφωθφωφω φ −+++++ +−−+−++−++= oo oo 120cos120cos 120cos120coscoscos3 tt ttttIVtp mm (I.21) Das expressões (I.18), (I.19) e (I.20), têm-se 5 : ( ) ( ) ( )[ ] ( ) ( ) ( )[ ] ( )[ ] ( ) ( ) ( )[ ] ( )[ ]o ooo o ooo 12022coscos 2 1 24022coscos 2 1 120cos120cos 12022coscos 2 1 24022coscos 2 1 120cos120cos 22coscos 2 1 coscos −−++= =−+++=−++++ +−++= =−−++=−−+−+ −++=−++ θφωθ θφωθθφωφω θφωθ θφωθθφωφω θφωθθφωφω t ttt t ttt ttt Substituindo as expressões anteriores na expressão (I.21), chega-se a: ( ) ( ) ( ) ( ) θθθ θφωθφωθφωθ φ φ cos33cos 2 3cos3 2 1 12022cos12022cos22coscos3 2 1 1 0 3 VIP IV IV tttIVtp mm mm mm ==== = −−+++−++−++= = 4444444444444 84444444444444 76 oo Deste modo, a potência trifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado6, através de tensões simétricas, é constante. Assim, embora a potência instantânea fornecida por intermédio de cada uma das fases seja variável, o somatório de todas as contribuições é constante. 4 Foi utilizada a seqüência ABC mas o resultado permanece válido para a seqüência ACB. 5 Lembrar que: ( ) ( )[ ]bababa ++−= coscos 2 1 coscos 6 Observar que o resultado obtido pode ser estendido para qualquer sistema polifásico simétrico que alimente cargas equilibradas, ou seja, a potência polifásica instantânea fornecida para um sistema equilibrado, alimentado por tensões simétricas, é constante. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 14 de 22 I.9 – Análise por fase e diagrama unifilar No estudo do regime permanente do sistema de energia elétrica, utiliza-se a análise por fase pois o sistema é considerado equilibrado, da geração ao consumo, ou seja: a) as fontes do sistema são consideradas simétricas; b) as impedâncias das fases são consideradas iguais e c) as cargas são consideradas equilibradas. Desta forma, o resultado (tensão, corrente, etc.) de uma fase pode ser utilizado para as demais desde que se façam os ajustes de fase necessários. Exemplo I.1 – Uma fonte trifásica, 2400 V, seqüência ABC, alimenta duas cargas conectadas em paralelo: • Carga 1: 300 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e • Carga 2: 144 kW, fator de potência igual a 0,6 capacitivo. Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de ANV é igual a zero), determinar: a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância). b) As correntes de linha das Fases A, B e C. Solução Exemplo I.1: a) Inicialmente, determina-se o fasor potência complexa referente a cada uma das cargas: Carga 1: kVA 300 1 carga 3 =φS kW 2403008,0 1 carga 31 1 carga 3 =×=×= φφ SFPP ( ) ( ) kvar 180240300 22 21 carga 3 21 carga 3 1 carga 3 =−=−= φφφ PSQ ( ) kVA 36,9300kVA 180240 1 carga 3 o =+= jS φ Carga 2: kW 144 2 carga 3 =φP kVA 240 6,0 144 2 2 carga 32 carga 3 === FP P S φ φ ( ) ( ) kvar 192144240 22 22 carga 3 22 carga 3 2 carga 3 −=−=−−= φφφ PSQ ( ) kVA 53,1240kVA 192144 2 carga 3 o −=−= jS φ Para a Fase A, tem-se: Carga 1: ( ) kVA 36,9100kVA 6080 3 1 carga 31 o =+== j S S A φ Carga 2: ( ) kVA 15380kVA 6448 3 2 carga 32 o,j S S A −=−== φ Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 15 de 22 Solução Exemplo I.1 (continuação): Conhecendo o valor da tensão de fase da Fase A, V 0 3 2400 0 3 oo == L AN V V , e a expressão da potência desenvolvida na Fase A: * * =⇒= AN A AAANA V S IIVS pode-se determinar a corrente desenvolvida nas Cargas 1 e 2, como segue: ( ) A 30,437457A 36,92,72 0 36,9100000 * 3 2400 * 1 1 j, V S I AN A A −=−= = = o o o ( ) A 19,4664,34A 3,157,57 0 1,5380000 * 3 2400 * 2 2 j V S I AN A A +== − = = o o o Para o equivalente em estrela, ( ) Ω+=Ω= − == 52,1136,15 36,92,19 36,92,72 0 3 2400 1 1 j I V Z A AN Y o o o ( ) Ω−=Ω−= − == 2,194,14 3,1524 3,157,57 0 3 2400 2 2 j I V Z A AN Y o o o O circuito equivalente para a Fase A encontra-se na Figura I.21. V 0 3 2400 o AI + 2 AI 1 AI Ω 36,15 Ω 52,11j Ω 4,14 Ω− 2,19j Figura I.21 – Circuito equivalente para a Fase A. b) De acordo com o diagrama da Figura I.21, a corrente de linha da Fase A é dada por: ( ) A 8,14,92A 89,238,9219,4664,3430,437457 21 o =+=++−=+= jjj,III AAA Levando em conta a simetria do sistema trifásico e a seqüência ABC, tem-se: A 2,11892,4A 1208,14,92 ooo −=−=BI A 8,12192,4A 1208,14,92 ooo =+=CI Observar que quando se realiza análise por fase é melhor empregar o circuito equivalente em estrela; se a conexão do equipamento é em triângulo, pode-se converter para o seu circuito equivalente em estrela. Como conseqüência, as linhas de baixo dos circuitos equivalentes por fase representam o neutro, as tensões são as de fase e as correntes são de linhas (na conexão estrela, a corrente de fase é igual à corrente de linha). Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência –Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 16 de 22 Na Figura I.22, observa-se a representação de um sistema de energia elétrica através do diagrama unifilar, do diagrama trifásico (trifilar) de impedâncias e do diagrama de impedância por fase. No diagrama unifilar é possível representar a topologia do sistema (ligações), os valores das grandezas elétricas dos componentes e sua forma de conexão. O diagrama trifilar de impedâncias representa o circuito elétrico equivalente ao sistema de energia elétrica. O diagrama de impedância por fase representa uma simplificação do diagrama trifásico sendo utilizado para determinar os valores das grandezas elétricas do sistema para uma fase (posteriormente, este resultado é estendido para as demais fases). G1 G2 1 2 3 4 T1 T2 Y-Y Y-Y • • • • (a) Diagrama unifilar. • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • (b) Diagrama trifilar de impedância. • • • • • • (c) Diagrama de impedância por fase (em pu). Gerador Transformador 1 Transformador 2 Carga e Gerador 2 G1 G1 G1 G1 G2 G2 G2 G2 Linha de Transmissão Figura I.22 – Representação do sistema de energia elétrica. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 17 de 22 Exercício I.1 – Uma fonte trifásica, 13,8 kV, seqüência ABC, alimenta por intermédio de uma linha com impedância série de ( )Ω+ 44 j , duas cargas conectadas em paralelo: • Carga 1: 500 kVA, fator de potência igual a 0,8 indutivo e • Carga 2: 150 kvar, capacitivo. Se a Fase A é utilizada como referência angular (ou seja, o ângulo de fase de ANV é igual a zero), determinar: a) O circuito equivalente por fase (diagrama de impedância). b) As correntes de linha das Fases A, B e C. I.10 – O sistema por unidade (pu) Freqüentemente, na análise de sistemas de energia elétrica ao invés de serem utilizadas as unidades originais para as grandezas envolvidas (tensão, corrente, potência, etc.) são utilizadas unidades relativas (por unidade ou, simplesmente, pu), obtidas através da normalização dos valores originais destas grandezas (em V, A, W, etc.) por valores pré-estabelecidos para cada grandeza, denominados valores de base. Realizando esta normalização em todas as grandezas do sistema, é possível: • Manter os parâmetros do sistema elétrico dentro de uma faixa de valores conhecidos evitando, portanto, erros grosseiros. Por exemplo, quando se utiliza o valor nominal da tensão como valor de referência (valor de base), pode-se verificar a partir do valor normalizado da tensão (em pu) sua distância do valor desejado (nominal). Valores em pu próximos a unidade significam proximidades do valor nominal; valores de tensão muito abaixo ou acima de 1 pu representam condições anormais de operação. • Eliminar todos os transformadores ideais do sistema elétrico. • A tensão de operação do sistema permanece sempre próxima da unidade. • Todas as grandezas possuem a mesma unidade ou pu (embora os valores de base sejam diferentes para cada uma das grandezas). Para realizar a transformação das grandezas para pu basta dividir o valor destas pelo seu valor de base, ou seja: basevalor atualvalor pu emvalor = (I.22) O valor de base deve ser um número real; o valor atual pode ser um número complexo (se for utilizada a forma polar, transforma-se apenas a magnitude da grandeza, mantendo-se o ângulo na unidade original). A grandeza de base definida para todo o sistema de energia elétrica é a potência elétrica, base3φS (geralmente 100 MVA): basebase3 base3 base 3 3 φφ φ φ SS S S =⇔= [MVA] (I.23) A tensão base, baseV , geralmente corresponde à tensão nominal do sistema na região de interesse: base base base base 3 3 φφ VV V V L L =⇔= [kV] (I.24) A corrente base, baseI , e a impedância base, baseZ , são obtidas a partir da potência e da tensão de base: base base 3 base base 3 base base base base 3 3 3 LL YL V S V S V S II φ φ φ φ ==== [kA] (I.25) Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 18 de 22 base base 3base base 33 L L V SI I φ == ∆ [kA] (I.26) base 3 2 base base base base φ φ S V I V Z L Y Y == [Ω] (I.27) base 3 2 base base base base base 333 φ φ S V I V ZZ L Y Y ===∆ [Ω] (I.28) Têm-se, assim, duas classes de grandezas de base: • Primárias – Nesta classe se incluem a potência base, definida para todo o sistema, e a tensão base, que varia em função da tensão nominal da região em análise. • Secundárias – Nesta classe se incluem a corrente base e a impedância base que são calculadas em função da potência base (definida para todo o sistema) e dos valores nominais de tensão, utilizados como tensão base na região em análise. Existem outras formas de normalização possível, com definições diversas de grandezas nas classes grandezas primárias e secundárias, entretanto esta é a forma usual na análise de sistemas de energia elétrica. Uma operação bastante freqüente na modelagem de sistemas elétricos é a mudança de base de valores de impedâncias. Um exemplo clássico da necessidade de mudança de base é a compatibilização do valor das impedâncias dos transformadores, usualmente fornecidos em seu valor percentual, tendo como potência base a potência nominal do equipamento e como tensões base as tensões terminais dos enrolamentos. Para realizar a mudança de base de uma impedância na base 1, ( )1 basepu Z , para a base 2, ( )2 basepu Z , deve-se proceder como segue: ( ) ( ) 2 base 1 base 1 basepu 2 basepu Z Z ZZ = (I.29) ( ) ( ) 1 base 3 2 base 3 2 2 base 1 base 1 basepu 2 basepu φ φ S S V V ZZ L L = (I.30) Exemplo I.2 – Considere o sistema do Exemplo I.1. Supondo que kVA 300base3 =φS e kV 4,2base =LV , determinar: a) As bases do sistema por unidade. b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade. c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères. Solução Exemplo I.2: a) Utilizando as expressões (I.23), (I.24), (I.25) e (I.27) tem-se: kVA 100 3 300000 3 base3 base === φ φ S S V 1386 3 2400 3 base base === LVV φ A 2,72 1386 100000 base base base === φ φ V S IY Ω=== 2,19 2,72 1386 base base base Y Y I V Z φ Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 19 de 22 Solução Exemplo I.2 (continuação): b) De acordo com os valores obtidos no Exemplo I.1, tem-se: ( ) pu 6,08,0pu 36,91 2,19 36,92,19 base 1 1 pu j Z Z Z Y Y Y +==== o o ( ) pu 00,175,0pu 3,1525,1 2,19 3,1524 base 2 2 pu j Z Z Z Y Y Y −=−= − == o o ( ) pu 01pu 01 1386 0 3 2400 base pu j V V V AN AN +==== o o φ O circuito equivalente por fase em valores por unidade encontra-se na Figura I.23. pu 01 o pu AI + 2 pu AI 1 pu AI pu 8,0 pu 6,0j pu 75,0 pu 00,1j− Figura I.23 – Circuito equivalente para a Fase A em pu. c) Do circuito da Figura I.23, tem-se: ( ) pu 6,08,0pu 87,361 6,08,0 011 pu j j I A −=−= + = o o ( ) pu 64,048,0pu 13,538,0 00,175,0 012 pu j j I A +== − = o o ( ) pu 04,028,1pu 8,128,164,048,06,08,0 2 pu 1 pu pu jjIII AAA +==++−=+= o ( ) A 89,238,92A 8,192,472,28,128,1base pu jIII YAA +==×== oo Observar que o valor obtido em ampères é o mesmo calculado no Exemplo I.1. Exemplo I.3 – A Figura I.24 mostra o diagrama unifilar de um sistema elétrico trifásico. G1 1 2 3 4 T1: 12 : NN Y-Y Y-Y T2:′′ 21 : NN 2,4 kV 24 kV 12 kV 1000 A Figura I.24 – Diagrama unifilar do Exemplo I.3. Considere que o comprimento da linha entre os dois transformadores é desprezível, que a capacidade do gerador φ3 é de 4160 kVA (2,4 kV e 1000 A), que este opera em condição nominal ( )A 1000=LI alimentando uma carga puramente indutiva. A potência nominal do transformador trifásico T1 é 6000 kVA (2,4/24 kV Y/Y) com reatância de 0,04 pu. T2 tem capacidade nominal de 4000 kVA, sendo constituído por um banco de três transformadores monofásicos (24/12 kV Y/Y) com reatância de 4% cada. Determinar: Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 20 de 22 a) A potência base. b) A tensão de linha base. c) A impedância base. d) A corrente base. e) Resuma os valores base em uma tabela. f) Os valores das correntes em A. g) A corrente em pu. h) O novo valor das reatâncias dos transformadores considerando sua nova base. i) O valor pu das tensões das Barras 1,2 e 4. j) A potência aparente nas Barras 1,2 e 4. Solução Exemplo I.3: a) A potência base é selecionada arbitrariamente como: kVA 2080base 3 =φS . b) Para o circuito em 2,4 kV arbitra-se o valor de kV 5,2base =LV . As demais tensões de base são calculadas utilizando as relações de transformação de T1 e T2: 210 2 1 2 1 = ′ ′ = N N N N Assim, para os demais circuitos: Circuito em 24 kV: kV 25base =LV Circuito em 12 kV: kV 5,12base =LV c) As impedâncias de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão: Circuito em 2,4 kV: Ω=== 005,3 2080000 25002 base 3 2 base base φ S V Z LY Circuito em 24 kV: Ω=== 5,300 2080000 250002 base 3 2 base base φ S V Z LY Circuito em 12 kV: Ω=== 1,75 2080000 125002 base 3 2 base base φ S V Z LY d) As correntes de base são calculadas a partir dos valores base da potência e da tensão: Circuito em 2,4 kV: A 480 25003 2080000 3 base base 3 base === L L V S I φ Circuito em 24 kV: A 48 250003 2080000 3 base base 3 base === L L V S I φ Circuito em 12 kV: A 96 125003 2080000 3 base base 3 base === L L V S I φ Caso fossem escolhidos outros valores base nos itens (a) e (b), os valores calculados para a impedância e corrente base poderiam ser diferentes dos valores obtidos nos itens (c) e (d). Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 21 de 22 Solução Exemplo I.3 (continuação): e) Os valores base estão sumarizados na Tabela I.2. Tabela I.2 – Valores base do Exemplo I.3. [ ]kV NOMINAL LV [ ]kV base LV [ ]Ω base YZ [ ]A base LI 2,4 2,5 3,005 480 24 25 300,5 48 12 12,5 75,1 96 kVA 2080base 3 =φS f) Conhecendo-se a corrente que sai do gerador A 1000 kV 4,2 =LI , pode-se determinar os valores das correntes que circulam na linha e na carga: Circuito em 24 kV: A 1001000 10 1kV 4,2 1 2kV 24 === LL I N N I Circuito em 12 kV: A 200100 1 2kV 24 2 1kV 5,12 == ′ ′ = LL I N N I g) A corrente por unidade é a mesma para todos os circuitos: Circuito em 2,4 kV: pu 08,2 480 1000 kV 4,2 base kV 4,2 pu === L L L I I I Circuito em 24 kV: pu 08,2 48 100 kV 24 base kV 24 pu === L L L I I I Circuito em 12 kV: pu 08,2 96 200 kV 5,12 base kV 5,12 pu === L L L I I I Observar que o valor em pu obtido neste item poderia ser outro caso fossem escolhidos outros valores de base nos itens (a) e (b). h) Utilizando a expressão de conversão de base, considerando que os dados do transformador se encontram na base deste (base 1: valores nominais de potência e tensão), tem-se: ( ) ( ) pu 0128,0 6000000 2080000 2500 2400 04,0 2 1 base 3 2 base 3 2 2 base 1 base 1 basepu T1pu jj S S V V ZZ L L = = = φ φ ( ) ( ) pu 0192,0 4000000 2080000 12500 12000 04,0 2 1 base 3 2 base 3 2 2 base 1 base 1 basepu T2pu jj S S V V ZZ L L = = = φ φ Verificar que o resultado é o mesmo para o lado de alta tensão. i) A Figura I.25 apresenta o diagrama de impedância por fase do sistema da Figura I.24, indicando os fasores tensão de interesse. + – + – + – + – • • G1 pu 0128,0T1 jZ = pu 0192,0T2 jZ = pu 08,2=I • • 1 2 3 4 1V 2V 3V 4V Figura I.25 – Diagrama de impedância por fase (em pu) do sistema da Figura I.24. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Introdução ao estudo de sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 26/2/2008 Página 22 de 22 Solução Exemplo I.3 (continuação): Para o gerador, que opera em tensão nominal, tem-se: pu 096,0 2500 02400 base NOMINAL 1 o o === L L V V V Considerando que a corrente que circula no circuito está atrasada de 90 o em relação à tensão (pois o circuito é constituído exclusivamente por reatâncias indutivas): pu 093,09008,20128,0096,01132 ooo =−×−=−== jIZVVV T ( ) ( ) pu 089,09008,20192,00128,0096,0211224 ooo =−×+−=+−=−= jjIZZVIZVV TTT j) A potência complexa pode ser obtida a partir dos fasores tensão e corrente: [ ] [ ] [ ] pu 85,1pu 9085,19008,2089,0 pu 93,1pu 9093,19008,2093,0 pu 00,2pu 9000,29008,2096,0 4 ** 444 2 ** 2232 1 ** 111 =⇒=−== =⇒=−=== =⇒=−== SIVS SIVSS SIVS ooo ooo ooo Observar que a potência aparente entregue pelo gerador é de 2,00 pu e que na carga chega é de 1,85 pu, sendo a diferença “consumida” 7 pelas reatâncias dos transformadores. Exercício I.2 – Considere o sistema do Exercício I.1. Supondo que kVA 100base3 =φS e kV 8,13base =LV , determinar: a) As bases do sistema por unidade. b) Desenhar o circuito equivalente por fase em valores por unidade. c) Determinar o fasor corrente da Fase A em valores por unidade e em ampères. 7 De acordo com a convenção de sinais para potência reativa, os indutores consomem e os capacitores geram. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 1 de 22 II – Considerações operacionais sobre os sistemas de potência O objetivo fundamental de um sistema de energia elétrica é fornecer energia para as cargas existentes em uma determinada região geográfica. Quando o sistema é adequadamente planejado e operado, deve atender aos seguintes requisitos: • Fornecer energia nos locais exigidos pelos consumidores. • Como a carga demandada pelos consumidores varia ao longo do tempo (horas do dia, dias da semana e meses do ano), o sistema deve estar apto a fornecer potências ativa e reativa variáveis, conforme esta demanda. • A energia fornecida deve obedecer a certas condições mínimas, relacionadas com a “qualidade”. Entre os fatores que determinam esta qualidade se destacam: freqüência, magnitude da tensão, forma de onda e confiabilidade. • O sistema deve buscar custos mínimos (econômicos e ambientais). Neste capítulo, serão descritos os mecanismos que atuam no controle das potências ativa e reativa do sistema de energia elétrica. II.1 – Capacidade de transmissão Considere uma linha de transmissão do sistema elétrico, representada pela sua reatância série kmx , conectada entre duas barras, conforme mostrado na Figura II.1. k kmI kmkm jxZ = m kkk VV θ= mmm VV θ= kmS Figura II.1 – Linha de transmissão do sistema elétrico. Os fluxos de corrente kmI e potência kmS podem ser obtidos a partir dos fasores tensão das barras k e m ( kkk VV θ= e mmm VV θ= , respectivamente): km mk km mk km jx VV Z VV I − = − = ( ) ( ) ( ) ( )[ ] km kmkmmkk km kmmkk km mkmkkkm mmkkk km mkkj j km mk VV kk km mk k km mk kkmkkm x jVVVj x VVVj x VVVj x VVVj xj VVVj jx VVVV jx VV V jx VV VIVS kk θθ θθθθθ sencos 2 222 2 *2 ***** * 2 2 +− = = − = −− = −− = = − − = − − = − − = − == × == 876 ( ) km kmmkkkmmk km x VVVjVV S θθ cossen 2 −+ = (II.1) Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 2 de 22 Quando todas as tensões das expressões anteriores correspondem aos valores de linha em kV e reatância estiver em Ω, todas as potências obtidas serão os valores trifásicos dados em MW e Mvar. Obviamente, por outro lado, quando todas as grandezas estão representadas em pu, os resultados das expressões anteriores também estarão em pu (neste caso não há distinção entre valores de fase/linha e por fase/trifásico). Definindo mkkm θθθδ −== , como a abertura angular da linha de transmissão, e separando as partes real e imaginária, chega-se a: { } δθ sensenRe km mk km km mk kmkm x VV x VV SP === (II.2) { } km mkk km kmmkk kmkm x VVV x VVV SQ δθ coscos Im 22 − = − == (II.3) As equações (II.2) e (II.3) descrevem a forma pela qual as potências ativa e reativa são transferidas entre duas barras de um sistema. De acordo com (II.2), pode-se observar que para valores constantes 1 de tensões terminais kV e mV o fluxo de potência ativa obedece à seguinte expressão: δsenmaxkmkm PP = sendo km mk km x VV P = max o maior valor de potência ativa transmitida pela linha de transmissão km (capacidade de transmissão estática) ou seu limite de estabilidade estática, somente atingido quando 1sen ±=δ , ou seja, quando o90±=δ . Assim, a potência ativa transmitida por uma linha de transmissão está intimamente relacionada com sua abertura angular δ, conforme ilustra a Figura II.2. -150 -120 -90 -60 -30 0 30 60 90 120 150 -100 -50 0 50 100 [ ]max de % kmkm PP ][ okmθδ = Potência transmitida de maneira estável de m para k Potência transmitida de maneira estável de k para m Região de instabilidade Região de instabilidade Figura II.2 – Potência ativa em uma linha de transmissão em função de sua abertura angular. 1 Observar que as tensões de operação em regime permanente dos sistemas de energia elétrica, usualmente, não sofrem variações acentuadas e permanecem próximas aos seus valores nominais. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 3 de 22 A capacidade de transmissão de uma linha é proporcional ao quadrado da tensão de operação e inversamente proporcional à sua reatância. Tais características são muito importantes na especificação das linhas de transmissão, ou seja, na definição de suas características nominais (nível de tensão, geometria das torres e condutores). Entretanto, na prática, o sistema opera longe do limite de estabilidade estática, pois à medida que nos aproximamos deste limite o sistema torna-se eletricamente fraco, ou seja, cada vez são necessários maiores incrementos no ângulo de abertura para um mesmo incremento na potência transmitida. Assim, raramente as linhas operam com ângulos superiores a 30° ou 45°. Exemplo II.1 – Determinar a capacidade de transmissão estática de duas linhas de transmissão cujo comprimento é de 200 km: • Linha 1: 230 kV, 1 condutor por fase com reatância 0,5 Ω/km. • Linha 2: 765 kV, 4 condutores por fase com reatância 0,35 Ω/km. Solução Exemplo II.1: Para ambas as linhas, consideram-se que as tensões terminais são iguais aos seus valores nominais. Para a Linha 1, cuja reatância total é igual a Ω=×= Ω 100km 2005,0 km1x , a capacidade de transmissão trifásica é de: ( ) MW 529 100 kV 230 2 1 11max 1 = Ω == x VV P mk Para a Linha 2, cuja reatância total é igual a Ω=×= Ω 70km 20035,0 km2x , a capacidade de transmissão trifásica é de: ( ) MW 8360 70 kV 765 2 2 22max 2 = Ω == x VV P mk Desta forma, a linha de 765 kV é capaz de transportar o equivalente a mais de 15 linhas de 230 kV. II.2 – Dependência da carga com a tensão e freqüência Embora, individualmente, as cargas existentes no sistema elétrico sejam altamente aleatórias, quando concentradas por conjuntos de consumidores apresentam caráter previsível. Quanto maior o número de cargas agrupado, maior será a possibilidade de realizar tal previsão. Além disto, as cargas concentradas variam com o tempo de maneira também previsível, em função da hora do dia (horário de maior consumo e horário de menor consumo), do dia da semana (dia útil, final de semana e feriados) e das estações do ano, conforme ilustrado na Figura II.3 que representa a curva de carga diária de um alimentador. 0 500 1.000 1.500 2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 00:00 01:00 02:00 03:00 04:00 05:00 06:00 07:00 08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00 21:00 22:00 23:00 Alimentador RS--P 16/10/2002 (quarta-feira) kW Alimentador RS--Q 16/10/2002 (quarta-feira) kvar Figura II.3 – Curva de carga de um alimentador. Fabiano Rectangle Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 6 de 22 Considere o seguinte sistema, sem perdas ativas, no qual a tensão da barra k é mantida constante e igual a kV , a impedância da linha é kmkm jxZ = , conforme mostrado na Figura II.5. k kmI kmkm jxZ = m o0kk VV = mmm VV θ= jQPS += Figura II.5 – Sistema de duas barras. Para o sistema da Figura II.5, a tensão na barra m pode ser obtida por: kmkmkkmkmkm IjxVZIVV −=−= (II.8) Supondo que as perdas de potência reativa na linha sejam desprezíveis, a potência entregue para a carga é a mesma que está sendo transmitida de k para m e a corrente pela linha é dada por: ⇒== * kmkkm IVSS kkkk km V jQP V jQP V jQP V S I − = − = − = ≈ o0* * (II.9) Substituindo (II.9) em (II.8), tem-se a seguinte expressão, cujo diagrama fasorial encontra-se na Figura II.6: } P V x jQ V x V V jQP jxVV k km k km k I k km V km km k −−= − −= 48476o0 kmkm Ijx o0kk VV = Q V x k km kmI mmm VV θ= P V x j k km Figura II.6 – Diagrama fasorial do sistema de duas barras. Conclui-se, daí, que: • Uma variação na potência ativa P afeta o fasor queda de tensão que é perpendicular a kV , afetando significativamente a fase do fasor mV . • Uma variação na potência reativa Q afeta o fasor queda de tensão que está em fase com kV , afetando significativamente o módulo do fasor mV . Exercício II.1 – Considerando o sistema de duas barras da Figura II.5, completar a Tabela II.1 com o diagrama fasorial correspondente a cada uma das situações de carga (P e Q podendo ser positivos ou negativos) e sinal da reatância da linha de transmissão (indutiva, com 0>kmx , ou capacitiva, com 0<kmx ). Representar, no mínimo os fasores kV , kmI , mV e suas componentes. Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 7 de 22 Tabela II.1 – Diagramas fasoriais do Exercício II.1. 0>kmx 0<kmx 0>Q o0kk VV = o0kk VV = 0>P 0<Q o0kk VV = o0kk VV = 0>Q o0kk VV = o0kk VV = 0<P 0<Q o0kk VV = o0kk VV = Exercício II.2 – Efetuar análise similar à realizada na Seção II.4, supondo que a impedância da linha seja igual a kmkmkm jxrZ += . Considerar três casos distintos kmkm xr >> , kmkm xr ≈ e kmkm rx>> . Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 8 de 22 II.5 – Expressões do fluxo de potencia em uma linha de transmissão Considere uma linha de transmissão representada pelo seu equivalente π (equivalente por fase em pu), mostrado na Figura II.7 que é definido por três parâmetros: a resistência série kmr ; a reatância série kmx e a susceptância em derivação (shunt) shkmb . k kmI km r kmjx sh kmjb sh kmjb m mkII kkk VV θ= mmm VV θ= Figura II.7 – Modelo equivalente π de uma linha de transmissão. A impedância e admitância do elemento série são dadas por: kmkmkm jxrZ += 2222 1 kmkm km kmkm km kmkm kmkmkm xr x j xr r jxr jbgY + − + + = + =+= Para uma linha de transmissão, kmr e kmx são positivos (portanto, kmg é positivo e kmb é negativo) e o elemento em derivação, shkmb , também é positivo em função de representar a capacitância linha/neutro da linha de transmissão. As correntes kmI e mkI são obtidas a partir dos fasores tensão das barras k e m ( kkk VV θ= e mmm VV θ= , respectivamente): ( ) ( ) mkmkshkmkmk sh kmmkkmkm VYVjbYVjbVVYI −+=+−= (II.10) ( ) ( ) mshkmkmkkmm sh kmkmkmmk VjbYVYVjbVVYI ++−=+−= (II.11) A expressão do fluxo de potência complexa da barra k para a barra m é dada por: ( )[ ] **2***** ** mkkmk sh kmkmmkmk sh kmkmk mkmk sh kmkmkkmkkmkmkm VVYVjbYVYVjbYV VYVjbYVIVjQPS − −= − −= −+==+= Sabendo que mkmkmk VVVV θθ −= * e definindo mkkm θθθ −= , ( )[ ] ( ) ( )[ ] ( )( )kmkmkmkmmkk sh kmkmkm kmmkkmkmk sh kmkmkmkm jjbgVVVbbjg VVjbgVbbjgS θθ θ sencos 2 2 +−−+−= −−+−= (II.12) Separando as partes real e imaginária, chega-se a: ( )kmkmkmkmmkkmkkm bgVVgVP θθ sencos 2 +−= (II.13) ( ) ( )kmkmkmkmmk sh kmkmkkm bgVVbbVQ θθ cossen 2 −−+−= (II.14) Analogamente, para determinar o fluxo de potência complexa da barra m para a barra k: Análise de Sistemas de Potência (ASP) Considerações operacionais sobre os sistemas de potência – Sérgio Haffner Versão: 19/5/2008 Página 9 de 22 ( )[ ] **2***** ** kmkmm sh kmkmkkmm sh kmkmm kkmm sh kmkmmmkmmkmkmk VVYVjbYVYVjbYV VYVjbYVIVjQPS − −= − −= −+==+= cujas partes real e imaginária são: ( )mkkmmkkmmkkmmmk bgVVgVP θθ sencos 2 +−= (II.15) ( ) ( )mkkmmkkmmk sh kmkmmmk bgVVbbVQ θθ cossen 2 −−+−= (II.16) O diagrama fasorial da linha de transmissão é mostrado na Figura II.8. Ijxkm kV mV kmV I Irkm kmθ Figura II.8 – Diagrama fasorial da linha de transmissão. As perdas de potência ativa e reativa em uma linha de transmissão podem, então, ser determinadas somando- se, respectivamente, as expressões (II.13) com (II.15) e (II.14) com (II.16), ou seja: ( ) kmkmmkkmmkmkkm gVVgVVPPP θcos2 22 perdas −+=+= ( )( ) kmkmmk sh kmkmmkmkkm bVVbbVVQQQ θcos2 22 perdas +++−=+= Exercício II.3 – Mostrar que ( )2perdaskmmkkm IrPP =+ . As expressões (II.10) e (II.11), podem ser arranjadas de outra forma, tendo em vista possibilitar a representação da linha de transmissão por um quadripolo, conforme mostrado na Figura II.9. kmI mkI kkk VV θ= mmm VV θ= + – + – ⋅ = km k mk m I V DC BA I V Figura II.9 – Linha de transmissão representada por um quadripolo. Isolando mV em (II.10), chega-se a: ( )[ ] ( ) kmkmkshkmkmkm km k km sh km kmk sh kmkm km m IZVjbZI Y V Y jb IVjbY Y V −+=− +=−+= 1 1 1 1 (II.17) Em (II.11), substituindo mV , pela expressão (II.17), tem-se: ( ) ( ) ( ) km km sh km k km sh kmsh km sh km sh kmkm km sh km kkm km sh kmsh kmkm sh kmkm kkmkm km sh kmkm k km sh kmsh kmkmkkm V km km k km sh kmsh kmkmmk I Y jb V Y jb jbjbjbI Y jb VY Y jb jbYjbY VYI Y jbY V Y jb jbYVYI Y V Y jb jbYI m +− ++= +− −+++= =− + − ++=− − ++= 11 1 1 1 4444 84444 76 Fabiano Rectangle Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 1 de 27 IV – O transformador Os transformadores de força são os equipamentos utilizados para viabilizar a transmissão de energia elétrica em alta tensão. Desta forma, são instalados nas usinas de geração, para elevar a tensão em níveis de transmissão (no Brasil de 69 kV a 750 kV), nas subestações dos centros de consumo (subestações de distribuição ou subestações de grandes consumidores), para rebaixar o nível de tensão em níveis de distribuição (tipicamente 13,8 e 23 kV) e também nas subestações de interligação para compatibilizar os diversos níveis de tensão provenientes das diversas linhas de transmissão que aportam. Para se ter uma noção da importância destes equipamentos no setor elétrico, apresenta-se o Quadro IV.1 no qual a potência instalada em subestações corresponde aos equipamentos de transformação. Quadro IV.1 – Potência instalada em subestações do setor elétrico brasileiro. POTÊNCIA INSTALADA EM SUBESTAÇÕES - MVA Em 31.12 2001 1999 2000 2001 Entradas Retiradas 25 kV/outras (1) 74.196,0 75.109,0 75.109,0 0,0 0,0 69 kV/outras 18.777,1 18.902,1 19.094,4 192,3 0,0 88 kV/outras 5.717,2 5.717,2 5.717,2 0,0 0,0 138 kV/outras 46.251,6 46.707,1 47.384,0 676,9 0,0 230 kV/outras 34.732,7 35.928,7 36.779,7 851,0 0,0 345 kV/outras 33.610,4 34.480,4 34.480,4 0,0 0,0 440 kV/outras 15.137,0 15.437,0 15.437,0 0,0 0,0 500 kV/outras 47.636,9 49.538,9 53.510,9 3.972,0 0,0 750 kV/outras 16.200,0 16.750,0 18.250,0 1.500,0 0,0 (1) Apenas transformadores elevadores de usinas Fonte: Boletim Semestral do SIESE Síntese 2001 (disponível em: http://www.eletrobras.gov.br/mercado/siese/). O objetivo deste capítulo é a definição do modelo do transformador para estudos de transmissão de potência elétrica em regime permanente, ou seja, considerando tensões e correntes senoidais em freqüência industrial. Além disto, considera-se que os transformadores operam em condições equilibradas. Desta forma, os modelos e resultados apresentados a seguir não se aplicam a estudos de transitórios de alta freqüência, de curto-circuito ou de harmônicos. O modelo dos transformadores de força para estudos de fluxo de potência são similares aos transformadores de menor porte, desconsiderando-se os efeitos da corrente de magnetização. IV.1 – Transformador ideal de dois enrolamentos Em um transformador ideal considera-se que a resistência elétrica dos enrolamentos é nula (logo não existe queda de tensão na espira em função desta resistência e a tensão induzida pela variação do fluxo é igual à tensão terminal) e que a permeabilidade do núcleo é infinita (portanto todo o fluxo fica confinado ao núcleo e enlaça todas as espiras). Levando em conta as polaridades indicadas na Figura IV.1, têm-se as seguintes relações entre as tensões terminais: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )t dt d Nt dt d Ntv t dt d Nt dt d Ntv m m φφ φφ 2222 1111 == == Assim, a relação entre as tensões terminais é dada por: ( ) ( ) 2 1 2 1 N N tv tv = (IV.1) Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 2 de 27 ( )ti1 ( )tv1 + – N1 espiras ( )tmφ ( )φ ( )tv2 + – ( )ti2 N2 espiras Fluxo em 1: ( ) ( )tt mφφ =1 Fluxo em 2: ( ) ( )tt mφφ =2 Figura IV.1 – Transformador ideal de dois enrolamentos. Como o transformador é ideal, a potência instantânea de entrada, ( )tp1 , é igual a potência instantânea de saída, ( )tp2 pois as perdas são desprezíveis, ou seja: ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )titvtitvtptp221121 ⋅=⋅⇒= logo, ( ) ( ) ( ) ( ) 1 2 1 2 2 1 N N tv tv ti ti == (IV.2) As expressões (IV.1) e (IV.2) definem o modo de operação dos transformadores ideais. Os enrolamentos onde se ligam as fontes de energia e as cargas são geralmente denominados primário e secundário, respectivamente. De forma alternativa, as relações (IV.1) e (IV.2) podem ser obtidas levando-se em consideração que um transformador ideal constitui um caso particular de circuitos magneticamente acoplados no qual o coeficiente de acoplamento entre os enrolamentos é igual a unidade, ou seja, 1=K . Para as polaridades indicadas na Figura IV.2, são válidas as seguintes expressões: ( ) ( ) ( )ti dt d Mti dt d Ltv 2111 −= (IV.3) ( ) ( ) ( )ti dt d Lti dt d Mtv 2212 −= (IV.4) ( ) dt tdi M 2 1L + – + 2L + – • ( )ti1 ( )tv1 + – • ( )ti2 ( )tv2 + – K=1 ( )tv1 ( )tv2 ( )ti1 ( )ti2 ( ) dt tdi M i 21 21 LLM LLKM = = + • • 21 : NN Figura IV.2 – Transformador ideal representado por circuito magneticamente acoplado. Isolando ( )ti dt d 2 em (IV.4) e substituindo em (IV.3), tem-se: ( ) ( ) ( ) −= tvti dt d M L ti dt d 21 2 2 1 ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )tv L M ti dt d L M Ltvti dt d M L Mti dt d Ltv 2 2 1 2 2 121 2 111 1 + −= −−= (IV.5) Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 3 de 27 Como 1=K , pode-se escrever: ⇒=⇒= 21 2 21 LLMLLM 0 2 2 1 =− L M L (IV.6) ⇒=⇒== 2 2 2 1 22 1 2 21 2 2 22 2 11 N N L M L L L LL L M NL NL α α 2 1 2 N N L M = (IV.7) pois as auto-indutâncias são proporcionais ao quadrado do número de espiras ( ) ( ) = ti tN L 1 11 1 φ , com ( ) ( )tiNt 111 P=φ , sendo P a permeância do espaço atravessado pelo fluxo, então ( )[ ] ( ) == 2 1 1 111 1 P P N ti tiNN L . Substituindo (IV.6) e (IV.7) na expressão (IV.5), chega-se a expressão (IV.1): ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) 2 1 2 1 2 2 1 2 2 1 11 0 N N tv tv tv N N tv N N ti dt d tv =⇒=+= IV.1.1 – Transformador ideal em regime permanente senoidal A Figura IV.3 mostra um transformador ideal, em regime permanente senoidal. • 1I 2I Transformador Ideal • Ideal 1V + – 2V + – 21 : NN Figura IV.3 – Transformador ideal em regime permanente senoidal. Considerando as polaridades indicadas na Figura IV.3 e as expressões gerais (IV.1) e (IV.2), o regime permanente senoidal do transformador ideal pode ser descrito por: 2 1 2 1 N N V V = ⇒ 1 1 2 2 V N N V = 1 2 2 1 N N I I = ⇒ 1 2 1 2 I N N I = fazendo 1 2 N N a = , a relação de espiras do transformador ideal, pode-se escrever: 12 VaV = ⇒ 21 1 V a V = 12 1 I a I = ⇒ 21 IaI = Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 4 de 27 Exemplo IV.1 – No circuito da Figura IV.3, 20001 =N , 5002 =N , V 012001 o =V e A 3051 o −=I , quando uma impedância 2Z é ligada ao secundário. Determinar 2V , 2I , 2Z e a impedância ref 2Z que é definida como sendo o valor de 2Z referido ao primário do transformador (impedância refletida). Solução Exemplo IV.1: Supondo que o transformador é ideal, tem-se: V 030001200 2000 500 1 1 2 2 oo === V N N V A 3020305 500 2000 1 2 1 2 oo −=−== I N N I Pela definição de impedância, tem-se: Ω= − == 3015 3020 0300 2 2 2 o o o I V Z Ω= − == 30240 305 01200 1 1ref 2 o o o I V Z ou Ω= = = === 302403015 500 2000 2 2 2 2 1 2 2 2 2 1 2 1 2 2 2 1 1 1ref 2 ooZ N N I V N N I N N V N N I V Z A expressão obtida no Exemplo anterior 2 2 2 1 ref 2 Z N N Z = é empregada na reflexão de impedâncias, técnica que consiste em colocar no circuito primário uma impedância que produza o mesmo efeito que a impedância que está colocada no circuito secundário. Analogamente, é possível realizar a reflexão do primário para o secundário, ou seja, 1 2 1 2 ref 1 Z N N Z = Observar que o efeito produzido pela impedância em qualquer um dos enrolamentos deve ser o mesmo. Assim, quanto maior a tensão do enrolamento (portanto, maior o número de espiras) maior deverá ser o valor da impedância em ohms. IV.1.2 – Modelo do transformador ideal em pu Utilizando a magnitude das tensões terminais nominais como tensões de base tem-se, os seguintes valores de base para o primário e secundário, respectivamente: pri baseV – Tensão de base do primário [kV] sec baseV – Tensão de base do secundário: pri base 1 2sec base V N N V = [kV] Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 5 de 27 Sendo baseS a potência de base do sistema, as correntes de base para o primário e secundário, respectivamente, são: pri base basepri base V S I = pribase 2 1 pri base 1 2 base sec base basesec base I N N V N N S V S I === Desta forma, os valores em pu serão dados por: pri base 1 pu 1 V V V = ⇒=== pri base 1 pri base 1 2 1 1 2 sec base 2 pu 2 V V V N N V N N V V V pu 1pu 2 VV = (IV.8) pri base 1 pu 1 I I I = ⇒=== pri base 1 pri base 2 1 1 2 1 sec base 2 pu 2 I I I N N I N N I I I pu 1pu 2 II = (IV.9) Portanto, quando as grandezas estiverem em pu, o transformador ideal com relação nominal pode ser substituído por um curto-circuito, conforme mostrado na Figura IV.4, pois tanto a tensão quanto a corrente apresentam o mesmo valor em ambos enrolamentos – vide equações (IV.8) e (IV.9). – + pu 1I pu 2I pu 1V + – pu 2V + – Transformador Ideal em pu pu 2I pu 2V + – pu 1I pu 1V Figura IV.4 – Circuito equivalente do transformador ideal de dois enrolamentos em pu. IV.2 – Circuito equivalente do transformador real de dois enrolamentos No transformador real de dois enrolamentos, as resistências dos enrolamentos não são nulas (serão notadas por 1r e 2r , respectivamente, para o primário e secundário), nem todo o fluxo que enlaça um enrolamento enlaça o outro pois a permeabilidade do núcleo não é infinita, isto é, existem fluxos dispersos nos enrolamentos cujos efeitos são representados por intermédio das reatâncias de dispersão 1x e 2x , respectivamente, para o primário e secundário. Além disto, ocorrem perdas devido às variações cíclicas do sentido do fluxo (histerese) e também devido às correntes parasitas induzidas no núcleo. Assim, mesmo com o secundário em aberto, existe uma pequena corrente circulando no primário quando este é energizado, denominada corrente de magnetização – o efeito deste fenômeno é representado pela impedância de magnetização mr e mx , colocada em derivação no primário do transformador (ou no secundário). Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 6 de 27 Considerando os efeitos anteriormente mencionados, o transformador real de dois enrolamentos pode ser representado por um circuito composto por transformador ideal de dois enrolamentos e algumas impedâncias para representar o efeito das perdas ôhmicas, devido ao fluxo disperso e à magnetização, conforme ilustra a Figura IV.5 mjx ( )ti1 ( )tv1 + – N1 espiras ( )tmφ ( )φ ( )tv2 + – ( )ti2 N2 espiras Fluxo disperso em 1: ( )tdisp1φ Fluxo disperso em 2: ( )tdisp2φ • 1I 2I Transformador Real • Ideal 1V + – 2V + –21 : NN (a) Transformador real de dois enrolamentos. (b) Transformador real de dois enrolamentos em regime permanente. 11 jxr + 22 jxr + mr Figura IV.5 – Transformador real de dois enrolamentos. Quando todos os parâmetros ( 1r , 1x , 2r , 2x , mr e mx ) e grandezas ( 1V , 1I , 2V e 2I ) estão em pu, o transformador ideal pode ser omitido (substituído pelo seu circuito equivalente em pu que é um curto- circuito), resultando no circuito da Figura IV.6. mjx 1I 2I Transformador Real em pu 1V + – 2V + – 11 jxr + 22 jxr + mr mI Figura IV.6 – Circuito equivalente em pu do transformador real de dois enrolamentos. Os parâmetros em série (resistência dos enrolamentos e reatância de dispersão: 1r , 1x , 2r , e 2x ) são determinados por intermédio do ensaio de curto-circuito no qual os enrolamentos são submetidos à corrente nominal. Neste ensaio, um dos enrolamentos é curto-circuitado enquanto aplica-se uma tensão variável em outro enrolamento até que a corrente que circule nestes dois enrolamentos do transformador seja igual ao seu valor nominal. Neste caso, a impedância de magnetização é desprezada pois a tensão empregada Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 7 de 27 neste ensaio é significativamente menor que o valor nominal e a corrente de magnetização corresponde a uma fração muito pequena do valor nominal. Considerando que o enrolamento secundário tenha sido curto- circuitado e que a corrente que circula por este é igual ao seu valor nominal ( )pu 012 =I , o circuito equivalente do ensaio de curto-circuito é dado pela Figura IV.7. Neste circuito equivalente, a impedância medida nos terminais do enrolamento energizado é dada por: 2211 1 1 jxrjxr I V Z +++== mjx pu 0121 =≈ II pu 012 =I 1V + – 02 =V + – 11 jxr + 22 jxr + mr 0≈mI Corrente nominal nos enrolamentos Magnetização desprezada Figura IV.7 – Ensaio de curto-circuito (circuito equivalente em pu). A impedância de magnetização é determinada por intermédio do ensaio de circuito aberto no qual os enrolamentos são submetidos à tensão nominal. No ensaio de circuito aberto é aplicada tensão nominal a um dos enrolamentos e mede-se a corrente que circula neste enrolamento enquanto o(s) outro(s) enrolamento(s) permanece(m) em circuito aberto. Considerando que o enrolamento primário tenha sido energizado com tensão nominal ( )pu 011 =V , o circuito equivalente do ensaio em vazio de um transformador é dado pela Figura IV.8. Neste circuito equivalente, a impedância medida nos terminais do enrolamento energizado é dada por: mm mm jxr jxr jxr I V Z + ⋅ ++== 11 1 1 mjx mII =1 02 =I pu 011 =V + – 2V + – 11 jxr + 22 jxr + mr mI Tensão nominal nos enrolamentos Figura IV.8 – Ensaio de circuito aberto (circuito equivalente em pu). Como exemplo das características elétricas dos transformadores em nível de distribuição, têm-se os valores do Quadro IV.2. Em transformadores de maior potência e nível de tensão, as perdas em vazio e as perdas totais apresentam valores percentuais (em função da potência nominal) menores, sendo inferiores a 0,1 e 0,5%, respectivamente. Levando em conta as características reais dos grandes transformadores, as perdas nos enrolamentos1 (devido a 1r e 2r ) e no núcleo 2 (devido a mr e mx ) são muito pequenas quando comparadas com a potência do transformador sendo, geralmente, desprezadas. Desta forma, o modelo equivalente do transformador fica bastante simplificado, conforme mostra a Figura IV.9. 1 Cujo valor nominal corresponde à diferença entre as perdas totais e as perdas em vazio. 2 Ou perdas em vazio. Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 8 de 27 1I 2I 1V + – 2V + – jx 21 jxjxjx += Figura IV.9 – Circuito simplificado em pu do transformador real de dois enrolamentos. Quadro IV.2 – Características de perdas, correntes de excitação e impedâncias. TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS DE TENSÃO MÁXIMA 15 kV Potência [kVA] Corrente de excitação máxima [%] Perdas em vazio máximo [W] Perdas totais máximas [W] Impedância 75° C [%] 30 4,1 170 740 45 3,7 220 1.000 75 3,1 330 1.470 112,5 2,8 440 1.990 150 2,6 540 2.450 3,5 225 2,3 765 3.465 300 2,2 950 4.310 4,5 TRANSFORMADORES TRIFÁSICOS DE TENSÕES MÁXIMAS 24,2 e 36,2 kV Potência [kVA] Corrente de excitação máxima [%] Perdas em vazio máximo [W] Perdas totais máximas [W] Impedância 75° C [%] 30 4,8 180 825 45 4,3 250 1.120 75 3,6 360 1.635 112,5 3,2 490 2.215 150 3,0 610 2.755 4,0 225 2,7 820 3.730 300 2,5 1.020 4.620 5,0 Fonte: Trafo Equipamentos Elétricos S.A. (disponível em http://www.trafo.com.br/) Exemplo IV.2 – Um transformador monofásico tem 2000 espiras no enrolamento primário e 500 no secundário. As resistências dos enrolamentos são Ω= 21r e Ω= 125,02r ; as reatâncias de dispersão são Ω= 81x e Ω= 5,02x . A carga ligada ao secundário é resistiva e igual a 12 Ω. A tensão aplicada ao enrolamento primário é de 1200 V. Determinar o fasor tensão secundária e a regulação de tensão do transformador: %100%Regulação carga 2 carga 2 vazio 2 V VV − = onde carga 2V é a magnitude da tensão no secundário com plena carga e vazio 2V é a magnitude da tensão no secundário em vazio. Fabiano Rectangle Modelagem e Análise de Sistemas Elétricos em Regime Permanente O transformador – Sérgio Haffner Versão: 10/9/2007 Página 14 de 27 IV.3 – Transformador com relação não-nominal Com o objetivo de possibilitar um melhor controle da tensão no sistema elétrico, muitas vezes os transformadores operam com relação de transformação diferentes da nominal ( )NOM2 NOM 1 : NN . Neste caso, os transformadores apresentam um enrolamento especial provido de diversas derivações (taps), comutáveis sob carga ou não. Quando a seleção da derivação é realizada sob carga, o transformador apresenta um dispositivo denominado comutador de derivações em carga (ou comutador sob carga) que se encarrega de realizar as conexões necessárias para que seja selecionada a relação de transformação desejada. Para operar tais comutadores utilizam-se acionamentos motorizados, possibilitando comando local ou à distância, inclusive com controle automático de tensão. Quando a seleção da derivação é realizada sem carga o dispositivo é muito mais simples, sendo utilizada apenas uma chave seletora que opera quando o transformador está desligado. Por norma, as derivações são numeradas, sendo a derivação “1” a de maior tensão, conforme mostra o Quadro IV.3 no qual encontram-se exemplos de valores de derivações e relações de tensão para transformadores em nível de distribuição. Neste caso, no interior do tanque o transformador apresenta uma chave seletora que possibilita o ajuste do tap quando este estiver desligado. Quadro IV.3 – Derivações e relações de tensões. Tensão [V] Primário Secundário Tensão máxima do equipamento [KV eficaz] Derivação N° Trifásicos e Monofásicos (FF) Monofásicos (FN) Trifásicos Monofásicos 1 13.800 7.967 2 13.200 7.621 15,0 3 12.600 7.275 1 23.100 13.337 2 22.000 12.702 24,2 3 20.900 12.067 1 34.500 19.919 2 33.000 19.053 36,2 3 31.500 18.187 380/220 ou 220/127 2 terminais 220 ou 127 ou 3 terminais 440/220 ou 254/127 ou 240/120 ou 230/115 (FF) - tensão entre fases (FN) - tensão entre fase e neutro Fonte: Trafo Equipamentos Elétricos S.A. (disponível em http://www.trafo.com.br/) Em nível transmissão de energia elétrica os transformadores podem possuir dispositivos para comutação sob carga, apresentando um maior número de derivações,
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