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TRABALHO CIVIL

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CONCEITO
 De acordo com Pablo Stolze Gagliano, mandato é o “negócio jurídico pelo qual uma pessoa, chamada mandatário, recebe poderes de outra, chamada mandante, para, em nome desta última, praticar atos ou administrar interesses”. Tal conceito é extraído da previsão contida no art. 653 do CC-02 (art. 1.288 do CC-16): “Art. 653.
Opera-se o mandato quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. A procuração é o instrumento do mandato”.
Registremos, desde já, com EDUARDO ESPÍNOLA, que a “palavra mandato (lat. Mandatum) vem de manu dare — ‘dictum ex eo quod dat manu dextera fidem mandatae susceptaeque operi invicem alligabant’ — quem dava o encargo e quem o recebia apertavam a mão, demonstrando um a confiança que depositava no outro e este a segurança que corresponderia a esta confiança”. Note-se ainda que, posto o objeto do mandato seja a representação, nada impede haja representação sem mandato, como na hipótese da representação legal dos pais em face dos filhos menores, conforme veremos em seguida.
 Segundo Carlos Roberto Gonçalves, o mandato é contrato, porque resulta de um acordo de vontades: a do mandante, que outorga a procuração, e a do mandatário, que a aceita. A aceitação pode ser expressa ou tácita. Esta se configura pelo começo de execução (CC, art. 659). Trata-se de contrato: 
Personalíssimo ou intuitu personae, porque se baseia na confiança, na presunção de lealdade e probidade do mandatário, podendo ser revogado ou renunciado quando aquela cessar e extinguindo-se pela morte de qualquer das partes. Celebra-se o contrato em consideração à pessoa do mandatário.
Consensual, porque se aperfeiçoa com o consenso das partes, em oposição aos contratos reais, que se aperfeiçoam somente com a entrega do objeto.
Não solene, por serem admitidos o mandato tácito e o verbal (CC, art. 656), malgrado a afirmação constante do art. 653, segunda parte, de que “a procuração é o instrumento do mandato”.
Em regra, gratuito, porque o art. 658 do Código Civil diz presumir-se a gratuidade “quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”. O mandato confiado a advogado, corretor ou despachante, por exemplo, presume-se oneroso. Nesses casos, inexistindo acordo sobre a remuneração a ser paga, “será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por arbitramento” pelo juiz, que naturalmente levará em conta a natureza, a complexidade e a duração do serviço (CC, art. 658, parágrafo único, segunda parte).
Em regra, unilateral, porque gera obrigações somente para o mandatário, podendo classificar-se como bilateral imperfeito devido à possibilidade de acarretar para o mandante, posteriormente, a obrigação de reparar as perdas e danos sofridas pelo mandatário e de reembolsar as despesas por ele feitas. Toda vez que se convenciona a remuneração, o mandato passa a ser bilateral e oneroso.
ESPÉCIES DE MANDATO
Um esforço classificatório simples nos permite verificar a existência de diversas espécies de
mandato. Assim, quanto à forma, o mandato pode ser, como visto, tácito ou expresso e, nesta modalidade, tanto verbal, quanto escrito. Neste último, ou seja, no escrito, pode ser outorgado pela lavratura de um documento diretamente entre as partes (instrumento particular ou público) ou mesmo pelo registro da outorga de poderes em uma ata, seja extrajudicialmente (p. ex., em uma reunião ou assembleia), seja judicialmente (v. g., ata de audiência), o que é chamado de mandato apud acta.
Como visto em tópico passado, o mandato é, em regra, gratuito, mas pode ser remunerado.
Quando outorgado a mais de uma pessoa, os mandatos podem ser classificados como conjuntos (todos os mandatários têm de atuar simultaneamente), fragmentários ou fracionários (os mandatários são designados e atuam em atos diferentes), sucessivos (os mandatários são designados e atuam em atos distintos e que se sucedem no tempo) ou solidários (qualquer um dos mandatários pode praticar todos os atos designados, independentemente da participação dos demais comandatários).
Por outro viés, sob o enfoque do objeto do contrato, mais especificamente sobre o número (efetivo ou potencial) de negócios em que o mandatário poderá atuar, podemos classificar o mandato em geral ou especial, na medida em que estabelece poderes genéricos de administração ordinária de quaisquer negócios ou poderes limitados (restritos) à prática de determinados negócios jurídicos.
Sem confundir com tal classificação, como constatado no tópico anterior, mas, tomando por parâmetro os limites dos poderes outorgados no mandato, classificam-se tais avenças em mandatos em termos gerais (entendidos como os que outorgam poderes genéricos de administração) e mandatos com poderes especiais, que são os que abrangem poderes específicos (especiais e expressos) para atos como alienar, hipotecar, transigir, firmar compromisso ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária.
A classificação, porém, que mais nos interessa neste momento toma como base o campo de atuação do mandatário para a prática dos atos desejados.
Nesse prisma, o mandato pode ser extrajudicial ou judicial.
CARACTERÍSTICAS
O contrato de mandato é, como visto, uma modalidade contratual típica e nominada, de grande ocorrência prática. Quanto à natureza da obrigação estabelecida, o mandato é um contrato tipicamente unilateral, uma vez que implica, a priori, obrigações apenas a uma das partes.
Vale consignar que, tal qual o contrato de depósito, o mandato se enquadra na classificação de contrato bilateral imperfeito, que é aquele que pode, eventualmente, durante a sua execução, gerar efeitos à parte contrária, por fato superveniente.
Pela unilateralidade intrínseca da avença, é inaplicável a classificação em contratos comutativos e aleatórios, bem como em contratos evolutivos.
A regra geral do mandato é que seja estipulado de forma gratuita. É de clareza meridiana, porém, que a autonomia da vontade pode estabelecê-lo na modalidade
onerosa, havendo atividades em que esta forma é a regra e a gratuidade a exceção, como, por exemplo, no caso dos advogados e dos despachantes.
Nesse sentido, preceitua o art. 658 do CC-02 (equivalente ao parágrafo único do art. 1.290 do CC- 16): “Art. 658. O mandato presume-se gratuito quando não houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa.
Parágrafo único. Se o mandato for oneroso, caberá ao mandatário a retribuição prevista em lei ou no contrato. Sendo estes omissos, será ela determinada pelos usos do lugar, ou, na falta destes, por arbitramento”.
Ressalte-se, ademais, que, nessa hipótese, o mandato torna-se bilateral propriamente dito, com características comutativas e evolutivas.
Pode ser pactuado tanto na modalidade paritária quanto por adesão, sendo contrato eminentemente civil.
Mesmo considerando que ainda vamos tecer comentários sobre a forma do mandato, explicitemos, desde já, que se trata de uma modalidade não solene, que pode ser estabelecida verbalmente ou mesmo se caracterizar tacitamente. Somente por exceção é que se fala em solenidade essencial no mandato, o que decorre mais da natureza do negócio jurídico que se pretende celebrar do que de uma disciplina
propriamente dita desta figura contratual.
É o caso, por exemplo, do casamento por procuração, que exige instrumento público, com poderes especiais.
Ainda quanto à forma, o mandato é um contrato consensual, uma vez que se concretiza com a simples declaração de vontade, não dependendo, em princípio, da prática de qualquer ato.
Quanto à pessoa do contratante, em que pese — como veremos — a possibilidade jurídica do substabelecimento, o mandato é um contrato individual e personalíssimo, ou seja, celebrado intuitu personae, em que a figura do contratante tem influência decisiva para a celebração do negócio, sendo razoável afirmar, inclusive,que a pessoa do contratante se torna um elemento causal do contrato.
Nessa linha, vale registrar que, da mesma maneira que a maioria das figuras contratuais nominadas do Código Civil (ressalvados os títulos de crédito), o contrato de mandato é um contrato causal, vinculado, portanto, à causa que o determinou, podendo ser declarado inválido se tal causa for considerada inexistente, ilícita ou imoral.
Quanto ao tempo, trata-se de um contrato de duração, que se cumpre por meio de atos reiterados. Tal duração pode ser determinada ou indeterminada, na medida em que haja ou não previsão expressa de termo final ou condição resolutiva a limitar a eficácia do contrato.
Geralmente, pela sua função econômica, consiste em um contrato de atividade, caracterizado pela prestação de uma conduta de fato, mediante a qual se conseguirá uma utilidade econômica.
Trata-se, por fim, de um contrato evidentemente acessório, já que tem finalidade preparatória, haja vista servir para a realização de determinados atos ou administração de interesses.
Não é, porém, um contrato preliminar, mas, sim, definitivo, em relação às partes contratantes (mandante e mandatário), mesmo tendo a sua produção de efeitos relacionada com a conduta a que um dos contratantes se obrigou em face do outro.
DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES
 De acordo com Pablo Stolze, a obrigação básica do mandatário é, como parece óbvio, cumprir os atos necessários para o fiel desempenho do mandato. Assim, como visto do já transcrito art. 667 do CC-02 (art. 1.300 do CC-16), o “mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente”, sendo direito do mandante exigir tal regular cumprimento ou, sucessivamente, a indenização pelos danos verificados.
 Por isso mesmo, na forma do art. 668 do CC-02 (art. 1.301 do CC-16), o “mandatário é obrigado a dar contas de sua gerência ao mandante, transferindo-lhe as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja”. Dessa forma, é direito do mandante exigir, diretamente ou pela via judicial, tal prestação de contas. Em relação aos terceiros, o vigente Código Civil brasileiro não trouxe norma equivalente à previsão do art. 1.305, CC-16, que estabelecia que o mandatário era “obrigado a apresentar o instrumento do mandato às pessoas, com quem tratar em nome do mandante, sob pena de responder a elas por
qualquer ato, que lhe exceda os poderes”. A ausência dessa previsão normativa específica não afasta, porém, tal regra, que, em verdade, é um direito do terceiro, para conhecer os limites dos poderes do mandato.
 Ademais, é possível admitir que tal direito se encontra previsto, de forma implícita, na estipulação do art. 673 do CC-02 (art. 1.306 do CC-16), que preceitua, in verbis: “Art. 673. O terceiro que, depois de conhecer os poderes do mandatário, com ele celebrar negócio jurídico exorbitante do mandato, não tem ação contra o mandatário, salvo se este lhe prometeu ratificação do mandante ou se responsabilizou pessoalmente”. Vale registrar, ainda, que o dispositivo equivalente no Código Civil de 1916, a saber, o seu art. 1.306,
trazia referência à ausência de ação “contra o mandante, senão quando este houver ratificado o excesso do procurador”, o que nos parece despiciendo, pois, praticado o ato fora dos limites do mandato, não há como obrigar o mandante, salvo justamente pela sua ratificação, o que vem agora explicitado, conforme se depreende dos arts. 662 e 665 do CC-02 (arts. 1.296 e 1.297 do CC-16).
 Voltando ao caput do art. 667 do CC-02 (art. 1.300, CC-16), é obrigação do mandatário, como visto, indenizar o mandante pelos prejuízos que causar no desempenho culposo do múnus atribuído. Uma interessante regra, porém, em relação à referida indenização é prevista no art. 669 do CC-02 (art. 1.300 do CC-16): “Art. 669. O mandatário não pode compensar os prejuízos a que deu causa com os proveitos que, por outro lado, tenha granjeado ao seu constituinte”. A justificativa do dispositivo é muito simples: é obrigação do mandatário realizar o mandato de forma benéfica ao mandante. Se, no desempenhar desta atribuição, granjeou-lhe proveitos, nada mais do que se espera e deseja. Se, porém, ao mesmo tempo, por outros atos também decorrentes do mandato, gerou perdas ao mandante, tal fato não é desejado, nem sequer esperado, devendo o mandatário indenizar
integralmente o seu constituinte.
 O abuso do direito no desempenho do mandato é um ato ilícito como outro qualquer, enquadrando-se na regra do art. 187 do vigente Código Civil brasileiro39. Todavia, preferiu o legislador trazer dois dispositivos com previsões específicas de hipóteses de
abuso de direito no campo das relações jurídicas de direito material decorrentes do contrato de mandato, que merecem ser aqui referidos.
 Confiram-se, pois, os arts. 670 e 671 do CC-02 (o primeiro equivalente ao art. 1.303, CC-16, e o segundo sem correspondência direta): “Art. 670. Pelas somas que devia entregar ao mandante ou recebeu para despesa, mas empregou em proveito seu, pagará o mandatário juros, desde o momento em que abusou. Art. 671. Se o mandatário, tendo fundos ou crédito do mandante, comprar, em nome próprio, algo que devera comprar para o mandante, por ter sido expressamente designado no mandato, terá este ação
para obrigá-lo à entrega da coisa comprada”.
 O primeiro dispositivo é de intelecção imediata, por ser óbvio que se o mandatário recebeu valores para entregar ao mandante ou para as despesas do cumprimento do mandato e, em vez de cumprir o determinado, empregou as verbas em proveito próprio, praticou ato ilícito que deve ser reparado, estabelecendo o dispositivo a cobrança de juros legais pelo abuso cometido. Já quanto ao mencionado art. 671 do CC-02 (como dito, sem correspondente no CC-16), observa JONES FIGUEIRÊDO ALVES: “Cria-se, aqui, regra nova, de lógica razoável, almejando, outrossim, a proteção do mandante para eventuais atos ímprobos, praticados pelo mandatário, em flagrante desrespeito à boa-fé e à fidúcia, caracteres inerentes à natureza do mandato. Afigura-se perfeitamente válida a pretensão do mandante em receber do mandatário algo que teria expressamente designado para
que este comprasse no exercício de sua função e, mais ainda, valendo-se de fundos ou créditos do próprio outorgante”. Por fim, embora o contrato de mandato seja uma avença personalíssima, que se extingue com a morte de qualquer das partes (art. 682, II, do CC-02; art. 1.316, II, do CC-16), isto não autoriza que o mandatário abandone a celebração já iniciada de um negócio, se houver perigo na demora, sob pena de responder por perdas e danos. Tal regra está prevista no art. 674 do Código Civil41 e se justifica pela circunstância de que a manifestação de vontade do mandante, antes do fato superveniente, era no sentido de realmente concretizar o negócio. Assim, a impossibilidade posterior de conclusão do negócio, em função da demora imputável ao mandatário, gera potencial dano aos interesses subjetivos do mandante ou, no caso de morte, dos seus herdeiros.
 Na precisa colocação de ORLANDO GOMES, no “mandato com representação, o mandatário tem simultaneamente uma obrigação e um poder — obrigação para com o mandante; poder, em relação a terceiros”. Em que pese a unilateralidade genética do contrato de mandato gratuito, é óbvio que, em qualquer das modalidades de mandato, o mandante é obrigado, pelo menos, a satisfazer as obrigações contraídas pelo mandato, dentro dos seus estritos limites. Isso, por si só, não retira a característica unilateral do mandato, pois o contrato, em si, já terá sido cumprido, no que diz respeito às suas partes, restando, portanto, apenas a produção de efeitos perante terceiros.
 Sobre o tema, dispõe o art. 675 do CC-02 (art. 1.309 do CC-16): “Art. 675. O mandante é obrigado a satisfazer todas as obrigações contraídas pelo mandatário, na conformidade do mandato conferido, eadiantar a importância das despesas necessárias à execução dele, quando o mandatário lho pedir”. Do referido dispositivo extrai-se a conclusão de que as despesas inerentes ao cumprimento do mandato devem ser, evidentemente, suportadas pelo mandante, que é o beneficiário da conduta esperada.
 Assim, conclui-se pela existência de um segundo dever do mandante, além de honrar os compromissos assumidos pelo mandatário, qual seja, custear as despesas da execução do mandato, o que se torna mais evidente, ainda, no contrato de mandato oneroso. Sobre tal obrigação, confira-se o art. 676 do CC-02 (art. 1.310 do CC-16): “Art. 676. É obrigado o mandante a pagar ao mandatário a remuneração ajustada e as despesas da execução do mandato, ainda que o negócio não surta o esperado efeito, salvo tendo o mandatário culpa”.
 Tanto isso é verdade que a disciplina codificada deste contrato garante ao mandatário o direito à percepção de juros sobre qualquer quantia adiantada pela execução do mandato, bem como o ressarcimento pelas perdas que sofrer, obviamente não resultantes de culpa ou excesso de poderes. Senão, vejamos os arts. 677 e 678 do CC-02 (correspondentes aos arts. 1.311 e 1.312 do CC-16): “Art. 677. As somas adiantadas pelo mandatário, para a execução do mandato, vencem juros desde a data do desembolso. Art. 678. É igualmente obrigado o mandante a ressarcir ao mandatário as perdas que este sofrer com a execução do mandato, sempre que não resultem de culpa sua ou de excesso de poderes”.
 O direito do mandatário a ser ressarcido de todas as despesas e perdas que teve pelo regular cumprimento do mandato é uma prerrogativa tão importante que foi prevista duas vezes no novo texto codificado. Em situações como esta, é defensável a tese, já sustentada linhas acima, de que o contrato se manifesta, por vezes, como bilateral imperfeito.
 De fato, dispõem os arts. 664 e 681 do CC-02 (ambos equivalentes ao art. 1.315, na codificação anterior): “Art. 664. O mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, quanto baste para pagamento de tudo que lhe for devido em consequência do mandato”. (...) “Art. 681. O mandatário tem sobre a coisa de que tenha a posse em virtude do mandato, direito de retenção, até se reembolsar do que no desempenho do encargo despendeu.” A previsão dúplice do direito de retenção do mandatário se explica, apenas por um esforço de sistematização do legislador, para estabelecer que o direito é aplicável tanto para a retribuição pelo mandato, quanto pelas despesas contraídas, no que entendemos abrangente não somente o ressarcimento
de gastos, mas também as próprias perdas e danos.
 Sobre o tema, a III Jornada de Direito Civil da Justiça Federal editou o Enunciado n. 184, com a seguinte redação: “Enunciado n. 184 — “Arts. 664 e 681: Da interpretação conjunta desses dispositivos, extrai-se que o mandatário tem o direito de reter, do objeto da operação que lhe foi cometida, tudo o que lhe for devido em virtude do mandato, incluindo-se a remuneração ajustada e o reembolso de despesas”. Neste momento, faz-se mister esclarecer a diferença entre instruções do mandante para cumprimento dos negócios pretendidos e os próprios limites do mandato. De fato, atuando o mandatário dentro dos limites dos poderes outorgados, mesmo em situação ou resultado não querido pelo mandante, este último se obriga perante terceiros.
 O risco da atividade, portanto, perante terceiros contratantes, é do mandante, uma vez que é este quem estabelece o limite de poderes outorgados. Tendo-o feito em desacordo com o que pretendia, intimamente, ou com o que instruiu o mandatário, não há como deixar de se obrigar perante as pessoas com as quais foram celebrados negócios jurídicos.
Isso não quer dizer que o risco final, no caso de descumprimento de instruções pelo mandatário, seja do mandante, mas apenas que os terceiros, de boa-fé, não podem ser responsabilizados se os negócios foram celebrados dentro dos estritos limites da outorga de poderes. Tal afirmação justifica o direito subjetivo do mandante de acionar o mandatário pelas perdas e danos sofridos pelo descumprimento de suas instruções, sem prejuízo de ter de cumprir o quanto pactuado com terceiros, dentro dos limites do contrato.
É essa a regra do art. 679 do CC-02 (art. 1.313 do CC-16): “Art. 679. Ainda que o mandatário contrarie as instruções do mandante, se não exceder os limites do mandato, ficará o mandante obrigado para com aqueles com quem o seu procurador contratou; mas terá contra este ação pelas perdas e danos resultantes da inobservância das instruções”. Assim, por exemplo, imaginemos que Wilson constitua Esmeralda como sua mandatária, dando-lhe
amplos poderes, por meio de uma procuração, para que alugue determinado bem de sua propriedade. Se, nas instruções passadas (embora não constantes da procuração), foi feita restrição quanto ao valor da locação e, mesmo assim, a mandatária aluga o bem para terceiro por valor menor do que o pretendido pelo mandante, o contrato de locação é perfeitamente válido e exigível pelo terceiro locatário, devendo Wilson processar, querendo, Esmeralda pela inobservância das instruções.
 Por fim, parece-nos óbvio que é dever do mandante dar ao mandatário, que cumpriu regularmente as atividades que lhe foram delegadas, quitação formal de suas obrigações, sendo direito do mandatário exigi-la, inclusive judicialmente.
EXTINÇÃO DO MANDATO 
 O art. 682 do Código Civil elenca quatro modos de cessação ou de extinção do mandato: 
“I — pela revogação ou pela renúncia; 
II — pela morte ou interdição de uma das partes; 
III — pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; 
IV — pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio”.
 Segundo Carlos Roberto Gonçalves, a doutrina costuma ainda lembrar outras causas extintivas, de caráter geral. Pondera a propósito Henri de Page que o mandato se extingue não somente pelas causas especiais destacadas em dispositivo próprio no Código Civil, mas ainda pelas aplicáveis ao direito comum das obrigações, como o termo certo ou incerto, a impossibilidade de execução por efeito de uma causa estranha, a nulidade do contrato, a resolução por inadimplemento culposo se o mandato é remunerado e a superveniência de uma condição resolutiva expressa. Registre-se que a ancianidade da procuração não configura motivo bastante para a cessação do mandato. Vejamos as causas supramencionadas, separadamente: 
Pela revogação ou pela renúncia - O mandato, por se basear na confiança, que pode deixar de existir, admite resilição unilateral. Se esta partir do mandante, há revogação; se do mandatário, há renúncia. A revogação pode ser: a) expressa, quando o mandante faz declaração nesse sentido; ou b) tácita, quando resulta de atos do mandante que revelam tal propósito, como quando assume pessoalmente a direção do negócio ou nomeia novo procurador, sem ressalva da procuração anterior (CC, art. 687).
 Os efeitos da resilição são ex nunc. Os atos praticados não são atingidos. A revogação deve ser comunicada ao mandatário, para ter eficácia. E, para produzir efeitos em relação aos terceiros de boa-fé, há de ser comunicada também a estes, diretamente por todas as formas possíveis ou por meio de editais, sob pena de serem válidos os contratos com estes ajustados pelo procurador em nome do constituinte (CC, art. 686). Pode haver revogação total ou parcial (quando se revogam, por exemplo, apenas os poderes conferidos para alienação de bens, mantendo-se os outorgados para fins de administração). Pode ainda ocorrer antes ou durante a execução do mandato. O mandante não é obrigado a apresentar as razões que o levam a revogar o mandato, nem o mandatário a explicar o motivo da renúncia. Igualmente pode esta ser manifestada a qualquer tempo, seja o contrato gratuito ou remunerado. Pela morte ou interdição de uma das partes. 
 Não se admite mandato para ter execução depois da morte do mandante (mandatum solvitur morte), a não ser por meiode testamento. Para atenuar o rigor do retrotranscrito art. 682 do Código Civil, dispõe o art. 689 do mesmo diploma que “são válidos, a respeito dos contratantes de boa-fé, os atos com estes ajustados em nome do mandante pelo mandatário, enquanto este ignorar a morte daquele ou a extinção do mandato, por qualquer outra causa”. Se falecer o mandatário pendente o negócio a ele cometido, seus herdeiros “avisarão o mandante, e providenciarão a bem dele, como as circunstâncias exigirem” (CC, art. 690). Sua atividade, porém, deve limitar-se às medidas conservatórias, ou à continuação dos negócios pendentes que se “não possam demorar sem perigo, regulando-se os seus serviços dentro desse limite, pelas mesmas normas a que os do mandatário estão sujeitos” (art. 691).
 Também a interdição de qualquer das partes, por modificar o estado de capacidade, extingue o mandato. Tal circunstância torna o mandante incapaz de manter o contrato e o mandatário incapaz de cumpri-lo. Decidiu a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça que é necessária a interpretação “lógico-sistemática” da legislação para permitir o afastamento da incidência do art. 682, II, ao caso específico do mandato outorgado pelo interditando para a sua defesa na própria ação de interdição, não impedindo, assim, o advogado de apelar[23].
 Pela mudança de estado - Toda mudança de estado de qualquer das partes, inclusive pela interdição, acarreta automaticamente a extinção do mandato, desde que afete a capacidade para dar ou receber procuração. Todavia, valerão, em relação aos contraentes de boa-fé, os negócios realizados pelo mandatário, que ignorar a causa extintiva. A extinção processa-se ipso jure, independente de notificação, mas só ocorre quando tal mudança “inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer”. Por exemplo: extingue-se o mandato conferido pelo pai, representando filho absolutamente incapaz, quando este se torne relativamente incapaz, devendo a outorga, agora, ser feita pelo filho, assistido por aquele. A maioridade não extingue, porém, o mandato outorgado por relativamente incapaz, porque não o inabilita para a concessão. Vale lembrar que a hipótese é de modificação de estado civil da pessoa, e não de perda de capacidade propriamente dita. Assim, o mandato para alienar imóvel cessa pelo casamento, em razão da necessidade de outorga do outro cônjuge, se o regime não for o da separação absoluta de bens, sem acarretar, porém, a incapacidade do nubente.
PRAZOS
 Ainda de acordo com Carlos Roberto Gonçalves, quando a procuração é dada com data certa de vigência, cessa a sua eficácia com o advento do termo final. Se a procuração é outorgada para um negócio determinado (levantamento de uma quantia ou a outorga de escritura, p. ex.), extingue-se com a sua realização, por falta de objeto. A causa extintiva versa sobre o advento do termo final, que produz efeito resolutivo ao contrato (dies ad quem). Desta maneira, estando estabelecido na procuração seu prazo de vigência, verificar-se-á sua extinção pleno jure quando vencido o termo. É o que cogita o art. 682, IV do Código Civil.
 A outorga de procuração por prazo determinado é de uso corrente, quando tem por objeto poderes da cláusula ad negotia, como, por exemplo, aquelas conferidas pela presidência ou diretoria de instituição bancária aos gerentes de suas agências. A imposição de termo final permite que tanto o mandante quanto o mandatário tomem ciência, desde o início da vigência do mandato, do momento de sua extinção, evitando com isso, os transtornos causados pela resilição bilateral ou unilateral, inclusive no tangente a direito de terceiros, tendo em conta, que, como já foi explicitado, a resolução opera de pleno direito.
Gonçalves, Carlos Roberto, Direito civil esquematizado, v. 2/Carlos Roberto Gonçalves; coordenador Pedro Lenza– 2 ed. rev. e atual. – São Paulo, Saraiva, 2014.
 
Gagliano, Pablo Stolze, Novo curso de direito civil, volume 4: tomo II: contratos em espécie/Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo Pamplona Filho. – 7. ed. rev. e atual. – São Paulo:Saraiva, 2014.

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