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Tema Adimplemento das Obrigações Pagamento, no sentido técnico, refere-se ao cumprimento voluntário (ou adimplemento em sentido estrito) da prestação, qualquer que seja a espécie da obrigação, aplicando-se os paradigmas da eticidade, da socialidade e da operabilidade. O pagamento não pode ser visto apenas como uma obrigação do devedor. Trata-se, também, de um direito subjetivo de exoneração do débito, sendo garantido pelo ordenamento jurídico, através de medidas hábeis, a compelir o credor ao recebimento pontual. Para que o pagamento produza seu principal efeito que é extinguir a obrigação, é preciso que estejam presentes os seguintes elementos de validade: existência do vínculo obrigacional; intenção de solvê-lo (animus solvendi); cumprimento da prestação; pessoa que efetua o pagamento (solvens); pessoa que recebe o pagamento (accipiens). CONDIÇÕES SUBJETIVAS DE PAGAMENTO Os sujeitos do cumprimento da obrigação são as partes que atuam no momento da execução da obrigação. Sujeito ativo é aquele que faz o pagamento, o solvens; sujeito passivo, o que recebe o pagamento, o accipiens. Quem deve pagar A regra é que quem paga é o devedor obrigado, no entanto, o art. 304, CC, autoriza que qualquer interessado na extinção do vínculo possa fazê-lo (exceto se a obrigação for personalíssima). A lei considera que podem realizar o pagamento também: a) Terceiro interessado: quem tem interesse jurídico na extinção da dívida, como por exemplo, o fiador, o avalista, o sublocatário, o herdeiro... · O terceiro interessado que paga a dívida sub-roga-se nos direitos do credor. Trata-se de sub-rogação pleno iure (art. 346, III, CC). · Opondo-se o credor a receber o pagamento de terceiro interessado, poderá este consignar em pagamento em nome próprio. b) Terceiro não interessado: é quem tem interesse apenas moral (ou não jurídico) na extinção da dívida. · O terceiro não interessado que paga a dívida em nome próprio terá direito de reembolso (art. 305, CC); no entanto, se realizou o pagamento em nome do devedor perderá este direito, sendo considerado o ato mera liberalidade. · O terceiro não interessado só pode consignar em pagamento se o fizer em nome e à conta do devedor e se não houver oposição deste (art. 304, parágrafo único, CC). Nestes casos, o terceiro será considerado representante ou gestor de negócios. · Vale ressaltar que a oposição de devedor ao pagamento não significa proibição ao credor de recebê-lo. A oposição apenas retira o direito deste terceiro de consignar em pagamento. · O pagamento feito por terceiro não interessado com desconhecimento ou oposição do devedor não obriga a reembolsar se provar que tinha meios para elidir totalmente a dívida (art. 306, CC). · Se o terceiro não interessado realiza o pagamento antes do vencimento da dívida, só poderá cobrá-la após o advento do termo ou condição (art. 305, parágrafo único, CC). A quem se deve pagar Em regra o pagamento deve ser realizado diretamente ao credor originário (art. 308, CC), mas pode ser feito a quem o represente (representação legal, judicial ou convencional) ou a quem substituir o credor na titularidade do direito de crédito (são credores derivados: herdeiros e legatários, cessionários, sub-rogados...). A lei ainda reconhece como eficaz o pagamento: a. Feito a terceiro quando ratificado pelo credor (art. 308, CC). A ratificação gera efeitos ex tunc. b. Feito a terceiro se demonstrado que reverteu em benefício do credor (art. 308, CC). O ônus de demonstrar que o benefício reverteu em benefício do credor é do devedor. Uma vez que a quitação exige capacidade, o pagamento diretamente feito a credor incapaz será ineficaz, salvo: a. Se o devedor demonstrar que o pagamento reverteu em benefício do incapaz (art. 310, CC). b. Se o devedor desconhecia a incapacidade (erro escusável). c. Se o relativamente incapaz em razão da idade dolosamente ocultou sua idade ou se declarou maior (art. 180, CC). d. Por fim, vale lembrar que o devedor estando em dúvida a quem deve realizar o pagamento, sugere-se que realize a consignação em pagamento para que evite pagar mal e pagar duas vezes. CONDIÇÕES OBJETIVAS DE PAGAMENTO As regras a serem lembradas pelo professor são: 1) o credor não é obrigado a receber prestação diversa da devida, ainda que mais valiosa (art. 313, CC vetor qualitativo da obrigação); 2) ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou (art. 314, CC - princípio da indivisibilidade); 3) as despesas de entrega, quitação e qualquer outra decorrente do fato pagamento correm por conta do devedor, salvo disposição expressa em contrário (art. 325, CC). PROVA DO PAGAMENTO A quitação é uma declaração unilateral, escrita e revogável, emitida pelo credor, de que a prestação foi efetuada e o devedor está liberado. A quitação regular é um direito do devedor que poderá, inclusive, reter o pagamento ou consigná-lo caso o credor se negue a dá-la (arts. 319 e 335, I, CC), constituindo-se este último em mora (art. 394, CC). A quitação pode ser total ou parcial. O pagamento extingue, definitivamente, a relação jurídica obrigacional, a quitação libera completamente o devedor, denominando-se plena ou total. Há quitação parcial: 1º.) quando o credor admite receber parceladamente dívida que pode exigir por inteiro; 2º.) quando o pagamento deve ser efetuado em quotas periódicas. Na primeira hipótese, o recebimento por conta dá lugar ao recibo de quitação parcial. O devedor permanece vinculado, sendo liberado apenas da parcela quitada. São requisitos de validade da quitação: valor e espécie da dívida quitada; nome do devedor ou quem por este pagou; tempo do pagamento; lugar do pagamento; assinatura do credor ou seu representante (art. 320, CC). No entanto, faltando qualquer destes requisitos e atendendo ao princípio da boa-fé objetiva não se invalida se de seus termos ou circunstâncias resultar haver sido paga a dívida, o que leva a doutrina a questionar se a quitação é negócio jurídico solene como se depreende do caput ou se é negócio jurídico de forma livre como se pode deduzir do parágrafo único do art. 320, CC. O recibo (instrumento de quitação) é um dos meios de prova do pagamento, mas inexistindo este, outros meios poderão ser admitidos como, por exemplo, a menção em livros do credor e o cheque nominal, entre outros (arts. 212 e 225, CC). LUGAR DO PAGAMENTO Não havendo previsão convencional ou legal em contrário, presume-se como local do cumprimento da obrigação o domicílio do devedor (dívida queráble), conforme determina o art. 327, CC (princípio do favor debitoris)[7]. Havendo mudança no domicílio do devedor o credor pode manter o local originariamente fixado e, se isso não for possível, deverá o devedor arcar com as despesas decorrentes da alteração de seu domicílio. Designados dois ou mais lugares para o cumprimento da obrigação o credor pode escolher qualquer deles, desde que cientifique o devedor em tempo hábil para providenciar o pagamento. Caso o credor não realize a notificação, poderá o devedor realizar validamente o pagamento em qualquer dos lugares (art. 327, parágrafo único, CC). No entanto, se o fato constituir caso fortuito ou força maior não gerará dever de indenizar se não houver mora ou se o devedor por estes fatos não se tiver responsabilizado (arts. 393 e 399, CC). TEMPO DO PAGAMENTO O devedor além deter que saber onde deve cumprir a obrigação, precisa conhecer quando deve ser cumprida. As obrigações em que não se ajustou prazo (obrigações puras e simples) para o vencimento são exigíveis imediatamente (arts. 134 e 331, CC princípio da satisfação imediata).
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