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INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA Biodiversidade e Conservação Trabalho realizado por: Lopo Carvalho Nº 16961 “A biodiversidade nos processos de fitorremediação” 2 ÍNDICE INTRODUÇÃO………………………………………………………………………………………pág. 3-5 FITORREMEDIAÇÃO – DENOMINAÇÕES………………………………………………pág. 5-7 BIODIVERSIDADE NAS DIFERENTES TECNOLOGIAS………………………….pág. 7-12 AVANÇOS NA FITORREMEDIAÇÃO………….…………………………………………pág. 12-13 CONCLUSÂO……………………………………………………………………………………….pág. 13 REFERÊNCIAS………………………………………………………………………………………pág. 14 3 Introdução Durante séculos as actividades industriais, mineiras, militares e também a agricultura, foram as grandes responsáveis pela contaminação de grandes áreas em países desenvolvidos com altas concentrações de metais pesados e de poluentes orgânicos. Para juntar aos efeitos negativos nos ecossistemas e em outros recursos naturais, estes locais contaminados colocam também em risco a saúde pública visto que os poluentes podem entrar nos alimentos cultivados nesses terrenos e na água por lixiviação. A recuperação de áreas contaminadas pelas actividades humanas pode ser feita através de vários métodos, tais como a escavação, incineração, extracção com solventes, oxido-redução e outros que são bastante dispendiosos, para além de que alguns processos deslocam a matéria contaminada para locais distantes, causando riscos de contaminação secundária e aumentando ainda mais os custos do tratamento. Em anos recentes passou-se a dar preferência a métodos “in situ”, que perturbem menos o ambiente e sejam mais económicos, visto que hoje em dia mais de 16% do total de área da União Europeia, cerca de 52 milhões de hectares, se encontra contaminado sendo urgente encontrar uma alternativa barata e eficiente. Tal pode ser conseguido através da utilização de uma tecnologia relativamente recente conhecida como fitorremediação (Peuke et al., 2005). Esta tecnologia utiliza plantas e os micróbios a elas associados para a recuperação de ambientes poluídos/contaminados, servindo-se dos processos de ocorrência natural pelos quais as plantas e os micróbios da sua rizosfera degradam, sequestram ou estabilizam um vasto leque de poluentes orgânicos e inorgânicos (principalmente metais pesados) no solo, água e no ar (fig.1) (Pilon-Smits, 2005). Os poluentes orgânicos existentes no meio ambiente são na sua maioria de origem antropogénica e xenobióticos para os organismos, sendo muitos deles tóxicos e carcinogénicos. Os poluentes inorgânicos por seu turno ocorrem naturalmente na crosta terrestre e na atmosfera, sendo as actividades humanas como a indústria, a extracção mineira, o tráfego, a agricultura e as actividades militares promotores da sua libertação no meio, 4 levando à toxicidade destes. Os poluentes inorgânicos não podem ser degradados, sendo fitorremediados através de estabilização no solo ou sequestro nos tecidos aéreos das plantas (Pilon-Smits, 2005). Exemplos de substâncias alvo da fitorremediação incluem metais (Pb, Zn, Cu, Ni, Hg, Se), compostos inorgânicos (NO3-, NH4+, PO43-), elementos químicos radioativos (U, Cs, Sr), hidrocarbonetos derivados de petróleo (BTEX), pesticidas e herbicidas (atrazina, bentazona e compostos clorados), explosivos (TNT, DNT), solventes clorados (TCE, PCE) e resíduos orgânicos industriais (PCPs, PAHs) (Dinardi et al., 2003). A fitorremediação deve ser tida em conta visto que em comparação com os métodos convencionais de remediação, a utilização de plantas confere grandes vantagens, sendo uma delas o baixo custo visto que é uma tecnologia aplicada “in situ” e movida pela fotossíntese, e também porque depois da plantação os custos adicionais são marginais, apenas para o corte e gestão da cultura. É vantajosa também porque é uma tecnologia neutra em termos de libertação de carbono: se a biomassa for queimada o CO2 libertado vai corresponder àquele assimilado durante o crescimento das plantas. É também uma tecnologia potencialmente rentável visto que a biomassa resultante pode ser utilizada para aquecimento e produção de energia (Peuke et al., 2005). Figura 1 – Exemplos de zonas poluídas 5 A maior limitação desta tecnologia é o seu ritmo relativamente lento, visto que necessita de vários anos ou mesmo décadas para reduzir a metade a concentração de metais no solo. Consequentemente o desafio para os cientistas é melhorar a performance das plantas na remoção de poluentes, o que vai levar à investigação e compreensão dos mecanismos naturais de destoxificação das plantas (Peuke et al., 2005). Outra das limitações deste processo é a necessidade das plantas estarem onde o poluente se encontra e de conseguirem actuar sobre ele e além disso as propriedades do solo, o nível de toxicidade e o clima devem permitir o crescimento das plantas. Se tal não for possível utilizam-se correctores de solo de forma a melhorar as condições de crescimento das plantas. A biodisponibilidade dos poluentes é também uma limitação a este processo, sendo que por vezes também se adicionam correctores ao solo para tornar certos elementos biodisponíveis na sua totalidade. Tecnologias de remediação não biológica e bio/fitorremediação não são mutuamente exclusivas, devido à heterogeneidade da distribuição e da concentração dos vários locais, a solução de remediação mais eficiente e efectiva em termos de custos será a combinação das diferentes tecnologias, tais como as escavações da maioria das zonas contaminadas seguida do tratamento através de plantas. Tal esforço de remediação integrado requer uma equipa de trabalho multidisciplinar (Pilon-Smits, 2005). Fitorremediação – denominações As plantas e os microrganismos a elas associados podem ser utilizados na fitorremediação de formas distintas. As árvores devido às suas raízes mais profundas podem ser utilizadas como barreiras hidráulicas, criando um fluído ascendente de água, prevenindo a contaminação das águas interiores por lixiviamento ou prevenindo a deslocação horizontal de águas interiores contaminadas. As plantas de pequeno porte podem ser utilizadas como filtros em zonas húmidas construídas ou em instalações hidropónicas, designando-se esta última por rizofiltração (fig. 2). 6 O termo fitoestabilização denota a utilização de plantas para estabilizar os poluentes no solo, orgânicos e inorgânicos, simplesmente por prevenção da erosão, lixiviamento e drenagem ou convertendo os poluentes em formas menos biodisponíveis (ex. precipitação na rizosfera) (fig. 3). A absorção dos poluentes pelas raízes das plantas, os quais são nelas armazenados ou são transportados e acumulados nas partes aéreas designa-se por fitoextracção. É uma tecnologia aplicada principalmente para metais podendo também ser utilizada para outros compostos inorgânicos e compostos orgânicos. Esta técnica utiliza plantas chamadas hiperacumuladoras, que têm a capacidade de armazenar altas concentrações de metais específicos (0,1% a 1% do peso seco, dependendo do metal) (fig.3). As plantas podem também facilitar a biodegradação dos poluentes orgânicos através dos micróbios existentes na sua rizosfera, visto que as suas raízes em crescimento (extremidades e ramificações laterais) promovem a proliferação de microrganismos degradativosna rizosfera, que usam os metabolitos exsudados da planta como fonte de carbono e energia, e além disso, as plantas podem secretar as suas próprias enzimas biodegradativas, esta tecnologia é denominada por fitoestimulação ou rizodegradação (fig.3). Rizofiltração Zonas húmidas construídas Controlo hidráulico Filtragem aérea Figura 2 – Tecnologias utilizadas para remediar poluição no ar, água e no solo. 7 A degradação de poluentes orgânicos também pode ser levada a cabo nos tecidos das plantas, directamente através do seu próprio sistema enzimático, num processo designado por fitodegradação (fig.3). Entre essas enzimas destacam-se as nitroredutases (degradação de nitroaromáticos), desalogenases (degradação de solventes clorados e pesticidas) e lacases (degradação de anilinas). Certos poluentes depois de absorvidos pelas raízes são convertidos em formas não tóxicas e depois liberados na atmosfera sob uma forma volátil, designando-se este processo por fitovolatilização (fig.3). Estas várias tecnologias de fitorremediação não são mutuamente exclusivas, por exemplo, numa zona húmida construída, acumulação, estabilização e volatilização podem ocorrer simultaneamente (Pilon-Smits, 2005 & Dinardi et al., 2003). Biodiversidade nas diferentes tecnologias As diferentes tecnologias acima descritas são apropriadas para diferentes classes de poluentes e servem-se das diferentes propriedades das plantas, utilizando para isso diferentes espécies nas várias tecnologias. As características das plantas mais favoráveis para a fitorremediação no geral Fitodegradação Fitovolatilização Poluente Fitoestabilização Fitoestimulação Fitoextracção Figura 3 – Esquema das várias tecnologias de Fitorremediação. 8 são: um crescimento rápido, uma grande biomassa, serem competitivas, resistentes e principalmente tolerantes à poluição. Na fitoextracção as características mais importantes são uma boa absorção, translocação e acumulação nos tecidos aéreos da planta, utilizando- se por exemplo espécies como a Brassica juncea, Alyssum bertolonii, Thlaspi caerulescens e o girassol (fig.4) (Pilon-Smits, 2005 & Dinardi et al., 2003). As plantas utilizadas no processo de fitodegradação devem possuir preferencialmente um sistema radicular grande e denso e um nível alto de enzimas degradativas. Neste processo são utilizadas árvores com taxas de respiração elevada como o salgueiro, o choupo e outras árvores do género Populus, visto que estas a par da espécie Myriophyllium spicatum são exemplos de plantas que possuem sistemas enzimáticos bem desenvolvidos. b) a) d) c) Figura 4 – a) Brassica juncea; b) Helianthus annuus; c) Alyssum bertolonii; d) Thlaspi caerulescens. 9 Outros exemplos de plantas utilizadas neste processo são o centeio (Secale cereale), o sorgo, a Festuca arundinacea, o trevo (Trifolium pratense) e a luzerna (Medicago sativa) (fig.5) (Pilon-Smits, 2005 & Dietz et al., 2001). A tecnologia de fitoestimulação utiliza plantas com sistemas radiculares com uma grande superfície, visto que a par da produção de compostos exsudados específicos vai fomentar o desenvolvimento e proliferação dos micróbios na rizosfera promovendo a rizodegradação devido às interacções específicas planta — micróbio, sendo as Pseudomonas sp. (fig.6) os organismos predominantes associados às raízes. As espécies mais utilizadas para este efeito são por exemplo as herbáceas dos géneros Festuca, Lolium, Panicum e Buchloe e a árvore Maclura pomifera (fig.7) (Pilon-Smits, 2005; Dinardi et al., 2003 & Dietz et al., 2001). Salix chrysocoma Populus deltoides Populus nigra Festuca arundinacea Trifolium pratense Secale cereale Medicago sativa Myriophyllium spicatum Figura 5 – Diferentes espécies utilizadas na tecnologia de fitodegradação 10 Numa cobertura vegetal para fitoestabilização, utiliza-se uma combinação de árvores e vegetação rasteira, evitando a mobilização do contaminante e sua difusão no solo, utilizando-se árvores com uma transpiração rápida, como o choupo, que mantém uma corrente ascendente, prevenindo o lixiviamento descendente, sendo que a função da vegetação é a de prevenir a erosão provocada pelo vento e água. Exemplos de plantas cultivadas para este fim são as espécies dos géneros Haumaniastrum, Festuca glauca Lolium perenne Lolium multiforum Panicum virgatum Panicum capillare Buchloe dactyloides Maclura pomifera a) Figura 6 – Exemplos de espécies de Pseudomonas existentes na rizosfera: a) Pseudomonas aeruginosa; b) Pseudomonas fluorescens. Figura 7 – Espécies utilizadas na tecnologia de fitoestimulação. b) 11 Eragrostis, Ascolepis, Gladiolus e Alyssum (fig.8) (Pilon-Smits, 2005 & Dinardi et al., 2003). A espécie mais utilizada para fitovolatilização é sem dúvida o choupo devido à sua alta taxa de transpiração, a qual facilita o movimento dos compostos pela planta até à atmosfera, sendo que outra espécie também utilizada é a mostarda da índia (Brassica juncea) (fig.4 a)) (Pilon-Smits, 2005 & Diez et al., 2001). Quando se constroem zonas húmidas para fitorremediação utilizam-se variadas espécies aquáticas emergentes, submergentes e flutuantes, sendo os géneros mais populares: Typha, Elodea, Lemna, Eichhornia, Spartina entre outros (fig.2 e 9) (Pilon-Smits, 2005). Gladiolus sp Alyssum saxatile Populus nigra Eragrostis curvula a) b) Figura 8 – Espécies utilizadas na fitoestabilização de solos. a) Haumaniastrum caeruleum; b) Eragrostis barelieri. 12 Finalmente uma consideração a ter em conta é o facto de que quando se escolhem plantas para uma qualquer zona é aconselhável escolher plantas indígenas, ou seja, plantas que estejam habituadas ao clima da região e sejam competitivas nessas condições, de forma a que se alcance mais rapidamente o sucesso da tecnologia implementada. Avanços na fitorremediação As espécies com melhores qualidades fitorremediadoras têm sido ao longo do tempo caracterizadas ao nível fisiológico, bioquímico e molecular para identificar as características específicas que as tornam úteis em certos processos, como a acumulação de poluentes, a sua degradação ou qualquer outra daquelas faladas anteriormente, de forma a que essas características possam ser utilizadas para criar, via manipulação genética, plantas geneticamente modificadas, reunindo assim o máximo de diferentes características distintas possíveis, sendo que para atingir esse objectivo, plantas modelo como Arabidopsis thaliana e o tabaco (fig.10) tenham sido bastante estudadas para se compreender ao nível genético quem são os responsáveis pelas diferentes características que conferem as propriedades Lemna minor Spartina alterniflora Typha sp Eichhornia crassipes Elodea densa Elodea canadensis Figura 9 – Espécies de plantas utilizadas em zonas húmidas construídas. 13 desejadas, de forma a que se possa melhorar o rendimento da fitorremediação através da obtenção de plantas transgénicas que reúnam as melhores características que diferentes plantas têm para certas propriedades. Conclusão O crescimento e desenvolvimento das sociedades humanas levou a que se contaminassem grandes áreas com poluentes de origem orgânica e inorgânica e o tratamento destas áreas poluídas é cada vez mais preocupação dessas mesmas sociedades que outrora não se aperceberam dos perigos que este tipo de poluição provocam, não só para asaúde pública como também para a vida selvagem. Os métodos artificiais de depuração de zonas contaminadas tornam-se bastante dispendiosos quando se pretendem tratar áreas muito grandes o que levou ao desenvolvimento de tecnologias naturais, sendo a fitorremediação um exemplo dessas tecnologias. Este processo utiliza diversos tipos de plantas que pelas suas distintas características permitem tratar zonas com diferentes tipos de poluentes, bastando para isso conhecer o tipo de poluentes que se pretendem tratar para depois se escolherem as plantas mais indicadas para utilizar no tratamento desses locais. A ciência hoje em dia pretende reunir o máximo possível das diferentes características numa só planta, através das plantas transgénicas, de forma a diminuir o número de plantas a utilizar nas fitorremediações. No fundo o que o Homem pretende obter é uma planta que reúna as características que só a biodiversidade confere, provando que a vida no nosso planeta deve muito ao grande número de espécies que nele habitam e às interacções entre elas. a) b) Figura 10 – a) Arabidopsis thaliana; b) Tabacum nicotiana 14 BIBLIOGRAFIA DIETZ, A.C.; Schnoor, J. L. (2001) Advances in Phytoremediation, Environmental Health Perspectives, 109: 163–168 DINARDI, A.L.; et al. (2003) Fitorremediação, III Fórum de Estudos Contábeis PEUKE, A.D.; Rennenberg, H. (2005) Phytoremediation, EMBRO Reports, vol. 6; no. 6 PILON-SMITS, E. (2005) Phytoremediation, Annual Review Plant Biology, 56: 15-39 Sem título
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