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Wagner Luiz Batista batista@unifesp.br Biossegurança e controle de crescimento microbiano Organização e biossegurança em laboratório Adota-se o termo biossegurança como a ciência voltada para o controle e a minimização de riscos advindos da prática de diferentes tecnologias, seja em laboratório seja no meio ambiente. O fundamento básico da biossegurança é assegurar o avanço dos processos tecnológicos e proteger a saúde humana, animal e o meio ambiente. Manual de Biossegurança, Hirata & Mancini Filho, 2002 Definição e Fundamento As práticas de biossegurança baseiam-se na necessidade de proteção ao operador, seus auxiliares e a comunidade local contra riscos que possam prejudicar a saúde. A BIOSSEGURANÇA LEGAL – Brasil Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) Responsável por normas de: Análise de risco, Emissão de certificado de qualidade em biossegurança (CQB), Define nível de biossegurança Características físicas estruturais de acordo com o tipo de micro- organismo a ser manipulado. Níveis de Biossegurança Classe de Risco 1 Organismos que não causam doenças em humanos e animais. Classe de Risco 2 Patógeno que causa doença, mas não consiste em risco sério. Classe de Risco 3 Patógeno que geralmente causa doenças graves em humanos e animais, e pode representar sério risco para o manipular. Classe de Risco 4 Patógeno que representa grande ameaça para humanos e animais, representa grande risco para o manipulador e pode ser transmitido de um indivíduo a outro. Nível 1 de Biossegurança (NB-1) ou Proteção básica (P1) Trabalho com microrganismos que não causam infecções no homem adulto e sadio. Ex.: S. cerevisiae, Lactobacillus casei Área física: instalações básicas, pia Práticas básicas de segurança em microbiologia Laboratório de escola Trabalho com micro-organismos de risco moderado presentes na comunidade e associados com infecções humanas de gravidade variável. Ex.: HVB, Salmonella spp. e Candida albicans. Área física: cabines de segurança para manipulação dos materiais clínicos com risco de formação de aerossóis. Acesso ao laboratório é mais controlado. Pessoal treinado. descontaminação do lixo Laboratório de análises clínicas, pesquisa. Nível 2 de Biossegurança (NB-2) ou (P2) Manipulação de tecidos e sangue humano, líquidos corporais Laboratórios que trabalham com micro-organismos que tem um potencial para transmissão por via respiratória e que causam infecções graves. Barreiras 1a e 2a para proteger funcionários do setor, de áreas contíguas, o ambiente, a comunidade. Exemplo: laboratório de trabalha com micobactérias. Nível 3 de Biossegurança (NB-3) ou (P3) Laboratórios que trabalham com agentes extremamente infecciosos e potencialmente fatais. Instalações. • Todo procedimento é feito na cabine Classe III • Roupas de proteção Exemplo: vírus ebola. Nível 4 de Biossegurança (NB-4) ou (P4) Classificação do organismo segundo seu potencial patogênico Equipamentos de Segurança Cabines de Segurança Biológica Classe I Classe II Classe III Copo de segurança da centrífuga Equipamento de proteção individual (EPI) Luvas, aventais, gorros, proteção para sapatos, botas, máscaras, protetor facial,respiradores e óculos. Cabines de Segurança Biológica Classe I Classe II Cabines de Segurança Biológica Classe III Manual de Biossegurança, Hirata & Mancini Filho, 2002 O trabalho laboratorial executado de forma adequada e bem planejada previne a exposição indevida a agentes considerados de risco à saúde e sem dúvida evita acidentes. A esse procedimento denominamos boas práticas de laboratório Boas Práticas de Laboratório Atividades que geram aerossol Manipulação de agulhas e seringas Expelir ar Tirar agulha Inoculação Flambar alças Resfriar a alça no meio de cultura Fazer estrias Manipulação de pipetas Homogeinizar suspensões Colocar a suspenção no meio de cultura Manipulação de amostras e culturas Centrifugação Homogeinização Decantação de fluidos Remoção de tampas Filtração de material Ingestão: Atividades relacionadas com transmissão oral Pipetar com a boca Passar a mão ou material contaminado na boca Alimentos e bebidas na área de trabalho Inoculação: Atividades relacionadas com pele e mucosas Olhos, boca e narina Lesão de pele Trabalhar em superfícies contaminadas e/ou com equipamentos contaminados Inoculação: Atividades relacionadas com transmissão direta intravenosa ou subcutânea Manipulação de agulhas e seringas Manuseio de lâminas Medidas de Controle e Proteção Medidas individuais: Emprego de EPIs (equipamentos de proteção individual): Luvas, máscara, avental de manga longa, óculos de proteção, sapatos fechados, respiradores, toucas ... Medidas coletivas: Descarte adequado e remoção de lixo, cabines de seg. química, fluxos laminares (cabines de seg. biológica), extintores de incêndio, lavador de olhos, sinalização. Organização e limpeza Placas de Risco Placas de Alerta Placas de Comando Placas de Segurança Medidas coletivas: Descarte adequado e remoção de lixo, extintores de incêndio, lavador de olhos, sinalização adequada Acesso aos equipamentos de segurança coletiva Livre Obstruído Coleta de lixo seletiva Em caso de acidente com material biológico: Notificar responsável Pequeno volume/área de contaminação Isolar o local, limitar área com papel toalha Saturar com água sanitária ou hipoclorito 1% por 30 min. Descartar o material e lavar área de trabalho Lavar as mãos Tratamento de material biológico para descarte Material descartável ou não: acondicionar em sacos de autoclave Autoclave: 121˚C, 15 min. mínimo (grandes volumes podem precisar de mais tempo) Lixeiras com saco branco (lixo hospitalar) Incineração Não coma, Não beba em laboratórios Pipetar com a boca é terminantemente proibido Retirar as luvas antes de usar o telefone, tocar em óculos, maçanetas, portas de geladeiras, etc. X X X X Não circular nas áreas sociais utilizando equipamentos de proteção X X Não usar avental de bancada do laboratório no refeitório X X Limpe a bancada antes e após o trabalho Importante !! Como trabalhar com bico de bunsen corretamente ? No laboratório de microbiologia vamos respeitar as normas de biossegurança Práticas de Microbiologia, Vermelho, Guanabara Koogan Nem tudo que é perigoso vêm marcado Fontes de Informações Centers for Disease Control (CDC) National Institutes of Health (NIH) Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) CONTROLE DO CRESCIMENTO MICROBIANO Alguns conceitos: • Limpeza: remoção mecânica de matéria orgânica e micro-organismos. • Descontaminação: limpeza com agentes químicos ou físicos. • Desinfecção: é a eliminação parcial dos micro-organismos de material inanimado usando substâncias químicas, radiação ultravioleta, água fervente ou vapor. • Anti-sepsia: semelhante à desinfecção, porém relacionada a tecidos vivos, e realizada por produtos químicos denominados anti-sépticos. • Esterilização: é a eliminação total dos micro-organismos e esporos por métodos químicos ou físicos. Área da saúde: prevenir a transmissão de doenças. Área industrial: evitar a decomposição de alimentos, cosméticos, medicamentos Área de saneamento: evitar a contaminação da água e do ambiente. Esse controle de micro-organismos é possível pela ação de agentes físicos e químicos, que possuem propriedades de matar a célula microbiana,ou de impedir a sua reprodução. POR QUE CONTROLAR O CRESCIMENTO MICROBIANO? Métodos físicos Temperatura Radiação Filtração Dessecação Remoção de O2 Vibração ultra-sônica Métodos químicos Desinfetante Anti-sépticos Conservantes de alimentos Métodos físicos e químicos de controle dos micro-organismos Vermelho, Guanabara Koogan MÉTODO FÍSICO Temperatura: calor seco ou úmido (método seguro, de baixo custo e não gera produtos tóxicos) Acima da temperatura ideal de crescimento ocorre desnaturação de proteínas estruturais levando a morte do micro-organismo. - Tempo de Redução Decimal (TRD ou D): o tempo, em min, em que 90 % de uma população microbiana em uma determinada temperatura será morta. quanto maior a temperatura menor o D (tempo) Fatores que influenciam o tratamento microbiano 1. Tamanho da população Quanto > a população microbiana > o tempo de tratamento 2. Natureza da população - Presença de endosporos: mais resistentes - Diferentes estágios de crescimento: - Presença de micobactérias (mais resistentes) 3. Concentração do agente 4. Tempo de contato 5. Temperatura e pH 6. Presença de matéria orgânica Curva de morte microbiana Efeito da temperatura em uma população microbiana 70°C = 3 min 60°C = 12 min 50°C = 42 min Calor úmido • Autoclavação 121°C por 15 min (mínimo) • Pasteurização (indústria de alimentos) Aquecimento de produtos para redução do número de micro-organismos. Não esteriliza. Ultra alta temperatura (UHT) 141°C/2-4 s Alta temperatura e curto tempo (HTST) 72°C/15 s Baixa temperatura (LTH) 63°C/30 min Autoclavação tem menor poder de penetração que o calor úmido e usam temperaturas e tempos maiores recomendado para óleos, pós temperatura entre 160°C e 170 °C por 60 a 120 min Calor seco • Refrigeração comum (0 a 7ºC)→ efeito bacteriostático Baixas temperaturas Causa diminuição na taxa de crescimento e atividade metabólica. depende do tipo de micro- organismo, alguns (psicrófilos) crescem lentamente em baixas temperaturas • Congelamento torna os micro-organismos dormentes mas não necessariamente os mata. Tem vários efeitos sobre as células, dependendo do seu comprimento de onda, intensidade e duração. Podem ser classificadas como: Ionizantes (retiram elétron da molécula formando íons) raios gama, raioX Não ionizantes (mutagênica) UV Reduz ou elimina micro-organismos Radiação RADIAÇÃO IONIZANTE: - Destruição do DNA - Radiações de pequeno comprimento de onda e portanto de alta energia e penetrabilidade. usada para equipamentos médicos plásticos (cateter, luvas ...) Raios Gama: emitidos pelo cobalto radioativo. Raios X: são produzidos por máquinas similares as dos feixes de elétrons e são de natureza similar aos raios gama. RADIAÇÃO NÃO - IONIZANTE: - Possui um comprimento de onda > que da Radiação Ionizante (normalmente acima de 1 nm). - Luz Ultra Violeta (UV): comprimento de onda de 4 a 400 nm, sendo o comprimento de 260 nm o mais eficiente. utilizada para destruição de micro-organismos no ar e em superfícies Desvantagem - apresenta baixa penetrabilidade (não atravessa vidros, filmes escuros e outros materiais). - Microondas: radiação com os maiores comprimentos de ondas. Utilizado para esterilizar meios de cultura e soluções. Filtração Utilizada para materiais sensíveis ao calor (antibióticos, soluções) Bactérias retidas na superfície de um filtro do tipo Isopore® (Adaptado de Prescott et al., Microbiology, 1997) Dessecação Envolve a remoção de água das células microbianas para controle de crescimento microbiano. - Liofilização congelamento rápido e remoção da água por sublimação bacteriostático, usado na indústria de alimentos e preservação de culturas bacteriana - Defumação Diminui o teor de água por exposição de alimentos durante horas ou dias à fumaça de madeira em combustão. Vibração ultra-sônica Vibração de alta freqüência que leva ao rompimento das células, quebras de DNA. Não esteriliza. MÉTODO QUÍMICO Usam substâncias químicas de origem natural ou sintética para eliminar ou inibir crescimento de micro-organismos. - Efeito estático (bacteriostático, fungistático ou virustático) inibição de crescimento - Efeito microbicida (bactericida, fungicida, viruscida) morte do micro-organismo limitação: ação dos agentes é diferente para cada micro-organismo Diversas classes: • Agentes alquilantes (rompem ácidos nucleicos) glutaraldeído, formaldeído óxido de etileno (vapores tóxicos) • Fenol (ácido carbólico) desnaturam proteínas • Biguanida (lesam membrana citoplasmática) clorexidina (compostos clorados) usada para controlar micro- organismos na pele • Halogênios (iodo, cloro) inibem enzimas e inativam ácidos nucleicos hipoclorito de sódio • Álcoois desnaturam proteínas etanol de 60-90% ... Metais pesados e seus compostos Camisetas de atletas (Ag) Bandagem (Ag) Desodorantes (Ag) Xampus anticaspa (Zn) Colírios (cloreto de Prata) Piscinas (sulfato de cobre) Íons metálicos se combinam com os grupos sulfidrila nas proteínas celulares, ocorre desnaturação ANTIBIÓTICOS - Controle microbiano através da ingestão ou aplicação superficial. Teste de susceptibilidade in vitro pelo método de disco difusão
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