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O Conceito de Comportamento Encoberto no BR de Skinner

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Capítulo 27
O conceito de comportamento 
encoberto no Behaviorismo Radical 
de B. F. Skinner1
Emmanuel Zagury Tourinho2
O conceito de comportamento encoberto é introduzido por Skinner, em sua 
discussão da privacidade, para dar conta de um conjunto de problemas tradicionalmente 
abordados pela psicologia a partir de referenciais mentalistas ou cognitivistas. Aí estão 
incluídos o pensar, o atentar, o ver, e outros tantos fenômenos admitidos como formas 
de ação do organismo, mas raramente interpretados com os conceitos de uma ciência 
do comportamento. Ao rejeitar a dicotomia físico-mental e o critério de verificação pública 
(Skinner, 1945), Skinner propõe-se a interpretar esses fenômenos enquanto 
comportamentos, com uma única especificidade: seu caráter privado ou encoberto. 
Dizer que aquelas ações do organismo podem ser interpretadas enquanto 
comportamentos implica afirmar que se trata de eventos (a) dotados de dimensões 
físicas e (b) funcionalmente relacionados a contingências de reforçamento presentes 
no ambiente (físico e social) com o qual o organismo interage. Nesse sentido, o pensar 
é um fenômeno comportamental tanto quanto (e sujeito às mesmas leis que) o andar, 
por exemplo. Desse modo, não há necessidade, para Skinner, de uma definição especial 
para o conceito de comportamento encoberto, exceto que se trata de “comportamento 
executado em escala tão pequena que não é visível aos outros”. (Skinner, 1974, p.27)
Apesar da aparente simplicidade da definição de comportamento encoberto, 
ela suscita um conjunto de questões que exigem esclarecimento. Procurarei, a seguir, 
abordar algumas destas questões, examinando como Skinner lida com elas.
a) A aquisição do comportamento encoberto.
Nas ocasiões em que Skinner trata da aquisição de repertórios encobertos, 
ele geralmente se refere a respostas adquiridas inicialmente de forma pública ou aberta, 
e que posteriormente retrocedem “ao nível de comportamento encoberto ou meramente 
incipiente” (1945, p.273). Um exemplo claro disso é o comportamento verbal encoberto, 
ao qual Skinner (1968) se refere afirmando que:
“Embora eventualmente uma criança fale para si mesma 
silenciosamente, nós a ensinamos a falar reforçando diferencialmente
1 Trabalho apresentado no IV Encontro Brasileiro de Psicoterapia e Medicina Comportamental, 
Campinas, 1995.
2 Departamento de Psicologia Social e Escolar da Universidade Federal do Pará. Endereço para 
correspondência: Trav. Mauriti, 3275, ap.1501. Marco. 66.095-360, Belém, Pará.
242 Emmanuel Zagury Tourinho
seu comportamento audível. Embora mais tarde ela leia livros e recite 
passagens para si mesma, nós a ensinamos na medida em que ela lê 
e recita em voz alta. O comportamento encoberto requer menos do 
ambiente atual e é fácil, rápido e secreto, mas até onde sabemos não 
há nenhum tipo de pensar que tenha que ser encoberto. " (p. 125)
O pensar é outro exemplo clássico de comportamento encoberto, mas ele não 
se confunde, para Skinner, com o comportamento verbal encoberto. O pensar, para 
Skinner, pode ser um conjunto de comportamentos preliminares (que podem ser públicos 
ou privados) emitidos em situações de resolução de problemas, nas quais não há 
possibilidade momentânea de emissão de uma resposta capaz de produzir o 
reforçamento. Tais respostas preliminares (ou precorrentes), quando funcionais, 
produzem mudanças (no ambiente ou no próprio indivíduo) que tornam possível a 
emissão da resposta solucionadora (que produz o reforçamento). Também o pensar é 
adquirido inicialmente de forma aberta. Por exemplo, quando aprendemos a ensaiar 
um movimento no jogo de damas, aprendemos a fazer isso de forma aberta e apenas 
sob outras contingências passamos a emitir a resposta de forma encoberta. Skinner, 
porém, não afasta a possibilidade de que uma estratégia de resolução de problema 
seja “aprendida em nível encoberto, com conseqüências privadas” (Skinner, 1974, p. 112). 
Mas isso seria uma exceção e precisaria ser melhor explicada.
b) A manutenção de um comportamento ao nível encoberto.
Quando uma resposta é aprendida de forma aberta, ela está sob o controle de 
conseqüências do ambiente do indivíduo. Quando ela passa ao nível encoberto, pode- 
se falar de duas possíveis fontes de controle. Primeiro, pode ser que a resposta fique 
sob controle de conseqüências privadas. É o que ocorre, por exemplo, no comportamento 
verbal encoberto. Sobre essa possibilidade, Skinner (1953/1965) diz o seguinte:
“O comportamento verbal... pode ocorrer ao nível encoberto porque 
ele não requer a presença de um ambiente físico particular para a sua 
execução. Além disso, ele pode permanecer efetivo em nível encoberto 
porque o próprio falante é também um ouvinte e seu comportamento 
verbal pode ter conseqüências privadas. A forma encoberta continua a 
ser reforçada, embora ela tenha sido reduzida em magnitude ao ponto 
em que não tem qualquer efeito apreciável no ambiente(p.264)
Na segunda alternativa, a resposta é parte de uma cadeia comportamental e fica 
sob controle das conseqüências ambientais que se seguem à segunda resposta, o 
chamado “comportamento consumatório”. Isso é o que ocorre com o pensar quando ele 
é um comportamento preliminar. Quanto a esta possibilidade, Skinner (1968) diz o seguinte:
“Uma vez que o comportamento precorrente opera principalmente 
para tornar o comportamento subseqüente mais efetivo, ele não precisa 
ter manifestações públicas. Qualquer comportamento pode retroceder 
ao nível privado ou encoberto desde que as contingências de 
reforçamento sejam mantidas, e elas são assim mantidas quando o 
reforçamento é automático ou derivado da efetividade do 
comportamento aberto subseqüente. Como resultado, muito do 
comportamento precorrente envolvido no pensar não é óbvio”, (p. 124)
Quer dizer, como um comportamento encoberto não afeta o ambiente físico e 
social com o qual o indivíduo está interagindo, ele não pode produzir mudanças 
reforçadoras nesse ambiente. Nesse caso, ou ele é reforçado por uma conseqüência
Sobre Comportamento e Cognição 243
igualmente interna, ou ele é reforçado por uma conseqüência que se segue a um outro 
comportamento que é público e subseqüente ao comportamento encoberto.
c) Vantagens e desvantagens do comportamento encoberto.
Há circunstâncias em que o comportamento encoberto é claramente mais 
vantajoso para o indivíduo do que a forma aberta. Algumas vantagens citadas por Skinner 
(1974) são as seguintes: a) "... nós podemos agir sem nos comprometermos” (p. 103), 
isto é, podemos emitir uma resposta sem sofrer possíveis conseqüências negativas 
que resultariam de sua emissão pública; e b) “nós podemos cancelar o comportamento 
e tentar novamente se as conseqüências privadas não forem reforçadoras” (p. 103), por 
exemplo, quando ensaiamos uma jogada num jogo de xadrez.
Há situações, porém, em que a forma encoberta de uma resposta é menos 
vantajosa do que a forma pública e, nesses casos, o comportamento tende a voltar ao 
nível aberto. Diz Skinner (1968) que “um pensador retoma ao nível aberto, por exemplo, 
quando a auto-estimulação encoberta é inadequada; ele pode começar um cálculo 
matemático privadamente, mas começar a falar alto ou escrever notas quando o trabalho 
se torna difícil ou surgem distrações”, (p. 125)
Resumindo, o que define a forma aberta ou encoberta de certas respostas são 
as contingências em vigor, a possibilidade de produzir conseqüências reforçadoras em 
uma dada situação com a qual se está interagindo. Nenhuma resposta é sempre e 
necessariamente mais eficaz se emitida de forma aberta ou encoberta.
d) A descrição do comportamento encoberto.
A possibilidade de descrição do comportamento encoberto está intimamente 
relacionada com o aprendizado da descrição desse comportamento quando ele ocorre de 
forma aberta. No Behaviorismo Radical, o comportamento verbal é visto como determinadopor contingências sociais. A comunidade verbal, por seu tumo, atua sempre com base em 
eventos públicos, que lhe estão acessíveis à observação direta. É apenas observando o 
comportamento em sua forma aberta, então, que a comunidade pode ensinar o indivíduo a 
descrevê-lo. Para o próprio indivíduo, porém, a resposta pode ficar sob o controle, também, de 
uma estimulação encoberta que acompanha o comportamento. Sendo assim, numa ocasião 
futura, quando aquela estimulação ocorrer o indivíduo pode descrever a ocorrência do 
comportamento, mesmo que ela tenha acontecido de forma encoberta. Essa análise tem 
algumas complicações que não cabe discutir aqui, mas é importante ficar claro que a descrição 
só pode ser aprendida, a princípio, a partir de ocorrências abertas do comportamento.
e) A relação entre comportamento encoberto e comportamento aberto.
É um erro pensar que todo comportamento aberto é determinado por 
comportamentos ou estímulos encobertos. Por exemplo, é um equívoco interpretar um 
comportamento público como determinado por um “pensamento”, uma “decisão” ou 
uma “reflexão”. O controle último de toda instância de comportamento humano está no 
ambiente físico e social. É possível que um comportamento encoberto anteceda 
temporalmente a ocorrência de um comportamento aberto, mas o último não é 
determinado pelo primeiro; ambos são função das contingências ambientais.
f) O ver como comportamento encoberto.*?
O comportamento de ver exige uma análise especial. Tanto quanto os outros 
comportamentos encobertos, ele é aprendido de forma aberta. Segundo Skinner (1968), 
“até onde sabemos, nada jamais é visto encobertamente que já não tenha sido visto 
abertamente, pelo menos de forma fragmentária. Portanto, o ver encoberto pode ser ensinado 
como ver aberto” (p. 127). O que toma o comportamento de ver um caso especial é que 
mesmo em sua forma aberta ele tem uma topografia que não pode ser especificada. Na
244 Emmanuel Zagury Tourinho
verdade, ele é ensinado não com a comunidade observando diretamente o “ver”, mas com 
a comunidade inferindo sua ocorrência a partir da observação de outros comportamentos 
públicos que pressupõem a ocorrência do ver. Por exemplo, a comunidade ensina alguém 
a ver uma praia na medida em que solicita que o indivíduo descreva o lugar.
A análise do comportamento de ver é também fundamental para a crítica 
behaviorista à idéia de que nós armazenamos cópias mentais do mundo (cf. Skinner, 
1963). Uma cópia seria irrelevante para o comportamento privado porque o ver pode 
ocorrer na ausência da coisa vista. Uma vez que eu tenha aprendido a ver, por exemplo, 
uma praia, na presença da praia, eu posso vê-la na sua ausência, sem precisar, para 
isso, pressupor que eu guardei uma cópia mental da praia. Isso pode parecer improvável 
porque estamos acostumados com vários tipos de cópias de estímulos visuais, como 
fotografias, filmes, etc. Mas não é nada diferente de se dizer que se pode ouvir uma 
música na ausência dos estímulos auditivos que lhe são característicos, nem por isso 
dizemos que temos cópias mentais dos sons.
g) O caráter social do comportamento encoberto.
A ocorrência de uma resposta qualquer de forma aberta ou encoberta é função 
de contingências de reforçamento do ambiente com o qual interagimos, principalmente 
do ambiente sociai. Não há, portanto, comportamento naturalmente encoberto; o que em 
uma cultura ocorre predominantemente sob a forma encoberta pode, em outro ambiente 
cultural, ocorrer predominantemente sob a forma pública ou aberta. Na cultura ocidental, 
por exemplo, a chamada leitura silenciosa, que corresponde ao comportamento verbal 
textual encoberto, só se tornou predominante a partir do final da Idade Média, com a 
separação entre vida pública e vida privada (cf. Ariés, 1991). Antes disso, o comportamento 
verbal textual era predominantemente um comportamento público ou aberto.
Quando se fala do comportamento encoberto como função de contingências de 
reforçamento eminentemente sociais, é importante entender que estamos falando da 
relação entre comportamento encoberto e práticas culturais. Nesse nível, não estamos 
mais lidando com vantagens ou desvantagens do encoberto no nível pessoal ou individual, 
mas no nível da sobrevivência da própria cultura. Isto é, alguns repertórios comportamentais 
podem subsistir predominantemente a nível encoberto não porque são mais funcionais 
enquanto tal para o próprio indivíduo, mas porque estão sob controle de contingências 
relacionadas à sobrevivência de uma cultura e das práticas que lhe são características. 
Neste caso, não apenas não podemos naturalizar o fenômeno do comportamento 
encoberto, como precisamos refletir sobre a própria cultura que o propicia e o modo de 
vida que esta cultura está produzindo ao estabelecer limites muito estritos para que 
grande parte do repertório comportamental humano possa ocorrer a nível aberto.
Bibliografia
Ariés, P. (1991) Por uma História da Vida Privada. Em Ariés, P e Chartier, R. História da Vida Privada 
- Volume 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1a reimpressão, p. 7-19
Skinner, B. F. (1945) The operational analysis of psychological terms. Psychological Review, 52, 
270-277/291-294.
_______(1963) Behaviorism at fifty. Science, 140, 951-958.
_______(1965) Science and Human Behavior. New York/London: Free Press/Collier MacMilIan.
Publicado originalmente em 1953.
_______(1968) The Technology ofTeaching. New York: Appleton-Century-Crofts.
______ (1974) About Behaviorism. New York: Alfred A. Knopf.
Sobre Comportamento e Cognição 245

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