Buscar

FATO TÍPICO - Conceito

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 17 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

FATO TÍPICO
 Conceito: 
É o primeiro elemento do crime, é aquele descrito em lei como crime ou contravenção, por exemplo: homicídio é um fato típico, fato atípico é aquele que não está descrito em lei como crime ou contravenção, por exemplo: o pai é amante da filha maior de 18 anos, é um fato atípico o incesto, porque não está descrito na lei como crime ou contravenção. 
 
Natureza jurídica: 
É o primeiro elemento analítico do crime, pois vimos por uma corrente que o crime tem dois elementos: o fato típico e a antijuridicidade. 
Para a corrente tripartida o crime ainda tem um terceiro elemento que é a culpabilidade que seria o fato típico a antijuridicidade e a culpabilidade. Para ambas as correntes, o fato típico é o primeiro elemento analítico do crime. 
 
 Quais são os elementos do fato típico? 
Para responder esta pergunta é preciso estabelecer a diferença entre os crimes materiais, formais e de mera conduta: 
 
a) crimes materiais ou causais: são aqueles em que a lei descreve a conduta e o resultado naturalístico, exigindo para consumação a ocorrência do resultado. Nesses crimes materiais o fato típico tem 4 elementos: 
1º) a conduta, 
2º) o resultado, 
3º) o nexo causal entre a conduta e o resultado, 
4º) a tipicidade que é o enquadramento de um fato em um tipo legal, na lei penal. Isso ocorre nos crimes materiais consumados, porque nos crimes materiais tentados é um fato típico também e o fato típico na tentativa teria dois elementos: a conduta e a tipicidade, não tem o resultado, e por conseqüência não tem o nexo causal. 
 
crimes formais e de consumação antecipada: são aqueles em que a lei descreve a conduta e o resultado, porém para sua consumação não exige a ocorrência do resultado. Exemplo: extorsão que é o constrangimento com violência ou grave ameaça para exigir uma vantagem econômica e indevida, o crime de extorsão é um crime formal, pois ele se consuma independentemente de o extorsionário obter a vantagem econômica e indevida, portanto a extorsão é um crime formal, consuma-se com a conduta, não exige a ocorrência do resultado. 
 
crimes de mera conduta ou de simples atividade: que são aqueles em que a lei descreve apenas a conduta, a lei não faz menção a nenhum resultado naturalístico. Ex: reingresso de estrangeiro expulso art. 338 do Código Penal. [1: Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena ]
Nos crimes formais e nos crimes de mera conduta: o fato típico tem dois elementos: conduta e tipicidade. Para ser típico, os crimes formais não exige que o resultado ocorra. 
 
Em resumo: 
nos crimes materiais é preciso a realização dos 4 elementos do fato típico: conduta, resultado, nexo causal e tipicidade; 
nos crimes materiais tentados, crimes formais e de mera conduta: são dois elementos do fato típico: conduta e tipicidade. 
 
O primeiro elemento do fato típico é a conduta, e de agora em diante nós vamos estudar os elementos do fato típico, que é conduta, resultado, nexo causal e tipicidade. 
 
CONDUTA 
 
Todo crime seja doloso ou culposo só pode ser praticado por meio de uma conduta, não existe, portanto, crime sem conduta. 
Os penalistas mais antigos usavam termo: ação em sentido amplo, a ação em sentido amplo era gênero, espécies de ação: ação em sentido estrito e a omissão. Os penalistas mais modernos em vez de ação em sentido amplo usam a expressão conduta como gênero. 
Espécies de conduta: ação e omissão. 
Ação em sentido amplo significa conduta, a conduta é o comportamento humano. 
A violação de uma norma penal se dá através de uma ação ou omissão, que são as duas formas de conduta. 
A norma penal incriminadora é aquela que descreve a conduta e prevê a sanção, a norma penal incriminadora ela pode ser proibitiva e preceptiva: 
norma penal incriminadora proibitiva: é a que veda certo comportamento, essa norma penal proibitiva ocorre quando a norma penal incriminadora descreve uma ação, portanto, se a lei descreve uma ação, exemplo: matar alguém, subtrair, neste caso, se a lei descreve uma ação é porque a norma, a ordem da lei é proibitiva, portanto se a lei descreve a ação de matar alguém, significa que a norma é não matar, se descreve a ação de subtrair é porque a norma é não subtrairás, portanto, a norma penal proibitiva ocorre nos delitos de ação. Norma penal proibitiva é a que veda um comportamento, ela ocorre nos delitos em que a lei descreve uma ação. 
 
norma penal incriminadora preceptiva: as normas penais preceptivas são aquelas em que ordenam uma ação, um comportamento positivo, essas normas preceptivas ocorrem nos delitos omissivos próprios, porque se a lei descreve uma omissão, por exemplo: deixar de prestar socorro, é porque a norma, a ordem é prestar socorro, a norma contém uma ordem, contém um fazer. 
As normas penais preceptivas ocorrem nos delitos omissivos, normas preceptivas são as que ordenam uma ação, essas normas preceptivas ocorrem nos delitos omissivos puros, que são aqueles em que a lei descreve uma omissão, então, se a lei descreve uma omissão, a norma é preceptiva, é um fazer, logo se a lei descreve uma ação, matar subtrair, é porque a norma é proibitiva, é a que veda um comportamento. 
Deste modo, a conduta tem duas faces: a conduta mediante ação, que é a conduta positiva e a conduta mediante omissão, que é a conduta negativa, e isto de certa maneira dificulta o conceito de conduta. 
Sobre o conceito de conduta nós temos várias teorias: naturalística, finalista, social e jurídico penal, vamos explicá-las. 
1º) Teoria naturalística (clássica, causal ou mecanicista): Conduta é o comportamento humano voluntário que produz uma modificação no mundo exterior, chamada resultado. 
A vontade é a causa da conduta, e a conduta é a causa do resultado, por isso, é chamada de teoria causal mecânica. A vontade causa a conduta e a conduta causa o resultado, portanto a conduta teria esse perfil, comportamento humano voluntário que causa um resultado. 
Essa teoria merece algumas críticas, ela foi defendida por penalistas ilustres como Nelson Hungria, Vicente Sabino Jr, José Frederico Marques, Aníbal Bruno, Manuel Pedro Pimentel, etc., diversos penalistas de primeira grandeza defendiam essa teoria, mas elas merecem algumas criticas: 
A conduta é um comportamento humano que causa resultado: no Direito Penal nós temos delitos que não tem resultado, neste caso, esse resultado não serviria para os delitos que não possuem resultado naturalístico, exemplo: crimes de mera conduta, a tentativa que também não possuem resultado naturalístico e mesmo os crimes formais para se consumar, não é necessário o resultado naturalístico. Essa teoria não serve para explicar o conceito de conduta para esses delitos em que a lei não exige a ocorrência do resultado. 
 
Essa teoria é que diz que conduta é o comportamento humano voluntário que causa o resultado: Os crimes omissivos próprios não causam resultado, porque o omitente responde pelo crime, porque ele viola a norma jurídica que lhe impõe o dever de agir e não porque ele causou o resultado. Portanto, essa teoria não explica os crimes omissivos também. 
Essa teoria coloca um conceito de conduta cego, porque a conduta é o comportamento humano voluntário que causa resultado, portanto, o dolo e culpa, para a teoria naturalística não integram na conduta, o dolo e a culpa são analisados na culpabilidade e não na conduta, se o sujeito sem dolo e sem culpa mata alguém, ele teria realizado uma conduta, ele será absolvido não por falta de conduta, será absolvido por falta de culpabilidade, porque para essa teoria o dolo e a culpa estão na culpabilidade. A crítica que se faz a essa teoria, se dá ao fato dela separar a conduta em duas fatias: a conduta em seu comportamento externo, que é aspecto físico da conduta, que é o comportamento que segundo essa teoria causa o resultado, separou desta teoria o aspecto externo do aspecto interno ou psicológico daconduta, que é o dolo, a culpa, a intenção, esse aspecto interno da conduta não pertence a culpa, esse aspecto interno é realizado na culpabilidade. A crítica que se faz, é que esse aspecto interno faz parte do comportamento humano, quando A mata B com a intenção de matar, essa intenção, esse dolo já existia ao tempo do comportamento, então o querer existe ao tempo do comportamento, o querer faz parte do comportamento, faz parte da conduta e, no entanto, essa teoria separa o dolo e a culpa, dizendo que o dolo e a culpa não pertence a conduta, o dolo e a culpa devem ser analisados na culpabilidade.
Os penalistas Beling e Mayer dizem o seguinte: Quando o fato é típico presume-se que é antijurídico até prova em contrário, ora, como vou presumir a antijuridicidade, se o dolo e a culpa não são analisados no fato típico para essa teoria. Como vou presumir se alguém realiza um dado comportamento sem dolo e sem culpa, eu vou presumir que é antijurídico? Portanto, essa teoria não tem muito sentido, nesse aspecto, porque eu não posso presumir uma antijuridicidade sem analisar dolo e culpa, eis então, as ideias da teoria naturalística. 
2º) Teoria finalista: foi criada na Alemanha na década de 30, pelo jurista alemão Hans Welzel, ele dizia o seguinte: conduta é o comportamento humano voluntário, consciente, dirigido a um fim, a conduta não é um processo puramente causal, a conduta não é um comportamento que necessariamente causa resultado, portanto, ele mudou o conceito de conduta, como sendo um comportamento humano, voluntário, consciente, dirigido a um fim. 
Hans Welzel analisa o dolo e a culpa também na conduta, esse é o grande mérito do finalismo, antecipa a análise do dolo e a culpa. O dolo e a culpa, que tradicionalmente se concentravam na culpabilidade, o finalismo antecipa, e joga na conduta, porque ele diz: o dolo e a culpa estão na conduta, porque quando o sujeito age com a intenção de matar, então é evidente que o dolo existiu no momento em que ele agiu, e a mesma coisa a culpa, os delitos de tendência, são aqueles em que a tipicidade varia, que o fato é ou não típico, de acordo com a intensidade do agente, exemplo: art. 215 do Código Penal, aquele em que o médico toca nas partes íntimas do agente, se ele fez isto com a intenção médica de fazer diagnóstico, não há crime, agora se ele fez com a intenção de abusar, aí teremos o crime. [2: Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também multa. ]
Isso prova que o dolo e a culpa se concentram necessariamente na conduta, porque quando o agente age, ele já age com dolo, já age com a intenção, ou age com a culpa, então essa intenção, que é o dolo e a culpa, está presentes no momento do comportamento dele, portanto, o finalismo é a teoria que antecipa a análise do dolo e da culpa inserindo esses elementos na conduta. 
Hans Welzel dizia o seguinte: a conduta finalística ela tem que abranger o objetivo que o agente deseja alcançar, os meios que ele emprega para alcançar este objetivo, e as conseqüências secundárias vinculadas para utilização desses meios, portanto ele deve ter consciência de todos os esses meios e das conseqüências que advirão desses meios. 
 Como que o finalismo explica o crime culposo, se toda conduta é dirigida a um fim, como diz o finalismo, e no crime culposo o resultado é indesejado, o resultado é involuntário, o agente não quer o resultado, e nem assume o risco de produzi-lo, o resultado não é, portanto, querido pelo agente, se toda conduta é dirigida a um fim, como se explica a finalidade na conduta culposa? Hans Welzel dizia: No crime culposo a conduta também é dirigida a um fim, mas a um fim diferente do resultado produzido, então ele diz que toda vez que o agente age, ele age dirigindo-se a um fim, no crime culposo ele age com um diferente do que ocorreu, exemplo: se ele atravessa um sinal vermelho com imprudência, ele tem alguma finalidade para isso, ele está com pressa, ele que chegar mais cedo, a finalidade era essa, não era matar ninguém, ele não teve a finalidade de produzir o resultado, ele teve uma outra finalidade, certamente ele teve, mesmo no crime culposo, portanto, a conduta é dirigida a um fim, mas a um fim diferente do resultado produzido, ou se quiserem, no crime culposo, a conduta é dirigida com o fim de violar o dever de cuidado, e não com o fim de produzir o resultado, mas ao fim de violar o dever de cuidado.
Essa teoria finalista tem o mérito de concentrar na conduta o aspecto externo da conduta, que é o comportamento, humano, voluntário e consciente e o aspecto interno, que é o querer, o dolo e a culpa, o aspecto psicológico, antecipou a análise do dolo e da culpa para a conduta. 
Então, para o finalismo, o dolo e a culpa se concentram na conduta, de modo que, se não houver dolo nem culpa, não há conduta, logo o fato é atípico. 
Para a teoria naturalística o dolo e a culpa concentram na culpabilidade, de modo que se não houver dolo e nem culpa, o fato é típico e antijurídico, o sujeito será absolvido por falta de culpabilidade. 
A teoria finalista foi abraçada no Brasil, por Heleno Cláudio Fragoso, grande penalista, Miguel Reale Júnior, Damásio e Mirabette etc. 
Críticas à teoria finalista: 
os críticos dizem o seguinte: O finalismo não explica o crime culposo resultante do esquecimento, exemplo: o sujeito sai para trabalhar e esquece veneno de rato, quando chega mais tarde o filho morreu, é um homicídio culposo e pode até posteriormente receber o perdão judicial. Vejamos: se toda conduta é dirigida a um fim, quando a culpa resulta do esquecimento, não tem como sustentar que a culpa foi dirigida a um fim, porque se o sujeito esqueceu, ele nem se lembra que esqueceu, então, a conduta não foi dirigida a um fim, também não explica direito, as condutas em que derivam de atos automáticos aquelas condutas que a pessoa está habituada a praticar e começa praticar de forma inconsciente, exemplo: repetição dos atos, ou seja, é tão automático que não se pode dizer que esse ato não é dirigido a um fim, porque ele pratica esse ato sem reflexão. 
 
a crítica que se faz ao finalismo é justamente achar que o homem antes de agir, planeja o fim que ele pretende atingir, toda conduta é dirigida a um fim, então o homem antes de agir já tem em mente o fim, quando na verdade algumas condutas exemplo: ato culposo resultante de esquecimento, atos habituais não se pode dizer que esses comportamentos foram previamente dirigidos a um fim, o que se pode dizer é que de qualquer maneira o conceito finalístico de conduta é bem superior que a teoria clássica. 
3ª) Teoria social: conduta é o comportamento humano, socialmente relevante, dominável ou dominado pela vontade. Essa teoria social, na verdade não é uma nova teoria, no modo de ver do prof. Flávio Monteiro de Barros, porque tem a teoria social naturalística e a teoria social finalista, a teoria social naturalística pega o conceito de conduta da teoria naturalística e acrescenta o elemento socialmente relevante, dizendo que a conduta é um comportamento humano, voluntário socialmente relevante que produz um resultado naturalístico, então só acrescenta o elemento socialmente relevante, portanto se submete a mesmas críticas que foram feitas na teoria naturalista. 
E a teoria social finalista diz que a conduta é um comportamento humano, voluntário e consciente socialmente relevante dirigido a um fim, então seria o próprio finalismo, com o elemento socialmente relevante. Não é propriamente uma nova teoria, mas um plus que se acrescenta às outras teorias (o termo socialmente relevante). 
Essa teoria no entender do prof. FMB parece perigosa, pois se entender que a conduta é um comportamento humano socialmente relevante, o Direito Penal fica muito vago, abrindo brechas para absolvições infundadas,abrindo brechas para se ingerir no direito penal ideologias. O que é um comportamento socialmente relevante que merece a atenção do Direito Penal? Então, isso enfraqueceria os tipos penais e abriria brechas para ideologias políticas, filosóficas e religiosas no Direito Penal. 
4ª) Teoria jurídico penal: é uma teoria que foi idealizada pelo penalista brasileiro Francisco de Assis Toledo, que foi ministro do Superior Tribunal de Justiça e ele diz o seguinte: As teorias anteriores encaram a conduta, como se fossem uma categoria do ser, quer dizer, buscam um conceito antológico, filosófico um conceito universal de conduta, as condutas anteriores buscam um conceito que sirva não só para o direito penal, mas também para todo o mundo fenomênico, então essas teorias acabam não conseguindo um conceito unitário de conduta, porque como as condutas tem facetas diferentes: ação, omissão, dolo ou culpa, isso acaba dificultando um conceito universal de conduta. 
Essa teoria jurídico penal, diz o seguinte: a conduta penal tem que ser conceituada sob a ótica do direito penal, isto é, sob a ótica da norma penal. Ele define a conduta como sendo um comportamento humano dominado ou dominável pela vontade, dirigido a um fim de lesar ou por em perigo o bem jurídico, ou um fim de uma causação de uma previsível lesão de um bem jurídico. 
Ele diz o seguinte: A conduta é o comportamento humano (ação ou omissão) dominado ou dominável pela vontade, então ele coloca o dolo e a culpa na conduta, a conduta é o comportamento humano dominado ou dominável pela vontade, ele aproveita essas ideias finalistas e a conduta tem que lesar um bem jurídico ou então por em perigo um bem jurídico e a conduta é sempre dirigida a um fim, um fim de lesar um bem jurídico, como nos crimes dolosos, ou a um fim de expor a perigo um bem jurídico, como ocorre nos crimes de perigo, o sujeito não quer lesar, mas quer expor a perigo ou a um fim de causar uma previsível lesão ao bem jurídico, como nos crimes culposos, ele não quer lesar o bem jurídico, mas ele age com o fim de causar algo que o homem médio sabe, tinha condições de perceber que poderia lesar um bem jurídico, o fim de causação de uma previsível lesão ao bem jurídico, exemplo: atravesso o sinal vermelho, ele age não com a finalidade de lesar ao bem jurídico, mas ele age consciente de que a sua conduta pode por em perigo um bem jurídico. 
Em outras palavras o Assis Toledo define a conduta da seguinte forma: A conduta é o comportamento humano doloso ou culposo, que lesa ou põe em perigo de lesão um bem jurídico penalmente relevante. O conceito do Assis Toledo é praticamente um finalismo, porque ele diz que a conduta é um comportamento humano doloso ou culposo dirigido a um fim. A única diferença dessa teoria para a teoria finalista, é que o finalismo não especifica qual é o fim, por isso é que o conceito finalista explica todas as condutas, não só as condutas da área penal, mas também as condutas do dia a dia, como tomar banho, comer, vestir, é um conceito universal de conduta, porque não explica o fim. A teoria do Assis Toledo é um finalismo adaptado para o Direito Penal, diz o seguinte dirigido a um fim de lesar ou por em perigo um bem jurídico ou ao fim de causação de uma previsível lesão ao bem jurídico, é praticamente uma teoria finalista do Assis Toledo. 
 
Características da conduta 
 
Não há crime sem conduta. Todo crime necessariamente tem que ter conduta. 
  O que é crime de mera suspeita ou de simples posição? É aquele em que não há conduta, o sujeito é incriminado porque se encontra em uma situação estática, individual e por estar em uma situação estática, ele é incriminado sem ter realizado conduta.
O penalista italiano Manzine dá um exemplo: um sujeito que já tem condenação por furto, é encontrado em poder de instrumentos destinados a praticar furto, chave falsa, etc. 
Na Itália isso é crime, no Brasil é contravenção art. 25 LCP, pessoa que já tem condenação por crime contra o patrimônio e é encontrado desses instrumentos que servem para praticar crimes contra o patrimônio, ele diz, é um exemplo de crime de mera suspeita ou de simples posição, isto é, um crime sem conduta. [3: Art. 25. Ter alguém em seu poder, depois de condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima.]
A posição dominante é que não existem crimes de mera suspeita, crimes sem conduta e esse exemplo que ele cita, não é um exemplo de crime sem conduta, existe a conduta, pois no momento em que o agente toma posse desses instrumentos, nesse momento existe o querer em tomar posse, existe a conduta, a conduta é um ato de vontade, no momento em que ele se apossa desse bem, existe o querer se apossar, existe, portanto uma conduta. 
Em resumo: não existe no Brasil crime de mera suspeita, isto é, crime sem conduta, nesse exemplo do art. 25 da LCP, existe a conduta no momento em que ele se apossa desse bem e existe esse querer se apossar, logo existe a conduta. 
Só o homem pode realizar condutas: evidentemente que animais não podem praticar condutas. A pessoa jurídica na área penal não pratica conduta penal, salvo os crimes contra o meio ambiente. 
A conduta tem que ser voluntária: uma conduta no Direito Penal tem que ser um comportamento voluntário e consciente, senão não existe conduta. Vejam: não é preciso ter consciência da ilicitude do comportamento, mas é necessário ter consciência do fato que está praticando, desde modo o sujeito tem que ter vontade e consciência de praticar aquele fato, ele não precisa saber que aquele fato é ilícito, que aquele fato é um crime, não se exige consciência da ilicitude, mas exige a vontade e consciência do fato, então a conduta tem como primeira característica: ser praticado pelo homem, segundo, tem que ter vontade e consciência do fato, não exige vontade e consciência da ilicitude. 
O comportamento tem que ser projetado no mundo exterior, só é conduta se houver uma ação ou omissão, exteriorização da vontade no mundo exterior, por meio de uma ação ou omissão, porque enquanto o agente estiver no terreno da cogitação, do querer interno, só cogitando praticar o crime, ainda não existe conduta. O direito penal não pune em nenhum momento, em nenhuma hipótese a cogitação, é preciso que a conduta se projete no mundo exterior através de uma ação ou omissão. 
 
No tocante ao crime de formação de quadrilha art. 288 do Código Penal, incrimina-se a simples formação de quadrilha, o simples fato de associar para praticar crimes, já é crime de quadrilha, só que na quadrilha o que se incrimina não é a cogitação, e sim, atos preparatórios, atos que se projetam no mundo exterior, o pensar em formar quadrilha não é crime de quadrilha, só é crime quando a quadrilha efetivamente se forma no mundo exterior. No crime de quadrilha, incrimina-se atos preparatórios e não a cogitação, o pensar, logo a cogitação nunca é punida. [4: Art. 288 - Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes: Pena - reclusão, de um a três anos. Parágrafo único - A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.]
 
Elementos da conduta
São dois os elementos da conduta: 
1º) é um ato de vontade, de consciência, dirigido a um fim. Esse é o primeiro elemento, nos crimes dolosos o fim é dirigido para lesão ao bem jurídico, os crimes de perigo são dirigidos para a exposição de perigo ao bem jurídico e nos crimes culposos, dirigidos para a causação de previsível lesão ao bem jurídico, os crimes culposos são dirigidos para um fim diverso do resultado. 
Portanto, primeiro elemento: toda conduta é um ato de vontade dirigido a um fim, isso seria o elemento psíquico da conduta, o elemento interno da conduta. 
2º) é o elemento mecânico ou neuromuscular: que é a exteriorização dessa vontade no mundo exterior, através de uma ação ou omissãodominado ou dominável pela vontade. Portanto, o segundo elemento seria esse, o elemento externo ou neuromuscular ou mecânico, que é a ação ou omissão, que é a exteriorização da vontade no mundo exterior. 
 
Em suma: a conduta tem dois elementos: vontade e consciência dirigida a um fim, ação e a omissão, isto é, a exteriorização dessa vontade no mundo exterior. 
 
 Não confundir: conduta com ato: 
O ato é apenas um momento da conduta, se um sujeito furta 100 laranjas de um pomar, ele praticou uma conduta com cem atos. 
Casos de ausência de conduta 
 
Para existir a conduta, é necessário haver esses dois elementos: vontade e consciência e a ação e a omissão, isto é, a exteriorização dessa vontade no mundo exterior. 
 
Vale lembrar que nos casos de ausência de conduta o fato é atípico, e temos: 
1º lugar: os movimentos reflexos, 
2º lugar: atos inconscientes, 
3º lugar: coação física e irresistível, 4º lugar: caso fortuito e força maior. 
 
Atos reflexos: É a reação de um músculo, de uma glândula excitada. É um ato que a vontade não tem a menor possibilidade de dominar, não existe vontade, portanto, não existe conduta porque não existe vontade, por exemplo: espirrar, tossir, o rubor, são atos que a vontade não controla, esses atos não existem conduta. O exemplo clássico é o reflexo rotuliano, da rótula do joelho, em que o médico dá uma martelada no joelho e automaticamente a pessoa chuta, é a reação muscular, neste ato não existe conduta, este ato não é passível de uma dominação pela vontade. 
 
Não confundir o ato reflexo com a ação em curto circuito: ação em curto circuito é um ato impulsivo, é um ato extintivo, é aquele ato praticado em uma explosão emocional em que a vontade existe, só que ela passa muito rápida do subconsciente para o consciente, existe uma velocidade extrema desta ação em curto circuito, são atos provocados por paixões, emoções violentas, exemplo: homem flagra a mulher com outro na cama e sai atirando em todo mundo, mas neste caso, existe a conduta, existe um querer interno, existe uma vontade obcecada que se passou muito rápida do subconsciente para o consciente, até se concretizar no mundo exterior, mas existe um querer íntimo, existe uma vontade dominável através do exercício de auto controle, portanto, nestas ações em curto circuito, nesses atos impulsivos, há conduta, porque é passível de dominação, é diferente dos atos reflexos, nestes não há conduta, é uma questão fisiológica, reações de órgãos do corpo, o órgão reage ao ser excitado, neste não existe conduta. 
 
Também não confundir o ato reflexo com os atos habituais, também chamados de atos mecânicos ou atos automáticos: esses atos habituais ocorrem quando há reiteração de um comportamento, exemplo: o sujeito tem o hábito de praticar um comportamento, dirigir sem as mãos no volante, tem certos costumes em que ele nem percebe, mas nestes atos habituais existe conduta, porque é um ato dominável pela vontade, e todo ato dominável pela vontade, pelo autocontrole é conduta, o ato habitual é dominável pela vontade. É muito importante estes atos nos crimes culposos, pois muitos dos crimes culposos são frutos de atos habituais. 
 
Atos inconscientes: atos praticados em completo estado de inconsciência, por exemplo: sonambulismo, hipnose, etc., exemplo: mulher sonâmbula esfaqueia o marido, fato atípico, porque não há conduta, não há vontade dominável, outro exemplo: pessoa hipnotizada mata alguém, fato atípico, pois a conduta não é dominável, porque não existe uma consciência. 
Há uma exceção no Código Penal que são nos casos de embriaguez, se o sujeito se embriaga e se torna uma condição de embriaguez inconsciente e pratica um fato criminoso, pelo Código Penal existe conduta, art. 28 inc. II do Código Penal: 
Art. 28 Não excluem a imputabilidade penal: 
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. 
 
Coação física irresistível: que é a vis absoluta, é quando a vontade do coagido é completamente eliminada e substituída pela vontade do coator. Na coação física irresistível, o coagido não tem a opção de agir num ou noutro sentido, a sua vontade é complemente eliminada, ele não tem querer, não existe vontade, exemplo: sujeito segura a mão de uma pessoa e coloca a impressão digital dela no dedo, ou “A” segura a mão de “B” para dar soco em “C”, quer dizer não existe o querer por parte de “B”, portanto, na coação física irresistível não existe conduta.
 É diferente da coação moral irresistível, a vis compulsiva: a coação moral irresistível é quando o agente age pressionado por uma grave ameaça, exemplo: o sujeito telefona para um pai de família e diz: se você não assaltar um banco agora eu dou um tiro na cabeça do seu filho. Vejam: na coação moral irresistível existe uma opção: permitir que o filho morra ou assaltar o banco, existe uma opção, e ele vai manifestar a opção de assaltar o banco, existe uma conduta, porque existe uma opção de vontade, ele é absolvido por falta de culpabilidade, art. 22 do Código Penal, e não por falta de conduta. 
 
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem. 
 
Em resumo: na coação moral irresistível, existe conduta e ele é absolvido por falta de culpabilidade, na coação física irresistível, não existe conduta e ele é absolvido por falta de conduta. 
 
Caso fortuito ou força maior: que são os acontecimentos imprevisíveis e, sobretudo, inevitáveis, são acontecimentos inevitáveis que escapam do domínio da vontade do agente. 
 
 Qual a diferença entre caso fortuito e força maior? 
Uma primeira corrente entende que não há diferença, que são expressões sinônimas; uma segunda corrente entende que a força maior é um acontecimento que emana da natureza, como um terremoto, uma tempestade, e o caso fortuito seria um acontecimento que emana do homem, como a greve, a guerra. 
O que nos interessa é o seguinte: caso fortuito e força maior são acontecimentos inevitáveis e imprevisíveis. Imaginemos: você compra um carro zero, você está dirigindo e rompe a barra de direção desse carro, ninguém pode falar que você foi negligente, pois o carro acabou de sair da concessionária, um acontecimento para você inevitável, nesse caso, seria uma hipótese de caso fortuito, evidentemente que você não vai ser condenado. 
Vejamos no caso fortuito e força maior não existe conduta, porque não existe vontade, logo o fato é atípico, o sujeito é absolvido por fato atípico. Para teoria naturalística: o dolo e a culpa estão na culpabilidade, logo o caso fortuito e a força maior, não existe dolo e nem culpa, o sujeito é absolvido por falta de culpabilidade, portanto, para teoria naturalística o fato é típico, antijurídico, e o sujeito é absolvido por falta de culpabilidade; para teoria finalista: o caso fortuito e a força maior o sujeito é absolvido por falta de conduta, logo o fato é atípico. 
Para Nelson Hungria: caso fortuito e força maior são causas de exclusão do nexo causal, essa corrente me parece não estar correta, porque se adotarmos o finalismo, dolo e culpa estão na conduta, no caso fortuito e força maior, não há dolo e nem culpa, logo não há conduta, logo o fato é atípico, se o fato é atípico e se não há conduta, eu nem analiso o nexo causal. 
 
Formas de conduta 
 
São duas as formas de conduta: a ação e a omissão. 
O crime cometido por ação: chama-se delito comissivo O crime cometido por omissão: chama-se delito omissivo. 
 
Ação 
A ação é o movimento corpóreo externo. Ação é um movimento do corpo, é um fazer, é uma conduta positiva. 
Os crimes de ação ocorrem quando a lei descreve uma conduta positiva, exemplo: matar alguém no homicídio, outro exemplo: ofender a integridade física ou a saúde de outrem no crime de lesão corporal; subtrair coisa alheia móvel para si ou para outrem no crime de furto, etc., a lei descreve uma ação, nós já vimos que quando a lei descreve uma ação, a normaincriminadora chama-se proibitiva, que é a que veda o comportamento, então a norma é não matarás, não ofender, não subtrair, etc., os delitos de ação violam, portanto, uma norma proibitiva. 
 
Omissão 
É a não realização da ação esperada pela lei. 
A omissão não é apenas a inércia do corpo, tanto omite aquele que permanece inerte, parado, dormindo, como aquele que realiza uma ação diversa daquela esperada pela lei, no caso de uma omissão de socorro, tanto omite aquele que fica parado sem fazer nada, como aquele que sai correndo, ambos omitem socorro, portanto, é possível omissão mediante ação, quando o agente realiza uma ação diversa da esperada, então a omissão pode se dar pela inércia total, dormir, ficar parado, etc., ou pode se dar pela realização de ação diversa da ação esperada. 
Os crimes omissivos podem ser próprios e impróprios: 
a) crimes omissivos próprios ou omissivos puros: é quando a conduta negativa, isto é, o não fazer, já é descrito pela lei, a lei descreve, a lei incrimina diretamente a omissão, a conduta negativa, exemplo: art. 135 do CP (omissão de socorro), a lei descreve “deixar de prestar socorro”, outro exemplo: abandono material, art. 244 do CP, que é “deixar de prover a subsistência”, abandono intelectual, art. 246 do CP, art. 269 do CP que é a omissão de notificação de doença, que é “deixar o médico de comunicar uma doença”, etc.[5: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte. ][6: Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada; deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa, de uma a dez vezes o maior salário mínimo vigente no País. Parágrafo único - Nas mesmas penas incide quem, sendo solvente, frustra ou ilide, de qualquer modo, inclusive por abandono injustificado de emprego ou função, o pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada. ][7: Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. ][8: Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. ]
Nos crimes omissivos próprios ou puros a lei já descreve a omissão, a lei incrimina a omissão, esses crimes omissivos próprios se consumam com a simples omissão, independente de qualquer resultado anterior, eles não tem possuem em regra, resultado naturalístico. 
E nos crimes que descrevem a omissão, a norma penal é preceptiva, porque a norma ordena uma ação, exemplo: preste socorro, preste assistência, portanto, nos crimes omissivos puros a norma penal incriminadora chama-se preceptiva, que é a norma que ordena uma ação. 
O Código Penal só prevê crimes omissivos próprios dolosos, mas nada obsta que a lei crie um crime omissivo próprio culposo, não há um impedimento, há um único exemplo: é o art. 13 da lei 10.826/2003, que é omitir as cautelas necessárias, para impedir que menor de 18 anos ou deficiente mental se apodere de arma de fogo. [9: Art. 13. Deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorrem o proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte quatro) horas depois de ocorrido o fato. ]
Essa expressão “deixar de tomar as cautelas, omitir de tomar as cautelas” revela negligência, revela culpa, uma da parcela da doutrina entende que se trata de um homicídio próprio culposo. 
Vale lembrar que o crime omissivo próprio não cabe tentativa, porque com a simples omissão o crime já se consuma. 
 
b) crimes omissivos impróprios (omissivos impuros, espúrios ou comissivos por omissão): são aqueles delitos em que a lei descreve uma ação, matar, subtrair etc., mas uma outra norma incrimina aquele que viola o dever jurídico específico de impedir o resultado, exemplo: a mãe que deixa de alimentar a criança que vem a morrer por desnutrição, a mãe responde por homicídio. 
Os crimes omissivos impróprios necessitam de alguns requisitos: 
1º) Sujeito ativo: Só responde por esse crime quem tem o dever jurídico específico de impedir o resultado, dever jurídico previsto no art. 13, §2º do CP, por isso que esses crimes omissivos impróprios são crimes próprios, isto é, o autor deve preencher certos requisitos, só é autor quem tem o dever jurídico específico de impedir o resultado. 
2º) Poder de agir: É aquele em que o agente possa agir para impedir o resultado. 
3º) É o dolo ou a culpa: Não basta ter o dever jurídico, é preciso ainda que viole esse dever com dolo ou com culpa, é evidente, porque se os crimes de ação exigem dolo e culpa, os crimes de omissão também devem exigir dolo e culpa. 
Não confundir o dever jurídico específico de agir com o dever genérico de agir: o dever jurídico específico é o previsto no art. 13, §2º do CP é quando o agente tem que agir por força de uma lei que ordena que ele aja, ou porque ele assumiu uma posição de garantidor da não ocorrência do resultado, ou então, pela ingerência, que é quando ele cria o perigo, quem cria o perigo, tem que impedir o resultado. O dever específico de agir ocorre nestas 3 hipóteses, quem viola o dever específico de agir, responde pelo resultado, é como se ele tivesse realizado a ação descrita no tipo. 
Não confundir o dever específico com o dever genérico: o dever genérico também chamado de dever ético ou humanitário ou dever de solidariedade. Esse dever genérico previsto no art. 135 do CP que incrimina a omissão de socorro, deixar de prestar socorro a uma pessoa que está em perigo, independente de qualquer vínculo específico, o sujeito responde pelo crime de omissão de socorro. Imaginemos: uma criança caiu em um lago e precisa de socorro e o policial não socorre e ele tem um dever específico, ele responde por homicídio, no mesmo caso a mãe, salva vidas, nestes casos, estes respondem como se tivesse realizado a ação. Agora, um particular qualquer que passa por lá e não socorreu, ele tem o dever genérico do art. 135 do CP, logo ele não responde por homicídio, ele responde por omissão de socorro, por mais grave que seja o fato, quem não tem o dever específico, vai responder pela omissão de socorro. É claro que no âmbito da responsabilidade civil, responderá pela indenização. 
Quem tem o dever específico responde pelo resultado, responde pelo homicídio, responde como se tivesse realizado a ação. 
 
Nos crimes omissivos impróprios nós temos uma norma penal híbrida, porque a norma contém uma proibição, tem um preceito proibitivo e contém também um preceito preceptivo, isto é, ordena uma ação, por isso que é híbrido, exemplo: homicídio mãe que deixa de alimentar o filho viola duas normas: o art. 121 que é o não matar, viola uma norma proibitiva e viola o art. 13§2º que manda ela agir, viola uma norma preceptiva, ela viola duas normas: a proibitiva e apreceptiva, que é a que ordena uma ação que está prevista no art. 13,§2º do CP. [10: Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte ]
O crime omissivo próprio, em regra ele é doloso, a lei não prevê nenhum culposo, a não ser aquele da lei 10.826/2003, da lei de arma de fogo, que é o único crime homicídio próprio culposo, já os crimes omissivos impróprios, podem ser dolosos, culposos, quando a lei prevê evidentemente a culpa. 
A questão do nexo causal é analisada, é importante nos crimes omissivos impróprios, já em crimes omissivos próprios não se analisam o nexo causal, porque eles são crimes de mera conduta, não tem resultado naturalístico. 
Feitas essas considerações vamos abordar agora os requisitos dos crimes omissivos impróprios: 
1º) O agente deve ter o dever jurídico específico de agir; 
2º) O poder de agir; 
3º) Tem que ter o dolo ou a culpa. 
 
O dever específico de agir: está no art. 13, §2º do CP, esse dever específico de agir emana da trindade de 3 situações: da lei, quando a pessoa por lei tem a obrigação de cuidado, proteção e vigilância em relação a outra pessoa, é o caso dos pais que tem o dever de cuidar dos filhos, de proteger os filhos, art. 1634 do CC, igualmente os tutores e curadores em relação aos curatelados, pupilos. Os policiais têm a obrigação de proteger ainda que estejam de folga, porque eles são policiais 24 horas por dia, neste caso, se o policial vê uma pessoa passando mal e não faz nada, e a criança morre, o policial vai responder por homicídio e não por omissão de socorro, por lei ele tem o dever específico de impedir o resultado. [11: Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores: - dirigir-lhes a criação e educação; - tê-los em sua companhia e guarda; - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; - representá-los, até aos dezesseis anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.]
A segunda hipótese é quando ele está na posição de garantidor da não ocorrência do resultado: o garantidor é quando ele assume a responsabilidade de impedir o resultado, se coloca na posição de garantidor da não ocorrência do resultado, exemplo: contrato em que uma babá tem o dever específico de cuidar da criança, mesmo sem contrato a pessoa assume a obrigação de cuidar de outra, em uma praia, por exemplo, a pessoa diz a mãe que pode ficar tranquila que eu vou cuidar do seu filho, mesmo sem o contrato, mesmo que o contrato for nulo, a pessoa tem a posição de garantidora de impedir o resultado, no caso da babá mesmo que o contrato seja nulo, ela tem a obrigação de impedir o resultado.
E a terceira hipótese de dever jurídico específico é a ingerência: que são os casos em que a pessoa cria o perigo, quem cria o perigo, automaticamente tem que impedir o resultado, quem cria o perigo de dano, automaticamente tem que impedir o resultado, exemplo: um nadador profissional convida um amigo para um longo nado em um rio, ele está criando o perigo, se em dado momento este amigo passa mal e começa ter câimbras, esse nadador deve socorrer o amigo, porque ele tem um dever jurídico específico, se ele não socorrer e o amigo morrer, ele vai responder por homicídio doloso ou culposo conforme a hipótese, agora se é uma pessoa qualquer que passar por lá e que vê essa pessoa em dificuldade, em perigo e não socorre, essa outra pessoa e que não tem o dever específico vai responder por omissão de socorro, art. 135 do CP, já quem tem o dever específico como um policial, um salva vidas, ou esse amigo que convidou o amigo para nadar, esse vai responder por homicídio. Em suma, ingerência é isso, quem causa o perigo tem o dever específico de impedir o resultado. 
Nesta questão de ingerência nós temos um exemplo interessante que é o homicídio culposo que é o art. 121 §4º do CP e também o homicídio culposo do art. 302, parágrafo único inc. III do CTB: quem causa uma lesão culposa e depois omite dolosamente um socorro e a vítima morre, a pessoa responde por homicídio culposo do art. 121, §4º ou homicídio culposo do art. 302, parágrafo único, inc. III do CTB, no modo de ver do professor há uma incoerência, vejamos: [12: § 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. ]
Se a pessoa causa um perigo mediante uma lesão culposa e depois omite dolosamente um socorro, vai responder por homicídio culposo qualificado pela omissão de socorro, se a pessoa causou perigo mediante uma lesão culposa e depois se omite dolosamente. 
É uma incoerência, na lei, pois se a pessoa cria um perigo sem lesão culposa, exemplo: um amigo que convida o outro para um longo nado, se cria um perigo sem lesão culposa e depois omite dolosamente o socorro, responde por homicídio doloso. Agora se cria o perigo mediante lesão culposa e depois omite socorro dolosamente, responde por homicídio culposo qualificado pela omissão de socorro, existe uma incoerência na lei, porque o fato mais grave que criar o perigo com a lesão culposa e se depois houver uma omissão dolosa é homicídio culposo, agora o fato menos grave que é criar o perigo sem lesão culposa e depois omite dolosamente o socorro, ele responde por homicídio doloso, então existe uma incoerência na nossa lei. 
 
O dever jurídico específico de impedir o resultado, portanto emana: 
da lei, 
da posição de garantidor, ou seja, da não ocorrência do resultado, 3) da ingerência, que é quando a pessoa cria o perigo. 
 
Para responder não basta ter o dever jurídico específico de impedir o resultado, é preciso um segundo elemento, que é o poder agir, porque se o sujeito tem o dever jurídico de impedir o resultado e por outro lado, ele não pode agir, daí o fato é atípico, ele não responde pelo crime omissivo impróprio, ele tem que poder agir também, porque se ele não podia agir, ele não poderia responder pelo resultado. 
Esse poder agir que o CP coloca no art. 13, §2º é um requisito da tipicidade dos crimes omissivos impróprios, que além do dever específico de agir, é preciso poder agir, portanto, se o agente não pode agir, o fato é atípico, existe, portanto, um tratamento diferente entre os crimes de ação e os crimes de omissão impróprios, porque nos delitos de ação, a exigibilidade de conduta diversa, isto é, o fato de o sujeito poder agir é um elemento da culpabilidade, é analisado na culpabilidade. 
Ao passo que aqui nos crimes omissivos impróprios, a exigibilidade de conduta diversa é analisado na tipicidade, em outras palavras, a coação moral irresistível nos crimes de ação é uma causa de exclusão da culpabilidade, porque é inexigível do agente uma conduta diversa, já nos crimes omissivos impróprios, a coação moral irresistível, exclui a tipicidade, o fato é atípico exemplo: o amigo não socorreu o outro porque foi coagido, exemplo: alguém encostou um revólver nele, foi impedido, exclui a tipicidade, ele não podia agir. Uma outra situação: estado de necessidade, nos crimes de ação, o estado de necessidade exclui a antijuridicidade, nos crimes omissivos impróprios, exclui a tipicidade, se o sujeito não pode agir no caso de estado de necessidade, exclui a tipicidade nos crimes omissivos impróprios. 
É muito interessante requisitodo poder de agir, porque seria um requisito totalmente dispensável, o legislador não devia ter colocado esse requisito nos crimes omissivos impróprios no plano da tipicidade, portanto, mesmo se ele não tivesse colocado esse requisito, este seria analisado da mesma forma, ele seria analisado na antijuridicidade na questão do estado de necessidade e seria analisado na culpabilidade na coação moral e irresistível, como o legislador se antecipou e colocou esse requisito como elemento essencial para omissão, então força a concluir que o estado de necessidade e a coação moral irresistível são situações em que o agente não podia agir, são causas de exclusão da tipicidade quando se tratar de crimes omissivos impróprios, ao passo que nos delitos de ação, o estado de necessidade exclui a antijuridicidade e a coação moral irresistível, exclui a culpabilidade, e com isso o legislador acabou dando um tratamento diferenciado nos delitos de ação e nos delitos de omissão. 
E o terceiro requisito dos crimes omissivos impróprios é que haja dolo e culpa: É necessário uma omissão dolosa para responder pelo resultado, uma omissão capaz de produzir um resultado e de assumir o risco de produzi-lo, dolo direto ou eventual, ou uma omissão dolosa ou culposa por imprudência, negligência ou imperícia. A omissão culposa só é penalmente relevante para os crimes em que a lei incrimina a culpa, o agente vai responder pelo crime a título de culpa, é o caso do homicídio culposo, como o exemplo do nadador profissional, que por culpa convidou o amigo para nadar e o amigo passava mal e ele não socorreu pensando que o amigo estava brincando, ele teve culpa, ele responderá por homicídio culposo, agora se ele quis que o amigo morresse, é homicídio doloso. Imaginemos o policial, ele não impede um furto com a intenção de que ocorra mesmo o furto, ele se omitiu dolosamente, ele responde pelo furto, agora se ele se omitiu culposamente, ele dormiu, existe furto culposo? Não, neste caso, ele não vai responder por furto culposo, em suma a omissão tem que ser dolosa para que o agente responda pelo resultado, se a omissão for culposa ele só vai responder por aqueles delitos em que a lei prevê a culpa, que é o caso do homicídio culposo, lesão culposa etc., para os delitos em que não se prevê culpa, o fato é atípico, mesmo o agente tendo o dever jurídico de agir podendo agir, mas se for uma omissão culposa e a lei não prevê a culpa, o fato é atípico. 
 Qual a diferença do crime omisso próprio e do crime omissivo impróprio? 
A primeira diferença é quanto a estrutura do tipo penal, no crime omissivo próprio a lei já descreve uma omissão, a lei incrimina diretamente o deixar de fazer, art. 13512: deixar de prestar socorro. No crime omissivo impróprio, a lei incrimina uma ação e atribui um resultado àquele que violou o dever específico de agir, no homicídio a lei incrimina uma ação, matar alguém, e aquele que tem o dever específico e se omite, também responde pelo resultado, então, primeira diferença é quanto a estrutura, toda vez que descrever uma omissão, é porque você sabe que é um crime omissivo próprio, se descrever uma ação, é um delito de ação, é porque é um crime omissivo impróprio. 
O crime omissivo próprio se consuma com a simples omissão, já o omissivo impróprio se consuma com o resultado. 
O crime omissivo próprio não admite tentativa e o crime omissivo impróprio admite a tentativa.

Outros materiais