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Luiz Cavalcanti A Guarnição de Remo do Exército

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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ 
MBA EM GESTÃO DE OPERAÇÕES, PRODUÇÃO E 
SERVIÇOS 
 
 
Fichamento de Estudo de Caso: 
A Guarnição de Remo do Exército 
 
Luiz Felipe Moreira Leite Bezerra Cavalcanti 
 
 
Trabalho da disciplina Gestão de Pessoas e Competências 
 Tutor: Prof. Norma Cristina Cardoso Brandão 
 
 
 
Recife 
2018 
 
 
 
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Estudo de Caso de Harvard: A Guarnição de Remo do Exército 
Referência: SNOOK, Scott; POLZER, Jefrey T.. “A Guarnição de Remo do Exército”: 
Harvard Business School, 406 – P01, 2004 
Texto do Fichamento: 
 Perto do final da temporada de remo, o coronel Stas Preczewski, treinador da 
guarnição de remo da Academia Militar de West Point enfrentava alguns problemas. A 
guarnição do barco Varsity Júnior ganhava com frequência do barco Varsity durante os 
treinos, o que não era para acontecer. Todos os membros do barco Varsity foram 
selecionados após uma serie de testes que comprovaram que eles eram os melhores 
remadores da equipe do treinador Preczewski. Apesar da guarnição Varsity Júnior ser inferior 
ao do Varsity, continuava a ganhar nos treinos. 
 O treinador Preczewski, passou toda a temporada reunindo informações que o 
ajudasse a resolver esta questão, mas sem êxito. Faltava uma semana para o campeonato 
nacional, onde participavam mais de 100 escolas, e o treinador P. tinha algumas opções. 
Uma delas seria promover toda a equipe do Varsity Junior para o barco Varsity. Outra opção 
seria alternar os membros dos barcos ou tentar intervir na situação para melhorar o 
desempenho do barco Varsity. 
 Os barcos utilizados pelas guarnições eram leves, estreitos, do tipo Shell, e mediam 
18 metros. Cada remador utilizava um único remo, fazendo o movimento de remada com as 
mãos, pés, costas e braços. Na parte de trás do barco havia um timoneiro, responsável por 
comandar o leme, além de motivar e estabelecer a estratégia da regata para a guarnição. 
 O remo foi o primeiro esporte interuniversitário dos EUA, começando em 1852 com 
uma regata entre Harvard e Yale. O remo universitário é um esporte praticado o ano inteiro, 
começando em agosto quando os estudantes retornam ao campus e terminando depois da 
formatura em junho. 
 O Comitê Olímpico Norte-Americano patrocinou um projeto de pesquisa onde dezenas 
de técnicos de guarnições de remo indicaram quais fatores eles consideravam mais 
significativos para se obter o melhor desempenho. Essa pesquisa solicitava que os técnicos 
indicassem mais de duzentas variáveis que estavam, direta ou indiretamente, relacionadas 
com o “remo simples”. Participaram da amostra treinadores de vários níveis, desde iniciantes 
a treinadores mestres. Os técnicos revelaram que as duzentas variáveis poderiam ser 
 
 
 
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subdivididas em quatro categorias distintas: 1 - força e condicionamento; 2-técnica de remar; 
3-fatores psicológicos; 4-organização de um programa. 
Força e resistência individual são variáveis importantes que os oito atletas precisam 
ter para que se saiam bem em uma regata. Os treinadores utilizam o “ergômetro” de remar 
para medir a resistência individual dos atletas. É um equipamento estável, baseado em terra 
que simula a técnica de remar em água, mas eliminava a instabilidade de remar em barco de 
competição e isolava os atletas. O trabalho em equipe é o fator mais importante entre as 
habilidades exigidas dos atletas. Todos os atletas têm que permanecerem em perfeita 
harmonia e sincronismo a cada remada, com um único objetivo que é cruzar a linha de 
chegada em primeiro lugar. A confiança entre os membros do grupo é ingrediente 
fundamental para o sucesso da guarnição. Enquanto aguardava o início da temporada da 
primavera de 2001-2002, o treinador P. selecionou os oito melhores remadores para o barco 
Varsity e o restante para o Varsity Junior, determinando uma série de tarefas e exercícios 
para os dois barcos. O primeiro exercício consistia em avaliar a habilidade individual de 
remar, que incluía força, técnica e resistência utilizando uma máquina ergonômica. O 
treinador P. constatou uma melhora na média das equipes sem relação ao ano anterior de 10 
segundos. 
A equipe do Treinador P. passou uma semana em treinamento na antiga vila olímpica 
em Atlanta, dando início aos preparativos da temporada de competição da primavera. Pela 
manhã os atletas remavam em barcos se lecionados aleatoriamente, focando em técnica e 
adaptabilidade. À noite liam livros e biografias de remadores e artigos relacionados ao remo. 
A parte da tarde era a mais intensa do dia. Eram realizados todos os dias “disputas por 
carrinho” que determinava quais remadores seriam selecionados para o barco Varsity. O 
sistema de disputa por carrinhos era utilizado frequentemente, inclusive pela equipe olímpica, 
pois fornecia dados sobre como cada remador utilizava suas habilidades individuais e ao 
mesmo trabalhava em conjunto com os outros membros da equipe. Além do mais os técnicos 
acreditavam que ele capturava, de forma objetiva, as habilidades de um indivíduo em 
contribuir com o desempenho da equipe. Oito remadores eram divididos aleatoriamente em 
dois barcos, que disputavam corrida. Se o barco A vencesse o B por 10 metros, isso era 
anotado. Depois um membro de cada barco trocava de lugar, se o barco B vencesse o A por 
15 metros na segunda competição, concluía-se que o remador que foi trocado do barco A 
para o B era 25 metros melhor do que o remador do barco B. Dessa forma a diferença de 
 
 
 
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resultados entre os dois barcos era atribuída aos dois remadores que trocaram de lugar nos 
barcos. Os remadores procuravam dar o melhor de si, pois não sabiam quando poderiam ser 
trocados. O treinador P. coletava todas as informações possíveis de resultados para chagar a 
uma decisão final sobre quais seriam os melhores remadores. 
Quando retornaram ao campus, o treinador P. percebeu alguns membros do barco 
Varsity infelizes e criticavam uns aos outros por não terem vencido o barco Varsity Júnior 
com uma vantagem maior em Atlanta. A princípio ele achou isso um bom sinal, uma 
indicação de que eles buscavam a excelência. 
No primeiro treino da equipe no rio Hudson depois da folga na primavera, o barco 
Varsity Júnior venceu o Varsity na regata de treino. O treinador P. considerou esse resultado 
uma aberração. Mas quando isso aconteceu mais duas vezes o deixou intrigado. Ele 
percebeu que o Varsity Júnior remava mais rápido do que o Varsity cerca de dois terços das 
competições. A equipe do Varsity parecia ter se tornado mais lenta em relação ao Varsity 
Júnior. Apesar do treinador P. ter baseado suas decisões quanto ao posicionamento dos 
membros por meio de dados de desempenho, ele não tinha nenhuma indicação prévia de 
que isso ir ia acontecer. 
Depois desses acontecimentos que deixaram o treinador P. perplexo, ele decidiu fazer 
uma análise detalhada dos fatores que poderiam estar causando esses resultados 
inesperados. As ações tinham por objetivo coletar informações e experiências de 
desempenho para tentar isolar a razão específica por que o Varsity Júnior vencia o Varsity. 
Ele realizou regatas de duplas, onde dois membros do Varsity competiam com outros dois do 
Varsity Júnior. Independentemente de quais membros ele colocasse, a dupla do Varsity 
sempre vencia a dupla do Varsity Júnior. Então ele realizou outra série de regatas com 
grupos de quatro ou seis remadores que competiam entre si. Novamente os membros do 
Varsity venciam sempre as competições. Somente quando os oitos remavam juntos era que 
o Varsity Júnior vencia o Varsity. Os resultados confirmavam que o Varsity tinha os melhores 
remadores individuais,porém havia algo errado na maneira como eles funcionavam em 
equipe de oito remadores, fazendo com que o todo fosse menor do que a soma das partes. 
O treinador P. elaborou uma matriz dos 16 remadores utilizando as informações 
coletadas sobre os membros da equipe, relacionado seus pontos fortes e fracos. Os fatores 
incluíam as pontuações no ergômetro, limites de levantamento de peso, técnica de remo e se 
a pessoa era um líder e liderado, otimista ou pessimista, formador ou desagregador de 
 
 
 
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equipe. O padrão que surgiu da observação desses fatores mostrou que os membros do 
Varsity tinham a melhor habilidade técnica e condicionamento físico entre os 16 remadores, 
mas nenhum deles se classificou como líder e muitos apareceram como desagregador de 
equipe. Já entre os membros do Varsity Júnior nenhum se mostrou como desagregador de 
equipe. 
O treinador era conhecedor da pesquisa feita pelo comitê olímpico que enfatizava a 
importância dos fatores psicológicos. Com doutorado em psicologia ele se sentia à vontade 
para analisar esses fatores. Então ele trouxe do CEP – Centro de Excelência de 
Desempenho – uma pessoa especializada em maximizar o desempenho individual e de 
equipes para ajudá-lo. O CEP era formado por psicólogos desportivos da academia de West 
Point, treinados para desenvolver a aplicação sistemática de habilidades mentais específicas 
necessárias para melhorar o desempenho humano. Apesar da equipe do Varsity Júnior 
parecer aceitar o treinamento, o treinador P. estava preocupado com os membros mais 
céticos do Varsity, que tachavam o treinamento de “frescura “. 
Circulavam alguns e-mails entre os membros do Varsity Júnior, e-mails esses que 
eram incentivados pelo próprio treinador P., que mostrava o espírito competitivo e de equipe 
existente no VJ. Já os e-mails do Varsity mostraram trocas de acusações pelo desempenho 
da equipe, além de trocas de farpas. Porém não ficou estabelecido um padrão claro que 
apontasse para um único culpado entre os membros do Varsity. 
Alguns membros da equipe Varsity acusaram o treinador P. de criar um atrito entre os 
dois barcos por fazê-los competirem entre si com muita frequência. Eles preferiam remar 
sozinhos e achavam que a competição entre eles enfraquecia o Varsity, pois o VJ não tinha 
nada a perder, enquanto para o Varsity era constrangedor. Já outro membro achava difícil 
remar contra o relógio, pois a outra equipe servia de benchmark para medir a velocidades 
deles na regata. Depois dos treinos as equipes faziam autocríticas, e o treinador P. notou que 
os membros do Varsity criticavam um ao outro com relação a detalhes da regata. Já os 
membros do VJ não criticavam uns aos outros, eles faziam comentários gerais sobre os 
detalhes que todos precisavam melhorar. 
Com a proximidade do campeonato nacional, os membros do VJ estavam mais 
entusiasmados com sua temporada do que os membros do Varsity. Esta disparidade pode 
ter afetado a experiência final feita pelo treinador P. que consistiu em colocar remadores do 
VJ no barco Varsity durante os treinos. Inevitavelmente, isso levou a resultados piores. No 
 
 
 
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início da temporada, os membros do VJ teriam sido prestigiados ao serem transferidos para o 
barco Varsity. Agora o VJ não queria nada com remador do Varsity que foi “rebaixado”, e o 
remador do VJ queria ficar com o VJ, um vencedor, sem a menor vontade de ser “promovido” 
para o Varsity, um perdedor. 
Quando as transferências eram feitas, o VJ vencia com mais vantagem ainda, 
indicando que o remador “rebaixado” fazia com que o barco VJ fosse mais veloz. Porém, se o 
remador “rebaixado” era mesmo melhor do que o que foi “promovido” para o Varsity, 
invalidava o objetivo de tentar melhorar o Varsity trocando os remadores com o VJ. O 
treinador P. tinha três opções a decidir: 1-Trocar os barcos Varsity e Varsity Junior. Era a 
opção mais radical, reconhecer que o Varsity Junior era mais rápido que o Varsity e 
simplesmente trocar seus nomes, apesar das informações coletadas mostrar em que o 
Varsity possuía os atletas mais fortes. 2- Alternar remadores. Apesar dos esforços do 
treinador P. talvez ele não tivesse achado ainda a combinação certa para o barco Varsity. 
Esta opção era limitada, porque os membros do Varsity Junior não queriam deixar seu barco 
e equipe. 3- Intervir para melhorar o desempenho do barco Varsity. Como o barco Varsity 
possuía os remadores mais fortes, o treinador P. começou a pensar em um meio de intervir 
para melhorar seu desempenho. Ele decidiu fazer uma reunião com os membros para 
discutir seu desempenho. 
Depois de mais um treino onde o VJ derrotou novamente a equipe do Varsity, o 
treinador encostou a lancha perto deles e percebeu que eles estavam abatidos, com 
semblante de derrotados. Mandou então que eles guardassem os barcos e fosse para a 
mesa de piquenique, onde faria uma reunião. O treinador P. esperou na mesa de piquenique 
para observar a chegada deles. Eles sequer queriam ficar perto uns dos outros. Procuraram 
ficar o mais longe possível um do outro, sem dizer uma palavra. Faltavam quatro dias para o 
campeonato nacional. O treinador falou de sua confiança neles, mas não entendia o porquê 
de não estarem vencendo nos treinos. Depois de argumentar quanto aos seus critérios de 
seleção e avaliação, o treinador P. falou que a resposta estava neles como equipe e que não 
sairiam dali sem uma solução para resolver o problema. 
As primeiras explicações forçadas apontaram mais para a situação geral da equipe. 
Mas um membro chamado Joe começou a confrontar todos os outros dizendo que estava 
carregando o barco sozinho e que era o único que dava duro em cada remada. Logo os 
outros rebateram gerando uma intensa discussão entre eles e trocas de acusações. Um dos 
 
 
 
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membros resumiu o que todos estavam sentindo, dizendo que ele estava cheio daquela 
situação e não via a hora da temporada acabar. O treinador P. ficou surpreso com o que 
estava acontecendo. Seus oito melhores remadores estavam desanimados e zangados. Ao 
perguntar sobre qual seria a solução para aquele impasse ninguém respondeu 
absolutamente nada. Após um longo período de silêncio, o treinador encerrou a reunião 
dizendo que tinha muita coisa para pensar e que eles votassem no dia seguinte para o treino 
e prontos para resolverem a situação. Finda a reunião, o treinador P. ficou observando os 
membros da equipe se afastar, cada um em uma direção. Ele se sentiu desanimado ao ver 
que sua equipe poderia se desfazer a qualquer momento. Seria uma noite longa para o 
treinador P. para poder pensar no que deveria fazer diante daquela situação.

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