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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária PHD 2537 – Água em Ambientes Urbanos Reuso da água Professores: Kamel Zared Filho Luís Antônio Villaça de Garcia Mônica Ferreira do Amaral Porto Rubem La Laina Porto Alunos: NUSP: Cindy Minowa 4938390 Débora N. Iwashita 4938372 Juliana Akemi Setuguti 4957443 Letícia Suetsugu Mori 4939428 Lilian K. Chuang 4957418 Data: 1° semestre de 2007. 2 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................3 2. OBJETIVO...........................................................................................................................3 3. O QUE É REUSO DA ÁGUA? ...........................................................................................4 3.1. Reuso indireto não planejado da água.........................................................................4 3.2. Reuso indireto planejado da água ...............................................................................4 3.3. Reuso direto planejado da água ..................................................................................4 3.3.1. Reciclagem de água ............................................................................................4 4. POSSÍVEIS LOCAIS DE APROVEITAMENTO DA ÁGUA REUTILIZADA................4 4.1. Reuso Agrícola............................................................................................................4 4.2. Reuso Industrial ..........................................................................................................5 4.3. Reuso Urbano..............................................................................................................6 4.4. Reuso no Meio ambiente ............................................................................................6 4.5. Recarga de Aqüíferos..................................................................................................6 5. FORMAS DE REAPROVEITAMENTO PARA RESIDÊNCIAS E CONDOMÍNIOS.....7 5.1. Aproveitamento da água de chuva. .............................................................................7 5.2. Reuso da água presente no esgoto...............................................................................7 5.3. Reuso da água originada no banho familiar................................................................8 5.3.1. 1ª- ALTERNATIVA: Usar vasos sanitários com caixa acoplada para limitar o volume de água por descarga (vários modelos disponíveis no mercado). ..................................8 5.3.2. 2ª- ALTERNATIVA: eliminar todo o consumo de água (potável) com as descargas. 8 5.3.3. Considerações ...................................................................................................11 6. VANTAGENS....................................................................................................................11 7. Possíveis tecnologias de tratamento da água para o reuso .................................................11 7.1. Osmose Reversa........................................................................................................11 8. EXEMPLOS DE CASOS...................................................................................................12 8.1. Caso Natura...............................................................................................................12 8.2. Caso da Indústria de vidro .......................................................................................16 9. CONCLUSÃO....................................................................................................................18 10. REFERÊNCIA ...................................................................................................................18 3 1. INTRODUÇÃO A Terra é constituída de 1,36 x 1018 metros cúbicos de água que se distribuem da seguinte forma: Água do mar: 97,0% Geleiras 2,2% Água doce 0,8% ............. água subterrânea: 97% ............. água superficial: 3% Total 100,0% Fonte: von Sperlin, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. 3. ed. Belo Horizonte: Depto de Engenharia Sanitária e Ambiental; UFMG; 2005". Hoje é um fato comprovado que o volume de água doce e limpa está se reduzindo em todas as regiões do mundo. O consumo exagerado das reservas naturais de água por causa do alto crescimento populacional está sendo maior do que a natureza pode oferecer, e a poluição produzida pelo homem está contaminando e diminuindo cada vez mais essas reservas. Segundo a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), menos da metade da população mundial tem acesso à água potável. A irrigação corresponde a 73% do consumo de água, 21% vai para a indústria e apenas 6% destina-se ao consumo doméstico. A escassez de água no mundo é agravada em virtude da desigualdade social e da falta de manejo e usos sustentáveis dos recursos naturais. Neste panorama, tem-se procurado conscientizar a população desses problemas e para tanto muito se discute sobre o reuso de água. No entanto, a reutilização ou o reuso de água ou o uso de águas residuárias não é um conceito novo e tem sido praticado em todo o mundo há muitos anos; existem relatos de sua prática na Grécia Antiga, com a disposição de esgotos e sua utilização na irrigação. O reuso reduz a demanda sobre os mananciais de água devido à substituição da água potável por uma água de qualidade inferior. Essa prática, atualmente muito discutida, posta em evidência e já utilizada em alguns países é baseada no conceito de substituição de mananciais. Tal substituição é possível em função da qualidade requerida para um uso específico. Dessa forma, grandes volumes de água potável podem ser poupados pelo reuso quando se utiliza água de qualidade inferior (geralmente efluentes pós-tratados) para atendimento das finalidades que podem prescindir desse recurso dentro dos padrões de potabilidade. Assim, o reuso da água é uma bandeira que deve se erguida como forma de garantir o futuro hídrico de nosso planeta. 2. OBJETIVO Num âmbito mais global, este trabalho procura mostrar a importância da água, já que esta constitui um elemento essencial a sobrevivência humana, e sem ela o futuro do nosso planeta estará comprometido. Dentro desse contexto, o trabalho se restringe a mostrar uma das formas encontradas para preservar esse bem tão essencial, o reuso da água. Assim, busca-se através deste documento, despertar o interesse neste assunto que já tem prendido muita atenção, mas ainda merece ser mais estudado e desenvolvido. Além disso, pretende-se apresentar alguns exemplos, pois apesar de muitos quererem apoiar este esforço pela economia de água, nem sempre há acesso a exemplos suficientemente funcionais e simples de serem seguidos. 4 3. O QUE É REUSO DA ÁGUA? O reaproveitamento ou reuso da água é o processo pelo qual a água, tratada ou não, é reutilizada para o mesmo ou outros fins menos nobres, tais como lavagem de vias e pátios industriais, irrigação de jardins e pomares, nas descargas dos banheiros etc.. Essa reutilização pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não. Vale ressaltar que se deve considerar o reuso de água como parte de uma atividade mais abrangente que é o uso racional ou eficiente da água, o qual compreende também o controle de perdas e desperdícios, e a minimização da produção de efluentes e do consumo de água. 3.1. Reuso indireto não planejado da água Ocorre quando aágua, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada. Caminhando até o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita às ações naturais do ciclo hidrológico (diluição, autodepuração). 3.2. Reuso indireto planejado da água Ocorre quando os efluentes depois de tratados são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou subterrâneas, para serem utilizadas à jusante, de maneira controlada, no atendimento de algum uso benéfico. O reuso indireto planejado da água pressupõe que exista também um controle sobre as eventuais novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam aos requisitos de qualidade do reuso objetivado. 3.3. Reuso direto planejado da água Ocorre quando os efluentes, depois de tratados, são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso, não sendo descarregados no meio ambiente. É o caso de maior ocorrência na indústria e na irrigação. 3.3.1. Reciclagem de água É o reuso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de tratamento ou outro local de disposição. Essas tendem, assim, como fonte suplementar de abastecimento do uso original. Este é um caso particular do reuso direto planejado. 4. POSSÍVEIS LOCAIS DE APROVEITAMENTO DA ÁGUA REUTILIZADA A água reutilizada pode ser aplicada em diversas atividades, como as exemplificadas a seguir. 4.1. Reuso Agrícola O uso consumptivo do setor agrícola é, no Brasil, de aproximadamente 70% do total. Essa demanda significativa, associada a escassez de recursos hídricos leva a ponderar que as atividades agrícolas devem ser consideradas como prioritária em termos de reuso de efluentes tratados. 5 Efluentes adequadamente tratados podem ser utilizados para aplicação em: Culturas de alimentos não processados comercialmente: Irrigação superficial de qualquer cultura alimentícia, incluindo aquelas consumidas cruas; Culturas de alimentos processados comercialmente: Irrigação superficial de pomares e vinhas; Culturas não alimentícias: Pastos, forragens, viveiros de plantas ornamentais, fibras e grãos; Proteção contra geadas. 4.2. Reuso Industrial As atividades industriais no Brasil respondem por aproximadamente 20% do consumo de água, sendo que, pelo menos 10% é extraída diretamente de corpos d’água e mais da metade é tratada de forma inadequado ou não recebe nenhuma forma de tratamento. Face à sistemática de outorga e cobrança pelo uso da água, que vem sendo implementada pela Agência Nacional das Águas - ANA, a indústria será duplamente penalizada, tanto em termos de captação de água como em relação ao lançamento de efluentes. O reuso e reciclagem na indústria passam a se constituir, portanto, ferramentas de gestão fundamentais para a sustentabilidade da produção industrial. A prática de reuso industrial pode ser extendida na produção de água para caldeiras, em sistemas de resfriamento como água de reposição, em lavadores de gases e como água de processos. O reuso de água para indústria traz muitos benefícios, como os elencados a seguir: BENEFÍCIOS AMBIENTAIS: • Redução do lançamento de efluentes industriais em cursos d´água, possibilitando melhorar a qualidade das águas interiores das regiões mais industrializadas; • Redução da captação de águas superficiais e subterrâneas, possibilitando uma situação ecológica mais equilibrada; • Aumento da disponibilidade de água para usos mais exigentes, como abastecimento público, hospitalar, etc. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS: • Conformidade ambiental em relação a padrões e normas ambientais estabelecidos, possibilitando melhor inserção dos produtos brasileiros nos mercados internacionais; • Mudanças nos padrões de produção e consumo; • Redução dos custos de produção; • Aumento da competitividade do setor; • Habilitação para receber incentivos e coeficientes redutores dos fatores da cobrança pelo uso da água. BENEFÍCIOS SOCIAIS: • Ampliação da oportunidade de negócios para as empresas fornecedoras de serviços e equipamentos, e em toda a cadeia produtiva; • Ampliação na geração de empregos diretos e indiretos; 6 • Melhoria da imagem do setor produtivo junto à sociedade, com reconhecimento de empresas socialmente responsáveis. 4.3. Reuso Urbano Na área urbana os usos potenciais são os seguintes: • irrigação de campos de golfe e quadras esportivas; • irrigação paisagística; • torres de resfriamento e sistemas de ar condicionado; • parques e cemitérios; • descarga de vasos sanitários; • lavagem de veículos; • reserva de incêndio; • recreação; • construção civil (compactação do solo, controle de poeira, lavagem de agregados, produção de concreto); • limpeza de tubulações; • sistemas decorativos tais como espelhos d’água, chafarizes, fontes luminosas. 4.4. Reuso no Meio ambiente As aplicações da água de reuso no meio ambiente em geral são: Wetlands, habitats naturais e aumento do fluxo de água; Estabelecimentos recreacionais; Contato acidental (pesca e canoagem), e contato integral com a água permitido; Represas e lagos; Lagoas estéticas em que o contato com o público não é permitido. 4.5. Recarga de Aqüíferos A recarga forçada do aqüífero é uma alternativa muito boa, pois cerca de 95% da água doce do Planeta está estocada no subsolo, que tem sido a grande "Caixa D'Água" da natureza. Hoje em dia, porém, a enorme maioria de indústrias e condomínios está largamente construindo cada vez mais poços profundos: de maneira geral, pode-se dizer que sua produção está em decadência, pois a "procura" supera muito a "oferta". Além disso, há uma significativa redução da recarga natural de aqüíferos devido ao aumento de áreas impermeabilizadas. A recarga artificial de aqüíferos com efluentes tratados pode ser empregada para finalidades diversas, incluindo o aumento de disponibilidade e armazenamento de água, controle de salinização 7 em aqüíferos costeiros, controle de subsidência de solos. 5. FORMAS DE REAPROVEITAMENTO PARA RESIDÊNCIAS E CONDOMÍNIOS. 5.1. Aproveitamento da água de chuva. A água que cai do céu pode ser uma importante fonte de economia, mas ela só deve ser aproveitada em situações em que não é preciso usar água potável. A chuva, devidamente acumulada e tratada em regiões com grande índice pluviométrico, poderia suprir perto de 100% da água de um lar. No entanto, essa forma de aproveitamento não tem aplicação imediata para a população citadina, pois existe a falta de espaço para instalação de cisternas e também o alto custo de todas as instalações necessárias, uma vez que deve ser acondicionada num reservatório diferente daquele que recebe a água tratada. Além disso, requer um obrigatório controle das primeiras águas de chuva coletadas, bastante perigosas, já que são o resultado da lavagem da poluição aérea e das sujeiras acumuladas nos telhados. Para uso humano, inclusive para como água potável, deve sofrer evidentemente filtração e cloração, o que pode ser feito com equipamento barato e simplíssimo, tipo Clorador Embrapa ou Clorador tipo Venturi automático. 5.2. Reuso da água presente no esgoto É o projeto mais aplicado em nível mundial, inclusive no Brasil. Um esgoto tratado a ponto de ser devolvido aos rios e aqüíferos é suficientemente limpo para lavagem de ruas, rega de parques e aplicações de cunho industrial. No lar essa água tem uso na limpeza de vasos sanitários, rega de jardins e lavagem de carros. Essa água poderiasubstituir cerca de 40% da água potável consumida no lar. Mas a distribuidora não tem condições de oferecer essa água ao usuário final, pois isto representaria a 8 instalação de mais um sistema de distribuição de água, paralelo ao que já foi implantado para a água potável. A implantação de rede dupla de distribuição nas residências e condomínios deve ser proposta para novos empreendimentos, pois a implantação em empreendimentos já existentes pode ser de difícil solução e tornar as obras bastante onerosas. Fica a alternativa da compra e os obrigatórios cuidados na manutenção de caras estações de tratamento mono ou multi-familiares, que poderiam fornecer a água de reuso proveniente do esgoto familiar ou comunitário. 5.3. Reuso da água originada no banho familiar O reuso da água do banho é um caminho interessante para a redução de uso da água potável em aplicações simples como por exemplo nas descargas dos vasos sanitários. Essa água é denominada de "Greywater" ou água cinza. Bastante utilizada para irrigação em outros países. Em termos ambientais, o sistema de reuso das águas cinzas significa redução de aproximadamente 29 % na captação de águas o que em tempos de escassez pode representar uma alternativa viável. Apesar de serem menos contaminadas do que o esgoto sanitário bruto, as águas cinzas necessitam de tratamento adequado visando seu reuso com segurança para a população. Deve ser feito um tratamento nas águas cinzas destinadas ao reuso com objetivo de reduzir a Demanda Bioquímica de Oxigênio, Sólidos em suspensão e turbidez de forma a facilitar a desinfecção. Em caso de reuso para irrigação ou jardinagem deve-se estar atento aos produtos químicos utilizados de forma a evitar a contaminação do lençol freático e a própria contaminação das culturas. As águas de chuva apesar de serem uma excelente opção para aumentar os volumes de água, não necessariamente atendem as demandas diárias já que as águas de chuva não ocorrem diariamente podendo inclusive passar tempos sem que chova na localidade. Desta forma as águas cinzas representam uma fonte constante de água para usos em descargas sanitárias onde a potabilidade não é fator preponderante. Neste contexto, segue abaixo alguns esquemas para o reaproveitamento em descargas domiciliares. 5.3.1. 1ª- ALTERNATIVA: Usar vasos sanitários com caixa acoplada para limitar o volume de água por descarga (vários modelos disponíveis no mercado). Nesse caso pode-se escolher vasos que sejam projetados para usar um volume mínimo de água, e que esse volume seja suficiente para uma boa limpeza do vaso (por volta de seis litros). O usual é em torno de dez litros por descarga. Em alguns modelos é possível diminuir o nível de água dentro da caixa de descarga ajustando a torneira bóia para fechar em um nível mais baixo. Cremos que o mínimo esteja por volta de 4,5 litros por descarga. 5.3.2. 2ª- ALTERNATIVA: eliminar todo o consumo de água (potável) com as descargas. 9 Desviar a água do ralo do box para um reservatório passando por filtros e tratamentos para depois reutilizar essa água nos vasos sanitários. Para isso muitos projetos e muitas variáveis poderão ser feitos. Esse sistema, além de muito barato, é seguro por ser um circuito fechado, (Chuveiro, ralo do box, reservatório fechado e vaso sanitário), sem fácil acesso para manuseio ou ingestão por familiares ou terceiros. A seguir alguns esquemas simplificados do reuso da água do banho residencial: Nesse caso, educar os habitantes a usarem o vaso sanitário do banheiro de baixo. 10 11 5.3.3. Considerações A grande importância ao se projetar o sistema de reuso de águas cinzas é o dimensionamento dos reservatórios. Deve-se levar em consideração o volume que deverá ser utilizado nas descargas sanitárias em um máximo de 48 h para que desta forma seja evitada a estocagem prolongada que fatalmente ocasionará odores desagradáveis. Dentre os cuidados a serem observados devido ao reuso das águas cinzas podemos destacar: O reservatório inferior deverá ter um ladrão para que o excesso de água, ao atingir o limite do volume estipulado para reuso seja direcionada a rede de esgoto; O reservatório superior deverá ser esvaziado caso não haja utilização nas bacias sanitárias em 48h; O sistema de distribuição das águas cinzas deverá ter coloração diferenciada; A sedimentação e filtração são essenciais para eliminação de protozoários e helmintos. Este processo pode ser feito com um sistema de filtro simples e de fácil limpeza. A desinfecção é essencial para o sistema de reuso das águas cinzas em descargas sanitárias para eliminação de bactérias e vírus. Após a filtragem. a água deverá ser tratada dentro de um reservatório com "cloro orgânico" (produto que não formam sub-produtos cancerígenos) o que garantirá a desinfecção e conservação, deixando a água segura para o reuso no vaso sanitário. 6. VANTAGENS Entre os diversos benefícios que o reuso da água pode-se citar que: propicia o uso sustentável dos recursos hídricos, reduzindo a pressão sobre os rios; minimiza a poluição hídrica nos mananciais; estimula o uso racional de águas de boa qualidade; possibilita a economia de dispêndios com fertilizantes e matéria orgânica, pois a água de reuso pode conter nutrientes e matéria orgânica; permite maximizar a infra-estrutura de abastecimento de água e tratamento de esgotos pela utilização múltipla da água aduzida; diminuição do custo de produção da água; 7. POSSÍVEIS TECNOLOGIAS DE TRATAMENTO DA ÁGUA PARA O REUSO Com a modernização surgiram inúmeras técnicas de tratamento da água voltados ao tema de reúso, como por exemplo as tecnologias citadas a seguir: • Para a remoção de compostos orgânicos de alto peso molecular e salinidade: membrana de nanofiltração, e membrana de osmose reversa, troca iônica; • Para a desinfeccção: o Ozônio, UV, Cl2,ClO2 e ácido peracético. Segue nos próximos itens, a explicação de algumas dessas possíveis tecnologias: 7.1. Osmose Reversa Tecnologia baseada no fenômeno natural físico-químico da osmose, o qual consiste do solvente de uma solução mais diluída para uma solução mais concentrada, até que se encontre o equilíbrio. 12 A osmose reversa consiste na aplicação mecânica de uma pressão do lado da solução mais concentrada (água suja) forçando o solvente ir da solução mais concentrada para a mais diluída. Conforme o esquema a seguir: • Ozônizadores: o ozônio tem como sua principal utilidade a desinfecção da água, onde ele é 3,125 vezes mais rápido do que o cloro na inativação de bactérias, não produz toxinas na água e pode ser gerado no local de utilização. 8. EXEMPLOS DE CASOS 8.1. Caso Natura A Natura é uma empresa de grande porte de cosméticos que gera grande quantidade de efluentes, além de possuir a necessidade de utilizar muita água tanto para uso industrial quanto para uso geral. Dessa maneira, ela observou a importância de se possuir uma gestão eficiente de água, que além de trazer benefícios econômicos à longo prazo, ela contribui para o desenvolvimento sustentável da sociedade. Consumo médio mensal de água 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 2002 2003 2004 2005 2006 Água potável Água de reuso Gráfico 8.1 – Consumo de água na Natura 13 A Natura desde 2002 realiza o tratamento de esgoto e reutiliza parte da água tratada nos vasos sanitários, mictórios, jardinagem, limpeza de rua e espelhos d’água. Nos últimos 4 anos o consumo médio mensal de água de reuso vem aumentando (gráfico 8.1), observando que em 2006 as unidades da Natura localizadasem Cajamar e Itapecerica da Serra apresentaram um consumo de 106.390 milhões de litros e uma reutilização dessa água de 40.209 milhões de litros, ou seja, 38% da água produzida foi reutilizada. Tabela 8.1 – Totais efluentes Ano Mês Dia Efluente Industrial (m³) 48.469 4.039 135 Efluente Sanitário (m³) 57.963 4.830 161 Total Efluente (m³) 106.432 8.869 296 Efluente Tratado (m³) 101.470 8.456 282 Efluente Tratado (%) 95% 95% 95% Lodo Físico Químico (kg) 706.470 58.873 1.962 Água reutilizada (m³) 40.209 3.351 112 Água reutilizada (%) 38% 38% 38% A segunda maior porcentagem do efluente gerado pela Natura é de origem industrial, sendo que ele apresenta uma concentração 27 vezes maior do que os efluentes sanitários normais, ressaltando a importância da eficiência do tratamento de esgoto industrial para tornar a água adequada para o reuso. A ETE remove em média 93% de óleos e graxos, possuindo boa eficiência no seu processo. Os efluentes gerados pela empresa por dia (1300 kg/dia) corresponde á aproximadamente a quantidade gerada por 26.000 habitantes, observando que a planta de Cajamar apresenta menos de 4.000 colaboradores. 46% 49% 5% Produção de efluente industrial - Cajamar Produção de efluente Sanitário - Cajamar Produção de efluente Sanitário - Itapecerica Gráfico 8.2 – Relação dos tipos de efluentes gerados 14 A água potável utilizada pela Natura (Figura 8.3) provém de um poço artesiano localizado a 132 m de profundidade, ela é tratada pela E.T.E. existente na própria planta que utiliza uma usina de ClO2 e filtro de areia para torná-la adequada tanto para uso industrial quanto para uso geral. Essa água abastece 4 dos reservatórios elevados, que através dele são distribuídos para as fábricas de Shampoo, perfumes e cremes, para o restaurante, banheiros e usos em geral. A água de reuso é armazenada em apenas um reservatório elevado que segue através do auxílio de uma bomba de recalque para a utilização. SHAMPOOS PERFUMES CREMES RESERVATÓRIO ELEVADO E.T.E. Filtro de areia Reservatório ALAMEDA DE SERVIÇOS Poço artesiano h = 132m Bomba submersa Q = 20m3/h Bomba de recalque Q = 84m3/h Água potável - poço Água de Reuso Segue para: * Vasos e mictórios * Jardinagem / Limpeza de rua * Espelhos d´água Água potável - distribuição Água potável -industrial Blocos A, B e NAN Usina de ClO2 Figura 8.3 – Esquema da captação, armazenamento e distribuição de água. 15 Figura 8.4 – Balanço Hídrico Na planta de Cajamar há 23 hidrômetros que fazem todo o monitoramento da água (figura 8.4). Toda água gerada pelos sanitários, cozinha e uso geral são encaminhados diretamente para o Biorreator, já a água proveniente da indústria passa por um tratamento físico-químico antes de passar por esse mesmo biorreator. Após esse processo ela é encaminhada para a ETE propriamente dita, e parte da água volta para o sistema para ser reutilizada e a outra parte é despejada no rio. 16 Figura 8.5 – Estação de tratamento de esgoto Na ETE (Figura 8.5), a água de origem industrial passa pelo Tanque Pulmão Industrial, que depois de processada vai para o Tanque de Equalização e pelos Baths de tratamento físico- químico. A água que não conseguirá ser reaproveitada vai para os tanques de lodo físico-químico que retiram os dejetos, para torná-la adequada para o seu despejo no rio. Depois dos baths, a água já não apresenta mais efluentes industriais brutos, sendo assim ela segue para o Bioreator. As águas de origem não-industrial vão diretamente para o Biorreator. Após essa etapa, ela segue para o Zeeweed (ultra filtragem por mebrana), e por último pelo permeado. Essa água de reuso segue para os reservatórios elevados, estando adequada para a utilização. 8.2. Caso da Indústria de vidro Pilkington Brasil Ltda. é uma empresa nacional de grande porte que fabrica vidros planos e de segurança com uma produção média anual de 1.600.000 m² vidro, que se situa no município de São Paulo. Identificação da oportunidade: A unidade São Paulo da empresa, sediada no município de São Paulo, passou por dificuldades, durante vários anos, devido à falta de água. A SABESP não conseguia atender à demanda crescente para o uso industrial, que utilizava 350 m³/dia nas operações de lapidação, perfuração e lavagem de vidros, resfriamento e uso doméstico. Essas atividades geravam uma 17 vazão correspondente de efluente líquido que era descartado no corpo d. água, atendendo aos limites estabelecidos na legislação. Além disso, a alternativa de complementação do abastecimento com água subterrânea revelou-se inviável, tendo em vista que nas três perfurações de poços profundos a vazão obtida foi baixa e a qualidade da água requeria tratamento para uso no processo. Isto obrigava a empresa a adquirir até 30 caminhões-pipa de água por dia, causando transtorno operacional, pouca confiabilidade e custo elevado. Medidas Adotadas: Em 1997 a empresa decidiu estudar o reuso da água, definindo como condicionantes do projeto: produção de água com qualidade semelhante à do abastecimento público, já que após a passagem pelos fornos de têmpera, a eventual presença de sais na água de lavagem das peças pode causar manchas nos produtos; - custo operacional baixo; - uso de reagentes que não impeçam a futura reciclagem do lodo a ser produzido na estação de tratamento, para evitar custos adicionais na sua disposição. Foram avaliadas tecnologias como ultrafiltração e centrifugação, que não se mostraram adequadas ao tipo de efluente. Problemas com projetos e instalações para tratamento convencional de floculação e sedimentação foram também verificados. Durante o ano de 1999, o corpo técnico da empresa implantou modificações radicais nas instalações que haviam sido adquiridas, bem como adotou outro processo físico-químico. Esse esforço foi bem sucedido e resultou na decisão de automatizar o processo, para tornar mais fácil a operação 24 horas por dia. Em 2001, a água de chuva passou a ser tratada, e atualmente é bombeada da galeria pluvial central para a ERA - Estação de Reúso de Água. A ERA está apta a recuperar 100% do efluente industrial gerado, com capacidade para uma vazão de 500 m³/dia e 20 m³/h de pico. As linhas de abastecimento doméstico e industrial foram segregadas como parte do projeto, já que o efluente tratado é usado somente para uso industrial, com exceção do uso doméstico para descarga de bacias sanitárias de vestiários. O sistema é constituído de: poço de recepção e equalização; tanque de cloração; tanque de floculação; decantadores de lamelas de fluxo ascendente em série; filtro de areia; tanque de acúmulo; filtro de cartucho; hidrômetro; leitos de sedimentação em série; cisterna para acúmulo de lodo e leitos de secagem. Investimentos: Na construção da ERA foram gastos cerca de R$ 280.000,00, sendo R$ 200.000,00 no projeto inicial e mais R$ 80.000,00 nas modificações realizadas após. Na segregação das linhas de abastecimento de água potável foram gastos cerca de R$ 80.000,00. O tempo de retorno foi de 10 meses, considerando os gastos com mão-de-obra e manutenção, além de outras despesas administrativas. Resultados obtidos: A implantação da ERA resultou na economia de 95% do consumo de água para uso industrial com um ganho final de 13.000 m³/mês de água, proporcionando uma economia de R$ 35.000,00/mês. Houve também uma melhoria na qualidade do efluente industrial, já que a ERA opera 24 h/dia e mesmo no caso de eventualmente a qualidade da água impedir o seu reúso, o lançamento na rede de esgotos será efetuadoem condições muito abaixo dos limites estabelecidos pela legislação em vigor. Na ERA são gerados cerca 20 m³/mês (equivalente a cerca de 8 t de lodo desaguado) de lodo 18 úmido rico em pó de vidro que atualmente são doados, mas com uma perspectiva de venda futura, caso se obtenha uma maior remoção da umidade presente no lodo. 9. CONCLUSÃO Através deste trabalho foi possível mostrar a importância do reuso da água ressaltando o problema da escassez da mesma no mundo. Dentro deste contexto tentou-se conceituar o que é o reúso e também alguns métodos e técnicas para fazê-lo. Apresentou-se diversas formas de se reutilizar água para consumo não-potável, apontando potencialidades no setor agrícola, industrial, urbano, no meio-ambiente e na recarga de aqüíferos. As medidas adotadas para residências foram explicadas, como é o caso da utilização de águas pluviais, ou a reutilização através do tratamento de águas do esgoto de supriria até 40% da água potável consumida na residência. Além disso, tratou-se também do reuso da água do banho em bacias sanitárias. Como exemplos no setor industrial, foram apresentados “cases” de implementação do reuso em grandes empresas brasileira. A viabilidade do reuso da água neste setor industrial decorre da possibilidade de se utilizar águas de menor qualidade em várias etapas do processo produtivo, além de gerarem efluentes em melhores condições. Visto todo o conteúdo que foi apresentado neste relatório está evidente que formas de conservar e de realizar o reuso da água não faltam. Existem muitos métodos de fazê-lo: seja por tecnologias desenvolvidas, medidas tomadas pelo governo, iniciativas de empresas ou mesmo por frentes de conscientização da população. O grande desafio agora é conseguir implantar com eficiência estes métodos, e assim garantir a disponibilidade deste bem tão precioso que é a água. 10. REFERÊNCIA Sites: Site da OKTE Engenharia e Consultoria Ltda. http://www.okte.com.br/Tecnologias/Reuso_agua.htm Site do Centro Internacional de Referência em Reuso de Água http://www.usp.br/cirra/index2.html Site da Universidade da Água http://www.uniagua.org.br/website/default.asp?tp=3&pag=reuso.htm Site da Sociedade do Sol http://www.sociedadedosol.org.br/reuso_sosol.htm Site do Projeto de Reuso da Água http://www.reusodaagua.com.br/reuso/index2.asp Site da Cetesb http://www.cetesb.sp.gov.br/Agua/rios/gesta_reuso.asp 19 Site com teses http://teses.cict.fiocruz.br Site do Centro Franco-Brasileiro de Documentação Técnica e Científica – arquivo referente a apresentação do Antônio Sérgio Hilsdorf (gerente técnico da Ondeo Degrémont Ltda) para o 1º Seminário Internacional de tecnologias para resíduos sólidos e saneamento. http://www.cendotec.org.br/aspef/arquivos/seminario.pdf Outras fontes: Eng. Douglas Souza – Natura Manual de Conservação e Reuso da Água na Indústria – Sebrae, Sesi, Senai Casos de Sucesso - CETESB
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