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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS – UNEAL CURSO DE LETRAS Leane Mayara da Silva Santos A ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA: O USO DOS RECURSOS COESIVOS NA PRODUÇÃO DE TEXTOS DE ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO Monografia exigida como requisito parcial para a obtenção do título de graduada em Letras – Habilitação em Língua Inglesa e suas literaturas pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, sob orientação da Professora Ma. Delma Cristina Lins Cabral de Melo. Arapiraca – AL 2014 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE ALAGOAS CAMPUS I A ESCRITA EM LÍNGUA INGLESA: O USO DOS RECURSOS COESIVOS NA PRODUÇÃO DE TEXTOS DE ALUNOS DE NÍVEL INTERMEDIÁRIO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para a obtenção do título de graduado em Letras – Habilitação em Língua Inglesa e suas respectivas literaturas pela Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, sob a orientação da Professora Ma. Delma Cristina Lins Cabral de Melo. Examinadores: ________________________________________________________________ Professora Ma. Delma Cristina Lins Cabral de Melo (Orientadora) _______________________________________________________________ Professor Me. Ronaldo de Oliveira Nobre Leão (Examinador) _______________________________________________________________ Professora Ma. Rosângela Nunes de Lima (Examinadora) AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por ter me dado disposição para concluir essa etapa. Aos meus pais, Eliete e Leonino, e à minha irmã Aline, por todo o amor, carinho e incentivo incondicional. Vocês são tudo em minha vida! Ao meu noivo, Fábio, por todo o companheirismo e afeto. A minha orientadora, Delma Cristina, por ter me contagiado com seu amor pelo estudo da língua escrita e por toda a paciência e apoio. Aos professores do curso de Letras da Uneal, por todos os ensinamentos que recebi; e em especial aos professores Ronaldo Leão e Rosângela Nunes, que participaram da banca examinadora deste trabalho. Aos meus amigos Robson, Claudene e Gilson, que muito me ajudaram. Aos meus colegas da graduação, com quem compartilhei diversos momentos importantes no decorrer desta jornada. A toda a minha família e amigos, pelo estímulo e torcida. A todos aqueles que direta ou indiretamente contribuíram para a finalização dessa etapa. Muito obrigada a todos vocês! "Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer." (GRACILIANO RAMOS) RESUMO Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta uma investigação sobre o uso dos elementos coesivos na escrita de textos em Língua Inglesa por alunos do nível intermediário do Centro de Linguística Aplicada – Instituto de Línguas Estrangeiras, realizada no primeiro semestre de 2014. Trata-se de uma pesquisa qualitativo- investigativa interpretativa, na qual se utilizou um questionário de sondagem e a análise dos textos produzidos pelos alunos sujeitos desta pesquisa. A fundamentação teórica situa-se em Antunes (2005, 2010), Koch (2009), Koch e Elias (2012), Marcuschi (2008), dentre outros. A análise do corpus procurou investigar o uso dos elementos coesivos nos textos escritos pelos aprendizes, como também a importância que eles dão à escrita e sua afinidade com essa habilidade através de suas respostas ao questionário de sondagem. A análise dos dados demonstrou que os respondentes, apesar de não se identificarem com essa habilidade tanto quanto com as demais, reconhecem a importância de dominar a produção textual na língua alvo e que são capazes de utilizar, até certo ponto, os elementos coesivos em suas produções textuais. Palavras–chave: Escrita. Língua Inglesa. Produção de Texto. Recursos Coesivos. ABSTRACT This work presents an investigation about the use of cohesive elements on texts written in English by students of Intermediate level who study at Centro de Linguística Aplicada – Instituto de Línguas Estrangeiras. The research occurred on the first semester of 2014. This research is characterized as qualitative and investigative/interpretative, in which we used a questionnaire and texts written by the students. The theoretical foundation is based on Antunes (2005, 2010), Koch (2009), Koch e Elias (2012), Marcuschi (2008), among others. The corpus analysis tried to investigate the using of cohesive elements on the texts written by the students, and understand how important writing is for them through their answers to the questionnaire. The data analysis showed that the students recognize how important learning to write in English is and that they are able to use, to some extent, cohesive elements on their writing. Keywords: Writing. English Language. Writing in the English Language. Cohesive Recourses. LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – A coesão através das relações textuais..........................................................27 QUADRO 2 – Respostas dos alunos quanto às habilidades que mais se identificavam......45 QUADRO 3 – Respostas dos alunos quanto à habilidade com a qual menos se identificavam...............................................................................................46 QUADRO 4 – Justificativa dos alunos quando questionados por que gostavam de estudar gramática...........................................................................................47 QUADRO 5 – Justificativa dos alunos quando questionados por que gostam ou não de escrever textos em Inglês...................................................................48 QUADRO 6 – Respostas dos alunos quando questionados em que momento costumavam escrever em Inglês....................................................................49 QUADRO 7 – Justificativas dos alunos sobre a importância de saber escrever em Inglês...50 QUADRO 8 – Respostas dos alunos sobre as justificativas para a dificuldade de escrever em Inglês.........................................................................................51 QUADRO 9 – Justificativas dos alunos sobre os cuidados que tomam para tornar seus textos mais coesos.................................................................................52 LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – extrato do texto 1 da aluna Luana Maria............................................ 52 FIGURA 2 – extrato do texto 2 da aluna Ana Paula................................................54 FIGURA 3 – extrato do texto 3 do aluno Anderson Felipe...................................... 56 FIGURA 4 – extrato do texto 4 do aluno João Arthur.............................................. 57 FIGURA 5 – extrato do texto 5 da aluna Aline Souza.............................................. 59 FIGURA 6 – extrato do texto 6 da aluna Mariana Vieira.......................................... 60 FIGURA 7 – extrato do texto 7 do aluno Pedro Miguel............................................. 61 FIGURA 8 – extrato do texto 8 do aluno Marcelo Oliveira........................................ 63 FIGURA 9 – extrato do texto da aluna Juliana Santos............................................. 65 SUMÁRIO INTRODUÇÃO................................................................................................... 11 1. A HABILIDADE DA ESCRITA EM LÍNGUA MATERNA E ESTRANGEIRA ... 13 1.1 A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA ESCRITA.................................................... 13 1.2 OS BENEFÍCIOS DE SE APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA....... 13 1.3 AS TIPOLOGIAS TEXTUAIS........................................................................ 15 1.3.1 Textos narrativos................................................................................ 15 1.3.2 Textos descritivos............................................................................... 16 1.3.3 Textos argumentativos....................................................................... 17 1.3.4 Textos injuntivos................................................................................. 17 1.3.5 Textos expositivos.............................................................................. 18 1.3.6 Textos dialógicos................................................................................ 19 1.4 GÊNEROS TEXTUAIS.................................................................................. 19 2. AS QUALIDADES DO TEXTO ESCRITO........................................................... 21 2.1 OS FATORES DE TEXTUALIDADE.............................................................. 22 2.1.1 Intertextualidade..................................................................................... 22 2.1.2 Intencionalidade..................................................................................... 23 2.1.3 Informatividade e aceitabilidade............................................................. 23 2.1.4 Situacionalidade..................................................................................... 24 2.1.5 Coerência............................................................................................... 24 2.1.6 Coesão................................................................................................... 26 2.2 A COESÃO DE ACORDO COM AS RELAÇÕES TEXTUAIS....................... 26 2.2.1 Reiteração.............................................................................................. 27 2.2.1.1 Repetição......................................................................................... 28 2.2.1.1.1 Paráfrase.................................................................................... 28 2.2.1.1.2 Paralelismo................................................................................. 29 2.2.1.1.3 Repetição propriamente dita...................................................... 30 2.2.1.2 Substituição...................................................................................... 30 2.2.1.2.1 Substituição gramatical.............................................................. 31 2.2.1.2.2 Substituição lexical..................................................................... 32 2.2.1.2.3 Elipse.......................................................................................... 35 2.2.2 Associação........................................................................................... 36 2.2.3 Conexão............................................................................................... 39 2.2.3.1 Algumas relações semânticas sinalizadas pela conexão.............. 39 3. METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS..................................................... 44 3.1. Análise do questionário de sondagem........................................................ 44 3.2. Análise dos textos produzidos pelos alunos............................................... 45 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 69 APÊNDICES...................................................................................................... 71 ANEXOS............................................................................................................ 75 11 INTRODUÇÃO Meu interesse pelo estudo da escrita em Língua Inglesa surgiu em torno do ano de 2005, quando comecei a estudar Inglês em um curso de idiomas. Mesmo tendo pouco conhecimento acerca da gramática e do vocabulário da língua, desde o início gostava de escrever os textos que os professores solicitavam. Mais tarde, no ano de 2008, quando ingressei na universidade para o curso de Letras com habilitação em Língua Inglesa e suas respectivas literaturas, continuei tendo interesse por esta habilidade. Meu contato com textos escritos por alunos se deu a partir da realização do estágio do curso da graduação, que é realizado em escolas regulares do Ensino Fundamental e Médio. Ao perceber a dificuldade deles com a escrita, mesmo em língua materna, principalmente quando lhes pedia que traduzissem frases simples, resolvi tentar ajudá-los a melhorar seu desempenho com esta habilidade. Desde o primeiro momento pude observar que seria muito difícil torná-los aptos a escrever em língua inglesa, pois seu vocabulário era muito restrito e não conheciam gramática. Mesmo assim, consegui fazê-los redigir, ao final da disciplina, um parágrafo sobre uma rede social, o facebook. Os textos apresentaram, de forma muito tímida, algumas marcas de textualidade. Mesmo assim, essa experiência me motivou a investigar textos escritos por alunos em Língua Inglesa. Resolvi, então, fazer meu trabalho de conclusão de curso em torno da escrita. Quando me tornei professora do Instituto de Línguas Estrangeiras, percebi que era possível obter respostas sobre a habilidade da escrita de modo mais efetivo. Por esse motivo, escolhi os alunos do nível intermediário da referida escola para responderem questões a respeito da escrita em Língua Inglesa e do recurso da coesão através de gêneros textuais escritos por eles. Portanto, o objetivo deste trabalho é o de investigar a relação do aprendiz de Língua Inglesa com a habilidade da escrita, ou seja, se ele valoriza essa habilidade, se sente dificuldade; e o uso da coesão em sua produção escrita. O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, abordo a questão da importância da língua escrita na contemporaneidade e como seria difícil imaginar a vida sem ela. Trato sobre a relevância de se estudar uma língua estrangeira, sobretudo a inglesa, e sobre a necessidade de se aprender a escrever nesse idioma. 12 Apresento também as tipologias e discorro um pouco sobre gêneros textuais, recorrendo a teóricos como Köche (2010), Platão & Fiorin (2005), Antunes (2010), dentre outros.No segundo capítulo, trato sobre as qualidades do texto, ou seja, os parâmetros de textualidade (intertextualidade, intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade, coerência e coesão), dando maior evidência à coesão, que foi o aspecto observado nos textos dos alunos sujeitos desta pesquisa, como dito anteriormente. Analiso este parâmetro principalmente sob a perspectiva de Antunes (2005), e recorro também a Koch e Elias (2012), Marcuschi (2008), dentre outros. No terceiro capítulo apresento a metodologia, que é de cunho investigativo interpretativo, e faço a análise dos dados, que consta de questionário de sondagem e de textos escritos por alunos de nível intermediário. Primeiramente analisamos os questionários de sondagem respondidos pelos sessenta (60) alunos sujeitos da pesquisa, a partir dos quais buscamos informações acerca da relação deles com a habilidade da escrita em língua inglesa, e posteriormente fazemos a análise dos textos por eles escritos. 13 1. A HABILIDADE DA ESCRITA EM LÍNGUA MATERNA E ESTRANGEIRA 1.1. A IMPORTÂNCIA DA LÍNGUA ESCRITA Sabe-se que nos dias de hoje a língua escrita ocupa um grande espaço na vida das pessoas, por isso dominá-la tem se tornado cada vez mais importante. Saber ler e escrever significa poder ter acesso a informações que chegam rapidamente e em grande quantidade graças aos recursos tecnológicos e à globalização. A maioria das ações praticadas são hoje manifestadas através da escrita. Halliday1 (1989 apud JORGE, 2010, p. 37) afirma que “nós somos tão cercados pela linguagem escrita que mal podemos conceber a vida sem ela”. Realmente, é bastante difícil imaginar como nos relacionaríamos no trabalho, na vida pessoal e em qualquer outro setor sem o ato de ler e escrever. Bazerman (2007) destaca a posição da pessoa que escreve afirmando que é através da escrita que ela assume uma presença ousada no mundo. 1.2 OS BENEFÍCIOS DE SE APRENDER UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA A tecnologia tem diminuído a distância entre as pessoas, sobretudo graças à internet, uma vez que é possível acessar todos os tipos de informações em diversas línguas, enviar e receber mensagens de qualquer lugar do mundo instantaneamente, e conversar com várias pessoas em tempo real. Isso faz com que muitos desejem conseguir se comunicar não apenas com os que estão à sua volta, mas também com quem vive em outros países, e, consequentemente, falam uma língua estrangeira (LE)2. A aprendizagem de uma segunda língua, além de possibilitar novas amizades, faz com que o indivíduo amplie seus conhecimentos sobre outras culturas e sobre sua própria cultura. Silveira (1999, p. 10) frisa que, hoje em dia, “a aprendizagem de línguas estrangeiras passa a ser um instrumento de grande valia na interação interpessoal e na circulação de informações entre os povos.” Na área 1 HALLIDAY, M. A. K. Spoken and written language. Oxford University Press. 1989 2 Língua Estrangeira: doravante LE 14 acadêmica, concordamos com Jalil (2008) quando afirma que aprender um novo idioma facilita, entre outras coisas, o: Acesso a textos originais na língua estrangeira; comunicação com pesquisadores de outros países; realização de cursos ou participação em congressos no exterior; maior flexibilidade cognitiva, acesso a redes de informação mundiais; desenvolvimento do pensamento crítico e de consciência linguística mais apurados (JALIL 2008, p. 40). O mercado de trabalho também tem se adequado às mudanças trazidas pela globalização. Por isso, atualmente tem-se buscado profissionais cada vez mais especializados e competentes; e saber pelo menos uma língua estrangeira, especialmente o inglês, passou a ser fundamental para aqueles que almejam conquistar uma boa colocação na carreira profissional. Um dos desafios enfrentados pelos estudantes de línguas, seja de língua materna (LM)3 ou de LE, é o de aprender a escrever, uma vez que esta tarefa exige várias habilidades que só são conseguidas com bastante estudo e dedicação. Como afirmam Koch & Elias (2012, p. 37), “escrever é uma atividade que exige do escritor conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua, adquirido ao longo da vida nas inúmeras práticas comunicativas (...)”. Diferentemente da fala, que acontece de forma não planejada e pouco elaborada, a escrita, por dispor de mais tempo até que a informação chegue ao interlocutor, é o resultado de um processo no qual o autor planeja, elabora e organiza o texto. Acerca do estudo de LE, Raimes (1983, p. 3) comenta que “escrever ajuda nossos estudantes a aprender.”4 Ela enfatiza esta afirmação explicando que: Primeiramente, escrever reforça as estruturas gramaticais, a linguagem e o vocabulário que ensinamos aos alunos. Em segundo lugar, quando os alunos escrevem, eles também têm a chance de fazer escolhas na língua, e de ir além do que aprenderam e de se arriscarem. Em terceiro lugar, quando escrevem, eles necessariamente se tornam muito envolvidos com a nova língua; o empenho para expressar ideias e o constante uso dos olhos, mão e cérebro é o único modo de reforçar o conhecimento.(RAIMES 1983, p. 3) 5 . 3 Língua Materna: doravante LM 4 Tradução nossa. 5 First, writing reinforces the grammatical structures, idioms, and vocabulary that we have been teaching our students. Second, when our students write, they also have the chance to be adventurous with the language, to go beyond what they have just learned to say, to take risks. Third, when they write, they necessarily become very involved with the new language; the effort to express idea and the constant use of eye, hand, and brain is a unique way to reinforce learning. 15 Compreende-se assim, que ao escrever, o estudante reforça aquilo que já aprendeu sobre o idioma, além de poder refletir e fazer escolhas sobre qual o melhor modo de dizer determinada coisa. Como afirma Freeman6 (2003 apud MELO, 2011), o processo da escrita consiste em traduzir ideias dentro do texto. Começa com uma ideia em nossa mente e na necessidade de desenvolvê-la, de comunicar a alguém. Por ser um processo no qual se está bastante envolvido, a escrita ajuda no desenvolvimento intelectual do indivíduo. Concordamos com Melo (2011, p. 31) quando afirma que, “uma vez em contato com o mundo da escrita, o aprendiz terá os dispositivos cognitivos (cognitive tools) permanentemente ativados, influenciando de maneira positiva no processo de aprendizagem em geral”. 1.3 AS TIPOLOGIAS TEXTUAIS Para escrever, o aprendiz necessita de conhecimentos que o levem a desenvolver o seu texto de forma consciente. Sendo assim, as tipologias textuais servem de apoio para a produção de textos mais elaborados, visto que estes apresentam características e marcas linguísticas que fazem com que se possa diferenciá-los e até mesmo classificá-los. O fato de um texto ser classificado como de determinado tipo, não significa dizer que ele não tenha características encontradas em outros; o que acontece é que se observam as marcas predominantes. Quanto à sua tipologia, os textos podem ser classificados em: narrativos, descritivos, argumentativos, injuntivos, expositivos e dialógicos. 1.3.1. Textos narrativos Desde a infância somos levados a narrar fatos do cotidiano, episódios, acontecimentos da vida real, filmes, livros, dentre outros. Podemos dizer que a narração acompanha toda a existência do indivíduo independentementedo seu grau 6 FREEMAN, Marcia S. Building a writing community: a practical guide. 3 ed. Gainesville, Fl: Maupin House, 2003. 16 de instrução. Köche (2010) escreve que os textos narrativos são caracterizados pelo relato de acontecimentos, fatos ou situações que acontecem em um determinado tempo e lugar. Como afirma Bronckart7 (1999 apud KÖCHE, 2010, p. 19) “a sequência narrativa é sustentada por um processo de intriga que consiste em selecionar e organizar os acontecimentos de modo a formar um todo, uma história ou ação completa, com início, meio e fim”. Assim, a narrativa se desenvolve quando acontece uma mudança de estado causada pela ação de algo ou alguém; mudança esta que leva ao surgimento de outras ações, fazendo com que se crie um sentido de continuidade. Ainda segundo a referida autora, o esquema narrativo pode ser dividido em quatro momentos: apresentação (quando há uma condição estável), complicação (acontece um desequilíbrio), clímax (o ponto principal, que decidirá o fim) e desfecho (quando há novamente estabilidade) (KÖCHE, 2010). Os textos narrativos caracterizam-se pela sequência temporal e lógica dos fatos no passado, ou seja, recorre-se aos marcadores temporais e aos verbos no passado para situar as ações ou os acontecimentos. Vejamos um exemplo: When I was younger I used to live in a town called Leicester. My mother worked in a supermarket and my father was a teacher. Life was dull then. I had a sister and a brother…8 1.3.2. Textos descritivos O texto descritivo é aquele que expõe as características e propriedades de pessoas, objetos, ambientes, ações ou estados, tornando possível ao leitor conceber mentalmente o que está sendo apresentado (KÖCHE 2010). Diferentemente do texto narrativo, a descrição não apresenta mudanças de situação, mas sim “propriedades e aspectos simultâneos dos elementos descritos, considerados, pois, numa única interação”, como apontam Platão & Fiorin (2005, p. 242). 7 BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sociodiscursivo. Trad. de Anna Raquel Machado, Péricles Cunha. São Paulo: Educ, 1999. 8 Os exemplos de tipologias textuais que não apresentarem fonte são de responsabilidade nossa. 17 Ainda segundo estes autores, na descrição não há uma relação de anterioridade e posterioridade, pois a simultaneidade é uma de suas principais características, o que faz com que não haja progressão temporal. Nota-se também a presença de adjetivos, advérbios, locuções adjetivas, verbos de estado e tempos verbais no presente e pretérito imperfeito, o que faz com que seja bastante importante tomar cuidado com a parte lexical do texto. Ou seja, deve-se dar bastante atenção ao sentido das palavras ao se produzir um texto descritivo. Of all my relatives, I like my Aunt Emily the best. She’s my mother’s youngest sister. She has never married and lives all alone in a small village near Bath. She’s in her late fifties, but she’s still quite young in spirit. Fonte: SOARS, Liz and John. New headway intermediate: student’s book. Oxford/New York: Oxford University Press, 2004, p. 106. 1.3.3. Textos argumentativos Segundo Platão & Fiorin (2005, p. 252), ”dissertação é o tipo de texto que analisa, interpreta, explica e avalia os dados da realidade”. Ao dissertar, o autor procura dar sua opinião acerca de determinado tema e tenta convencer o leitor de que seu ponto de vista está correto. Para isto, ele cita exemplos, exibe fatos, procura fazer explicações e apresenta justificativas que enfatizam sua opinião. Some people say that childhood is the best time of your life. However, being a child has both advantages and disadvantages. On the plus side, you have few responsabilities. For example: you don’t have to go to work, pay bills… (…) However, for every plus, there is a minus. For one thing, you have to spend all day, Monday to Friday at school. Studying usually means (…). Fonte: SOARS, Liz and John. New headway intermediate: student’s book. Oxford/New York: Oxford University Press, 2004, p. 60. 1.3.4. Textos injuntivos Os textos injuntivos são aqueles que apresentam uma sequência de instruções técnicas a serem atendidas pelo leitor. Nas palavras de Antunes (2010, p. 71): “Nos textos injuntivos, prevalecem as formas verbais no imperativo, uma vez 18 que são gêneros instrucionais, ou seja, que trazem instruções de como executar determinadas ações ou seguir determinado programa”. Podemos classificar como gêneros injuntivos receitas culinárias, manuais, regras de jogo, bulas de medicamentos, entre outros. Vejamos a seguir um exemplo: 1. Put a cup of flour in a bowl. Add salt. 2. Add an egg and a cup of milk. Mix. 3. Put the butter in the pan. 4. Add the mixture. 5. Toss the pancake. 6. Add some sugar. Eat the pancake! Fonte: PAPIOL, Elisenda; TOTH, Maria. Big bugs 1: pupil’s book. Macmillan Publishers, 2004, p. 57 1.3.5. Textos expositivos Os textos expositivos são aqueles que apresentam informações acerca de determinado assunto, e uma de suas principais características é o fato de ampliar o conhecimento do leitor. Trata-se de um texto que necessita do uso de uma linguagem clara e objetiva, já que contém informações que devem ser compreendidas por qualquer pessoa que tenha acesso ao mesmo. Por abordar assuntos reais e de sentido denotativo, neste tipo de texto não há espaço para interpretações diversas. Este tipo textual é frequentemente encontrado em livros didáticos, revistas científicas, dentre outros. Nas palavras de Antunes (2010, p. 71), na exposição “predominam as estratégias de transmissão de um saber já consubstanciado em um corpo de princípios teóricos ou de explicação de um fenômeno, em geral apoiado em dados reais, mais ou menos objetivos.” The immune system is a network of cells and organs that work together to defend the body against attacks by “foreign” invaders. These are primarily germs – tiny, infection- causing organisms such as bacteria and viruses, as well as parasites and fungi. Because the human body provides an ideal environment for many germs, or microbes, they try to break in. it is the immune system’s job to keep them out or to destroy them. Fonte: The immune system, a booklet issued by the National Institute of Health apud MARQUES, Amadeu. On Stage: ensino médio, vol3, São Paulo: Ática, 2000. 19 1.3.6. Textos dialógicos O texto dialógico é caracterizado pela interação direta entre duas ou mais pessoas no momento da comunicação. Trata-se de um texto organizado pela presença de turnos e depende da interação de todos os interlocutores. Como afirma Costa (2012, p.88), estes interlocutores têm papeis permanentemente reversíveis, ou seja, o diálogo “é um ato de fala em que há uma interação entre dois ou mais indivíduos num intercâmbio discursivo em que ora um ora outro age como protagonista.” Fazem parte desta tipologia: conversas, entrevistas, debates, entre outros. Fonte: Livemocha.com.br Acesso em 06 jun 2014. 1.4 GÊNEROS TEXTUAIS Diariamente fazemos uso de diversas práticas comunicativas que permitem a interação entre as pessoas. Ao se comunicar, o indivíduo, mesmo sem se dar conta, escolhe um gênero que lhe pareça mais apropriado para cada situação. Como afirmam Koch & Elias (2012), ao longo da vida constrói-se uma “competência metagenérica” que faz com que seja possível conhecer as característicase funções dos gêneros textuais, nos possibilitando escolher quais modelos serão utilizados em cada ocasião. Assim, segundo as autoras, “todas as nossas produções, quer orais, quer escritas, se baseiam em formas-padrão relativamente estáveis de estruturação de um todo a que denominamos gêneros (Op. Cit, 2012, p. 55). Há uma enorme variedade de gêneros nas diversas esferas da sociedade, por exemplo: na esfera acadêmica há o artigo, a monografia, a resenha, a tese, o 20 resumo, dentre outros; enquanto na esfera jornalística há a notícia, os classificados, o editorial etc. Bazerman (1994) escreve que o gênero adapta-se a cada época e a cada cultura e Lima (2007, p. 19) acrescenta que “ao passo que cada esfera da atividade humana se desenvolve, mais gêneros surgem para atender às exigências das práticas sociais ligadas a essas esferas”. Há alguns anos não era tão comum a utilização de e-mails, bate-papos, sites e blogs, enquanto hoje, com a presença da internet cada vez em mais lugares, é praticamente impossível não fazer uso de ao menos alguns destes gêneros regularmente. Bakhtin9 (1992 apud KOCHË, 2010), considerando as diversas esferas de utilização da língua e a grande heterogeneidade dos gêneros, os classifica em primários e secundários. Os primeiros são aqueles utilizados geralmente em situações cotidianas, de modo mais espontâneo e não elaborado, nos quais é empregada uma linguagem mais simples. Alguns exemplos são bilhetes, diários, conversas com familiares e amigos. Já os gêneros secundários, por circularem em esferas culturais mais complexas, utilizam uma linguagem mais elaborada e voltada para um meio social mais formal, como editais de concurso, romances, livros didáticos e anúncios. Nos últimos anos tem-se ouvido bastante acerca do ensino da escrita numa abordagem de gênero textual na escola regular. No entanto, o que se percebe na maioria das vezes é que eles não são trabalhados da maneira mais apropriada, pois, como afirma Melo (2011, p.), “ainda presenciamos a prática de um ensino de língua voltado puramente ao estudo da gramática e o texto sendo usado, muitas vezes, como pretexto para o ensino de regras gramaticais”. Acreditamos que o ensino da escrita nessa abordagem contribui para a aprendizagem de modo significativo pelo fato de ajudar o aprendiz a identificar as características próprias de cada gênero, mesmo diante da sua heterogeneidade, pois como escreve Bakhtin (1997) todo gênero discursivo apresenta um tema, um conteúdo e uma forma composicional. 9 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 21 2. AS QUALIDADES DO TEXTO ESCRITO Sempre que se inicia a leitura de um texto, ainda que inconscientemente, o leitor espera encontrar certos recursos que tornem possível a compreensão do que está escrito. Ou seja, o leitor consegue perceber instintivamente se um texto está suficientemente claro, se é muito repetitivo, se possui erros de ortografia etc; enfim, se o texto é, ao menos, coerente e coeso. Quem lê tende a perceber se o texto apresenta uma unidade de sentido que permita que seja estabelecida uma relação entre seus componentes. No entanto, a facilidade não é a mesma quando o leitor se depara com a necessidade de inverter os papéis, ou seja, de assumir a função de autor do texto. Nessa perspectiva, produzir textos pode ser uma tarefa árdua, pois exige diversas habilidades do escritor. Segundo Koch e Elias (2012), Escrever é uma atividade que exige do escritor conhecimento da ortografia, da gramática e do léxico de sua língua, adquirido ao longo de sua vida nas inúmeras práticas comunicativas de que participamos como sujeitos eminentemente sociais que somos e, de forma sistematizada, na escola (KOCH & ELIAS, 2012: 37). Vale salientar, no entanto, que a maioria dos alunos sai da escola sem saber escrever, segundo depoimentos de professores de língua materna (ANTUNES, 2005). Noutras palavras, depois de diversos anos na sala de aula e de bastante tempo dedicado ao estudo da língua, o aprendiz se vê incapaz de elaborar uma escrita que se adeque aos padrões de um bom texto. Para Antunes (2005), um dos problemas é a pouca importância dada à escrita durante a vida escolar do aluno. O espaço da escrita é limitado a algumas poucas aulas de redação, nas quais, para facilitar, o professor explica diversas vezes sobre o assunto que se deve escrever e assim faz com que o aprendiz não desenvolva suas ideias, tornando-se, assim, limitado. Tudo é muito “traduzido”, “mastigado” e transferido para uma linguagem mais fácil para o aluno. A mesma autora aponta também como um problema o fato de o aluno escrever apenas o que lhe é solicitado na escola, e ficar, assim, limitado, como dito anteriormente. Além disso, o professor acaba mantendo uma postura de juiz do texto, ao invés de leitor, segundo Raimes (1983). Na maioria das vezes, ele simplesmente corta os erros de ortografia e concordância sem ao menos analisar as 22 ideias que o texto apresenta. Feito isto, o aluno recebe o texto com observações do tipo: “Faltou coerência” ou “Texto pouco coeso”. O aprendiz se sente desestimulado ao notar que seu texto só contém “erros” e assim cria certo receio de escrever por achar que não tem capacidade para isto. 2.1 OS PARÂMETROS DE TEXTUALIDADE Sabe-se que um texto não é simplesmente um amontoado de frases soltas. Para ter sentido, é preciso que as sentenças “conversem” entre si. Essa afirmativa pode nos levar ao seguinte questionamento: o que faz do texto um texto? Segundo Halliday e Hasan (1981), os textos são caracterizados por uma série de parâmetros ou fatores de textualidade: intertextualidade, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade, coerência e coesão. Durante este trabalho será dada maior ênfase à coesão. 2.1.1. Intertextualidade A maioria do que se escreve se refere a algo que já foi escrito por alguém anteriormente. A este fator chamamos intertextualidade, que é a relação de diálogo que os textos estabelecem entre si. Para Kristeva10 (1974 apud GOUVÊA, 2008, p. 59), “qualquer texto se constrói como um mosaico de citações e é a absorção e transformação de um outro texto.” Assim, é importante saber que quando elabora um texto, mesmo que possua seu próprio estilo e desenvolva suas ideias, o indivíduo não está criando algo novo, já que tudo o que ele escreve é baseado em concepções e experiências ditas ou escritas previamente. Como afirma Marcuschi (2008, p. 132), mais do que simplesmente um critério de textualidade, a intertextualidade é também um princípio constitutivo essencial, pois ela trata o texto como uma comunhão de vários discursos, e não como algo isolado. 10 KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. São Paulo: Perspectiva. S. A., 1974. 23 2.1.2. Intencionalidade Como afirma Marcuschi (2008, p. 127), “costuma-se dizer que um ato de fala, um enunciado, um texto são produzidos com um objetivo, uma finalidade que deve ser captada pelo leitor”. Ou seja, no momento em que fala ou escreve, o emissor vai construindo seu texto de acordo com seu objetivo, que pode ser o de informar, impressionar, ofender, pedir, convencer. Dessa forma, a intencionalidade é o que vai guiar o autor no modo como o texto será elaborado; pois, de acordo com seu objetivo, ele buscará as estratégias que lhe parecerem mais convenientes para alcançar sua intenção. Ninguém escreve simplesmente por escrever, poisé preciso que haja uma intenção, uma finalidade; nesse sentido, Koch (2004) afirma que A intencionalidade refere-se aos diversos modos como os sujeitos usam textos para perseguir e realizar suas intenções comunicativas, mobilizando, para tanto, os recursos adequados à concretização dos objetivos visados; em sentido restrito, refere-se à intenção do locutor de produzir uma manifestação linguística coesa e coerente, ainda que esta intenção nem sempre se realize integralmente. (KOCH 2004, p. 42). 2.1.3. Informatividade e aceitabilidade O leitor geralmente apresenta certas expectativas antes de iniciar a leitura de um texto, por isso é importante que ao escrever, o autor se coloque no lugar do leitor para refletir se aquele conteúdo trará informações úteis e relevantes e se despertará o interesse do interlocutor. A estes dois fatores chamamos de informatividade e aceitabilidade, respectivamente. Segundo Marcuschi (2008), é essencial que o texto deixe claro o que quer transmitir e o que é possível extrair dele. Koch (2004) afirma que quanto à distribuição de informações, é necessário que haja certo equilíbrio entre os conhecimentos que o leitor já possui e os que lhe serão apresentados. A autora afirma que ... todo texto organiza-se pela combinação de dois movimentos, um de retroação, por meio do qual se retoma a informação anteriormente introduzida, que vai servir de ancoragem para o movimento de progressão, responsável pela introdução de informação nova (KOCH 2004, p. 41). 24 Faz-se necessário também saber a que tipo de público o texto é direcionado para que o autor não use termos inapropriados e saiba a melhor forma de discorrer sobre o assunto desejado, pois assim o receptor se sentirá à vontade e terá uma empatia com o texto. Como declara Koch (2004), a aceitabilidade “refere-se à atitude dos interlocutores de aceitarem a manifestação linguística do parceiro como um texto coeso e coerente, que tenha para eles alguma relevância”. 2.1.4. Situacionalidade A situacionalidade, segundo Beaugrande11 (1997 apud Marcuschi 2008, p. 128) refere-se ao “fato de relacionarmos o evento textual à situação (social, cultural, ambiente etc.) em que ele ocorre”. Pode-se dizer que o texto possui traços das circunstâncias as quais se refere ou nas quais deve agir, por isso diz-se que a situacionalidade é considerada um critério de adequação textual. Noutras palavras, a situacionalidade é um critério estratégico, pois serve tanto para auxiliar o leitor a interpretar e perceber os contextos nos quais se insere o texto, como para orientar o próprio autor durante a produção textual (MARCUSCHI 2008). Segundo Koch (2006, p. 85), “ao construir um texto, é preciso observar o que é adequado àquela determinada situação: grau de formalidade, variedade dialetal, tratamento a ser dado ao tema, etc”. 2.1.5. Coerência A coerência é o fator responsável pela unidade e a relação entre os elementos do texto. Ela faz com que as ideias estejam de acordo umas com as outras e que não se contradigam. Segundo Platão e Fiorin (2006, p. 261), “no texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais.” Isto quer dizer que, ao se construir um texto, é preciso tomar certos cuidados para não fazer determinada afirmação e mais à frente declarar algo que discorde do que foi alegado anteriormente. As ideias precisam estar em harmonia, por isso é importante que o 11 BEAUGRANDE, R. de. New Foundations for a Science of Text and Discourse: Cognition, Communication, and the Freedom of Acess to Knowledge and Society. Norwood: Ablex, 1997. 25 texto esteja bem desenvolvido e que as ideias estejam bem distribuídas em todo o corpo textual. Segundo Beaugrand e Dressler12 (1981 apud Marcuschi 2008), a coerência Diz respeito ao modo como os componentes do universo textual, ou seja, os conceitos e relações subjacentes ao texto de superfície são mutuamente acessíveis e relevantes entre si, entrando numa configuração veiculadora de sentidos (MARCUSCHI 2008, p. 121). O autor (op. Cit, 2008, p. 121) acrescenta que a coerência é também “uma atividade realizada pelo receptor de um texto que atua sobre a proposta do autor”. Com isso pretende-se dizer que através de seu conhecimento de mundo e de suas experiências, o leitor vai construindo seu entendimento sobre o que o texto quer dizer. O conhecimento que o receptor do texto traz consigo é muito importante, pois, como afirma Koch (2006), quando o texto possui muitas informações novas, é possível que o receptor veja a sequência linguística como um texto incoerente, já que o mesmo não terá sentido para ele. Assim, segundo a autora, ”considera-se, pois, a coerência como princípio de interpretabilidade, dependente da capacidade dos usuários de recuperar o sentido do texto pelo qual interagem”. Alguns autores não diferenciam a coesão da coerência, outros fazem referência a apenas uma delas e há também os que as distinguem. Segundo Fávero (2000): A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos, estão ligados entre si dentro de uma seqüência. A coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macrotextualmente, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante. Assim a coerência é o resultado de processos cognitivos operantes entre os usuários e não mero traço dos textos (FÁVERO 2000, p. 10). 12 BEAUGRANDE, R. A, de & DRESSLER, W. Introduction to Text Linguistics. London: Longman, 1981. 26 2.1.6. Coesão Diferentemente da coerência, que está presente de forma implícita no texto, a coesão é um fator que se manifesta explicitamente revelado através de marcas linguísticas no corpo textual. Embora haja essa diferença, ambas estão diretamente ligadas, pois estão relacionadas à linearidade e aos nexos que se estabelecem entre os elementos que formam a superfície do texto (KOCH 2006). Para Antunes (2005), a função da coesão é a de criar, estabelecer e sinalizar os laços que deixam os vários segmentos do texto ligados, articulados, encadeados. Pode-se dizer, então, que um texto é coeso quando suas partes não estão soltas, mas ligadas entre si. Já para Koch (2009) e Marcuschi (2008), de acordo com o modo como as ligações estão estabelecidas no texto, pode-se dividir a coesão em dois tipos: a coesão referencial e a coesão sequencial. A coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) nela presente(s) ou inferíveis a partir do universo textual (Koch 2006). O elemento que remete a outro pode ser chamado de forma referencial ou remissiva, e o elemento sobre o qual se remete algo é chamado de elemento de referência ou referente textual. As formas referenciais ou remissivas podem ser classificadas em referenciais e não referenciais. 2.2. A COESÃO DE ACORDO COM AS RELAÇÕES TEXTUAIS Para Antunes (2005), a coesão divide-se em três grupos: reiteração, associação e conexão13. Vejamos a seguir o modelo por ela sugerido: 13 Os textos escritos pelos alunos serão analisados a partir do quadro acima elaborado por Antunes (2005, p. 51) no capítulo 3 deste trabalho. 27QUADRO 1 – A coesão através das relações textuais A C O E S Ã O D O T E X T O Relações textuais Procedimentos Recursos (Campo 1) (Campo 2) (Campo 3) 1. REITERAÇÃO 1.1. Repetição 1.1.1. Paráfrase 1.1.2. Paralelismo 1.1.3. Repetição * de unidades de léxico Propriamente * de unidades da Dita gramática 1.2. Substituição 1.2.1. Substituição Retomada por: Gramatical * pronomes ou * por advérbios 1.2.2. Substituição Retomada por: Lexical * sinônimos * hiperônimos * caracterizadores situacionais 1.2.3. Elipse *retomada por elipse 2. ASSOCIAÇÃO 2.1. Seleção lexical Seleção de palavras * por antônimos Semanticamente * por diferentes Próximas modos de relações de parte/todo 3. CONEXÃO 3.1. Estabelecimento de Uso de diferentes * preposições relações sintático- Conectores * conjunções semânticas entre * advérbios termos, orações, pe- * e respectivas ríodos, parágrafos e locuções Blocossupraparagráficos A Propriedade da Coesão do Texto: Relações, Procedimentos e Recursos. Antunes (2005, p. 51) 2.2.1 Reiteração A primeira relação abordada é a reiteração, que será a que mais enfatizaremos no decorrer deste trabalho. Esta relação acontece quando os elementos são retomados no texto, ou seja, quando certos termos que já foram utilizados voltam a ser citados, ou quando se faz referência a eles através de outros termos. 28 2.2.1.1 Repetição Através da reiteração tem-se a impressão de que as sentenças estão ligadas umas às outras, pois as palavras não ficam soltas na medida em que novas palavras surgem fazendo referência ao que já foi dito. Antunes (2005) afirma que: Cada elemento vai dando acesso a outros. Na verdade, cada segmento do texto está sempre ligado a outro, para trás e para frente. Cada vez que substituímos uma expressão por um pronome ou por um sinônimo, por exemplo, ou que repetimos uma palavra, estamos reiterando, estamos promovendo a continuidade do texto, sua sequência, sua coesão. (ANTUNES 2005, p. 53) Vejamos a seguir o trecho de um texto para que fique mais claro o modo como essa relação acontece através das retomadas dos termos neurocientista e caninos. Dessa vez, quem pesquisou sobre os caninos foi o neurocientista Gregory Berns, da Universidade Emory. Durante dois anos, ele e sua equipe treinaram cachorros para se sentirem confortáveis numa máquina de ressonância magnética. Colocaram até fone de ouvido nos bichinhos para que eles não sofressem com o barulho da máquina. A ideia era deixá-los tranquilos lá dentro e, então, descobrir o que acontece no cérebro deles em algumas situações. Fonte: Superinteressante. Acesso em 09 out. 2013. Como se pode observar no trecho acima, outras palavras foram empregadas para se referirem aos termos neurocientista e caninos. Um dos procedimentos da reiteração é a repetição, que pode acontecer através da paráfrase, do paralelismo ou da repetição propriamente dita. 2.2.1.1.1 Paráfrase A paráfrase ocorre quando o autor resolve dizer com outras palavras algo que já foi dito anteriormente a fim de se fazer entender melhor e de tornar o texto mais claro. Através desse recurso, o autor mantém a originalidade e as ideias principais do texto, já que sua intenção não é acrescentar informações novas, e sim dizer de outro modo algo que já foi dito com a intenção de que o texto seja compreendido por seu receptor. Como afirma Antunes (2005), há algumas expressões que servem 29 para introduzir esse recurso, tais como: em outras palavras, em outros termos, isto é, ou seja, quer dizer, em resumo, em suma, em síntese, dentre outras. Hilgert14 (1989, p.114 apud Albuquerque 2007) define paráfrase como: Atividade lingüística de reformulação por meio da qual se estabelece, entre um enunciado de origem e um enunciado reformulador, uma relação de equivalência semântica, responsável por deslocamento de sentido que impulsiona a progressividade textual”. (ALBUQUERQUE 2007, p. 2). Observemos um trecho que apresenta paráfrase: Prova de que não são exatamente os tempos, mas o caráter de cada povo que determina as tradições, é o costume de tomar banhos. Ou de não tomar banho. Os gregos e romanos, por exemplo, sempre foram adeptos da prática. Já os europeus, em pleno século XIX, fugiam da água como se ela fosse praga. Literalmente. É que como a água quente dilata os poros, os médicos europeus acreditavam que os banhos facilitavam a entrada de germes. Ou seja, fugir das banheiras era recomendado como uma medida de higiene. Fonte: SOALHEIRO, Bárbara. Como fazíamos sem... São Paulo: Panda Books, 2006. In KOCK e ELIAS, 2012. 2.2.1.1.2 Paralelismo Outro recurso da repetição é o paralelismo, que, através da repetição de determinada estrutura baseada em segmentos que possuem elementos sintáticos idênticos, busca dar uma maior simetria à estrutura textual. Vejamos um exemplo: É importante participares da reunião e lançares tuas opiniões. Assim como a sentença acima, está igualmente correto dizer: É importante que participes da reunião e que lances tuas opiniões. Segundo Antunes (2005) o paralelismo é visto não como uma regra gramatical, mas como uma diretriz de ordem estilística, que faz com que o texto fique mais harmonioso. Além disso, ele faz com que se constitua um recurso de coesão, uma vez que deixa o enunciado numa simetria que é por si só articuladora. 14 HILGERT, José Gaston. A paráfrase em situações de interação explícita. In: Letras & Letras. Uberlândia: 11 (1) 233-245. jan/jun, 1995. 30 2.2.1.1.3 Repetição propriamente dita A repetição propriamente dita acontece quando determinada unidade que já foi mencionada reaparece no texto, unidade esta que pode ser uma palavra, uma sequência de palavras ou mesmo uma frase inteira, como afirma Antunes (2005). A repetição é muito usada em anúncios publicitários, por causar um “efeito estilístico e retórico na progressão textual” (Koch, Elias 2012, p. 163): A ÚLTIMA PALAVRA EM CONFORTO. A ÚLTIMA PALAVRA EM SOFISTICAÇÃO. A ÚLTIMA PALAVRA EM DESIGN. A ÚLTIMA PALAVRA DA QUATRO RODAS. No comparativo da revista, a vitória é do novo Corolla. Fonte:O Estado de S. Paulo, 29 jul. 2008. In Koch e Elias (2012) Muitas vezes ela é mal empregada no texto e acaba sendo condenada e considerada uma falha. No entanto, apesar de muitos estudiosos acharem que é um “defeito”, a repetição na verdade é um procedimento bastante significativo, pois apresenta uma das principais características da coerência, que é o ato de reiterar. “Portanto, há repetições viciosas e repetições enfáticas, retóricas.”, como afirmam Koch e Elias (2012). Sua principal função é marcar a continuidade do assunto que está em foco, pois quando não se repete o termo que está sendo tratado, o autor corre o risco de fugir do tema, podendo assim, tornar seu texto incoerente. Deste modo, Antunes (2005, p. 76) diz que “a repetição da palavra funciona no texto como uma espécie de nó que une as pontas da linha que sustenta a continuidade exigida pela própria coerência”. 2.2.1.2 Substituição O segundo procedimento da reiteração é a substituição, que acontece quando o autor utiliza determinado termo para substituir uma palavra que já foi utilizada no texto. Koch (2009, p. 20) a explica como “uma relação interna ao texto, em que uma espécie de ‘coringa’ é usado em lugar da repetiçãode um item em particular”. A 31 substituição pode ser gramatical e lexical, além de também poder ocorrer através da elipse. 2.2.1.2.1 Substituição gramatical Antunes (2005) explica que a substituição gramatical acontece quando determinada palavra é substituída por um pronome ou por um advérbio no texto. Ela ainda acrescenta que se trata de um recurso reiterativo, já que acontece a retomada de referências realizadas em segmentos presentes ao texto, fazendo, assim, com que a continuidade exigida pela coerência vá sendo construída. Quando o autor usa pronomes para dar continuidade ao texto, a substituição pode ocorrer de dois modos: Quando o pronome retoma uma palavra que foi introduzida anteriormente (catáfora), por exemplo: Havia um menino muito magro que vendia amendoins numa esquina de uma das avenidas de São Paulo. Ele era tão fraquinho, que mal podia carregar a cesta em que estavam os pacotinhos de amendoim. (...) Fonte: PLATÃO E FIORIN (2006) Quando o pronome vem antes da palavra que substitui (anáfora), por exemplo: Aconteceu mais uma vez: ele me abandonou. Como todos os outros. O quinto. A gente já estava junto há mais de um ano. Parecia que dessa vez seria para sempre. Mas não: ele desapareceu de repente, sem deixar rastro. Quando me dei conta, fiquei horas ligando sem parar – mas só chamava, chamava, e ninguém atendia. E então fiz o que precisava ser feito: bloqueei a linha. A verdade é que nenhum telefone celular me suporta. (...) Fonte: FREIRE, Ricardo. Começar de novo. O Estado de S. Paulo, 24 nov. 2006. In Koch e Elias (2012) Como se pode observar, no texto do primeiro exemplo utiliza-se o pronome pessoal ele para se referir à palavra menino, que já havia sido mencionada. No texto do segundo exemplo, o pronome ele aparece duas vezes antes de telefone celular, que é o termo ao qual está se referindo. Vale salientar também que, neste texto, ao adiar a introdução do referente textual – palavra ou sentença que é substituída no 32 texto – o autor tem a intenção de que o leitor vá formando suas ideias acerca do que está lendo para depois surpreendê-lo com algo diferente. Neste caso, a surpresa causada pela introdução de um termo distinto do que se aguardava foi intencional; no entanto, se o autor não souber fazer uso correto da substituição, o texto pode ficar vago e sem sentido. Quando bem empregada, a substituição faz com que o texto fique mais claro e conciso, no entanto é preciso ter atenção ao utilizá-la para evitar que se criem sentenças ambíguas e sem nexo. Para Antunes (2005), este é um ponto que deveria ser mais bem trabalhado pela escola, pois, apesar de se reconhecer que o aluno precisa obter competência para fazer uso da substituição, geralmente, os professores de língua materna optam por um modo incorreto para fazer com que os alunos adquiram essa competência. Isso pode acontecer também na língua estrangeira. A autora explica que a escola segue por um caminho errado, pois solicita que, em frases diferentes, se faça a substituição de um nome pelo pronome correspondente. O resultado desses exercícios são duas frases soltas, uma não continuando a outra, o que compromete a competência que se precisa ter para construir um texto; competência que é exatamente, a de articular, a de encadear as diferentes unidades ou segmentos (ANTUNES 2005, p. 89). Dessa forma, o aprendiz faz substituições em frases isoladas e na maioria das vezes não as faz no texto, que é o lugar em que ele realmente irá lidar com o desafio de desenvolver suas ideias encadeando sentenças e fazendo ligações entre as palavras. Em frases soltas muitas opções são permitidas, mas dentro do texto é necessário fazer as escolhas certas para que a coesão seja, de fato, estabelecida, já que, no interior do texto, há mais regularidades e restrições. 2.2.1.2.2. Substituição lexical A substituição lexical implica “o uso de uma palavra no lugar de outra que lhe seja textualmente equivalente” (ANTUNES, 2005, p. 96). Assim como a repetição, ela é um recurso que auxilia na sequência do texto. Através da substituição lexical, podem-se acrescentar novas informações sobre uma palavra ou sentença que já foi citada anteriormente, fazendo com que ele fique mais informativo e relevante. 33 Este recurso pode ocorrer de três maneiras. A primeira delas se dá quando uma palavra é substituída por um sinônimo, ou seja, por uma palavra que tenha o mesmo significado ou um significado semelhante. Além de servir como uma alternativa para que não se repita diversas vezes a mesma palavra, substitui-la por um termo que tenha um sentido aproximado faz com que se forme uma cadeia que pode contribuir para promover a coerência. Vejamos o exemplo seguinte: A porta se abriu e apareceu uma menina. A garotinha tinha olhos azuis e longos cabelos dourados. Fonte: Koch (2009) No entanto, é importante ter cuidado quando se pretende fazer uso da substituição, pois segundo Antunes (2005, p. 100), “esse tipo de substituição envolve muitas restrições de significado, pois nem mesmo aquelas palavras que, no dicionário, são tidas como sinônimas podem, sempre, ser usadas como totalmente equivalentes entre si.” Cabe, então, ao produtor do texto analisar e refletir em que situação é cabível o uso de substituições, e ainda, qual é a forma referencial adequada. A segunda situação acontece quando uma palavra é substituída por um hiperônimo, ou seja, por uma palavra que abrange determinado grupo de palavras. Segundo Antunes (2005): Os hiperônimos, como o próprio nome indica, são ‘palavras gerais’, ‘palavras superordenadas’ ou ‘nomes genéricos’, com os quais se nomeia uma classe de seres ou se abarcam todos os membros de um grupo. A hiperonímia está ligada, assim, à relação que se pode estabelecer entre um nome mais específico ou subordinado (gato) e um outro mais geral ou superordenado (animal) (ANTUNES 2005, p. 102). Vejamos um exemplo que apresenta este recurso: Os corvos ficaram à espreita. As aves aguardavam o momento de se lançarem sobre os animais mortos. Fonte: Fávero (2000) A palavra corvos é um hipônimo, já que é uma das partes abrangidas pelo hiperônimo aves, que envolve determinada quantidade de seres. Fávero (2000) 34 explica que os hipônimos permitem uma maior precisão no texto, tornando-o menos vago. Conforme Antunes (2005), é comum que haja palavras que contemplem um maior número de seres, ou seja, que são mais abrangentes que outras. Assim, a palavra corvo tanto pode ser substituída mais adiante por animal como por aves. No entanto, apesar de a palavra gato também poder ser retomada por animais, ela não poderia ser retomada por aves, pois é preciso admitir a “existência de classes e subclasses de ordenação dos indivíduos no mundo” (ANTUNES 2005, p. 103). É válido observar também que há determinadas palavras que compreendem uma quantidade muito grande de seres, como: coisa, produto, fator, item, equipamento, dentre outras. Apesar da enorme abrangência dessas palavras, é necessário ter cuidado ao fazer uso das mesmas, pois isso não significa que elas poderão ser empregadas em todos os casos, sem exceções. É importante saber, como dito anteriormente, que cabe ao produtor do texto a tarefa de analisar cada situação. A terceira situação acontece quando a palavra é substituída pelo que Antunes (2005) chama de caracterização situacional, ou seja, esse recurso tem a característica de “retomar um referente textual por meio de uma expressão que funciona como uma descrição desse referente, conforme o queé relevante focalizar na situação concreta da enunciação” (ANTUNES 2005, p 109). Neste caso, a substituição é feita através do conhecimento de mundo do autor e também por meio do contexto. O cantor Sting tem lutado pela preservação da Amazônia. O ex- líder da banda Police chegou ontem ao Brasil. O vocalista chegou com o cacique Raoni, com quem escreveu um livro. Fonte: Fávero (2000) O referente textual Sting foi retomado por ex-líder e posteriormente por vocalista, que não chegam a ser sinônimos ou hiperônimos, mas palavras que, nesta situação, apresentam propriedades que servem para caracterizar a palavra que foi substituída. Como se pode constatar, o conhecimento de mundo é bastante importante para a utilização deste recurso, pois, no exemplo acima, o autor certamente sabia que o cantor Sting não era mais o líder da banda Police e sabia ainda que a função dele na banda havia sido a de vocalista. 35 Este recurso é muito importante, pois diferentemente da substituição por sinônimos, ele acrescenta novas informações que podem ser úteis para um leitor que não possui os mesmos conhecimentos acerca do assunto tratado ou fornece pistas que levem o leitor a associar o conhecimento que já possui sobre o texto. Além disso, através da substituição por caracterização situacional, o autor pode expor seu ponto de vista sobre determinado tema, ao utilizar as expressões para caracterizar o referente textual. 2.2.1.2.3 Elipse O último recurso da substituição é a elipse, que, como afirma Antunes (2005, p. 118) “é definida como resultado da omissão ou do ocultamento de um termo que pode ser facilmente identificado pelo contexto”. Alguns autores, como Halliday & Hasan (1976) e Fávero (2000), a chamam de “substituição por zero”. Vejamos o exemplo: Meu interesse pelos livros começou quando era criança. Não havia muitos Ø em casa, mas lia todos Ø que podia na escola. Fonte: Revista Nova Escola, outubro de 2013. Segundo Halliday e Hasan (1976), este recurso pode ser dividido em elipse nominal e elipse verbal. A primeira ocorre quando o item omitido é um substantivo, enquanto a segunda acontece quando o item omitido é verbo, como podemos ver nos exemplos abaixo: Milhões de mães estarão recebendo presentes enquanto meu leitor estiver lendo estas linhas. São telefones celulares, lenços, bolsas, sapatos, DVDs, CDs (alguns piratas) e toneladas de flores. Algumas Ø estarão recebendo livros (para quem não sabe, ou não se lembra, livro é um objeto feito de papel impresso, muita imaginação e um pouco de sabedoria). Fonte: PINSKY, Jaime. Mamãe merece mais. Correio Braziliense, 14 maio 2006. In Koch e Elias (2012) As universidades também estão repensando sua organização. Os currículos de algumas Ø estão sendo revistos e laboratórios e bibliotecas de outras Ø, que ficaram fechados durante anos, Ø reabertos. Fonte: ANDRÈ, Marli. Nova Escola, out. 2013. 36 Conforme Antunes (2005), assim como os demais recursos citados, a elipse promove a continuidade e a reiteração do texto, pois ao omitir determinado elemento linguístico, o autor compensa essa ausência com a presença de outros termos que permitem que o leitor recupere aquilo que foi “retirado”. Além de contribuir para a continuação do texto, a elipse é um recurso que serve para evitar que termos desnecessários sejam repetidos, evitando, assim, que o texto fique redundante e cansativo. Vejamos o exemplo apresentado pela autora (Op. Cit, 2005): Em certo dia de data incerta, um galo velho e uma galinha nova encontraram-se no fundo de um quintal e, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de frisar que sempre Ø vivera bem, Ø tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, Ø esperava calmamente o fim de seus dias. Fonte: Antunes (2005) Como é possível observar, a palavra que está sendo retomada é o substantivo galo, que pode ser facilmente identificado no decorrer da leitura. Se ao invés de ter utilizado a elipse, o autor tivesse usado a palavra galo em todas as situações nas quais ela precisou ser retomada, o texto provavelmente ficaria cansativo, repetitivo e deselegante. É importante lembrar que, assim como os demais recursos, e em especial por se tratar de uma ausência causada pela omissão de determinado termo, a elipse precisa ser bem empregada para que o autor não corra o risco de tornar o texto ambíguo ou de perder o foco e a continuidade textual. 2.2.2. Associação A segunda relação textual abordada por Antunes (2005) é a associação, que forma a coesão lexical do texto, que apreende as relações de significado formadas através das unidades lexicais (sobretudo substantivos, adjetivos e verbos). Como se sabe, uma das exigências para que o texto seja coerente é a existência de uma unidade temática, que é justamente formada pelas relações semânticas que as palavras estabelecem entre si. Desse modo, as palavras não ficam soltas, já que estão vinculadas a pelo menos mais uma palavra. Acerca dessas relações, Antunes (2005) afirma que 37 Cada palavra no texto está ligada, está enlaçada, a, pelo menos, uma outra. É de se esperar, no entanto, que quanto mais uma palavra se insere no núcleo temático do texto, isto é, no eixo de seu sentido principal, mais essa palavra entra em cadeia com outras e é, neste texto, uma ocorrência relevante. Em contrapartida, entre as ocorrências periféricas estariam aquelas palavras que se ligam a subtópicos menores ou secundários (ANTUNES 2005, p. 126). A partir disso, pode-se dizer que as palavras são escolhidas de acordo com o assunto ou tema do texto, pois ao produzir, o autor seleciona os termos que lhe parecem mais apropriados. Observe-se o seguinte trecho: O modelo agrário brasileiro, embora com inúmeros defeitos, possui uma característica que merece ser destacada, elogiada e preservada: a produção agropecuária brasileira é a última atividade econômica ainda totalmente nas mãos de brasileiros. Pouco se fala disso, mas o fato é que não encontramos multinacionais responsáveis por qualquer parcela significativa da produção. Também não encontramos, no campo, as famigeradas empresas estatais. Embora existam multinacionais proprietárias de terra, o percentual de produção rural em suas mãos não é significativo. A produção rural, na verdade, é o reduto final da livre iniciativa brasileira. Com a nossa economia cada vez mais estabilizada e desnacionalizada, a agropecuária permaneceu uma atividade essencialmente de brasileiros. Fonte: CAMARGO NETO, Pedro de.-. Veja, 7 ago. 1985. In Platão e Fiorin (2006) É possível perceber no trecho acima uma unidade de sentido, pois as frases retomam umas às outras e as palavras estabelecem relações de sentido, fazendo com que o texto seja coerente através da coesão estabelecida pelas palavras que se relacionam entre si. As palavras e expressões destacadas (modelo agrário, produção agropecuária, atividade econômica, produção, proprietárias de terra, produção rural) agem como um recurso coesivo, já que criam conexões entre os diversos segmentos e remetem ao tema central do texto, que gira em torno da agropecuária no Brasil. Dentre os diversos tipos de relações semânticas que as palavras podem estabelecer umas com as outras, Antunes (2005) destaca três tipos: Relações de antonímia – são as relações que se dão entre aqueles termos que estabelecem uma relação de antônimo, oposto; como por exemplo: crédito – débito, maior – menor, urbano – rural, importar – exportar, verso – prosa, quente – frio.38 Relações de co-hiponímia – trata-se das relações que acontecem entre diferentes seres da mesma classe. Em algumas situações, esses termos chegam a funcionar como antônimos. Exemplos: inverno – primavera – verão – outono, Terra – Saturno – Marte, manhã – tarde – noite, solteiro – viúvo – casado – divorciado. Relações de partonímia - são as relações estabelecidas pelas palavras que formam um sentido de parte/todo, como por exemplo: clima – chuva - temperatura, eleição – campanha – votação, sistema solar – Terra – Marte – Mercúrio, trânsito – veículo – pedestre - semáforo. Graças a essas relações semânticas, torna-se difícil encontrar em um texto uma palavra que não esteja vinculada a nenhuma outra. Além disso, estes vínculos são criados também “por conta de uma espécie de ordenamento ou de inclusão em que os fatos da realidade física e cultural se arrumam” (ANTUNES 2005, p. 136), ou seja, o conhecimento de mundo do indivíduo contribui para que ele saiba organizar e encadear tais relações. 2.2.3 Conexão A terceira relação textual abordada por Antunes (2005) é a conexão, que “se efetua por meio de conjunções, preposições e locuções conjuntivas e preposicionais, bem como por meio de alguns advérbios e locuções adverbiais” (ANTUNES 2005, p. 140), que servem como conectores que tem a função de promover a sequência textual. Diferentemente de como na maioria das vezes se aborda nas gramáticas, a autora chama atenção para o fato de que, muito mais do que servir para unir orações, os conectores servem também para unir períodos, parágrafos e até mesmo partes maiores do texto. Isso é algo que poderia ser mais bem trabalhado na escola, pois geralmente, ao invés de trabalhar com textos, o professor utiliza frases soltas para ensinar o uso dos conectores. E, quando chega a utilizá-los, faz isso superficialmente, pedindo apenas para que o aluno identifique determinada classe gramatical no texto, ou ainda pedindo-lhes que, a partir de um banco de palavras, preencha lacunas nas frases não chegando a realizar um estudo efetivamente profundo sobre a estrutura textual. 39 Acreditamos que, ao invés de aprender na escola de modo reduzido e apenas por meio de classificações como dito anteriormente, seria interessante que o aluno fosse levado a compreender de modo efetivo a função dos conectores como elementos que servem para ligar as subpartes do texto, e compreender ainda que esses conectores estabelecem uma relação de sentido entre os elementos textuais. 2.2.3.1 Algumas relações semânticas sinalizadas pela conexão15 Relação de causalidade: acontece quando é estabelecida uma relação de causa e consequência entre determinados elementos do texto. Ela é marcada através das expressões: porque, já que, visto que, dado que, como, uma vez que. Já que amanhã é feriado, ficarei em casa para realizar algumas atividades domésticas. Em Inglês alguns termos correspondentes são: because, because of, due to, since, as, for. Vejamos o exemplo abaixo: I couldn’t go to work last week because I was sick. Eu não pude ir ao trabalho semana passada porque estava doente. Relação de condicionalidade: ocorre quando determinado segmento é condição necessária para que aconteça outro. Trata-se de uma condição de causa, mas, diferentemente da relação de causalidade, essa relação é apenas hipotética. A condicionalidade é expressa por termos como: desde que, contanto que, sem que, a menos que, salvo se, exceto, se, caso. Vejamos alguns exemplos: Apesar dos méritos do pedido, ele informou que não havia disponibilidade no Orçamento, a menos que se cobrassem mais impostos, inclusive dos solicitantes. Fonte: NÓBREGA, Maílson da. Conspiração contra o futuro. Veja, 4 set 2013. 15 As Relações semânticas sinalizadas pela conexão tiveram como fonte principal MELO, Delma Cristina Lins Cabral. O ensino da produção escrita em inglês numa abordagem de gênero textual: o artigo de opinião. 2011 Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira) Universidade Federal de Alagoas, 2011. p. 166-174. 40 Em inglês podem-se utilizar as seguintes condicionais: if, unless, provided that. I’ll tell you a secret if you promise me you will not tell it to anyone. Eu vou lhe contar um segredo se você prometer que não vai dizer a ninguém. Relação de temporalidade: demonstra uma relação de tempo que serve para situar os fatos ocorridos no texto. Essa relação se estabelece através de expressões como: antes que, depois que, logo que, sempre que, quando, enquanto, entre outros. Antes que eu esqueça, vou ligar para a agência solicitando os convites da festa. Alguns termos em Inglês são: when, as, as soon as, then, before. I saw your brother last night when I was going home. Vi seu irmão ontem à noite quando eu estava indo para casa. Relação de finalidade: acontece quando um segmento deixa claro o objetivo de outro. É sinalizada através dos marcadores: para que, a fim de que. Para que tudo dê certo, é necessário empenho e determinação. Em Inglês algumas expressões usadas para expressar finalidade são: to, so that, in order to, so as to, in intention of. John is saving some Money in order to buy a car next year. John está economizando algum dinheiro a fim de comprar um carro no próximo ano. Relação de conformidade: ocorre quando determinado segmento acontece de acordo como era previsto por outro. É expressa por: conforme, segundo, como, consoante, entre outros. 41 Segundo o autor do texto, o cidadão precisa estar ciente de seus deveres e cobrar seus direitos. Na língua inglesa costuma-se utilizar: according to, as, as far as, dentre outros. I’m writing the paper according to the instructions my teacher gave me. Eu estou escrevendo o trabalho de acordo com as instruções dadas pelo professor. Relação de adição: é estabelecida quando um elemento é acrescentado a termos, frases ou orações, fazendo com que as informações se somem. É marcada por expressões como: e, ainda, não só... mas também, nem, entre outros. Por exemplo: Imagine um ambiente caótico, em que há conflitos diários entre os alunos. Indisciplinados, eles não cumprem regras nem participam da aula e nunca mostram interesse ou disposição de cooperar. Fonte: SALLA, Bianca. Nova Escola, out. 2013. Em Inglês algumas expressões usadas são: and, besides, in addition to, moreover, as well as, entre outras. I don’t think I’ll come to Nick’s party. It will finish very late. Besides, I won’t know many people there. Eu acho que não vou à festa de Nick. Vai terminar muito tarde. Além disso, não conheço muitas pessoas lá. Fonte: OXENDEN, Clive and LATHAN-KOENIG, Christina. New English File Advanced. 2012. p. 145. Relação de oposição: acontece quando determinado conteúdo demonstra oposição ou contraste a algo que foi dito anteriormente. É expressa por termos como: mas, porém, entretanto, ainda que, todavia, entre outros. Ainda que ele me dissesse o que iria fazer com os relatórios que colheu na empresa, eu não me responsabilizaria pelos seus atos. Em Inglês pode-se usar: but, however, although, yet, despite, in spite of, on the other hand, entre outras. 42 Students of English spend a lot of time and Money learning the language. They sit exams to obtain certificates saying that their English is of a certain level. However, when they travel to the UK or other English-speaking nations to work, study or simply for tourism, they
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