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Considerações sobre o Direito Desportivo A palavra desporto: Machado (2003) esclarece que se trata de uma variação histórica da palavra francesa “deport” (que significa divertimento, jogo) e da palavra inglesa “sport” (que também derivou de deport). O termo deporto foi historicamente difundido no português de Portugal. No Brasil, uma adaptação do termo inglês “sport” deu origem à palavra esporte. Direito Desportivo (Jusbrasil. com br - 15 de agosto de 2018) Trata-se de um “ramo do Direito que aborda um conjunto de técnicas e princípios norteadores da prática desportiva”, em suas distintas modalidades. Desde os tempos primórdios a competição se faz presente na vida do homem, obviamente não o desporto institucionalizado de hoje, mas de qualquer maneira a competição já existia. Em nosso cotidiano sempre houve uma permanente competitividade, seja por alimento, por espaço, por trabalho, ou até mesmo para sobrevivência. A prática do exercício físico foi fator preponderante para o contexto econômico dos povos primitivos, na medida em que sua atividade de caça pesca e o desenvolvimento de técnicas rudimentares de cultivo, além de envolver a atividade física necessária para o desempenho dessas funções, garantia a sobrevivência do grupo. Os exercícios físicos bem desempenhados permitiam êxito nas empreitadas e davam a condição necessária para a sobrevivência humana, infiltrando-se e incorporando-se na vida social até o ponto de se instalarem definitivamente nos hábitos cotidianos das pessoas. Com o passar dos tempos, a prática de atividades físicas foi se tornando não só meio de sobrevivência, mas também importante fonte de lazer e diversão. Daí então a manifestação das atividades físicas, como forma instintiva de brincar, sem regras previamente estabelecidas e que se opõe à seriedade do trabalho, incorporou-se naturalmente à cultura dos povos, assumindo a feição daquilo que denominamos jogo. O “jogo” deu a origem do esporte, considerando que esporte é o jogo institucionalizado, regulado por regras e comandado pelas federações. Diversas descobertas indicam que no ano 4000 a.C, o esporte já se fazia presente na vida do ser humano, pois já se praticavam desportos na China, como no Antigo Egito, onde eram realizadas competições de natação, pesca, salto em altura e luta. Apesar, de todos os países onde a prática esportiva era fomentada, foi na sociedade grega o forte referencial desportivo onde os exercícios físicos assumiram uma finalidade educativa. Na Grécia Antiga, os primeiros instrumentos de educação eram a música, ou a cultura literária e artística para o espírito, e a ginástica para o corpo, atividades físicas eram uma prática corriqueira, que atraíam multidões, seus praticantes eram jovens e idosos. Platão esclarece que, essas disciplinas afetavam o caráter e estreitavam os laços entre os cidadãos, conceituando o equilíbrio entre o corpo e espírito, para os gregos o corpo era o essencial. Dessa prática veio a tão conhecida frase: Mens sana in corpore sano. Na medida em que os desportos se foram tornando cada vez mais populares e com o número crescente de adeptos dispostos a fazer tudo por tudo para assistir à prática desportiva dos atletas, juntamente com o desenvolvimento dos meios de comunicação e o incremento do tempo de lazer, os desportos passaram a profissionalizar-se. Desta forma, os desportistas começaram a receber dinheiro por e para se dedicarem aos treinos e às competições. Os conceitos mais modernos de esporte surgiram na Europa no século XVIII, quando a Educação Física voltou a ser sistematizada, e no século seguinte, na universidade de Oxford, na Inglaterra, surge à reforma dos conceitos desportivos, definindo as regras para os jogos. Foi a partir deste momento, com a padronização dos regulamentos, que houve a internacionalização do esporte. Durante a primeira metade do século XX, observa-se que o esporte teve um lento desenvolvimento, em virtude das duas grandes guerras, a crise de 1929 (queda da bolsa de NovaYork) que, terminaram impedindo de acontecer três edições dos Jogos Olímpicos. Ainda na Antiga Grécia, o esporte continha determinadas características que uniam religião e guerra. Como maior exemplo desse fenômeno, citam-se as Olimpíadas, criadas por volta de 2500 a.C., momento em que os gregos realizavam festivais esportivos em homenagem a Zeus, a maior divindade da mitologia grega. No século XX, a Organização Mundial de Saúde considera a atividade física um passo muito importante na promoção da saúde física, mental e social, considerando-o um dos fenômenos de maior impulso dos séculos XX e XXI, sendo aderido praticamente em todas as sociedades como uma prática social, caracterizando o esporte não apenas por uma vertente competitiva e institucionalizada, mas também como uma atividade de promoção e inclusão social. “MENTE SÃ, CORPO SÃO” Dentre as inúmeras mudanças que se observa nas oraticas desportivas no Brasil, destaca-se a consolidação das ideias de “esporte para todos”, onde o esporte começou a ser disseminado e incentivado indistintamente, com outras concepções e finalidades. Como exemplo de tais mudanças, encontra-se o papel do Estado frente ao esporte, momento em que ele deixa de ser apenas tutor de atividades esportivas e passa a ter que investir em recursos humanos para a promoção do esporte. Diante da magnitude do fenômeno esportivo, da proporção tomada pelo desporto e com a devida influência que a prática esportiva tem sobre as massas e os mais diversos povos, era imprescindível que fossem elaboradas normas e regras de caráter nacional e internacional, assim como a necessidade um ordenamento jurídico próprio. A importância do desporto encontra fundamento, ao ser vista como um fenômeno social, político, econômico e cultural, já que através do esporte, atinge as mais amplas camadas sociais. Nasce o desporto, nascem as regras do jogo É aceitável afirmar que o direito desportivo teve sua origem concomitantemente ao desporto, conforme afirma Álvaro Melo Filho, a legislação desportiva tem suas origens ligadas nas regras que povos primitivos criavam e seguiam, como se sagradas fossem. Foi na Inglaterra que o desporto aflorou novamente (em relação à Grécia Antiga), através do regulamento de certos jogos populares e da implantação da atividade física nas escolas, evoluindo cada vez mais. O Direito Desportivo obteve um crescimento considerável em todo o mundo, e surge não apenas como legislação, mas adentra o íntimo constitucional de várias nações, fruto de importância de acontecimentos como as Olimpíadas e o Campeonato Mundial de Futebol, além de forma de lazer é um importante instrumento de integração social. A importância do Direito Desportivo é tamanha, já que os temas jurídicos do desporto podem ser observados sob diversos ângulos, como o do desporto espetáculo, do desporto competição, do desporto profissão, do desporto comunitário, do desporto classista, do desporto infantil, do desporto militar, etc. Embora o tema Direito Desportivo esteja previsto na Constituição de 1988, ainda é recente e pouco abordado na justiça brasileira, tendo maior enfoque no que diz respeito ao futebol. Segundo Álvaro Melo Filho, quando houve a fusão da Federação Brasileira de Sports e da Federação Brasileira de Futebol, em 1916, surgiu a Confederação Brasileira de Desportos, cujo escopo era cuidar da prática do esporte de maneira geral e como forma de lazer. Foi a partir desse instante, em meados da década de 1930, que o Estado passou a exercer interferência nas atividades esportivas do país. Infelizmente, é preciso reconhecer que a preocupação doEstado Brasileiro com o desporto nunca foi por motivos humanitários ou mesmo pela prática e divulgação dos esportes, mas sim com uma intenção velada de beneficiar o país, seja através da prática desportiva de alto rendimento, da preparação de equipes olímpicas ou mesmo com o intuito de esconder a real situação do país, tornando-o uma grande potencia esportiva, quando na verdade a má distribuição de renda, gerava e gera cada vez mais injustiça social, pobreza e exclusão de parcela significativa da população. O futebol tornou-se uma fonte de renda com alta lucratividade e que camufla os interesses escusos de grandes nomes das elites politicas, econômicas e sociais, que controla as massas e que se vale da alienação dessas para alimentar seus negócios. Pode não ter comida na mesa de muitos brasileiros, mas se tem copa ou futebol na TV, está tudo certo. Infelizmente é assim que muitos pensam. [Depoimento]. Para fins de estudo, Álvaro Melo Filho, assim como outros autores, dividiram o ordenamento jurídico-desportivo do Brasil em três etapas: a primeira que vai de 1932 a 1945, e adentra com a legislação criada desde a Aliança Liberal até o Estado Novo; a segunda etapa que versa entre o fim da ditadura militar e a promulgação da Constituição de 1988; e por fim, a terceira etapa que compreende desde momento da promulgação da Constituição Federal, até os dias atuais. Em 1º de Julho de 1938, com a promulgação do Decreto- lei nº 526/38 que instituiu o Conselho Nacional de Cultura é que a legislação desportiva brasileira de fato começou a ser elaborada. Este Conselho era responsável pelas atividades relativas ao desenvolvimento cultural, incluindo a educação física e a recreação individual e coletiva. Existe uma corrente que admite o início da legislação desportiva brasileira apenas após a promulgação do Decreto lei nº 1056/39, que deu origem a Comissão Nacional do Desporto, órgão responsável pela elaboração de um Código Nacional de Desporto, com o fim de organizar uma instituição desportiva no Brasil O Decreto foi extremamente criticado. Foi em 1941, mediante o Decreto-Lei 3199/41 que muitos doutrinadores consideram a entrada em vigor da primeira lei orgânica do desporto brasileiro. O decreto mencionado inovou a escassa legislação desportiva brasileira, estabeleceu bases de organização desportiva em todo o país, criou o Conselho Nacional de Desportos, assim como os Conselhos Regionais de Desporto, além disso, criou Confederações e instituiu que estas deveriam seguir as regras desportivas internacionais em seus atos e decisões. De maneira geral este Decretou inovou o ordenamento jurídico desportivo brasileiro, dentre elas, diversas confederações passaram a adotar as práticas desportivas brasileiras, das regras advindas de entidades internacionais, o que evidentemente tornou possível a uniformização do desporto mundial. É de suma importância destacar que o ano de 1941 foi inovar para o Direito Desportivo, pois foi também neste ano, que a Confederação Brasileira de Desporto Universitário foi criada, pelo decreto 3617/41. Ainda em 1941, uma portaria ministerial, qual seja, nº 254, determinou que as confederações e federações desportivas devessem aderir a um código de disciplina e penalidades, assim como um manual específico de direitos e deveres dos atletas. Aproximadamente um ano depois, através de uma resolução do Conselho Nacional de Desportos, nasce no Brasil a Justiça Desportiva, exatamente aos dois dias do mês de novembro de 1942. Foram traçados diversas normas relativas à disciplina dos espetáculos de futebol, às entidades desportivas e à organização. Foi também instituído um Tribunal de Penas, responsável inicialmente apenas para atuar nas áreas do futebol. Em 1943, foi aprovado o decreto 5342/43, que reconhecia oficialmente a prática profissional do futebol, determinando a necessidade de registro de técnicos e jogadores de futebol na Confederação Brasileira de Desportos. Além disso, o decreto foi responsável por reconhecer a competência do CND para punir atletas profissionais, auxiliares, árbitros, e entidades desportivas. Durante as décadas de 60 e 70, diversos outros decretos foram aprovados regulando temas menores e menos influentes referentes ao desporto Em outubro de 1975, a Lei 6251//75 foi promulgada. O referido disposto legal instituía normas gerais sobre o desporto, a expedição de normas referentes à manutenção da ordem desportiva e à organização da justiça e disciplina desportiva. A lei em questão foi ampla e tratou detalhadamente o tema desporto, sendo inclusive considerada a primeira lei geral sobre o tema. (em seus 52 artigos abordava: política nacional e plano nacional de educação física e desportos; recursos para o desporto; sistema desportivo). Essa Lei perdurou até a promulgação da Constituição Federal de 1988. A partir daí, com a promulgação da Constituição de 1988, iniciou-se a terceira fase do ordenamento jurídico desportivo brasileiro. A Carta Maior inovou ao garantir a autonomia desportiva assegurada às entidades desportivas vigentes e às associações, afastando definitivamente o intervencionismo estatal do desporto, de modo a prevalecer à iniciativa privada sobre o assunto. Texto Constitucional: Art. nº 217: Art. 217. É dever de o Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um, observados: I - a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de alto rendimento; III - o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional; IV - a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional A autonomia é um dos princípios mais importantes dentro da legislação desportiva, já que visa garantir às associações e entidades dirigentes independência funcional e organizacional em relação aos entes estatais, vedando que o Poder Público interfira indevidamente. (Legislação dotada de princípios para nortear a prática desportiva no país; identidade nacional, garantia de liberdades individuais e direitos sociais). Inserido do Texto Maior, pelo inciso III do art. 2º, tem-se a democratização do acesso, “garantindo em condições de acesso às atividades desportivas sem quaisquer distinções ou formas de discriminação”. Noutras palavras, o referido princípio apresenta-se como forma de reiteração do princípio da dignidade humana, ao passo que proíbe qualquer forma de discriminação no campo dos esportes, e por isto entende-se com relação à raça, cor, sexo, idade, religião, etc. Do ponto de vista de uma compreensão socio-antropológica, importa destacar também o principio da Educação, com o fim de proteger os fins pedagógicos do desporto, quando este é promovido como meio de integração social, de rompimento de barreiras econômicas, culturais e sociopolíticas. Tendo em vista a necessidade de adaptação da legislação para o efetivo cumprimento ao disposto no art. 217 da Constituição Federal, foi elaborada e aprovada a Lei 8672/93, popularmente conhecida como Lei Zico, em razão de Arthur Gomes Coimbra ser o Secretário de Esportes do Governo Federal. A doutrina desportiva aduz que antes do advento da referida Lei, a legislação brasileira concernente ao desporto era fragmentada, ou seja, cada legislação que surgia referente a uma determinada modalidade esportiva, continha normas gerais de organização a eles pertinente. Após a entrada em vigor da Lei 8672/93, surgiram nova disposição reguladora, inserindo regras gerais de organização,funcionamento e atribuições válidas para todas as modalidades. Conforme traz Álvaro Melo Filho: “a famosa Lei Zico, provocou uma revolução no desporto nacional, ao trazer a faculdade dos clubes em se tornarem empresas, além da previsão do fim da “Lei do Passe” e da exclusão do Tribunal Superior de Justiça Desportiva da organização da justiça desportiva brasileira”. Foi justamente esta lei que buscou uma profunda regulamentação do direito desportivo brasileiro, porém deixou de disciplinar a organização e prática desportiva no país, culminando na elaboração, discussão e aprovação da Lei 9615/98, ou Lei Pelé, o então Ministro Extraordinário do Esporte, Édson Arantes do Nascimento, Pelé, Rei do Futebol, devido ao fato de ser ele um dos principais responsáveis pela existência do referido texto ordinário. Porém, o referido texto foi alvo de diversos questionamentos e críticas pela doutrina, alegando que se tratava de dispositivos inconstitucionais, acarretando em várias alterações em seus artigos através de medidas provisórias. Marcílio Ramos Krieger, afirma que: “(...) essa lei geral sobre Desportos mantém a unicidade por modalidade desportiva e a subordinação da prática desportiva às regras e normas da respectiva entidade dirigente internacional.” Corroboram de forma substancial na participação e brasileira em diversos campeonatos e eventos internacionais. Em 2002 foi criado o Conselho Nacional do Esporte, que objetivava desenvolver programas que promoviam a prática intensiva e planejada da atividade física para toda população, além de zelar por melhorias no padrão de organização, gestão, qualidade, e transparência no setor. O Conselho Nacional do Esporte é um órgão colegiado de deliberação, diretamente vinculado ao Ministro de Estado do Esporte, e que busca o desenvolvimento de programas em massa que incluam cada vez mais pessoas na atividade física. Por fim, é importante mencionar que em 2003, foi promulgada a Lei 19671/03, conhecida como Estatuto do Torcedor, após um histórico conturbado na torcida do futebol brasileiro. A Lei busca proteger os interesses do consumidor de esportes no papel de torcedor, compelindo as instituições responsáveis a estruturarem o esporte no país de maneira organizada, transparente, segura, limpa e justa. Referências: BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constituicaocompilado.htm> Acesso em : 10. Set. 2016. JUSBRASIL - Direito Desportivo no Brasil; 15/08/2018 https://taysajustimiano.jusbrasil.com.br/artigos/496516417/direito-desportivo-no-brasil 3/28 MACHADO, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. Livros Horizonte; Lisboa, 2003. MELO FILHO, Álvaro. O Desporto na Ordem Jurídico-Constitucional Brasileira. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. MELO, Victor Andrade de. História da educação física e do esporte no Brasil: panorama e perspectivas. 1. ed. São Paulo: IBRASSA, 1999.
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