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EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS QUÍMICOS 1 Conceitos básicos 1.1 Processo Um processo é a integração racional de fenômenos ou eventos; o processo químico é um conjunto interligado de etapas para possibilitar a transformação de uma matéria prima em um produto de interesse; geralmente o processo têm etapas de: tratamento, reação, separação e purificação. A definição de processo químico é tão grande que engloba setores específicos de grande magnitude como: metalúrgico, nuclear e farmacêutico; e ainda tem diversas ramificações de relevância. Nos processos químicos ocorrem transformações químicas ou físicas da matéria. Embora a maioria englobe conversões químicas (ou bioquímicas), em alguns processos ocorrem apenas transformações físicas da matéria. A destilação do petróleo para obtenção de algumas frações, a obtenção do açúcar da cana e a extração de óleos vegetais, são exemplos típicos de processos químicos onde não ocorrem conversões químicas essenciais. Além disso, mesmo naqueles processos onde a conversão química é a operação principal, uma série de operações físicas preliminares é necessária para a preparação da matéria prima e seu transporte até o equipamento de reação (reator) bem como para o tratamento, purificação e transporte do efluente do reator para a obtenção do produto (um ou mais) final. A etapa de reação é considerada o núcleo do processo, a partir do qual a estrutura e existência das outras etapas são definidas. Várias são as operações físicas de interesse da indústria química, elas são chamadas operações unitárias. Cada etapa precisa de equipamentos também chamados unidades de processamento; um equipamento é uma ferramenta para condicionar os fenômenos de comportamento em um espaço definido, onde entram e saem materiais; os equipamentos são escolhidos pelas suas funções específicas, custo, tamanho e segurança. Em linguagem de engenharia química, todo este texto descritivo é substituído por um desenho esquemático chamado de fluxograma. Utilizando-se blocos, outros símbolos que representem unidades de processo (reatores, destiladores, evaporadores, etc...) e linhas que indicam os caminhos de fluxo das matérias primas e dos produtos, descreve-se o processo de forma simples e objetiva, através de uma coordenação sequencial que integra as unidades de conversão química (reatores) às demais unidades de operações físicas. O material que entra em uma dada unidade de processo é chamado de alimentação e o que a deixa é chamado de produto. O diagrama de blocos é, na verdade, o fluxograma mais simples, que indica as principais unidades de processo e traz informações sobre as variáveis de EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos processo principais. Um fluxograma mais elaborado traz mais detalhes como o dimensionamento dos equipamentos, as malhas de controle automático, os materiais de construção e outras informações importantes. Dada uma unidade de processo ou um processo como um todo o problema básico é calcular as quantidades e propriedades dos produtos a partir das quantidades e propriedades das matérias primas ou vice-versa. O objetivo da disciplina é o desenvolvimento duma abordagem sistemática para a resolução de problemas deste tipo, a partir das variáveis em jogo, chamadas de variáveis de processo, e as relações entre elas mediante equações associadas aos princípios universais da conservação da massa e energia e informações termodinâmicas. 1.2 Dimensões e unidades As variáveis são indicadores de estado de um fenómeno, nos processos são parâmetros que descrevem a quantidade e a qualidade dos materiais. A dimensão é um conceito de medida das variáveis físicas, as dimensões básicas são: o comprimento , -, a massa , -, o tempo , - e a temperatura , -. Os termos que permitem quantificar as dimensões são denominados unidades. As dimensões básicas estão relacionadas mediante leis e definições, o que da origem a dimensões secundarias, por exemplo, velocidade , ⁄ -. Os cálculos envolvendo processos químicos e bioquímicos são realizados usando quantidades cujas grandezas são expressas em termos de certo número de unidades de sua dimensão. Assim, o valor numérico representa o número de unidades contidas na quantidade medida. 1.2.1 Análise dimensional Com as grandezas bem definidas, aparece então o conceito de consistência dimensional ou homogeneidade dimensional. A consistência dimensional organiza os procedimentos nos quais são efetuados cálculos envolvendo as grandezas dimensionais ou adimensionais. Ela dita que: “Toda equação que representa um sistema físico só é válida se for dimensionalmente consistente (homogênea), isto é, se todos os seus termos que são somados, subtraídos ou igualados, tiverem as mesmas dimensões e estiverem representados na mesma unidade.” Note que a recíproca não é verdadeira, ou seja, não necessariamente uma equação dimensionalmente consistente tem significado físico. Uma observação cuidadosa das dimensões das grandezas envolvidas em um problema pode ser de grande valia em sua solução. As dimensões conferem significado físico aos números fornecidos e podem indicar a solução através de uma simples análise dimensional. Por outro lado, descuidos levam a resultados sem qualquer significado. Quantidade adimensional é um número desprovido de qualquer unidade física que o defina. Os números adimensionais se definem como produtos ou quocientes de quantidades cujas unidades se cancelam. Dependendo do seu valor estes números têm um significado físico que caracteriza determinadas propriedades para alguns sistemas. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos As regras utilizadas nos cálculos envolvendo operações com grandezas dimensionais são: Adição / subtração: quantidades expressas na mesma unidade fornecem o resultado nesta mesma unidade. Assim, se a operação for efetuada com quantidades expressas em diferentes unidades o seu resultado não terá significado físico. Multiplicação/divisão: o resultado tem como unidade a multiplicação/divisão /potenciação das unidades das grandezas envolvidas na operação; a divisão envolvendo mesmas unidades fornece uma grandeza sem dimensão (grandeza adimensional). Expoentes e argumentos de funções: os argumentos e expoentes de funções exponenciais, logarítmicas ou trigonométricas devem sempre ser adimensionais, ou seja, devem possuir representação dimensional unitária e não ter unidades. 1.2.2 Conversão de Unidades Para utilizar uma equação todas as suas parcelas devem possuir a mesma dimensão e devem estar expressas nas mesmas unidades. Na prática, em função dos diversos tipos de instrumentos utilizados (fabricação, princípio utilizado para a medição e calibração), é comum o recebimento de informações expressas em unidades não coerentes. Assim, para que estes valores possam ser utilizados em cálculos, suas unidades devem ser transformadas para um conjunto coerente, tornando possível satisfazer o conceito da consistência dimensional. Esta transformação é feita com a utilização dos chamados fatores de conversão. O fator de conversão é originado de uma razão entre duas grandezas que representam exatamente a mesma coisa, ele pode ser multiplicado em qualquer parcela de uma equação sem interferir no valor relativo entre estas parcelas. 1.2.3 Notação científica, algarismos significativos e precisão Uma maneira conveniente de representarem-se números é atravésda notação científica, na qual um número é expresso como um produto de outro número (usualmente entre 0,1 e 10) e a potência de 10. Exemplos: Os algarismos significativos de um número são os dígitos a partir do primeiro dígito não zero da esquerda até o último dígito (zero ou não zero) da direita se há um ponto decimal, ou o último dígito não zero se não há ponto decimal. Número Notação científica Algarismos significativos Ponto decimal Não tem Tem Não tem Tem EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Observe que o número de algarismos significativos é facilmente mostrado na notação científica. O número de algarismos significativos de uma medida fornece uma indicação da precisão com que a quantidade é conhecida. Um valor é mais preciso quanto maior seu número de algarismos significativos. Nas operações matemáticas, uma regra prática é a que segue: “Quando 2 ou mais quantidades são combinadas por multiplicação ou divisão, o número de algarismos significativos do resultado deve ser igual ao do menor número de algarismos significativos dentre as quantidades envolvidas”. ( ) ( ) ( ) ( ) Para a adição ou subtração: “Quando 2 ou mais números são adicionados ou subtraídos, a posição do último algarismo significativo de cada número deve ser comparada. Dessas posições, aquela mais à esquerda é a posição do último algarismo significativo permissível na soma”. 1.2.4 Sistemas de Unidades Os sistemas de unidades são conjuntos de unidades utilizados para representar as diversas grandezas de uma forma uniforme. Eles foram definidos a partir da necessidade de uma uniformização das formas de expressar as diversas grandezas que apareceu, principalmente, com o incremento do comércio na Europa da idade média. O início das tentativas de unificação datam de 1790, quando a França, recém saída da revolução, reconhece a necessidade do desenvolvimento de um sistema de unidades que facilitasse as relações comerciais. A Inglaterra foi procurada, mas como já tinha um sistema em uso na ilha em suas colônias, não participou com interesse da iniciativa francesa. No ano de 1960, ocorreu uma conferência internacional que definiu o Sistema Internacional (Le Système Internationale d’Unités e informalmente chamado de SI), que mesmo hoje ainda convive, dentro dos processos químicos, com sistemas de origem inglesa, principalmente o americano de engenharia (AE). Na resolução dos problemas serão utilizados os dois sistemas de unidades mais comumente empregados. Um sistema de unidades pode ser dividido em três subconjuntos: Unidades básicas: são as unidades das dimensões básicas, que não são necessariamente as mesmas nos diversos sistemas. Unidades suplementares: são as unidades utilizadas para expressar ângulos no plano e no espaço. Unidades derivadas: são obtidas a partir de relações envolvendo as unidades básicas. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Em alguns sistemas, algumas unidades derivadas possuem unidades equivalentes, ou seja, unidades que representam, de forma resumida, as unidades derivadas. Os sistemas são divididos em: • Sistemas Absolutos: nos sistemas absolutos as unidades de força são derivadas das unidades básicas. Os mais comuns são o CGS, o absoluto inglês e o SI. • Sistemas Gravitacionais: nestes sistemas, a dimensão de força e a sua unidade são consideradas básicas. Os mais comuns são o britânico de engenharia e o americano de engenharia. O sistema CGS foi durante muito tempo o mais utilizado nos trabalhos científicos. O americano de engenharia é muito utilizado na indústria química, e particularmente na de petróleo, nos Estados Unidos. Assim, mesmo com a definição do Sistema Internacional como o sistema universal, ainda são empregados muitos dados e informações provenientes dos processos expressos em outros sistemas de unidades. O SI tem algumas vantagens sobre o sistema AE no que diz respeito à menor quantidade de nomes associados às unidades e à maior facilidade de conversão de um conjunto de unidades para outro. A seguinte tabela apresenta as unidades das dimensões mais utilizadas nos cálculos envolvendo os processos químicos e bioquímicos, nos três sistemas mais comuns. Sistemas SI CGS AE Comprimento , - Tempo , - Massa , - Temperatura , - ou ou ou Força Quantidade molar Os sistemas decimais, como o SI e o CGS, têm a vantagem de trabalhar com múltiplos e divisões decimais (exceção para as unidades de tempo), fato que não ocorre com os sistemas inglês e americano. Outra característica importante, típica dos sistemas gravitacionais, é a utilização da força como dimensão básica. Desta forma, no Sistema Americano de Engenharia a libra-força é uma unidade básica. Ao acrescentar unidades aos números que não são adimensionais, são obtidos os seguintes benefícios práticos: redução da chance de cometer erros nos cálculos; redução do volume de cálculos e do tempo gasto na resolução dos problemas; abordagem lógica do problema, ao invés da mera lembrança de fórmulas e de substituição de números nas mesmas; fácil interpretação do significado físico dos números utilizados. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 1.2.5 Validação da solução de problemas Validação, também chamada de verificação, tem por objetivo verificar se a solução do problema é satisfatória e possivelmente avaliar o procedimento de resolução do problema. Uma possibilidade é comparar a resposta obtida com outra conhecida, como é o caso de vários problemas onde as respostas são fornecidas. Como em várias situações isto não é possível algumas sugestões podem ser úteis. Repita os cálculos, possivelmente em uma ordem diferente. Comece com a resposta e execute os cálculos em ordem inversa. Revise as suas hipóteses e procedimentos. Compare valores numéricos com dados experimentais ou dados existentes em uma base de dados (manuais, internet, livros ....). Examine o comportamento do procedimento de resolução. Use outros valores de partida e verifique se os resultados mudam adequadamente. Avalie se a resposta está razoável a partir do que você conhece sobre o problema. 1.3 Atividades Examinar os exemplos: o Himmelblau & Riggs (2.1 até 2.7) o Sikdar (1.1 até 1.16) o Felder & Rousseau (2.2.1, 2.3.1, 2.4.1). Exercícios: o Himmelblau & Riggs (2.2.3, 2.2.9, 2.3.3, 2.3.7 e 2.4.4) o Felder & Rousseau (2.2, 2.8 e 2.26). Material de apoio: tabela com os fatores de conversão (Felder & Rousseau). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 2 Variáveis de Processo Para projetar, supervisionar ou modificar um processo, precisa-se conhecer as quantidades, composições e condições dos materiais que entram e saem da unidade. Neste item são apresentados os principais parâmetros utilizados para descrever as condições operacionais das correntes de processo, principalmente objetivando a realização de balanços de massa. Propriedades são características que definem o comportamento da corrente em repouso e em movimento. As propriedades podem ser intensivas (Temperatura,Pressão, Densidade), independentes da massa do sistema, ou extensivas, dependentes do tamanho do sistema. Uma propriedade especifica é uma propriedade extensiva por unidade de massa. 2.1 Densidade A densidade ( ) de um material é definida como a relação entre a sua massa e o volume por ela ocupado, ⁄ , as unidades da densidade são quilogramas por metro cúbico ( ⁄ ). No entanto, é bastante comum expressar a densidade em ( ⁄ ). Por exemplo, a densidade da água: ⁄ ⁄ ⁄ A densidade de gases é função da pressão ( ) e da temperatura ( ). Líquidos e sólidos têm variando também com e , mas esta variação é bem menos importante do que a observada nos gases. Na prática, para líquidos e sólidos pode-se considerar que a densidade somente varia com a temperatura, ou seja, estes estados podem ser considerados incompressíveis. Em misturas, a densidade varia com , e a composição. A relação entre a densidade e a , a e a composição será estudada em outras disciplinas no decorrer do seu curso. Para gases que se comportam como gases ideais um exemplo desta relação é: ( ) ( )⁄ , onde a massa molar da substância e a constante universal dos gases. As equações que representam esta relação são conhecidas como equações de estado. Densidade de sólidos e líquidos pura é relativamente independente da temperatura e da pressão e pode ser encontrada em referências padrões. 2.1.1 Volume Específico Outra grandeza bastante utilizada para gases é o volume específico que é definido pela relação entre o volume ocupado por uma unidade de massa, é o inverso da densidade. A densidade e/ou o volume específico podem ser usados como fatores de conversão para relacionar a massa com o volume. Exemplo: A densidade ( ) do tetracloreto de carbono é ⁄ . A massa de de é, portanto, EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos e o volume de de é 2.1.2 Densidade relativa A densidade relativa se define como a razão entre duas densidades. A densidade da substância de interesse dividida pela densidade da substância de referência. Logo, a densidade relativa é uma grandeza adimensional, ou seja, uma quantidade que não tem unidades. A substância de referência para líquidos e sólidos é normalmente a água. Logo, a densidade relativa é a razão entre a densidade da substância em questão e a densidade da água a , cujo valor é ⁄ ou ⁄ . Exemplo: Se a densidade relativa de uma solução com de glicerol é qual é sua densidade em ⁄ e ⁄ . ⁄ ⁄ ⁄ ⁄ Há outras formas de se representar a densidade, que são originadas em procedimentos de medições tradicionalmente utilizados em setores específicos da indústria química. Um exemplo clássico é o grau API ( ), muito utilizado na indústria do petróleo. Outros exemplos são o grau Baumè ( ) e o grau Twaddell ( ). Essas formas prática de expressar a densidade estão relacionadas diretamente com a densidade relativa através de relações específicas. Um exemplo destas relações é: onde a referência para a densidade relativa é a densidade da água a ( ). Relações análogas para os outros graus, suas definições e fatores de conversão são dados no Perry’s Chemical Engineers Handbook. 2.1.3 Vazão Processos contínuos envolvem a movimentação de matéria de um ponto para outro do processo. A vazão é taxa na qual esta matéria é transportada através de uma linha de processo. A vazão pode ser expressa como vazão mássica ( ̇ ⁄ ), vazão volumétrica ( ⁄ ) ou vazão molar ( ̇ ⁄ ). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 2.2 Pressão Seja um fluido escoando no interior de uma tubulação. A sua pressão em um determinado ponto pode ser medida através da abertura de um orifício na parede do tubo, por exemplo, um pequeno tubo lateral. Para que não haja vazamento por este tubo devemos exercer uma determinada força em um dispositivo que obstrua esta abertura. Esta força é equilibrada pela força que o fluido que está escoando exerce pelo lado de dentro. Assim, a pressão do fluido em escoamento é dada pela razão entre esta força e a área da seção reta deste tubo lateral. No sistema internacional a pressão é dada por ⁄ que recebe o nome de pascal ( ). Na prática a medição de pressão é feita através de um procedimento análogo. Somente, como é difícil uma medição direta da força exercida, são utilizados dispositivos (manômetros) que determinam a pressão através de medições indiretas, ou seja, de outros parâmetros que estão relacionados com a pressão. 2.2.1 Pressão Atmosférica Algumas unidades tem origem na pressão exercida pela atmosfera sobre os corpos chamada pressão atmosférica ou pressão barométrica, a qual pode ser visualizada como a pressão exercida pela coluna de ar atmosférico sobre uma superfície. Valor padrão ao nível do ar: 2.2.2 Formas de expressar a pressão A pressão registrada por um instrumento de pressão pode ser relativa ou absoluta, dependendo da natureza do instrumento utilizado na medição. As pressões absolutas ( ) são medidas em relação ao vácuo absoluto, para o qual: . Um manômetro com a extremidade aberta mediria a pressão relativa ou manométrica ( ), já que a referencia para o manômetro será a pressão atmosférica naquela extremidade aberta. A relação entre a pressão relativa e a pressão absoluta é: Exemplo numa panela de pressão com pressão relativa em Floripa, como a atmosfera padrão é , então a pressão absoluta na panela é: Se , então . Quando , então , e diz-se que há vácuo no local onde a pressão esta sendo medida. Nos cálculos, a pressão deve sempre ser expressa no referencial absoluto ( ). Porém, quando a grandeza envolve diferencial de pressão não há necessidade de se utilizar pressões absolutas, pois o tamanho das unidades é o mesmo: EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos No Sistema Americano de Engenharia é comum a indicação na representação da unidade de pressão do seu referencial. Assim, tem-se: ( ) ( ) onde, é a unidade de pressão absoluta e é a unidade de pressão relativa. 2.2.3 Variação da pressão com a profundidade Seja uma quantidade de fluido (densidade ) no interior de um recipiente cilíndrico. A força que este fluido exerce sobre o fundo deste recipiente pode ser determinada pela soma da força que a atmosfera exerce sobre a sua superfície e o peso do fluido no interior do recipiente, . Esta conta pode ser efetuada dividindo-se todas as parcelas pela área da seção do recipiente, ou seja, em termos de pressão: Na expressão final não aparece na fórmula, indicando que o diâmetro do tanque, e consequentemente a massa no seu interior, não tem influência direta na pressão exercida no fundo do tanque. O parâmetro determinante é a altura do líquido no interior do tanque. Isso justifica a utilização de alturas de colunas de líquidos como medições, ou mesmounidades, de pressão. O físico italiano Evangelista Torricelli realizou uma experiência para determinar a pressão atmosférica ao nível do mar. Ele usou um tubo de aproximadamente de comprimento, cheio de mercúrio e com a extremidade tampada. Depois, colocou o tubo, em pé e com a boca tampada para baixo, dentro de um recipiente que também continha mercúrio. Torricelli observou que, após destampar o tubo, o nível do mercúrio desceu e estabilizou-se na posição correspondente a , restando o vácuo na parte vazia do tubo. A densidade do Mercúrio é ( ⁄ ) e aceleração da gravidade da Terra ao nível do mar ⁄ , então: Portanto equivale no Sistema Internacional a . Qual a altura de uma coluna de água a que exerce uma pressão de ? Isto significa que o peso da imensa “coluna” de ar que paira sobre nossas cabeças exerce a mesma pressão que de coluna de água ( ) 2.3 Temperatura A temperatura de uma substância ( ) em um dado estado de agregação (sólido, líquido ou gás) é uma medida da energia cinética média possuída pelas moléculas da substância. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Como esta energia não pode ser medida diretamente, a temperatura precisa ser determinada indiretamente pela medida de alguma propriedade física da substância, cujo valor depende da temperatura de uma forma conhecida. Tais propriedades e os aparelhos para medida de uma temperatura, nela baseados, incluem resistência elétrica de um condutor (termômetro de resistência), voltagem na junção de dois metais diferentes (termopar), espectro de radiação emitida (pirômetro) e volume de uma massa fixa de um fluido (termômetro). 2.3.1 Escalas de temperatura Em uma mudança espontânea, o calor (energia) sempre se transfere de um corpo de elevada temperatura para outro com uma temperatura inferior, até que se alcance o equilíbrio térmico (ou seja, até que as temperaturas se igualem). Para construir uma escala de temperatura é necessário empregar alguns pontos de referência reproduzíveis, os quais normalmente são os pontos de fusão e de ebulição de substâncias puras, assim como alguma propriedade facilmente medida de uma substância que varie de uma maneira uniforme, de acordo com as variações de temperatura. As escalas onde os zeros são arbitrados são chamadas relativas, Celsius ( ) e Fahrenheit ( ). Nas escalas absolutas o zero é a temperatura mais baixa que existe (zero absoluto), caracterizado pela ausência de movimentação das moléculas que formam a substância, Kelvin ( ) e Rankine ( ). Tabela: Pontos de fusão e ebulição da água pura na pressão atmosférica Escala Símbolo Ponto de fusão Ponto de ebulição Celsius Farenheit A seguinte equação é usada para obter conversões de temperatura: ( ) Nas escalas relativas o valor numérico ligado a uma temperatura em particular parece algo arbitrário. No zero absoluto cessa todo movimento molecular e a energia cinética da molécula passa a ser zero. Com as seguintes equações é possível fazer a conversão entre as escalas absolutas e relativas: e As expressões acima são utilizadas para transformar leituras de temperaturas de uma escala para outra. Muitas vezes, porém, estamos interessados em transformar diferenças de temperatura, que não mais dependem dos referenciais utilizados nas escolas. Dessa forma, os valores dos diferenciais de temperaturas somente dependem do tamanho do grau e estão relacionados pelas expressões: EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 2.3.2 Unidades derivadas relacionadas com a temperatura Muitas unidades compostas contêm unidades de temperatura. Por exemplo, no calor específico, e necessária uma quantidade de energia ( ) para elevar em a temperatura de de material, então a unidade do calor específico água é ( )⁄ , o que aparece no denominador na realidade significa um (diferença unitária de temperaturas – a unidade é então: joules por quilo por diferença unitária de graus Celsius) e a sua passagem para outra escala é feita pelos fatores de conversão das unidades de grau. Exemplo: A condutividade térmica do alumínio ( ) é igual a ( ( ⁄ ))⁄ . Encontre o valor equivalente à nas unidades: ( ( ⁄ ))⁄ . Solução: , assim não há necessidade de correção em relação à variação de temperatura. Desta forma, o problema se resume a uma simples correção de unidades: ( ⁄ ) ( ⁄ ) Exemplo: A variação com a temperatura do calor específico , ( )⁄ - do pode ser representada pela equação: onde , -. Modifique a equação de modo que a expressão resultante forneça o nas unidades de ( )⁄ , com , - Solução: [ ] [ ] [ ] [ ] [ ] , - ( ) [ ] [ ] [ ] , - 2.4 Atividades Examinar os exemplos: o Himmelblau & Riggs (2.17, 2.21 até 2.25) o Felder & Rousseau (3.1.1, 3.1.2, 3.4.1, 3.4.2, 3.4.3, 3.5.1, 3.5.2, 3.5.3). Exercícios: o Himmelblau & Riggs (2.8.2, 2.10.1 e 2.11.9) o Felder & Rousseau (3.4, 3.32 e 3.48). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 3 Estequiometria Existem certos princípios fundamentais subjacentes a todas as operações unitárias e processos unitários. Estes podem ser classificados em quatro grupos. Eles são os balanços de materiais e de energia e as leis de equilíbrio e os processos de taxa. As operações unitárias principalmente lidam com a transferência e mudança de energia e a transferência e mudança de matérias por meio físico ou em alguns casos, por meio físico-químicos. O estudo dos balanços de materiais e de energia nestas operações, e o domínio de certos princípios e técnicas, é muito importante para a formação do engenheiro químico e sua vida profissional. Estequiometria em engenharia química não é apenas a aplicação das leis de combinação de proporções de elementos ou de compostos envolvidos nas reações químicas tem um significado mais amplo. A filosofia básica de cálculos de processo é ajudar ao estudante na análise dos processos por meio de cálculos e desenvolver suas habilidades de resolução de problemas sistemáticos. Através destes cálculos o estudante fica equipado com informações e habilidades fundamentais que são repetidamente empregadas em disciplinas subsequentes e na vida profissional. Embora a teoria subjacente à solução destes problemas esta bem definida e é inquestionável, a solução não pode ser alcançada por aplicação de apenas algumas equações teóricas ou semiempíricas. A aplicação destes princípios para a solução de problemas estequiométricos é uma arte, e como toda arte, a seu domínio requer prática. 3.1 Molécula–grama (mol) Neste item, antes de apresentar cálculos envolvendo a molécula-grama, são recordados alguns conceitos importantes: Massa atômica:é a massa de um átomo expressa em unidades de massa atômica ( ). Nesta unidade o 12 tem massa atômica exatamente igual a . Seu valor está tabelado para os diversos átomos. Átomo–grama: é a massa atômica de um elemento expressa em gramas, contém um número de átomos igual ao número de Avogadro ( átomos). Massa Molecular ( ): expressa em unidades de massa atômica, é igual à soma das massas atômicas dos átomos que formam a molécula. Molécula–grama ( ): quantidade de substância cuja massa, medida em gramas, é igual a sua massa molecular. Um mol de qualquer substância contém moléculas. Como há outras formas de se referir à unidade mol, para evitar confusão o muitas vezes é chamado de grama-mol ( ). Outras unidades muito utilizadas são o , correspondente a , e o , nos sistemas que utilizam a libra como unidade de massa. Note que contém moléculas e, consequentemente tem uma massa vezes maior do que o . Analogamente, tem uma massa vezes maior do que um (lembre-se que ). Assim, os fatores de conversão entre as unidades envolvendo o são os mesmos dos análogos envolvendo unidades de massa. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Outro fato importante, que deve estar claro para você é que, tomando, por exemplo, o monóxido de carbono ( - massa molecular igual a ), tem-se pela definição de mol: Vê-se então que, se a massa molecular de uma substância é , existem , , desta substância. Esta forma de representar a massa molecular é muito conveniente nos cálculos envolvendo parâmetros de processo e facilita a operação com as unidades. Assim, a partir de agora, usares unidades da forma para as massas moleculares. A massa molecular pode ser usada como fator de conversão, que relaciona massa e número de moles ( ): ⁄ De forma análoga, a massa molecular é utilizada para transformar vazões molares em mássicas e vice-versa. Exemplo: Seja a amônia ( ), que possui massa molecular igual a . Quantos moles de amônia há em da substância? Qual a massa de de amônia? Exemplo: Sejam de ( ). Pergunta-se: Qual o número de moles de nesta massa? Qual o número de libra-moles de nesta massa? Qual o número de moles de carbono nesta massa? (Note que o termo átomo-grama não é normalmente utilizado) EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Qual o número de moles de átomos de oxigênio nessa massa? Qual o número de moles de na massa? Quantas gramas de O há na massa? Quantas gramas de há na massa? Quantas moléculas de há na massa? Exemplo: A vazão mássica de em uma tubulação é igual a ( ). Qual é então a vazão molar? Solução: 3.2 Caracterização de Misturas As correntes de processo contêm, geralmente, mais de uma substância (mais de um componente ou espécie química: ). Quando isto ocorre elas são chamadas de multicomponentes ou multicompostas. Nesse caso, na caracterização da corrente, além da informação de que espécies estão presentes, há a necessidade de se informar a quantidade em que cada uma está presente. Este tipo de informação poder ser fornecido em termos absolutos, através das chamadas concentrações, ou em termos relativos através das chamadas frações. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Neste item são apresentadas as formas de representar a quantidade de cada substância em mistura, como também são relembradas as formas de relacionar estas representações. 3.2.1 Frações e Porcentagens São três as frações normalmente utilizadas: Fração Molar: a fração molar de um componente de uma mistura é definida na forma ⁄ onde é o número total de moles na mistura ( ) e o número de moles da substância . Fração Mássica ou Ponderal: ⁄ com Fração Volumétrica: ⁄ com Note que em função da definição das frações, o seu somatório em relação a todos os componentes de uma mistura é igual a um. Assim, em uma mistura com componentes, tem- se para as frações molares, mássicas e volumétricas: ∑ ∑ ∑ As frações podem ser apresentadas na forma de porcentagens: Exemplo: Uma solução qualquer contém de , em massa, e em base molar de . Qual é a massa de em de solução? Qual é a vazão mássica de em uma corrente da solução que escoa com uma vazão de ⁄ ? ̇ ̇ Vazão molar de B em uma corrente escoando com vazão total igual a . ̇ ̇ Vazão molar da solução quando ̇ ⁄ ̇ ̇ A massa da solução que contém de . EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 3.2.2 Massa Molecular Média O conceito de massa molecular pode ser estendido para misturas, definindo-se o que se chama massa molecular média da mistura: ̅ ∑ ∑ ∑ Este parâmetro tem o mesmo significado ao se trabalhar com misturas do que a massa molecular tem ao se lidar com substâncias puras. ̅ ∑ ∑ ∑ Exemplo: Uma mistura de gases tem a seguinte composição mássica: Composto % a) Determine a composição desta mistura em termos das frações molares? b) Determine a massa molecular média ( ̅) da mistura? c) Qual é a fração volumétrica do monóxido de carbono na mistura? Solução: 1) Para facilitar os cálculos que permitem a passagem de frações mássicas para molares, definisse uma base de cálculo, ou seja, uma massa qualquer da mistura na qual os cálculos são efetuados. Por conveniência serão utilizados da mistura como base de cálculo. Os resultados dos cálculosem sequência são mostrados na tabela % , - , ⁄ - ⁄ , - 16 32 0,5 0,152 4 28 0,143 0,044 17 44 0,386 0,188 63 28 2,25 0,668 ∑ 2) Aproveitando os resultados, a massa molecular média da mistura é: ̅ ∑ EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 3) Em misturas gasosas, as frações molares são iguais as frações volumétricas. Assim a fração volumétrica do é igual a 0,044. 3.2.3 Concentrações As concentrações são parâmetros também utilizados na definição da composição de misturas multicomponentes. De forma distinta das frações, as concentrações são parâmetros dimensionais. De uma forma geral elas representam quantidade de um componente por quantidade fixa de solvente ou de solução em uma mistura. Concentração Mássica: 0 1 [ ] Concentração Molar: A concentração molar em ⁄ (grama-mol de soluto por litro de solução) é chamada de molaridade. Assim, uma solução molar de é uma solução com Molalidade: é uma forma de expressar a concentração que usa, em conjunto, informações mássicas e molares. Por definição, ela representa o número de moles do soluto existente em do solvente. [ ] É importante notar que a molalidade é uma forma de expressar a concentração muito pouco utilizada em cálculos da engenharia de processos. Partes por milhão ( ): representa 1 parte em massa do soluto em 1 milhão de partes da solução, em massa. É usado para representar concentrações em soluções muito diluídas. Exemplo: Uma solução aquosa de com concentração molar escoa em um processo com uma vazão de ⁄ . A densidade relativa da solução é . Calcular a concentração mássica de em ⁄ A vazão mássica de em ⁄ A fração mássica de . EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos A base de cálculo é a quantidade específica duma das correntes de material com base na qual os cálculos são executados; se a composição é dada independentemente de um componente é livre do componente, se esse componente é água esta dada em base seca. Um material é úmido, se a água é um dos seus componentes (base úmida). Exemplo: Na fabricação de um produto com massa molar de , a corrente de saída de um reator flui a uma vazão de ⁄ . Esta corrente contém e . A porcentagem mássica de é de e a densidade relativa da solução é de . Calcule a concentração de em ⁄ nesta corrente e a vazão molar de , em ⁄ . Calcule a concentração de em ⁄ na a corrente de saída e a vazão molar de , em ⁄ . Base: 1 kg de solução Concentração de em ⁄ na a corrente de saída. A vazão molar de , em ⁄ . ̇ 3.3 Atividades Examinar os exemplos: o Himmelblau & Riggs (2.18, 2.19, 2.20) o Sikdar (2.1 até 2.28). Exercícios: o Himmelblau & Riggs (2.6.3, 2.7.1, 2.9.12). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 4 Balanços de massa Os cálculos de balanço de massa são uma parte essencial da solução de muitos problemas complexos de engenharia química. O balanço de massa auxilia no planejamento e desenho de processos, na avaliação econômica dos processos propostos e existentes, controle de processos, e na otimização de processos. 4.1 Definições básicas Sistema é uma porção de um processo ou universo selecionada para análises. Um sistema é classificado em função da ocorrência de transferência de massa e energia através de sua fronteira em: Aberto: há transferência de material através da fronteira do sistema; Fechado: não há transferência de material através das fronteiras do sistema, durante o intervalo de tempo de interesse. Isolado: sem transferência de material e energia. Analogamente, a operação de um processo pode ser classificada como: Operação em batelada: massa não cruza as fronteiras do processo durante o tempo da batelada. O sistema é alimentado e os produtos são retirados de uma só vez, no início e ao final do tempo de processo, respectivamente. Assim, o processo ao longo da batelada se comporta como um sistema fechado. Normalmente, esta estratégia de operação é usada para produzir pequenas quantidades de especialidades químicas, produtos sazonais ou feitos por encomenda; Operação contínua: há, continuamente, a passagem de massa através das fronteiras do processo através das correntes de entrada e de saída. Desta forma o processo se comporta como um sistema aberto. Esta operação é característica de grandes volumes de produção, como ocorre, por exemplo, no refino do petróleo e na indústria petroquímica; Operação semi-batelada ou semi-contínua: qualquer processo que não é operado nem em batelada e nem contínuo. Um exemplo deste tipo de processo é aquele onde uma massa de líquido é alimentada em um reator e gás é borbulhado durante certo tempo através do líquido. Ao final, a passagem de gás é interrompida e o líquido retirado do reator. Um processo que opera desta forma é o de cloração de benzeno. A operação de um processo também pode ser classificada conforme o comportamento das variáveis ao longo do tempo: Operação em regime estacionário: os valores das variáveis de processo ( , , vazões, concentrações, etc.) não variam com o tempo em qualquer posição fixa; Operação em regime transiente: os valores das variáveis variam com o tempo em alguma posição fixa do processo. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos O processo em batelada tem uma natureza tipicamente transiente, enquanto os processos contínuos operaram normalmente em regime estacionário. 4.2 A Lei da Conservação das Massas A Lei da Conservação das Massas foi publicada pela primeira vez 1760, em um ensaio do químico russo Mikhail Lomonosov. No entanto, sua obra não teve repercussão na Europa Ocidental, cabendo ao francês Antoine Laurent Lavoisier o papel de tornar mundialmente conhecido o que hoje se chama Lei de Lavoisier. Por volta de 1774, o químico francês realizava experiências sobre a combustão e a calcinação de substâncias. Com o objetivo de utilizar métodos quantitativos, Lavoisier empregava a balança como um de seus principais instrumentos para acompanhar as atividades experimentais. Observou que, das reações de calcinação de metais expostos ao ar, sempre resultavam óxidos cujo peso era maior que o do metal de partida. Ao contrário, na combustão de um pedaço de carvão exposto ao ar, a massa restante ao final do processo era sempre menor que a massa inicial. Depois que adquiriu informações sobre as característicasdo gás que ativava a queima de outras substâncias (que mais tarde foi denominado pelo próprio Lavoisier como oxigênio, que quer dizer gerador de ácidos), passou a fazer experiências com o mesmo e acabou por deduzir que a combustão e a calcinação nada mais eram que o resultado da reação de combinação desse gás com as outras substâncias. Através dos resultados dos experimentos realizados em sistemas fechados, onde as massas de reagentes e produtos gasosos poderiam ser medidas com precisão, concluiu que as variações de massa observadas quando as reações eram realizadas em sistemas abertos, correspondia à massa da substância inicialmente empregada, mais a massa do gás a ela incorporada ou perdida através da reação. Através de seus trabalhos, pôde enunciar uma lei que ficou conhecida como Lei da Conservação das Massas ou Lei de Lavoisier: “Numa reação química que ocorre em sistema fechado, a massa total antes da reação é igual à massa total após a reação”. Ou ainda, numa reação química a massa se conserva porque não ocorrem criação nem destruição de átomos. Os átomos são conservados; eles apenas se rearranjam. Os agregados atômicos dos reagentes são desfeitos e novos agregados atômicos são formados. Filosoficamente falando: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Atualmente sabemos que a Lei de Lavoisier como inicialmente foi proposta só não se aplica em seu enunciado original às Reações Nucleares, onde a energia envolvida é proveniente da transformação significativa de matéria em energia. Uma reação nuclear geralmente envolve transmutação nuclear, na qual, além da mudança nas naturezas dos núcleos dos átomos participantes, a massa inicial dos núcleos reagentes é maior que a massa final de núcleos produzidos no processo, ocorrendo o fenômeno conhecido como “perda de massa”. Esta EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos massa perdida é transformada em energia, que pode ser calculada pela famosa equação de Einstein, , onde é a energia liberada no processo, é a massa perdida no processo, e é a velocidade da luz no vácuo, aproximadamente igual a . Como a energia global é sempre mantida (obedecendo a Primeira Lei da Termodinâmica), nas reações nucleares há conservação da (energia + massa) de reagentes e produtos, ao invés de somente a massa prevista pela Lei de Lavoisier para as reações químicas. Isto se explica facilmente, pois mesmo as reações químicas com os maiores desprendimentos de energia conhecidas, são apenas fração insignificante das energias envolvidas numa reação nuclear! Por exemplo, em um processo nuclear com perda de massa de e total transformação em seu equivalente em energia. Aplicando a fórmula de Einstein: , só a título de comparação, na formação de de água líquida através da reação entre hidrogênio e oxigênio gasosos há o desprendimento de aproximadamente . 4.3 Equação geral do balanço De uma forma geral, um sistema aberto pode ser representado pelo esquema a seguir: O balanço, ou inventário, de qualquer grandeza em relação à fronteira definida é dado por: * + * + * + * + * + onde, * + quantidade da grandeza acumulada no interior do sistema, * + quantidade da grandeza que entra através da fronteira do sistema, * + quantidade da grandeza que sai através da fronteira do sistema, * + quantidade da grandeza gerada no interior do sistema, * + quantidade da grandeza consumida no interior do sistema. Uma forma alternativa de representar o balanço une em uma única parcela os termos ligados à geração e ao consumo. A equação geral do balanço é então escrita na forma: * + * + * + * + onde agora o termo * + representa a quantidade da grandeza gerada no interior do sistema, agora admitindo valor negativo quando houver consumo. O conceito de balanço é aplicado no dia a dia, por exemplo, numa conta corrente ou conta de poupança em um banco a grandeza envolvida é o dinheiro. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Nos balanços de massa a grandeza envolvida está relacionada com a quantidade de matéria. Os balanços de massa podem ser efetuados em termos globais ou por componente. Quando baseados nos componentes eles podem ser representados em termos de substâncias (moléculas) ou de átomos. Note que os termos que representam a geração ou o consumo de massa no interior do sistema são, por definição, nulos quando se trabalha em termos globais. Na ausência de reações nucleares, estes termos também são nulos em balanços atômicos. Seja o processo representado a seguir, onde há uma corrente de entrada e uma de saída, e três componentes: Sendo a vazão total (global) da corrente de entrada e a da corrente de saída, as respectivas composições são representadas pelas frações correspondentes, , onde o índice varia de 1 a 3 identificando os componentes (por uma obrigação de compatibilidade, se as vazões são informadas em termos mássicos as frações devem ser mássicas ou se as vazões forem molares as frações também têm que ser molares). Para este processo, pode-se escrever: Balanço de Massa Global: * + ̇ ̇ * + Balanço de Massa por Componente: Componente : * + ̇ ̇ * + Componente : * + ̇ ̇ * + Componente : * + ̇ ̇ * + O termo que representa a geração na equação global * + é nulo quando se trabalha em termos mássicos (massa não é gerada) e pode ser diferente de zero em termos molares quando há reação química no interior do processo. Convém ainda ressaltar que, nas equações dos balanços por componente, as vazões dos componentes ( ̇ ) estão relacionadas com as vazões totais através das relações: ̇ ̇ . Pode-se então escrever as equações dos balanços por componente, alternativamente, da seguinte forma: Componente : * + ̇ ̇ * + Componente : * + ̇ ̇ * + Componente : * + ̇ ̇ * + Além das equações que representam o balanço de massa, em função da definição das frações que representam a composição de cada corrente, há duas restrições implícitas: ∑ ∑ EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Cabe também ressaltar que o somatório das gerações e dos acúmulos computados em relação a cada componente (* + e * +), é igual ao valor global correspondente: * + ∑* + * + ∑* + Em sistemas sem reações químicas os termos ligados à geração são identicamente nulos. Por outro lado, em operações em regime estacionário os termos ligados aos acúmulos são nulos, por definição. Assim, não havendo reação química e considerando operação em regime estacionário, tem-se: Balanço de Massa Global: ̇ ̇ Balanço de Massa por Componente: Componente : ̇ ̇ Componente : ̇ ̇ Componente : ̇ ̇ Restrições de Composição: ∑ ∑ Note então que, nesse problema, com componentes e correntes, sem reação e em regime estacionário, são obtidas equações: BM global, BM por componente e Restrições de Composição. Gerando um modelo matemático do processo constituído por um sistema de equações algébricas. A solução deste modelo, que estabelece relações entre diversas variáveis, permite a determinação de variáveis antes não especificadas. Desta forma é possível completar o conhecimento do conjunto de parâmetros que descrevem a operação do processo e são pertinentes paraavaliações econômicas, análise de controle, cálculos de otimização, etc. 4.4 Análise do Grau de Liberdade em Sistemas de Equações Neste ponto é interessante relembrar que para resolver um sistema de equações é necessário efetuar uma análise da relação entre as quantidades disponíveis de variáveis ( ) e de equações independentes ( ). Esta análise pode ser feita através do grau de liberdade do sistema ( ), definido da seguinte forma: De acordo com o valor do grau de liberdade, tem-se: Solução única Solução indeterminada Solução impossível EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos A seguir são apresentados alguns exemplos para uma melhor visualização do conceito de grau de liberdade. Exemplo 1: Sistema de equações: { Havendo um grau de liberdade, o sistema tem infinitas soluções localizadas sobre a reta, definida pela equação independente do sistema. Note que nesse caso, o problema terá solução única se uma das duas variáveis ( ou ) for especificada. Assim, para , da equação , temos que . Observe que, ao especificar o valor de um número de variáveis igual ao grau de liberdade do sistema, o conjunto de equações passa a ter solução única. Exemplo 2: Sistema de equações: { EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos O sistema não tem solução possível, ou seja, há a especificação de um número excessivo de variáveis. Exemplo 3: Sistema de equações: { Solução única para e . Voltando ao exemplo do balanço de massa, note que a combinação das equações dos balanços por componente com as restrições de composição das correntes leva à equação do balanço de massa global. Desta forma, no conjunto de equações que forma o modelo matemático do problema há uma equação dependente, ou seja, o número de equações independentes é igual ao número de equações menos um. Assim, temos neste modelo equações independentes, ou seja: . Em relação ao número de variáveis envolvidas, tem-se: ( ) ou seja, devemos especificar, pelo menos, três variáveis para que o problema seja bem formulado. O estudo dos Balanços de Massa neste Curso será efetuado através da solução comentada de exemplos ilustrativos. Os novos conceitos que aparecem nestes exemplos são apresentados de forma destacada, antes da discussão do exemplo. 4.5 Procedimento para a Solução de Problemas Envolvendo Balanços de Massa Antes de partirmos para o nosso estudo de balanços de massa, apresentamos uma sequência de etapas que devem ser cumpridas na solução de problemas. Na realidade, esta sequência serve para orientar a resolução de problemas envolvendo balanços, principalmente para EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos alunos iniciantes nesta arte. Cabe ressaltar que ela não representa uma receita que deva ser seguida eternamente e de forma imutável, pois certamente, com o passar do tempo e aumento do número de exercícios resolvidos, você acabará desenvolvendo a sua forma de resolver estes problemas. 1. Definir o processo e consequentemente as fronteiras nas quais o balanço será efetuado (recomendação leitura cuidadosa do problema): Construção do fluxograma: diagrama do fluxo de massa; Rotular vazões e composições, identificando assim as variáveis pertinentes; 2. Verificar valores conhecidos e desconhecidos: colocar no fluxograma definir a base de representação das vazões e composições (mássicas ou molares) e unificar as unidades nas quais estão representadas as variáveis conhecidas; 3. Selecionar base de cálculo geralmente, próprio dado do problema. 4. Fazer os balanços convenientes, escrevendo as equações correspondentes: equações do modelo. Lembre que ao fazer cálculos o conjunto de equações deve conter somente equações independentes 5. Solucionar o problema 4.5.1 Fluxogramas A resolução de um problema complexo pode ser simplificada ao recorrer à sua representação esquemática. Este procedimento é muito frequente em programação computacional onde, antes de colocar o problema em linguagem informática, se recorre à utilização de um fluxograma para obter uma visão mais global do problema e assim facilitar a sua resolução. O primeiro passo na resolução de um problema envolvendo balanços de massa deve ser então sua representação de uma forma mais sintética num fluxograma, que permite uma visão global e simples do processo. Os três principais tipos de fluxogramas de um processo são: Fluxogramas de blocos (block flow diagrams – BFD): fornecem uma visão geral de um processo, as operações unitárias ou processos unitários são representadas com blocos conectados por linhas retas correspondentes às correntes de fluxo do processo. Fluxograma do processo (process flow diagram – PFD): é uma representação esquemática que mostra as relações entre as fases e as necessidades básicas de cada etapa do processo. O fluxograma de processo (PFD) deve mostrar: as operações unitárias básicas, os equipamentos principais, o fluxo principal do projeto e os dados do projeto. Contém toda informação necessária para os balanços material e energético completos no processo. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Fluxogramas de tubulação e instrumentação (pipping and instrumentation diagram – P&ID): desenhos esquemáticos que mostram o arranjo funcional de todos os sistemas e equipamentos de processo e utilidades: equipamentos, instrumentos, tubulações, válvulas. São elaborados principalmente pelas equipes de tubulação e mecânica com supervisão da equipe de processos e complementados pela instrumentação e automação. Exemplo Num processo de produção de pasta de papel, obtém-se, após uma série de operações, uma pasta com 82% de humidade. Esta pasta “tal qual” é submetida à expressão (em prensas hidráulicas), de onde sai com uma humidade de 55%. Posteriormente é efetuada uma secagem que remove 78% da água ainda presente. O fluxograma correspondente é: 4.5.2 Base de cálculo De acordo com Himmelblau, antes de se iniciar a resolução de um problema devem ser colocadas três questões: 1) Quais os dados disponíveis? 2) Qual a resposta pretendida? 3) Qual a Base de Cálculo mais conveniente? As respostas às duas primeiras perguntas são obtidas através de uma leitura atenta do enunciado. Em relação à terceira questão, uma Base de Cálculo (BC) é uma quantidade de matéria (num determinado ponto do processo) ou um período de tempo, em relação aos quais se irão referir todos os cálculos a efetuar. A escolha adequada de uma BC simplifica, normalmente, a resolução do problema. Como o resultado de todos os cálculos vão estar referidos à BC escolhida, é fundamental que a sua indicação esteja bem explícita no início da resolução do problema. Frequentemente, uma boa BC é ditada pela composição de uma corrente. Assim, se a composição for dada em % mássica, a escolha de do total da corrente evita o cálculo preliminar da determinação da massa de cada um dos constituintes dessa corrente. Analogamente, se a composição da corrente for molar, deverá escolher-se moles. Por norma, sempre que nos referimos a uma correntesólida a composição indicada é mássica, sendo molar para uma corrente gasosa. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Exemplo ilustrativo 1 1000 / de uma mistura de benzeno e tolueno, que contém 50% de benzeno em massa, são separados por destilação em frações. A vazão mássica na corrente de topo contém 450 / de benzeno e na corrente de fundo há 475 / de tolueno. Calcule as vazões dos componentes, as vazões totais de cada corrente e as frações mássicas e molares dos componentes nas correntes. Solução: Restrição de composição na corrente Base de Cálculo: ⁄ na alimentação Equações: Balanço de Massa Global: ̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇ Balanço de Massa Benzeno: ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ̇ Balanço de Massa Tolueno: ̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ⁄ Restrições: Solução: ⁄ ̇ ̇ ⁄ ̇ ⁄ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄ ̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄ EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Verificação, utilizando o Balanço de Massa Global: ⁄ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄ Note que esse problema envolve poucas equações, sendo então possível resolvê-lo sequencialmente. Conhecidas as vazões totais e as vazões por componente em cada corrente é possível, a partir da definição de fração, a determinação das frações mássicas de cada componente ( ) em cada corrente. Lembrando então que: Frações de Benzeno: ̇ ̇ ⁄ ⁄ ̇ ̇ ⁄ ⁄ Definidas todas as informações na base mássica, pode-se fazer a mudança de base para a molar facilmente, desde que se defina uma quantidade de referência para os cálculos. Lembre- se que a composição de uma mistura não é função da quantidade total da mistura. Assim, essa quantidade de referência pode ser qualquer uma, podendo ser então escolhida de modo a facilitar as contas. Nas tabelas a seguir são mostradas as passagens da base mássica para a molar em todas as correntes. O valor de referência para os cálculos foi arbitrado igual à vazão total de cada corrente. 4.5.3 Componente Chave ou de Amarração Componente que aparece em um menor número de correntes. Em função desta característica, a equação do balanço de massa deste componente possui menos termos do que as equações EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos para os demais componentes. Este fato implica, em muitas vezes, no aparecimento de somente uma incógnita do problema na equação relativa ao componente chave, permitindo assim a sua imediata determinação. Exemplo ilustrativo 2 O processo de dessalinização de água salgada pode ser conduzido de diversas formas e pode ser utilizado com dois objetivos: produção de sal ( ) e produção de água dessalinizada para posterior utilização pela comunidade. A produção de sal ( ) a partir da água do mar envolve a concentração da água salgada até a sua saturação, quando inicia a precipitação do sal, que é então separado. Em função das características climáticas no Brasil, aqui este processo é conduzido utilizando energia solar como fonte de energia para o processo de evaporação da água do mar. O local onde ele é conduzido é chamado de salina, sendo praticamente uma atividade artesanal. A produção de água dessalinizada a partir da água do mar é comum nos países do Oriente Médio, onde os recursos hídricos são escassos e há grande disponibilidade de combustíveis fósseis. Com este objetivo, a água do mar é evaporada formando duas correntes: uma de água salgada (salmora), com uma concentração de sal acima da água do mar alimentada, que é retornada ao mar; e outra de vapor livre do sal, que é posteriormente condensado formando a corrente de água dessalinizada. Um esquema simplificado desse processo é mostrado na figura a seguir: Considere que a fração mássica de sal ( ) na água do mar seja igual a . Determine a quantidade de água do mar necessária para produzir ⁄ de água dessalinizada. Em função de problemas relacionados à corrosão dos equipamentos envolvidos no processo, a fração mássica na salmoura descartada está limitada a . Esquema, com as informações fornecidas: EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Balanço de Informações: Número de incógnitas: Equações independentes: balanços de massa por componente; Grau de liberdade na formulação: Solução: Balanço de massa (sal): ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ⁄ ̇ ̇ ⁄ ̇ ⁄ Observações: i) A equação restante do balanço de massa, não utilizada em função da dependência linear, pode ser empregada para verificar os resultados obtidos: ̇ ̇ ̇ ⁄ ⁄ ⁄ ⁄ ⁄ ii) Apesar da simplicidade destes resultados, eles representam o ponto de partida para o dimensionamento dos equipamentos do processo (evaporadores, condensadores, bombas, etc.) e das tubulações, e permitem ainda uma avaliação preliminar dos custos envolvidos no empreendimento. iii) Apesar de não ter sido especificado, o resultado está baseado na produção de ⁄ de água dessalinizada. Este dado é chamado de base de cálculo no procedimento de solução. Exemplo ilustrativo 3 Um experimento sobre a taxa de crescimento de certos micro-organismos requer que se estabeleça um ambiente de ar úmido enriquecido em oxigênio. Três correntes são alimentadas em um evaporador para produzir a corrente com a composição desejada. As três correntes de entrada são: i) Água líquida, alimentada na vazão de ⁄ ; ii) Ar ( de e de , em base molar); iii) Oxigênio puro, com vazão molar igual a ( ) da vazão do ar. A corrente de saída, no estado gasoso, apresenta de , em base molar. Calcule as vazões de ar, de oxigênio puro e de produto, bem como a composição do produto. Dados complementares: densidade da água líquida ( ⁄ ); massa molar da água ( ⁄ ). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Esquema, com as informações fornecidas: Como as unidades dos dados fornecidos não são compatíveis, nesta etapa de sua organização é importante providenciar a sua homogeneização. Isto feito, não há necessidade de preocupação com unidades ao longo dos cálculos e já se sabe qual a unidade dos resultados obtidos. Concentrações: Frações molares; Vazões: Vazões molares, em mol/min. Assim, falta representar a vazão da corrente de água líquida em : ̇ [ ] 0 1 0 1 Balanço de Informações: Número de incógnitas: Equações do balanço de massa por componente; Equação do balanço de massa global; Restrições: (corrente de produto) e (vazão de oxigênio puro é da vazão de ar); Equações: ; Dependência linear entre as equações de balanço dos componentes e a global; Equações independentes: Grau de liberdade na formulação: Solução:Este problema envolve balanços de massa em regime estacionário, sem a presença de reação química, desta forma: Balanço global: ̇ ̇ ̇ ̇ ( ) Balanços por componentes: : ̇ ̇ ( ) : ̇ ̇ ( ) Restrição: ( ) Restrição adicional: ̇ ̇ ( ) EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos A equação representativa do balanço de massa do componente fica para ser utilizada para verificar o resultado. Resolvendo o sistema formado pelas equações ( ) a ( ): ̇ [ ] Observação: Na solução foram utilizadas as equações representativas dos balanços dos componentes e , pois eles aparecem em um menor número de correntes. 4.5.4 Escalonamento de um Processo Quando as informações sobre o balanço de massa são coerentes, diz-se que elas estão balanceadas ou que o processo encontra-se balanceado. Suponha que 1 kg de benzeno se misture com 1 kg de tolueno, formando uma corrente com 2 kg de mistura com 50% de benzeno e 50% de tolueno, em base mássica, conforme mostrado na figura: Note que a massa de todas as correntes pode ser multiplicada por um mesmo fator e o processo continua balanceado. O mesmo não é verdade para a composição, que se mantém constante. Como a mudança das unidades que representam a quantidade em cada corrente é feita por um fator de correção constante, a troca nominal de todas as unidades representativas das quantidades ou vazões de cada corrente também mantém o processo balanceado. Este procedimento de multiplicar todas as correntes de massa por um fator, mantendo a composição constante, é chamado de escalonamento (ou extrapolação) e o fator utilizado é chamado de fator de escala. Em base molar este procedimento somente pode ser aplicado na ausência de reação química. Observação Importante: Agindo desta forma pode parecer que o escalonamento de processos na prática é muito simples. Não é realidade! Esta situação de somente utilizar um fator de escala no escalonamento considera condições ideais, nas quais todas as condições geométricas, cinemáticas e dinâmicas são fielmente reproduzidas nas diferentes escalas. Na prática, esta reprodução de condições nas diversas escalas é praticamente impossível, e a extrapolação de escala é um dos grandes desafios a serem enfrentados. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos Exemplo ilustrativo 4 Uma mistura dos compostos e , e em base molar, respectivamente, é separada em duas frações. Em uma operação em batelada, os resultados obtidos são os seguintes: Deseja-se obter a mesma separação em uma operação contínua, com uma alimentação da solução de e original a uma vazão de . Esboce o fluxograma do processo contínuo. Solução: As informações solicitadas podem ser obtidas diretamente a partir dos dados da operação em batelada através da utilização do seguinte fator de escala ( ): 0 1 , - [ ] Assim, obtém-se: Note que no processo de escalonamento as composições não se alteram. 4.6 Atividades Examinar os exemplos: o Himmelblau & Riggs (3.1 até 3.9) o Felder & Rousseau (4.2.1, 4.2.2, 4.2.3, 4.3.1, 4.3.2, 4.3.3, 4.3.4). Exercícios: o Himmelblau & Riggs (3.1.8, 3.2.2, 3.2.12) o Felder & Rousseau (4.10, 4.16). EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos 5 Balanços de massa sem reação química Lembrando a equação geral do balanço de massa: * + * + * + * + Neste capítulo, serão trabalhos problemas sem a presença de reação química * + . Em relação ao acúmulo, os termos correspondentes são normalmente representados por expressões diferenciais, o que gera equações diferenciais para representar os balanços. Como ainda o conhecimento de cálculo não é suficiente para resolver este tipo de equação, nos restringiremos a problemas em regime estacionário, nos quais, o acúmulo é nulo * + . Então num sistema aberto em regime estacionário sem reação química o balanço de massa é: * + * + Nos processos químicos há um grande número de equipamentos que operam com base em diversos conceitos físicos e físico-químicos. A seguir são apresentados alguns equipamentos mais comuns, nos quais o balanço de massa fornece informações importantes. 5.1 Pontos especiais em processos 5.1.1 Divisor de Corrente Não é propriamente um equipamento. Representa um ponto na tubulação onde há divisão da vazão de uma corrente (à montante do divisor) em duas ou mais correntes (à jusante do divisor). Como não ocorre nenhum processo físico ou químico neste ponto, a composição das novas correntes é igual a da corrente à montante do divisor. No caso de haver divisão em duas correntes, a distribuição da vazão entre as correntes à jusante do divisor é descrita por um fator , que pode ser definido na forma: ̇ ̇ O valor de é definido pelo controle operacional da planta, ou seja, um agente externo especifica o seu valor. A relação desse valor com os parâmetros operacionais serão estudos em Mecânica dos Fluidos. 5.1.2 Ponto de Mistura Ponto onde há a simples união (mistura) de duas ou mais correntes. Como não ocorre nenhum processo físico ou químico neste ponto, a vazão e a composição da corrente à jusante do ponto de mistura são determinadas pelo balanço de massa no ponto de mistura. Na Figura é apresentado um esquema de um ponto de mistura com duas correntes à montante. EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos O balanço de massa global no ponto de mistura é: ̇ ̇ ̇ O balanço de massa para o componente i: ̇ ̇ ̇ 5.2 Misturadores São equipamentos onde duas ou mais correntes são misturadas. A mistura pode ser dos seguintes tipos: Sólido–sólido. Líquido–líquido. Gás–gás. Sólido–líquido. A mistura líquido–líquido é uma operação simples gerando um sistema homogéneo. A mistura gás–gás é raramente difícil, enquanto que a mistura sólido–sólido e sólido–líquido é bastante difícil, porque envolve a aplicação de força de cisalhamento. O dispositivo de mistura consiste de um recipiente e um impulsor. Estes dispositivos podem ser dispostos para realizar tanto processo em lotes como processo contínuo. Na Figura é mostrado um tanque de mistura típico: A mistura de fluido é feita pelo impulsor, o qual está montado com a ajuda de um eixo. O eixo é acionado por um motor. O tanque de mistura é um recipiente de aço inoxidável cilíndrica. A parte superior do reservatório é fechada com uma placa plana, enquanto que a parte inferior é EQA 5318 – Introdução aos Processos Químicos UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina Eng. Química e de Eng. de Alimentos de forma redonda para eliminar os cantos agudos. A capacidade do reservatório depende da natureza da agitação envolvida com a mistura. Um diagrama simples de mistura e as equações associadas são: ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ̇ ∑ 5.3 Separadores A separação de misturas é fundamental nos processos químicos, entre as operações unitárias de separação temos: Flash Destilação Cristalização Evaporação Na Figura são mostradas as variáveis e equações relevantes para o balanço de massa em
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