Buscar

Penal I - Plano de aula 02

Prévia do material em texto

Estácio de Sá
Curso de Direito
Penal I – Semana 2
PRINCÍPIOS NORTEADORES, GARANTIDORES E LIMITADORES DO DIREITO PENAL
Sumário: 1. Princípios e regras; 1.1.Conceito e distinção de regras e princípios; 2. Função num estado democrático de direito; 3.Princípios constitucionais e infraconstitucionais; 3.1.Princípio da legalidade; 3.1.1.Princípio da reserva legal; 3.1.2.Princípio da taxatividade; 3.1.3Princípio da anterioridade; 3.1.4.Princípio da irretroatividade; 3.1.4.1.Irretroatividade da lei mais severa; 3.1.4.2.Retroatividade da lei mais benéfica; 3.2.Princípio da intervenção mínima; 3.2.1.Princípio da fragmentariedade; 3.2.2.Princípio da subsidiariedade; 3.2.3.Princípio da lesividade; 3.3.Princípio da culpabilidade; 3.4.Princípio da proporcionalidade; 3.4.1.Princípio da individualização; 3.5.Princípio da insignificância; 3.6.Princípio da adequação social; 3.7.Princípio da dignidade humana; 3.7.1.Princípio da humanidade da pena; 3.7.2.Principio da personalidade da pena.
Princípios e regras
São conceitos aplicados ao ordenamento de cunho lógicos e ético-valorativos, que auxiliam na compreensão, interpretação e aplicação das normas jurídicas aos casos concretos.
Conceito e distinção de regras e princípios.
Princípios são as diretrizes gerais de um ordenamento jurídico, de maneira que seu espectro de incidência é muito mais amplo que o das regras, sendo considerados ético-valorativos. As regras disciplinam uma determinada situação, valendo-se da lógica do tudo ou nada são normas que prescrevem imperativamente uma exigência, permissiva ou proibitiva.
Assim sendo podemos observar os princípios como pautas genéricas, de caráter fundamentador, integrador, explicador, diferente das regras que são prescrições específicas que estabelecem pressupostos e consequências determinadas caráter proibitivo ou permissivo.
Funções num estado democrático de direito
Os princípios fundamentais de direito penal de um estado democrático de direito são garantias que do cidadão tem perante o poder punitivo estatal, estando estas amparadas na Constituição Federal de 1988. Estes princípios também orientam o legislador para adoção de um sistema de controle penal voltado para os direitos humanos.
Princípios constitucionais e infraconstitucionais
Existem princípios normativos que são especificados na própria constituição federal, a exemplo do principio da legalidade previsto no art. 5º Art. 5º XXXIX CF e princípios pertinentes a legislações infraconstitucionais como o principio da intervenção mínima o qual não encontra-se expresso na CF/88.
Princípio da legalidade
O principio da legalidade, constitui uma efetiva limitação ao poder punitivo do Estado, de forma que não pode ser considerado como crime, aquilo que a lei não prevê como tal nem penas arbitrárias, propiciando uma segurança jurídica ao cidadão, conforme o Art. 5º XXXIX CF – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal e o Art. 1º CP – Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.
Princípio da reserva legal
A elaboração de normas incriminadoras é função exclusiva de Lei Fedral, ou seja, compete exclusivamente à União legislar sobre direito penal, conforme prevê o Art. 22 I CF, o que significa que não haverá direito penal decorrente de costumes, jurisprudências ou decretos.
Princípio da taxatividade
Para proteger o cidadão da arbitrariedade e dar-lhe segurança é que necessária a técnica redacional legislativa, de forma que a lei seja clara, compreensível, permitindo ao cidadão a real consciência acerca da conduta punível pelo Estado.
 Princípio da anterioridade
Não se considerar como crime uma conduta que a lei não a considere anteriormente como tal, ou seja, mesmo que uma lei venha a definir que determinada conduta passe a ser considerada como crime, esta lei não poderá ser aplicada ao mesmo tipo de conduta se esta ocorreu antes da promulgação da lei, o mesmo cabendo às penas. 
Princípio da irretroatividade
Quando duas ou mais legislações tratarem do mesmo assunto, estaremos diante de um conflito de leis penais no tempo, em que a lei mais recente derroga a lei anterior, entretanto seus efeitos no direito penal possuem duas particularidades.
Irretroatividade da lei mais severa
Quando os efeitos provenientes da nova lei forem mais severos que os efeitos da lei anterior, mantém-se a aplicação dos efeitos da lei anterior para aqueles crimes cometidos durante sua vigência, de forma que a lei mais recente não retroage à prática do crime.
Retroatividade da lei mais benéfica
Quando os efeitos proveniente de nova lei forem mais benéficos que os efeitos que existiam com a lei anterior, aplicam-se os efeitos da nova lei, seja para os que se encontram em processo de julgamento quanto para os crimes transitado em julgado, de forma que a lei mais recente irá retroagir em beneficio do acusado.
Princípio da intervenção mínima. 
Essa garantia fundamental preconiza a intervenção mínima do direito penal no âmbito jurídico da nossa sociedade, devendo ser considerado direito penal como a ultima ratio, isto é, deve-se impor uma sanção penal somente nos casos em que outras sanções não se mostrarem eficazes.
Princípio da fragmentariedade.
O direito penal deve ser encarado como um fragmento do ordenamento jurídico, tutelando unicamente àqueles bens jurídicos mais importantes à sociedade, ou seja, condutas verdadeiramente lesivas passíveis de causar distúrbios de monta à segurança pública e à liberdade individual.
Principio da subsidiariedade
O direito penal é subsidiário, sendo assim, se os outros ramos do direito forem suficientes para tutelar aquele bem, não precisaremos do direito penal, de forma que direito penal só deverá agir quando os outros ramos do direito forem insuficientes.
Princípio da lesividade
O direito penal tutela bens jurídicos, só tendo cabimento sua intervenção quando exista conduta que venha a lesar ou colocar em perigo tais bens jurídicos, não devendo o direito penal se preocupar com valores políticos, morais, religiosos, filosóficos.
Princípio da culpabilidade
O principio da culpabilidade visa impedir a responsabilidade penal meramente objetiva, ou seja, a responsabilidade penal sem culpa, impondo a subjetividade da responsabilidade penal como um fator decisivo, isso significa que a imputação subjetiva de um resultado sempre depende de dolo, ou quando previsto, de culpa, evitando a responsabilização por caso fortuito ou força maior.
Princípio da proporcionalidade
O principio da proporcionalidade tem importância fundamental na aplicação das sanções, de forma que a gravidade da sanção aplicada deve ser equivalente à gravidade da infração praticada devendo ser considerada a natureza e a gravidade da infração cometida.
Princípio da individualização
O principio da individualização da pena prevê a garantia de que as penas dos infratores não sejam igualadas, mesmo que tenham praticado crimes idênticos, pois independente da prática de mesma conduta, cada indivíduo possui um histórico pessoal, devendo cada qual receber apenas a punição que lhe é devida.
Princípio da insignificância.
Segundo esse princípio mesmo que determinada atitude amolde-se a um tipo penal sob o ponto de vista formal e não apresentam nenhuma relevância material por não produzir nenhuma ofensa significativa ao bem jurídico tutelado, podendo-se afastar liminarmente a tipicidade penal, pois o bem jurídico não chegou a ser lesado.
Princípio da adequação social.
O princípio da adequação social possui dupla função, sendo uma delas é a de restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade.
A segunda função é dirigida ao legislador em duas vertentes: A primeira delas o orienta quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com a finalidade de proteger os bens considerados mais importantes. Se a conduta que está na mira do legisladorfor considerada socialmente adequada, não poderá ele reprimi-la valendo-se do Direito Penal. A segunda vertente destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade.
Princípio da dignidade humana.
O Direito Penal constitui uma das ferramentas que o Estado possui para a proteção de bens jurídicos essenciais ao indivíduo e à comunidade, atuando principalmente na tutela de bens que possuem um valor extremamente alto e que não podem ser suficientemente protegidos pelos demais ramos do direito, por isso, representa a mais severa intervenção nos direitos fundamentais, seja do ponto de vista da vítima ao sofrer a ação criminosa, seja do ponto de vista do agente do delito com a punição que lhe será aplicada.
Princípio da humanidade da pena.
Garante que a intervenção penal não viole os direitos fundamentais do criminoso, para que lhe seja assegurado, tanto na elaboração quanto na aplicação das normas, o princípio da dignidade da pessoa humana, evitando penas desumanas, observando o Art. 5º XLVII CF – não haverá penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, de caráter perpétuo, de trabalhos forçados de banimento, cruéis – e o Art. 5º XLIX CF – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral.
Princípio da personalidade da pena.
Do princípio da humanidade decorre a impossibilidade de a pena passar da pessoa do delinquente, ressalvados alguns dos efeitos extrapenais da condenação, como a obrigação de reparar o dano na esfera cível, que podem atingir os herdeiros do infrator até os limites da herança conforme o Art. 5º XLV CF – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.
Questão discursiva 1 – No dia 05 de abril de 2008, por volta das 18h, na Av. República Argentina, n. 000, Bairro Centro, na cidade de Blumenau, Belízia, locatária do apartamento de Ana Maria, deixou o imóvel e levou consigo algumas tomadas de luz, dois lustres e duas grades de ferro, bens de que detinha a posse e detenção em razão de contrato de locação. Ana Maria dirigiu-se ao imóvel tão logo tomou ciência de que Belízia havia o abandonado sem efetuar o pagamento do último aluguel, bem como constatou a apropriação dos objetos acima descritos, que guarneciam parte do imóvel conforme descriminado no contrato de locação.
Dos fatos narrados, Belízia, restou denunciada pelo delito de apropriação indébita, previsto no art.168 CP – Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a detenção: Pena - Reclusão, de um a quatro anos, e multa – tendo a sentença rejeitado a denúncia sob o fundamento de que sua conduta configurava mero ilícito civil, não havendo falar em responsabilização penal. Ante o exposto, é correto afirmar que a decisão do magistrado teve por fundamento qual(is) princípio(s) norteador(es)de Direito Penal? Responda de forma fundamentada.
(RESPOSTA) A decisão do magistrado foi correta, tendo por base o Prinípio da Intervenção Mínima e o Principio da Subisidiariedade, de forma que o ocorrido poderia ter sido resolvido utilizando-se outros ramos do direito, como o Direito Civil.
Questão objetiva 1 – Marcos, após beber 2 copos de cerveja com amigos, entra em seu carro e volta dirigindo para sua casa. Porém, no meio do caminho é parado por uma operação da lei seca. Ao ser submetido ao teste de alcoolemia pelo “bafômetro” é constatada a ingestão de álcool, sendo preso em flagrante em razão do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97). Considerando que nos autos não há qualquer depoimento ou outra prova atestando que Marcos dirigia de forma perigosa ou sob o efeito do álcool, o juiz o absolveu informando que sua conduta não lesionou e nem gerou um risco concreto à incolumidade pública. Com base nessa decisão, qual o princípio norteador do direito foi utilizado pelo magistrado?
a) da legalidade
(INCORRETA) O princípio da Legalidade está presente, identificando no proposto ao mencionar que a tipificação na qual o ilitico se enquadra.
b) da lesividade
(CORRETA)
c) da adequação social
(INCORRETA) O principio da adequação social não se aplica neste caso, pois a sociedade condena moralmente a prática de dirigir embriagado, descaracterizando assim o princípio.
d) da subsidiariedade
(INCORRETA) Este princípio não foi aplicado, pois o ordenamento que deu origem à punição foi o CTB, de forma que a aplicação do CP não foi utilizada, respeitando assim o princípio.
Questão objetiva 2 – Acerca do significado dos princípios limitadores do poder punitivo estatal, assinale a opção correta: (Exame de Ordem 2009.1 OAB/ CESPE-UnB)
a) Segundo o princípio da ofensividade, no direito penal somente se consideram típicas as condutas que tenham certa relevância social, pois as consideradas socialmente adequadas não podem constituir delitos e, por isso, não se revestem de tipicidade.
(INCORRETA) Esta definição aplica-se ao Princípio da Legalidade
b) O princípio da intervenção mínima, que estabelece a atuação do direito penal como ultima ratio, orienta e limita o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico.
(CORRETA)
c) Segundo o princípio da culpabilidade, o direito penal deve limitar-se a punir as ações mais graves praticadas contra os bens jurídicos mais importantes, ocupando-se somente de uma parte dos bens protegidos pela ordem jurídica.
(INCORRETA) Esta definição aplica-se ao Princípio da Ofensividade
d) De acordo com o princípio da fragmentariedade, o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico psíquica dos condenados por sentença transitada em julgado.
(INCORRETA) Esta definição aplica-se ao Princípio da Humanidade da Pena.

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Materiais recentes

Perguntas Recentes