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Fichamento O homem cordial

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Milena Tomaz de Miranda 
Unespar– Campus Apucarana 
Serviço Social, 1̊ ano
Assunto: A contribuição do homem cordial na formação do Brasil 
Fonte: HOLANDA, Sérgio Buarque de. O homem cordial. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia de Letras, 1995, 26 ed, p. 141-151. 
	Neste capítulo, basicamente será abordado características que nos são próprias. O “homem cordial” apresenta inicialmente uma oposição entre o círculo familiar e o Estado, um jogo de relações diferentes. Buarque fará um caminho para tentar demonstrar que essa cordialidade do brasileiro, é na verdade uma coisa muito perigosa, porque compreende uma certa instabilidade. 
	O autor inicia o capítulo com dois princípios, cujo contexto exprime com intensidade a oposição e mesmo a incompatibilidade fundamental entre os dois princípios. A esta elucidação confere-se o mérito à Sófocles: Creonte, na mitologia grega, encarna a noção abstrata, impessoal da Cidade em luta contra essa realidade concreta e tangível que é a família. Antígona, contra as ordenações do Estado, atrai sobre si a cólera do irmão, que não age em nome de sua vontade pessoal, mas da suposta vontade geral dos cidadãos, da pátria. Nessa relação observa claramente um verdadeiro conflito, que subsiste até hoje, de família e Estado. 
	O resgate de uma educação familiar tende a ser cada vez mais frequente, e o problema se concentra em impor regras, opiniões, valores, atitudes, interesses, etc, do convívio familiar para fora desse ambiente. “Ainda hoje persistem, aqui e ali, mesmo nas grandes cidades, algumas dessas famílias ‘retardatárias’, concentradas em si mesmas e obedientes ao velho ideal que mandava educarem-se os filhos apenas para o círculo doméstico” (HOLANDA, 1995, p. 143).
	A grande complexidade apresentada aqui, e a causa do brasileiro ser o “homem cordial”, é que há uma grande dificuldade de distinção entre os domínios do privado e do público. “Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderam a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público” (HOLANDA, 1995, p. 145). 	Em nosso país, o tipo primitivo da família patriarcal e o desenvolvimento da urbanização acarretaram em um desequilíbrio social, cujos efeitos permanecem vivos até hoje (HOLANDA, 1995). Neste contexto, Holanda inserirá Max Weber para explanar o problema e dar um fundamento sociológico a caracterização do “homem cordial”.
	Max Weber irá destacar a separação entre o funcionário “patrimonial” e o funcionário “burocrata”. A gestão do funcionário “patrimonial” apresenta-se como assunto de seu interesse particular. Já o funcionário “burocrata” encontra-se ligado aos interesses objetivos. Mas, Weber irá ressaltar que para exercer essas funções públicas, o homem fará de acordo com as confianças pessoais e não com suas capacidades próprias. 
	Segundo Holanda (1995), no Brasil, pode dizer-se que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários dedicados a interesses objetivos. Ao contrário, houve, ao longo de nossa história, o predomínio das vontades particulares que encontram seu ambiente próprio em círculos pouco acessíveis a uma ordenação impessoal – como o círculo da família, que se exprimiu com mais força em nossa sociedade. Um dos efeitos decisivos da supremacia do núcleo familiar está em que as relações que se criam na vida doméstica sempre forneceram o modelo de qualquer composição social entre nós. Isso ocorre mesmo onde as instituições democráticas, fundadas em princípios neutros e abstratos, pretendem assentar a sociedade em normas antiparticularistas. 
	Essa cordialidade do brasileiro, a hospitalidade, a generosidade, a lhanheza no trato, virtudes tão gabadas pelos estrangeiros que nos visitam, confere-se à nossa ativa e fecunda influência ancestral dos padrões de convívio humano. “Seria engano supor que essas virtudes possam significar ‘boas maneiras’, civilidade. São antes de tudo expressões legítimas de um fundo emotivo extremamente rico e transbordante”. (HOLANDA, 1995, p. 147). Buarque coloca até um exemplo de como essa polidez que vivemos é uma ilusão, pois quando nos deparamos ante a um aspecto mais ordinário do convívio social como o cumprimento dos japoneses, confunde-se, por vezes, com a reverência religiosa. 
	Há no “homem cordial” tão somente o predomínio de comportamentos de aparência afetiva, inclusive de suas manifestações externas (não precisamente sinceras e profundas). A cordialidade como um traço definido brasileiro, que se encontra em expressões de fundo emotivo, por sua vez são espontâneas. Armado dessa máscara, o indivíduo consegue manter sua supremacia ante o social. 
	No “homem cordial”, a vida em sociedade é, de certo modo, uma verdadeira libertação do pavor que ele sente em viver consigo mesmo. Dentro dessa visão Nietzsche enfatiza que: "Vosso mau amor de vós mesmos vos faz do isolamento um cativeiro".
	Esse modo de ser, no domínio da linguística, caracteriza-se no emprego de diminutivos. “A terminação “inho”, aposta às palavras, serve para nos familiarizar mais com as pessoas ou os objetos e, ao mesmo tempo, para lhes dar relevo. É a maneira de fazê-los mais acessíveis aos sentidos e também de aproximá-los do coração” (p. 148). O uso dessa terminação denota a ideia de um caráter intimista. Outra forma de manifestação de mesma ordem que Buarque cita, é a omissão do nome de família no tratamento social. 
	Ademais, a religião também compõe a exaltação dos valores cordiais. Nosso velho catolicismo, tão singular, que permite tratar os santos com uma intimidade quase desrespeitosa e que deve parecer estranho às almas verdadeiramente religiosas, provém ainda dos mesmos motivos. Os que assistiram às festas do Senhor Bom Jesus de Pirapora, em São Paulo, conhecem a história do Cristo que desce do altar para sambar com o povo. (HOLANDA, 1995).
	Holanda assinala ainda que, no Brasil, é precisamente o rigorismo do rito que se afrouxa e humaniza. No entanto, essa aversão ao ritualismo conjuga-se mal, com um sentimento religioso verdadeiramente profundo e consciente. É justamente a falta de um culto com obrigações e rigor, intimista e familiar que a religiosidade se perdia e se confundia num mundo sem forma e que, por isso mesmo, não tinha forças para lhe impor sua ordem. Logo, as elaborações políticas só se faziam possíveis fora do âmbito religioso, pois neste, só apelava para os sentimentos e os sentidos e quase nunca para a razão e a vontade. 
	
A exaltação dos valores cordiais e das formas concretas e sensíveis da religião, que no catolicismo tridentino parecem representar uma exigência do esforço de reconquista espiritual e da propaganda da fé perante a ofensiva da Reforma, encontraram entre nós um terreno de eleição e acomodaram-se bem a outros aspectos típicos de nosso comportamento social. Em particular a nossa aversão ao ritualismo é explicável, até certo ponto, nesta "terra remissa e algo melancólica", de que falavam os primeiros observadores europeus, por isto que, no fundo, o ritualismo não nos é necessário. Normalmente nossa reação ao meio em que vivemos não é uma reação de defesa. A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a sua personalidade, integrando-a, como peça consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para se abandonar a todo o repertório de ideias, gestos e formas que encontre em seu caminho, assimilando-os frequentemente sem maiores dificuldades. (HOLANDA, 1995, p. 151).

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