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História da Educação

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CENTRO UNIVERSITÁRIO CATÓLICO SALESIANO AUXILIUM 
 
 
 
CURSOS – LICENCIATURA EM PEDAGOGIA 
 
 
 
COMPONENTE CURRICULAR:- 
 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
 
 
 
DOCUMENTOS E INSTRUÇÕES PARA ESTUDO 
 
 
 
PROFESSOR RESPONSÁVEL: José Médice 
 
 
 
 
 
ANO 2011 
 2 
INDICE 
ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ............................................................................................................. 3 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO .......................................................................................................................................................... 15 
UM BREVE PASSEIO PELA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ......................................................................................................... 22 
LINHA DO TEMPO: HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ................................................................................................. 28 
 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................................................. 36 
 
 
 3 
ASPECTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL 
 
 
Objetivos da Disciplina “História da Educação” 
 
Oferecer ao educando uma oportunidade de reflexão sobre a educação no passado, para que possa 
compreender a educação atual e contribuir de forma eficaz para o desenvolvimento de um sistema 
educacional mais voltado a realização humana; ressaltar os aspectos essenciais de cada período e situar 
a educação de cada época em seu contexto sócio-econômico. 
Conhecer um pequeno panorama histórico da educação no Brasil desde a fase colonial até o período 
contemporâneo da República. 
Compreender os comentários sobre a herança legada pelos jesuítas e pela Igreja Católica no 
desenvolvimento da educação formal no Brasil. 
Investigar o "sentido da educação no Brasil" levando em conta a relação entre Estado, Educação e 
Sociedade. 
 
Conteúdos 
• Educação Jesuítica. 
• Ensino Régio. 
• Educação na Época da Monarquia. 
• Educação na República. 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Nesta unidade estudaremos os fundamentos históricos, filosóficos e sociológicos que marcaram 
a educação no Brasil ao longo de cinco séculos. Iniciaremos nosso estudo pelos jesuítas que 
tiveram importância decisiva no projeto português de expansão mercantil-cristão. Posteriormente, 
passaremos ao estudo das Reformas Pombalinas que colocaram em cena o Estado enquanto 
agente educacional. No século XIX, o Brasil atinge a condição de país soberano, estruturando-se 
em torno do regime monárquico e com ele novas iniciativas são tomadas no campo da educação 
escolar. Finalmente a última parte vai contemplar o estudo da educação brasileira no período 
republicano. 
 
2 - EDUCAÇÃO JESUÍTICA 
 
Os jesuítas foram referências fundamentais e básicas em termos de educação no Brasil - 
Colônia, de 1549 quando desembarcaram em Salvador na Bahia a bordo de uma expedição que 
trazia o primeiro Governador-Geral Tomé de Souza até 1759 quando foram expulsos pelo 
Marquês de Pombal. Podemos dizer mesmo que ao longo desses quase duzentos anos, as práticas 
formais de educação estiveram sob o controle desses padres, membros da Companhia de Jesus. 
Na realidade é difícil entender a presença dos jesuítas no Brasil sem contextualizar os 
acontecimentos históricos que envolveram a Europa e a América na Época Moderna do século 
XV ao XVIII. Como sabemos, a partir do século XV, acelerou na Europa o processo capitalista de 
relações econômicas, marcado pela circulação de mercadorias - essa fase do capitalismo ficou 
conhecida por mercantilismo. Por outro lado, ocorre de forma desigual, a constituição política do 
Estado Nacional - conhecido por absolutismo. 
A combinação entre Estado Absolutista e mercantilismo foi decisiva para desencadear uma 
corrida entre as nações européias pelo controle de rotas comerciais terrestres e marítimas. Essa 
corrida se justificava pelo princípio mercantilista de que o Estado se fortaleceria na economia, 
política e militarmente conforme o acúmulo de riquezas em metais. A partir de então, a Europa 
ávida por ouro, prata, produtos tropicais e especiarias, vai desbravar os oceanos e mares, 
conquistando e explorando porções da Ásia e do litoral africano, culminando com o 
"descobrimento" da América. 
 4 
A conquista e a colonização da América, sobretudo, por parte de Portugal e Espanha se 
inscrevem, portanto, na perspectiva econômica do mercantilismo, ou seja, as metrópoles ibéricas 
tinham como objetivo fundamental auferir a maior quantidade possível de riqueza, tanto em 
metais como em matérias-primas e produtos tropicais. Se de um lado podemos explicar a 
colonização do Brasil como parte de um sistema econômico europeu, por outro lado, não 
podemos esquecer o quadro histórico-religioso por que passava a Europa na mesma época. 
A Europa Moderna assistiu a quebra da hegemonia da Igreja católica, hegemonia esta que ela 
havia consolidada desde os tempos da Idade Média, do século 5° ao 15º. 
As idéias de Martinho Lutero na Alemanha desencadearam um movimento reformista no 
cristianismo com repercussões por toda a Europa questionando as práticas da Igreja católica. A 
fim de reafirmar seus dogmas a hierarquia da Igreja católica convocou um Concílio na cidade de 
Trento, na Itália, entre os anos de 1545 e 1563, desencadeando uma forte repressão aos 
movimentos protestantes. Entre os instrumentos utilizados a Igreja católica lançou mão da 
Companhia de Jesus, fundada pouco tempo antes do Concílio de Trento pelo religioso espanhol 
Ignácio de Loyola. 
A importância da Companhia de Jesus na estratégia da Igreja de combate o ao protestantismo estava 
circunscrita ao campo da missão evangelizadora. Por meio de seus membros - os jesuítas - a Igreja 
investia na educação das elites européias, impedindo assim a propagação das idéias reformistas e 
reafirmando os dogmas defendidos pela Santa Sé. Os povos ibéricos aderiram prontamente aos ideais 
da Contra-Reforma católica tanto na luta contra os mouros (árabes islamizados que controlavam 
territórios na Península Ibérica) como na colonização da América. 
Dependia-se, portanto, do que foi afirmado anteriormente, que a colonização do Brasil em 
particular, e da América Latina como um todo, foi obra de um duplo projeto: de um lado, o econômico, 
expresso pelo mercantilismo e, de outro lado, o cultural-religioso, expresso pela expansão do 
cristianismo católico. Afirmamos que a colonização do Brasil ocorreu nos quadros de expansão 
mercantilista e católica. Assim, a metrópole lusitana transplantou, para a colônia brasileira, seu próprio 
modelo cultural. 
Desse modo, o desembarque de alguns poucos padres jesuítas sob o comando do Padre Manuel da 
Nóbrega em 1549 não ocorreu por acaso, mas sim, estava perfeitamente de acordo com o projeto 
colonizador português. Conforme o Regimento de 1548, que estabelecia os parâmetros colonizadores 
na América Portuguesa, cabia aos colonos o papel de "conversão dos indígenas à fé católica pela 
catequese e pela instrução" (RIBEIRO, 2003, p. 18). 
A importância dos Regimentos de 1548 em termos educacionais está no fato de se constituir no 
primeiro documento escrito que trata da educação, ainda que não formule um sistema organizado e 
sistematizado, atribuindo uma função aos objetivos educacionais - aculturação dos nativos - e 
delegando poderes para o exercício da mesma função a um grupo específico - os religiosos católicos. 
Ainda sobre a relevância dos Regimentos de 1548 assim se refere Luiz A. de Mattos: dele dependeria 
(... ) o êxito da arrojada empresa colonizadora; pois que, somente pela aculturação sistemáticae 
intensiva do elemento indígena aos valores espirituais e morais da civilização ocidental e cristã é que a 
colonização portuguesa poderia lançar raízes definitivas (... ) (apud RIBEIRO, 2003, p. 18). 
Embora os Regimentos fizessem referências explicitamente aos indígenas como foco das ações 
educacionais, o Padre Manoel da Nóbrega elaborou um plano de ação para os jesuítas que envolvia 
outros grupos sociais como filhos e filhas de colonos e até em algumas circunstâncias, negros 
escravos. Este plano, com a finalidade de atingir seus objetivos de catequizar e instruir incluía como 
objeto de aprendizagem o português, a doutrina cristã, ler e escrever; canto orfeônico e música 
instrumental; aprendizagem profissional e agrícola; aula de gramática e viagem de estudos à Europa. 
A prática pedagógica consistia em atividades diversas como pequenas encenações teatrais, cantos de 
fundo religioso, além de atividades práticas como a lida com a terra e pequenos ofícios. “Em muitos 
casos os próprios padres jesuítas aprendiam a língua tupi-guarani”, cujo conhecimento facilitava o 
contato e as práticas educacionais de catequização e instrução juntos aos indígenas. 
De forma que relativamente em pouco tempo os jesuítas haviam fundado igrejas, colégios, 
seminários, missões e recolhimentos por diversas localidades da costa brasileira, que serviam como 
abrigos para o exercício de suas atividades de tal forma que marcaram profundamente a vida colonial 
nos primeiros duzentos anos de colonização. Sabemos ainda que os jesuítas traziam para si não só a 
 5 
responsabilidade da educação dos gentios como também procurava controlar as práticas morais dos 
colonos brancos. 
Percebemos que, a partir de 1570, com a morte do Padre Manoel da Nóbrega, o plano 
educacional dele foi abandonado pelos jesuítas que passaram a assumir o plano educacional geral 
da Companhia de Jesus, chamado de Ratio Studiorum. Por meio da adoção do Ratio observamos 
uma tendência que será dominante na história da educação brasileira: a da separação entre a 
instrução mínima para os "de baixo" e formação clássica para os "do alto". Do ponto de vista 
prático, significava que, aos filhos dos colonizados brancos, o ensino monopolizado pelos jesuítas 
se destinava à formação humanística e intelectual de fundo europeu; e aos índios, negros e 
mestiços bastava a catequização. 
o Ratio constituía-se num plano educacional extremamente rígido em termos de práticas 
pedagógicas e controle de idéias. Estava dividido em três etapas: as humanas, os cursos superiores 
de filosofia e teologia e a complementação dos estudos na Europa, sobretudo, em Portugal, em 
particular na medieval Universidade de Coimbra. Daí o caráter elitista dessa educação, pois 
somente os filhos dos mais ricos podiam concluir seus estudos no Velho Mundo. Aos nativos 
bastavam a catequização e o ensino de práticas profissionais ou agrícolas. 
Mas, o Ratio se afastava do pensamento científico que à época dava seus 
primeiros passos na Europa: o seu objetivo acima de tudo religioso, o seu conteúdo literário, a 
metodologia dos cursos inferiores (humanidades), que culminava com o movimento denominado 
'imitação, ou seja, a prática destinada a adquirir o estilo literário de autores clássicos (".)' 
(Larroyo, 1970, p. 390), e a dos cursos superiores (filosofia e teologia), subordinada ao 
'escolasticismo', faziam com que não só os religiosos de profissão como os intelectuais de forma 
geral se afastassem não apenas de outras orientações religiosas como também do espírito 
científico nascente e que atinge, durante o século XVII, uma etapa bastante significativa 
(RIBEIRO, 2003, p. 26). 
Com as transformações provocadas pela reestruturação do sistema produtivo capitalista que 
marcaram profundamente as relações entre as nações européias no século XVIII, a Metrópole 
portuguesa procura adaptar-se aos novos tempos. Para tanto, adota medidas de cunho reformista 
tanto em termos políticos como econômicos e educacionais. Esse reformismo inviabilizou a 
permanência dos jesuítas na colônia culminando com sua expulsão em 1759. 
 
3 ENSINO RÉGIO 
 
O século XVIII foi marcado por profundas transformações tanto no campo econômico e 
político, como no campo das idéias. Na realidade tais mudanças já vinham ocorrendo desde o 
século anterior quando um conjunto de revoluções intitulados Revoluções Inglesas abriam 
caminho para a consolidação dos ideais da burguesia ávida por parte da política, pois poder 
econômico já possuíam. Mas é no século XVIII que a radicalização desses processos 
revolucionários vai ser determinante a tal ponto que o historiador britânico Eric J. Hobsbawm 
batiza-o de a "Era das Revoluções Burguesas". 
No campo econômico assistimos a emergência da Revolução Industrial na 
Inglaterra, constituindo-se em uma transformação radical no processo de produção, pois a base 
produtiva da sociedade foi o que incorporou máquinas na fabricação de mercadorias, acelerando a 
industrialização como nunca ocorrera na história do homem, Com a industrialização o capitalismo 
dá um salto adiante colocando em xeque às práticas mercantilistas em vigor até então. Em termos 
políticos o Estado Nacional Absolutista começa a dar sinais de esgotamento, sobretudo, com a 
emergência da Revolução Americana de 1776 a 1777 que culminou com a Independência dos 
EUA e com a eclosão da Revolução Francesa de 1789 que, juntas, constituíram-se em modelos de 
movimentos revolucionários anti-absolutistas tanto na Europa como na América. 
Do ponto de vista cultural a propagação das idéias iluministas foi decisiva para o aparecimento 
de um novo conceito de homem, de política e de valores a serem defendidos. 
O "Século das Luzes" constitui-se em um movimento intelectual de caráter burguês que 
preconiza a defesa de um Estado Liberal, a livre concorrência como fundamento das relações 
 6 
econômicas, a valorização da razão e da ciência como paradigmas a serem seguidos pelo homem 
combatem a influência da religião e a interferência da Igreja em assuntos de Estado. 
Em Portugal, esse clima de efervescência que passava a Europa, principalmente, Inglaterra e 
França, demorou muito a ganhar adeptos. Portugal, assim como Espanha, ficou a margem das 
mudanças que vinham transcorrendo no século XVII, perdendo importância em termos 
econômicos e políticos. Não soube investir as riquezas fornecidas pela colônia em atividade 
industrial e com isso passou para a órbita de dependência econômica em relação a Inglaterra. Por 
outro lado, no tocante ao campo intelectual e cultural, a forte influência da Igreja católica impediu 
que em Portugal as idéias de liberalismo, racionalismo e cientificismo fossem livremente 
debatidas internamente. 
Esse atraso lusitano em relação às demais potências européias começa a ser superado quando o 
rei D. João I, chamado de "ilustrado" por conta da influência que sofreu das idéias iluministas, 
designou para ser ministro de Estado Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal. 
Este imbuído do desejo de modernizar e elevar o Estado português à condição das nações mais 
adiantadas àquela época promove uma ampla reforma no Estado lusitano e seus domínios. Criou 
companhias de comércio, revogou o Tratado de Methuen que favorecia amplamente os interesses 
comerciais ingleses, além de profissionalizar as carreiras burocráticas de Estado afastando a 
nobreza parasitária. 
No campo educacional, as Reformas de Pombal atingem em cheio o monopólio do ensino por 
parte dos jesuítas, determinando a expulsão dos membros da Companhia de Jesus tanto de 
Portugal como do Brasil. Assim, Pombal alegou para tanto "razões de Estado", alegando que a 
Companhia de Jesus não trabalhava para o engrandecimento do Estado portuguêse sim para o seu 
próprio fortalecimento. 
Entretanto, outras razões são identificadas por estudiosos do assunto. Maria Luisa Santos 
Ribeiro (2003, p. 28), por exemplo, observa que o confronto entre o Estado e a Companhia de 
Jesus têm razões de natureza econômica, isso porque, a partir da instituição do "padrão de 
Redízima" em 1564 "10% de toda arrecadação dos dízimos reais (impostos), em todas as 
capitanias da colônia e seus povoados, ficavam para sempre vinculados à manutenção e sustento 
dos colegas jesuíticos." Os lucros obtidos pelos jesuítas por meio de impostos com o tempo 
emprestaram-lhe muito poder, passando a incomodar os interesses da Metrópole lusitana, 
culminando com a expulsão da Companhia de Jesus em 1759. 
Em 28 de junho de 1759 foi expedido o Alvará Régio que determinava a organização da 
educação sob o financiamento e tutela do Estado. Esse Alvará constitui-se, na realidade, numa 
regulamentação oficial do ensino, criando legislação própria, exigências para o exercício do 
magistério, instituindo a origem dos recursos destinados à educação, entre outras medidas: o 
Alvará de 28 jun. 1759 criava o cargo de diretor geral dos estudos, determinava a prestação de 
exames para todos os professores, que passaram a gozar do direito de nobres, proibia o ensino 
público ou particular sem licença do diretor geral dos estudos e designava comissários para o 
levantamento sobre o estado das escolas e professores (RIBEIRO, 2003, p. 33). 
Na prática o Ensino Régio instituído pelas reformas de Pombal não passava de aulas avulsas 
que ficavam a cargo de professores selecionados rigidamente por meio de exames oficiais e cuja 
remuneração ficava a cargo dos próprios alunos. Diferentemente da organicidade do ensino 
oferecido pelos jesuítas, o ensino régio era extremamente fragmentado, pois era constituído de 
disciplinas isoladas, sem uniformidade. Valmir Chagas, estudioso da educação brasileira, sintetiza 
o modelo de aulas régias da seguinte forma: Cada aula regia constituía uma unidade de ensino, 
com professor único, instalada para determinada disciplina. Era autônoma e isolada, pois não se 
articulava com outras bem pertencia a qualquer escola. Não havia currículo, no sentido de um 
conjunto de estudos ordenados e hierarquizados, nem a duração prefixada se condicionava ao 
desenvolvimento de qualquer matéria. O aluno se matriculava em tantas 'aulas' quantas fossem as 
disciplinas que desejasse. 
Para agravar esse quadro, os professores eram geralmente de baixo nível, porque improvisados 
e mal pagos, em contraste com o magistério dos jesuítas, cujo preparo chegava ao requinte (apud 
PILETI, 2006, p. 37). 
 7 
O Alvará ainda determinava o ensino de línguas modernas concomitantes ao do latim e do 
grego, introduzindo ainda algumas ciências como aritmética e geometria, além das ciências 
naturais. A conclusão dos estudos em nível superior dava-se no Reino, principalmente, na 
Universidade de Coimbra, também, reformada por Pombal a fim de aproximá-Ia do ensino de 
"espírito científico" que marcava as demais universidades européias da época. 
Mais uma vez observa-se que predomina, assim como na educação jesuítica, um ensino de 
caráter marcadamente elitista, dimensionando o trabalho intelectual em detrimento do manual 
valorizando a cultura européia. 
Esse padrão de Ensino Régio vai entrar no século 19, permanecendo como marca da educação 
brasileira durante os anos de regime monárquico. Com o falecimento do rei D. João I subiu ao 
trono português sua filha D. Maria I que vai promover uma retomada da "tradição" lusitana, 
afastando o Marquês de Pombal e revogando vários pontos de sua reforma. No tocante ao Ensino 
Régio, contudo, permanecem inalterados em suas linhas gerais, apenas que passa a vigorar o 
chamado "subsídio literário", uma espécie de imposto destinado ao pagamento das despesas com 
educação por parte do Estado. 
 
4. EDUCAÇÃO NA ÉPOCA DA MONARQUIA 
 
O século 19 iniciou-se sob o signo da guerra na Europa com consequencias importantes para o 
Brasil. As guerras napoleônicas fustigaram as Cortes de Portugal e Espanha e abriram caminho 
para os movimentos de independência das colônias latino-americanas. 
No caso da Espanha, Napoleão Bonaparte destituiu o rei e em seu lugar colocou seu próprio 
irmão, José Bonaparte. Diferentemente, Portugal viu-se invadido pelas tropas do General Junot e, 
dada a incapacidade de reação, a Família Real e a Corte como um todo fugiram para o Brasil, 
escoltadas pela Real Marinho britânica. Abria-se então uma etapa decisiva nos destinos do Brasil 
que culminaria com a Independência em 1822 e a conseqüente consolidação do regime 
monárquico ao longo de quase todo o século 19. Ao desembarcar em 1808 inicialmente em 
Salvador e posteriormente no Rio de Janeiro, D. João VI vai implementar uma política que visava 
elevar o Brasil à condição de capital do vasto império lusitano, já que Lisboa estava sob ocupação 
francesa. 
No campo econômico celebrará tratados amplamente favoráveis aos interesses britânicos no 
Brasil, além de decretar a "abertura dos portos às nações amigas", atitude que na prática pôs fim 
ao monopólio comercial por parte da metrópole, rompendo, dessa forma, com os fundamentos do 
colonialismo mercantilista - o pacto colonial. 
As necessidades impostas pela contingência do Brasil que se torna sede do império lusitano 
levaram D. João VI a investir em iniciativas no campo cultural promovendo a inauguração da 
Imprensa Régia, da Biblioteca Pública, do Jardim Botânico e do Museu Nacional. Por outro lado, 
havia a necessidade da profissionalização da burocracia do Estado e das forças militares, 
obrigando a intervenção de D. João VI no campo educacional com vistas a atender às urgências 
que se faziam nesses setores. Daí a abertura de cursos superiores de natureza profissionalizante: 
No campo dos estudos superiores destaca-se a criação de academias e aulas, principalmente no 
Rio de Janeiro: Academia Real da Marinha (1808), Aula de Economia Política (1808), Escola de 
Anatomia e Cirurgia (1809), Aula de Comércio (1809), Academia Real Militar (1810) e Aula de 
Botânica (1812). Na Bahia é implantada a Escola de Cirurgia (1808) e em Pernambuco um curso 
de matemática (1814) (VEIGA, 2007, p. 141). 
Esses cursos, na realidade, não constituíam um sistema estruturalmente organizado, mas eram 
ministrados isoladamente, visando atender apenas a uma necessidade que se fazia urgente. Nos 
demais níveis de ensino permaneceu a mesma tônica dos períodos anteriores. As escolas de nível 
elementar e as de nível secundário continuaram isoladas tal qual no modelo das Aulas Régias da 
época de Pombal, privilegiando elementos das camadas aristocráticas. 
A mudança nos rumos da política européia a partir de 1815 e a Revolução Constitucionalista do 
Porto em 1820 são decisivas para que D. João VI e a Família Real retornem à Lisboa a fim de 
reassumirem o trono português. A insistência da Corte lusitana em tomar medidas no sentido de 
reestabelecer o pacto colonial, mobiliza a elite aristocrática brasileira desejosa em manter 
 8 
livremente relações comerciais com os ingleses. Assim, fruto de um "arranjo político", em 1822 
virá o rompimento definitivo com Portugal, fazendo surgir o Brasil independente e a única 
monarquia entre repúblicas na América. 
A condição de autonomia política, no entanto, não alterou profundamente as estruturas internas, 
sobretudo, porque foi mantido o regime de trabalho escravo. Além disso, fortaleceram-se as 
relações de dependência econômica em relação aos centros mundiais do capitalismo, em 
particular, a Inglaterra e no que concerne à educação, pouco ou quase nada, foi alterada em suas 
estruturas. 
A Constituição de 1824,a primeira Carta Magna do Brasil - Independente, previa em relação à 
educação princípios muito vagos e gerais: em seu artigo 179 estabelecia a gratuidade da educação 
em nível primário para todos os cidadãos, mas que em termos práticos pouco acrescentou a 
realidade da educação existente até então. 
Ainda no Primeiro Reinado (1822-1831), tivemos uma tentativa de reforma educacional por 
meio do Projeto Januário da Cunha Barbosa que resultou em lei em 1827 instituindo a 
"distribuição racional por todo o território nacional, mas apenas as escolas de primeiras letras, o 
que equivale a uma limitação quanto ao grau (só um) e quanto aos objetivos de tal grau primeiras 
letras" (RIBEIRO, 2003, p. 46). 
Desse modo, persiste a predominância do ensino superior com a abertura de cursos jurídicos no 
Recife e em São Paulo em 1827, instituições que se constituíram posteriormente em referências 
nacionais em termos de formação jurídica. 
As necessidades de aparelhamento do recém-fundado Estado Nacional valorizam ainda mais a 
carreira jurídica e de demais profissionais de nível superior. Com isso consolida o divórcio entre 
educação e sociedade, pois conforme afirma o sociólogo Pérsio Santos Oliveira, "a educação não 
servia para promover o desenvolvimento da sociedade, e sim para dar 'classificação', isto é, dar 
maior prestígio social aos da classe social mais elevada" (1998, p. 164). 
O ensino fundamental, portanto, ficará durante todo o século 19, e por que não dizer, ao longo 
de boa parte do século 20, longe de ser prioridade do Estado brasileiro, trazendo como 
conseqüência a marginalização educacional de imensos contingentes de brasileiros. A educação 
escolar torna-se um privilégio de poucos que freqüentam escolas leigas ou mantidas por ordens e 
congregações religiosas, atendendo a uma parcela minoritária do conjunto da sociedade. Com 
isso, afirma-se a hegemonia de uma elite economicamente dominante e que, ao "ilustrar" seus 
filhos através da educação, passa, também, a controlar os cargos públicos, notadamente, no 
exercício da política partidária e no aparelho judiciário. 
De 1831 a 1840 a monarquia brasileira viveu um interregno entre a abdicação de D. Pedra I e o 
chamado golpe da Maioridade que elevou D. Pedro II ao trono. Período marcado por inúmeras 
revoltas nas províncias, crise econômica em decorrência da ausência de um produto-chave que 
ligasse o Brasil aos mercados europeus e sucessivos conflitos entre as elites políticas, que por 
pouco provocaram a quebra da unidade territorial do Império. 
Durante essa fase conturbada, dois fatos tiveram importância no tocante da educação: o decreto 
do Ato Adicional de 1834 e a criação do Colégio Pedro II em 1836. O primeiro fato alterava a 
Constituição de 1824 estabelecendo a descentralização política por meio das Assembléias 
Legislativas Provinciais, atribuindo, especificamente, no particular à educação, que caberia às 
Províncias a competência de promovê-la nos níveis primário e secundário. Já os cursos superiores 
permaneciam sob a competência do governo central. 
Já o fato da criação do Colégio Pedra II teve um efeito, a longo prazo, de se constituir em uma 
instituição de referência nacional em termos de currículo e métodos de ensino. Mantido pelo 
poder central, o Colégio Pedra II possuía ainda autorização jurídica para realizar exames que 
conferiam aos aprovados o título de bacharel, condição indispensável para o ingresso em cursos 
superiores. Ao longo de sua história o Colégio Pedra II tornou-se símbolo de distinção para os 
filhos das elites aristocráticas e rurais brasileiras. 
A segunda metade do século 19 foi marcada por transformações importantes na base econômica 
brasileira, sobretudo, por conta do café que passa a ser o produto-chave da base econômica e 
assim permanecerá até pelo menos metade do século 20. A economia cafeeira gerou sinais de 
modernização, principalmente, no eixo São Paulo-Rio de Janeiro, percebíveis através das 
 9 
ferrovias, de melhoramentos urbanos e importação de produtos industriais e máquinas. 
Possibilitando uma nascente burguesia urbana. Por outro lado, o café reforçou a "vocação" 
agrícola do Brasil e por isso a lógica perversa de que educação não é prioridade do Estado. 
Nesse sentido, em termos educacionais os quase cinqüenta anos do Reinado de D. Pedra II 
pouco acrescentaram ao modelo já existente, quando muito uma tentativa de reforma apresentada 
em 1879 por Leôncio de Carvalho que apresentava iniciativas no campo do exercício do 
magistério e da liberdade para a adoção dos mais variados métodos de ensino. 
 
No entanto, pouco ou quase nada foi aplicado, na prática, não gerando conseqüências reais ou 
concretas. Fora isso, podemos registrar a iniciativa educacional de particulares tomada por 
protestantes que fundam escolas primárias em São Paulo e de adeptos da filosofia positivista que 
exerceu forte influência sobre uma parte da intelectualidade brasileira da segunda metade do 
século 19 e das primeiras décadas do século 20. 
De tal sorte que o Brasil terminou o século 19 ainda sem uma organização de um sistema de 
educação em termos nacionais. As transformações verificadas a partir de 1870, motivadas por 
fatores internos como externos, levam uma parte da intelectualidade brasileira a combater o 
regime monárquico reivindicando a extinção da escravidão e a adoção do regime republicano de 
governo. 
Nesse contexto de ampla discussão pública por meio da imprensa e debates políticos, surgem 
propostas reformistas em diversos campos de interesse, procurando elevar o Brasil ao patamar das 
novas necessidades impostas pela segunda Revolução Industrial que reestruturou as relações entre 
as nações, exigindo maior competitividade econômica e impondo a ciência como base do 
desenvolvimento. 
Nesse quadro, era urgente que o Brasil promovesse uma "revolução" no campo da educação, 
como muitos intelectuais da época pregavam, emergindo um clima de "entusiasmo pela 
educação", tal como expressão utilizada por Paulo Ghiraldelli Júnior. 
Esse entusiasmo vai marcar os debates políticos e intelectuais do período de transição da 
Monarquia para a República. 
 
5. EDUCAÇÃO NA REPÚBLICA 
 
Como sabemos, a República no Brasil foi fruto de um golpe militar em 15 de novembro de 
1889, como resultado de uma convergência de interesses entre setores do Exército, elite do café 
de São Paulo e setores intelectuais de classe média. Passados os primeiros tempos marcados por 
enorme euforia com o futuro do país, surgem as cisões dentro do grupo republicano, levando 
muitos a se "desiludirem" com os rumos tomados pelo novo regime. A partir de 1894 o poder 
passa a ser controlado pela oligarquia do café que permanece hegemônico até 1930. 
A base da economia permanece sendo agrário-exportadora e a sociedade predominantemente 
rural com elevados índices de analfabetismo. A nascente república, na realidade, dá continuidade 
a "vocação" agrícola do Brasil e interessava à elite política a manutenção das estruturas 
fundamentais do país, ou seja, em um cenário predominantemente rural e agrário não existe a 
necessidade de investimentos em educação escolar. 
Por conta disso, a política educacional ditada pelo Estado pouco altera a trajetória da escola que 
existia nos tempos da Monarquia, continuando a priorizar o ensino secundário e superior e 
mantendo o princípio constitucional de que cabia aos Estados legislar sobre ensino primário. 
Observamos ainda que, a respeito da falta de prioridade em relação à educação básica, algumas 
poucas iniciativas foram tomadas durante a Primeira República (1889-1930), também chamada de 
República Velha, todas elas com caráter reformista, mas que pouco ou nada modificaram o 
panorama educacionalbrasileiro: Reforma Benjamim 
Constant (1891) Reforma Rivadávia Correia (1911), Reforma Carlos Maximiano (1915) e 
Reforma Luiz Alves Rocha Vaz (1925). 
A 1a Guerra Mundial (1914-1918) impôs a 'necessidade ao Brasil de produzir internamente 
produtos até então importados, acarretando com isso um relativo surto industrial e urbano. Em 
concernência com os novos tempos, a década de 20 será marcada por manifestações e iniciativas 
 10 
importantes que se constituirão em marcos históricos no processo de renovação cultural e 
intelectual. A Semana de Arte Moderna de 1922 e a fundação da Associação Brasileira de 
Educação em 1924 são exemplos de acontecimentos relevantes que demonstram o envolvimento 
da sociedade nas discussões sobre novos rumos para o país: No final dos anos 20, o entusiasmo 
pela educação e o otimismo pedagógico se completaram e se chocaram, desdobrando-se pela 
sociedade civil através das Conferências Brasileiras de Educação, promovidas pela Associação 
Brasileira de Educação (ABE). Enquanto no âmbito da sociedade política, a política educacional 
vigente tendeu a abandonar o entusiasmo pela educação e adotar o otimismo pedagógico, no 
âmbito da sociedade civil o nascimento da ABE (1924) retirou do Congresso Nacional o 
monopólio da discussão educacional, colaborando assim para o afloramento das contradições 
internas tanto do 'entusiasmo' quanto do 'otimismo' (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001, p. 19). 
Registramos, ainda, diversas iniciativas reformistas no campo educacional em vários estados da 
federação ao longo dos anos de 1920, tais como as "de São Paulo, por Sampaio Dória (1920), a do 
Ceará, por Lourenço Filho (1922), a do Distrito Federal, por Carneiro Leão (1922), a da Bahia, 
por Anísio Teixeira (1924), a do Rio Grande do Norte, por Bezerra de Meneses (1925), a do 
Paraná, por Lisímaco da Costa (1927)" (BUFFA, 1997, p. 61). 
Os efeitos práticos dessa década de grande agitação no campo cultural, intelectual e 
educacional poderão ser medidos a partir das décadas seguintes. Uma conjugação de fatores 
internos e externos colaboraram para a eclosão da Revolução de 1930 que encerrou o predomínio 
oligárquico no poder federal e marcou um rearranjo das classes dominantes que passaram a impor 
um novo modelo de Estado e de desenvolvimento econômico. 
Inicia-se, assim, o período histórico conhecido com Era Vargas caracterizado pela opção da 
industrialização fortemente ancorada pela intervenção estatal, processo que traz como 
conseqüência visível a urbanização. 
Na década de 1930 têm continuidade os debates intelectuais sobre os rumos da educação do 
Brasil culminando com o Manifesto dos Pioneiros da Educação em 1932, conjunto de propostas 
pedagógicas e de políticas educacionais de corte renovadora e porque não dizer, radicais para a 
época, que reuniu inúmeros educadores e intelectuais das mais diversas tendências ideológicas 
como Fernando Azevedo, Anísio Teixeira, Paschoal Lemme, Lourenço Filho entre tantos outros. 
Vale ressaltar que, nos debates em torno da educação promovido por educadores e intelectuais 
dos anos de 1920 e 1930 e que se prolongarão até os anos de 1960, havia muitas divergências 
entre as correntes de pensamento que se destacaram. Estas correntes de pensamentos são: liberais, 
católicos e vertentes mais à esquerda, cada uma tinha seu modo de pensar, e desenvolver projetos 
próprios de reforma educacional, não havendo, portanto, uma unanimidade em torno do tema. 
Ghiraldelli Jr. (2001), em seu estudo sobre a história da educação no Brasil, elenca três 
personalidades, nesse contexto dos anos 20-30, como ilustradores da diversidade de pensamento 
educacional: Anísio Teixeira, como pensador liberal, Fernando Azevedo como pensador 
positivista e Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde), como pensador católico: 
 
Para Anísio a escola deveria ser democrática, única, contrapeso aos males e desigualdades 
sociais •• provocados capitalista (p. 42). 
 
Para Fernando Azevedo a escola deveria ter um papel de formadora de elites, sendo que a 
educação apenas rearranjaria os indivíduos na sociedade de acordo com suas aptidões (p. 43). 
 
Alceu de Amoroso Lima (Tristão de Athaíde), já como intelectual porta-voz da posição católica 
e secretário da LEC (Liga Eleitoral Católica), tratou de. dar combate impiedoso aos liberais, 
escrevendo que o 'Manifesto', ao consagrar a escola pública obrigatória, gratuita e laica, retirava a 
educação das mãos família e destruía assim os princípios de liberdade de ensino (p. 43). 
 
As idéias e propostas desse debate foram parcialmente incorporadas pela Constituição de 1934 
e pela Reforma Francisco Campos em 1931. Assim, esses dois documentos oficiais constituíram-
se em paradigmas para a efetiva construção de um sistema educacional de âmbito nacional. A 
 11 
Carta de 34, por exemplo, estabelece princípios - educação como direito, obrigatoriedade e 
gratuidade do ensino primário -, e atribuições a União - assistência, controle e fiscalização. 
 
A Reforma Francisco Campos, por sua vez, amplia a competência da União ao promover a 
criação do Conselho Nacional de Educação, reorganizando, estruturando e normatizando o ensino 
secundário, ensino comercial e ensino superior. Data ainda desse período a inauguração do 
sistema universitário brasileiro com a criação da Universidade de São Paulo (USP) e organização 
da Universidade do Distrito Federal. Apesar dos novos rumos tomados pela educação no Brasil, 
percebemos mais uma vez a negligência do Estado para com o ensino primário. 
 
O radicalismo político na Europa dos anos de 1930 atinge seu apogeu opondo de um lado os 
grupos de esquerda ligados ao socialismo e ao comunismo e de outro os de direita simbolizados 
pelo Fascismo na Itália, pelo Nazismo na Alemanha e pelo Franquismo na Espanha. Esse clima de 
extremismos chega ao Brasil contagiando agrupamentos ligados ao comunismo - ANL e ao nazi-
fascismo - AIB. Diante desse quadro de radicalização, o governo Vargas fecha o regime, 
perpetrando um golpe de Estado em 1937. 
 
Uma nova carta constitucional foi imposta à nação de feições nitidamente autoritária e 
centralizadora que em termos educacionais manteve os princípios anteriormente previstos pela 
Carta de 34, atribuindo a maiores funções ao governo central. O Estado Novo, assim, estruturado 
em bases ditatoriais, vai utilizar como instrumento de política educacional as chamadas Reformas 
Capanema - conjunto de medidas capitaneadas pelo Ministro da Educação Gustavo Capanema 
que visavam dar maior consistência ao incipiente sistema educacional brasileiro. 
 
A Reforma Capanema, também, conhecida como Leis Orgânicas de Ensino, visava dar 
consistência estrutural ao sistema escolar brasileiro desde o ensino primário até o ensino superior, 
passando pelo ensino secundário, industrial, comercial, normal e agrícola. Além disso, em função 
das novas necessidades do capitalismo brasileiro, a qualificação da mão-de-obra torna-se uma 
imposição, contribuindo para a aproximação entre Estado e Indústria surgindo iniciativas como o 
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. 
 
A política educacional criada pelo regime autoritário do Estado Novo teve o mérito de tornar o 
sistema escolar brasileiro organicamente estruturado estabelecendo duração, currículos, exames e 
objetivos a serem alcançados conforme cada nível de ensino. A longo prazo, esse sistema 
educacional permaneceu como praticamente intacto até as reformas dos anos de 1970 introduzi 
das pela Ditadura Militar. Apesar disso, a ditadura varguista por conta de sua natureza autoritária 
silenciou na sociedade o debate profícuo em torno do Brasil e seus problemas e em especial em 
torno daeducação, debate este que vinha desde os anos de 1920: 
A política educacional estadonovista provocou sérias divisões no grupo dos escolanovistas. Os 
liberais igualitaristas, que tinham seu expoente máximo em Anísio Teixeira, se afastaram de 
compromissos ideológicos com o governo. Os liberais elitistas se dividiram; alguns, como 
Fernando de Azevedo, mantiveram uma certa distância da ditadura, outros, como Lourenço Filho, 
endossaram o novo regime e participaram dele (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2001, p. 93). 
Após O golpe militar de 1945 que pôs fim aos quinze anos da Era Vargas, o debate em torno do 
Brasil será retomado por uma nova geração de intelectuais, como Florestan Fernandes, Caio 
Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, criando um clima de efervescência até pelo menos o final 
dos anos de 1960. 
A queda de Vargas abriu caminho para um curto período de democracia, tendo como pano de 
fundo o contexto da Guerra Fria, ou seja, do embate entre capitalismo e comunismo, patrocinado 
por EUA e URSS, duas superpotências vitoriosas na 2a Guerra Mundial (1939-1945). A derrota 
da ideologia nazi-fascista na Europa deixou também suas vítimas no Brasil, entre elas, a própria 
ditadura do Estado Novo. 
Respirando os novos ventos da democracia, uma Assembléia Nacional Constituinte é 
convocada que conclui seus trabalhos em 1946 entregando uma nova Carta à nação. De caráter 
 12 
liberal a Constituição de 46, em termos educacionais, manteve os princípios gerais da 
Constituição de 1934, no tocante a obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, permitindo a 
coexistência da escola mantida pelo poder público e as escolas de iniciativa privada. Trouxe de 
inovação a incumbência da União em estabelecer as "diretrizes e bases da educação nacional". 
O projeto de lei que viria se constituir na LDB de 1961 transcorreu ao longo de treze anos no 
Congresso Nacional envolvendo defensores da escola pública, de um lado, e defensores da escola 
privada, de outro. Tal debate não ficou restrito ao ambiente parlamentar, ganhando grande 
repercussão na sociedade civil. Ao longo da década de 1960 diversas manifestações, convenções e 
campanhas da sociedade civil pautaram a luta em favor da escola pública. Florestan Fernandes, 
um dos grandes entusiastas dessa luta,em seu artigo em defesa da escola pública, afirmava à 
época: 
Os brasileiros têm pouco de que se orgulhar [... ] Há milhões de analfabetos no Brasil. Não 
temos uma boa escola primária; não dispomos de uma boa rede de ensino secundário, profissional 
e superior; não contamos com número suficiente de professores bem formados para todas essas 
escolas, etc. (FERNANDES, 1966, p. 387). 
Sancionada pelo presidente João Goulart, a LDB 4024/61, na realidade, já estava superada 
pelas necessidades educacionais da época, causando decepção em inúmeros setores da intelectual 
idade e dos educadores brasileiros. 
A LDB de 1961 reorganizou o sistema escolar em ensino prima no, ginasial e colegial; 
preservou princípios e objetivos de inspiração liberal e democrática e estipulou estruturas 
curriculares mínimas obrigatórias nacionais. Previa ainda a LDB de 1961 que caberia a União 
implementar um Plano Nacional de Educação que entrou em vigor em 1962, estabelecendo metas 
e objetivos a serem atingidas pelo governo num prazo de oito anos. Tais objetivos, no entanto, 
não foram alcançados devido ao golpe militar de março de 1964, interrompendo, assim, um breve 
interregno de democracia na história republicana do país. 
O clima de confronto ideológico e mobilização popular característico da "república populista" 
colocaram em risco os interesses das classes dominantes e grupos conservadores que, apoiados 
pela estratégia norte-americana de combater o "perigo do comunismo", optaram pelo golpe de 
Estado e pelo fechamento do regime político. De março de 1964 a março de 1985, o Brasil foi 
governado por presidentes-generais que construíram um Estado autoritário e antidemocrático e 
articulado com o capital nacional e as multinacionais. 
No campo da educação coube ao Regime Militar desmobilizar, inicialmente, os movimentos de 
estudantes e intelectuais, movimentos esses que havia desde o final do Estado Novo. Recai, 
portanto, sobre esses movimentos forte repressão do Estado, desarticulando as mobilizações e 
esvaziando as reivindicações. 
Por meio de legislação educacional autoritária, o Regime Militar impõe sua política de 
educação: em 1967 cria o Movimento Brasileiro de Alfabetização, sob o pretexto de combater o 
analfabetismo, mas que na realidade visava conter a experiência de mobilização popular iniciada 
por Paulo Freire no Nordeste no início dos anos 60, acusada pelo regime de "movimento 
subversivo". 
Em 1968, ano que marca a imposição do Ato Institucional (AI) nº 5, Decreto que justificou as 
práticas de violência do Estado, é anunciada as reformas do sistema universitário por meio da Lei 
5540/68, mais conhecida como acordos MEC-USAID (agência norte-americana para o 
desenvolvimento internacional). 
A reforma introduz uma reorganização tanto no aspecto acadêmico como administrativo das 
universidades, visando, fundamentalmente, atrelar as finalidades do ensino superior aos interesses 
de qualificação de mão-de-obra, tendo em vista os fortíssimos investimentos no setor industrial e 
de infra-estrutura do país, por parte do Estado e do capital estrangeiro. 
Em 1971 uma nova Lei de Diretrizes e Bases entra em vigor revogando a LDB de 1961. Nova 
estruturação ao sistema escolar é imposta passando a ser aglutinado em graus: 
1°. Grau (oito anos de duração, correspondendo ao antigo primário e ginásio), 2º. Grau (três 
anos de duração, correspondendo ao antigo colegial e compulsoriamente profissionalizante). 
 13 
Em termos curriculares são eliminadas disciplinas consideradas "ideológicas" como Filosofia, 
História e Geografia e em seus lugares são introduzidas Educação Moral e Cívica, Estudos 
Sociais e Organização Social Política e Econômica Brasileira. 
Toda a política educacional adotada pela Ditadura Militar tinha por objetivo desmobilizar 
estudantes e proporcionar uma educação extremamente acrítica embasada em práticas 
pedagógicas autoritárias e tradicionais ancoradas em um sistema de avaliação punitivo e que 
exigia dos alunos a memorização. Por fim, refletindo as características autoritárias do regime, a 
liberdade de ensino foi tolhida em todos os níveis, fato que refletiu na aposentadoria compulsória 
e no exílio de inúmeros professores. 
A partir da década de 1980, com o arrefecimento das disputas ideológicas da Guerra Fria e a 
reestruturação do sistema produtivo capitalista mundial que passa a ingressar em sua fase de 
globalização-neoliberal, observamos que, internamente, a Ditadura Militar começa a dar sinais de 
esgotamento. 
Pressionada interna e externamente por grupos favoráveis a políticas democráticas e de respeito 
aos direitos humanos, aos poucos, o regime - dentro de sua lógica de abertura gradual e segura - 
vai concedendo abertura para a sociedade civil que se reorganiza em partidos políticos, sindicatos 
e organizações estudantis. De tal forma que em março de 1985, o último presidente-general João 
Batista Figueiredo é substituído por um civil, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional, 
dando início a uma longa transição política. 
Em relação ao quadro da educação no Brasil do final do século 20 e início do século 21, o que 
temos é uma situação extremamente caótica. Praticamente metade da população é constituída de 
analfabetos e semiletrados", índices de evasão e reprovação escolar alarmantes, muitas crianças e 
jovens em idade escolar sem vagas no sistema público de ensino e outros tantos problemas 
envolvendo o sistema educacional brasileiro.Para fazer frente aos novos desafios impostos pela reestruturação do sistema capitalista, os 
governos da chamada Nova República (1985) passam a tomar iniciativas mais pontuais no campo 
da educação escolar. O ponto de partida nessa direção foi tomado pela Constituição de 1988. 
Nela, está consagrado o dever do Estado para com a educação, dever este compartilhado com a 
família e a sociedade; ficam estabelecidos princípios básicos de ensino fundamentados nos ideais 
liberais e democráticos; ficam previstos constitucionalmente os recursos financeiros para a 
educação estipulando percentuais mínimos de investimento para o poder público; ficam fixados 
conteúdos mínimos nacionalmente em termos de organização curricular. 
O passo seguinte foi à sanção de uma nova Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional 
- Lei Federal n. 9394/96 que representou um avanço expressivo no sentido de alcançar um sistema 
educacional tanto em termos qualitativos como quantitativos eficientes. Além de reestruturar os 
níveis de ensinos que são: ensino básico (infantil, fundamental, médio) e superior, prevê a 
obrigatoriedade do ensino fundamental e a gestão democrática das unidades escolares. 
As políticas educacionais dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva 
procuram implementar, na prática, os avanços previstos pela Constituição de 88 e da LDB de 96, 
procurando criar mecanismos efetivos para o cumprimento dos dispositivos legais. Para isso 
criaram fundos que visam manter na escola crianças e jovens oriundos de famílias mais 
necessitadas: o Fundef no governo FHC e o Fundeb no governo Lula. 
Uma conseqüência visível desse esforço recente do Estado brasileiro é possível de ser 
observado mediante dados oficiais: aumento crescente do número de matrículas no ensino 
fundamental e diminuição da evasão escolar. Isso, no entanto, não impede de reconhecer 
inúmeros problemas envolvendo a educação escolar brasileira, sobretudo, no que diz respeito ao 
desempenho qualitativo do processo de ensino-aprendizagem. 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A jornada é longa, para que a vençamos é necessário muita leitura e empenho de cada um de 
nós. 
Não fique só nas sugestões das aulas, vá para outros campos. Viaje na imaginação. 
Lembre-se, ninguém tropeça em uma montanha, pois todo mundo vê. Tropeçamos sim nas 
pequenas pedras. 
 14 
 
 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996. 
 
BUFFA, Ester & NOSELLA, Paolo. A educação negada: introdução ao estudo da educação 
brasileira contemporânea. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. 
 
FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus, 1966. 
 
GHIRALDELLI Jr., Paulo. História da educação. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2001. 
 
LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, José Ferreira de; TOSCHI, Mirza SEABRA. Educação 
escolar: políticas, estrutura e organização. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 
 
OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à sociologia da educação. 3. ed. São Paulo: Ática, 
1998. 
 
PILETTI, Nelson. História da educação no Brasil. 7. ed. São Paulo: Ática, 2006. 
 
RIBEIRO, Maria Luisa Santos Ribeiro. História da educação brasileira: a organização escolar. 
19 a. ed. Campinas: Autores Associados, 2003. 
 
STEPHANOU, Maria & BASTOS, Maria Helena Câmara (Orgs.). Histórias e memórias da 
educação no Brasil. séculos 16-18. Petrópolis: Vozes, 2004. v. 1. 
 
___ (Orgs.). Histórias e memórias da educação no Brasil século 19. Petrópolis: Vozes, 
2005. v. 2. 
 
VEIGA, Cynthia Greive. História da educação. São Paulo: Ática, 2007. 
 
 
Fonte de pesquisa e compilação – (Apostila do Prof. Ms.Rubens Arantes Correa) 
 
 
 
 15 
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
TEXTO DE MARIA LÚCIA ARRUDA ARANHA 
 
A pedagogia é a teoria crítica da educação, isto é, da ação do homem quando transmite ou modifica 
a herança cultural. A educação não é um fenômeno neutro, mas sofre os efeitos da ideologia, por estar 
de fato envolvida na política. 
 
Sociedades Tribais: a educação difusa 
 
Nas comunidades tribais as crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias 
e nas cerimônias dos rituais. As crianças aprendem "para a vida e por meio da vida", sem que alguém 
esteja especialmente destinado a tarefa de ensinar. 
Antigüidade Oriental: a educação tradicionalista 
Nas sociedades orientais, ao se criarem segmentos privilegiados, a população, composta por 
lavradores, comerciantes e artesãos, não tem direitos políticos nem acesso ao saber da classe 
dominante. A princípio o conhecimento da escrita é bastante restrito, devido ao seu caráter sagrado e 
esotérico. Tem início, então, o dualismo escolar, que destina um tipo de ensino para o povo e outro 
para os filhos dos funcionários. A grande massa é excluída da escola e restringida à educação familiar 
informal. 
Antigüidade Grega: a Paidéia 
 
A Grécia Clássica pode ser considerada o berço da pedagogia. A palavra paidagogos significa 
aquele que conduz a criança, no caso o escravo que acompanha a criança à escola. Com o tempo, o 
sentido se amplia para designar toda a teoria da educação. De modo geral, a educação grega está 
constantemente centrada na formação integral – corpo e espírito – mesmo que, de fato, a ênfase se 
deslocasse ora mais para o preparo esportivo ora para o debate intelectual, conforme a época ou lugar. 
Nos primeiro tempos, quando não existia a escrita, a educação é ministrada pela própria família, 
conforme a tradição religiosa. Apenas com o advento das póleis começam a aparecer as primeiras 
escolas, visando a atender a demanda. 
 
Antigüidade Romana: a humanitas 
 
De maneira geral, podemos distinguir três fases na educação romana: a latina original, de natureza 
patriarcal; depois, a influência do helenismo é criticada pelos defensores da tradição; por fim, dá-se a 
 16 
fusão entre a cultura romana e a helenística, que já supõe elementos orientas, mas nítida supremacia 
dos valores gregos. 
 
Idade Média: a formação do homem de fé 
 
Os parâmetros da educação na idade média se fundam na concepção do homem como criatura 
divina, de passagem pela Terra e que deve cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida 
eterna. Tendo em vista as possíveis contradições entre fé e razão, recomenda-se respeitar sempre o 
princípio da autoridade, que exige humildade para consultar os grandes sábios e intérpretes, 
autorizados pela igreja, sobre a leitura dos clássicos e dos textos sagrados. Evita-se, assim, a 
pluralidade de interpretações e se mantém a coesão da igreja. Predomina a visão teocêntrica, a de Deus 
como fundamento de toda a ação pedagógica e finalidade da formação do cristão. Quanto às técnicas 
de ensinar, a maneira de pensar rigorosa e formal cada vez mais determina os passos do trabalho 
escolar 
 
Renascimento: humanismo e reforma 
 
Educar torna-se questão de moda e uma exigência, segundo a nova concepção de homem. O 
aparecimento dos colégios, do século XVI até o XVIII, é fenômeno correlato ao surgimento de uma 
nova imagem da infância e da família. A meta da escola não se restringe à transmissão de 
conhecimentos, mas a formação moral. Essa sociedade, embora rejeite a autoridade dogmática da 
cultura eclesiástica medieval, mantém-se ainda fortemente hierarquizada: exclui dos propósitos 
educacionais a grande massa popular, com exceção dos reformadores protestantes, que agem por 
interesses religiosos 
 
Brasil: início da colonização e catequese 
 
A atividade missionária facilita sobremaneira a dominação metropolitana e, nessas circunstâncias, a 
educação assume papel de agente colonizador.Idade Moderna: a pedagogia realista 
De maneira geral as escolas continuam ministrando um ensino conservador, predominantemente nas 
mãos dos jesuítas. Além disso, é preciso reconhecer, está nascendo a escola tradicional, como 
passaremos a conhecê-la a partir do século XIX. 
O Brasil do séc. XVII 
 
 17 
Por se tratar de uma sociedade agrária e escravista, não há interesse pela educação elementar, daí a 
grande massa de iletrados. 
Século das Luzes: o ideal liberal de educação 
O iluminismo é um período muito rico em reflexões pedagógicas. Um de seus aspectos marcantes 
está na pedagogia política, centrada no esforço para tornar a escola leiga e função do Estado. Apesar 
dos projetos de estender a educação a todos os cidadãos, prevalece a diferença de ensino, ou seja, uma 
escola para o povo e outra para a burguesia. Essa dualidade era aceita com grande tranqüilidade, sem o 
temor de ferir o preceito de igualdade, tão caro aos ideais revolucionários. Afinal, para a doutrina 
liberal, o talento e a capacidade não são iguais, e portanto os homens não são iguais em riqueza 
 
O Brasil na era pombalina 
 
Persiste o panorama do analfabetismo e do ensino precário, agravado com a expulsão dos jesuítas e 
pela democracia da reforma pombalina. A educação está a deriva. Durante esse longo período do 
Brasil colônia, aumenta o fosso entre os letrados e a maioria da população analfabeta. 
 
Século XIX: a educação nacional 
 
É no séc. XIX que se concretizam, com a intervenção cada vez maior do Estado para estabelecer a 
escola elementar universal, leiga, gratuita e obrigatória. Enfatiza-se a relação entre educação e bem-
estar social, estabilidade, progresso e capacidade de transformação. Daí, o interesse pelo ensino 
técnico ou pela expansão das disciplinas científicas. 
Principais pedagogos: 
Pestalozzi – é considerado um dos defensores da escola popular extensiva a todos. Reconhece 
firmemente a função social do ensino, que não se acha restrito à formação do gentil-homem. 
 
Froebel – privilegia a atividade lúdica por perceber o significado funcional do jogo e do brinquedo 
para o desenvolvimento sensório-motor e inventa métodos para aperfeiçoar as habilidades. 
 
Herbart – segundo ele, a conduta pedagógica segue três procedimentos básicos: o governo, a instrução 
e a disciplina. 
 
Brasil: a educação no Império 
 
Ainda não há propriamente o que poderia ser chamada de uma pedagogia brasileira. É uma atuação 
irregular, fragmentária e quase nunca com resultados satisfatórios. O golpe de misericórdia que 
 18 
prejudicou de uma vez a educação brasileira vem de uma emenda à Constituição, o Ato adicional de 
1834. Essa reforma descentraliza o ensino, atribuindo à Coroa a função de promover e regulamentar o 
ensino superior, enquanto que as províncias são destinadas a escola elementar e a secundária. A 
educação da elite fica a cargo do poder central e a do povo confinada às províncias. 
 
Século XX: a educação para a democracia 
 
A pedagogia do século XX, além de ser tributária da psicologia, da sociologia e de outras como a 
economia, a lingüística, a antropologia, tem acentuado a exigência que vem desde a Idade moderna, 
qual seja, a inclusão da cultura científica como parte do conteúdo a ser ensinado. 
 
Sociologia: Durkheim 
 
Antes dele a teoria da educação era feita de forma predominantemente intelectualista, por demais 
presa a uma visão filosófica idealista e individualista. Durkheim introduz a atitude descritiva, voltada 
para o exame dos elementos do fato da educação, aos quais aplica o método científico. 
 
Psicologia: o behaviorismo 
 
O método dessa corrente privilegia os procedimentos que levam em conta a exterioridade do 
comportamento, o único considerado capaz de ser submetido a controle e experimentação objetivos. 
Suas experiências são ampliadas e aplicadas nos EUA por Watson e posteriormente por Skinner. O 
behaviorismo está nos pressupostos da orientação tecnicista da educação. 
 
Gestalt 
 
As aplicações das descobertas gestaltistas na educação são importantes por recusar o exercício 
mecânico no processo de aprendizagem. Apenas as situações que ocasionam experiências ricas e 
variadas levam o sujeito ao amadurecimento e à emergência do insight. 
 
Dewey e a escola progressiva 
 
O fim da educação não é formar a criança de acordo com modelos, nem orientá-la para uma ação 
futura, mas dar-lhe condições para que resolva por si própria os seus problemas. A educação 
progressiva consiste justamente no crescimento constante da vida, à medida que aumentamos o 
conteúdo da experiência e o controle que exercemos sobre ela. Ao contrário da educação tradicional, 
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que valoriza a obediência, Dewey estimula o espírito de iniciativa e independência, que leva à 
autonomia e ao autogoverno, virtudes de uma sociedade democrática. 
 
Realizações da escola nova 
 
Principais características da escola nova: 
Educação integral (intelectual, moral, física); educação ativa; educação prática, sendo obrigatórios 
os trabalhos manuais; exercícios de autonomia; vida no campo; internato; co-educação; ensino 
individualizado. Para tanto as atividades são centradas nos alunos, tendo em vista a estimulação da 
iniciativa. Escolas de métodos ativos: Montessori e Decroly Montessori estimula a atividade livre 
concentrada, com base no princípio da auto-educação. Decroly observa, de maneira pertinente, que, 
enquanto o adulto é capaz de analisar, separar o todo em partes, a criança tende para as representações 
globais, de conjunto. Resta lembrar outros riscos dessa proposta: o puerilismo ou pedocentrismo 
supervaloriza a criança e minimiza o papel do professor, quase omisso nas formas mais radicais do 
não-diretivismo; a preocupação excessiva com o psicológico intensifica o individualismo; a oposição 
ao autoritarismo da escola tradicional resulta em ausência de disciplina; a ênfase no processo faz 
descuidar da transmissão do conteúdo. 
 
Teoria socialista – Gramsci 
 
A educação proposta por ele está centrada no valor do trabalho e na tarefa de superar as dicotomias 
existentes entre o fazer e o pensar, entre cultura erudita e cultura popular. Teorias crítico-
reprodutivistas Por diversos caminhos chegaram a seguinte conclusão: a escola está de tal forma 
condicionada pela sociedade dividida que, ao invés de democratizar, reproduz as diferenças sociais, 
perpetuando o status quo. 
Teorias progressistas – Snyders Contra as pedagogias não-diretivas, defende o papel do professor, a 
quem atribui uma função política. Condena a proposta de desescolarização de Ivan Illich. Ressalta o 
caráter contraditório da escola, que pode desenvolver a contra-educação. 
 
Teorias antiautoritárias – Carl Rogers Visam antes de tudo colocar o aluno como centro do processo 
educativo, como sujeito, livrando-o do papel controlador do professor. O professor deve acompanhar o 
aluno sem dirigi-lo, o que significa dar condições para que ele desenvolva sua experiência e se 
estruture, por conta própria. O principal representante dessa teoria é Carl Rogers. Segundo ele, a 
própria relação entre as pessoas é que promove o crescimento de cada uma, ou seja, o ato educativo é 
essencialmente relacional e não individual. 
Escola tecnicista 
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Proposta consiste em: planejamento e organização racional da atividade pedagógica; 
operacionalização dos objetivos; parcelamento do trabalho, com especialização das funções; ensino 
por computador, telensino, procurando tornar a aprendizagem mais objetiva. 
 
Teorias construtivistas 
Piaget – segundo ele, à medida que a influência do meio altera o equilíbrio, a inteligência, que 
exerce função adaptativa por excelência,restabelece a auto-regulação. 
Vygotshy - Ao analisar os fenômenos da linguagem e do pensamento, busca compreendê-los dentro 
do processo sócio-histórico como "internalização das atividades socialmente enraizadas e 
historicamente desenvolvidas". Portanto, a relação entre o sujeito que conhece e o mundo conhecido 
não é direta, mas se faz por mediação dos sistemas simbólicos. 
 
Brasil no século XX: o desafio da educação 
Nesse contexto, os educadores da escola nova introduzem o pensamento liberal democrático, 
defendendo a escola pública para todos, a fim de se alcançar uma sociedade igualitária e sem 
privilégios. Podemos dizer que Paulo Freire é um dos grandes pedagogos da atualidade, não só no 
Brasil, mas também no mundo. Ele se embasa em uma teologia libertadora, preocupada com o 
contraste entre a pobreza e a riqueza que resulta privilégios. Em sua obra Pedagogia do Oprimido faz 
uma abordagem dialética da realidade, cujos determinantes se encontram nos fatores econômicos, 
políticos e sociais. Considera que o conhecer não pode ser um ato de "doação" do educador ao 
educando, mas um processo que se estabelece no contato do homem com o mundo vivido. E este não é 
estático, mas dinâmico, em contínua transformação. Na educação autêntica, é superada a relação 
vertical entre educador e educando e instaurada a relação dialógica. Paulo Freire defende a autogestão 
pedagógica, o professor é um animador do processo, evitando as formas de autoritarismo que 
costumam minar a relação pedagógica. Na década de 70 destaca-se a produção teórica dos críticos-
reprodutivistas, que desfazem as ilusões da escola como veículo da democratização. Com a difusão 
dessas teorias no Brasil, diversos autores se empenham em fazer a reeleitura do nosso fracasso escolar. 
A tarefa da pedagogia histórico-crítica se insere na tentativa de reverter o quadro de desorganização 
que torna uma escola excludente, com altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e, portanto, 
de seletividade. Para Saviani, tanto as pedagogias tradicionais como a escola nova e a pedagogia 
tecnicista são, portanto, não-críticas, no sentido de não perceberem o comprometimento político e 
ideológico que a escola sempre teve com a classe dominante. Já a partir de 70, começam a ser 
discutidos os determinantes sociais, isto é, a maneira pela qual a estrutura sócio-econômica condiciona 
a educação. O trunfo de se tornar um dos países mais ricos contrasta com o fato de ser um triste 
recordista em concentração de renda, com efeitos sociais perversos: conflitos com os sem-terra, os 
sem-teto, infância abandonada, morticínio nas prisões, nos campos, nos grandes centros. Persiste na 
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educação uma grande defasagem entre o Brasil e os países desenvolvidos, porque a população não 
recebeu até agora um ensino fundamental de qualidade. 
A Educação no Terceiro Milênio 
A explosão dos negócios mundiais, acompanhada pelo avanço tecnológico da crescente robotização 
e automação das empresas, nos faz antever profundas modificações no trabalho e, conseqüentemente, 
na educação. Na tentativa de incorporar os novos recursos, no entanto, a escola nem sempre tem obtido 
sucesso porque, muitas vezes, apenas adquire as novas máquinas sem, no entanto, conseguir alterar a 
tradição das aulas acadêmicas. Diante das transformações vertiginosas da alta tecnologia, que muda 
em pouco tempo os produtos e a maneira de produzi-los, criando umas profissões e extinguindo outras. 
Daí a necessidade de uma educação permanente, que permita a continuidade dos estudos, e portanto de 
acesso às informações, mediante uma autoformação controlada. 
Bibliografia 
ARANHA, Maria Lúcia Arruda. 
Disponível em-http://www.artigos.com/artigos/humanas/educacao/historia-da-educacao-310/artigo/ 
 
 22 
UM BREVE PASSEIO PELA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO 
Um texto de Emilio Gennari 
Disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/029/29cgennari.htm 
Para começar a nossa conversa, não há nada melhor do que mergulhar no mar da história. Vamos 
voltar ao passado e, pela precisão, ao antigo Egito. Como toda sociedade que produz riquezas a partir 
da exploração da maioria dos seus habitantes, percebemos logo que o saber não é democratizado e que 
cada setor só tem acesso a um determinado tipo de educação. 
Em grandes linhas, podemos dizer que no antigo Egito existem quatro grupos de pessoas que 
recebem um ensino diferenciado: o faraó e os senhores da corte, os escribas e todos aqueles que se 
dedicam às funções administrativas, os artesãos e, por último, os escravos. Cerca de 2.600 anos antes 
de Cristo, os filhos do faraó, seus futuros conselheiros e os nobres do Egito são educados para dominar 
a arte da palavra. Ao falar da instrução a eles destinada Ptahotep escreve: 
“Se a sua boca procede com palavras indignas, tu deves domá-lo em sua boca, inteiramente... A 
palavra é mais difícil do que qualquer trabalho, e seu conhecedor é aquele que sabe usá-la a propósito. 
São artistas aqueles que falam no conselho... Reparem todos que são eles que aplacam a multidão e 
que sem eles não se consegue nenhuma riqueza”. (Citado in: MANACORDA, 1996: 14) 
Em português claro, para comandar e pôr ordem na sociedade é imprescindível dominar a arte da 
palavra. Não é pra menos. É indispensável saber falar em público tanto para intervir nos conselhos 
restritos do poder, como para passar uma lábia na multidão, acalmar seus ânimos, justificar a repressão 
dos descontentes e reafirmar os valores dominantes como os únicos capazes de organizar a sociedade. 
Mas a sociedade muda e força o ensino destinado aos faraós a adaptar-se às mudanças. Lá pelo ano 
2.000 antes de Cristo os nobres do Egito conquistam a possibilidade de governar suas regiões num 
regime de maior autonomia em relação ao poder do faraó. O país é dividido em feudos e começa um 
período de desordem e agitação social. É neste contexto que o ensino destinado às elites incorpora uma 
formação mais aprimorada do homem político e a educação física como parte da preparação necessária 
para eventuais enfrentamentos nos campos de batalha. 
É interessante reparar que o círculo dos nobres e da família do faraó não se preocupa em ensinar a 
seus filhos a escrever. Acontece que, nesta época, a escrita é apenas um instrumento que permite 
registrar os atos oficiais e administrativos. Por isso, a tarefa de escrever é deixada aos escribas que, em 
geral, aprendem esta arte com os pais. Além da escrita, as relações que se desenvolvem no interior dos 
círculos do poder impõem que o ensino destinado a estas pessoas incorpore o aprendizado de um 
profundo sentimento de obediência e submissão. Neste sentido, Amenemope escreve: 
“Quando erras perante o teu superior e teus discursos ficam desconexos, tuas adulações serão 
retribuídas com afrontas e tuas lisonjas com pancadas. Diga a verdade perante o nobre, para que não se 
torne dono de tua cabeça. Não escute as conversas de um magnata na sua casa e não as espalhes fora 
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para outros. Não ofendas a quem é maior do que tu. Deixa que ele te bata enquanto a tua mão fica 
sobre o peito; deixa que ele te ofenda enquanto a tua boca cala: amanhã se estiveres na frente dele, te 
dará pão à vontade. O cão late para quem lhe dá pão, pois ele é o seu dono”. (Citado in id: 36) 
No que diz respeito à instrução dos artesãos e das massas populares, Diadoro da Sicília nos traz uma 
informação razoavelmente confiável: 
“O resto da multidão dos egípcios aprende dos pais e dos parentes, desde a idade infantil, os ofícios 
que exercerá na sua vida. Ensinam a ler e a escrever um pouquinho, não a todos, mas àqueles que se 
dedicam a um ofício”. (Citado in id.: 39) 
É fundamental que você saiba que este “resto da multidão”, ao qual se ensinam as noções 
necessáriaspara o exercício da profissão e para os contatos sociais que ela supõe, não inclui a massa 
dos escravos. Para além da concepção de mundo assimilada no interior do clã ou do seu grupo social, o 
escravo terá o capataz como seu professor e o chicote como único recurso pedagógico que lhe ensinará 
com o sangue a trilhar o duro caminho da submissão e da dor. 
Você já deve ter percebido que no antigo Egito, como em toda sociedade dividida em classes, os 
grupos dominantes usam o processo educativo como um meio para moldar as várias camadas da 
população. Assim como o oleiro dá forma ao barro para que ele se transforme num determinado 
objeto, as elites se preocupam em formar cada setor da sociedade de acordo com a necessidade de 
garantir a exploração e a ordem que proporciona a concretização de seus interesses. Em outras 
palavras, na civilização egípcia já podemos visualizar uma característica que vai se manter constante 
ao longo da história: há sempre uma relação direta entre o tipo de educação e a posição que o 
indivíduo ocupa na pirâmide social. 
Em Roma antiga, as coisas não são muito diferentes. Lá, o primeiro educador é o “pater familiae”. 
Desde a fundação da cidade, a autonomia da educação paterna é uma lei do Estado pela qual o pai é 
dono e artífice de seus filhos. A antiga monarquia romana, de fato, é uma república constituída pelos 
proprietários das terras e dos núcleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os 
escravos, os animais e qualquer outro bem. O pai-proprietário (pater) exerce sobre eles um poder 
soberano que, entre outras coisas, lhe permite matar os filhos anormais, prender, flagelar, condenar aos 
trabalhos agrícolas forçados, vender ou matar os filhos rebeldes, mesmo quando, já adultos, estes 
ocupam cargos públicos. 
A educação no seio dessa família visa, basicamente, o ensino das letras, do direito, o domínio da 
retórica e das condições para desempenhar as atividades políticas, típicas das classes dominantes. 
Ainda que o desenvolvimento histórico imponha mudanças nos costumes e nas instituições que se 
dedicam à educação dos jovens, a organização do Estado romano impede o livre acesso do povo 
simples à arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a 
capacitação de um grupo restrito de indivíduos, como burocratas, no poder do Estado. 
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Neste contexto, feita exceção pela agricultura que é um aspecto e uma fonte de domínio do pai-
proprietário, todas as atividades produtivas são consideradas indignas de um homem livre. Exercidas 
pelos escravos ou pelos estrangeiros que migram para Roma, seu ensino é reservado aos membros 
dessas classes sociais. À diferença da situação que encontramos no Egito, em Roma nos deparamos 
com a necessidade de fazer com que os conhecimentos e as habilidades de algumas profissões sejam 
ensinados em escolas. Trata-se de um costume que os patrões “mais empreendedores” praticam para 
melhor explorar o trabalho servil. Além de formarem escravos mais qualificados para serem 
empregados em suas propriedades, as “escolas profissionalizantes” da época permitiam utilizar o 
ensino como investimento “de capital” na medida em que possibilitava vender ou alugar os mesmos 
escravos a um preço bem mais alto. 
Se é verdade que, ao longo dos séculos, as descobertas da ciência e da técnica impõem mudanças 
aos processos de aprendizagem, é também verdade que cada passo do desenvolvimento histórico 
impõe a necessidade de resolver o velho problema de como e quanto instruir quem é destinado não aos 
círculos do poder e sim à produção. Um documento do início de 1400 (época em que já temos uma 
burguesia urbana no interior da sociedade feudal) nos ajuda a perceber melhor quanto acabamos de 
afirmar: 
“Messer Giannozo Manetti nasceu no ano de 1393... O pai... , Bernardo, mandou-o, ainda de poucos 
anos, segundo o costume da cidade, a aprender a ler e a escrever; tendo aprendido em pouco tempo 
quanto é necessário para ser um bom mercador, passou-o para o ábaco e em poucos meses tornou-se 
tão douto naquela ciência quanto um profissional da mesma. Aos dez anos foi posto no banco e em 
poucos meses lhe foi entregue a conta do caixa. Depois que, conforme o costume, ficou algum tempo 
no caixa, foram-lhe entregues os livros e ele dedicou-se a este trabalho por vários anos. Feito isso, 
começou a pensar consigo mesmo se seria possível ele conquistar fama ou glória para si e para a sua 
família com aquilo que estava fazendo, mas não viu essa possibilidade e chegou à conclusão de que o 
único meio para tanto era o estudo das letras: e por isso determinou absolutamente de, posposta 
qualquer outra preocupação, dedicar-se a esses estudos.” (Citado in id.: 171) 
A preparação escolar de Messer Giannozzo é feita em vista do exercício de sua profissão. Ele 
aprende gramática, letras e cálculo de acordo com um conjunto de noções básicas que um bom 
comerciante deve dominar, mas ainda trata-se de uma formação técnica substancialmente diferenciada 
daquela que se dirige a quantos se preparam para o exercício do poder. 
As coisas não mudam mesmo sob o impulso dos ideais da Revolução Francesa. Os defensores de 
uma educação pública e universal fazem questão de reafirmar que o esforço de estender a instrução 
escolar a todos os cidadãos não significa que ela tenha que ser igual para todos. Em 1809, por 
exemplo, Murat escreve: 
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“É necessário que exista uma instrução para todos, uma para muitos e uma para poucos. A primeira 
não deve fazer do povo tantos sábios, mas deve instruí-lo tanto quanto basta para que possa tirar 
proveito dos sábios”. (Citado in id.: 256) 
Se considerarmos o fato de que os sábios são os intelectuais a serviço da ordem, podemos 
tranqüilamente concluir que se trata de um aprendizado cujo objetivo central é garantir as condições 
mínimas para que as classes trabalhadoras possam assimilar de maneira confiável a visão de mundo, as 
convicções e os valores dos grupos dominantes. Apesar de estarem empunhando a bandeira da 
“liberdade, igualdade e fraternidade” e cantarem a marselhesa, os novos tubarões vão levantando 
novas e mais aprimoradas cercas. 
Uma preocupação deste tipo já havia sido explicitada em 1803 pelo industrial e economista francês 
Jean Baptiste Say. Suas observações indicavam que a ignorância e os efeitos da divisão do trabalho 
produzem apenas operários e operárias que se orientam somente por seus instintos “egoístas” e 
imediatos, ou seja, são pessoas incapazes de “sentimentos e convicções cívicas” indispensáveis para 
manter suas ações nos limites da ordem. Para ele, um trabalhador embrutecido pela repetição e 
simplicidade de suas tarefas, dificilmente é capaz de conceber “relações gerais, sentimentos nobres” 
como, por exemplo, a compreensão de que “o respeito pela propriedade privada favorece a 
prosperidade pública”. Say encerra seu raciocínio com uma indagação que dispensa comentários: 
“Como se poderia dar a eles o grau de instrução que julgamos necessária para o bem estar da ordem 
social?” 
A esta altura, espero que você já não tenha dúvidas quanto ao fato de que a educação numa 
sociedade dividida em classes não se manifesta como um fim em si mesmo, e sim como um 
instrumento de manutenção ou transformação de uma determinada ordem social. Orientada pelas 
elites, a escola não tem apenas a tarefa de preparar os indivíduos para um determinado tipo de 
trabalho, mas também a de fazer com que eles incorporem valores, idéias, critérios de análise da 
realidade e formas de comportamento capazes de garantir que as coisas até mudem... para que o 
essencial (a exploração) possa continuar. Por isso, para a própria classe dominante, é importante que 
todos freqüentem as salas de aula e que a educação

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