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Aceitação da Herança: Conceito e Espécies

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4. A ACEITAÇÃO DA HERANÇA
Conceito. Espécies de aceitação. Natureza jurídica da aceitação. Irretratabilidade da aceitação. Anulação da aceitação
 4.1. Conceito
Com a abertura da sucessão, ocorre desde logo, a transmissão da posse e propriedade da herança aos herdeiros legítimos e testamentários. No entanto, faz-se necessária a sua aceitação. Todo herdeiro tem o poder de aceitar ou rejeitar a herança, manifestando livremente a sua vontade.
 A aceitação ou adição da herança consiste no ato pelo qual o herdeiro expressa a sua concordância quanto à transmissão dos bens do de cujus, ocorrida por lei com a abertura da sucessão. A aceitação representa a anuência do beneficiário em receber a herança, segundo a faculdade conferida em lei de deliberar se aceita ou não a herança transmitida. A doutrina denomina este momento de fase de deliberação.
Aqueles a quem por direito o patrimônio do falecido é transmitido, no todo ou em parte, pela aceitação, expõem sua intenção de receber os bens, assumir sua administração e cumprir os encargos pertinentes.
A aceitação consiste em negócio jurídico unilateral, porque se completa com a emissão da vontade do herdeiro e, sendo ato negocial, produz o efeito jurídico da aquisição hereditária.
Doutrinariamente costuma-se identificar 3 fases ou 3 momentos, que são:
a) A abertura da sucessão, como fenômeno fático provoca a transmissão abstrata do acervo hereditário;
b) A delação da herança, simultânea e decorrente da abertura da sucessão, como conceito jurídico que consiste no oferecimento do patrimônio do falecido aos herdeiros;
c) A aquisição, como fato jurídico de ingresso dos bens no patrimônio dos herdeiros em razão de sua manifestação de vontade mediante a qual a herança já deferida é aceita.
A aceitação, assim, confirma o direito que o óbito do falecido conferiu a seus herdeiros, encerrando a situação de pendência criada com a abertura da sucessão. No Código Civil esta idéia é manifestada no art. 1804, que dispõe: “Aceita a herança, torna-se definitiva a sua transmissão ao herdeiro, desde a abertura da sucessão”.
A aceitação, portanto, tem efeito retrooperante, na medida em que os direitos não nascem com ela, mas retroagem, automaticamente e ex vi legis, à data do falecimento do autor da herança. A aceitação é exigida tanto do herdeiro, quanto do legatário.
4.2. Espécies de aceitação
 4.2.1 Quanto à forma
A aceitação pode ser expressa ou tácita, conforme dispõe o art. 1805 do Código Civil, podendo, ainda, ser presumida ou ficta.
a) Aceitação expressa é a decorrente de uma declaração escrita. O herdeiro, explicitamente, declara aceitar a herança. É a manifestada mediante declaração escrita. Nesta forma de aceitação o herdeiro assume inequivocamente seu título ou qualificação.
b) Aceitação tácita é aquela resultante da prática pelo herdeiro de atos compatíveis com a sua condição hereditária, ou seja, o exercício de ações próprias de herdeiros. Decorre de qualquer ato que demonstre a intenção de receber a herança. Pode ser a intervenção no inventário (através de advogado) concordando com as primeiras declarações, a própria propositura da ação, a cobrança de dívidas do espólio, a cessão de seus direitos a outrem.
Não são percebidos como atos de aceitação tácita aqueles destinados unicamente à conservação dos bens, tais como a realização de benfeitorias necessárias. Igualmente não configura aceitação a cessão pura e simples a título gracioso aos demais herdeiros. (art. 1805, parágrafos 1º. e 2º.).
c) Aceitação presumida ou ficta é a que acontece quando algum interessado requer ao juiz, depois de 20 dias da abertura da sucessão, que notifique o herdeiro para que se manifeste, concedendo prazo razoável, não maior que 30 dias, para dentro deste prazo se pronunciar, “sob pena de se haver a herança aceita”, conforme define o 1807. Ou seja, decorrido o prazo, o silêncio será visto como aceitação. Este prazo é chamado de direito de deliberar.
A lei não estabelece prazo para a aceitação; contudo, segundo o art. 205 do Código Civil, este prazo é de 10 anos (prazo comum da prescrição), ocasião em que cessa o ius deliberandi, extinguindo-se a faculdade de optar.
4.2.2. Quanto ao agente - A aceitação pode ser direta ou indireta.
a) A Aceitação é direta quando provém dos próprios herdeiros.
b) Indireta, quando alguém o faz por eles, o que acontece em quatro hipóteses:
 b.1- Aceitação pelos sucessores. Morrendo o herdeiro sem declarar que aceita ou não a herança, a faculdade passa a seus herdeiros, valendo a declaração destes como se daquele partisse (art. 1809). Trata-se da sucessão hereditária do direito de aceitar, segundo o entendimento de que o herdeiro morre na posse de um direito antes de aceitá-lo, e como este direito faz parte de seu patrimônio, será, como os demais direitos, transmissível por sucessão hereditária. Aos herdeiros, junto com os direitos sucessórios, transmite-se o prazo para deliberar.
Exemplo: A morre deixando 2 filhos: B e C. O filho B morre logo depois do pai, sem ter tido a oportunidade de aceitar a herança deixada por A. Porém, B deixou um filho, D, que é, portanto, neto de A. Neste caso, D poderá aceitar a herança do avô, consoante a sucessão hereditária do direito de aceitar. Isto acontece porque a morte do herdeiro antes da aceitação impede a transferência a seus sucessores, motivo pelo qual é transferido a estes sucessores o direito de aceitar a herança. 
 b.2 - Aceitação por mandatário e por gestor de negócios. O mandatário pode aceitar a herança, sem qualquer dúvida na doutrina. No entanto, quanto ao gestor de negócios, existem controvérsias. Prevalecendo o argumento histórico, deve ser aceita, conforme ocorria no Direito Romano. O objetivo é que o gestor possa aceitar a herança para evitar prejuízo ao herdeiro. Esta hipótese estará presente quando a não-aceitação imediata possa prejudicar o herdeiro, caso não aconteça a aceitação no prazo de deliberação conferido em lei.
A intervenção do gestor é, assim, motivada por necessidade, ou por utilidade, com a intenção de beneficiar o dono. A gestão de negócios ocorre quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na administração de negócio alheio, agindo segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, conforme dispõe o art. 861 do Código Civil; “Aquele que, sem autorização do interessado, intervém na gestão de negócio alheio, dirigi-lo-á segundo o interesse e a vontade presumível de seu dono, ficando responsável a este e às pessoas com quem tratar.”
 b.3 - Aceitação por credores. Esta forma de aceitação ocorre quando o herdeiro prejudica os seus credores renunciando à herança. O art. 1813 afasta a possibilidade de haver renúncia lesiva a estes. Caso aconteça, podem os credores aceitar a herança em nome do renunciante, nos autos do inventário não encerrado. O prazo é de 30 dias após o conhecimento da renúncia. Para tanto deve haver autorização judicial (art.1017 do CPC, c/c art. 1022), sendo os credores aquinhoadas por ocasião da partilha. Havendo saldo, este deverá ser entregue aos demais herdeiros e não ao herdeiro renunciante. 
Os credores só poderão se beneficiar até o montante de seus créditos. Neste sentido, se houver saldo remanescente após o pagamento, este será destinado aos herdeiros a quem a renúncia beneficia (arts. 1810 e 1811)
Se o processo já tiver sido encerrado, ou já tiver decorrido o prazo de 30 dias seguintes ao conhecimento da renúncia, qualquer direito poderá ser reclamado através de ação pauliana, disciplinada nos artigos 158 a 162 do Código Civil
A ação pauliana consiste em ação pessoal interposta por credores com o objetivo de anular negócio jurídico feito por devedores insolventes com bens que seriam usados para o pagamento de uma dívida em ação de execução. Pode ser ajuizada sem necessidade de ação de execução anterior.
Os herdeiros que haviam sido beneficiados com a renúncia podem se insurgir contra a habilitação de credores, requerendo ao juiz quenão seja esta habilitação aceita. Para isto podem alegar a existência de outros recursos, ou alegar outra matéria que, por exigir a produção de provas, seja considerada de alta indagação, para que o juiz determine que seja ela resolvida pelas vias ordinárias.
Questão de alta indagação é aquela em que aparecem elementos de fato que demandam produção de provas e exigiria um processo à parte, com rito próprio, conforme disciplinado no art. 984 do CPC.
 b.4 - Aceitação por tutor ou curador de heranças, legados ou doações, representando o incapaz, mediante autorização judicial (art. 1748, II e art. 1781 do Código Civil).
4.3. Natureza jurídica da aceitação
A aceitação ou adição consiste em negócio unilateral e simples porque se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade. Não depende de confirmação de ninguém e não comporta qualquer modalidade, como o termo ou a condição; nem admite que o herdeiro aceitante pretenda uma parte apenas dos bens que lhe cabem por direito. É o que estabelece o art. 1808 do Código Civil: ”Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição ou a termo”.
A aceitação é, portanto, indivisível e incondicional. Neste sentido, o herdeiro que aceita a herança continua a posse do de cujus, sub-rogando-se em seus direitos e obrigações. Não se admite que o herdeiro aceite apenas uma parte dos bens, excluindo outros.
 Porém, se o herdeiro é também legatário, pode aceitar a herança e rejeitar o legado; ou vice-versa. É o que define o parágrafo 1º do art. 1808: “O herdeiro a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando à herança; ou aceitando-a, repudiá-los”. Neste caso, não se trata de exceção à indivisibilidade da aceitação porque diz respeito à hipótese de alguém suceder simultaneamente a dois títulos: a título universal, como herdeiro, e a título singular, como legatário. A herança e o legado não se confundem e, por isso, pode-se aceitar um e rejeitar outro, podendo, assim, o herdeiro deliberar quanto aos quinhões que aceita e aqueles a que renuncia. 
O parágrafo 2º do mesmo artigo 1808 abre uma exceção à indivisibilidade da aceitação da herança permitindo ao herdeiro chamado na mesma sucessão a mais de um quinhão hereditário, sob títulos diversos, delibere quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia. Não se trata de aceitação parcial porque são diversas as origens dos títulos. Neste sentido, o herdeiro legítimo a quem o testador houver atribuído herança testamentária, poderá repudiar esta última e aceitar apenas o que lhe for devolvido em virtude da lei; ao contrário, poderá aceitar aquilo que o testador lhe deixou por disposição de última vontade, e renunciar ao quinhão que lhe foi destinado como herdeiro legítimo. Ou seja, nada impede que alguém aceite a herança na qualidade de herdeiro legítimo e renuncie a que se lhe atribui na qualidade de herdeiro testamentário. Segundo o texto legal: “O herdeiro chamado na mesma sucessão, a mais de um quinhão hereditário sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia.”
4.4. Irretratabilidade da aceitação
O art. 1812 do Código Civil estabelece serem irrevogáveis tanto a aceitação quanto a renúncia da herança. A necessidade de segurança jurídica e seriedade nestas relações orientaram o legislador de 2002 a incluir este dispositivo no Código. Este artigo apresenta-se coerente com o disposto no art. 1804 que estabelece que, aceita a herança, sua transmissão ao herdeiro se torna definitiva, desde a abertura da sucessão. A aceitação produz efeitos imediatos e definitivos, não podendo o herdeiro arrepender-se.
Para Maria Berenice Dias, apesar da definição legal, irrevogável é a renúncia, e não a aceitação, na medida em que, consoante a transmissão imediata da herança por ocasião da abertura da sucessão, não há porque atribuir ao herdeiro a faculdade de aceitar a herança. Diante deste entendimento, não há necessidade de ato confirmatório do herdeiro. 
4.5. Anulação da aceitação
Embora irrevogável, a aceitação poderá ser anulada, caso se verifique que o aceitante não é herdeiro (como por exemplo, no caso de ser chamado um ascendente e se verificar, posteriormente, a existência de descendente vivo), ou quando se verifique que um testamento absorve a totalidade da herança, na falta de herdeiros necessários. Neste caso, sendo a aceitação declarada ineficaz, a herança passa àquele a quem regularmente se defere, como se não tivesse havido aceitação. Porém, se o inventário já tiver sido encerrado e homologada a partilha, o interessado somente poderá reivindicar o que lhe cabe mediante ação de petição de herança.
A possibilidade de anulação da aceitação não se encontra explicitamente disciplinada no Código, tratando-se de entendimento doutrinário. Todavia, este entendimento não é unânime. Para Maria Berenice Dias, por exemplo, no caso de ser aceita a herança por quem não é herdeiro, como no exemplo acima citado, sequer ocorre a transmissão da herança, não sendo possível alguém aceitar algo que não lhe pertence. No exemplo mencionado, o ascendente não passa de um herdeiro aparente porque “de herdeiro nada tem”. (ver “ Manual das Sucessões”, p. 185).

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