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Renúncia da Herança: Conceito, Características e Espécies

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5. RENÚNCIA DA HERANÇA
 Conceito. Características. Espécies de renúncia. Requisitos. Efeitos. Irretratabilidade da renúncia. Ineficácia e invalidade.
	
5.1. Conceito de renúncia
A renúncia consiste em negócio jurídico unilateral mediante o qual o herdeiro declara a sua intenção de se demitir desta qualidade. O herdeiro não é obrigado a receber a herança e nesta faculdade de recusá-la se situa a renúncia ou repúdio. Segundo Itabaiana de Oliveira, a renúncia “é o ato formal pelo qual o herdeiro declara, expressamente, que a não quer aceitar, preferindo conservar-se completamente estranho à sucessão”.
A renúncia é ato formal, podendo ser realizada por instrumento público ou por termo nos autos, segundo o art. 1806 do Código Civil. Trata-se, portanto, de ato solene, pois sua validade depende da forma prescrita em lei. Consiste em ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro declara expressamente que não aceita a herança a que tem direito, não havendo qualquer necessidade de manifestação de vontade de outro herdeiro. Por outro lado, não é exigida motivação para a renúncia, além de não comportar condição ou termo. 
5.2. Características
a) Unilateralidade: não depende da vontade de outros herdeiros;
b) Abstratividade: não se exige motivação;
c) Indivisibilidade: a renúncia diz respeito à herança como um todo;
d) Ato jurídico puro: não comporta condição ou termo;
e) Gratuidade: não se permite algum tipo de compensação ou pagamento;
f) Efeito retroativo: tem validade a partir da abertura da sucessão;
g) Formalismo: deve ser manifestada segundo a forma prevista em lei, ou seja, por termo nos autos ou por escritura pública.
5.3. Espécies de renúncia
Diferentemente da aceitação, a renúncia não pode ser tácita, nem presumida, devendo obedecer à forma prevista em lei. A renúncia pode ser abdicativa e translativa.
 - Abdicativa, ou propriamente dita é aquela que o herdeiro manifesta sem ter praticado qualquer ato, logo no início do inventário. Deve ser pura e simples, ou seja, em benefício do monte, sem indicar qualquer favorecido. Após realizada, retroage à abertura da sucessão, sendo o renunciante tratado como se nunca a ela tivesse sido chamado. Renuncia abdicativa é a não aceitação da herança. Para Zeno Veloso, a renúncia é sempre abdicativa, na medida em que consiste em negócio jurídico unilateral, tratando-se de “uma demissão do direito”. O herdeiro simplesmente se afasta do inventário, sem nada receber.
 - Translativa: Quando o herdeiro renuncia em favor de outra pessoa, está praticando uma dupla ação: aceita, tacitamente a herança, para em seguida doá-la. Para alguns autores, neste caso não se trata de renúncia, mas de uma cessão ou desistência da herança. Segundo este entendimento, a tranferência do quinhão hereditário para uma determinada pessoa não é renúncia e sim cessão.
 Para outros autores, trata-se de renúncia translativa, que pode ocorrer, também, mesmo quando pura e simples e se manifesta depois da prática de atos que importem em aceitação, como por exemplo, a habilitação no inventário, a manifestação sobre a avaliação, sobre as primeiras declarações, etc.
Diferença importante entre as duas modalidades de renúncia se expressa no imposto a ser pago. Na renúncia abdicativa, o único imposto devido é o causa mortis, ao passo que na translativa é também devido o imposto inter vivos. 
A renúncia translativa ocorre na situação exemplificada por Sílvio Rodrigues: “O filho declara que renuncia à herança paterna em favor de seus filhos, de modo que um receba o dobro do outro, estamos diante da chamada renúncia translativa ou imprópria, que na verdade não é renúncia, mas cessão de direitos; presume-se que o filho aceitou a herança e que a transmitiu, por ato entre vivos, a seus filhos. Há imposto sobre duas transmissões: uma causa mortis, do defunto a seu filho; outra, deste aos donatários”.
Há o entendimento de que, se um filho abdica incondicionalmente a sua parte na herança deixada pelo pai, diante da lei, é como se ele nunca tivesse sido herdeiro e, neste sentido, seus filhos (netos do falecido) são chamados a suceder diretamente do avô, devendo ser pago um único imposto de transmissão. Diferente é a situação daquele que renuncia, indicando a quem será destinado seu quinhão. Existem, no caso, duas declarações de vontade, importando em aceitação, e alienação simultânea ao favorecido.
5.4. Requisitos
O direito de renúncia exige alguns pressupostos ou requisitos, tais como a capacidade do agente, a anuência do cônjuge, e não deve prejudicar os credores. A renúncia consiste em ato que deve ter sua configuração coerente com requisitos essenciais.
Capacidade jurídica plena do agente.
A renúncia exige capacidade do agente. Além do requisito formal, a validade da renúncia vincula-se ao pressuposto da capacidade do agente, sendo esta não apenas genérica para os atos da vida civil, mas sendo também capacidade para alienar, uma vez que a negativa de incremento patrimonial equivale a uma disposição. Não tem validade a renúncia realizada por incapaz, mesmo que manifestada por seu representante, uma vez que este dispõe de poderes de administração, mas não de alienação, por lhe faltar liberdade para dispor dos bens do representado por ato seu próprio, podendo apenas administrá-los.
Existe a possibilidade de ser a renúncia formulada pelo representante ou assistente do incapaz, desde que seja previamente autorizada pelo juiz, dependendo esta autorização da prova da necessidade ou evidente utilidade para o requerente, situação esta que dificilmente acontecerá, uma vez que se trata de renúncia de direitos. 
Havendo a renúncia por mandatário, deve este apresentar procuração com poderes especiais para renunciar, segundo define o art. 661, parágrafo 1º do Código Civil. 
Anuência do cônjuge - 
Sendo o herdeiro casado, necessária se faz a outorga do outro cônjuge, a não ser que o casamento tenha sido celebrado pelo regime de separação absoluta de bens, conforme o art. 1647, I. Isto acontece porque o direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel, por determinação legal expressa no art. 80, II. Por este motivo, a cessão de direitos hereditários deve ser feita por escritura pública, nos termos do art. 108, mesmo que o espólio seja formado apenas por bens móveis, porque o que está sendo objeto de cessão é o direito abstrato à sucessão aberta. Esta questão não é pacífica entre os autores. Para alguns, a outorga uxória é dispensável, porque no art. 1647,I consta o verbo “alienar” e o renunciante não pratica ato de disposição, mas, apenas ato de não-aceitação, sendo então considerado como se nunca tivesse existido e herdado. A maioria, porém admite a outorga.
Forma prescrita em lei
Tratando-se de ato solene, a renúncia, para ter validade, deve ser expressa por instrumento público ou por termo judicial, conforme o art. 1806. A renúncia, diferentemente da aceitação, somente poderá ser expressa, não se admitindo seja efetuada de maneira tácita ou presumida.
Que não prejudique os credores
Segundo a disciplina do art. 1813 do Código Civil, não poderá haver renúncia lesiva a credores e, caso isto aconteça, poderão eles aceitar a herança em nome do renunciante, nos autos do inventário, mediante autorização judicial, conforme permitem o art. 1017, parágrafo 3º e o art. 1022 do CPC.
5.5. Efeitos da renúncia
a) Exclusão do renunciante. Realizada a renúncia, o renunciante é tratado como se nunca tivesse sido chamado à sucessão. Segundo o princípio da saisine, com a abertura da sucessão, a herança se transmite, desde logo, ao herdeiro, conforme dispõe o art. 1784. No entanto, se ele renuncia, a transmissão é vista como não verificada. Ao renunciar, o herdeiro sai da sucessão, deixando-a como está.
b) Acréscimo da parte do renunciante à dos outros da mesma classe, conforme o art. 1810 do Código Civil: “Na sucessão legítima, a parte do renunciante acresceà dos outros herdeiros da mesma classe e, sendo ele o único desta, devolve-se aos subsequentes”. Ou seja, a parte do herdeiro renunciante passa automaticamente aos outros herdeiros da mesma classe. E se o renunciante for o único da classe, devolve-se a herança aos herdeiros da classe subsequente, segundo expressa a 2ª parte do art. 1810. 
Exemplificando: Deixando o falecido dois filhos, ocorrendo a renúncia de um deles, o outro ficará com a totalidade da herança. Se o falecido tinha vários filhos, e um deles renuncia à herança, sua parte passa a seus irmãos.
Se o de cujus tinha vários filhos e um deles é pré-morto, ou seja, já falecido por ocasião da morte do pai, sua parte passará a seus filhos, netos do de cujus.
Se o falecido tinha apenas um filho, e este não tendo descendentes, renuncia, a herança é devolvida aos ascendentes do falecido, em concorrência com seu cônjuge, segundo dispõe o art. 1829, II.
d) Proibição da sucessão por direito de representação. Ocorre a sucessão por direito próprio quando a herança é deferida ao herdeiro mais próximo. Dá-se a sucessão por representação “quando a lei chama certos parentes do falecido a suceder em todos os direitos em que ele sucederia, se vivo fosse” (art. 1851 do Código Civil). Nesta situação, o beneficiário é chamado para suceder no lugar de um parente mais próximo do morto, mas falecido antes dele. Isto ocorre, por exemplo, quando um dos filhos do de cujus morre antes dele e então os filhos do pré-morto ocupam o seu lugar, herdando por representação ou por estirpe. 
Nos termos do art. 1811, “Ninguém pode suceder representando herdeiro renunciante.” Isto significa que o renunciante efetivamente desaparece da sucessão e ninguém pode representá-lo. Ou seja, desaparecendo o renunciante da sucessão, ninguém pode suceder, representando-o. Se fosse possível o filho do renunciante assumir o seu lugar na sucessão, representando-o, o renunciante não teria saído da sucessão, na medida em que nela estaria presente, representado pelo filho, algo que seria incompatível como o próprio ato da renúncia, através do qual o herdeiro declara sua decisão de não aceitar a herança.
Porém, a segunda parte do mesmo artigo estabelece que “Se, porém, ele for o único legítimo de sua classe, ou se todos os outros da mesa classe renunciarem a herança, poderão os filhos vir a sucessão, por direito próprio e por cabeça.” Neste sentido, a parte do renunciante poderá passar para seus filhos, herdando eles por direito próprio e por cabeça, o que significa que a herança será dividida em partes iguais entre os netos, mesmo que o falecido tenha deixado vários filhos, todos renunciantes, cada um com diversas quantidades de filhos.
Na sucessão testamentária, havendo renúncia do herdeiro, ocorrerá a caducidade do instituto, a não ser que o testador tenha indicado um substituto (art. 1947) ou houver direito de acrescer entre os herdeiros (art, 1943).
5.6. Irretratabilidade renúncia
A renúncia é, em tese, irretratável e definitiva conforme o art. 1812: “São irrevogáveis os atos de aceitação ou de renúncia da herança”. A renúncia, como visto, consiste em negócio jurídico unilateral, aperfeiçoando-se desde o momento da manifestação da vontade, originando todos os efeitos cabíveis. Como retroage à data da abertura da sucessão, os demais herdeiros são beneficiados pela renúncia e herdam na mesma data.
Caso a desistência da renúncia fosse admitida, haveria a perda da propriedade adquirida pelos herdeiros, algo que afetaria a segurança e a estabilidade das relações jurídicas. Nas palavras de Clóvis Beviláqua, “a firmeza e a seriedade das relações jurídicas oriundas da sucessão assim o exigem”.
5.7. Ineficácia e invalidade da renúncia.
A renúncia poderá ser ineficaz quando o juiz determinar a suspensão temporária de seus efeitos, a pedido de credores prejudicados. Os credores prejudicados podem anular a renúncia, e aceitar a herança em nome do renunciante, mediante autorização judicial, conforme o Art. 1813: “Quando o herdeiro prejudicar os seus credores, renunciando à herança, poderão eles, com autorização do juiz, aceitá-la, em nome do renunciante”. A autorização judicial é obtida mediante habilitação (ver parágrafo 1º do art. 1813) no prazo de 30 dias após o conhecimento do fato. Trata-se, assim, de incidente do processo de inventário, que se conclui pela ineficácia da renúncia.
Não se faz necessário demonstrar a fraude, bastando demonstrar o prejuízo e provar que já eram credores antes da renúncia da herança. Uma vez pagas as dívidas aos credores que se habilitaram, o saldo eventual será devolvido aos demais herdeiros, segundo dispõe o parágrafo 2º do mesmo artigo. 
Pode ocorrer a invalidade absoluta da renúncia se não tiver sido efetuada por escritura pública ou termo judicial, ou ainda quando manifestada por pessoa absolutamente incapaz, sem representação e sem autorização judicial. A renúncia, como visto, é ato solene e por isso deve observar a forma prescrita em lei
A invalidade relativa acontece em razão de erro, dolo ou coação, acarretando a anulação da renúncia, em razão do vício de consentimento. Devem ser ouvidos os interessados. Outra possibilidade se encontra na renúncia efetuada sem a outorga uxória se o renunciante for casado em outro regime que não seja o de separação absoluta de bens.

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