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Disciplina: Planejamento do Processo Prof. M.Sc. Júlio Ferreira Aula 3 – Arranjos Físicos O que é arranjo físico? O arranjo físico de uma operação ou processo traduz como seus recursos transformadores são posicionados entre si e como as várias tarefas da operação são alocadas a esses recursos transformadores. Juntas, essas duas decisões irão ditar o padrão do fluxo dos recursos transformados à medida que eles progridem pela operação ou processo. A decisão de arranjo físico é importante porque, se o arranjo físico estiver errado, pode levar a padrões de fluxo muito longos ou confusos, filas de clientes, longos tempos de processo, operações inflexíveis, fluxos imprevisíveis e altos custos. Além disso, o rearranjo físico de uma operação existente pode interromper seu funcionamento, levando à insatisfação do cliente ou a perdas na produção. Por serem as decisões de arranjo físico difíceis e caras, os gerentes de operações podem relutar em tomá-las com frequência. O projeto de arranjo físico deve iniciar-se com a avaliação extensiva dos objetivos que o arranjo físico está tentando alcançar. Entretanto, isso é apenas o ponto de partida do que é um processo de estágios que levam ao arranjo físico final de uma operação. O que faz um bom arranjo físico? Em grande parte, os objetivos de qualquer arranjo físico dependerão dos objetivos estratégicos de uma operação, mas existem alguns objetivos gerais que são relevantes a todas as operações. Todos os arranjos físicos devem ser inerentemente seguros; não constituem perigo a funcionários ou clientes. O arranjo físico deve (geralmente) minimizar a extensão do fluxo no decorrer da operação e, preferivelmente, tornar o fluxo claro. Os funcionários devem estar localizados afastados do barulho ou de partes desagradáveis da operação e todos os equipamentos devem ser acessíveis. Os arranjos físicos devem atingir um uso apropriado de espaço e permitir a flexibilidade em prazo mais longo. Tipos básicos de arranjo físico Os arranjos físicos mais práticos são derivados apenas de quatro tipos básicos. São eles: arranjo físico de posição fixa, arranjo físico funcional, arranjo físico celular, arranjo físico de produto (ou de linha de produto). Arranjo físico de posição fixa O arranjo físico de posição fixa é, de certa forma, uma contradição em termos, já que os recursos transformados não se movem entre os recursos transformadores. Em vez de materiais, informações ou clientes fluírem por uma operação, quem sofre o processamento fica estacionário, enquanto equipamento, maquinário, instalações e pessoas movem-se na medida do necessário. Isso pode ocorrer porque o produto ou o receptor do serviço é muito grande para ser movido de forma conveniente, pode ser muito delicado para ser movimentado ou, talvez, pode objetar-se a ser movido, como por exemplo: Construção de uma rodovia ou Construção naval – o produto é muito grande para ser movido. Cirurgia de coração – os pacientes estão em estado muito delicado para ser movidos. Restaurante de alta classe – os clientes opõem-se a ir até onde a comida é preparada. Manutenção de computador de grande porte – o produto é muito grande e, provavelmente, também muito delicado para ser movido, e o cliente pode negar-se a trazê-lo para manutenção. Arranjo físico funcional No arranjo físico funcional, os recursos ou processos similares estão localizados juntos. Isso pode ocorrer porque é conveniente agrupá-los ou porque a utilização dos recursos transformadores é melhorada. Isso significa que, quando produtos, informações ou clientes fluem pela operação, eles percorrem um roteiro de atividade a atividade, de acordo com suas necessidades. Diferentes produtos ou clientes terão diferentes necessidades e, portanto, percorrerão diferentes roteiros. Geralmente, isso faz com que o padrão de fluxo na operação seja bastante complexo. Exemplos de arranjo físico funcional incluem: Hospital – alguns processos (por exemplo, aparelhos de raios-x e laboratórios) são necessários a grande número de diferentes tipos de pacientes; alguns processos (por exemplo, enfermarias) podem atingir altos níveis de utilização de leitos e de equipes de atendimento. Usinagem de peças utilizadas em motores de aviões – alguns processos (por exemplo, tratamento térmico) necessitam do apoio de especialistas (eliminação de calor e fumaça); outros processos (por exemplo, centros de maquinário) requerem o mesmo apoio técnico de operadores especializados; alguns processos (por exemplo, esmerilhadeiras) atingem altos níveis de utilização, pois todas as peças que requerem operações de esmerilhamento passam por uma única seção. Supermercado – alguns produtos, como os enlatados, oferecem maior facilidade de reposição se forem mantidos agrupados; alguns setores, como o de comida congelada, necessitam de tecnologia similar de armazenagem, em câmaras refrigeradas; outros produtos, como vegetais frescos, podem ser mantidos juntos, pois, dessa forma, podem ficar mais atraentes aos olhos do consumidor. Arranjo físico celular É onde os recursos transformados que entram na operação são pré-selecionados para passarem a uma parte da operação (ou célula) em que todos os recursos transformados estão localizados para atender às necessidades de processamento imediato. A própria célula pode ser organizada em um arranjo físico funcional ou por produto. Após serem processados na célula, os recursos transformados podem seguir para outra célula. De fato, o arranjo físico celular é uma tentativa de dar alguma ordem na complexidade do fluxo que caracteriza o arranjo físico funcional. Exemplos de arranjos físicos celulares incluem: Fabricação de alguns componentes do computador – o processamento e a montagem de alguns tipos de peças de computador podem necessitar de uma área especial dedicada à fabricação de peças para um cliente específico que tem exigências especiais, como níveis de qualidade bem elevados. Área para produtos de lanches rápidos em um supermercado – alguns clientes usam o supermercado apenas para comprar sanduíches, salgadinhos, refrigerantes, iogurte etc. para consumo imediato. Esses produtos estão frequentemente localizados juntos, de forma que o consumidor não necessite percorrer o supermercado para encontrá-los. Maternidade em um hospital – as clientes que necessitam de atendimento em maternidade formam um grupo bem definido que pode ser tratado junto; elas têm probabilidade bem pequena de precisar de cuidados de outras partes do hospital, ao mesmo tempo em que requerem cuidados específicos de maternidade. Embora a ideia de arranjo físico celular esteja frequentemente associada à fabricação, o mesmo princípio pode ser, e é, usado em serviços. Na Figura a seguir, o piso térreo de uma loja de departamentos contém displays de vários tipos de produtos em vários pontos da loja. Dessa forma, o arranjo físico predominante da loja é funcional. Cada área de display pode ser considerada um processo separado, dedicado a vender uma classe específica de bens – sapatos, roupas, livros e assim por diante. A exceção é a loja de artigos esportivos. Essa área é uma loja-dentro-da-loja, dedicada à venda de vários tipos de produtos com um tema de esporte comum. Por exemplo, disporá de roupas e calçados esportivos, sacolas esportivas, revistas, livros e vídeos sobre esportes, equipamentos e presentes esportivos e bebidas energéticas. Dentro da “célula” há todos os “processos” que também se encontram em outros pontos da loja. Estão localizados na “célula” não porque sejam bens similares (calçados, livros e bebidas não estariam localizados juntos), mas porque são necessários para satisfazer às necessidades de um tipo particular de cliente. Calcula-se que númerosuficiente de clientes vêm à loja para comprar especialmente “artigos esportivos” (mais do que sapatos, roupas e assim por diante) para que seja compensador dedicar uma área específica a eles. Considera-se também que, se alguém vem à loja com a intenção de comprar um calçado esportivo, pode ser persuadido a comprar outros artigos esportivos se estiverem disponíveis na mesma área. Arranjo físico por (linha de) produto O arranjo físico por produto envolve localizar os recursos produtivos transformadores inteiramente segundo uma melhor conveniência do recurso que está sendo transformado. Cada produto, elemento de informação ou cliente segue um roteiro predefinido no qual a sequência de atividades requerida coincide com a sequência na qual os processos foram arranjados fisicamente. Os recursos em transformação seguem um “fluxo” ao longo da “linha” de processos. O fluxo é previsível, e assim, fácil de controlar. Exemplos de arranjo físico por produto incluem: Linha de montagem de automóveis – quase todas as variantes do mesmo modelo requerem a mesma sequência de processos. Programa de imunização em massa – todos os clientes requerem a mesma sequência de atividades administrativas, médicas e de aconselhamento. Restaurante self-service – geralmente, a sequência de serviços requeridos pelo cliente (entrada, prato principal, bebidas, sobremesa) é comum para todos os clientes, mas o arranjo físico auxilia também a manter controle sobre o fluxo de clientes. Arranjos físicos mistos Muitas operações ou projetam arranjos físicos híbridos, que combinam elementos de alguns ou todos os tipos básicos de arranjo físico, ou usam tipos básicos de arranjo físico de forma “pura” em diferentes partes da operação. Por exemplo, um hospital, normalmente, seria arranjado conforme os princípios de arranjo físico funcional – cada departamento representando um tipo particular de processo (departamento de radiologia, centros cirúrgicos, laboratório de processamento de sangue e assim por diante). Todavia, dentro de cada departamento, arranjos físicos bastante diferentes são usados. Provavelmente, o departamento de radiologia é arranjado por processo, os centros cirúrgicos segundo um arranjo físico posicional e o laboratório de processamento de sangue conforme um arranjo físico por produto. Outro exemplo (Figura abaixo) é um complexo de restaurantes apresenta três tipos diferentes de restaurante e a cozinha que serve os três. A cozinha é desenhada conforme um arranjo físico funcional, o restaurante de serviço tradicional, em um arranjo físico de posição fixa; o restaurante tipo bufê, em um arranjo celular, enquanto o restaurante do tipo bandejão (como os restaurantes por quilo), em que todos os clientes passam pelo mesmo roteiro quando estão servindo-se, adota um arranjo físico por produto. Eles podem não se servir de todos os pratos disponíveis, mas se moverão na mesma sequência de processos. Que tipo de arranjo físico uma operação deve escolher? A importância do fluxo para uma operação dependerá de suas características de volume e variedade. Quando o volume é muito baixo e a variedade é relativamente alta, o “fluxo” não é grande problema. Por exemplo, na fabricação de satélite de comunicações, é provável que um arranjo físico de posição fixa seja apropriado, porque cada produto é diferente e os produtos “fluem” muito infrequentemente pela operação, de modo que não vale a pena organizar as instalações para minimizar o fluxo das peças na operação. Com maior volume e menor variedade, o fluxo torna-se um problema. Entretanto, se a variedade for ainda alta, uma organização totalmente dominada pelo fluxo é difícil porque haverá diferentes padrões de fluxo. Por exemplo, uma biblioteca organizará parcialmente suas diferentes categorias de livros e os outros serviços para minimizar a distância média que seus leitores têm que percorrer na operação. Contudo, em razão de as necessidades dos leitores variarem, a biblioteca organizará seu arranjo físico para satisfazer a maioria desses leitores (embora, talvez, haja inconveniência a uma minoria). Quando a variedade de produtos ou serviços reduz ao ponto em que uma “categoria” distinta com exigências similares torna-se evidente, embora a variedade ainda não seja pequena, o arranjo físico celular pode tornar-se apropriado, como na célula de artigos esportivos, em uma loja de departamentos. Quando a variedade é relativamente pequena e o volume alto, o fluxo pode tornar-se regularizado, e é provável que um arranjo físico baseado em produto seja apropriado, como numa linha de montagem de carros. Embora as características de volume-variedade da operação reduzam a escolha a uma ou duas opções de arranjo físico, há outras vantagens e desvantagens associadas. Entretanto, o tipo de operação também influenciará a importância relativa dessas vantagens e desvantagens. Por exemplo, um fabricante de televisão de alto volume pode considerar atraente as características de baixo custo de um arranjo físico por produto, embora um parque temático possa adotar o mesmo tipo de arranjo físico, principalmente em razão do modo de “controlar” o fluxo de clientes. Análise de custos Vantagens do arranjo longo-magro Entre as vantagens, estão as seguintes: •Fluxo controlado de materiais ou clientes – que é fácil de administrar; •Manuseio de materiais simples – especialmente se um produto a ser fabricado é pesado, amplo ou difícil de mover; •Menor exigência de capital. Se um uma peça de equipamento especializado for necessária para uma parte do trabalho, apenas uma unidade do equipamento precisará ser comprada; em configurações curtas-gordas, cada estágio necessita apenas de uma. •Operação mais eficiente – se cada estágio executa apenas pequena parte do trabalho, a pessoa responsável pelas atividades daquele estágio terá uma proporção maior de trabalho direto produtivo, diferentemente das partes não produtivas do trabalho, como apanhar ferramentas e materiais. Esse último ponto é particularmente importante e é explicado em detalhe no Capítulo 9, onde se discute o projeto do trabalho. Vantagens do arranjo curto-gordo Entre as vantagens estão as seguintes: •Maior flexibilidade de mix. Se o arranjo precisar processar vários tipos de produto ou serviço, cada estágio ou linha pode especializar-se em tipos diferentes. •Maior flexibilidade de volume. À medida que o volume varia, os estágios podem simplesmente ser eliminados ou formados conforme o necessário; arranjos longos-magros precisariam ser rebalanceados a cada vez que os tempos de ciclo mudassem. •Maior robustez. Se um estágio quebra ou para de operar, de certa forma os estágios paralelos não são afetados; um arranjo longo-magro deixaria de operar por completo. •Trabalho menos monótono. No exemplo do empréstimo hipotecário, a mão de obra no arranjo curto-gordo repete sua tarefa a cada hora, enquanto, no arranjo longo-magro, isso ocorre a cada 15 minutos. RESUMO DAS RESPOSTAS ÀSQUESTÕES-CHAVE O que é arranjo físico? •O “arranjo físico” de uma operação ou processo é como seus recursos de transformação estão posicionados entre si e como suas várias tarefas são alocadas a esses recursos de transformação. •Essas duas decisões ditarão o padrão do fluxo dos recursos transformados à medida que atravessam a operação ou processo. Quais os tipos básicos de arranjo físico usados nas operações? •Há quatro tipos básicos de arranjo físico. São eles: arranjo físico de posição fixa, arranjo físico funcional, arranjo físico celular e arranjo físico por produto. Que tipo de arranjo físico uma operação deve escolher? •Em parte, isso é influenciado pela natureza do tipo de processo, que por sua vez depende das características de volume e variedade da operação. Em parte, também, a decisão dependerádos objetivos da operação. Custo e flexibilidade são particularmente afetados pela decisão sobre o arranjo físico. •Os custos fixos e variáveis implícitos em cada arranjo físico diferem, tanto que, em teoria, um arranjo físico particular terá custo mínimo para determinado nível de volume. Entretanto, na prática, incerteza sobre os custos reais envolvidos nos arranjos físicos tornarão difícil identificar qual arranjo físico terá custo mínimo. •Em acréscimo aos objetivos das operações convencionais que serão influenciados pelo sentimento e impressão geral do projeto do arranjo físico, isso é frequentemente denominado “servicescape” da operação. Como cada tipo básico de arranjo físico deve ser projetado em detalhe? •No arranjo físico de posição fixa, os materiais ou pessoas que são transformados não se movimentam, mas os recursos transformadores movem-se ao redor deles. Raramente são usadas técnicas nesse tipo de arranjo físico, mas algumas, como análise de localização de recursos, trazem uma abordagem sistemática para minimizar os custos e a inconveniência do fluxo para uma localização de posição fixa. •No arranjo físico funcional, todos os recursos de transformação similares são agrupados na operação. A tarefa do projeto detalhado visa, geralmente (embora nem sempre), minimizar as distâncias percorridas pelos recursos transformadores ao longo da operação. Tanto métodos manuais como baseados em computador podem ser usados na elaboração do projeto detalhado. •No arranjo físico celular, os recursos necessários para uma classe específica de produtos estão agrupados de alguma forma. A tarefa de detalhar o projeto é agrupar os tipos de produtos ou clientes de tal forma que possam ser projetadas células convenientes a suas necessidades. Técnicas como a análise de fluxo de produção podem ser usadas para alocar os produtos às células. •No arranjo físico por (linha de) produto, os recursos transformadores estão localizados em sequência, especificamente por conveniência dos produtos ou tipos de produtos. O projeto detalhado do arranjo físico por produto inclui um número de decisões, como o tempo do ciclo a que o projeto precisa conformar-se, o número de estágios da operação, a forma como as tarefas são alocadas aos estágios na linha e os arranjos dos estágios na linha. O tempo de ciclo de cada parte do projeto, juntamente com o número de estágios, é uma função de onde o projeto se situa no espectro dos arranjos “longo-magro” a “curto-gordo”. Essa posição afeta os custos, a flexibilidade, a robustez e a atitude dos funcionários. A alocação de tarefas nos estágios é denominada balanceamento de linha, que pode ser desempenhado tanto manualmente ou por meio de algoritmos computadorizados. Referencia SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da Produção. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2015.
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