Buscar

PERFIL TIPOLÓGICO DA INDÚSTRIA CERÂMICA GUARANI DA REGIÃO

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
210 
 
 
PERFIL TIPOLÓGICO DA INDÚSTRIA CERÂMICA GUARANI DA REGIÃO 
SUL DE SANTA CATARINA 
 
Rafael Guedes Milheira
1
 
Deisi Scunderlick Eloy de Farias
2
 
Luana Alves
3
 
 
RESUMO 
Neste trabalho apresentamos um perfil tipológico das coleções cerâmicas escavadas em sítios 
arqueológicos Guarani, localizados no município de Jaguaruna e adjacências, litoral sul de Santa 
Catarina. O contexto regional de ocupação foi interpretado como uma área de domínio dos 
grupos Guarani, ocupada desde o século XV AD, até a colonização europeia, quando o cenário 
histórico-cultural sofreu uma transformação significativa. A indústria cerâmica dos diferentes 
contextos arqueológicos indica ampla variabilidade tipológica das vasilhas representadas, 
sugerindo diferenças funcionais dos sítios arqueológicos (aldeias e acampamentos). 
 
Palavras-chave: Arqueologia Guarani. Ceramologia. Litoral sul-catarinense. 
 
Abstract 
This work we present a technological profile of the ceramics excavated in Guarani 
archaeological sites located in Jaguaruna town and vicinity, south coast of Santa Catarina. The 
regional context of occupation was interpreted as a domain area of the Guarani groups, occupied 
since the fifteenth century AD until European colonization, when the historical-cultural scenario 
has undergone a significant transformation. The ceramic industry of the different archaeological 
contexts indicates a broad typological variability of the vessels represented, suggesting 
functional differences in the archaeological sites (villages and camps). 
 
Keywords: Guarani Archaeology. Ceramology. South Coast of Santa Catarina. 
 
 
 
1
 Professor do curso de Bacharelado em Antropologia e Arqueologia e do Programa de Pós-graduação 
em Antropologia da Universidade Federal de Pelotas. Coordenador do Laboratório de Ensino e Pesquisa 
em Antropologia e Arqueologia (LEPAARQ-UFPEL). E-mail: milheirarafael@gmail.com. 
2
 Professora do Programa de Pós Graduação em Ciências da Linguagem da UNISUL. Arqueóloga, 
coordenadora do GRUPEP Arqueologia, UNISUL/Tubarão. E-mail: deisiarqueologia@gmail.com. 
3
 Pesquisadora associada do GRUPEP-Arqueologia, UNISUL/Tubarão. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
211 
 
Introdução: 
O contexto arqueológico de sítios Guarani do município de Jaguaruna 
 
O município de Jaguaruna e adjacências vêm sendo estudados desde o século 
XIX, cujo foco dos trabalhos arqueológicos, via de regra, foram os monumentais 
sambaquis. Os sítios Guarani, por sua vez, foram raramente apontados pelos primeiros 
pesquisadores, tendo sido mapeados e descritos em suas características componenciais e 
locacionais somente dos anos 1960 em diante, pelas pesquisas de Rohr
4
. Foi, portanto, 
no sentido de lançar um novo olhar para a região de Jaguaruna que esta pesquisa 
desenvolveu-se, trazendo contribuições para a arqueologia regional, sobretudo, no que 
se refere às ocupações dos grupos Guarani
5
. Identificou-se no litoral de Jaguaruna 41 
sítios Guarani, dos quais nove receberam algum tipo de intervenção arqueológica 
(Laranjal I, Laranjal II, Sibelco, Riacho dos Franciscos I, Morro Bonito I, Morro Bonito 
II, Morro Bonito III, Arroio Corrente V, Olho D’água I), com datações radiocarbônicas 
que oscilam entre o século XV e XVII AD
6
. 
 
 
 
 
 
4
 ROHR, J. A., Os sítios arqueológicos do município de Jaguaruna, 1969; ______, Sítios arqueológicos 
de Santa Catarina, 1984. 
5
 Esta pesquisa integra a tese de doutoramento de Rafael Milheira (2010), contando com bolsa de 
doutorado da FAPESP (processo 2008/57797-0). 
6
 FARIAS, D. S. E. de.; DEBLASIS, P., Arqueologia da Rodovia SC-487: Barra do Camacho-
Jaguaruna. Relatório Parcial de Pesquisa, 2008; ______, Arqueologia da Rodovia SC-487: Barra do 
Camacho-Jaguaruna. Relatório Final de Pesquisa, 2009; MILHEIRA, R. G., Arqueologia Guarani no 
litoral sul-catarinense: História e Território, 2010. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
212 
 
 
Gráfico 1: Quadro cronológico para a região lagunar sul-catarinense e adjacências. As barras à 
esquerda mostram o período de ocupação das culturas presentes na região, representado em cada 
caso pelo conjunto de datações 14C calibradas disponíveis. O gráfico menor mostra as datações 
disponíveis para os sítios Guarani individualmente; o ponto representa a idade convencional, a 
barra o(s) intervalo(s) dos valores calibrados. As datações 14C foram calibradas com o software 
Calib 6.1 utilizando a curva MARINE09 (Reimer, 2009) para a amostra de origem marinha, e a 
curva SHCAL04 (McCormack, et. all. 2004) para as amostras de origem terrestre, considerados os 
valores em 1σ. 
Elaboração do gráfico: Tiago Attore. 
 
A área piloto da pesquisa, com uma área com aproximadamente 350 km² é 
delimitada pelas lagoas da Garopaba e da Jaguaruna ao norte. Enquanto, a oeste, 
estabeleceu-se um limite arbitrário representado pela rodovia BR-101, que bordeja o 
piemonte da encosta catarinense, paralelo à linha de costa. Ao sul o limite é a margem 
esquerda do rio Urussanga. Esta área compreende uma série de localidades como 
Camacho, Morro Grande, Morro Bonito, Laranjal, entre outras, que emprestaram seus 
nomes aos sítios arqueológicos nelas situados. 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
213 
 
 
Figura 1: Mapa geológico com a localização dos sítios Guarani identificados na Área Piloto. 
 
O estudo dos sítios foi realizado em duas etapas, seguindo métodos distintos. Na 
primeira etapa de campo fez-se uma prospecção por meio de uma malha de testes de 
subsuperfície equidistantes em 50 metros, que envolveu a cobertura de uma faixa de 
domínio em torno da rodovia SC-Estrada Geral do Camacho
7
. Em seguida, foi realizada 
uma prospecção assistemática e oportunística, contando com informações da 
comunidade local sobre a ocorrência de sítios e, sendo também guiado pelo mapa 
publicado em Rohr
8
. 
Na segunda etapa de campo, foram realizadas intervenções intrassítio que 
envolveram uma metodologia padrão: coleta de superfície e escavação de poços-teste 
em níveis artificiais de 10 cm, para delimitar a sua área ao longo do terreno. Além disso, 
foram escavadas trincheiras e unidades de escavação de meio metro de largura nas 
manchas de terra preta de alguns sítios, que permitiram compreender a composição 
estratigráfica dos sítios e evidenciar contextos arqueológicos que permitiram discutir 
questões sobre função de sítio, relação sistêmica entre os espaços de ocupação, 
reocupações, tipologia cerâmica e lítica, processos pós-deposicionais e estruturas 
arqueológicas funcionais (estruturas arquitetônicas, de combustão, de deposição de 
refugos e funerárias). 
 
7
 FARIAS, D. S. E. de.; DEBLASIS, P., op. cit., 2008; ______, op. cit., 2009. 
8
 ROHR, J. A., op. cit., 1969. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
214 
 
Através desta pesquisa pôde-se concluir que os grupos Guarani ocuparam a região 
litorânea sul-catarinense de forma súbita e massiva, expandindo-se rapidamente sobre os 
terrenos altos e firmes das paleodunas. Além disso, ocupam as lagoas, dunas e matas do 
litoralnum período de apenas 150 anos, aproximadamente, em um processo de expansão 
interrompido pela chegada dos colonizadores europeus. Este cenário é confirmado pela 
cronologia disponível, como se vê no gráfico 01, acima, que mostra o início da 
ocupação em torno de 1360-1470AD (sítio Olho D’água I), estendendo-se ao início do 
período colonial, em torno de 1449-1614 AD (sítio Morro Bonito II). 
 
Perfil tipológico das coleções cerâmicas 
 
Neste trabalho, realizou-se uma análise que buscou uma observação dos padrões 
tipológicos das coleções cerâmicas identificadas nas aldeias Guarani dos sítios Morro 
Bonito I (678 peças), Morro Bonito II (442 peças), Laranjal I (3456 peças), Sibelco (523 
peças), Riacho dos Franciscos I (244 peças) e Arroio Corrente V (87 peças). Essas 
coleções somam um total de 5430 peças, que se dividem em fragmentos de paredes, 
bordas e bases. Objetivou-se nestas análises identificar nas coleções as características 
gerais da cerâmica no território de domínio do litoral de Jaguaruna. 
Para esse estudo das coleções cerâmicas foi criada uma ficha de análise de 
atributos com os seguintes procedimentos: quantificação de fragmentos quanto à secção 
do pote (borda, parede ou base), variáveis métricas (espessura máxima, comprimento e 
largura), manufatura, anti-plástico, tratamento de superfície externa e interna e tipo de 
queima. A partir daí foram compostas tabelas e gráficos gerais e conceituações dos 
atributos analisados, com o objetivo de explicitar os motivos e a forma das análises. 
Após, gerou-se gráficos comparativos com os atributos observados nas análises, que 
possibilitaram visualizar as caracteríticas tipológicas da cerâmica dos sítios. Seguiu-se 
os procedimentos já popularizados nas análises de cerâmica Guarani e que podem ser 
consultados na bibliografia sobre o tema
9
. Os gráficos e tabelas foram gerados com o 
objetivo de apresentar a sistematização dos dados sobre todos os sítios. Logo, ao invés 
de apresentar indivualmente cada coleção, preferimos apresentar a análise do conjunto 
das mesmas. 
 
9
 Por exemplo SHEPARD, A. O. [1956], Ceramics for the Archaeologist, 1985; LA SALVIA, F.; 
BROCHADO, J. J. J. P., Cerâmica Guarani, 1989; ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A., Pottery in 
Archaeology, 1993. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
215 
 
No que se refere à técnica de confecção das vasilhas há o predomínio quase total 
da técnica de roletes, também conhecida como técnica de acordelamento
10
. A técnica de 
roletes caracteriza-se pela sobreposição de roletes de argila, ligados, por sua vez, com a 
polpa dos dedos ou instrumentos. Observou-se que algumas bases foram confeccionadas 
a partir de um disco de argila (tamanho de uma moeda grande), de onde partiram os 
roletes, sobrepondo-os. 
 
 Secção dos potes 
A análise levou em consideração também a secção dos potes: bordas, paredes e 
bases. Foi observado um predomínio absoluto das paredes, em segundo lugar as bordas 
e ínfima ocorrência de bases. Esta diferença gritante dos índices identificados diz 
respeito, em primeiro plano, ao nível de preservação dos sítios, que, devido às 
atividades de cultivo agrícola com arado e maquinário pesado gera um alto grau de 
fragmentação, originando um índice maior de fragmentos de paredes em detrimento das 
outras secções. É de se notar, também, que a parede é a maior parte do pote, sendo 
natural que haja maior índice de fragmentação desta secção com relação aos outros 
pontos da vasilha (bordas e bases). 
 
Secção do 
pote MB I MB II Sibelco 
Laranjal 
I 
Riacho Franc 
I Arroio Cor. V total 
borda 115 47 66 405 23 7 663 
parede 562 391 454 3047 220 80 4754 
base 1 4 3 4 1 0 13 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 1: Quantificação de fragmentos por secção do pote. 
 
 
 
10
 LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. J. J. P., op. cit., 1989. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
216 
 
 
Gráfico 2: Quantificação de fragmentos por secção do pote 
 
 Espessura dos fragmentos 
A espessura das peças, medida sempre no ponto mais grosso que se identifica, 
demonstra que há um predomínio de vasilhas com espessuras de médio e pequeno porte, 
pois, em todos os casos houve um pico nos índices de fragmentos com 0,5 a 1cm de 
espessura. Porém, devemos lembrar que esses índices podem ocorrer em virtude de que 
as vasilhas com paredes mais finas fragmentam com mais facilidade que as mais 
grossas, gerando um gráfico com picos maiores nas primeiras categorias. Devemos 
lembrar, também, que as vasilhas, quando inteiras, apresentam variações de espessura 
ao longo do pote, desde sua base (geralmente mais espessa) até a borda (mais fina), 
sendo outro complicador para que a relação direta entre a espessura do pote seja relativa 
a uma determinada dimensão do mesmo
11
. 
Logo, deve-se ler estes gráficos não como indicadores diretos de que as espessuras 
medidas representam vasilhas inteiras, ou seja, não podemos pensar numa relação direta 
do tipo: predomínio de paredes finas indicam vasilhas finas e predomínio de paredes 
grossas indicam vasilhas grossas. Pelo contrário, os gráficos de espessura indicam uma 
variação, que sugere também uma variação tipológica na coleção, o que deve ser 
pensado junto ao estudo de projeção das vasilhas. Esta é uma variação típica de 
coleções provenientes de aldeias, onde todos os tipos de vasilhas de diferentes funções 
são identificados
12
. 
 
 
 
 
11
 SOARES, A. L. R., Contribuição para a Arqueologia Guarani: estudo do Sítio Röpke, 2005. 
12
 LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. J. J. P., op. cit., 1989; MILHEIRA, R. G., Território e Estratégia de 
Assentamento Guarani na Planície Sudoeste da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste, 2008. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
217 
 
Espessura dos 
fragmentos (cm) 
MB 
I MB II Sibelco Laranjal I Riacho Franc I Arroio Cor. V total 
0 à 0,5 26 17 57 93 48 8 249 
0,5 à 0,75 290 359 359 806 146 25 1985 
0,75 à 1,0 241 62 95 1174 47 30 1649 
1,0 à 1,25 67 4 10 517 2 11 611 
1,25 à 1,5 40 0 2 435 1 7 485 
1,5 à 1,75 9 0 0 270 0 6 285 
1,75 à 2,0 3 0 0 99 0 0 102 
2,0 à 2,5 2 0 0 62 0 0 64 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 2: Quantificação de fragmentos por espessura do fragmento. 
 
 
Gráfico 3: Quantificação de fragmentos por espessura do fragmento. 
 
 
Dimensão dos fragmentos 
A dimensão dos fragmentos é medida a partir da relação comprimento X largura 
do fragmento. Como comprimento consideramos a distância horizontal paralela ao 
sentido dos roletes, já a largura é medida com a distância vertical perpendicular do 
sentido dos roletes. Objetivamos, com esta medição, avaliar o grau de fragmentação da 
coleção, relativa ao nível de preservação dos sítios. 
 
 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
218 
 
Dimensão dos 
fragmentos (cm) 
MB 
I MB II Sibelco 
Laranjal 
I Riacho Franc I 
Arroio Cor. 
V total 
0 à 2,5 150 30 55 342 32 24 633 
2,5 à 5,0 365 268 312 1916 159 47 3067 
5,0 à 7,5 158 124 148 1057 51 12 1550 
7,5 à 10,0 4 15 1 120 2 3 145 
10,0 à 12,5 1 5 7 15 0 0 28 
12,5 à 15,0 0 0 0 3 0 1 4 
15,0 à 17,5 0 0 0 2 0 0 2 
Mais de 17,5 0 0 0 1 0 0 1 
total 678442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 3: Quantificação de fragmentos pela dimensão da relação comprimento x 
largura. 
 
 
Gráfico 4: Quantificação de fragmentos pela dimensão da relação comprimento x largura. 
 
 Tipo de antiplástico dos fragmentos 
O antiplástico é todo tipo de material não plástico aplicado à pasta cerâmica no 
momento da confecção. São conhecidos antiplásticos de origem animal (fragmentos de 
ossos e concha triturada, por exemplo), vegetal (espículas de plantas, por exemplo, o 
cauxí) ou mineral (grãos de areia quartzosa, chamote, hematita e argila, por exemplo). 
Material antiplástico pode ser encontrado no próprio banco de argila ou são elementos 
acrescentados pela oleira com o objetivo de reduzir a quebra da vasilha durante o 
processo de secagem e cocção ou, até mesmo, para dar um efeito estético à vasilha
13
. O 
termo tempero também é utilizado para denominar este tipo de material encontrado na 
 
13
 SHEPARD, A. O. [1956], op. cit., 1985. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
219 
 
pasta cerâmica, porém, esse termo só deve ser utilizado quando há certeza de que houve 
a aplicação pela oleira de materiais não plásticos à pasta cerâmica. Nas análises 
realizadas não foi possível definir se os materiais antiplásticos de areia quartzosa foram 
intencionalmente acrescentados à pasta cerâmica ou se ocorrem naturalmente nos 
bancos de argila explorados pelas oleiras. Neste caso, seguiu-se a orientação de 
Shepard
14
 e utilizou-se o termo antiplástico, de forma genérica, e não tempero. 
Anti-plástico 
MB 
I MB II Sibelco 
Laranjal 
I 
Riacho Franc 
I Arroio Cor. V total 
mineral (quartzo) 676 428 500 3442 240 86 5372 
caco moído 0 1 4 9 4 1 19 
vegetal 2 12 19 0 0 0 33 
argila 0 0 0 4 0 0 4 
fragmentos de ocre 0 1 0 1 0 0 2 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 4: Quantificação de fragmentos pelo tipo de anti-plástico. 
 
 
Gráfico 5: Quantificação de fragmentos pelo tipo de anti-plástico. 
 
 Superfície externa dos fragmentos 
Quanto à superfície externa e interna dos fragmentos, chegou-se aos seguintes 
dados: 
 
 
 
 
14
 “In the present discussion temper will be defined as added inclusions, and nonplastic will be used in a 
general sense and for material of indeterminate source” (Shepard [1956], 1985, p. 25). 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
220 
 
Superfície externa MB I MB II Sibelco Laranjal I 
Riacho Franc 
I Arroio Cor. V total 
Lisa 335 179 270 2258 76 27 3145 
Corrugada 83 124 80 696 49 38 1070 
Ungulada 150 71 111 176 79 12 599 
corrug-Ung. 89 44 10 119 22 9 293 
Eng. Branco 3 1 15 78 3 0 100 
E. bco. P. Verm. 1 11 7 33 2 0 54 
Engobo vermelho 0 5 11 6 5 1 28 
Roletado 1 1 0 2 0 0 4 
Inciso 5 4 8 9 7 0 33 
Escovado 0 2 0 46 0 0 48 
Pintura vermelha 11 0 1 19 0 0 31 
Pinçada 0 0 10 0 1 0 11 
Engobo branco com 
pintura preta 0 0 0 3 0 0 3 
Pintura preta 0 0 0 11 0 0 11 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 5: Quantificação de fragmentos pela superfície externa. 
 
 
Gráfico 6: Quantificação de fragmentos pela superfície externa. 
 
 
 
 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
221 
 
Superfície interna MB I MB II Sibelco Laranjal I 
Riacho Franc 
I Arroio Cor. V total 
Lisa 657 404 482 3065 227 79 4914 
Engobo branco 3 9 0 242 2 3 259 
E. Bc. P. Verm 3 14 1 54 1 1 74 
Eng. Vermelho 11 15 19 26 0 4 75 
Pintura vermelha 4 0 20 57 7 0 88 
Engobo branco com 
pintura preta 0 0 1 7 1 0 9 
Pintura preta 0 0 0 5 6 0 11 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 6: Quantificação de fragmentos pela superfície interna. 
 
 
Gráfico 7: Quantificação de fragmentos pela superfície interna. 
 
 Tipo de queima dos fragmentos 
Sobre os padrões de queima, em outro trabalho
15
 já apresentou-se uma discussão 
baseada na bibliografia especializada sobre o tema, sendo interessante aqui repeti-la, 
pois cabe perfeitamente ao estudo das coleções cerâmicas dos sítios Guarani do litoral 
de Jaguaruna. Na cadeia operatória de confecção das vasilhas cerâmicas, a queima é o 
último estágio antes da utilização das mesmas, que envolve a secagem, a queima e o 
acabamento de superfície pós-queima
16
. A secagem das vasilhas pode se dar ao natural, 
à sombra ou próxima ao forno e envolve uma série de ténicas que visam a evitar 
rachaduras na superfície da vasilha ou defeitos decorrentes desta, como a quebra, muito 
 
15
 MILHEIRA, R. G., op. cit., 2008. 
16
 RYE, O. S., Pottery Technology. Principles and Reconstruction, 1981. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
222 
 
comum quando a técnica de secagem é mal aplicada
17
. A queima, por sua vez, é um 
importante estágio da produção, considerado um momento crucial no processo de 
manufatura que objetiva finalizar o processo, evitando-se também incorrer em 
problemas de quebra ou defeitos decorrentes de uma queima mal controlada.
18
 
Segundo Orton, Tyers e Vince
19
, seria necessário um ambiente de queima com 
550-600°C de temperatura para que as trasnformações químicas e físicas ocorressem, 
permitindo a transformação da matéria-prima no material cerâmico. Esses autores 
classificam dois procedimentos de produção de cerâmica, que se diferenciam quanto ao 
tipo de forno: a) Forno aberto (Open firing): diz respeito aos pricipais tipos de fogueira 
reconhecidos entre ceramistas tradicionais, assim como, sugere-se que o tipo de forno é 
o responsável pela produção da maioria das cerâmicas encontradas em contextos 
arqueológicos de grupos pré-históricos. Trata-se de fogueiras em que os combustíveis e 
as vasilhas têm contato direto. São fogueiras geralmente arranjadas em torno de um 
poste ou dentro de uma depressão na terra; b) Forno fechado (Kiln firing): fornos em 
que a vasilha e os combustíveis são separados e o pote geralmente é colocado em uma 
câmara aquecida pelos gases e chamas da fogueira do combustível. Nessa investigação, 
os conjuntos cerâmicos encontrados são compostos, predominantemente, por 
fragmentos de vasilhas oriundas de contextos arqueológicos, não sendo possível 
conhecer o processo de queima como um todo, tampouco identificar com certeza o tipo 
de forno usado para o fabrico das vasilhas. Apenas pode-se sugerir, com base na 
coloração da pasta, qual seria o ambiente de queima em que as vasilhas foram 
manufaturadas. Sendo assim, deve-se trabalhar com variáveis numéricas que dizem 
respeito à medição estatística de tipos de coloração. Shepard
20
 sugere, com base na 
coloração do núcleo da pasta cerâmica, dois tipos de ambientes de queima em que a 
cerâmica esteve exposta quando do fabrico da mesma: esfera oxidante – quando ocorre 
a queima da vasilha a uma temperatura maior que 700-750°C, o que queima as 
moléculas de carbono e transforma óxido de ferro em ferro, resultando em uma 
coloração clara e homogênea na pasta cerâmica; e , esfera redutora – quando ocorre a 
queima da vasilha a uma temperatura menor que esta indicada, prendendo as moléculas 
 
17
 ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A., op. cit., 1993; SILVA, F. A., A Tecnologia e seus Significados. 
Um Estudo da Cerâmica dos Asuriní do Xingu e daCestaria dos Kayapó-Xikrin sob uma Perspectiva 
Etnoarqueológica, 2000. 
18
 “The firing stage of pottery making is the crucial one; it tests the sundness of the potter’s work, it 
determines the serviceability of the ware, and it affects its attractiveness” (Shepard [1956], 1985, p. 213). 
19
 ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A., op. cit., 1993, p. 126. 
20
 SHEPARD, A. O. [1956], op. cit., 1985, p. 231-224. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
223 
 
de carbono em seu interior, gerando uma coloração escura ou heterogênea, com núcleo 
ou alguma superfície com coloração preta ou acinzentada. Esta sugestão foi tomada 
como premissa básica em dezenas de trabalhos no Brasil, em que, quando ocorre 
predomínio de pasta com coloração escura ou heterogênea, sugere-se a confecção de 
cerâmica em forno aberto, enquanto que, sugere-se forno fechado, quando predominam 
pastas cerâmicas com coloração clara e homogênea
21
. 
Esta forma de identificar tipo de forno utilizado no fabrico das vasilhas cerâmicas 
vem sendo questionada à luz de trabalhos mais recentes, os quais, por sua vez, têm 
problematizado a relação coloração da pasta/ambiente e temperatura de queima. Chama-
se atenção, em primeiro lugar, para o trabalho de Orton, Tyers e Vince
22
, no qual 
comentam que as características de aparência das vasilhas dependem de questões como 
a composição natural da matéria-prima, as ações na preparação e a mistura da argila 
com ou sem adição de antiplásticos, a atmosfera e a temperatura do fogo, o uso e os 
processos pós-deposicionais naturais que agem sobre os materiais arqueológicos. Os 
autores chamam a atenção, também, para o fato de que a espessura da vasilha ocasiona 
diferentes colorações ao longo da mesma, havendo uma tendência a que fragmentos 
mais grossos (bases e bordas) adquiram uma coloração escurecida no núcleo. 
Em segundo lugar, o trabalho de Silva
23
 indica que a temperatura do fogo não é 
homogênea na fogueira em que as vasillhas são fabricadas. Uma medição do calor da 
fogueira, realizada pela autora, com a utilização de cones pirométricos, permitiu 
identificar variados ambientes de calor em distintos setores da fogueira, bem como 
possibilitou medir variação no calor da fogueira dependendo dos combustíveis e 
quantidade e tamanho de potes colocados para cozinhar. Este dado sugere que a 
variação da temperatura do fogo, associada aos diferentes produtos químicos presentes 
na argila e o tempero utilizados pela oleira são fatores que podem gerar coloração 
heterogênea na superfície da cerâmica, bem como em sua pasta, não havendo, portanto, 
uma relação tão simples entre coloração da pasta clara ou escura versus temperatura do 
fogo.
24
 
 
21
 ROBRAHN-GONZALEZ, E. M., A Ocupação Pré-Colonial do Vale do Ribeira de Iguape, SP: Os 
Grupos Ceramistas do Médio Curso, 1988; JACQUES, C. C., As Pessoas e as Coisas: Análise Espacial 
em Dois Sítios Arqueológicos, Santo Antônio da Patrulha, RS, 2007. 
22
 ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A., op. cit., 1993. 
23
 SILVA, F. A., op. cit., 2000. 
24
 É necessário ressaltar também que geralmente as vasilhas inteiras ou semi-inteiras apresentam variação 
quanto à coloração da pasta em si mesma, ou seja, com um corte transversal, pode se ver variações na 
coloração desde a base até a borda, sugerindo que o ambiente de queima era heterogêneo. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
224 
 
Se a variação na temperatura do fogo, associada aos elementos de composição, 
manufatura e aspectos de uso e fatores pós-deposicionais, geram variação na coloração 
da pasta cerâmica de uma vasilha em sua extensão, como podemos ter certeza, através 
da análise de um fragmento, que este pertencia a uma vasilha confeccionada em forno 
aberto ou fechado, ou mais, ainda, se o ambiente de queima ultrapassaria ou não a 
temperatura necessária para a sua oxidação? 
Com esse questionamento fica claro que determinar o tipo de forno e ambiente 
para confecção de cerâmicas arqueológicas, a partir da coloração do núcleo da pasta 
cerâmica é uma tarefa que carece de um esquema metodológico mais seguro. Isso 
porque há uma série de variantes que devem ser levadas em conta e que dependem de 
trabalhos de experimentação arqueológica e arqueometria associados a análises mais 
detalhadas das características formais dos fragmentos e vasilhas. Apesar disso, há uma 
tendência a se considerar que, quanto maior o controle do ambiente de queima, maior as 
chances de que a peça seja fabricada sem problemas físicos e tenha, com isso, um 
núcleo de coloração homogênea. Por outro lado, fornos abertos tendem a heterogeneizar 
a parede das vasilhas, ocorrendo variação ao longo da peça. 
Para classificação da variação da coloração da pasta cerâmica, seguimos o 
esquema de cortes transversais proposto por Orton, Tyers e Vince
25
 e adaptado por 
Robrahn-Gonzalez
26
, Araújo
27
 e Jacques
28
. Entretanto, haverá uma diferença de que os 
autores tratam essas variações como indicadores de ambientes, reduzindo o oxidante e 
tratar-se-á, aqui, apenas como variação da coloração do núcleo da pasta, sem 
necessariamente indicar o ambiente de queima. Para facilitar a comparação para 
trabalhos futuros será apresentada a descrição do tipo de queima e a terminologia 
tradicional a que se refere à bibliografia especializada. 
 
 
 
 
 
25
 ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A., op. cit., 1993, p. 134. 
26
 ROBRAHN-GONZALEZ, E. M., A Ocupação Pré-Colonial do Vale do Ribeira de Iguape, SP: Os 
Grupos Ceramistas do Médio Curso, 1988. 
27
 ARAUJO, A. G. de M., Teoria e Método em Arqueologia Regional: Um Estudo de caso no Alto 
Paranapanema, 2001. 
28
 JACQUES, C. C., op. cit., RS, 2007. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
225 
 
Pasta clara: coloração homogênea em tons de vermelho, amerelo e 
marrom, que indicam transformação de ferro em óxido de ferro. A 
bibliografia tradicionalmente sugere como pasta do tipo oxidante. 
Pasta escura: coloração homogênea em tons de cinza e preto que 
indica a apreensãode moléculas de carbono, oriundas da queima de 
matéria orgânica no interior da pasta cerâmica. A bibliografia sugere 
como pasta do tipo oxidante. 
Pasta clara interna/escura externa: coloração heterogênea em tons 
sobrepostos dos tipos acima. A bibliografia tradicionalmente sugere 
como pasta do tipo oxidante interna. 
Pasta clara externa/escura interna: coloração heterogênea em tons 
sobrepostos dos tipos acima. A bibliografia tradicionalmente sugere 
como pasta do tipo oxidante externa. 
Pasta clara interna/clara externa/escura nuclear (pasta sanduíche): 
coloração heterogênea em tons sobrepostos dos tipos acima. A 
bibliografia tradicionalmente sugere como pasta do tipo oxidante 
externa e interna, com núcleo reduzido bem demarcado. 
 
Queima 
MB 
I MB II Sibelco 
Laranjal 
I 
Riacho Franc 
I 
Arroio Cor. 
V total 
Uniforme clara 289 56 119 1321 39 18 1842 
Uniforme escura 135 44 109 440 56 20 804 
Núcleo escuro 35 239 216 570 62 30 1152 
Núcleo escuro com 
lâminas int. e ext. finas 98 0 12 548 8 1 667 
Escura externa, clara 
interna 2 23 67 22 79 0 193 
Escura interna, clara 
externa 119 80 0 555 0 18 772 
total 678 442 523 3456 244 87 5430 
Tabela 7: Quantificação de fragmentos pelo tipo de queima. 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica,nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
226 
 
 
Gráfico 8: Quantificação de fragmentos pelo tipo de queima. 
 
Conclusão 
 
Uma leitura possível através das análises das coleções cerâmicas é permitir a 
definição da função dos contextos arqueológicos estudados. A distinção funcional entre 
aldeias e acampamentos foi definida a partir de três parâmetros principais: a 
comparação da densidade diferencial de materiais arqueológicos identificados nos sítios, 
sua localização e ainda a presença ou ausência de estruturas associadas (arquitetônicas, 
de combustão, de deposição de refugos, etc.). Tais vestígios ocorrem, ou são 
acentuados, quanto maior for o período e/ou a intensidade de ocupação, sendo, portanto, 
bons indicadores funcionais
29
. O artefatual cerâmico também difere em ambos os tipos 
de assentamentos. Nas aldeias (Morro Bonito I, Morro Bonito II, Morro Bonito III, 
Laranjal I, Riacho dos Franciscos I, Sibelco, Arroio Corrente V e Olho D’água I), 
observou-se a ocorrência de maior variabilidade artefatual, envolvendo vasilhas com 
dimensões e perfil funcional diversificados; quanto maior a diversidade e maiores as 
dimensões, maior também a probabilidade de se estar diante de um assentamento com 
atividades diversificadas e/ou ocupado mais longamente. São comuns, neste caso, 
vasilhas usadas para preparar alimentos (panelas do tipo yapepó e caçarolas do tipo 
ñaetá), para produzir cauim e armazenar líquidos (talhas do tipo cambuchí guaçú), para 
servir alimentos (pratos do tipo ñaembé) e para servir bebidas (copos ou tigelas do tipo 
 
29
 BINFORD, L.R., The Archaeology of Place, 1982; ______, Working at archaeology, 1983; NOELLI, 
F. S., Sem Tekohá não há Tekó (em busca de um modelo etnoarqueológico da subsistência e da aldeia 
Guarani aplicada a uma área de domínio no delta do Jacuí – RS), 1993; MILHEIRA, R. G., op. cit., 
2008. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
227 
 
cambuchí caguãbá). Já nos acampamentos, por outro lado, o perfil artefatual é menos 
diversificado, predominando formas menos versáteis e de menores dimensões
30
 
31
. 
Os acampamentos, por sua vez, estão instalados em áreas que integram o sistema 
de assentamento Guarani e são extremamente importantes para a economia e exploração 
dos recursos no âmbito de um território de ocupação. Seu reconhecimento confere uma 
perspectiva sistêmica para a ocupação do território que encontra ressonância nos 
estudos etnográficos, onde estas áreas de ocupação rápida ou semipermanentes foram 
descritas como essenciais à economia aldeã
32
. 
Os acampamentos Guarani identificados na região da pesquisa se localizam, 
predominantemente, em campos de dunas ainda ativas, sendo, periodicamente, 
recobertos e, em seguida, expostos, o que provoca alterações na configuração do 
registro arqueológico. São, em geral, compostos por poucos objetos líticos e fragmentos 
de cerâmica relativa a vasilhas de aspectos funcionais e pequenas dimensões esparsos 
no terreno, sem que se identifiquem estruturas arqueológicas em profundidade. Os cinco 
sítios cadastrados nesta categoria (Laranjal II, Laranjal V, Laranjal VI, Laranjal VII e 
Arroio Corrente VI), sugerem certa articulação sistêmica com as aldeias, em virtude da 
sua proximidade. Infelizmente, esses sítios não foram datados devido à ausência de 
carvões contextualizados ou outros tipos de amostras confiavelmente datáveis. 
Esse estudo foi limitado à uma análise tradicional, sem que tenham sido realizadas 
análises arqueométricas e/ou de microvestígios. Seria importante terem-se dados sobre 
as características químicas das argilas utilizadas nas vasilhas para, então, discutir-se 
uma abordagem de aquisição de matéria-prima em distintas regiões. Da mesma forma 
dados microbotânicos (fitólitos) seriam importantes para discussão da função das 
vasilhas, além da simples interpretação a partir das projeções dos potes. Enfim, são 
análises não realizadas e que abririam “portas” de análise, ficando, então, a sugestão 
para pesquisas futuras. 
 
 
 
 
 
30
 ROGGE, J. H., Função e Permanência em Assentamentos Litorâneos da Tradição Tupiguarani: Um 
Exemplo do Litoral Central do Rio Grande do Sul, 1997; MILHEIRA, R. G., op. cit., 2008. 
31
 Ver pranchas de projeções de bordas e vasilhas cerâmicas e tipo de decoração dos sítios Arroio 
Corrente V, Morro Bonito I e Morro Bonito II em figuras 02, 03 e 04, nos anexos. 
32
 NOVAES, Silvia Caiuby (Org.), Habitações Indígenas, 1983; NOELLI, F. S., op. cit., 1993; ASSIS, V. 
S. de., Da Espacialidade Tupinambá, 1996; FAUSTO, C., Inimigos Fiéis. História Guerra e Xamanismo 
na Amazônia, 2001. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
228 
 
REFERÊNCIA 
 
ARAUJO, A. G. de M. Teoria e Método em Arqueologia Regional: Um Estudo de caso 
no Alto Paranapanema, Estado de São Paulo. 2001. Tese (Doutorado) – Universidade 
de São Paulo. 2001. 
 
ASSIS, V. S. de. Da Espacialidade Tupinambá. 1996. Dissertação (Mestrado) – 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 1996. 
 
BINFORD, L.R. The Archaeology of Place. Journal of Anthropological Archaeology, 
v. 1, p. 5-31, 1982. 
 
BINFORD, L. Working at archaeology. New York: Academic Press, 1983. 
 
FARIAS, D. S. E. de.; DEBLASIS, P. Arqueologia da Rodovia SC-487: Barra do 
Camacho-Jaguaruna. Relatório Parcial de Pesquisa, 2008. 199 p. 
 
FARIAS, D. S. E. de; DEBLASIS, P. Arqueologia da Rodovia SC-487: Barra do 
Camacho-Jaguaruna. Relatório Final de Pesquisa, 2009. 92 p. 
 
FAUSTO, C. Inimigos Fiéis. História Guerra e Xamanismo na Amazônia. São Paulo: 
EDUSP, 2001. 
 
JACQUES, C. C. As Pessoas e as Coisas: Análise Espacial em Dois Sítios 
Arqueológicos, Santo Antônio da Patrulha, RS. 2007. Dissertação (Mestrado) – 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2007. 
 
LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. J. J. P. Cerâmica Guarani. Porto Alegre: Posenato e 
Cultura, 1989. 
 
McCORMAC, F. G.; HOGG, A. G.; BLACKWELL, P. G.; BUCK, C. E. HIGHAM, T. 
F. G.; REIMER, P. J. SHCal04. Southern hemisphere calibration 0-11.0 Call kyr BP. 
Radiocarbon, n. 46, p. 1087-1092, 2004. 
 
MILHEIRA, R. G. Território e Estratégia de Assentamento Guarani na Planície 
Sudoeste da Laguna dos Patos e Serra do Sudeste. 2008. Dissertação (Mestrado) – 
Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008. 
 
MILHEIRA, R. G. Arqueologia Guarani no litoral sul-catarinense: História e Território. 
2010. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 2010. 
 
NOVAES, Silvia Caiuby (Org.). Habitações Indígenas. São Paulo: EDUSP, 1983. 
 
NOELLI, F. S. Sem Tekohá não há Tekó (em busca de um modelo etnoarqueológico da 
subsistência e da aldeia Guarani aplicada a uma área de domínio no delta do Jacuí – 
RS). Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 
Porto Alegre. 1993. 
 
ORTON, C.; TYERS, P.; VINCE, A. Pottery in Archaeology. London: University 
Press; Cambridge: Cambridge University Press, 1993. 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
229 
 
 
REIMER, P. J.; BAILLIE, M. G. L.; BARD, E.; BAYLISS, A.; BECK, J. W.; 
BLACKWELL, P. G.; BRONK RAMSEY, C.; BUCK, C. E.; BURR, G. S.; 
EDWARDS, R. L.; FRIEDRICH, M.; GROOTES, P. M.; GUILDERSON, T .P.; 
HAJDAS, I.; HEATON, T. J.; HOGG, A. G.; HUGHEN, K. A.; KAISER, K. F.; 
KROMER, B.; MCCORMAC,F. G.; MANNING, S. W.; REIMER, R. W.; 
RICHARDS, D. A.; SOUTHON, J. R.; TALAMO, S.; TURNEY, C. S. M.; VAN DER 
PLICHT, J.; WEYHENMEYER, C. E. IntCal09 and Marine09 Radiocarbon Age 
Calibration Curves, 0–50,000 Years cal. Radiocarbon, 51(4), p. 1111-1150, 2009. 
 
ROBRAHN-GONZALEZ, E. M. A Ocupação Pré-Colonial do Vale do Ribeira de 
Iguape, SP: Os Grupos Ceramistas do Médio Curso. 1988. Dissertação (Mestrado) – 
Universidade de São Paulo, São Paulo. 1988. 
 
ROGGE, J. H. Função e Permanência em Assentamentos Litorâneos da Tradição 
Tupiguarani: Um Exemplo do Litoral Central do Rio Grande do Sul. Anais do IX 
Encontro da Sociedade de Arqueologia Brasileira. Rio de Janeiro, 1997. 
 
ROHR, J. A. Os sítios arqueológicos do município de Jaguaruna. Pesquisa, São 
Leopoldo/RS, n. 22, 1969. 
 
ROHR, J. A. Pré-história da Laguna. In: CABRAL, Oswaldo R. (Coord.) Santo Antonio 
dos Anjos da Laguna. Seus Valores Históricos e Humanos. Florianópolis: Imprensa 
Oficial do Estado de SC, 1976. pp. 13-50. 
 
ROHR, J. A. Sítios arqueológicos de Santa Catarina. Anais do Museu de Antropologia, 
n. 17, pp. 77-168, 1984. 
 
RYE, O. S. Pottery Technology. Principles and Reconstruction. Washington D.C.: 
Taraxacum, 1981. 
 
SHEPARD, A. O. [1956]. Ceramics for the Archaeologist. Washington D.C.: Carnegie 
Institution of Washington, 1985. 
 
SILVA, F. A. A Tecnologia e seus Significados. Um Estudo da Cerâmica dos Asuriní 
do Xingu e da Cestaria dos Kayapó-Xikrin sob uma Perspectiva Etnoarqueológica. 
2000. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 2000. 
 
SOARES, A. L. R. Contribuição para a Arqueologia Guarani: estudo do Sítio Röpke. 
2005. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo. 2005. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
230 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANEXOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
231 
 
 
Figura 2: Prancha de projeção de bordas e tipos decorativos do sítio Arroio Corrente V. Desenhos e 
fotos: Rafael Milheira. 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
232 
 
 
Figura 3: Prancha de projeção de bordas e tipos decorativos do sítio Morro Bonito I. Desenhos e 
fotos: Rafael Milheira. 
 
 
Revista Tempos Acadêmicos, Dossiê Arqueologia Pré-Histórica, nº 11, 2013, Criciúma, Santa Catarina. 
ISSN 2178-0811 
233 
 
 
Figura 4: Prancha de projeção de bordas e tipos decorativos do Morro Bonito II. 
Desenhos e fotos: Luana Alves.

Outros materiais