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Guia de Estudo - Logica

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Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
CA 
 
Guia de Estudo 
 
 
 
 
Lógica 
 
 
 
 
 
Graduação Geral 
 
 
 
2010 
Porto Velho/RO 
24/03/2009 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
 
 
 
HUMBERTA GOMES MACHADO PORTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GUIA DE ESTUDO 
LÓGICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientar alunos das disciplinas 
semipresenciais e a distância das 
Faculdades São Lucas e São Mateus. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Porto Velho/RO 
2010
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
 
 
 
Faculdade São Mateus 
Faculdade São Lucas 
 
Coordenação de Educação a Distância - EAD 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Centro de Ensino São Lucas 
Rua. Alexandre Guimarães, 1927 – Areal 
Porto Velho – RO – 78.916-450 
Fone: (69) 3211-8009 
 
 
Faculdade de Tecnologia São Mateus - FATESM 
Rua. Alexandre Guimarães, 1927 – Areal 
Porto Velho – RO – 78.916-450 
Fone: (69) 3211-8009 
 
 
 
 
Porto Velho/RO 
2010 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
 
 
 
 
DIRETORA GERAL 
Maria Eliza de Aguiar e Silva 
 
VICE-DIRETORA 
Eloá de Aguiar Gazola 
 
COORDENADOR DE EAD 
José Lucas Pedreira Bueno 
 
SUPERVISORA PEDAGÓGICA 
Hélia Cardoso Gomes da Rocha 
 
DESIGN INSTRUCIONAL 
Humberta Gomes Machado Porto 
 
REVISORES DE TEXTO 
Hevio Tavares de Carvalho 
Wibison Menezes Silva 
 
SUPERVISORA DE TECNOLOGIA 
Sara Luíze Oliveira Duarte 
 
ADMINISTRADOR DO AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM 
Marque Onel dos Santos Souza 
 
DESIGN/DIAGRAMAÇÃO 
Diênife Silva de Miranda 
 
 
 
 
A AUTORA 
 
HUMBERTA GOMES MACHADO PORTO - humbertaporto@yahoo.com.br 
 
 
Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de 
Varginha/MG, em 1989. Especialista em Educação Pré Escolar, Metodologia do 
Ensino, Designer Instrucional em Educação a Distância pela UNIFEI em 2008. Mestre 
em Educação pela UNINCOR/ MG em 2003. Atualmente trabalha como Pedagoga na 
rede pública de ensino, Professora Universitária presencial e na Educação a Distância 
e Designer Instrucional na EAD. 
 
 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
 
ÍCONES 
Realize. Determina a existência de atividade a ser realizada. 
Este ícone indica que há um exercício, uma tarefa ou uma prática para ser 
realizada. Fique atento a ele. 
Pesquise. Indica a exigência de pesquisa a ser realizada na busca por mais 
informação. 
 
Pense. Indica que você deve refletir sobre o assunto abordado para responder a 
um questionamento. 
 
Conclusão. Todas as conclusões sejam de idéias, partes ou unidades do curso 
virão precedidas desse ícone. 
 
Importante. Aponta uma observação significativa. Pode ser encarado como um 
sinal de alerta que o orienta para prestar atenção à informação indicada. 
 
Hiperlink. Indica um link (ligação), seja ele para outra página do módulo 
impresso ou endereço de Internet. 
 
Exemplo. Esse ícone será usado sempre que houver necessidade de 
exemplificar um caso, uma situação ou conceito que está sendo descrito ou 
estudado. 
Sugestão de Leitura. Indica textos de referência utilizados no curso e também 
faz sugestões para leitura complementar. 
 
Aplicação Profissional. Indica uma aplicação prática de uso profissional ligada 
ao que está sendo estudado. 
 
CheckList ou Procedimento. Indica um conjunto de ações para fins de 
verificação de uma rotina ou um procedimento (passo a passo) para a realização 
de uma tarefa. 
Saiba Mais. Apresenta informações adicionais sobre o tema abordado de forma a 
possibilitar a obtenção de novas informações ao que já foi referenciado. 
 
Revendo. Indica a necessidade de rever conceitos estudados anteriormente 
 
 
 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
Conteúdo 
 
1 APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................ 7 
2 A DISCIPLINA ............................................................................................................................... 8 
2.1 Ementa ............................................................................................................................... 8 
2.2 Interdisciplinaridade ............................................................................................................ 8 
2.3 Considerações Iniciais ........................................................................................................ 8 
2.4 Objetivos ............................................................................................................................. 9 
2.5 Metodologia ........................................................................................................................ 9 
UNIDADE 1 - O SURGIMENTO DA LÓGICA ................................................................................ 10 
UNIDADE 2 - ELEMENTOS DA LÓGICA ...................................................................................... 14 
UNIDADE 3 - O SILOGISMO ......................................................................................................... 25 
UNIDADE 4 - AS FALÁCIAS .......................................................................................................... 28 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................... 47 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
7 
 
1 APRESENTAÇÃO 
 
 
Prezado(a) aluno(a), 
Antes de apresentá-lo(a) ao Guia de Estudos da Disciplina Lógica, quero parabenizá-lo(a) 
pela perseverança e o êxito por assumir este compromisso com o seu conhecimento. Este 
momento é de grande valor, pois você estará refletindo sobre os saberes já elaborados no 
decorrer do curso e os que estarão por vir. 
Este Guia de Estudos permitirá a você conscientizar-se sobre a importância da Lógica, que 
é a parte da filosofia que estuda o fundamento, a estrutura e as expressões humanas do 
conhecimento, ou seja, não podemos dizer que ela nos ensina a pensar, pois já sabemos pensar, 
entretanto ela ensina as formas em que nós, os humanos, costumamos pensar, tanto quando 
raciocinamos de modo correto ou quando o fazemos de modo incorreto. 
Você já parou para pensar sobre isso? Existem de fato, formas de pensar correta ou 
incorretamente? Será possível desenvolver estratégias de pensamento que nos ajudem a 
compreender melhor uma proposição? 
Portanto, a partir de agora mergulharemos na Lógica e você aprenderá a desenvolver 
algumas estratégias para ler textos filosóficos, assim como textos do cotidiano, a reconhecer, por 
exemplo, a estrutura básica do raciocínio. Nossa intenção é que você se aproprie de valiosos 
instrumentos da Lógica permitindo-lhe identificar possíveis falhas na argumentação. 
Bom estudo para você! 
Profª. Ms. Humberta Gomes Machado Porto 
 
Está pronto para iniciarmos nossa jornada? 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
8 
 
2 A DISCIPLINA 
 
2.1 Ementa 
 
Determinação do objeto principal da lógica: as estruturas argumentativas, seus 
componentes e suas regras. Os silogismos e as falácias. Questionamentos acerca do uso da 
noção de verdade na lógica. Tipos de argumentos possíveis: válidos, não-válidos, explicativos, 
retóricos. 
 
2.2 Interdisciplinaridade 
 
 A mesma será desenvolvida de maneira interdisciplinar, inter-relacionando os tópicos 
básicos da disciplina com os demais conteúdos acadêmicos do curso. Nestaperspectiva, o 
ensino-aprendizagem ganha significado e prática e é enriquecido com os múltiplos sentidos 
explorados e com os resultados práticos que se constitui com o resultado das atividades das 
disciplinas. 
 
2.3 Considerações Iniciais 
 
A importância da Lógica na formação acadêmica é visível no instante em que percebemos 
que a busca do conhecimento deve estar alicerçada por um conjunto de bons argumentos na 
medida em que apenas eles podem constituir a defesa de determinada orientação de 
pensamento, assim como para organizá-los de modo correto. Por outro lado, a lógica é 
especialmente útil para desmascarar argumentos falaciosos. 
Podemos destacar na Lógica o cumprimento de duas funções, possibilitar a clareza de 
ideias e a prevenção dos erros de raciocínio. Ela possibilita uma atitude crítica diante de 
pressupostos apresentados na formação de vocês. Efetivamente, além da Lógica assumir de uma 
forma critica os problemas da formação acadêmica, denunciando os falsos problemas com o 
auxílio de bons argumentos; ela também se posiciona criticamente no que concerne a 
compreensão dos textos lidos. 
A atuação da Lógica é fundamental na medida em que coloca à prova as nossas ideias 
considerando-as criticamente. Assim como permite o debate entre nossas próprias ideias. E este 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
9 
 
debate de ideias pressupõe a apreciação dos argumentos que vêm fortalecer nossa capacidade 
crítica e reflexiva. 
A Lógica marca a sua diferença em relação às outras disciplinas não só porque se revê em 
atitudes como a criatividade, a abertura, a crítica, mas também porque possibilita a percepção de 
que não há uma filosofia, mas várias que norteiam os saberes. A questão fundamental não está 
numa perspectiva estática, mas, numa atividade dinâmica. E o processo de conhecimento não se 
efetiva na reprodução dos pensamentos, mas sim no debate de argumentos. 
De forma a lidarmos criativamente com a lógica, é importante dominar as ferramentas 
básicas que possibilitarão exprimir com transparência os pressupostos e as conclusões, e 
simultaneamente assumir uma atitude crítica. 
A criatividade do pensamento lógico está patente no talento para descobrir outras 
possibilidades, onde antes só víamos uma. Ele não é, portanto, estático, rígido e fechado, ele é, 
pelo contrário, flexível, elástico, curioso, insatisfeito e muito ambicioso. O pensador criativo vai à 
descoberta, não se abandona àquilo que aparentemente só tem uma solução, uma alternativa. A 
criatividade decorrente da Lógica cumpre-se precisamente neste levantamento de circunstâncias 
novas, neste esgotamento de todas as possibilidades. 
 
2.4 Objetivos 
 
 Utilizar o raciocínio lógico elaborando argumentos consistentes. 
 Identificar as falácias nos discursos orais e escritos. 
 
2.5 Metodologia 
 
Considerando que a metodologia utilizada deverá considerar os objetivos – as 
características dos alunos, os conteúdos e as técnicas de ensino, a opção perpassará pela 
metodologia que possibilite ao aluno ser agente do seu processo de conhecimento, observando, 
discutindo, pesquisando, interpretando, resolvendo problemas que impliquem em análise e 
síntese dos aspectos fundamentais do processo de conhecimento, alcançando numa perspectiva 
dialógica, uma aprendizagem significativa pautada na interatividade, na reflexão e na criticidade. 
 
Está pronto para iniciarmos nossa jornada? 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
10 
 
 
UNIDADE 1 - O SURGIMENTO DA LÓGICA 
Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: 
 
 Construir o conceito de lógica; 
 Identificar a diferença entre a dialética platônica e a lógica aristotélica. 
 
Com toda certeza você já utilizou o termo ―lógica‖ no seu dia 
a dia. Quando você quer expressar uma certeza, uma conclusão 
óbvia seja no aspecto positivo ou negativo você utiliza as frases: - 
Lógico que sim! ou – Lógico que não! Às vezes nos deparamos até 
mesmo com crianças pequenas dizendo: ―Lógico que...‖ por tão 
comum e usual esse vocábulo. 
Assim quando estamos utilizando as palavras ―lógico‖ ou 
―lógica‖ estamos seguindo uma tradição da filosofia grega. A palavra 
―logos‖ significa linguagem-discurso e pensamento-conhecimento – 
e foi isso que conduziu os filósofos a indagarem se o logos obedecia 
ou não a regras, possuía ou não normas, princípios e critérios para 
seu uso e funcionamento. 
Na verdade, a Lógica segundo ―Aristóteles é a ‗ciência da 
demonstração‘; para Liard, é a ‗ciência das formas do pensamento‘ 
e Aranha e Martins acrescentam ‗é a ciência da conseqüência e da 
verdade da argumentação; ‘ ‗é a ciência das leis ideais do 
pensamento e a arte de aplicá-las corretamente na procura da 
demonstração da verdade‘‖. (APUD. ARANHA E MARTINS, 1991. 
p.96). 
Neste sentido, o estudo da Lógica nos possibilita enxergar os 
raciocínios implícitos que permeiam o nosso mundo, seja em livros, 
em conversas, debates, filmes, entrevistas e até mesmo em nossos 
pensamentos. É a capacidade de desvelar, de desnudar o que está 
posto, seguindo regras para alcançar a verdade. Assim, o nosso 
 Reflita sobre o que você leu e construa um conceito original 
sobre Lógica. 
 
 
 
Fig. 1 Aristóteles 
http://levesofensas.files.
wordpress.com/2009/06
/aristoteles1.jpg 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
11 
 
 
objeto de estudo, segundo Chauí (2003), é a proposição, ou seja o 
juízo do pensamento na verdade é a operacionalização do 
pensamento. 
1.1 O Nascimento da Lógica entre os Gregos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fig. 2 Academia Platônica http://historiaeatualidade.blogspot.com/2008/05/tal-revoluo-
francesa.html 
Há muito tempo os primeiros filósofos já se preocupavam com 
a origem e o desaparecimento de todos os seres. Preocupavam-se 
também com as transformações. Nessa perspectiva, surgiram então 
duas grandes tendências que adotaram posições totalmente 
diferentes a esse respeito. 
Segundo, Chauí (2003) no que concerne à Filosofia existem 
duas grandes tendências da Grécia antiga: para Heráclito - No 
mundo, nada permanece idêntico, tudo se transforma no seu 
contrário(lei racional da realidade); já para Parmênides – O fluxo dos 
contrários é uma aparência, a identidade do Ser é imutável. O que é 
contrário a si mesmo não pode ser pensado nem dito, pois é 
contraditório (indizível). 
Platão dizia que Heráclito estava certo em dizer que a matéria 
é aquilo passível de mudanças no mundo dos seres corporais, mas 
dizia também que esse mundo seria apenas uma aparência. Por 
outro lado, defendia Parmênides ao relatar que o mundo verdadeiro 
é o das essências imutáveis. Para conhecer as essências e deixar 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
12 
 
 
as aparências, Platão propunha a dialética (diálogo ou conversa em 
que os envolvidos pudessem, através de discussões, chegar à 
mesma idéia ou pensamento). 
Já Aristóteles afirmava que Heráclito tinha razão ao dizer que 
as coisas mudam, assim como Parmênides também tinha razão ao 
defender que o pensamento e a linguagem exigem a identidade. 
Porém, ambos se enganavam ao supor que identidade e mudança 
são contraditórias. 
Aristóteles então concluiu que a dialética não era segura, pois 
a escolha de uma opinião contra a outra não assegurava encontrar a 
coisa investigada. Então, ele propôs o uso da analítica (conjunto de 
procedimento de demonstração e prova), que se diferenciava da 
dialética platonista por oferecer procedimentos empregados em 
raciocínios que se referiam às coisas das quais era possível ter um 
conhecimento universal e necessário,e seu ponto de partida eram 
regras, leis e princípios necessários e universais do pensamento. 
 
 
Assim, a partir desse grande conflito gerado na Grécia 
com Heráclito afirmando que somente a mudança era real e 
Parmênides dizendo o contrário, que a essência era imutável, 
surge Platão propondo a dialética, o diálogo para superar as 
opiniões contrárias Mas, Aristóteles segue um caminho 
diferente, dizendo que a dialética apenas não bastaria, era 
necessário conhecer as formas de raciocínios, as normas que 
os regem. Nasce então a Lógica, portanto, ele deu à Lógica a 
autonomia de uma disciplina, um tema que mereceu uma 
investigação sistemática. Assim, ele foi considerado o 
fundador da Lógica. É necessário lembrar que a palavra lógica 
foi empregada séculos mais tarde, pelos estóicos e Alexandre 
de Afrodísia. 
 
No conjunto de obras intitulado Organon, Aristóteles defendeu 
que a Lógica apresenta uma função especial: servir de instrumento 
para a Filosofia, instrumento esse, que possibilita a distinção entre 
 
 
 
Fig. 3 – Aristóteles e 
Platão. 
http://filosofandoehist
oriando.blogspot.com
/2009/08/aristoteles-
o-que-e-o-ser.html 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
13 
 
 
raciocínios válidos (dentro de um padrão correto de pensamento e 
inválidos (quando não seguem um padrão correto de pensamento) 
Observe que a Lógica foi concebida como um instrumento, como um 
meio para a análise e a compreensão dos raciocínios. 
―Qual a diferença entre a dialética platônica e a lógica (ou 
analítica) aristotélica? Em primeiro lugar, a dialética platônica é o 
exercício direto do pensamento e da linguagem, um modo de pensar 
que opera com os conteúdos do pensamento e do discurso. A lógica 
aristotélica é um instrumento que antecede o exercício do 
pensamento e da linguagem, oferecendo-lhes meios para realizar o 
conhecimento e o discurso. Para Platão, a dialética é um modo de 
conhecer. Para Aristóteles, a lógica (ou analítica) é um instrumento 
para o conhecer. 
Em segundo lugar, a dialética platônica é uma atividade 
intelectual destinada a trabalhar contrários e contradições para 
superá-los, chegando à identidade da essência ou da ideia imutável. 
Depurando e purificando as opiniões contrárias, a dialética platônica 
chega à verdade do que é idêntico e o mesmo para todas as 
inteligências. A lógica aristotélica oferece procedimentos que devem 
ser empregados naqueles raciocínios que se referem a todas as 
coisas das quais possamos ter um conhecimento universal e 
necessário, e seu ponto de partida não são opiniões contrárias, mas 
princípios, regras e leis necessárias e universais do pensamento.‖ 
(CHAUÍ, 2003, p.107). 
 
 
 
Lembre-se: o propósito da Lógica é o de estudar um 
padrão básico do pensamento e, por conseguinte, como se 
deve pensar, assim também, como devem ser apresentados 
os raciocínios. 
Logo, espera-se que o estudo desta disciplina auxilie 
você a melhor identificar as formas de raciocínio; e como 
construir raciocínios encadeados e coerentes; assim como lhe 
possibilitar a identificar e evitar os raciocínios dúbios e 
enganosos. 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
14 
 
 
UNIDADE 2 - ELEMENTOS DA LÓGICA 
Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: 
 
 Identificar os elementos de Lógica; 
 Compreender o vocabulário básico que compõe a Lógica. 
 
Para Aristóteles, a lógica era um instrumento para a 
ciência, um modo de proceder para chegar à verdade. 
Segundo Chauí (2003) a lógica caracteriza-se como: 
 instrumental: é o instrumento do pensamento para 
pensar corretamente e verificar a correção do que está sendo 
pensado; 
 formal: não se ocupa com os conteúdos pensados ou 
com os objetos referidos pelo pensamento, mas apenas com a 
forma pura e geral dos pensamentos, expressa através da 
linguagem; 
 propedêutica: é o que devemos conhecer antes de 
iniciar uma investigação científica ou filosófica, pois somente ela 
pode indicar os procedimentos (métodos, raciocínios, 
demonstrações) que devemos empregar para cada modalidade 
de conhecimento; 
 normativa: fornece princípios, leis, regras e normas que 
todo pensamento deve seguir se quiser ser verdadeiro; 
 doutrina da prova: estabelece as condições e os 
fundamentos necessários de todas as demonstrações. Dada uma 
hipótese, permite verificar as conseqüências necessárias que 
dela decorrem; dada uma conclusão, permite verificar se é 
verdadeira ou falsa; 
 geral e temporal : as formas do pensamento, seus 
princípios e suas leis não dependem do tempo e do lugar, nem 
das pessoas e circunstâncias, mas são universais, necessárias . 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
15 
 
 
 
Algumas noções de lógica 
Adaptação do texto de António Aníbal Padrão 
ARGUMENTO: O que é um argumento? 
Um argumento é um conjunto de proposições que 
utilizamos para justificar (provar, dar razão, suportar) algo. 
A proposição que queremos justificar tem o nome de 
conclusão; as proposições que pretendem apoiar a 
conclusão ou a justificam têm o nome de premissas. 
 
Suponhamos que um jovem queira pedir aos pais um 
aumento da "mesada". Como justificará este aumento? 
Recorrendo a razões, não é? Dirá algo como: 
 
Os preços no bar da escola subiram; como eu lancho no 
bar da escola, o lanche ficou mais caro. Portanto, preciso 
de um aumento de minha "mesada". 
 
Temos aqui um argumento, cuja conclusão é: "preciso de 
um aumento da 'mesada'". E como justificou esta 
conclusão? Com a subida dos preços no bar da escola e 
com o fato de lanchar no bar. Então, estas são as 
premissas do argumento, são as razões que utilizou para 
defender a conclusão. 
 
Este exemplo permite-nos esclarecer outro aspecto dos 
argumentos, que é o seguinte: embora um argumento seja 
um conjunto de proposições, nem todos os conjuntos de 
proposições são argumentos. Por exemplo, o seguinte 
conjunto de proposições não é um argumento: 
Eu lancho no bar da escola, mas o João não. 
A Joana come pipocas no cinema. 
O Rui foi ao museu. 
Neste caso, não temos um argumento, porque não 
há nenhuma pretensão de justificar uma proposição com 
base nas outras. Nem há nenhuma pretensão de 
apresentar um conjunto de proposições com alguma 
relação entre si. Há apenas uma sequência de 
afirmações. E um argumento é, como já vimos, um 
conjunto de proposições em que se pretende que uma 
delas seja sustentada ou justificada pelas outras — o que 
não aconteceu no exemplo anterior. 
 
Um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só 
pode ter uma conclusão. 
Exemplos de argumentos com uma só premissa: 
Exemplo 1 
Premissa: Todos os brasileiros são sul-
americanos. 
Conclusão: Logo, alguns sul-americanos são 
brasileiros. 
Exemplo 2 
Premissa: O João e o José são alunos do 5.º 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
16 
 
 
período da faculdade. 
Conclusão: Logo, o João é aluno do 5.º período da 
faculdade. 
Exemplos de argumentos com duas premissas: 
Exemplo 1: 
Premissa 1: Os alunos do 5.º período estudam filosofia. 
Premissa 2: O João é um aluno do 5.º período. 
Conclusão: Logo, o João estuda filosofia. 
Exemplo 2: 
Premissa 1: Se não houvesse vida para além da morte, 
então a vida não faria sentido. 
Premissa 2: Mas a vida faz sentido. 
Conclusão: Logo, há vida para além da morte. 
Exemplo 3: 
Premissa 1: Todos os portovelhenses são rondonienses. 
Premissa 2: Todos os rondonienses são brasileiros. 
Conclusão: Logo, todos os portovelhenses são brasileiros. 
 
É claro que na maior parte das vezes os argumentos não 
se apresentam nesta forma. Repare, por exemplo, no 
argumento de Kant a favor do valor objetivoda felicidade, 
tal como é apresentado por Aires Almeida et al. (2003b), 
no site de apoio ao manual A Arte de Pensar: 
"De um ponto de vista imparcial, cada pessoa é um 
fim em si. Mas se cada pessoa é um fim em si, a 
felicidade de cada pessoa tem valor de um ponto de vista 
imparcial e não apenas do ponto de vista de cada pessoa. 
Dado que cada pessoa é realmente um fim em si, 
podemos concluir que a felicidade tem valor de um ponto 
de vista imparcial." 
 
Neste argumento, a conclusão está claramente 
identificada ("podemos concluir que..."), mas nem sempre 
isto acontece. Contudo, há certas expressões que nos 
ajudam a perceber qual é a conclusão do argumento e 
quais são as premissas. Repare, no argumento anterior, 
na expressão "dado que". Esta expressão é um indicador 
de premissa: ficamos a saber que o que se segue a esta 
expressão é uma premissa do argumento. Também há 
Indicadores de premissa Indicadores de conclusão 
pois 
porque 
dado que 
como foi dito 
visto que 
devido a 
a razão é que 
admitindo que 
sabendo-se que 
assumindo que 
por isso 
por conseguinte 
implica que 
logo 
portanto 
então 
daí que 
segue-se que 
pode-se inferir que 
consequentemente 
 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
17 
 
 
indicadores de conclusão: dois dos mais utilizados são 
"logo" e "portanto". 
 
Um indicador é um articulador do discurso, é uma palavra 
ou expressão que utilizamos para introduzir uma razão 
(uma premissa) ou uma conclusão. O quadro seguinte 
apresenta alguns indicadores de premissa e de conclusão: 
 
É claro que nem sempre as premissas e a conclusão são 
precedidas por indicadores. Por exemplo, no argumento: 
O Dunga é treinador de futebol e ganha mais de 
10.000 reais por mês. Portanto, há treinadores de futebol 
que ganham mais de 1.0000 reais por mês. 
A conclusão é precedida do indicador "portanto", 
mas as premissas não têm nenhum indicador. 
Por outro lado, aqueles indicadores (palavras e 
expressões) podem aparecer em frases sem que essas 
frases sejam premissas ou conclusões de argumentos. 
Por exemplo, se eu disser: 
Depois de se separar do dono, o cão nunca mais 
foi o mesmo. Então, um dia ele partiu e nunca mais foi 
visto. Admitindo que não morreu, onde estará? 
O que se segue à palavra "Então" não é conclusão 
de nenhum argumento, e o que segue a "Admitindo que" 
também não é premissa, pois nem sequer temos aqui um 
argumento. Por isso, embora seja útil, deve-se usar a 
informação do quadro de indicadores de premissa e de 
conclusão criticamente e não de forma automática. 
Proposições e frases 
 
Um argumento é um conjunto de proposições. Quer as 
premissas, quer a conclusão de um argumento são 
proposições. Mas o que é uma proposição? 
Uma proposição é o pensamento que uma frase 
declarativa exprime literalmente. 
 
Não devemos confundir proposições com frases. Uma 
frase é uma entidade linguística, é a unidade gramatical 
mínima de sentido. Por exemplo, o conjunto de palavras 
"Brasília é uma" não é uma frase. Mas o conjunto de 
palavras "Brasília é uma cidade" é uma frase, pois já se 
apresenta com sentido gramatical. 
 
Há vários tipos de frases: declarativas, interrogativas, 
imperativas e exclamativas. Mas só as frases declarativas 
exprimem proposições. Uma frase só exprime uma 
proposição quando o que ela afirma tem valor de verdade, 
mesmo de repente não sendo verdade. 
 
Por exemplo, as seguintes frases não exprimem 
proposições, porque não têm valor de verdade, isto é, não 
são verdadeiras nem falsas: 
1. Que horas são? 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
18 
 
 
2. Traz o livro. 
3. Prometo ir contigo ao cinema. 
4. Quem me dera gostar de Matemática. 
 
Mas as frases seguintes exprimem proposições, porque 
têm valor de verdade, isto é, são verdadeiras ou falsas, 
ainda que, acerca de algumas, não saibamos, neste 
momento, se são verdadeiras ou falsas: 
1. Brasília é a capital da Argentina. 
2. Alfenas é uma cidade mineira. 
3. A neve é branca. 
4. Há seres extraterrestres inteligentes. 
A frase 1 é falsa, a 2 e a 3 são verdadeiras. E a 4? 
Bem, não sabemos qual é o seu valor de verdade, não 
sabemos se é verdadeira ou falsa, mas sabemos que tem 
de ser verdadeira ou falsa. Por isso, também exprime uma 
proposição. 
 
Uma proposição é uma entidade abstrata, é o pensamento 
que uma frase declarativa exprime literalmente. Ora, um 
mesmo pensamento pode ser expresso por diferentes 
frases. Por isso, a mesma proposição pode ser expressa 
por diferentes frases. Por exemplo, as frases "O governo 
demitiu o presidente da BRASPETRO" e "O presidente da 
BRASPETRO foi demitido pelo governo" exprimem a 
mesma proposição. As frases seguintes também 
exprimem a mesma proposição: "A neve é branca" e 
"Snow is white". 
 
Ambiguidade 
 
Para além de podermos ter a mesma proposição expressa 
por diferentes frases, também pode acontecer que a 
mesma frase exprima mais do que uma proposição. Neste 
caso dizemos que a frase é ambígua. A frase "Em cada 
dez minutos, um homem brasileiro pega numa mulher ao 
colo" é ambígua, porque exprime mais do que uma 
proposição: tanto pode querer dizer que existe um homem 
brasileiro (sempre o mesmo) que, em cada dez minutos, 
pega uma mulher ao colo, como pode querer dizer que, 
em cada dez minutos, um homem brasileiro (diferente) 
pega uma mulher no colo (a sua). 
 
Por vezes, deparamo-nos com frases que não sabemos 
com exatidão o que significam. São as frases vagas. Por 
exemplo, "O professor de Português é calvo" é uma frase 
vaga, porque não sabemos a partir de qual quantidade de 
falta de cabelos é que podemos considerar que alguém é 
calvo. Quinhentos? Cem? Dez? Outro exemplo de frase 
vaga é o seguinte: "Muitos alunos perderam nota no teste 
de Sociologia". Muitos, mas quantos? Dez? Vinte? 
 
Devemos evitar as frases vagas, pois, se não 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
19 
 
 
comunicarmos com exatidão o nosso pensamento, como 
é que podemos esperar que os outros nos compreendam? 
 
Validade e verdade 
 
A verdade é uma propriedade das proposições. A validade 
é uma propriedade dos argumentos. É incorreto falar em 
proposições válidas. As proposições não são válidas nem 
inválidas. As proposições só podem ser verdadeiras ou 
falsas. Também é incorreto dizer que os argumentos são 
verdadeiros ou que são falsos. Os argumentos não são 
verdadeiros nem falsos. Os argumentos dizem-se válidos 
ou inválidos. 
 
Quando é que um argumento é válido? Por agora, referirei 
apenas à validade dedutiva. Diz-se que um argumento 
dedutivo é válido quando é impossível que as suas 
premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Repare 
que, para um argumento ser válido, não basta que as 
premissas e a conclusão sejam verdadeiras. É preciso 
que seja impossível que, sendo as premissas verdadeiras, 
a conclusão seja falsa. 
Considere o seguinte argumento: 
Premissa 1: Alguns treinadores de futebol ganham 
mais de 1.000.000 euros por mês. 
Premissa 2: O Felipão é um treinador de futebol. 
Conclusão: Logo, o Felipão ganha mais de 
1.000.000 euros por mês. 
 
No momento em que o Felipão é treinador de um time 
europeu ou até mesmo asiático e os jornais nos informam 
que ganha muito acima de 1.000.000 euros por mês, este 
argumento tem premissas verdadeiras e conclusão 
verdadeira e, contudo, não é válido. Não é válido, porque 
não é impossível que as premissas sejam verdadeiras e a 
conclusão falsa. Podemos perfeitamente imaginar uma 
circunstância em que o Felipão ganhasse menos de 
1.000.000 euros por mês (por exemplo, o Felipão como 
treinador de um clube do campeonato regional de futebol, 
ganhando 10.000 euros por mês), e, neste caso, a 
conclusão já seria falsa, apesar de as premissas serem 
verdadeiras. Portanto, o argumento éinválido. 
 
Considera, agora, o seguinte argumento, anteriormente 
apresentado: 
Premissa: O João e o José são alunos do 5.º 
período. 
Conclusão: Logo, o João é aluno do 5.º período. 
 
Este argumento é válido, pois é impossível que a 
premissa seja verdadeira e a conclusão falsa. Ao contrário 
do argumento que envolve o Felipão, neste não podemos 
imaginar nenhuma circunstância em que a premissa seja 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
20 
 
 
verdadeira e a conclusão falsa. Você pode imaginar o 
caso em que o João não é aluno do 5.º período? Bem, se 
você conseguir isto, significará que a conclusão é falsa, 
mas a premissa também é falsa. 
Repare, agora, no seguinte argumento: 
Premissa 1: Todos os números primos são pares. 
Premissa 2: Nove é um número primo. 
Conclusão: Logo, nove é um número par. 
Este argumento é válido, apesar de quer as 
premissas, quer a conclusão serem falsas. Continua a 
aplicar-se a noção de validade dedutiva anteriormente 
apresentada: é impossível que as premissas sejam 
verdadeiras e a conclusão falsa. A validade de um 
argumento dedutivo depende da conexão lógica entre as 
premissas e a conclusão do argumento e não do valor de 
verdade das proposições que constituem o argumento. 
Como vê, a validade é uma propriedade diferente da 
verdade. A verdade é uma propriedade das proposições 
que constituem os argumentos (mas não dos argumentos) 
e a validade é uma propriedade dos argumentos (mas não 
das proposições). 
Fonte: http://criticanarede.com/log_nocoes.html 
 
PROPOSIÇÃO 
Como você viu, proposição é o objeto da lógica e mostra 
os juízos formulados pelo pensamento. O raciocínio 
(encadeamento dos juízos) se exprime através da conexão de 
proposições, a qual é chamada de silogismo. 
 
De acordo com CHAUÍ (2003), a lógica analisa os 
elementos que formam uma proposição, sendo estes palavras 
não combinadas com outras e que aparecem em tudo que 
pensamos e dizemos. As categorias (substância, quantidade, 
qualidade, relação, lugar, tempo, posição, posse, ação, e paixão) 
indicam o que uma coisa é, o que faz ou como está e têm duas 
propriedades lógicas: extensão (conjunto de objetos 
 Pesquise em outras fontes, confronte o que você já sabe e 
construa um pequeno glossário: argumento, premissa, 
conclusão, proposição. 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
21 
 
 
determinados por um termo ou categoria) e compreensão 
(propriedades que esse termo designa). 
Assim, classificam-se os termos em: 
 gênero: extensão maior, compreensão menor. Ex. 
animal; 
 espécie: extensão e compreensão média; Ex. homem; 
 Indivíduo: extensão menor, compreensão maior. 
Ex.Sócrates. 
Há de se considerar que a relação de conseqüência é 
considerada o fator relevante do objeto de estudo da Lógica. Nesse 
sentido, o estudo investiga como se faz a passagem no raciocínio, 
das premissas para a conclusão. 
 
Há de se considerar também que as proposições se 
classificam quanto à qualidade e à quantidade. 
Do ponto de vista da qualidade, elas podem ser afirmativas e 
negativas. 
Considerando a partir da quantidade, segundo Chauí (2003) 
as proposições são divididas em: 
 Particulares: quando se referem a apenas alguns 
indivíduos da espécie. 
 Gerais: quando se referem ao total da espécie. 
 Singulares: quando se referem a apenas um indivíduo 
da espécie. 
 Ainda tendo em vista as proposições, podemos também 
distingui-las pela modalidade: 
 Necessárias: quando o predicado está incluído na 
essência do sujeito, ou seja, é uma condição necessária. Ex. 
Todo homem é mortal. 
 Para saber mais acesse: http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/convite.pdf 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
22 
 
 
 Não necessárias: quando o predicado é impossível de 
ser atribuído ao sujeito. Ex. Nenhum homem é imortal. 
 Possíveis: quando o predicado pode ser ou não 
atribuído ao sujeito. Ex. Alguns homens são honestos. 
 
Por que conhecer essas classificações? Para que elas nos 
servem? 
Na verdade, a importância está em compreender as relações 
necessárias para alcançar um determinado raciocínio, acompanhar 
as estruturas que o norteiam. Portanto, a partir de agora fique mais 
atento (a). 
Reflita mais sobre o que você ouve e lê. Busque o argumento, 
analise as premissas e estabeleça a conclusão. 
 
TIPOS DE RACIOCÍNIO 
É bastante pertinente também que você reflita sobre as 
formas como ocorrem os raciocínios, que podem ser dedutivos, 
indutivos e por analogias. 
 Dedutivo: é o raciocínio mais estudado na Lógica. 
É a operação pela qual a compreensão extrai necessária e 
logicamente uma proposição (conclusão), a partir de proposições 
antecedentes, ou seja, das premissas. Os raciocínios dedutivos 
partem de enunciados mais amplos, gerais e universais, para 
proposições particulares. Trata-se de um processo descendente, do 
mais amplo para o mais particular. 
Ex. Todos os cariocas são brasileiros. 
Alguns homens são cariocas. 
Logo, alguns homens são brasileiros. 
Existem pelo menos 2 tipos específicos de dedução: a 
dedução lógica silogística (os silogismos que são raciocínios lógico-
dedutivos) e a dedução matemática (baseada em demonstrações de 
axiomas). 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
23 
 
 
É relevante ressaltar que apesar deste tipo de raciocínio não 
possibilitar a descoberta de novos conhecimentos, uma vez que se 
parte de premissas conhecidas para uma conclusão que delas 
derivou logicamente, é um procedimento racional de grande 
utilidade para a ciência e para o conhecimento em geral, já que 
garante o correto funcionamento do pensamento, o seu rigor e 
solidez formal (validade). 
 Indutivo: é o raciocínio em que o pensamento, parte de 
conhecimentos particulares ou menos gerais, extraindo uma 
conclusão mais geral ou universal, realizando previsões nem 
sempre são rigorosas e permitindo enunciar probabilidades que, 
quando comprovadas, podem se converter em leis. É um raciocínio 
ascendente, pois parte do que é particular e concreto (casos 
empíricos) para o geral/ universal e abstrato (enunciados gerais ou 
leis). 
Ao realizar frequentemente generalizações abusivas, o 
raciocínio indutivo apresenta falta de rigor: baseia-se no 
determinismo ao fazer previsões baseados numa lógica simplista 
de causas e efeitos nem sempre confirmados. Assume 
importância na ciência, pois permite passar do conhecido ao 
desconhecido: (permite realizar conjecturas/especulações e 
formulação de hipóteses). 
Ex. O calor dilata o ferro 
O calor dilata o ouro 
O calor dilata o cobre 
(O ferro, o ouro e o cobre são metais) 
Logo, o calor dilata (todos) os metais 
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24 
 
 
 
Fonte: Fig. 5 
 Analogia: é uma forma de raciocínio em que a partir de 
certas semelhanças se infere uma conclusão. As conclusões 
obtidas por analogia poderão ser mais ou menos rigorosas, de 
acordo com o grau de maior ou menor semelhança dos casos 
observados e conforme a verificação das previsões que são 
feitas. 
É um dos raciocínios mais vulgares, pois utiliza-se de 
raciocínios analógicos que contêm expressões deste tipo: ―é 
semelhante a‖…― é quase tão como...‖; ― é igual/parecido a…‖, ― é 
tão quanto…‖ etc. 
Apesar das limitações e da falta de rigor, reconhece-se a 
sua importância nos campos da Arte e até da Ciência, uma vez 
que estimula a imaginação, favorecendo a descoberta. 
Ex. Pedro é muito ansioso, reagindo agressivamente a 
situações de stress. 
Lucas, gêmeo de Pedro, é igualmente ansioso. 
Logo, Lucas reagirá tão ansiosa e agressivamente quanto 
Pedro a situaçõesde stress. 
 Reconhecer os processos que o raciocínio toma para 
conhecer é relevante. Podemos distinguir o dedutivo quando 
partimos do todo para as partes, o indutivo, quando 
conhecemos a partir das partes chegando ao todo, por 
analogia, quando estabelecemos relações de semelhanças. 
 
-
Resaltar
-
Resaltar
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UNIDADE 3 - O SILOGISMO 
Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: 
 
 Compreender as características de um silogismo; 
 Identificar um silogismo. 
 
O silogismo é um tipo de argumento composto de três 
proposições: duas premissas e uma conclusão. Segundo CHAUÍ 
(2003), ―a teoria aristotélica do silogismo é o coração da lógica, pois 
é a teoria das demonstrações ou das provas, da qual depende o 
pensamento científico e filosófico Observe o texto abaixo: 
Todo homem é mortal 
Sócrates é homem 
Logo, Sócrates é mortal. 
A primeira proposição, chamamos de premissa maior, a 
segunda proposição chamamos de premissa menor, a terceira 
proposição chamamos de conclusão. Essa é a forma básica de um 
silogismo. Ele contém os seguintes termos: homem, animal e mortal. 
O termo que se repete na premissa maior e menor, que é o termo 
homem, chamamos de termo médio. 
Os outros dois termos do silogismo, animal e mortal, 
chamamos de termos extremos. A função do termo médio é ligar os 
termos extremos permitindo chegar à conclusão. Portanto, o termo 
médio nunca se repete na conclusão. 
O silogismo possui três características principais: 
1. é mediato: exige um percurso de pensamento e de 
linguagem para que se possa chegar a uma conclusão; 
2. é dedutivo: é um movimento de pensamento e de 
linguagem que parte de certas afirmações verdadeiras para 
chegar a outras também verdadeiras e que dependem 
necessariamente das primeiras; 
3. é necessário: porque é dedutivo (as conseqüências a 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
26 
 
 
que se chega na conclusão resultam necessariamente da 
verdade do ponto de partida). Por isso, Aristóteles considera 
o silogismo que parte de proposições apodíticas superior ao 
que parte de proposições hipotéticas ou possíveis, 
designando-o com o nome de ostensivo, pois ostenta ou 
mostra claramente a relação necessária e verdadeira entre o 
ponto de partida e a conclusão. 
Observe algumas normas para que você fique atento(a), 
quanto aos silogismos: 
 Um silogismo deve ter somente um termo maior, um 
termo menor e um médio; 
 O termo médio nunca deve aparecer na conclusão, 
mas sim nas duas premissas; 
 Pelo fato de poder concluir mais do que o permitido, 
nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão; 
 A conclusão não pode conter o termo médio; nada 
pode ser concluído de duas premissas negativas ou de duas 
premissas particulares; 
 Duas premissas afirmativas devem ter conclusão 
afirmativa; 
 A conclusão sempre acompanha a parte mais fraca. 
Para Aristóteles há dois tipos de silogismos: os dialéticos com 
argumentações contrárias por ter premissas que são meras 
opiniões, pois são premissas prováveis e conclusões hipotéticas. E 
os científicos é aquele que se refere ao universal e necessário, ao 
que é de uma maneira e não pode deixar de ser tal como é, aquele 
que acontece sempre e sempre da mesma maneira. 
De acordo com CHAUÍ (2003): 
O silogismo científico não admite premissas contraditórias. 
Suas premissas são universais necessárias e sua conclusão não 
admite discussão ou refutação, mas exige demonstração. Por esse 
motivo, o silogismo científico deve obedecer a quatro regras, sem as 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
27 
 
 
quais sua demonstração não terá valor: 
1. as premissas devem ser verdadeiras (não podem ser possíveis ou 
prováveis, nem falsas); 
2. as premissas devem ser primárias ou primeiras, isto é, 
indemonstráveis, pois se tivermos que demonstrar as premissas, 
teremos que ir de regressão em regressão, indefinidamente, e nada 
demonstraremos; 
3. as premissas devem ser mais inteligíveis do que a conclusão, 
pois a verdade desta última depende inteiramente da absoluta 
clareza e compreensão que tenhamos das suas condições, isto é, 
das premissas; 
4. as premissas devem ser causa da conclusão, isto é, devem 
estabelecer as coisas ou os fatos que causam a conclusão e que a 
explicam, de tal maneira que, ao conhecê-las, estamos obedecendo 
as causas da conclusão. Esta regra é da maior importância porque, 
para Aristóteles, conhecer é conhecer as causas ou pelas causas. 
O que são as premissas de um silogismo científico? São 
verdades indemonstráveis, evidentes e causais. São de três tipos: 
1. axiomas, como, por exemplo, os três princípios lógicos ou 
afirmações do tipo ―O todo é maior do que as partes‖; 
2. postulados, isto é, os pressupostos de que se vale uma ciência 
para iniciar o estudo de seus objetos. Por exemplo, o espaço plano, 
na geometria; o movimento e o repouso, na física; 
3. definições (que, para Aristóteles, são as premissas mais 
importantes de uma ciência) do gênero que é o objeto da ciência 
investigada. A definição deve dizer o que a coisa estudada é como 
é, por que é sob quais condições é a definição. 
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UNIDADE 4 - AS FALÁCIAS 
Ao final do estudo dessa unidade você deverá ser capaz de: 
 
 Identificar os principais tipos de falácias; 
 Reconhecer os mecanismos utilizados numa falácia. 
 
Você sabe o que é uma falácia? Falácia é, segundo o 
dicionário Aurélio, uma afirmação falsa ou errônea, ou ainda, 
qualidade daquele que é falaz, ou seja, intencionalmente enganador, 
ardiloso, enganoso, capcioso, vão, quimérico e ilusório. 
Assim, em Lógica, Falácias são erros de raciocínio com 
aparência de correção, ou seja, um raciocínio incorreto, ilegítimo 
que parece-nos correto, legítimo e, como consequência, surge-nos 
com poder de persuasão e convencimento. 
Para que você possa compreender melhor leia o texto a 
seguir: 
 
O Amor é uma Falácia 
M. Sulman 
Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e 
astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um 
dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante 
como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos. 
Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto 
tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu 
companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma 
idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom 
sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo 
emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a 
manias. Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. 
Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar 
a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isto, para mim, 
é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava 
assim. 
Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal 
expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi 
imediato: apendicite. 
- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o 
médico. 
- Couro preto - balbuciou ele. 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
29 
 
 
- Couro preto - disse eu, interrompendo a minha corrida. 
- Quero uma jaqueta de couro preto - disse. 
Percebi que o seu problema não era físico, mas mental. 
- Por que você quer uma jaqueta de couro preto? 
- Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - 
Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. 
Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as 
aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto. 
- Quer dizer - perguntei incrédulo- que estão mesmo 
usando jaquetas de couro preto outra vez? 
- Todas as pessoas importantes da universidade estão. 
Onde você tem andado? 
- Na biblioteca - respondi, citando um lugar não 
freqüentado pela pessoas importantes da Universidade. 
Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o 
outro do quarto. 
- Preciso conseguir uma jaqueta de couro preto - disse, 
exaltado - Preciso mesmo. 
- Por que, Pety? Veja a coisa racionalmente. Jaquetas 
de couro preto são desconfortáveis. Impedem o movimento dos 
braços. São pesadas, são feias, são ... 
- Você não compreende - interrompeu ele com 
impaciência - é o que todos estão usando. Você não quer andar 
na moda? 
- Não - respondi, sinceramente. 
- Pois eu sim - declarou ele - daria tudo para ter uma 
jaqueta de couro preto. Tudo. 
Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou 
a funcionar a todo vapor. 
- Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com olhos 
semicerrados. 
- Tudo - confirmou ele, em tom dramático. 
Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde 
encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu pai usara um nos 
seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, 
no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que 
eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha 
alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy. 
Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a 
esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A 
moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era 
daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly 
para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais. 
Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
30 
 
 
tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a 
importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um 
advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas 
observações, eram quase sempre casados com mulheres 
bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly 
preenchia perfeitamente estes requisitos. 
Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, 
mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de 
fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá. 
Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de 
graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a 
elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á 
mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no 
barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um 
sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, 
castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos. 
Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o 
oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de 
tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de 
contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar 
inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita. 
- Petey - perguntei - você ama Polly Spy? 
- Eu acho que ela é interessante - respondeu - mas não 
sei se chamaria isso de amor. Por quê? 
- Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo 
formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um 
com o outro? 
- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois 
com outros também. Por quê? 
- Existe alguém - perguntei - algum outro homem que ela 
goste de maneira especial? 
- Que eu saiba não. Por quê? 
Fiz que sim com a cabeça, satisfeito. 
- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está 
livre, é isso? 
- Acho que sim. Aonde você quer chegar? 
- Nada, anda - respondi com inocência, tirando minha 
mala de dentro do armário. 
- Onde é que você vai? - quis saber Petey. 
- Passar o fim de semana em casa. 
Atirei algumas roupas dentro da mala. 
- Escute - disse Petey, apegando-se com força ao meu 
braço - em casa, será que você não poderia pedir dinheiro ao 
seu pai, e me emprestar para comprar uma jaqueta de couro 
preto? 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
31 
 
 
- Posso até fazer mais do que isso - respondi, piscando 
o olho misteriosamente. Fechei a mala e saí. 
- Olhe - disse a Petey, ao voltar na segunda feira de 
manhã. Abri a mala e mostrei o enorme objeto cabeludo e 
fedorento que meu pai usara ao volante de seu Stutz Beacat em 
1955. 
- Santo Pai - exclamou Petey com reverência. Passou as 
mãos na jaqueta e depois no rosto. 
- Santo Pai - repetiu, umas quinze ou vinte vezes. 
- Você gostaria de ficar com ele? - perguntei. 
- Sim - gritou ele, apertando a jaqueta contra o peito. Em 
seguida, seus olhos assumiram um ar precavido. - O que quer 
em troca? 
- A sua namorada - disse eu, não desperdiçando 
palavras. 
- Polly? - sussurrou Petey, horrorizado. - Você quer a 
Polly? 
- Isso mesmo. 
Ele jogou a jaqueta pra longe. 
- Nunca - declarou resoluto. 
Dei de ombros. 
- Tudo bem. Se você não quer andar na moda, o 
problema é seu. 
Sentei-me numa cadeira e fingi que lia um livro, mas 
continuei espiando Petey, com o rabo dos olhos. Era um 
homem partido em dois. Primeiro olhava para a jaqueta com a 
expressão de uma criança desamparada diante da vitrine de 
uma confeitaria. Depois dava-lhe as costas e cerrava os dentes, 
altivo. Depois voltava a olhar para a jaqueta. Com uma 
expressão ainda maior de desejo no rosto. Depois virava-se 
outra vez, mas agora sem tanta resolução. Sua cabeça ia e 
vinha, o desejo ascendendo, a resolução descendendo. 
Finalmente, não se virou mais: ficou olhando para a jaqueta 
com pura lascívia. 
- Não é como se eu estivesse apaixonado por Polly - 
balbuciou. - Ou mesmo namorando sério, ou coisa parecida. 
- Isso mesmo - murmurei. 
- Afinal, Polly significa o que para mim, ou eu pra ela? 
- Nada - respondi. 
- Foi uma coisa banal. Nos divertimos um pouco. Só 
isso. 
- Experimente a jaqueta - disse eu. 
Ele obedeceu. A jaqueta ficou bem larga, passando da 
cintura. Ele parecia um motoqueiro mal vestido da década de 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
32 
 
 
cinqüenta. 
- Serve perfeitamente - disse, contente. 
Levantei-me da cadeira e perguntei, estendendo a mão. 
- Negócio feito? 
Ele engoliu a seco. 
- Feito - disse, e apertou a minha mão. 
Saí com Polly pela primeira vez na noite seguinte. 
O Primeiro programa teria o caráter de pesquisa 
preparatória. Eu desejava saber o trabalho que me esperava 
para elevar a sua mente ao nível desejado. Levei-a para jantar. 
- Puxa, que jantar interessante! - disse ela, quando 
saímos do restaurante. Fomos ao cinema. 
- Puxa, que filme interessante! - disse ela, quando 
saímos do cinema. 
Levei-a para casa. 
- Puxa, que noite interessante - disse ela, ao nos 
despedirmos. 
Voltei para o quarto com o coração pesado. Eu 
subestimara gravemente as proporções da minha tarefa. A 
ignorância daquela moça era aterradora. E não seria o bastante 
apenas instruí-la. Era preciso, antes de tudo, ensiná-la a 
pensar. O empreendimento se me afigurava gigantesco, e a 
princípio me vi inclinado a devolvê-la a Petey. Mas aí comecei a 
pensar nos seus dotes físicos generosos e na maneira como 
entrava numa sala ou segurava uma faca, um garfo, e decidi 
tentar novamente. 
Procedi, como sempre, sistematicamente. Dei-lhe um 
curso de Lógica. Acontece que, como estudante de direito, eu 
freqüentava na ocasião aulas de Lógica, e portanto tinha tudo 
na ponta da língua. 
- Polly - disse eu, quando fui buscá-la para o nosso 
segundo encontro. - Esta noite vamos até o parque conversar. 
- Ah, que interessante! - respondeu ela. 
Uma coisa deve ser dita em favor da moça: seria difícil 
encontrar alguém tão bem disposta para tudo. 
Fomos até o parque, o local de encontros da 
universidade, nos sentamos debaixo de umaárvore, e ela me 
olhou cheia de expectativa. 
- Sobre o que vamos conversar? - perguntou. 
- Sobre Lógica. 
Ela pensou durante alguns segundos e depois 
sentenciou: 
- Interessante! 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
33 
 
 
- A Lógica - comecei, limpando a garganta - é a ciência 
do pensamento. Se quisermos pensar corretamente, é preciso 
antes saber identificar as falácias mais comuns da Lógica. É o 
que vamos abordar hoje. 
- Interessante! - exclamou ela, batendo palmas de 
alegria. 
Fiz uma careta, mas segui em frente, com coragem. 
- Vamos primeiro examinar uma falácia chamada Dicto 
Simpliciter. 
- Vamos - animou-se ela, piscando os olhos com 
animação. 
- Dicto Simpliciter quer dizer um argumento baseado 
numa generalização não qualificada. Por exemplo: o exercício é 
bom, portanto todos devem se exercitar. 
- Eu estou de acordo - disse Polly, fervorosamente. - 
Quer dizer, o exercício é maravilhoso. Isto é, desenvolve o 
corpo e tudo. 
- Polly - disse eu, com ternura - o argumento é uma 
falácia. Dizer que o exercício é bom é uma generalização não 
qualificada. Por exemplo: para quem sofre do coração, o 
exercício é ruim. Muitas pessoas têm ordem de seus médicos 
para não exercitarem. É preciso qualificar a generalização. 
Deve-se dizer: o exercício é geralmente bom, ou é bom para a 
maioria das pessoas. Do contrário está-se cometendo um Dicto 
Simpliciter. Você compreende? 
- Não - confessou ela. - Mas isso é interessante. Quero 
mais. Quero mais! 
- Será melhor se você parar de puxar a manga da minha 
camisa - disse eu e, quando ela parou, continuei: 
- Em seguida, abordaremos uma falácia chamada 
generalização apressada. Ouça com atenção: você não sabe 
falar francês, eu não sei falar francês, Petey Bellows não sabe 
falar francês. Devo portanto concluir que ninguém na 
universidade sabe falar francês. 
- É mesmo? - espantou-se Polly. – Ninguém? 
Contive a minha impaciência. 
- É uma falácia, Polly. A generalização é feita 
apressadamente. Não há exemplos suficientes para justificar a 
conclusão. 
- Você conhece outras falácias - perguntou ela, 
animada. - Isto é até melhor do que dançar. 
- Esforcei-me por conter a onda de desespero que 
ameaçava me invadir. Não estava conseguindo nada com 
aquela moça, absolutamente nada. Mas não sou outra coisa 
senão persistente. Continuei. 
- A seguir, vem o Post Hoc. Ouça: Não levemos Bill 
-
Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
34 
 
 
conosco ao piquenique. Toda vez que ele vai junto, começa a 
chover. 
- Eu conheço uma pessoa exatamente assim - exclamou 
Polly. - Uma moça da minha cidade, Eula Becker. Nunca falha. 
Toda vez que ela vai junto a um piquenique... 
- Polly - interrompi, com energia - é uma falácia. Não é 
Eula Becker que causa a chuva. Ela não tem nada a ver com a 
chuva. Você estará incorrendo em Post Hoc, se puser a culpa 
na Eula Becker. 
- Nunca mais farei isso - prometeu ela, constrangida. - 
Você está bravo comigo? 
- Não Polly - suspirei. - Não estou bravo. 
- Então conte outra falácia. 
- Muito bem. Vamos experimentar as premissas 
contraditórias. 
- Vamos - exclamou ela alegremente. 
Franzi a testa, mas continuei. 
- Aí vai um exemplo de premissas contraditórias. Se 
Deus pode fazer tudo, pode fazer uma pedra tão pesada que 
ele mesmo não conseguirá levantar? 
- É claro - respondeu ela imediatamente. 
- Mas se ele pode fazer tudo, pode levantar a pedra. 
- É mesmo - disse ela, pensativa. - Bem, então eu acho 
que ele não pode fazer a pedra. 
- Mas ele pode fazer tudo - lembrei-lhe. 
Ela coçou a cabeça linda e vazia. 
- Estou confusa - admitiu. 
- É claro que está. Quando as premissas de um 
argumento se contradizem, não pode haver argumento. Se 
existe uma força irresistível, não pode existir um objeto 
irremovível. Compreendeu? 
- Conte outra dessas histórias interessantes - disse 
Polly, entusiasmada. 
Consultei o relógio. 
- Acho melhor parar por aqui. Levarei você em casa, e lá 
pensará no que aprendeu hoje. Teremos outra sessão amanhã. 
Deixei-a no dormitório das moças, onde ela me 
assegurou que a noitada fora realmente interessante, e voltei 
desanimadamente para o meu quarto. Petey roncava sobre sua 
cama, com a jaqueta de couro encolhida a seus pés. Por alguns 
segundos, pensei em acordá-lo e dizer que ele podia ter Polly 
de volta. Era evidente que o meu projeto estava condenado ao 
fracasso. Ela tinha, simplesmente, uma cabeça à prova de 
-
Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
35 
 
 
Lógica. 
Mas logo reconsiderei. Perdera uma noite, por que não 
perder outra? Quem sabe se em alguma parte daquela cratera 
de vulcão adormecido que era a mente de Polly, algumas 
brasas ainda estivessem vivas. Talvez, de alguma maneira, eu 
ainda conseguisse abaná-las até que flamejasse. As 
perspectivas não eram das mais animadoras, mas decidi tentar 
outra vez. 
Sentado sob uma árvore, na noite seguinte, disse: 
- Nossa primeira falácia desta noite se chama ad 
misericordiam. 
Ela estremeceu de emoção. 
- Ouça com atenção - comecei - Um homem vai pedir 
emprego. Quando o patrão pergunta quais as suas 
qualificações, o homem responde que tem uma mulher e dois 
filhos em casa, que a mulher e aleijada, as crianças não tem o 
que comer, não tem o que vestir nem o que calçar, a casa não 
tem camas, não há carvão no porão e o inverno se aproxima. 
Uma lágrima desceu por cada uma das faces rosadas de 
Polly. 
- Isso é horrível, horrível! - soluçou. 
- É horrível - concordei - mas não é um argumento. O 
homem não respondeu à pergunta do patrão sobre as suas 
qualificações. Ao invés disso, tentou despertar a sua 
compaixão. Cometeu a falácia de ad misericordiam. 
Compreendeu? 
Dei-lhe um lenço e fiz o possível para não gritar 
enquanto ela enxugava os olhos. 
- A seguir - disse, controlando o tom da voz - 
discutiremos a falsa analogia. Eis um exemplo: deviam permitir 
aos estudantes consultar seus livros durante os exames. Afinal, 
os cirurgiões levam as radiografias para se guiarem durante 
uma operação, os advogados consultam seus papéis durante 
um julgamento, os construtores têm plantas que os orientam na 
construção de uma casa. Por quê, então, não deixar que os 
alunos recorram a seus livros durante uma prova? 
- Pois olhe - disse ela entusiasmada - esta é a ideia mais 
interessante que eu já ouvi há muito tempo. 
- Polly - disse eu com impaciência - o argumento é 
falacioso. Os cirurgiões, os advogados e os construtores não 
estão fazendo teste para ver o que aprenderam, e os 
estudantes sim. As situações são completamente diferentes e 
não se pode fazer analogia entre elas. 
- Continuo achando a idéia interessante - disse Polly. 
- Santo Cristo! - murmurei, com impaciência. 
- A seguir, tentaremos a hipótese contrária ao fato. 
-
Resaltar
-
Resaltar
-
Resaltar
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Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
36 
 
 
- Essa parece ser boa - foi a reação de Polly. 
- Preste atenção: se Madame Curie não deixasse, por 
acaso, uma chapa fotográfica numa gaveta junto com uma 
pitada de pechblenda, nós hoje não saberíamos da existência 
do rádio. 
- É mesmo, é mesmo - concordou Polly, sacudindo a 
cabeça. - Você viu o filme? Eu fiquei louca pelo filme. Aquele 
Walter Pidgeon é tão bacana! Ele me faz vibrar. 
- Se conseguir esquecer o Sr. Pidgeon por alguns 
minutos - disse eu, friamente - gostaria de lembrar que o que eu 
disse é uma falácia. Madame Curie teria descoberto o rádio de 
alguma outra maneira. Talvez outra pessoa o descobrisse. 
Muita coisa podia acontecer. Não se pode partir de uma 
hipótese que não é verdadeira e tirar dela qualquer conclusão 
defensável.- Eles deviam colocar o Walter Pidgeon em mais filmes - 
disse Polly - Eu quase não vejo ele no cinema. 
Mais uma tentativa, decidi. Mas só mais uma. Há um 
limite para o que podemos suportar. 
- A próxima falácia é chamada de envenenar o poço. 
- Que engraçadinho! - deliciou-se Polly. 
- Dois homens vão começar um debate. O primeiro se 
levante e diz: ‗o meu oponente é um mentiroso conhecido. Não 
é possível acreditar numa só apalavra do que ele disser‘. Agora, 
Polly, pense bem, o que está errado? 
Vi-a enrugar a sua testa cremosa, concentrando-se. De 
repente, um brilho de inteligência - o primeiro que vira - surgiu 
nos seus olhos. 
- Não é justo! - disse ela com indignação - Não é justo. O 
primeiro envenenou o poço antes que os outros pudessem 
beber dele. Atou as mãos do adversário antes da luta 
começar... Polly, estou orgulhoso de você. 
-Ora - murmurou ela, ruborizando de prazer. 
-Como vê, minha querida, não é tão difícil. Só requer 
concentração. É só pensar, examinar, avaliar. Venha, vamos 
repassar tudo o que aprendemos até agora. 
- Vamos lá - disse ela, com um abano distraído da mão. 
Animado pela descoberta de que Polly não era uma 
cretina total, comecei uma longa e paciente revisão de tudo o 
que dissera até ali. Sem parar citei exemplos, apontei falhas, 
martelei sem dar trégua. Era como cavar um túnel. A princípio, 
trabalho duro e escuridão. Não tinha idéia de quando veria a luz 
ou mesmo se a veria. Mas insisti. Dei duro, até que fui 
recompensado. Descobri uma fresta de luz. E a fresta foi se 
alargando até que o sol jorrou para dentro do túnel, clareando 
tudo. 
-
Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
37 
 
 
Levara cinco noites de trabalho forçado, mas valera a 
pena. Eu transformara Polly em uma lógica, e a ensinara a 
pensar. Minha tarefa chegara a bom termo. Fizera dela uma 
mulher digna de mim. Está apta a ser minha esposa, uma 
anfitriã perfeita para as minhas muitas mansões. Uma mãe 
adequada para os meus filhos privilegiados. 
Não se deve deduzir que eu não sentia amor por ela. 
Muito pelo contrário. Assim como Pigmaleão amara a mulher 
perfeita que moldara para si, eu amava a minha. Decidi 
comunicar-lhe os meus sentimentos no nosso encontro 
seguinte. Chegara a hora de mudar as nossas relações, de 
acadêmicas para românticas. 
- Polly,- disse eu, na próxima vez que nos sentamos sob 
a árvore - hoje não falaremos de falácias. 
- Puxa! - disse ela, desapontada. 
- Minha querida - prossegui, favorecendo-a com um 
sorriso - hoje é a sexta noite que estamos juntos. Nos demos 
esplendidamente bem. Não há dúvidas de que formamos um 
bom par. 
- Generalização apressada - exclamou ela, alegremente. 
- Perdão - disse eu. 
- Generalização apressada - repetiu ela. - Como é que 
você pode dizer que formamos um bom par baseado em 
apenas cinco encontros? 
Dei uma risada, contente. Aquela criança adorável 
aprendera bem as suas lições. 
- Minha querida - disse eu, dando um tapinha tolerante 
na sua mão - cinco encontros são o bastante. Afinal, não é 
preciso comer um bolo inteiro para saber se ele é bom ou não. 
- Falsa Analogia - disse Polly prontamente - eu não sou 
um bolo, sou uma pessoa. 
Dei outra risada, já não tão contente. A criança adorável 
talvez tivesse aprendido a sua lição bem demais. Resolvi mudar 
de tática. Obviamente, o indicado era uma declaração de amor 
simples, direta e convincente. Fiz uma pausa, enquanto o meu 
potente cérebro selecionava as palavras adequadas. Depois 
reiniciei. 
- Polly, eu te amo. Você é tudo no mundo pra mim, é a 
lua e a estrelas e as constelações no firmamento. For favor, 
minha querida, diga que será minha namorada, senão a minha 
vida não terá mais sentido. Enfraquecerei, recusarei comida, 
vagarei pelo mundo aos tropeções, um fantasma de olhos 
vazios. 
Pronto, pensei; está liquidado o assunto. 
- Ad misericordiam - disse Polly. 
Cerrei os dentes. Eu não era Pigmaleão; era 
-
Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
38 
 
 
Frankenstein, e o meu monstro me tinha pela garganta. Lutei 
desesperadamente contra o pânico que ameaçava invadir-me. 
Era preciso manter a calma a qualquer preço. 
- Bem, Polly - disse, forçando um sorriso - não há dúvida 
que você aprendeu bem as falácias. 
- Aprendi mesmo - respondeu ela, inclinando a cabeça 
com vigor. 
- E quem foi que ensinou a você, Polly? 
- Foi você. 
- Isso mesmo. E portanto você me deve alguma coisa, 
não é mesmo, minha querida? Se não fosse por mim, você 
nunca saberia o que é uma falácia. 
- Hipótese Contrária ao Fato - disse ela sem pestanejar. 
Enxuguei o suor do rosto. 
- Polly - insisti, com voz rouca - você não deve levar tudo 
ao pé da letra. Estas coisas só têm valor acadêmico. Você sabe 
muito bem que o que aprendemos na escola nada tem a ver 
com a vida. 
- Dicto Simpliciter - brincou ela, sacudindo o dedo na 
minha direção. 
Foi o bastante. Levantei-me num salto, berrando como 
um touro. 
- Você vai ou não vai me namorar? 
- Não vou - respondeu ela. 
- Por que não? - exigi. 
- Porque hoje à tarde eu prometi a Petey Bellows que eu 
seria a namorada dele. 
Quase caí para trás, fulminado por aquela infâmia. 
Depois de prometer, depois de fecharmos negócio, depois de 
apertar a minha mão! 
- Aquele rato! - gritei, chutando a grama. - Você não 
pode sair com ele, Polly. É um mentiroso. Um traidor. Um rato. 
- Envenenar o poço - disse Polly - E pare de gritar. Acho 
que gritar também deve ser uma falácia. 
Com uma admirável demonstração de força de vontade, 
modulei a minha voz. 
- Muito bem - disse - você é uma lógica. Vamos olhar as 
coisas logicamente. Como pode preferir Petey Bellows? Olhe 
para mim: um aluno brilhante, um intelectual formidável, um 
homem com futuro assegurado. E veja Petey: um maluco, um 
boa vida, um sujeito que nunca saberá se vai comer ou não no 
dia seguinte. Você pode me dar uma única razão lógica para 
namorar Petey Bellows? 
- Posso sim - declarou Polly - Ele tem uma jaqueta de 
-
Resaltar
-
Resaltar
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
39 
 
 
couro preto. 
 (in Sulman, M. (1973): As calcinhas cor-de-rosas do 
Capitão, Porto Alegre: Ed. Globo) 
 
Como você pode ver existe um grande número de armadilhas 
que podemos evitar quando estamos construindo um argumento 
dedutivo. Assim, as falácias são erros técnicos que fazem um 
argumento inválido ou indevido. Abaixo está uma lista de algumas 
falácias comuns, e também alguns planos retóricos muitas vezes 
usados em debates. A lista foi adaptada a partir do ―Guia Das 
Falácias de Stephen Downes" 
a) Ad Hoc 
Há uma diferença entre argumento e explicação. Se nós 
estamos interessados em estabelecer A, e B nos é oferecido como 
evidência, a afirmação "A porque B" é um argumento. Se nós 
estamos tentando estabelecer a verdade de B então "A porque B" 
não é um argumento, é uma explicação. 
A falácia Ad Hoc é dar uma explicação pós-fato que não se 
aplica a outras situações. Freqüentemente essa explicação Ad hoc 
estará vestida para parecer um argumento. 
 
O Amor é uma Falácia 
M. Sulman 
Eu era frio e lógico. Sutil, calculista, perspicaz, arguto e 
astuto - era tudo isso. Tinha um cérebro poderoso como um 
dínamo, preciso como uma balança de farmácia, penetrante 
como um bisturi. E tinha - imaginem só - dezoito anos. 
Não é comum ver alguém tão jovem com um intelecto 
tão gigantesco. Tomem, por exemplo, o caso do meu 
companheiro de quarto na universidade, Pettey Bellows. Mesma 
idade, mesma formação, mas burro como uma porta. Um bom 
sujeito, compreendam, mas sem nada lá em cima. Do tipo 
emocional. Instável, impressionável. Pior do que tudo, dado a 
manias.Eu afirmo que a mania é a própria negação da razão. 
Deixar-se levar por qualquer nova moda que apareça, entregar 
a alguma idiotice só porque os outros a seguem, isto, para mim, 
é o cúmulo da insensatez. Petey, no entanto, não pensava 
assim. 
Certa tarde, encontrei-o deitado na cama com tal 
expressão de sofrimento no rosto que o meu diagnóstico foi 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
40 
 
 
imediato: apendicite. 
- Não se mexa. Não tome laxante. Vou chamar o 
médico. 
- Couro preto - balbuciou ele. 
- Couro preto - disse eu, interrompendo a minha corrida. 
- Quero uma jaqueta de couro preto - disse. 
Percebi que o seu problema não era físico, mas mental. 
- Por que você quer uma jaqueta de couro preto? 
- Eu devia ter adivinhado - gritou ele, socando a cabeça - 
Devia ter adivinhado que eles voltariam com o Charleston. 
Como um idiota, gastei todo o meu dinheiro em livros para as 
aulas e agora não posso comprar uma jaqueta de couro preto. 
- Quer dizer - perguntei incrédulo - que estão mesmo 
usando jaquetas de couro preto outra vez? 
- Todas as pessoas importantes da universidade estão. 
Onde você tem andado? 
- Na biblioteca - respondi, citando um lugar não 
freqüentado pela pessoas importantes da Universidade. 
Ele saltou da cama e pôs-se a andar de um lado para o 
outro do quarto. 
- Preciso conseguir uma jaqueta de couro preto - disse, 
exaltado - Preciso mesmo. 
- Por que, Pety? Veja a coisa racionalmente. Jaquetas 
de couro preto são desconfortáveis. Impedem o movimento dos 
braços. São pesadas, são feias, são ... 
- Você não compreende - interrompeu ele com 
impaciência - é o que todos estão usando. Você não quer andar 
na moda? 
- Não - respondi, sinceramente. 
- Pois eu sim - declarou ele - daria tudo para ter uma 
jaqueta de couro preto. Tudo. 
Aquele instrumento de precisão, meu cérebro, começou 
a funcionar a todo vapor. 
- Tudo? - perguntei, examinando seu rosto com olhos 
semicerrados. 
- Tudo - confirmou ele, em tom dramático. 
Alisei o queixo, pensativo. Eu, por acaso, sabia onde 
encontrar uma jaqueta de couro preto. Meu pai usara um nos 
seus tempos de estudante; estava agora dentro de um malão, 
no sótão da casa. E, também por acaso, Petey tinha algo que 
eu queria. Não era dele, exatamente, mas pelo menos ele tinha 
alguns direitos sobre ela. Refiro-me à sua namorada, Polly Spy. 
Eu há muito desejava Polly Spy. Apresso-me a 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
41 
 
 
esclarecer que o meu desejo não era de natureza emotiva. A 
moça, não há dúvida, despertava emoções, mas eu não era 
daqueles que se deixam dominar pelo coração. Desejava Polly 
para fins engenhosamente calculados e inteiramente cerebrais. 
Cursava eu o primeiro ano de direito. Dali a algum 
tempo, estaria me iniciando na profissão. Sabia muito bem a 
importância que tinha a esposa na vida e na carreira de um 
advogado. Os advogados de sucesso, segundo as minhas 
observações, eram quase sempre casados com mulheres 
bonitas, graciosas e inteligentes. Com uma única exceção, Polly 
preenchia perfeitamente estes requisitos. 
Era bonita. Suas proporções ainda não eram clássicas, 
mas eu tinha certeza de que o tempo se encarregaria de 
fornecer o que faltava. A estrutura básica estava lá. 
Graciosa também era. Por graciosa quero dizer cheia de 
graças sociais. Tinha porte ereto, a naturalidade no andar e a 
elegância que deixavam transparecer a melhor das linhagens. Á 
mesa, suas maneiras eram finíssimas. Eu já vira Polly no 
barzinho da escola comendo a especialidade da casa - um 
sanduíche que continha pedaços de carne assada, molho, 
castanhas e repolho - sem nem sequer umedecer os dedos. 
Inteligente ela não era. Na verdade, tendia para o 
oposto. Mas eu confiava em que, sob a minha tutela, haveria de 
tornar-se brilhante. Pelo menos valia a pena tentar. Afinal de 
contas, é mais fácil fazer uma moça bonita e burra ficar 
inteligente do que uma moça feia e inteligente ficar bonita. 
- Petey - perguntei - você ama Polly Spy? 
- Eu acho que ela é interessante - respondeu - mas não 
sei se chamaria isso de amor. Por quê? 
- Você - continuei - tem alguma espécie de arranjo 
formal com ela? Quero dizer, vocês saem exclusivamente um 
com o outro? 
- Não. Nos vemos seguidamente. Mas saímos os dois 
com outros também. Por quê? 
- Existe alguém - perguntei - algum outro homem que ela 
goste de maneira especial? 
- Que eu saiba não. Por quê? 
Fiz que sim com a cabeça, satisfeito. 
- Em outras palavras, a não ser por você, o campo está 
livre, é isso? 
- Acho que sim. Aonde você quer chegar? 
- Nada, anda - respondi com inocência, tirando minha 
mala de dentro do armário. 
Se nós assumimos que Deus trata as pessoas igualmente, 
então a seguinte explicação é uma Ad Hoc: 
―Eu fui aprovado num concurso público‖. 
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
42 
 
 
Reze ao Senhor então. Ele que te aprovou. 
Então, ele irá aprovar em concursos públicos todos os outros 
que lhe pedirem? 
―Os meios de Deus são misteriosos.‖ 
b) Afirmação do Consequente 
 
Essa falácia é um argumento da forma "A implica B, B é 
verdade, portanto A é verdade". Para entender porque isso é uma 
falácia, observe o exemplo. 
 ―Se estudamos bastante, somos aprovados 
na faculdade.‖ 
―Ora, fomos aprovados na faculdade.‖ 
―Logo, estudamos bastante.‖ 
Na realidade, não estudamos, mas o professor elaborou uma 
prova muito fácil. O erro é afirmar a primeira coisa a partir da 
afirmação da segunda. 
c) Evidência Anedota 
 
A falácia da evidência anedota é que é insignificante 
estatisticamente, assim não há como assegurar sua validade, 
mesmo que exista o objeto ou o assunto a que ela se refere. 
 
Por exemplo, suponhamos que se prove que sonhos possam 
prever o futuro. Mesmo assim, isso não excluiria os sonhos que 
não são previsões e mesmo as coincidências. Não é porque 
sonhos poderiam prever o futuro, que todos eles serão 
previsões, mesmo quando se referirem ao futuro. 
d) Argumentum ad Antiquitatem (Argumento de antiguidade 
ou tradição). 
 
Essa é a falácia de afirmar que algo é certo ou bom 
simplesmente porque é velho, ou porque "essa é a maneira que isso 
sempre foi‖. 
 
 
"Se o meu avô diz que Garrincha foi melhor que Pelé, deve ser 
verdade." 
e) Argumentum Ad Baculum (Apelo pela Força) 
 
 
 
-
Resaltar
Guia de Estudo - Lógica 
 
 
 
 
43 
 
 
Utilização de algum tipo de privilégio, força, poder ou ameaça 
para impor a conclusão. 
 "Acredite no que eu digo; não se esqueça de quem é que paga 
o seu salário‖. 
f) Argumentum Ad Hominem (Ataque pessoal) 
 
Em vez de o argumentador provar a falsidade do enunciado, 
ele ataca a pessoa de quem fez o enunciado. 
 ―Fulano é um bom jogador de volei‖. 
―- Isso é mentira, pois, que eu saiba, ele é um frouxo e um 
vagabundo.‖ 
(O fato do primeiro frouxo ou ser vagabundo não significa que 
ele não jogue bem voleibol.) 
g) Argumentum Ad Ignorantiam (Argumento da ignorância) 
 
Essa falácia ocorre quando o argumento se caracteriza em 
que algo deve ser verdade, simplesmente porque não foi provado 
que é falso ou contrariamente quando é argumentado que algo deve 
ser falso porque não se foi provada ser verdade. 
 ―Existem extraterrestres, pois nunca provaram ao contrário.‖. 
―Claro que não existe vida após a morte, pois nunca ninguém 
provou o contrário.‖ 
Apesar de não conseguir provar os argumentos acima, não se 
pode negá-los com certeza. 
h) Argumentum Ad Misericordiam (Apelo à Piedade) 
 
Esse é o Apelo à Piedade, também conhecido como Súplica 
Especial. 
A falácia é cometida quando alguém apela à piedade pelo 
bem de ter a conclusão aceita. Citamos

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