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Sumário
1. Introdução ..................................................................................... 2
2. Objetivos ....................................................................................... 2
3. Descriminalizar x Legalizar ........................................................... 3
4. Panorama Mundial das drogas ..................................................... 6
5. Legislação Brasileira .................................................................. 11
6. A visão da igreja católica ........................................................... 22
7. As drogas mais utilizadas – principais características ............. . 23
8. Tratamento e recuperação ......................................................... 25
9. Conclusão ................................................................................... 27
10. Bibliografia .................................................................................. 30
1. Introdução
Com o passar do tempo, cada vez mais se torna evidente que a guerra contra as drogas foi um fracasso, tanto no que se refere à corrupção por parte dos traficantes e governantes, como quando se faz uma análise quantitativa dos usuários de drogas. Observa-se que cresce o número de adolescentes que vão contra à lei quando se trata dessa questão, sendo assim, resta claro que a política adotada deve ser mudada para surtir os
efeitos pretendidos, qual seja, reduzir o consumo de entorpecentes.
Seja para aliviar dores, curar enfermidades ou oferecer uma momentânea sensação de prazer, o uso de drogas tem acompanhado o homem desde tempos remotos. A Organização Mundial de Saúde define drogas como substâncias que introduzidas no organismo vivo podem modificar uma ou mais de suas funções.
Quanto a sua proibitividade, podemos classificar as drogas em lícitas e ilícitas. As drogas lícitas são aquelas socialmente aceitas, ou seja, correspondem a substâncias que apesar dos seus efeitos danosos, a lei não impõe sanção contra seus consumidores. Exemplo: álcool, cigarro, medicamentos, etc. As drogas ilícitas são aquelas cuja lei determina uma punição. Exemplo: cocaína, maconha, crack, extasy, etc.
Nos tempos atuais duas preocupações têm afligido a sociedade: o consumo abusivo de drogas que tem ceifado milhares de vidas e o poder dos traficantes, exercido principalmente nas periferias das grandes cidades.
Em razão disso, muito tem sido discutido no sentido de atenuar o número de viciados e diminuir o poder dos traficantes. Alguns defendem, inclusive, que a melhor saída seria a legalização ou a descriminalização das drogas. Apesar desses termos serem usados como sinônimos, na verdade têm significados diferentes.
2. Objetivos
O trabalho, aqui apresentado, foi realizado embasado em pesquisa bibliográfica e diplomas jurídicos tendo como
objetivos:
. Identificar o cenário do comércio e consumo de drogas;
. Identificar o panorama atual quanto à legalização e descriminalização das drogas.
3. Descriminalizar X Legalizar
Figura 1: http://g1.globo.com/Noticias/
O fracasso do proibicionismo em erradicar o uso das drogas proibidas produziu os discursos da descriminalização e da legalização. A descriminalização é uma reforma legal que separa as pessoas que se relacionem com drogas ilícitas em dois grupos: usuários e traficantes. Os usuários passam a ser considerados "doentes" que necessitam de tratamento; os traficantes continuam sendo punidos como criminosos. O que diferenciaria um do outro seria a quantidade de droga ilícita encontrada com alguém no momento de sua prisão. Por esse sistema, as drogas seguem proibidas, os usuários são condenados a tratamento médico ou a penas alternativas e os traficantes permanecem submetidos à repressão penal. Os partidários da legalização defendem que a produção, comércio e consumo de drogas hoje proibidas seja autorizado pelo Estado. Há basicamente dois modelos de legalização: o liberal, que considera que as drogas deveriam ser produzidas e vendidas por empresas privadas apenas com a regulação do Estado, e o estatista, que pretende que toda economia das drogas seja diretamente controlada pelo Estado. As propostas de descriminalização e de legalização não são, no entanto, "favoráveis" ao uso de drogas. No primeiro caso, o uso é considerado um desvio de conduta e de saúde; no segundo, a permissão para o consumo viria acompanhada de leis restritivas. Houve reformas de descriminalização em países como Portugal, Inglaterra e Holanda. Não há países nos quais se tenha aplicado a reforma da legalização. A descriminalização e a legalização são propostas que fortalecem o controle da liberdade por uma instância superior e considera o cidadão como sujeito incapaz de decidir sua vida, depositando a fé no representante político.
O termo “legalização” é, muitas vezes, utilizado com abrangências diferentes. Para alguns, significa a descriminalização da posse e do consumo de substâncias como a maconha, enquanto a comercialização e a distribuição continuam sendo consideradas ilegais. Para outros, significa uma ampla descriminalização das drogas, imaginando-se a posse, a venda e a distribuição legais, mas sob leis reguladoras e fiscalizadoras sobre o comércio e a distribuição. Para outros ainda, poderia significar uma mais ampla descriminalização, sem qualquer lei reguladora sobre a posse e comércio das drogas.
As propostas de liberação, legalização e descriminalização das drogas, além de polêmicas, ainda confundem a cabeça da população e até de boa parte da imprensa, que constantemente usa os termos de forma equivocada.
O termo liberação ainda é muito utilizado nos meios de comunicação. A expressão está relacionada a uma proposta utópica de liberação das drogas sem nenhuma regulamentação da produção e comercialização, algo que não ocorre nem mesmo com os alimentos, que são produzidos e comercializados de acordo com determinadas normas. É uma proposta que dificilmente seria aprovada por qualquer governo, nem mesmo um muito liberal. Na verdade, um mercado de drogas sem regulamentação, livre do controle da sociedade, já ocorre: o submundo do tráfico de drogas. 
Legalizar é tirar do uso das drogas qualquer sanção. Pela proposta, as drogas poderiam ser consumidas a céu aberto, comercializadas, distribuídas, repartidas, anunciadas, exatamente como acontece com o álcool. A legalização propõe o fim da proibição, mas com a criação de um mercado de produção, comercialização e consumo com regras pré-determinadas, incluindo a tributação dos produtos e a restrição da venda. Há quem defenda, inclusive, a aplicação do dinheiro a ser arrecadado com os impostos no tratamento de usuários/dependentes no sistema público de saúde.
Descriminalizar significa apenas retirar do consumo de drogas o caráter criminoso, não implicando, entretanto, em retirar-lhes a ilicitude; o fato continua sendo ilícito (proibido), porém, exclui-se a incidência do Direito penal. Deixa de ser fato punível (penal). A proposta de descriminalização, portanto, limita-se a um avanço restrito à área jurídica. Para muitos, este seria um importante passo no caminho da legalização. A
abordagem ao usuário/dependente ocorreria fora da esfera penal e a repressão ao consumo de drogas passaria a ser tratada de forma administrativa, como ocorre nas infrações de trânsito.
Descriminalizar, assim, é diferente de legalizar, pois o ato não deixa de ser contrário ao Direito; apenas não constitui um ilícito penal, podendo ser cominada sanção civil ou administrativa. 
Descriminalização é a anulação de leis ou regulamentações que definem como criminoso um comportamento, produto ou condição. O termo é usado tanto em conexão com drogas ilícitas como com delitos de embriaguez em via pública.
Assim, a descriminalização é claramente distinguida da legalização, o que envolve a completa anulação de qualquer definição de um crime, frequentemente acompanhado com um esforço governamental para controlar ou influenciar o mercado do comportamento ou produto afetado. Pretende-se descriminalizar o usoda maconha e não legalizar a maconha. 
Principais argumentos para proibição:
a) Consumidores de substâncias psicoativas podem causar danos e sofrimento a outras pessoas;
b) O uso das drogas provoca aumento nos gastos com a saúde pública;
c) Os usuários de drogas são menos produtivos e têm maior chance de morte prematura;
d) Os usuários de substâncias devem ser protegidos contra eles mesmos, à medida que eles atuam de forma autodestrutiva;
e) O consumo das drogas é “contagioso”, ou seja, indivíduos usuários podem “convencer” outros a experimentá-las.
Principais argumentos para legalização:
a) Reduzir a população penitenciária;
b) Prevenir muitos crimes relacionados ao consumo de substâncias, tais como roubos, furtos e tráfico;
c) Desorganizar um dos principais pilares do crime organizado;
d) Redirecionar os esforços dos policiais no combate ao crime.
Na verdade, alguns dos proponentes da legalização defendem também uma alta taxação para o comércio lícito das substâncias psicoativas consideradas ilícitas na atualidade, revertendo os recursos financeiros obtidos com a comercialização e distribuição para a educação e programas de tratamento e reabilitação dos usuários. Além disso, muitos defensores da legalização aventam a possibilidade de que, com a regularização do comércio das mais variadas drogas, as mesmas seriam vendidas com informações adequadas sobre os riscos e consequências, formas para evitar o uso, bem como locais onde buscar ajuda e dados sobre a composição da substância, evitando, assim, a presença de misturas de outras substâncias deletérias.
4. Panorama mundial das drogas
O termo “war on drugs” foi primeiramente utilizado por Richard Nixon, em 1971. De acordo com esse presidente americano, os usuários de substâncias psicoativas careciam de ‘bom caráter’ e deveriam ser amplamente responsabilizados pelas mpolítica de repressão ao uso de substâncias, em nenhum momento houve significativa redução do seu consumo.
Em 1977, Jimmy Carter declarou ao Congresso que “a posse de pequenas doses de maconha não deveria ser penalizada”. Apesar de declarações como essa, a política americana desde então tem tomado medidas amplamente polêmicas para deter o avanço do uso e tráfico de substâncias psicoativas, como prisão por porte de droga, realização de “blitz” em regiões consideradas de “risco”, vultosos investimentos financeiros na repressão à produção e ao tráfico, embora proporcionalmente menores recursos tenham sido destinados ao tratamento e prevenção do uso indevido de drogas.
Reformas legais relacionadas ao consumo de drogas têm sido aventadas ao redor do mundo. Em 1990, no Estado do Arizona, definiu-se que o uso de substâncias deveria ser tratado como um problema de saúde pública, com recursos financeiros mais direcionados ao tratamento e à educação, e não como um problema a ser tratado pelo setor penitenciário. 
Na Califórnia, um projeto de lei (Proposition 36) criou um protocolo para direcionar pessoas que têm sido apreendidas com drogas para unidades de tratamento e não para a prisão. Na Rússia, em maio de 2004, deixou-se de incriminar a posse de pequenas quantidades de substâncias psicoativas. Embora no Canadá exista ainda grande discussão sobre a descriminalização da posse de drogas, em
azelas sociais relacionadas ao uso de drogas. No entanto, apesar da intensiva 
2003 o chefe de polícia de Toronto declarou que havia estritas instruções aos seus oficiais para interromper as prisões por simples posse de maconha. Muitas dessas decisões têm sido tomadas como uma forma de reduzir os gastos com a população penitenciária.
Apesar disso, mais do que 60% do total de recursos empenhados para o tema drogas nos Estados Unidos da América (considerando tanto aspectos educacionais, terapêuticos, preventivos e legais) têm sido direcionados para fins legais.
O argumento básico utilizado para a legalização é a falha da política americana da “guerra contra as drogas”, a qual parece ter colaborado para o fomento de problemas sociais e legais de imensuráveis custos, tais como corrupção, violência, crime organizado, violação à lei, etc. Além disso, as leis que versam sobre a punição do consumo e tráfico de substâncias não têm provocado a redução da demanda ao redor do mundo.
Após mais de três décadas de “guerra contra as drogas” e intenso otimismo público inicial relacionado à política de repressão ao consumo, atitudes “liberalistas” têm aparecido mais recentemente e estão ganhando grande popularidade na Europa e Estados Unidos da América. No Canadá, por exemplo, em 2003, foi aprovada, provisoriamente, uma lei permitindo o uso de cannabis para propostas médicas. Uma pesquisa nesse país, publicada em 2001, revelou que 47% dos canadenses são a favor da legalização da maconha. Desde 2003, na Bélgica, não é mais ilegal ter a posse de até 5 gramas de maconha, embora a venda e consumo em locais públicos seja ainda proibida.
Segundo alguns estudos, a modificação das leis, no sentido da descriminalização da posse e do comércio das substâncias psicoativas consideradas hoje ilícitas (como a maconha), possivelmente conduziria a uma queda nos preços, a um aumento da oferta de várias dessas substâncias e a um crescente consumo das mesmas. Um exemplo disso é um estudo realizado na Noruega, onde se verifica o aumento do consumo de heroína injetável à medida que o preço dessa substância caiu, entre os anos de 1993 e 2002.
A disponibilidade é a mãe do consumo, ou seja, quanto mais facilmente disponíveis, maior a chance da experimentação de drogas. Nos Estados Unidos da América, por exemplo, cerca de 60 milhões fumam e mais de 20 milhões têm problemas com o consumo de bebidas alcoólicas, mas cerca de 6 milhões têm problemas com o uso de drogas ilícitas. 
Na Suíça, o chamado “parque da agulha”, criado para restringir usuários de heroína, tornou-se uma grotesca atração turística com cerca de 20.000 dependentes, tendo de ser fechado, antes de avançar para toda a cidade de Zurique.
Na Itália, onde a posse de pequenas quantidades de drogas tem sido geralmente isenta de quaisquer sanções penais, apresenta uma das maiores taxas de dependência de heroína da Europa, com mais de 60% dos casos de AIDS relacionados ao uso de drogas intravenosas.
De acordo com o projeto, aprovado na Câmara dos Deputados uruguaia, os usuários podem comprar até 40 gramas da substância por mês em farmácias. O projeto também prevê a entrega de licenças por parte do Estado para empresas e pessoas cultivarem a substância. O projeto segue para o Senado do país para ser aprovado. Se o projeto passar, o Uruguai será o primeiro país latino americano a regularizar a produção, distribuição e venda da cannabis. 
A Holanda é sempre exemplo de país citado pelos defensores da descriminalização da maconha. Mas é um pensamento precipitado, irresponsável e talvez “apaixonado” comparar o país com o Brasil. Há inúmeras variantes a serem consideradas. A Holanda é um país desenvolvido, com níveis muito diferentes dos nossos na educação, cultura, economia, segurança. O Brasil não é a Holanda. Ainda, já há estudos constatando que a violência doméstica aumentou nesse país desde a liberação do uso da maconha, principalmente com vítimas crianças e idosos.
Certo é que o narcotráfico tem duas pontas, a do produtor e a do consumidor. Somente os EUA movimentam uma indústria de 100 bilhões de dólares especificamente em torno da maconha. Muitos afirmam que só existe produção porque há um mercado consumidor. Mas o inverso também pode ser verdadeiro. Só existem consumidores porque alguém, algum dia, ofereceu a droga, talvez de graça na
primeira vez, para viciar um usuário e transformá-lo, no futuro, em consumidor cativo.
 O que fazer para interromper este processo? A repressão desencadeada em vários países parece não surtir efeito por si só. Cerca de 70 bilhões de dólares anuais são gastos pelo governo norte-americano no combate ao tráfico de drogas ilícitas, o que envolve ações em países como a Colômbia, por exemplo. Isso não impede o crescimento do consumo.A saída passa, com certeza, pela prevenção do consumo, ou seja, pela diminuição dos atuais consumidores e pela não adesão de usuários novos. Uma boa saída seria a obrigatoriedade da introdução de matérias na grade curricular de escolas e universidades públicas e privadas sobre os efeitos da droga para a mente e corpo humanos e para a sociedade como um todo.
Nos Estados Unidos, num único ano, 600.000 pessoas foram detidas e processadas por posse de maconha e o sistema de justiça americano acabou não fazendo outra coisa do que julgar jovens que, na maioria das vezes, não haviam cometido nenhum outro deslize e ficavam marcados por uma ficha criminal que os prejudicava na hora de conseguir um emprego, por exemplo, e de tocar a vida.
Diante disso, vários estados americanos optaram por descriminalizar o uso da maconha. O mesmo fizeram o Canadá e alguns países da Europa, entre eles Portugal. O importante não é punir um comportamento. É corrigi-lo. 
Em seu relatório de 1998, o OICE, Órgão Internacional de Controle de Estupefacientes, das Nações Unidas (INCB – Intenational Narcotics Control Board), atribui, em parte, aos tratados internacionais a contenção da expansão do fenômeno da droga, quase eliminando o desvio de entorpecentes do circuito clínico para o circuito legal, e mantendo o consumo, sobretudo de opiáceos, longe dos níveis do final do século passado.
Registra-se uma tendência, em certas regiões do planeta, designadamente na América do Norte, para uma expansão do consumo de cannabis e, de um modo geral, para uma prescrição excessiva de substâncias psicotrópicas, como por exemplo, anfetaminas, barbitúricos e hipnóticos, dentre outros.
Pode-se dizer que em 1998, em todo o mundo, prosseguiu o aumento do consumo de drogas sintéticas psicoativas, como os tranquilizantes, as benzodiazepinas e os estimulantes do tipo das anfetaminas, especialmente o ecstasy e outras substâncias do tipo designer drugs (drogas que foram quimicamente alteradas para terem suas propriedades acentuadas ou para o livramento de uma proibição legal), que obtiveram uma expansão sem precedentes.
Na Europa, dá-se uma prevalência de novas drogas destinadas a combater os efeitos do stress e da depressão, crescendo o número dos consumidores com mais de 65 anos.
Nos Estados Unidos, o destaque vai para o uso de drogas como o estimulante metilfenidato Ritalin, destinadas a melhorar a performance escolar ou laboral, ou com o intuito de beneficiar o aspecto físico ou atlético.
Registra-se também um aumento no consumo de opiáceos, sobretudo na Ásia Ocidental e no Leste europeu, e em especial da heroína fumada, particularmente nos Estados Unidos.
Por outro lado, constata-se um importante crescimento da utilização médica da morfina, e alguma escassez de drogas disponíveis para fins medicinais.
Paralelamente, surgem novos desafios para o controle do circuito das drogas, como a divulgação da concepção e a sua comercialização ilícita via internet.
Podem se descortinar ainda outras tendências, para além da prevalência do consumo de estimulantes sintéticos, predominantemente “recreativos”, no Ocidente, mas não no resto do mundo.
Nota-se a estagnação do consumo de heroína na Europa; a expansão e a diversificação de culturas ilícitas; a descentralização das organizações criminosas e o aumento do número de pequenas redes de tráfico, com a consequente fragmentação dos mercados; o uso múltiplo de drogas – com progressiva preferência, também na Europa, por formas de consumo não injetáveis – e, finalmente, a associação do tráfico de drogas a outros produtos, ao crime organizado em geral e às próprias estruturas de certos Estados.
No que se refere à União Europeia, verifica-se uma estabilização do consumo de cannabis, embora esta permaneça a droga mais consumida, oscilando os índices de consumo entre os 20% e 30% da população, e chegando a atingir, em certos países, quase 40% dos chamados “jovens adultos”, como se diz na Europa, ou seja, dos 18 aos 25 anos.
Em segundo lugar surgem as anfetaminas, cujo consumo aumentou e se situou em 9% entre os adultos e 16% entre os jovens, enquanto o consumo de ecstasy aumentou 3% entre a população adulta.
Pouco expressivo é o consumo de cocaína, embora tenha subido ligeiramente nos últimos tempos, e de um modo geral o crack. Apesar das tendências divergentes em certos países, registra-se uma estagnação do consumo de heroína, não excedendo os 3% de opiómanos da população da União Europeia.
Em 1998, baixaram precisamente as apreensões de heroína e maconha, tendo aumentado as de haxixe, anfetaminas e cocaína.
Por outro lado, o número de overdoses estabilizou ou diminuiu na Europa. Também as taxas de portadores do vírus HIV, da Aids, baixaram, enquanto as taxas de Hepatite C continuam elevadas.
Podemos falar em uma estabilização dos índices globais de consumo na Europa Ocidental; já na Europa Central, no Leste e no resto do mundo se verifica uma tendência para o aumento generalizado dos consumos.
Segundo Califano (2007), da Universidade de Colúmbia, as drogas não são perigosas porque são ilegais; são ilegais porque são perigosas. 
5. Legislação brasileira
O advento de drogas pesadas nos últimos anos, combinado com poder viciante jamais visto pelo consumidor, alterou a radiografia criminal no Brasil. O crack surgiu nos EUA, nos anos 80, em bairros pobres de Nova Iorque e Los Angeles. A proliferação rápida dessa droga de fabricação caseira ocorreu em virtude do preço alto da cocaína refinada e do risco de contaminação pelo vírus da AIDS, quando injetável. Como nova vedete das drogas, o crack desembarcou em nosso país no início da década de 90, em São Paulo, e se espalhou em pouco tempo como vírus endêmico. Atualmente, está presente em 94% das cidades brasileiras. A rápida popularização se deu em razão do baixo custo de produção, que usa poucos produtos químicos na formulação, o que permite preço irrisório ao consumidor final. 25% da população carcerária brasileira estão relacionados ao tráfico de entorpecentes. Enquanto o comércio de novas drogas, na surdina, invadia o mercado nacional, as autoridades legislativas, judiciárias e os executivos municipal, estadual e federal, inicialmente, deram pouca importância às “pedrinhas amareladas”. Quando o problema se materializou aos olhos do público, com o surgimento da cracolândia, bateram cabeças e não trataram o problema com a devida importância. 
Nos últimos cinco anos, tem crescido uma corrente, liderada por políticos como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Cesar Gaviria, da Colômbia, e Ricardo Lagos, do Chile, que defende mudanças profundas na estratégia de combate às drogas na região, substituindo a criminalização por uma abordagem de saúde pública que visa experimentar modelos de regulação
legal de drogas ilícitas para reduzir o poder do crime organizado.
As ações deste grupo, que lidera a Comissão Global de Políticas sobre Drogas, vêm ganhando respaldo de importantes instituições na região, como a Organização dos Estados Americanos (OEA), que recentemente propôs uma nova direção no combate às drogas.
Em 23 de agosto de 2006 entrou em vigor a nova Lei de Tóxicos ou Lei de Drogas – Lei nº. 11.343, de 23 de agosto de 2006, vindo, assim, a substituir a anterior Lei 6.386/76. Embora a nova lei não seja perfeita,  ela tem o mérito de estabelecer um novo sistema, de modo que trata de forma distinta o usuário, o dependente e o traficante.
“Lei de drogas” trouxe questões controvertidas que podem causar inúmeras interpretações.  
a) Publicação, vacatio legis e vigência
A Lei de Drogas, 11343 foi publicada em 23 de agosto de 2006 e teve um período de  vacatio legis de 45 dias, entrando em vigor em 08 de outubro do mesmo ano.
Em relação aos antecedentes legislativos, pode-se analisar que, a questão das drogas inicialmente era tratada (desde 1940) pelo próprio Código Penal. Os artigos 267 em diante continham os crimes contra a saúde pública, incluindo a questão das drogas.
Em 1976 recebemos uma lei extravagante que passou a dar maior amplitudeao tema, a Lei 6368/76. Ocorre que o procedimento ficou defasado.  Em 2002 surge a Lei 10.409/02 com a intenção de revogar a Lei 6.368/76, mas todo o título dos crimes foi vetado pelo Presidente da República.
Por um período foi necessário que os operadores do direito utilizassem os crimes previstos na Lei 6.368/76 com os procedimentos da Lei 10.409/02 que estavam mais adequados.
b) Conceito de Droga
     Art. 1º., parágrafo único da Lei 11.343/06
     “Considera-se droga todo o produto ou substância capaz de causar dependência com previsão em lei ou em listas emitidas pelo Poder Executivo da União.”
Quem faz a regulamentação do que é considerado droga, é a ANVISA –Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Como a Lei 11.343/06 faz referência genérica a expressão droga, devendo por isso ser complementada por outra norma, pode-se afirmar que se trata de norma penal em branco. No caso, a regulamentação é procedente da ANVISA (portaria 344/98). Trata-se de norma penal em branco heterogenia.
c) Objetivos da Lei de Drogas
Conforme a previsão legal (art. 1º.; art. 3º., incisos I e II; art. 4º., inciso X e art. 5º., inciso III) os objetivos da Lei de Drogas são a prevenção do uso indevido e repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito.
d) Disposições Penais Preliminares
 O bem jurídico tutelado pela lei de drogas é a saúde pública, não obstante o tipo penal do art. 39 tutelar a incolumidade pública representada pela segurança  aérea, marítima ou fluvial.
Quanto ao seu resultado naturalístico, os crimes da lei de drogas são classificados como
materiais, ou seja, aqueles em que há necessidade de um resultado, descrito na lei, (ex.: homicídio: morte).
           Os crimes previstos na Lei de Drogas, com exceção do previsto no art.39, são de perigo abstrato, há presunção legal de ameaça ou ofensa ao bem jurídico. O crime previsto no art. 39 é de perigo concreto.
Crime vago é aquele que tem como sujeito passivo, várias pessoas ou a coletividade. Os crimes da Lei de Droga podem ser classificados como crimes vagos.
e) Usuário de Drogas – arts. 27 a 30 da Lei 11.343/06
Ao analisar-se o art. 27 da Lei de Drogas, surge a questão amplamente discutida na doutrina quanto ao não cabimento de penas restritivas de liberdade aos usuários de drogas. Baseia-se na ideia de reeducação através de amparo e orientação. Seriam aplicáveis medidas salutares no sentido de orientação, através da obrigatoriedade de participação em cursos e palestras. O problema é que, ao fracassarem tais medidas, na prática, o que resta é tolerar indefinidamente a figura do usuário de drogas.
Anteriormente a lei incriminava o usuário como aquele que  adquiria drogas, guardava drogas e/ou trazia consigo drogas para consumo pessoal. A lei atual configura usuário como aquele que adquiri, guarda, traz consigo, tem em depósito e transporta drogas.
A nova lei promoveu um alargamento na incriminação do usuário de drogas. Quanto às condutas de “ter em depósito” e “transportar”, o tipo penal apresenta a hipótese de “novatio legis incriminadora”. Significa que só se podem punir aqueles que praticaram tais condutas a partir do dia 08 de outubro de 2006.  Aqueles que foram condenados por praticarem estas condutas (ter e depósito ou transportar drogas) antes do dia 08 de outubro de 2006, embora as evidências dos autos tenham demonstrado que ele era usuário, cabe Revisão Criminal.
Ao analisar-se cada um dos verbos deste artigo, precisa-se ter com clareza o significado de cada uma das condutas previstas:
            Adquirir – comprar, obter mediante pagamento.
            Guardar -  armazenar para consumir em curto período de tempo, tomar conta de algo, proteger.
            Trazer consigo – Ter junto ao corpo, no bolso, na carteira, etc.
            Ter em Depósito – ter armazenado suprimento que traga uma idéia de mais perpetuidade, maior quantidade.
            Transportar – Levar de um lugar para outro, em malas, veículos, etc.
 Não constam no artigo os verbos usar, consumir (fumar, cheirar, injetar, etc), logo, se poderia concluir que usar drogas não é crime. Parte da doutrina defende a tese de que qualquer conduta relacionada ao consumo não deveria ser punida. Baseiam-se no princípio da alteridade ou transcendentalidade, segundo qual ninguém pode ser punido por fazer mal a si próprio.
Parece uma tese pouco sustentável. Frente a este argumento, pode-se considerar que os malefícios de usar drogas “adoecem” por reflexo
toda a família do usuário de drogas. Tudo e todos em volta de um usuário de drogas terminam afetados. O Estado também acaba tendo gastos com este usuário. Por este ponto de vista, o usuário não deveria ter o direito de gerar todo este reflexo, portanto, deveria ser punido mesmo.
O art. 28, § 1º., configura o crime equiparado ao uso, contempla as condutas semear, cultivar (pequena quantidade) e colher. Trata-se daquele que não está fomentando o crime, pratica as condutas descritas para atender o seu consumo pessoal. Se praticadas visando posterior distribuição, configuram crime equiparado a tráfico, art. 33, § 1º., inciso II.
As condutas acima são proibidas em todo o território nacional, salvo quando praticadas com autorização (fins científicos ou medicinais), ressalvado o caso de uso estritamente ritualístico-religioso. 
Se observar bem, verifica-se que, as cinco condutas previstas no artigo 28 da Lei de Drogas, também constam no artigo 33 que prevê o crime de tráfico, por isto, precisa-se de  fatores diferenciadores entre estas duas condutas (uso e tráfico). São fatores diferenciadores conforme o art. 28, § 2º. a natureza da droga, sua quantidade, a análise do local e das condições gerais, as circunstâncias que envolveram a ação e a prisão, a conduta e os antecedentes do agente. 
Em relação às penas previstas para o crime do art. 28, pode-se afirmar que com a Lei 11.343/06 houve um abrandamento considerado por
muitos, absurdo. Anteriormente o usuário, se condenado recebia como pena a detenção de 6 meses a 2 anos, atualmente as penas compreendem advertência sobre os efeitos do uso de drogas, prestação de serviços a comunidade ou comparecimento a programas educativos (cursos, palestras, etc). As penas podem ser aplicadas alternativa ou cumulativamente. A PSC e os programas educativos têm duração máxima de 5 meses e tanto a aplicação quanto a execução prescrevem em 2 anos. Se for caso de reincidência podem chegar a 10 meses.
Com o afastamento da pena privativa de liberdade do usuário, fica-se diante do caso de “novatio legis in mellius”. 
Conforme o que determina a Lei de Drogas no seu art. 48, flagrado, o usuário deverá ser imediatamente apresentado ao juiz (coisa que na prática não ocorre). Não havendo juiz será lavrado o termo circunstanciado pela autoridade policial (é o que ocorre na realidade do dia a dia). É vedada, sob qualquer pretexto, a detenção do usuário. Refere-se aqui a prisão, cabendo a condução do usuário até a delegacia. A condução coercitiva poderá ocorrer, podendo inclusive, utilizar-se de algemas desde que nos limites da Súmula Vinculante Nº 11. 
Em seguida, após a lavratura do termo circunstanciado,  deverá ser liberado. A autoridade que não fizer a liberação após a lavratura do termo circunstanciado estará cometendo abuso de autoridade e responderá conforme a Lei 4898/65. 
Aplica-se ao usuário o procedimento da Lei 9099/95, procedimento comum, devendo ser tratado de regra no JECRIM. Na transação penal com o usuário só poderá versar sobre as medidas educativas previstas no art. 28 (advertência sobre o uso de drogas, prestação de serviços a comunidade e comparecimento a programas educativos e a cursos). Não cabe a interdição temporária de direitos, limitação dos finais de semana, sexta básica.
Se o usuário for menor de idade, caberá ato infracional e vai se submeter ao Estatuto da Criança e do Adolescente.
Com a supressão da pena privativa de liberdade, perderam o Estado e a Sociedade. As medidas cabíveis são singelas e ineficazes para evitar as atitudes ilícitas do usuário.  Háos que entendem que, o usuário só não cria mais problemas para o Estado porque não quer. A visão é de que, na prática, se o usuário não cumprir o que lhe for imputado (não comparecer a audiências, por exemplo), nada ocorrerá. No máximo será conduzido coercitivamente onde lhe aplicarão as mesmas penas singelas.
Afinal, o que ocorreu, descriminalização, despenalização ou descarcerização?
Haveria uma descriminalização, pois se o artigo 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, diz que crimes são infrações penais punidos com reclusão e detenção e que, contravenções penais são infrações penais punidas com prisão simples, usar drogas segundo o artigo 28 da nova lei, não é crime nem contravenção. Trata-se de uma infração sui generis. Para alguns estudiosos, continua sendo crime, pois não é suficiente embasar estas conclusões apenas na Lei de Introdução. Avaliando-se a Constituição Federal no seu artigo 5º. é claro quando diz que serão adotadas, dentre outras as penas, a privativa de liberdade, restrição de direitos e multa. Quando a Constituição Federal diz “dentre outras” autoriza ao legislador criar outros tipos de pena, com exceção as que a própria Constituição proíbe (pena de morte, banimento, trabalhos forçados, cruéis).              O legislador criou as penas de advertência e os programas educativos.
A doutrina majoritária e o STF adotam a corrente da despenalização. Para alguns juristas continua sendo crime,  continua tendo pena, não tem é cárcere, trata-se de descarcerização. 
A produção não autorizada e o tráfico ilícito de drogas estão previstos no art. 33 da Lei 11.343/06. Note que as mesmas condutas poderão ser praticadas licitamente conforme pode-se verificar no art. 31 da Lei. O tipo está baseado em 18 condutas que, quando associadas à finalidade de distribuição de drogas configuram fato típico. Trata-se de tipo misto, alternativo  ou crime de conteúdo variado. Se no mesmo contexto fático o sujeito praticar duas ou mais condutas, estará praticando um só crime, o tráfico ilícito de drogas.
 Parte da doutrina entende que a ínfima quantidade de droga pode fazer emergir falta de justa causa para a ação penal. As cortes superiores, entretanto, não admitem o princípio da insignificância na Lei de Drogas por se tratar de crime de perigo abstrato. O Princípio da Insignificância não afasta a tipicidade nos crimes de tráfico em casos onde a quantidade é ínfima. 
    e)  Crimes equiparados ao tráfico
     Nos crimes equiparados ao tráfico, previstos no art.33, § 1º., inciso I (produtos químicos, insumos e matéria prima) não se exige que a substância contenha o efeito farmacológico (toxidade = princípio ativo) da droga que originará, bastando que se faça prova de que se destina ao seu preparo. O Ministério Público terá que provar que os produtos se destinam ao preparo da droga.
No inciso II, as condutas semear, cultivar ou colher podem referir-se a pequena, média ou grande quantidade, com finalidade de distribuição da droga. As plantações ilegais serão destruídas pela autoridade policial, conforme previsão do Art. 32 da Lei de Drogas. As glebas utilizadas para o cultivo ilícito serão expropriadas pela união e se destinarão ao assentamento de colonos em função da reforma agrária Art. 243 da Constituição Federal.
f) Utilização de local ou bem de qualquer natureza para o tráfico
O inciso III trata da utilização de local ou bem de qualquer natureza utilizado para o tráfico ilícito de drogas. O tipo penal pune o agente que não pratica o tráfico diretamente, mas o admite em local (casas noturnas, bares, hotéis, motéis, etc.) ou em bem de qualquer natureza (veículos,
aeronaves e embarcações) de que tenha a posse, propriedade ou administração. O sujeito  ativo é o proprietário, posseiro, administrador, etc. O sujeito passivo é a Sociedade.  Não se admite a forma culposa, deverá ser feita a prova de que havia dolo (elemento subjetivo). Se o local ou o bem se destinarem ao uso indevido de drogas, há duas orientações:
1ª - A lei é clara no sentido de que o crime consiste em utilização de local ou bem de consumo para o tráfico e não para o uso. Esta é a Posição de defesa, advogados e defensoria.
2ª -     A conduta configura o crime do art. 33, § 2º., induzimento (induzir significa criar uma ideia que até então não existia), instigação (instigar significa reforçar uma ideia pré-existente) ou auxílio (auxiliar significa prestar ajuda) ao uso indevido da droga. O que tem a posse, propriedade ou administração estaria auxiliando no uso indevido de drogas, esta seria a posição da acusação. 
g) A apologia ao uso ou ao tráfico
A apologia ao uso ou ao tráfico, que anteriormente era crime, deixou de ser considerada como tal. É livre a manifestação do pensamento conforme prevê o art. 5º. da Constituição Federal. Segundo a doutrina a conduta “apologia ao uso, ao consumo e tráfico de drogas” deixou de ser incriminada pela Lei de Drogas, deste modo,  manifestações, distribuição de panfletos ou passeatas, que falem sobre drogas, em primeira análise, não são crime.
h) Uso Compartilhado
Para que se tenha a configuração de uso compartilhado, previsto no  art. 33, § 3º., faz-se necessária a concomitância de alguns elementos, o oferecimento da droga de forma eventual, a ausência do objetivo de lucro (o sujeito que oferece não pode cobrar), consumo em conjunto (se entregar só para o outro fumar restará em crime de tráfico) e para pessoa do seu relacionamento.
A pena do uso compartilhado será de detenção de 6 meses a 1 ano e multa de 700 a 1500 dias multa. A doutrina vê a multa estabelecida como desproporcional em função de que, a multa para o tráfico, prevista no caput é de 500 a 1500. O agente deste crime é o usuário que por educação oferece a droga, logo deveria ter pena de multa menor que a do traficante.  Todos os elementos descritos deverão estar presentes, na falta de um dos elementos irá responder por crime de tráfico.
Trata-se de crime bi próprio, pois exige vinculo (relacionamento) entre os agentes. Enquanto o “consumo em conjunto” é o elemento positivo do injusto penal, a “ausência de objetivo de lucro” é o elemento negativo.
i) Tráfico Privilegiado
A causa de diminuição de pena, prevista no art. 33, § 4º., exige que o agente seja primário, tenha bons antecedentes (sujeito que, anteriormente, não possuía condenações definitivas), não integre organizações criminosas e nem se dedique a atividades criminosas. Atendendo a todos estes requisitos, o agente terá uma redução de pena que poderá variar de 1/6 a
2/3.
j) Maquinário, aparelho, instrumento ou objetos destinados a preparação
O Maquinário, aparelho, instrumento ou objetos destinados a preparação, produção, transformação ou fabricação da droga, conforme previsto no art. 34 da Lei de Drogas, consistem em crime . Muitos, se não todos os traficantes, misturam a droga (principalmente a cocaína) para ter um maior rendimento, exemplo de produtos que são misturados a cocaína são o cal, sal, cola em pó para papel de parede, pó de vidro, etc. Para fazer estas misturas são necessários maquinários, aparelhos e outros objetos como liquidificadores industriais, balanças de precisão, etc. Ao encontrar-se estes objetos, com esta destinação, estaremos diante de um crime autônomo.
Também há hipóteses de objetos como o papel utilizado para enrolar o cigarro de maconha, ou o garrote, aquela  borracha para colocar no braço e saltar a veia onde é injetada a droga serem utilizados para o uso pelo próprio usuário de drogas. Se os objetos se destinarem ao uso indevido, não há tipicidade, não será crime.
Se forem encontrados, no mesmo contexto fático, as drogas e os objetos para     prepará-las, haverá dois crimes em concurso material somando-se as penas.
k) Associação para o Tráfico
O art. 35 da Lei de Drogas 11.343/06 trata do crime de Associação para o Tráfico e capitula que, quando dois ou mais agentes associarem-se para fins de praticar, reiteradamente ou não, os crimes dos artigos  33,  caput e parágrafo 1º. e  34 desta Lei estarão realizando a conduta prevista.Trata-se de uma espécie de quadrilha ou bando que se aperfeiçoa com apenas dois agentes, mas da mesma forma, exige estabilidade e permanência na associação.  Provada a associação, os agentes respondem também pelo tráfico praticado. 
É difícil de fazer a prova de associação em função do caráter de estabilidade e permanência. Se houver provas suficientes, o agente será condenado não apenas pela associação, mas também pelo tráfico praticado e as penas dos dois tipos penais serão somadas.
Mesmo que não seja praticado crime algum, que não seja consumado o tráfico, mas se provar a associação para o tráfico, os agentes serão responsabilizados. 
l) Financiamento ou Custeio do Tráfico
Ambos são formas de investimento ilícito, mas têm-se diferenças entre financiar e custear. No financiamento o agente não tem qualquer ingerência sobre o tráfico, o financiador apenas entrega o dinheiro em busca de lucro fácil ao final de determinado período. O agente que custeia, por sua vez, além de bancar as despesas do dia a dia, interfere nas decisões do tráfico.
Nesse tipo penal o legislador quebrou a teoria monista ou unitária do artigo 29 do Código Penal na medida em que cominou pena autônoma para aquele que embora não pratique diretamente o tráfico com ele contribui pelo financiamento ou custeio.
É a maior pena da Lei 11.343/06, é difícil entender o porquê, pois na maioria das opiniões doutrinárias, o traficante deveria receber a maior atenção, a maior pena por ser ele o elemento mais prejudicial à sociedade. Não se aplica a majorante do artigo 40, inciso VII em face do princípio ne bis in idem.
m) Colaborador do Tráfico
O artigo 37 prevê o crime para os agentes que estão mais abaixo na “cadeia do tráfico”, conhecidos como sinalizadores, fogueteiros, quando menores chamados de falcãozinho, fumacinha ou luzinha. Anteriormente era condenado como partícipe o que era inadequado, pois não se trata do traficante propriamente dito.
Neste tipo penal o legislador compreendeu a proporcionalidade na medida em que cominou pena mais branda àquele que, embora não praticando diretamente o tráfico, com ele contribui prestando informações.
n)  Prescrição ou Ministração culposa  de Drogas
O Artigo 38 trata do único crime culposo da Lei de Drogas e tipifica a conduta daquele que prescreve (autoriza o uso, dá receita) ou ministra (entrega a consumo) drogas lícitas. As mesmas condutas podem caracterizar tráfico quando praticadas dolosamente. Prevalece na doutrina que é crime próprio, pois só pode ser praticado por agentes da área da saúde.
o)  Condução de Embarcação ou Aeronave pós-consumo de Droga
Previsão do artigo 39 da Lei de Drogas. Em caso de veículo automotor a conduta se amolda ao artigo 306 da Lei 9.503/97 - Código de Trânsito, chamado de embriaguez toxicológica. Se o sujeito estiver conduzindo uma embarcação ou aeronave após consumir álcool,  a conduta não pode se amoldar a este tipo porque o álcool não está na lista da ANVISA.
6. A visão da Igreja Católica
Figura 2 - http://odia.ig.com.br/noticia/jornadamundialdajuventude/2013-07-25/imprensa-internacional-destaca-discurso-do-papa-sobre-drogas.html
Francisco é o papa dos pobres, do povo, da humildade. Mas o voto de pobreza e os exemplos de extrema simplicidade, apesar de produzirem uma impressionante onda simpática de comoção, seriam brandos no sentido de conter a debandada do rebanho católico, acentuada no Brasil na última década, como mostra o IBGE. 
Francisco condenou as correntes que defendem a legalização dos entorpecentes. “Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos olhar o outro com os olhos do amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.”
7. As drogas mais utilizadas – principais características
Figura 3 - http://www.joaodefreitaspereira.net.br/drogas.htm
Tabela 1 -http://www.priscilaemaxwellpalheta.com/2012/03/drogas
Tabela 2 - http://www.priscilaemaxwellpalheta.com/2012/03/drogas
Tabela 3 - http://www.priscilaemaxwellpalheta.com/2012/03/drogas
8. Tratamento e recuperação
Apesar da grande diversidade de artigos sobre o tratamento para reabilitação dos usuários, há pouca discussão sobre a importância da prevenção por meio da educação e da intervenção precoce em casos de comportamento de risco. Apesar de o uso de drogas começar na adolescência, a prevenção começa na infância. É importante identificar, ainda na infância, comportamentos que possam estar relacionados ao abuso de substâncias e, posteriormente, como o caso de adolescentes com dificuldade de interação social que recorrem à droga para romper essa barreira.
A prevenção também se dá pela promoção de hábitos saudáveis, que podem ser adquiridos na infância e mantidos ao longo de toda a adolescência. Apesar de serem mais resistentes aos efeitos físicos das drogas do que os adultos, os adolescentes são mais vulneráveis do ponto de vista do desenvolvimento cerebral. Como o cérebro do adolescente ainda está em formação, uma série de habilidades estão sendo desenvolvidas nessa fase da vida. O uso de drogas pode comprometer habilidades como o controle de impulso e a interação social. Infelizmente, não é possível definir com precisão ainda o quanto esses efeitos podem ser revertidos após um período de abstinência.
O uso de 
drogas está frequentemente associado a diferentes doenças psiquiátricas, como transtornos alimentares, de ansiedade e do humor (principalmente depressão), mas o tratamento para cada caso dependerá do quadro do indivíduo como um todo. Se for um quadro muito grave, existe a hospitalização para fazer uma desintoxicação. As diferentes intervenções se dão pelo fato de que uma mesma substância pode afetar de maneiras distintas pessoas diferentes: Tem gente que bebe todo dia uma taça de vinho. Para outra pessoa, a mesma taça diária já causa um problema sério. O critério para tratamento é baseado no exame clínico e no grau de comprometimento da saúde do sujeito. Em geral, o tratamento é feito de forma ambulatorial. A internação é indicada para aqueles casos gravíssimos, nos casos em que a pessoa não consegue diminuir o uso da droga e em que ela não se cuida mais.
Por ser um problema atravessado por diversas questões, inclusive sociais, a dependência química deve ser acompanhada por uma equipe de saúde multidisciplinar que seja composta por diferentes profissionais da saúde. O educador físico, por exemplo, defende a importância da inserção da atividade física no tratamento de dependentes químicos. Nem todos sabem que existe um exercício físico específico para cada dano físico dos pacientes. Muitos usam o jogo como um momento de trabalhar a parte social apenas, alegando que o dano físico de cada paciente depende do tipo de droga utilizada.
O processo de reabilitação física traz inúmeras vantagens para o paciente: além de ajudar na recuperação como um todo, pode ajudar a prevenir recaídas. Alguns estudos em modelos animais mostram que o exercício aeróbio faz com que haja maior liberação de algumas substâncias, como opióides endógenos, que estimulam o cérebro no sistema de recompensa, fazendo referência a um sistema que regula comportamentos ligados à sobrevivência e ao prazer. Outros benefícios da atividade física personalizada incluem a diminuição do efeito colateral de eventuais medicações ministradas e uma mudança positiva na imagem corporal, o que é essencial para que o paciente mantenha a abstinência após o acompanhamento médico.
A participação da família durante o tratamento é um fator determinante para a recuperação de um adolescente usuário de drogas. Essa participação também é importante para manter o indivíduo em abstinênciae para dar continuidade ao tratamento ambulatorial. Além disso, seu ambiente social frequentemente guarda relações com seu comportamento de usar a droga. A dependência é uma área que tem um componente social muito forte, existe um fator importante ligado aos grupos e à diversão, por isso é importante trabalhar a questão do lazer, porque às vezes a droga era o único prazer da pessoa.
A promoção de hábitos saudáveis é vista como a melhor maneira de prevenir tanto o surgimento da dependência quanto recaídas de
usuários que passaram por tratamento. É possível dizer que as internações são feitas em caráter de exceção, quando o tratamento ambulatorial não é possível ou quando os danos ameaçam a integridade do sujeito. É preciso salientar também a importância do diálogo entre as diversas estruturas da saúde para o benefício do paciente. A interlocução com as redes de atenção primária é fundamental, porque não é bom internar o paciente e depois da alta não ter para onde encaminhá-lo.
9. Conclusão
Um adequado plano de ação do governo, baseado em financiamentos nas áreas de tratamento e prevenção, está de acordo com as mais recentes evidências de eficácia de propostas de ação para o grave problema de saúde pública do consumo de substâncias psicoativas.
O debate sobre a legalização das drogas continuará a aquecer jornais e revistas do mundo inteiro. O maior debate ainda parece ser o que está sendo feito e o que poderá ser realizado no sentido de melhorar as taxas de efetividade dos tratamentos oferecidos atualmente aos dependentes de substâncias psicoativas e quais os melhores métodos de prevenção ao consumo das mesmas.
Portanto, antes mesmo do debate sobre a discussão, os seguintes tópicos ainda carecem de respostas:
a) Quais as melhores formas de tratamento médico e psicológico para os dependentes de substâncias, considerando os diferentes tipos de drogas e a heterogeneidade da população?;
b) Há suficiente e qualificado número de profissionais médicos e não médicos habilitados para o tratamento de pessoas que apresentam problemas com o consumo de substâncias psicoativas?;
c) Há suficiente número de leitos hospitalares e vagas em ambulatórios e Centros de Atenção Psicossocial para o tratamento da demanda existente neste momento ? Quais os recursos disponíveis para aumentar as vagas e aprimorar as formas de abordagem?;
d) Os pesquisadores brasileiros da área têm recebido adequado apoio para a realização de pesquisas nas áreas de prevenção e tratamento das dependências químicas ?;
e) Estamos dedicando esforços na melhoria da qualidade de vida (incluindo qualidade de vida profissional) para a população geral?;
f) Qual o verdadeiro relacionamento entre o consumo de substâncias psicoativas e a criminalidade em um universo com graves problemas sociais?
Figura 4 - http://vivamelhoronline.com/2009/06/25/26-de-junho-dia-internacional-de-combate-as-drogas/
10. Referências 
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__________. Lei nº 6.368, de 21 de outubro de 1976. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6368.htm Acesso em fevereiro de 2014.
__________. Lei nº 11.343, de 03 de agosto de 2006. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm Acesso em fevereiro de 2014.
__________. Relatório Brasileiro sobre Drogas. Brasília: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, 2009. Disponível em http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Relatorios/328379.pdf Acesso em fevereiro de 2014.
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CARVALHO S. A Política Criminal de Drogas no Brasil: Estudo Criminológico e Dogmático da Lei 11.343/06. 5ª edição, ampliada e atualizada. Rio de Janeiro (RJ): Lumen Juris; 2010.
GOMES LF [et. al.] coordenação. Nova lei de drogas comentada artigo por artigo. São Paulo (SP): Editora RT; 2006. 
KALINA E, KOVADLOFF S. Drogadicção: indivíduo, família e sociedade. Rio de Janeiro (RJ): F. Alves; 1980.
MAIEROVITCH W. Comissão propõe descriminalização de drogas dada a falência do modelo atual In Jornal do Brasil. Disponível em http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2012/05/30/comissao-propoe-descriminalizacao-de-drogas-dada-a-falencia-do-modelo-atual/ Acesso em: fevereiro de 2014.
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TIBA I. Respostas sobre drogas. São Paulo (SP): Scipione; 1998.
A Nova Lei de Tóxicos e o Ordenamento Jurídico Brasileiro
25/set/2006
Críticas relacionadas à Lei 11.343/06, que revogou as leis 6.368/73 e 10.409/02, e hoje regula o tratamento criminal em relação aos usuários, dependentes e traficantes de substâncias psicotrópicas.
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Por Gustavo Kenner Alcântara
1.0 – INTRODUÇÃO
A Nova Lei de Tóxicos adota um posicionamento extremamente evoluído e racional do ponto de vista legal. Notamos uma mudança expressiva da forma de abordagem que tínhamos dos crimes relacionados a substâncias com caráter de entorpecentes ilícitas e psicotrópicas. O usuário e dependente de drogas assumem uma posição privilegiada em relação ao texto legal anterior, em contrapartida o tráfico e a produção recebem uma incriminação mais severa.
Devemos perceber que essa nova postura é, de fato, inovador em se tratando do Brasil. Apesar de severo defensor dos direitos fundamentais individuais, sempre se mostrou bastante rígido e conservador frente a assuntos que abrangem drogas, prostituição ou qualquer questão deste gênero.
A intenção legislativa é clara: Retirar o “mito da demonização” do usuário. Ou seja, assume legalmente a posição de vítima direta das drogas, sem o tradicional traço de vilão social. Assim o Estado deve promover medidas pra ressocialização de dependentes, ao invés de privar ainda mais da possibilidade de integrar de forma legítima no seio social.
Há tempos, o Brasil vem passando por um processo racionalizante da pena, e a concebera como uma forma de estabelecer a paz social e a própria ressocialização do delituoso. Como afirma REALE Jr, “O Direito Penal por via da integração de fatos e valores estatui os comportamentos delituosos, descrevendo as condutas que ofendem valores a serem respeitados, e impondo a omissão destas condutas sob a ameaça de uma pena, atribuindo de um lado, ao Estado o poder-dever de punir esta conduta e de outro a sujeição do autor da conduta à pena [1]”. Realmente não notamos nenhuma ofensa de valores no uso de tais substâncias, porque esta deve se dar no âmbito social, que é exatamente o quadro social que o Direito Penal possui legitimidade para agir. Este ramo do Direito deve respeitar o alcance da vida íntima, bem como a vida privada individual. Há distinções entre valores internos e sociais, e o Direito Penal deve privar seu alcance, de forma restrita a estes últimos, não interferindo nunca em aspectos individuais da pessoa humana que não violem nenhum bem jurídico.
É devido a essa exposição que nos parece admirável e importante a idéia geral presente nesta nova ordem normativa. Poupando os usuários dependentes de penas privativas de liberdade, não significando, contudo, que é legalizado o uso ou a posse de substância entorpecente. Enquanto pune mais severamente o real ameaçador da defesa e da saúde social, o próprio traficante.
2.0 - A LEIFRENTE À CONSTITUIÇÃO FEDERAL
O Estado Democrático de Direito deve intervir na vida social dos seus integrantes de modo a permitir um mínimo de liberdade frente à ordem jurídica, e também à ordem estatal de forma geral. Assim, há a autonomia individual de cada integrante de uma nação para decidir assuntos que não influenciem na vida de outros indivíduos e não violem princípios legais. Ou seja, observado que não exista nenhuma ilegalidade, não pode o Estado intervir na vida individual.
Além disso, esta ordem legislativa infraconstitucional deve ser criteriosa para evitar a infração do mandado constitucional que determina o respeito à intimidade, bem como a dignidade da pessoa humana. De acordo com a o pensamento do Ilustre Douto Alexandre de Moraes, “A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem toas as pessoas enquanto seres humanos” [2]. Vemos então, que tratar os dependentes como um marginalizado aplicando uma pena privativa de liberdade seria até mesmo constitucional, uma vez que, de certa forma, estaria no limite de sua autodeterminação.
Percebemos que a lei penal é um exemplar reflexo da ordem histórico-democrática que vivemos. Como assinala MIR PUIG: “A retribuição, a prevenção geral e a prevenção especial não constituem opiniões ahistóricas, senão diversos cometimentos que distintas concepções do Estado têm assinalado em diferentes momentos ao Direito Penal. Não se trata, pois, de perguntar só pela função ‘da pena’, em abstrato, senão de averiguar que função corresponde à pena no Direito penal próprio de um determinado modelo de Estado”. [3]
Lembramos que não há, aqui, uma defesa no sentido de justificar o uso. O ponto central é, que há tempos, o Direito Penal não possui um aspecto simplesmente punitivista como queria Kant e Hegel. Na verdade, a pena é adotada, pelo Estado Democrático de Direito, como fim de prevenção, ou seja, não é um mal ao indivíduo, mas um bem até ao próprio infrator. Desta forma, no momento da análise de um texto normativo devemos ter em vista a finalidade, a eficiência de determinada medida pra o bem comum. Louvável afirmação do ilustre professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Paulo Queiroz: “Nas sociedades contemporâneas, em que, como regra, o papel do Estado e de suas instituições estão previamente definidos pelas Constituições promulgadas, as quais, por sua vez, estabelecem os pressupostos de criação, vigência, e execução do resto do ordenamento jurídico, convertendo-se assim, em elemento de unidade, e em cujos textos já se acham constitucionalizados os direito e garantias fundamentais,(entre nós, CF, art..5º), o papel do direito, e em particular, do direito penal, está, por conseqüência, e em linhas gerais, já constitucionalmente definido, Saber quais as funções que se devem creditar ao direito penal implica, assim, saber previamente, as funções constitucionalmente assinaladas ao Estado. O perfil do direito pena, - autoritário ou democrático – depende, portanto, da conformação político- constitucional que se lhe dá(ao Estado). Afinal, as funções do direito e do Estado são, em última análise, uma só e mesma função: possibilitar a convivência social, proporcionar o exercício da liberdade, condicionar e controlar a violência, enfim”. [4]
Não há justificativas ressocializantes em um mandado de prisão a um usuário, o aspecto abordado é meramente punitivista. Principalmente porque não há dano a nenhum bem jurídico alheio, assim, não pode ser considerado perigoso simplesmente pelo fato de ser usuário de determinada substância ilícita. Sendo assim, o foco do Estado vai ser exatamente em reaver o indivíduo de forma que, evite a repetição do ilícito. A prisão deste cidadão não vai, de forma alguma, beneficiar a sociedade, tampouco o delinqüente.
Como expõe Érico de Oliveira Della Torres: “O sistema carcerário brasileiro encontra-se inflacionado, com cadeias superlotadas, pouca racionalização prática quanto à penalização de criminosos e permeado de técnicas de tortura que viciam a população carcerária e geram um ódio dos infratores contra o próprio Estado e contra seus agentes e instituições, conforme pode ser percebido na análise do cotidiano” [5]. De fato, a destinação de usuários ao sistema penitenciário está longe de resolver o problema. Uma vez que, o indivíduo afastado da ordem social, fica impossibilitado de ser reintegrado.
A própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, XLVI, d, afirma: “a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras as seguintes:
privação ou restrição da liberdade;
perda de bens;
multa;
prestação social alternativa;
suspensão ou interdição de direitos;”( grifos nossos )
Percebemos então, que o pensamento comum vê o crime somente como aquele que possui penas privativas de liberdade. E na verdade nem sempre essa é a forma adequada. Aliás, esse erro ultrapassa pensamento comum, abrangendo até mesmo a legislação. Como percebemos no Art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal (Lei 3.914/41): “Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a pena de multa”. Vênia concessa, não parece esta ser a melhor definição. Há uma inversão de valores, porque a pena não se confunde com o crime, sendo assim, impossível uma conceituação de um a partir do outro. É certo que a pena é uma conseqüência do crime, porém conseqüência não indica identidade. Critica-se ainda a definição porque restringe a idéia de crime pela reclusão ou detenção. Indo de encontro direto com a norma constitucional exposta, a qual define outras formas de penas.
De acordo com pensamento do ilustre jurista Beccaria, a pena deveria conter uma proporcionalidade justa e eficaz para o cumprimento real da justiça. “Se o prazer e a dor são os motores dos seres sensíveis, se entre os motivos que impelem os homens, mesmo para as mais sublimes acções o invisível legislador incluiu o prêmio e a pena, da sua incorrecta distribuição nascerá aquela tanto menos observada contradição, quanto mais comum, segundo a qual as penas punem os delitos a que deram origem. Se uma mesma pena se destina a dois delitos que de forma desigual ofendem a sociedade, os homens não encontrarão um obstáculo mais forte para cometer o maior delito se a isso se associar uma maior vantagem”. [6] Deve ser analisado então se seria proporcional uma prisão de dois anos para uma pessoa que é dependente de drogas, uma vez que o sistema carcerário brasileiro não garante nem mesmo que essa pessoa não fará uso dessas substâncias dentro do presídio.
O Código Penal prevê em seu artigo 171 “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena – reclusão, de 1(um) a 5(cinco) anos, e multa”. Enquanto isso a lei 6368/76 prevê que “Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 20(vinte) a 50(cinqüenta) dias-multa”. De acordo com o entendimento do juiz, uma pessoa que simplesmente adquire uma substância deste tipo poderá sofre uma sanção maior do que alguém que pratique estelionato. Desta forma, não parece haver uma proporcionalidade real.
Percebemos que a lei publicada vem atender uma série de princípios e determinações constitucionais que surgiram do decorrer histórico, além de uma adequação ao sistema sócio-político vigente, o que realmentedemonstra uma demasiada diferença em relação ao Brasil que conhecíamos em 1976, data da publicação da antiga lei de tóxicos.
3.0 – ASPECTOS NORMATIVOS QUANTO AOS SEUS AGENTES
Quanto à distinção de seus agentes percebemos que a Lei faz uma nítida separação de três campos de atuação. São eles: o consumidor, o produtor e o traficante.
3.1 – DEPENDENTES E DESPENALIZAÇÃO
Como foi já foi mencionado, a nova lei concede tratamento ao consumidor, seja dependente ou mero usuário, como parte afetada de um problema de saúde social, que receberá a partir de então um tratamento sócio-cultural de reeducação e ressocialização. Ressaltamos, porém, que isso não faz com que a compra, porte, transporte, para consumo pessoal seja considerado uma conduta descriminalizada. Tem sido comum, desde aprovado o projeto legislativo, mesmo antes da sanção presidencial, o comentário a respeito da “descriminalização uso ou posse de entorpecentes”, vênia concessa, esta não é a previsão constitucional, visto que na verdade a mudança não foi o fator criminalizante de determinada conduta, na verdade temos uma despenalização.
Como ressalta sabiamente COELHO, “Não há consenso quanto ao uso das palavras ‘descriminalizar’ ou ‘descriminar’. Trabalhando-se a partir dos antônimos, tem-se que descriminar é o contrário de incriminar, que significa imputar um crime a alguém. Assim, descriminar significaria absolver, tirar a culpa, inocentar, absolver da imputação do crime. Descriminalizar por sua vez, seria o contrário de criminalizar, de tornar criminal. Por decorrência, opta-se, aqui, pela palavra descriminalizar” [7].
No que tange a despenalização o mesmo autor afirma que “trata-se do ato de diminuir a pena de um delito sem descriminaliza-lo, quer dizer, sem tirar do fato o caráter do ilícito penal” [8].
Partindo do assinalado supra, devemos partir para uma análise do texto legal. Primeiramente, devemos perceber que o Capítulo III, do título IV recebe a intitulação de “DOS CRIMES E DAS PENAS”. Seria, assim, inadmissível que considerássemos o uso ou posse uma conduta descriminalizada, uma vez que a prática incide exatamente em uma tipificação de acordo com o artigo 28 deste capítulo. Não há sentido em tratar de uma conduta lícita, descriminalizada em um capitulo que recebe essa denominação, seria no mínimo considerar um erro legislativo. O Tipo Penal presente nesta norma preceitua:
“Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou
trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às
seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso
educativo.
Percebemos, assim, que a Lei 11.343 prevê de forma clara a possibilidade de tipificação destas condutas, determinando respectiva pena. Afasta-se assim, qualquer instabilidade no ordenamento juntamente com o princípio nullum crimen nulla poena sine leges. Como já afirmamos, a medida central da mudança é a exclusão de penas privativas de liberdade, além de uma determinação jurídica quanto ao tratamento, ou seja, invocando coativamente o infrator a comparecer a programas ou cursos educativos.
Cabe-nos a ressalta que aquele produtor que tiver como fim somente o consumo pessoal da droga será punido conforme usuário.
Outra dificuldade que enfrenta o sistema judiciário, e a própria polícia, é quanto à determinação da destinação da droga. Não há meio eficaz para determinar quando uma droga é para uso pessoal ou para tráfico. A lei, assim como a anterior, preceitua que será analisado de acordo com a substância, bem como a quantidade. Não entendemos que sejam medidas eficientes, uma vez que o indivíduo assim como pode estar portando pequena quantidade para uma venda de baixo valor, poderia também adquirir um volume considerável para seu próprio consumo. Claro que essa medida conduz a uma liberdade para que continue havendo arbitrariedade da perícia policial.
3.2 - TRÁFICO
Quanto ao envolvimento com fins distintos de consumo pessoal, como já assinalado, a lei aparece como norma incriminadora, lex gravior. A nova lei incrimina inclusive a instigação, indução ou auxilio ao uso indevido que também é punido, com pena de um a três anos de detenção e multa. Desta forma, ainda que não tenha fins lucrativos, o envolvimento será mais duramente penalizado do que o uso.
A norma, ainda, indica que qualquer ação que utilize substâncias ilícitas deverá ter prévia autorização judicial, seja produzir, extrair, fabricar, transformar, preparar, possuir, manter em depósito, importar, exportar, reexportar, remeter, transportar, expor, oferecer, vender, comprar, trocar, ceder ou adquirir. Desta forma, ainda que os fins sejam lícitos, o poder judiciário deverá punir de acordo com a lei, mesmo que seja para fins medicinais. Nestes casos, a pena prevista é de 3 a 10 anos de reclusão mais sua respectiva multa.
O agente direto, ou seja, aquele que fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas receberá pena de reclusão de 5 a 15 anos mais a respectiva multa. Aqui notamos traços da lex gravior. Na Lei 6369/76 havia determinação legal de 3 a 15 anos de reclusão, e a multa prevista na atual lei também se mostra mais elevada. Nota-se ainda que o fornecimento de maquinário, na lei revogada, recebia tratamento diferenciado do tráfico, e a pena cominada era de 3 a 10 anos. A lei se mostra ainda mais dura neste caso comparando-a com a lei atual.
A atual ordem normativa nos mostra sua face mais severa quando se trata dos verdadeiros chefes da organização de drogas. Os financiadores de qualquer dos crimes supra mencionados devem ser punidos com pena de 8 a 20 anos além de multa. Ou seja, a pena é pior até mesmo que o crime de homicídio, previsto no artigo 121 do CP, que prevê pena de 6 a 20 anos.
O que percebemos é que o poder legislativo compreendeu que deveria combater o problema no topo. Não adiantava mais punir os usuários e dependentes com pena privativa de liberdade para que tivessem mais contato ainda com o mundo ilícito. Decidiu-se, então, punir severamente os financiadores, produtores, vendedores, etc, pois esses são os verdadeiros criminosos que espalham entre nossos conhecidos, familiares, amigos os germens do problema. Aproveitando-se talvez de momentos de fraqueza, desespero, desesperança para enriquecer, acabando, assim, com vidas.
Neste sentido, o Estado Democrático de Direito aparece como verdadeira figura ressocializadora, e ao mesmo tempo como figura punitiva daqueles causadores de graves problemas sérios. Percebe-se que em toda história os punidos sempre eram aquelas partes frágeis do sistema, desta forma, quanto maior o porte criminal do infrator maior será a conseqüente pena.
Vale ressaltar que, assim como a Constituição, a lei prevê que o tráfico de entorpecentes e drogas afins será considerado inafiançável e insuscetíveis de graça. Mais uma demonstração de como a República Federativa do Brasil se mostra como real defensora da luta contra as drogas, longe de se parecer um país a caminho da liberalização ou descriminalização.
4.0 – RETROATIVIDADE DA NOVA LEI
De acordo com a análise sistemática do previsto diploma legal, percebemos que há pontos que se apresenta com uma lex mitior, e, outros, lex gravior. O princípio geral de leis criminais é a irretroatividade, ou seja, não é permitido que a lei retroaja para julgar ação ou omissão que tenha ocorrido sobre a vigência de lei anterior. Porém, a retroatividade é aceita quando a lei revogadora se apresenta como benéfica ao réu.
Conseqüentemente, haverá casos que esta mesmo ordem legislativa se apresentará como descriminalizante [9], e outros como incriminadora. Nosso posicionamento, bem como de Nelson Hungria [10], é que o juiz deverá aplicar ospontos mais brandos de todas as leis, revogadas e revogadoras, sob possibilidade de ferir o princípio constitucional da retroatividade da lei mais branda.
Há doutrinadores, porém, que concebem essa ação como criadora de uma nova lei, fazendo o poder judiciário se apresentar como verdadeiro poder legislativo. Data vênia, não parece esta ser a compreensão ideal. Um dos pressupostos básicos da lei é que ela seja geral. Essa aplicação seria restrita a um caso específico, não havendo nenhuma generalidade. O Juiz estaria utilizando seu poder de decisão em um caso concreto, e não oferecendo poder vinculante em relação a todos os julgados,
Como ressalta BITENCOURT, em caso de dúvidas a solução mais justa seria possibilitar a escolha ao réu, que será o sujeito mais adequado para decidir o que realmente será mais benéfico a si próprio.
Ademais, lembramos que a lei se encontra em estado de vacatio legis. A publicação de um diploma legislativo penal com determinação de vacatio inibe bastante a aplicação da lei de forma eficaz. Isto por que, um ato criminoso abordado pela lei neste período deveria ser julgado pela lei anterior, mas de qualquer forma não haveria sentido uma vez que os pontos benéficos seriam retroativos e, conseqüentemente, seria necessário novo julgamento, fazendo um dispêndio desnecessário de tempo processual e de fundos pecuniários governamentais.
É, neste sentido, que se apresenta FRANCO, “O efeito retroativo da norma penal benévola, determinado em nível constitucional, parte, portanto, da publicação da lei sucessiva ao fato criminoso, lei essa que está desde então, porque existente no mundo jurídico. Dotada de imediata eficácia e que não pode ser obstaculizada por nenhum outro motivo” [11]. Apesar da consciente afirmação, não concordamos que esta seja a medida mais adequada a se tomar. Não discordamos sob o aspecto da existência da lei no mundo jurídico, porém a existência não é fator o único determinante para que seja aplicável ao meio social, de forma que neste período é existente, mas se encontra em repouso. Enquanto não terminar a vacância não deverá ser aplicada. Concordamos, aliás, que o erro está no legislativo quando recorre a determinada medida a nível criminal, visto que medida mais eficiente seria na esfera cível, ou em quaisquer outros ramos do Direito. Não podemos desconsiderar que antes da prevista vigência, esta norma poderia ainda ser revogada. Considerá-la aplicável antes do término do previsto vacatio, é aplicar uma norma em certos casos que talvez nunca deveriam ter recebido tais tratamentos.
5.0 - CONCLUSÃO
Por fim, reafirmamos que concebemos a ordem legislativa como uma importante evolução do Direito Criminal em relação a drogas entorpecentes e psicotrópicas. Não devemos esquecer que a Lei nº 6368 de 1976 foi publicada sobre a égide de um governo fechado, repressor e ditatorial. A realidade brasileira é outra, não podemos continuar com diplomas não condizentes com a ordem constitucional vigente e com o regime governamental. Como já dizia REALE “O Direito é um fenômeno histórico-social sempre sujeito a variações e intercorrências, fluxos e refluxos no espaço e no tempo”. [12]
Desta forma, como objeto cultural que é, o Direito não pode se dar o privilégio de desprezar as variações sociais que ocorrem em sua volta, sob possibilidade de se tornar anacrônico e afastar-se de seu ponto principal, justiça, para se mostrar como meio de injustiças e ações ineficazes para controle social.
Concluindo, assim, a Lei 11.343 de 23 de agosto de 2006, nos parece bem atender a necessidades sociais da atualidade brasileira. Mostrando a face de uma política criminal de intervenção mínima e ao mesmo tempo severa em ações realmente anti-sociais.
  
[1] REALE Jr. Miguel, Instituições de Direito Penal: Parte Geral, volume I. 1 ed. Forense: Rio De Janeiro, 2002.
[2] MORAES, Alexandre. Direito Constitucional. 17 ed. Atlas: São Paulo, 2005, p.16
[3] MIR PUIG, Santiago, Derecho Penal: Parte General. 5 ed. Reppertor: Barcelona, 1998, pgs. 64 e 65
[4] QUEIROZ, Paulo, Funções do Direito Penal, 2 ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2005, pgs. 114 e 115
[5] TORRES, Érico de Oliveira Della. Juizados Especiais Criminais: Dosimetria e Eficácia da Transação Penal. Disponível em http://www.trinolex.com.br/artigos_view.asp?icaso=artigos&id=2670 - Acessado em 10/08/2006, às 12:29
[6]  BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas | Tradução: J. Cretella Jr. e Agnes Cretella|, 2 Ed. Revista e atual. Revista dos Tribunais: São Paulo:, 1997, p. 75
[7] COELHO, Edihermes Marques, Manual De Direito Penal, 1 ed. Juarez de Oliveira Ltda: São Paulo, 2003, p. 16
[8] COELHO, Edihermes Marques. Op. Cit., p.16
[9] O uso descriminalizante aqui representa o fato de que a lei seja mais benéfica e não que ela seja descriminalizadora em seu sentido formal.
[10] HUNGRIA, Nelson. Comentário ao Código Penal, volume 1, 27 ed. Revista Forense: Rio de Janeiro, 1949, p. 112
[11] FRANCO, Alberto Silva. Código de Processo Penal e Sua Interpretação Jurisprudência, 2 ed. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2006, p.48
[12] REALE, Miguel, Lições Preliminares do Direito. 27 ed. Saraiva: São Paulo, 2005, p. 14
o: O propósito do presente trabalho não é uma abordagem sobre toda a matéria regulamentada na Lei 11.343/2006, e sim apresentar uma breve reflexão sobre o tratamento legislativo destinado ao usuário de drogas, sobre as sanções escolhidas para a aludida prática, e, finalmente, sobre as questões processuais penais que ostentem pertinência e relevância jurídica com a aludida matéria. Diante das várias críticas, sugestões e das primeiras decisões sobre a matéria, parece oportuno retomar e aprofundar um pouco mais esse complexo assunto.
Palavras-chave: Lei 11.343/06; Drogas; Usuários; Despenalizar; Descriminalizar; Penas Alternativas.
Sumário 1. Introdução. 2. Sistemas penais e funcionalismo 3. Síntese e a lei de tóxicos: bases para uma interpretação conseqüente. 4. O uso de drogas: para além da instrumentalidade da pena. 5. O tráfico, o uso e as penas: descriminalização? 6. Prisões cautelares e vedação da liberdade provisória 7. Conclusão. Referências bibliográficas.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, que, possivelmente, ocupa o primeiro lugar na produção legislativa do mundo ocidental, a criação de leis, geralmente, é obra de pouca reflexão, e, quase sempre, de poucos autores.
Os dois males andam juntos: a ausência de debates públicos e, assim, da participação popular - não no processo legislativo, em si, já que assim não o prevê nosso modelo constitucional – indica a menor amplitude na argumentação por ocasião da elaboração das normas e, em conseqüência, a sua diminuição (da participação) no âmbito da formação da vontade popular. Tais são os problemas mais sensíveis em relação à ausência de legitimidade de um sem número de leis nacionais, e, particularmente, em relação àquelas de maior alcance social, frutos, quase sempre, ou da solidão parlamentar, ou, o que é muito pior, da prevalência de interesses exclusivamente privados de determinadas hegemonias econômicas e/ou políticas.
Não bastasse, campeia também a fragilidade técnica na produção dos textos normativos.
Recentemente, por exemplo, e possivelmente movidos por interesses predominantemente eleitoreiros, o Legislativo e o Executivo brindaram a população feminina brasileira com a Lei 11.340/06, destinada à produção de mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, garantindo a elas as condições para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar comunitária (art. 3º). Direito, enfim, e para além do manifesto apelo retórico da citada legislação, a um efetivo Estado Democrático de Direito, que simplesmente faça cumprir as promessas da modernidade, ignoradas desde a perspectiva liberal e social, e que parecem também irrealizáveis pelo atual modelo político

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