Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Fisiologia Respiratória em Pediatria e Neonatologia. Carlos Augusto Cardim de Oliveira Maria Cláudia Brandão de Oliveira Naiana Valério Os profissionais da saúde têm geralmente uma concepção errônea de que as doenças pulmonares são problemas principalmente de adultos. As estatísticas mostram que as doenças respiratórias são um dos principais problemas na infância, contribuindo em grande parte nos índices de internação, bem como das causas de mortalidade e morbidade em crianças e neonatos. Cinqüenta por cento (50%) das internações em unidades de terapia intensiva pediátrica referem-se a crianças que apresentam Insuficiência Respiratória Aguda (IRA), sendo dois terços em crianças menores de 1 ano, e destas, 50% no período neonatal (Vicent, 2003). As estatísticas de mortalidade mostram que aproximadamente 30% de todas as mortes de bebês nascidos a termo e 50 a 75% das mortes de bebês prematuros nos Estados Unidos são causadas por ou estão estreitamente relacionadas a doenças respiratórias e, principalmente, por quadros de IRA (Lemen, 1992). A IRA pode ser causada por diversas condições como a Pneumonia, a Bronquiolite, a Síndrome da Aspiração de Mecônio entre outras. Entretanto, na população pediátrica e neonatal, a IRA torna-se mais freqüente devido às diferenças anátomo-fisiológicas que colocam o sistema respiratório infantil em desvantagem com o sistema respiratório adulto, deixando-o mais suscetível a falhas respiratórias. Neste capítulo, serão fornecidas informações básicas que capacitarão os leitores a entenderem mais sobre a fragilidade do sistema respiratório neonatal e pediátrico. 1. Desenvolvimento e crescimento pulmonar O sistema respiratório passa por importantes alterações estruturais no decorrer de seu desenvolvimento intra- uterino. Antes do nascimento, os pulmões não são funcionais e o feto não realiza nenhuma troca gasosa direta com o meio ambiente. A placenta é que exerce esse papel. No feto, o sangue caminha pela artéria umbilical e, após troca gasosa com a placenta, retorna através da veia umbilical. Mesmo a troca gasosa sendo realizado na placenta materna, a circulação fetal e a circulação materna não se misturam. Útero e placenta mantêm, ambos, uma circulação em separado (Helfaer, 1996). O primeiro sinal de desenvolvimento pulmonar ocorre durante o período embrionário, 4 a 7 semanas após a concepção. As células que formam o trato respiratório desenvolvem-se a partir do epitélio que deriva do endoderma. Essas células formarão os tecidos das vias aéreas condutoras e os alvéolos, que se tornarão intimamente associados à circulação pulmonar para a função da troca gasosa (Miyoshi, 1998). O desenvolvimento e o crescimento pulmonar prosseguirão durante toda a gestação, estando apto para a vida extra-uterina a partir da 36° semana gestacional, como mostram a tabela e a figura abaixo: 2 Tabela 1. Fases do desenvolvimento e crescimento pulmonar e suas principais características são: Embrionário 4-7 semanas - Desenvolvimento das células das vias aéreas condutoras e alvéolos a partir do endoderma, - Separação da traquéia e esôfago, - Início da formação da artéria e das veias pulmonares. Pseudoglandular 7-16 semanas - Formação da via aérea condutora (23 a 27 gerações), - Vasos sanguíneos pequenos com pouco fluxo. Artérias pulmonares desenvolvem-se paralelamente à ramificação pulmonar, - Aparecimento dos linfáticos pulmonares, - Fechamento da cavidade pleuro-peritoneal. Canalicular 17-26 semanas - Proliferação dos vasos sanguíneos, -Crescimento dos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos, - Diferenciação dos pneumócitos tipo I e II, - Formação dos corpos lamelares nas células do tipo II, - Formação do liquido pulmonar, para canalização das vias aéreas, - Aproximação dos capilares com o epitélio – barreira hematogasosa. Sacular 27-35 semanas - Aumento da superfície de troca gasosa, - Formação dos sáculos, - Crescimento da rede capilar, - Maturação do sistema surfactante. Alveolar 36-gestação a termo - Aumento da superfície e volume pulmonar, - Redução do insterstício pulmonar, - Aparecimento dos poros de Konh, - Formação de 50 milhoes de alvéolos – 3 a 4 m2 de ares de superfície gasosa. Figura 1. Estágios do desenvolvimento e crescimento pulmonar em humanos. 3 Na vida extra-uterina, o crescimento e desenvolvimento pulmonar caracterizam-se pela grande expansão da superfície de trocas gasosas. Estas mudanças estendem-se até os 8 anos de idade. (Miyoshi, 1998). 2. Características anatômicas e funcionais do sistema respiratório infantil. As crianças apresentam uma anatomia bem diferente da dos adultos, não apenas pelo tamanho das estruturas, mas também por sua distribuição anatômica e maturidade fisiológica. Essas diferenças fazem com que as crianças sejam mais susceptíveis a desenvolver insuficiência respiratória aguda, por obstrução ao fluxo aéreo, fadiga muscular ou alterações na complacência e resistência pulmonar. Segue abaixo as principais características do sistema respiratório da criança. 2.1 Estrutura anatômica das vias aéreas. Apesar do tamanho reduzido, a via aérea da criança é relativamente maior se comparada à via aérea de um adulto. A via aérea distal é relativamente mais estreita e não está totalmente formada na criança até 5 anos de idade, levando a um grande aumento na resistência da via aérea periférica nesta faixa etária. Doenças que no adulto apresentam pouca importância, como laringite, laringotraqueobronquite e bronquiolite, na criança podem levar a insuficiência respiratória aguda, por aumento do trabalho respiratório. Além do tamanho da via aérea, o suporte cartilaginoso da traquéia, essencial para a estabilidade da via aérea de condução, não se encontra totalmente desenvolvido na criança. Após o nascimento, esta cartilagem aumenta em número até os dois meses de idade e em área total durante toda infância. Esta relativa fraqueza do suporte cartilaginoso nos lactentes pode levar a uma compressão dinâmica da traquéia em situações associadas a um alto fluxo expiratório e aumento da resistência da via aérea, tais como: bronquiolite, asma, ou mesmo durante o choro (Kercsman, 1999). Outro fator importante é a respiração predominantemente nasal até o 6 mês de vida, devido à língua ser relativamente grande e a mandíbula relativamente pequena e arredondada, obstruindo a orofaringe e impossibilitando a respiração bucal. Assim, os recém-nascidos e lactentes estão susceptíveis a dificuldades respiratórias na presença de obstrução nasal ou nasofaríngea. Além disso, as narinas opõem uma resistência ao fluxo aéreo que corresponde de 11 a 41% do total, não diminuindo com o crescimento. A criança maior e o adulto utilizam a boca como auxilio para respirar em situações de estresse, reduzindo esta resistência inicial (Malinowski, 2000). A mucosa das vias aéreas superiores do lactente, especialmente da laringe, é fina e facilmente traumatizada por processos mecânicos (intubação ou aspiração contínua), causando edema e obstrução nessas áreas. Em crianças maiores, os tecidos linfóide adenoideano e tonsilar são proeminentes e podem contribuir para a obstrução das vias aéreas (Kercsman, 1999; Esposito, 2005). 2.2 Estrutura anatômica e funcional da caixa torácica. O formato do tórax se altera significativamente durante o desenvolvimento da criança. Ao nascimento, as costelas são cartilaginosas e horizontalizadas, e a caixa torácica mais circular que no adulto. O esterno é mais maleável, e a musculatura intercostal e abdominal pouco desenvolvidas.A complacência da caixa torácica e o diâmetro ântero- posterior do tórax também são maiores, em relação ao adulto. A imaturidade da musculatura abdominal não favorece a tosse, deixando as vias aéreas do recém-nascido e lactentes jovens mais susceptíveis à obstrução por acúmulo de muco (Tecklin, 2002). 4 A composição das fibras musculares nos recém nascidos e lactentes também é diferente da dos adultos. No diafragma de recém nascidos e lactentes predominam as fibras musculares do tipo II (glicolíticas), fibras de contração rápida, porém de pequena capacidade oxidativa e, portanto, menos resistentes a fadiga muscular. Assim, nos recém- nascidos e lactentes jovens, um aumento do trabalho respiratório leva mais precocemente à fadiga da musculatura respiratória (AMIB, 2004). 2.3 Redução do número de alvéolos. O recém-nascido apresenta cerca de 25 milhões de alvéolos que aumentam drasticamente após o nascimento, atingindo a faixa de 300 milhões de alvéolos entre 8 a 10 anos de idade, equiparando-se a um adulto. O menor tamanho dos alvéolos predispõe mais facilmente, ao aparecimento de atelectasias, visto que a tensão superficial é inversamente proporcional ao tamanho do raio. O menor número e tamanho dos alvéolos fazem com que a criança tenha uma menor reserva de troca gasosa, predispondo-a a desenvolver insuficiência respiratória aguda (AMIB, 2004). 2.4 Complacência pulmonar diminuída. A complacência do parênquima pulmonar é determinada pela anatomia alveolar, pelas qualidades elásticas do pulmão e pelo surfactante. No período perinatal, a anatomia alveolar é imatura e reduzida. O interstício pulmonar apresenta menor quantidade de elastina, o que leva a uma menor capacidade de recolhimento elástico e tendência ao colapso alveolar. A deficiência do surfactante, nos recém nascidos a termo e principalmente nos pré-termos, também auxilia na diminuição da complacência pulmonar, resultando na necessidade de maiores variações de pressão para um mesmo volume pulmonar. Assim, quanto menor a idade gestacional da criança, menor a complacência pulmonar (Carvalho, 2004). 2.5 Capacidade Residual Funcional Diminuída. Em virtude da redução da complacência pulmonar e do aumento da complacência da caixa torácica, as crianças apresentam uma maior tendência a atelectasias e a diminuição da Capacidade Residual Funcional (CRF). A CRF do adulto corresponde a 40% da Capacidade Pulmonar Total e no recém-nascido esse valor é em torno de 15%. O conceito do Volume de Fechamento Pulmonar (VFP), corresponde ao volume pulmonar a partir do qual a via aérea terminal começa a entrar em colapso, gerando uma descontinuidade entre a via aérea de condução e o alvéolo, podendo levar a ocorrência de shunt. O VFP representa cerca de 60% da capacidade pulmonar total de um lactente, enquanto que no adulto apenas 30% (Espósito, 2005; Faria, 1998). 2.6 Ventilação Colateral Reduzida. No recém-nascido, os Poros de Kohn (interalveolares) e os Canais de Lambert (bronquíolo-alveolares) são ausentes, ou estão em menor número e tamanho, mas desenvolvem-se e aumentam com a idade. A ventilação colateral só começa a aparecer por volta dos 6 anos de idade, estando totalmente desenvolvida aos 13-15 anos. A ventilação pulmonar das unidades obstruídas é mais difícil em crianças menores, com perda na troca gasosa (Filho, 2004). 5 2.7 Metabolismo Respiratório Elevado. A criança apresenta níveis metabólicos mais elevados do que o adulto, o que leva a um aumento do consumo de oxigênio, aumento da perda de calor e de água, secundários a uma taxa respiratória mais elevada. Somado a estes fatores, o lactente e a criança apresentam um suprimento precário de energia muscular (glicogênio), o que os predispõem mais rapidamente a fadiga muscular (Tecklin, 2002). Questões: 1. O pulmão do recém-nascido pode ser considerado uma miniatura do pulmão de um adulto? a. Sim, possui as mesmas características. b. Não, possui algumas semelhanças, porém, ainda sofrerá consideráveis alterações. c. Não, possui características totalmente diferentes ao pulmão de um adulto. d. NDA. 2. Os recém-nascidos, lactentes e crianças estão mais susceptíveis a doenças do sistema respiratório, se comparados a um adulto. Esta afirmativa está: a. Incorreta, o pulmão infantil está igualmente susceptível as doenças respiratórias. b. Correta, devido às características fisiológicas do sistema respiratório infantil. c. Incorreta, o sistema respiratório infantil apresenta menor resistência ao fluxo aéreo e menor trabalho respiratório. d. NDA. 3. Durante a vida intra-utero o pulmão fetal realiza troca gasosa? a. Sim, pois a circulação fetal é a mesma da vida extra-uterina. b. Sim, porém em menor proporção à vida extra-uterina. c. Não. A circulação pulmonar não existe na vida intra-utero. d. Não. A troca gasosa é realizada via placenta materna. 4. Os estágios do desenvolvimento e crescimento pulmonar em humanos são: a. Embrionário, pseudoglandular, canicular, sacular e alveolar. b. Alveolar, embrionário, canicular, pseudoglandular, e sacular. c. Embrionário, canicular, pseudoglandular, sacular e alveolar. d. Canicular, pseudoglandular, sacular, alveolar e embrionário. 6 5. Em relação à estrutura anatômica da via aérea infantil, é correto afirmar: a. Apesar do tamanho reduzido, a via aérea da criança é relativamente maior se comparada à via aérea de um adulto. b. A via aérea distal é mais estreita e não esta totalmente formada até os 5 anos. c. A resistência é maior na via aérea distal, predispondo ao aumento do trabalho respiratório. d. Todas estão corretas. 6. Quanto à via aérea de condução, podemos afirmar que: a. O suporte cartilaginoso da traquéia está completamente formado ao nascimento. b. A instabilidade da via aérea de condução, não contribui para o aumento da resistência ao fluxo. c. Patologias como a bronquiolite, asma e mesmo durante o choro, podem levar a compressão dinâmica da traquéia. d. Situações com alto fluxo expiratório não interferem na estabilidade da via aérea de condução. 7. A respiração até o 6º mês de vida é: a. Predominantemente bucal. b. Nasal e bucal. c. Predominantemente nasal. d. NDA. 8. Sobre a composição das fibras musculares do recém-nascido e lactente, é correto afirmar: a. Há um predomínio das fibras musculares do tipo II, glicolíticas. b. Há um predomínio das fibras musculares do tipo I, glicolíticas. c. Há um predomínio das fibras musculares do tipo II, oxidativas. d. Há um predomínio das fibras musculares do tipo I, oxidativas. 9. Situações que levem ao aumento do trabalho respiratório no recém-nascido, com conseqüente elevação da freqüência respiratória, predispondo a insuficiência respiratória pela fadiga muscular, são explicadas devido a: a. Maior número de fibras do tipo I, de contração rápida e maior capacidade oxidativa. b. Maior número de fibras do tipo II, de contração lenta e menor capacidade oxidativa. c. Menor número de fibras do tipo I, de contração lenta e menor capacidade oxidativa. d. Menor número de fibras do tipo I, de contração lenta e maior capacidade oxidativa. 10. Em relação ao número de alvéolos, o recém-nascido ao nascimento apresenta cerca de: a. 25 milhões de alvéolos. b. 300 milhões de alvéolos. c. 150 milhões de alvéolos. d. NDA. 11. A complacência pulmonar e torácica do recém-nascido está respectivamente: a. Aumentada e diminuída. 7 b. Diminuída e aumentada. c. Ambas aumentadas. d. Ambas diminuídas.12. Sobre a anatomo-fisiologia do sistema respiratório infantil, é correto afirmar: a. Apresenta volume de fechamento pulmonar inferior ao do adulto. b. Apresenta capacidade residual funcional aumentada em relação ao adulto. c. O estreitamento da via aérea distal não interfere na resistência ao fluxo aéreo expiratório. d. Todas estão incorretas. 13. A ventilação colateral do recém-nascido está presente ao nascimento? a. Não. Começa a sua formação a partir dos 6 anos de idade. b. Sim. Possui ventilação colateral semelhante ao de um adulto. c. Estão ausentes, ou em menor número e tamanho, mas aumentam com a idade. d. NDA. 14. Em qual estágio do desenvolvimento pulmonar há a maturação do sistema surfactante? a. Embrionário. b. Canalicular. c. Sacular. d. Pseudoglandular. 15. Quanto à resistência ao fluxo aéreo em crianças, lactentes e neonatos é correto afirmar que: a. As narinas representam uma resistência de 11 a 41% ao fluxo aéreo total. b. A respiração nasal predominante até o 6° mês de vida, torna o lactente mais suscetível a dificuldades respiratórias. c. O menor calibre das vias aéreas inferiores leva a uma elevada resistência a passagem de ar, favorecendo o aparecimento de quadros obstrutivos. d. Todas estão corretas. 8 Referências Bibliográficas. 1. Vicent JL, Sakr Y, Ranieri VM. Epidemiology and outcome of acute respiratory failure in intensive care unit patients. Crit Care Med 2003; 31: 96-99. 2. Lemen RJ, Parcel GS, Loughlin G, et al. Pediatric lung diseases. Chest. 1992; 102 (suppl): 232S-242S. 3. Helfaer MA, Nichols DG. Developmental and physiology of the respiratory system. In: Rogers MC. Textbook of pediatric intensive care. 3.ed. Baltimore: Williams & Wilkins; 1996: 97-126. 4. Miyoshi MH, Guinsburg R. Desenvolvimento e crescimento pulmonar perinatal. In: Kopelman, B et al. Distúrbios respiratórios no período neonatal. São Paulo, Atheneu, 1998. 5. Kercsman CM. O Sistema respiratório. In: Behrman RE, Khiegman RM. (ed.) Nelson – Princípios de pediatria. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 6. Malinowski C, Wilson B. Terapia respiratória neonatal e pediátrica. In: Scanlan CL et al. Fundamentos da terapia respiratória de EGAN. São Paulo: Manole, 2000. 7. Esposito A, Carvalho FA. Insuficiência Respiratória aguda em paciente pediátrico. In: Sarmento GJV. Fisioterapia respiratória no paciente crítico. Barueri: Manole, 2005. 8. Tecklin JS. Fisioterapia Pediátrica, 3ed. Porto Alegre, Artmed, 2002. 9. AMIB. Manual de Revisão de Medicina Intensiva Pediátrica, 2ed. 2004. 10. Carvalho W B [et al]. Ventilação Pulmonar Mecânica em Neonatologia e Pediatria. Atheneu, 2004. JLBC 11. Faria LS, Troster EJ, Baeninger R. Ventilação Mecânica. In: Terapia Intensiva Pediátrica/ Manual de Normas.1º ed; São Paulo: Sancir,1998. 12. Filho DAD, Britto. Aspectos anatômicos e funcionais da criança em ventilação normal e ventilação pulmonar mecânica. In: Ventilação Pulmonar Mecânica em Pediatria e Neonatologia. 2°ed; São Paulo: Atheneu, 2004. 13. Burri PH. Fetal and postnatal development of the lung. Ann Rev. Physiol 46: 617-628, 1984. 14. Carvalho CR, Pinheiro BV, Pompilho CE, et al. II Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica, Jornal de Pneumologia, 26 (Supl 2); 2000. 15. Harding R, Hooper SB. Regulation of lung expansion and lung growth before birth. J. Appl. Physiol. 81 (1): 209- 224, 1996. 16. Jardim JRB, Filho SPC. Fisiologia Pulmonar. In: Kopelman, B et al. Distúrbios respiratórios no período neonatal. São Paulo, Atheneu, 1998. 17. Matsumoto T., Carvalho W. B., Hirschheimer, Terapia Intensiva Pediátrica, 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 1997. 18. Merkus PJFM, Have-Opbroek AAW, Quanjer PH. Human lung growth: A review. Pediatric Pulmonology 21: 383-397, 1996. 19. Richard S. Isaacs, MD, Jonathan M, Sykes, MD, FACS. Anatomy and physiology of the upper airway, Anesthesiology Clinics of North America 20 ( 2002 ) 733 – 745. 20. Schindlow DV, Smith DS. Doenças Respiratórias em Pediatria – Diagnóstico e Tratamento, Rio de Janeiro, Revinter, 1999. 21. Stape A.[et al] . Manual de Normas: terapia intensiva pediátrica, São Paulo, Ed.Sanvier,1998 9 Fisiopatologia da Insuficiência Respiratória Adriana Zampronio dos Santos Giselle de Castro Renata Remondini Introdução A principal função do sistema respiratório é realizar as trocas gasosas entre o organismo e o meio ambiente. Quando esse sistema não é capaz de desenvolver essa função de forma eficaz, o oxigênio não é ofertado adequadamente aos órgãos vitais, podendo ocasionar complicações sistêmicas. Devido à imaturidade pulmonar e às diferenças anatômicas e fisiológicas do sistema respiratório, as crianças e lactentes têm uma maior predisposição ao desenvolvimento de complicações respiratórias, devido, principalmente, à fadiga muscular e à obstrução ao fluxo de ar. Com isso, a incidência da insuficiência respiratória é mais elevada nessa faixa etária, quando comparada aos adultos. Definição A insuficiência respiratória (IR) corresponde à incapacidade do sistema respiratório de suprir a demanda metabólica tecidual com adequada oferta de oxigênio e remoção de dióxido de carbono. Na IR as trocas gasosas estão comprometidas, podendo ocasionar alterações nas pressões dos gases arteriais, as quais não são mantidas nos níveis de normalidade. Na gasometria arterial a IR é caracterizada por pressão arterial de oxigênio (PaO2) inferior a 60 mmHg e a pressão arterial de dióxido de carbono (PaCO2) superior a 50 mmHg. Já nos casos de IR crônica tais alterações podem estar ausentes. A inadequação das trocas gasosas pode ser resultante de hipoventilação, diminuição na difusão, desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (V/Q) ou shunt (alvéolos perfundidos, mas não ventilados). Comprometimento das trocas gasosas Hipoventilação Difusão diminuída Desequilíbrio V/Q Shunt Figura 1 – Fatores que ocasionam comprometimento das trocas gasosas. 10 Classificação A IR é classificada, quanto ao tempo de instalação, em aguda, quando as manifestações clínicas são rápidas e intensas, ou crônica, com manifestações progressivas em meses ou anos. Quanto ao mecanismo fisiopatológico, é classificada em dois tipos: insuficiência respiratória hipoxêmica (tipo I) e insuficiência respiratória hipercápnica (tipo II). A IR do tipo I é caracterizada por um déficit de oxigenação, no qual ocorre hipoxemia sem alteração ventilatória. Ao contrário, a IR do tipo II é caracterizada por um déficit de ventilação, com retenção de dióxido de carbono. IRA PaO2 PaCO2 Mecanismo fisiopatológico Tipo I ↓ ↓ ou normal Comprometimento da oxigenação Tipo II ↓ ↑ Comprometimento da ventilação Tabela 1 – Tipos de Insuficiência Respiratória quanto ao mecanismo fisiopatológico. Fisiopatologia A fisiopatologia da IR apresenta-se de forma relativamente complexa e, para o seu melhor entendimento, é de fundamental importância a análise dos processos envolvidos na respiração. A respiração é constituída por algumas etapas, nas quais envolvem a ventilação, que corresponde à entrada e saída de ar nas vias aéreas superiores até o nível dos alvéolos; o equilíbrio entre a ventilação e a perfusão, que é constituído pela exposição do oxigênio alveolar ao sangue do capilar pulmonar e, por fim, a difusão, na qual ocorre a passagem do gás alveolar através da membrana alvéolo-capilar em um curto período de tempo por diferença de pressão. Quando o sistema respiratório não é eficiente paradesempenhar adequadamente a troca de gases entre os capilares e a atmosfera, mantendo ventilação e oxigenação adequada para atender a demanda metabólica, o indivíduo poderá evoluir para o quadro de IR. As principais alterações fisiopatológicas presentes na IR e seus mecanismos de ação serão descritos a seguir. Distúrbios da Ventilação Hipoventilação De forma geral, nos casos de hipoventilação ocorre inadequada ventilação alveolar para manter a demanda metabólica e o volume minuto está diminuído mesmo na vigência de adequada circulação pulmonar. Devido a diminuição do volume minuto, ocorre o aumento da PACO2 (pressão alveolar de dióxido de carbono) e da PaCO2 (pressão arterial de dióxido de carbono). O equilíbrio entre a oferta de oxigênio e a quantidade transferida dos alvéolos para os capilares determina o valor da PAO2 (pressão alveolar de oxigênio). Na ventilação alveolar pode-se encontrar os valores de PACO2 e PaCO2 próximas devido a facilidade de difusão do CO2. 11 Para a caracterização de IR do ponto de vista equacional, pode-se realizar o cálculo do gradiente alvéolo- arterial de oxigênio (P(A-a)O2) na determinação da eficácia das trocas gasosas. PAO2 = (PB-PH2O) X FiO2-PACO2/R P(A-a)O2 ou P(A-a)O2 [FiO2(PB- 47)- (PACO2/R)- PAO2] Forma simplificada: P(A-a)O2 = [(697- 47) X 0,21- PaCO2] - PaO2 Para o cálculo da pressão parcial de oxigênio ao nível alveolar (PAO2) a partir da fração inspirada de oxigênio (FiO2) com valor de 0,21 (ar ambiente), e pressão barométrica (PB) com valor de 760 mmHg ao nível do mar (aproximadamente 700 mmHg na cidade de São Paulo), leva-se em consideração a subtração da pressão parcial do vapor d‟água (PH2O), correspondente a 47mmHg a 37ºC e a PACO2, existente apenas no nível alveolar e não em ar ambiente. Deve-se lembrar que o coeficiente respiratório (R) tem valor de 0,8 nos indivíduos durante o repouso. E para tal, utiliza-se a fórmula simplificada para o cálculo do gradiente alvéolo-arterial considerando a PB= 697 e o R= 1, e o paciente necessariamente precisa estar em ar ambiente. O P(A-a)O2 em condições normais situa-se entre 5 e 10 mmHg nos adultos jovens e pode atingir até 30mmHg nos recém-nascidos e nos indivíduos idosos. Esta diferença também varia quando a FiO2 está em 1,0 com valores entre 50 e 100 mmHg. Também se pode calcular a proporção alvéolo-arterial (a/A), correspondente à proporção de oxigênio que passa dos alvéolos para o sangue, sendo a mesma uma proporção de 90% ou 0,9. Na hipoventilação a diminuição da PAO2 ocasiona a hipoxemia, a qual pode ser determinada por meio do cálculo do P(A-a)O2. Este cálculo determina se a hipoxemia é caracterizada apenas pela hipoventilação ou se outros fatores também estão envolvidos. Valores normais do P(A-a)O2 com presença de hipoxemia são indicativos de hipoventilação alveolar e podem estar associados à ventilação inadequada. De uma forma geral, associa-se o P(A-a)O2 normal seguido de hipoxemia e hipercapnia à hipoventilação central, a qual é comum nos casos de doenças neuromusculares, depressão do centro respiratório e obstrução de vias aéreas superiores. Contudo, deve-se lembrar que na hipoventilação isolada ocorre simultaneamente o aumento da PaCO2 acompanhado da diminuição da PaO2. O aumento do P(A-a)O2 indica ineficiência na troca alvéolo-capilar devido ao comprometimento do parênquima pulmonar. Pode-se, a partir do cálculo do P(A-a)O2, diferenciar os tipos de IR, bem como identificar a necessidade de suporte ventilatório mecânico. 12 Distúrbios da Ventilação/perfusão (V/Q) Em indivíduos normais a ventilação e a perfusão não se mantêm uniformes. Ocorre, portanto, variação da relação V/Q em relação ao posicionamento do corpo. Em posição ortostática, por exemplo, a relação V/Q é maior no ápice e diminui progressivamente em direção à base pulmonar, considerando que nos alvéolos do ápice ocorre predomínio da ventilação e nos alvéolos da base o predomínio é do fluxo sanguíneo. Também é importante salientar que, na análise absoluta desses valores, ambos serão maiores nas bases pulmonares. A relação V/Q ideal do pulmão em condições normais é em torno de 0,8, ou seja, considera-se para a ventilação (V) o valor de 4l/min e para o fluxo sanguíneo do capilar pulmonar (Q) de 5l/min. Existem situações nas quais ocorrem o desequilíbrio da relação V/Q. Em doenças ou situações que ocasionam redução da ventilação (ex: bronquiolite, asma brônquica) ou que promovam redução do volume alveolar (ex: pneumonia, atelectasia) as unidades alveolares apresentam diminuição da relação V/Q. Já nos casos que decorrem de redução da perfusão pulmonar (ex: hipertensão pulmonar primária, cardiopatias cianogênicas com hipofluxo pulmonar) ou casos de hiperinsuflação pulmonar (ex: bronquite crônica agudizada) a relação V/Q estará aumentada. Na tentativa de reverter o desequilíbrio entre a ventilação e a perfusão entram em ação alguns mecanismos ainda não muito bem definidos, os quais desencadeiam os reflexos de vasoconstrição hipóxica, principalmente quando a PAO2 varia entre 30 e 150mmHg. Na diminuição da relação V/Q ocorre hipóxia alveolar com conseqüente vasoconstrição para redirecionar o fluxo sanguíneo, promovendo melhora da perfusão nas áreas bem ventiladas. Deve-se ter cautela ao administrar altas concentrações de FiO2 nos casos de shunt relativo grave ou absoluto, pois a diminuição da vasoconstrição local piora o desequilíbrio da relação V/Q e, consequentemente, a hipoxemia é acentuada. Devido ao aumento da PaCO2 o centro respiratório é estimulado, aumentando a ventilação minuto com conseqüente diminuição da mesma. A partir daí, as unidades mais ventiladas serão beneficiadas com a otimização da ventilação, elevando a relação acima nível de normalidade. Na presença de disfunção respiratória no paciente pediátrico, os aumentos do trabalho respiratório, do consumo de oxigênio e da produção de CO2 ocorrem de forma relativamente precoce, ocasionando, portanto, a fadiga da musculatura respiratória, com agravamento da hipoxemia, hipercapnia e concomitante alteração gasométrica representada por acidose respiratória. E caso essa situação não seja revertida, poderá evoluir para acidose mista. De forma geral, nos casos mais graves a intervenção clínica precoce se faz necessária, sobretudo no paciente pediátrico, na tentativa de reverter e/ou minimizar o quadro clínico. O agravamento progressivo da disfunção respiratória por uma ventilação inadequada poderá motivar situações importantes de hipoxemia e hipercapnia, com conseqüente instalação do quadro de insuficiência respiratória grave. 13 Distúrbios de Difusão A difusão é o processo pelo qual as moléculas de gases se movem por diferença de pressão do gás entre o alvéolo e o capilar pulmonar, isto é, de uma área de pressão parcial alta para uma área de pressão parcial mais baixa. Fisiologicamente, a membrana alvéolo-capilar é considerada a barreira à difusão gasosa no pulmão. Para a adequada difusão são necessários tempo ideal para o equilíbrio entre os gases alveolares e os capilares pulmonares, bem como, número suficiente de unidades alvéolo-capilares. No pulmão normal esse equilíbrio completo é atingido com o tempo de 0,25 segundos. O oxigênio atravessa a membrana alvéolo-capilar, passando pelo plasma no interior do eritrócito e combina-se com a hemoglobina num processo passivo por diferença de pressão parcial do gás entre o alvéolo e o capilar. Já o dióxido de carbono tem características de maior difusibilidade (cerca de 20 vezes maior que o O2). Algunsfatores podem influenciar diretamente o processo de difusão, dentre eles o espessamento da parede alveolar e da membrana capilar, a separação das membranas por edema intersticial e exudato e, por fim, presença de edema e exudato intra-alveolares. A superfície de difusão poderá estar diminuída por doenças que alteram a estrutura alveolar, reduzam o leito capilar funcionante do pulmão, ou ainda, diminuam o número de alvéolos. A difusibilidade ocorre através da passagem do gás do estado gasoso para o líquido, o qual atravessa a membrana alvéolo-capilar por diferença de pressão. O oxigênio livre pode se elevar no plasma caso a molécula de oxigênio não se ligue rapidamente à hemoglobina e atravesse a membrana alvéolo-capilar, diminuindo assim, o gradiente de pressão e, consequentemente, a captação de oxigênio. Quanto maior for a solubilidade do gás no líquido, menor será a capacidade de difusão. Transporte gasoso O oxigênio dissolvido no plasma combina-se com a hemoglobina para que ocorra o transporte gasoso. Cada 1 ml de sangue pode transportar cerca de 0,003 ml de O2. É importante salientar que um grama de hemoglobina totalmente saturada pode carrear 1,34 ml de O2 de sangue. Na presença de IR com a necessidade de FiO2 a 100% é fundamental manter adequada quantidade de hemoglobina para que o transporte de oxigênio atenda as demandas metabólicas. O transporte de oxigênio também poderá estar alterado por várias situações, como anemia, na qual a quantidade de hemoglobina é insuficiente para transportar o oxigênio, ou ainda quando há diminuição de fluxo sanguíneo para os tecidos. Alguns fatores podem alterar a afinidade da hemoglobina pelo oxigênio, dentre eles destacam-se a concentração do 2,3 difosfoglicerato (2,3 DPG), a concentração de hidrogênio (H+) e de CO2, a temperatura e a ação de determinados hormônios (tiroxina, corticosteróide e aldosterona). Essas alterações podem desviar a curva de dissociação de hemoglobina. Quando o desvio da curva ocorre para a direita, corresponde à diminuição da afinidade do oxigênio pela hemoglobina. Já quando o desvio é para a esquerda, representa maior afinidade. 14 Quadro Clínico A apresentação clínica da IR é semelhante entre as fases aguda e crônica, porém na IR crônica esse quadro clínico pode ser mais sutil. Manifestações clínicas Sudorese Fadiga Náuseas Taquipnéia Bradipnéia ou apnéia Dispnéia Cianose Batimento de asa de nariz Movimentos respiratórios incoordenados Ruídos respiratórios adventícios Taquicardia ou bradicardia Palidez cutânea Hipertensão ou hipotensão arterial Arritmias cardíacas Manifestações neurológicas em casos de hipoxemia e/ou hipercapnia acentuadas, como confusão mental, convulsões, deterioração da função cognitiva e coma Tabela 2 – Principais manifestações clínicas em pacientes com Insuficiência Respiratória 15 Causas A IR pode ocorrer devido a disfunções de diversos órgãos e sistemas, incluindo situações que acometem direta ou indiretamente o sistema respiratório. Causas Alterações do Sistema Nervoso Central Traumatismo craniano Hipertensão intracraniana Infarto Hemorragia Infecção Intoxicação exógena Tumores Distúrbios metabólicos Alterações neuromusculares Distrofias musculares Miastenia gravis Polioneurite Tétano Hipotireoidismo Miosite infecciosa Poliomiosite Alterações da caixa torácica e pleura Trauma torácico Cifoescoliose Fibrotórax Toracoplastia Pneumotórax Derrame pleural Alterações das vias aéreas superiores Edema de laringe Aspiração de corpo estranho Traqueomalácia Paralisia de cordas vocais Epiglotite Tumores Pólipos Apnéia do sono Alterações das vias aéreas inferiores Asma brônquica Bronquiolite Mucoviscidose Alterações pulmonares Pneumonia Atelectasia Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo Edema pulmonar Embolia pulmonar Hemorragia pulmonar Fibrose pulmonar Bronquiectasia 16 Abscesso pulmonar Doença de membrana hialina Síndrome de aspiração meconial Displasia broncopulmonar Quase afogamento Alterações diafragmáticas Hérnia diafragmática Disfunção diafragmática Alterações da circulação pulmonar Hipertensão pulmonar Insuficiência cardíaca Tabela 3 – Causas da Insuficiência Respiratória. Diagnóstico Para o diagnóstico da IR é de extrema importância uma história detalhada e cuidadosa, sendo necessário um amplo conhecimento dos sinais e sintomas. Geralmente o diagnóstico não impõe dificuldades devido ao quadro clínico ser alarmante, porém a avaliação clínica se faz necessária. Para tal são necessários a realização da anamnese, o conhecimento da história clínica, os antecedentes pessoais, a prática do exame físico, o conhecimento de informações sobre os sistemas cardiocirculatório e nervoso central e a interpretação dos exames de imagem e laboratoriais, em especial a análise dos gases sanguíneos arteriais. Os achados laboratoriais, particularmente a gasometria do sangue arterial se devem aos valores de pH, PaO2 e PaCO2, podendo identificar hipoxemia, hipercapnia, acidose respiratória e/ou metabólica. Geralmente valor de PaO2 inferior a 60 mmHg e/ou de PaCO2 superior a 50 mmHg pode ser considerado quadro grave de insuficiência respiratória. Como auxílio no diagnóstico, na radiografia de tórax pode ser observado imagem de opacidade heterogênea difusa, sugerindo preenchimento e/ou infiltração alveolar. Tratamento O tratamento baseia-se de acordo com os fatores etiológicos, a gravidade e a fisiopatologia da IR. A terapêutica deve abordar 4 aspectos: Remoção do fator etiológico; Medidas terapêuticas gerais; Oxigenoterapia e Suporte ventilatório mecânico. 1 - Remoção do fator etiológico É de grande importância o reconhecimento dos sinais e sintomas da IR para a realização de uma terapêutica eficaz. O tratamento específico dos agentes causais da doença é essencial para a resolução do quadro. 17 2 - Medidas terapêuticas gerais A avaliação e a abordagem do tratamento da insuficiência respiratória devem ser realizadas de uma maneira completa e individualizada, em função das causas desencadeantes e dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos. É de fundamental importância a monitorização dos órgãos vitais, principalmente funções renal e cardiocirculatória, pois a falência destes sistemas constitui fator limitante para a recuperação da doença, tal como o estado de hidratação e sedação adequadas, quando necessário. Em pacientes com entubação traqueal, ventilação espontânea ou traqueostomia uma adequada hidratação é necessária para a fluidificação das secreções e para a sua eliminação, evitando obstrução, principalmente quando sedados ou em coma. A umidificação do ar inspirado é importante para evitar o ressecamento da mucosa respiratória e das secreções. Medidas fisioterapêuticas são necessárias para a eliminação das secreções traqueobrônquicas, através de técnicas de drenagem postural, tapotagem e vibração. Essa terapêutica tem o objetivo de prevenir o acúmulo de secreções (higiene brônquica), promover a expansibilidade pulmonar, o condicionamento cardiopulmonar, a manutenção de vias aéreas através de aspiração endotraqueal e tosse para evitar obstruções. Tais procedimentos permitem uma melhora na oxigenação e eliminação de CO2, aumentando a ventilação. Procedimentos cirúrgicos comotoracocente e farmacoterapia (beta- adrenérgico, brocondilatadores, antibióticos e diuréticos) também têm o objetivo de normalizar as trocas gasosas. 3 - Oxigenoterapia A administração de O2 visa assegurar uma oxigenação tecidual adequada e eliminar a necessidade dos mecanismos compensatórios da hipoxemia (PaO2 < 60 mmHg sob FiO2 de 21%), tais como a hiperventilação alveolar, o aumento do débito cardíaco e o aumento da atividade simpática periférica. Utiliza-se a oxigenoterapia a fim de manter uma PaO2 acima de 60 mmHg ou uma saturação de oxigênio próxima de 90 – 95%. Podemos utilizar a relação PaO2/FiO2 para a avaliação das trocas gasosas em diferentes ofertas de oxigênio. A oferta de oxigênio tem como objetivo clínico o tratamento da hipoxemia por aumento da pressão alveolar de O2, diminuição do trabalho respiratório e redução do trabalho miocárdico. A oxigenoterapia deve ser fornecida da forma mais confortável possível ao paciente, podendo utilizar catéter nasal, máscaras faciais ou de traqueostomia, oxitenda, incubadora, ventilação mecânica não invasiva e ventilação mecânica invasiva. 4 - Suporte ventilatório mecânico Paciente com uma PO2 inferior a 60 mmHg, recebendo FiO2 acima ou igual a 0,6 e/ou um pH inferior a 7,2 devido a elevação da PCO2 e não sendo responsiva as medidas terapêuticas adotadas, pode indicar um quadro de falência respiratória, necessitando da utilização de ventilação mecânica invasiva, com os benefícios de melhorar a oxigenação, aumentando a capacidade residual funcional e recrutando os alvéolos. 18 Um passo inicial, em pacientes conscientes, antes da entubação, nessas situações, é a indicação da ventilação não invasiva, seja por máscara nasal ou facial (CPAP ou Bi-nível), podendo melhorar a oxigenação e expansão alveolar, aumentando a capacidade residual funcional e revertendo as alterações fisiopatológicas. No caso de pacientes com rebaixamento do nível de consciência, falência cardiopulmonar, alterações gasométricas, apnéia, resposta inadequada ao tratamento clínico, aumento do trabalho respiratório e fadiga muscular a indicação do suporte ventilatório invasivo é imprescindível. Após a resolução das alterações fisiopatológicas inicia-se o desmame. O sucesso da interrupção do suporte ventilatório depende das condições clínicas do paciente, avaliando a estabilidade hemodinâmica, o nível de consciência, a presença de drive respiratório e sedação em mínima dose. Com relação aos parâmetros gasométricos é necessário PaO2 > 60 mmHg com FiO2 ≤ 0,4 e PEEP ≤ 5 cmH2O, relação PaO2/FiO2 > 200 mmHg e PaCO2 ≤ 45 mmHg. Recomendações dos autores É imprescindível o conhecimento da fisiologia respiratória e das diferenças anátomo-fisiológicas da criança e do lactente para o entendimento da fisiopatologia da insuficiência respiratória. Esse conhecimento torna o profissional mais capacitado para aplicar a terapêutica adequada nos pacientes com IR. Caso clínico Criança com 5 anos de idade, internada na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica com o seguinte quadro clínico: taquipnéia, batimento de asa de nariz, incoordenação diafragmática, sibilância e expiração prolongada. Radiografia de tórax com sinais sugestivos de hiperinsuflação pulmonar e com infiltrado alveolar. Permanece em ar ambiente, com saturação periférica de oxigênio de 88%. E apresentando a seguinte gasometria arterial: pH=7,47; PaCO2=30; PaO2=70; HCO3=24; BE=-2; SatO2=85%. Qual o possível diagnóstico? Qual a conduta imediata para esse caso? Questões 1) Em relação à insuficiência respiratória, assinale a alternativa INCORRETA: a) Corresponde à incapacidade do sistema respiratório de suprir a demanda metabólica tecidual com adequada oferta de oxigênio e remoção de dióxido de carbono. b) Tem a mesma incidência em crianças e adultos, independente de diferenças anatômicas e fisiológicas. c) As trocas gasosas estão comprometidas e podem ocasionar alterações nas pressões dos gases arteriais. d) Pode ser classificada em aguda, quando as manifestações clínicas são rápidas e intensas, ou crônica, com manifestações progressivas em meses ou anos. 19 2) Assinale a alternativa INCORRETA: a) Hipoventilação e difusão diminuída contribuem para a inadequação das trocas gasosas. b) O desequilíbrio da relação ventilação/perfusão corresponde a um dos fatores que comprometem as trocas gasosas. c) O comprometimento das trocas gasosas pode ser resultante de hipoventilação, difusão diminuída, desequilíbrio da relação ventilação/perfusão ou shunt. d) A presença de shunt (alvéolos ventilados, mas não perfundidos) dificulta as trocas gasosas. 3) São alterações respiratórias importantes que podem evoluir para a insuficiência respiratória: a) Hipoventilação, alteração da relação V/Q e alteração da difusão. b) Hipoventilação, alteração da relação V/Q e hiperóxia. c) Alteração da relação V/Q, alteração da difusão e hiperóxia. d) Alteração da difusão, hipoventilação e hiperóxia. 4) Podemos considerar a insuficiência respiratória a partir dos gases sanguíneos quando: a) A PaO2 é menor que 50mmHg, ou ainda quando a PaCO2 ultrapassa 35mmHg. b) A PaO2 é menor que 60mmHg, ou ainda quando a PaCO2 ultrapassa 35mmHg. c) A PaO2 é menor que 50mmHg, ou ainda quando a PaCO2 ultrapassa 40mmHg. d) A PaO2 é menor que 60mmHg, ou ainda quando a PaCO2 ultrapassa 50mmHg. 5) Assinale a alternativa CORRETA em relação aos tipos de insuficiência respiratória: a) Na insuficiência respiratória do tipo I ocorre comprometimento da oxigenação, com PaO2 diminuída e PaCO2 diminuída ou em níveis normais. b) Na insuficiência respiratória do tipo II ocorre comprometimento da ventilação, com PaO2 e PaCO2 diminuídas. c) Na insuficiência respiratória do tipo I ou hipoxêmica a PaO2 encontra-se diminuída e a PaCO2 aumentada. d) Na insuficiência respiratória do tipo II ou hipercápnica a ventilação encontra-se menos comprometida, com a PaCO2 em níveis de normalidade. 6) Parâmetro gasométrico que melhor se correlaciona com a ventilação alveolar: a) PaO2. b) PaCO2. c) pH. d) Bic. 7) Considerando que um dos mecanismos fisiopatológicos da insuficiência respiratória caracteriza-se pela hipoventilação seguida de hipoxemia, podemos utilizar o cálculo do gradiente alvéolo-arterial para definirmos a hipoventilação central. Neste caso, a principal característica encontrada será: a) [D(A-a)O2] normal com presença de hipoxemia e hipercapnia. b) [D(A-a)O2] aumentada com presença de hipoxemia e hipercapnia. c) [D(A-a)O2] normal somente com hipoxemia. d) [D(A-a)O2] diminuída com presença de hipoxemia e hipercapnia. 20 8) Para determinarmos se a hipoxemia é apenas pela hipoventilação, ou se outros mecanismos estão envolvidos alterando o parênquima pulmonar utilizamos o cálculo do gradiente alvéolo-arterial. Neste caso encontramos, respectivamente: a) [D(A-a)O2] normal e aumentada. b) [D(A-a)O2] normal e diminuída. c) [D(A-a)O2] diminuída e aumentada. d) [D(A-a)O2] aumentada e normal. 9) A afinidade da hemoglobina pelo oxigênio pode ser modificada pela: a) Concentração do 2,3 DPG e íons de H+ (pH). b) Temperatura e concentração do CO2. c) Ação de hormônios (tiroxina, corticosteróide e aldosterona). d) Todas as alternativas anteriores estão corretas. 10) Assinale a alternativa CORRETA em relação às manifestações clínicas da insuficiência respiratória: a) A apresentação clínica é totalmente diferenciada entre insuficiência respiratória aguda e crônica. b) Podem ocorrer manifestações neurológicas em casos de hipoxemia e/ou hipercapnia acentuadas, como confusão mental, convulsões,deterioração da função cognitiva e coma. c) Taquipnéia, taquicardia e presença de incoordenação muscular respiratória são sinais clínicos encontrados somente em insuficiência respiratória crônica. d) Presença de arritmias e palidez cutânea não é considerada manifestações clínicas de insuficiência respiratória. 11) A insuficiência respiratória não se caracteriza por um achado clínico exclusivo. Contudo, o principal sintoma apresentado é: a) Vertigem. b) Cefaléia. c) Taquipnéia. d) Convulsões. 12) Assinale a alternativa INCORRETA em relação às causas de insuficiência respiratória: a) Hemorragia e hipertensão intracraniana são alterações do Sistema Nervoso Central que podem contribuir para a ocorrência de insuficiência respiratória. b) A insuficiência respiratória pode ocorrer devido a disfunções de diversos órgãos e sistemas, como o sistema nervoso central, sistema respiratório e sistema circulatório. c) Apenas doenças que acometem diretamente o sistema respiratório, como pneumonias, podem ocasionar insuficiência respiratória aguda. d) Edema de laringe e paralisia de cordas vocais corresponde às alterações das vias aéreas superiores que podem ocasionar insuficiência respiratória. 21 13) Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao diagnóstico da insuficiência respiratória: a) Geralmente o diagnóstico impõe dificuldades devido ao quadro clínico ser sutil e de difícil reconhecimento. b) Os achados laboratoriais, particularmente a gasometria do sangue arterial se devem aos valores de pH, PaO2 e PaCO2, podendo identificar hipoxemia, hipercapnia, acidose respiratória e/ou metabólica. c) Na radiografia de tórax pode ser observada imagem de opacidade heterogênea difusa, sugerindo preenchimento e/ou infiltração alveolar. d) Para tal são necessários a realização da anamnese, o conhecimento da história clínica, antecedentes pessoais, a prática do exame físico, conhecimento de informações sobre os sistemas cardiocirculatório e nervoso central e a interpretação dos exames de imagem e laboratoriais. 14) Quanto ao tratamento da insuficiência respiratória devemos considerar: a) O tratamento específico dos agentes causais da doença é importante, porém não tão necessário para a resolução do quadro. b) É de fundamental importância a monitorização dos órgãos vitais, principalmente função renal e cardiocirculatória, pois a falência destes sistemas constitui fator limitante para a recuperação da doença, tal como o estado de hidratação e sedação adequadas, quando necessário. c) A terapêutica se baseia apenas em observação, administração de fármacos e oxigenoterapia. d) Em pacientes com entubação traqueal ou traqueostomia a adequada hidratação é necessária para a fluidificação das secreções, ao contrário do que é realizado em pacientes sob ventilação espontânea. 15) Em relação ao tratamento da insuficiência respiratória, assinale a alternativa INCORRETA: a) A administração de O2 visa assegurar a oxigenação tecidual adequada por meio da ativação dos mecanismos compensatórios da hipoxemia (PaO2 < 60 mmHg sob FiO2 de 21%), tais como a hiperventilação alveolar, o aumento do débito cardíaco e o aumento da atividade simpática periférica. b) A oferta de oxigênio tem como objetivo clínico o combate da hipoxemia por aumento da pressão alveolar de O2, diminuição do trabalho respiratório e redução do trabalho miocárdico. c) Em pacientes conscientes, antes da entubação, pode ser realizada a ventilação não invasiva (CPAP ou Bi-nível), seja por máscara nasal ou facial, podendo melhorar a oxigenação e promover a expansão alveolar, aumentando a capacidade residual funcional e revertendo as alterações fisiopatológicas. d) No caso de pacientes com rebaixamento do estado de consciência, falência cardiopulmonar, alterações gasométricas, apnéia, resposta inadequada ao tratamento clínico, aumento do trabalho respiratório e fadiga muscular, a indicação do suporte ventilatório invasivo é imprescindível. 22 Referências Bibliográficas - Piva JP et al. Insuficiência Respiratória na Criança. Jornal de Pediatria 1998; 74(1): S99-S112. - Crespo AS, Carvalho AF. Insuficiência Respiratória Aguda na Sala de Emergência. Rev SOCERJ 1999; XII(1): 446- 459. - Reverónl FF. Injuria Pulmonar Aguda. Rev Cub Med Mil 2000; 29(2). - Pádua AI et al. Insuficiência Respiratória. Medicina Ribeirão Preto 2003. 36:205-213. - Filho JT. Insuficiência Respiratória. Medicina Ribeirão Preto 1994. 27(1/2):102-113. - Peters MJ et al. Acute Hypoxemic Respiratory Failure in Children: case mix and the utility of respiratory severity indices. Intensive Care Med 1998. 24:699-705. - Sarmento GJV. Fisioterapia Respiratória no Paciente Crítico – Rotinas Clínicas. Ed. Manole: São Paulo, 2005, p. 395- 401. - D´Elia C, Barbosa CM. Abordagem na Disfunção Respiratória Aguda. Jornal de Pediatria 1999. 75(2):S168-S176. - Veigas D, Moraes RV. Neonatologia para o Estudante de Pediatria e de Enfermagem Pediátrica. Ed. Atheneu: São Paulo, 1996, v. 1, p.689-701. - Knobel E. Condutas no Paciente Grave. Ed. Atheneu: São Paulo, 1998, v.1, p. 281-295, 2° edição. - West JB. Fisiologia Respiratória. Ed. Manole: São Paulo, 2002, p. 51-69. - Rotta AT et al. Management of the acute respiratory distress syndrome. J Pediatr 2003, 79(2):S149-S60. - Randolph AG et al. The Feasibility of Conducting Clinical Trials in Infants and Children with Acute Respiratory Failure. American Journal Of Respiratory And Critical Care Medicine 2003, 167: 1334-1340. - Ramírez JH et al. Prevalencia de la Ventilación Mecánica en las Unidades de Cuidados Intensivos Pediátricos en España. Asociación Española de Pediatría 2004. 61(6):533-541. - Scarpinella-Bueno MA et al. Uso do Suporte Ventilatório com Pressão Positiva Contínua em Vias Aéreas (CPAP) por meio de Máscara Nasofacial no tratamento da Insuficiência Respiratória Aguda. Rev Ass Med Brasil 1997, 43(3):180- 184. - Holanda MA et al. Ventilação Não-Invasiva com Pressão Positiva em Pacientes com Insuficiência Respiratória Aguda: Fatores associados à falha ou ao sucesso. J Pneumol 2001, 27(6): 301-309. - Atonelli M et al. A Multiple-Center Survey on the Use in Clinical Practice of Noninvasive Ventilation as a First-line Intervention for Acute Respiratory Distress Syndrome. Crit Care Med 2007, 35 (1): 1-8. - Teague WG. Noinvasive Ventilation in the Pediatric Intensive Care Unit for Children with Acute Respiratory Failure. Pediatric Pulmonology 2003. 35:418-426. - Wong WP. Physical Therapy for a Patient in Acute Respiratory Failure. Physical Therapy 2000. 80(7):662-670. - Balachandran A. et al. Chest Physiotherapy in Pediatric Practice. Indian Pediatrics 2005, 42: 559-568. 23 BASES FÍSICAS DA VENTILAÇÃO MECÂNICA A insuficiência respiratória aguda, na faixa etária pediátrica, é uma das principais causas de internação em centros de terapia intensiva, independente da etiologia, contribui de maneira significativa na morbidade e mortalidade da população pediátrica. A terapia intensiva pediátrica tem suas raízes nos centros de tratamento de adultos, mas o seu surgimento ocorreu na Escandinávia, no início dos anos 50, durante a epidemia de poliomielite devido a necessidade de ventilação mecânica. O sucesso desta abordagem marcou a introdução da ventilação com pressão positiva intermitente no tratamento da insuficiência respiratória. Os avanços nos conhecimentos sobre a fisiologia e a fisiopatologia respiratória, os progressos tecnológicos e os métodos de monitorização contribuem para a melhora da sobrevida de crianças com insuficiência respiratória. A ventilaçãomecânica se faz através de aparelhos que, intermitentemente, insuflam as vias aéreas com volumes de ar (volume corrente), a uma determinada velocidade (fluxo inspiratório) gerando pressões positivas (pressão inspiratória e pressão expiratória). A interação entre o sistema respiratório que recebe a ventilação mecânica e o aparelho que a fornece é que determina a eficácia da ventilação mecânica. O estudo do sistema respiratório é baseado em um modelo matemático, concebido como uma resistência conectada a uma complacência. O comportamento mecânico é chamado equação do movimento. Figura 1 – Equação do Movimento Na equação do movimento, pode se calcular uma das três variáveis (pressão, volume ou fluxo), estabelecendo uma variável como independente e as outras duas como dependentes. Por exemplo, durante a ventilação com pressão controlada, esta se torna a variável independente. O fluxo e o volume passam a depender da pressão, bem como da complacência e da resistência do sistema respiratório. Durante a respiração espontânea, a contração da musculatura torácica e diafragmática, leva a uma alteração da conformação da caixa torácica, gerando uma pressão negativa intratorácica. O gradiente de pressão gera um fluxo 24 de ar que determina um volume corrente. O volume corrente a ser determinado dependerá da resistência da via aérea e da complacência do parênquima pulmonar, caso o gradiente de pressão se mantenha constante. A compreensão da equação do movimento auxilia no entendimento dos diferentes modos de ventilação que serão descritos no decorrer deste capítulo. Considerações gerais A maior parte dos aparelhos comercialmente disponíveis, no nosso meio, para a ventilação em crianças (Sechrist, Inter3, Servo900C, Servo300 ,Newport e VIPBird) permitem a realização de ventilação ciclada a tempo e limitada a pressão, que é a forma mais freqüentemente usada em pediatria. Na ventilação ciclada a tempo com pressão limitada as taxas de fluxo inspiratório são altas [3 a 4 vezes o volume minuto (volume corrente X freqüência respiratória) ou para alguns autores 1 a 3l/kg/min], para permitir que o pico de pressão inspiratória atinja um limite pré-determinado antes do final da inspiração e este é mantido neste nível até o início da expiração. O excesso de fluxo escapa pela válvula de limite de pressão (Fig.2). A maioria destes aparelhos dispõe de um sistema de fluxo contínuo de gases que permite à criança respirar espontaneamente sem a necessidade da abertura de uma válvula de demanda (Fig.3), evitando a assincronia e a fadiga secundárias ao aumento do trabalho respiratório nos casos de resposta demorada ou dificuldade da abertura desta válvula. Os aparelhos da Newport permitem ventilar desde recém-nascidos até adultos e possuem um sistema de fluxo contínuo opcional. Os Servo 900C e 300 também permitem ventilar desde RN até adultos, e fazem uma ventilação ciclada a tempo e limitada a pressão no modo pressão controlada, sem fluxo contínuo. O Servo 300 e o Newport Wave tem um sistema de “flow by” que mantém a válvula de demanda parcialmente aberta, reduzindo o tempo de resposta e esforço necessário para abri-la durante a respiração espontânea da criança. Nos aparelhos Servo 900C e 300, o fluxo não é predeterminado, a válvula inspiratória se fecha quando o pico de pressão predeterminado é atingido. O pico é mantido pelo restante do tempo inspiratório. A vantagem da utilização da ventilação ciclada a tempo com pressão limitada, desde que se limite a pressão em valores não muito elevados, é a menor ocorrência de barotrauma e volutrauma. Uma desvantagem é o volume corrente variável. A maior parte dos aparelhos citados acima permite a realização de ventilação com volume controlado, em alguns, o volume corrente é regulado pelo fluxo inspiratório e tempo inspiratório, sem que se limite o pico de pressão inspiratória (Newport, por exemplo). Nos aparelhos Servo 900C, Servo 300 e no VIPBird, o volume corrente é ajustado diretamente nos modos de ventilação volume controlado. Estes aparelhos permitem a utilização segura de volumes correntes bem baixos, até 10 ml. A vantagem da utilização de ventilação com volume controlado é a administração de um volume corrente constante, independente das variações de complacência e resistência pulmonares. Contudo, o pico de pressão inspiratória é variável, com maior risco de barotrauma. 25 Figura 2 – Esquema de um ventilador limitado à pressão e ciclado a tempo (Curva de Fluxo e Pressão) Figura 3 – Representação esquemática de um ventilador pediátrico de fluxo contínuo: A. Válvula exalatória aberta, fluxo contínuo passando pelo circuito; B. Válvula exalatória fechada fluxo da mandatória vai todo para o paciente; C. no ramo inspiratório há a válvula Popoff que uma vez atingido o limite de pressão ela deixa o fluxo excessivo escapar. 26 Não há dados científicos suficientes para comprovar que a ventilação com pressão controlada seja superior a ventilação com volume controlado para os pacientes pediátricos. Entretanto, a ventilação com pressão controlada é a mais freqüentemente utilizada em pediatria. Idealmente, os aparelhos de ventilação mecânica pediátricos devem ter as seguintes características: 1. tamanho pequeno, silencioso, e de baixo custo. 2. a complacência e resistência do sistema devem ser mínimas (a criança tem uma maior resistência das vias aéreas, e a utilização de um circuito de alta complacência pode levar a uma grande perda de volume de compressão). 3. sistemas de alarmes audíveis e visíveis. 4. sistemas de disparo (“trigger”) rápidos e sensíveis. 5. seja capacitado para realizar diferentes modos ventilatórios: ventilação com pressão positiva intermitente, ventilação mandatória intermitente, CPAP ou PEEP, e atualmente, pressão de suporte. 6. dispor de freqüências respiratórias até 150 mov/min. 7. capacidade de fornecer volumes correntes com grandes variações (10ml - 500ml). PRINCÍPIOS BÁSICOS DE FUNCIONAMENTO DOS VENTILADORES Didaticamente, a ventilação com pressão positiva nas vias aéreas pode ser dividida em quatro fases: 1. fase inspiratória – o ventilador insufla os pulmões da criança, vencendo as propriedades elásticas e resistivas do sistema respiratório; 2. mudança da fase inspiratória para a fase expiratória – o ventilador interrompe a fase inspiratória e permite o início da fase expiratória, processo denominado de ciclagem; 3. fase expiratória – o ventilador permite o esvaziamento dos pulmões, geralmente de forma passiva; 4. mudança da fase expiratória para a fase inspiratória – esta transição pode ser desencadeada pelo ventilador ou pelo paciente e denominamos “disparo” do ciclo respiratório. Fase inspiratória A fase inspiratória se inicia com a movimentação de gás do ventilador para o interior das vias aéreas da criança. A pressão positiva do ventilador, maior que a pressão na via aérea da criança, gera um fluxo de ar. Este fluxo é diretamente proporcional ao gradiente de pressão e inversamente proporcional à soma da resistência interna do ventilador e a resistência do sistema respiratório do paciente. Os ventiladores, quanto a fase inspiratória, podem ser classificados em geradores de pressão ou geradores de fluxo. Em pediatria, freqüentemente se utilizam ventiladores geradores de pressão não constante, em uma forma de ventilação com limitação de pressão e ciclada a tempo (Sechrist, Inter3, Newport). Na ventilação limitada à pressão as taxas de fluxo inspiratório são fixas, para permitir que o pico de pressão inspiratória atinja um limite pré-determinado antesdo final da inspiração e este é mantido neste nível até o início da expiração. O excesso de fluxo escapa pela válvula de limite de pressão, mantendo-se um patamar fixo de pressão inspiratória até o final do tempo inspiratório programado. O padrão de fluxo resultante é constante no início e desacelerante no final (Figura 2). 27 Também tem-se utilizado em pediatria a ventilação com pressão controlada, no qual os ventiladores geram uma pressão constante (Servo 300 e Servo 900). Neste caso, um fluxo desacelerante desde o início da fase inspiratória mantém a pressão constante na via aérea (Figura 4). Figura 4 – Representação das Curvas de Pressão e Fluxo na pressão controlada (pressão quadrada e fluxo desacelerante) Mudança da inspiração para expiração Os ventiladores são classificados pelo mecanismo ou processo que provocam a ciclagem do aparelho, isto é, a mudança da fase inspiratória para a expiratória. Atualmente, a maioria dos respiradores dispõe de até três dos quatro mecanismos de ciclagem: volume, fluxo, tempo e pressão. Obviamente, existe uma inter-relação entre estas quatro variáveis durante a ventilação mecânica. Um dos fatores é controlado e portanto funciona como variável independente. Os outros fatores são variáveis dependentes que devem ser ajustados adequadamente. Ventilação a volume controlada Na ventilação a volume controlada, o ciclo ventilatório termina a inspiração quando um determinado volume preestabelecido é liberado no circuito do ventilador. O tempo necessário para liberar este volume corrente, o fluxo inspiratório e a pressão são dependentes deste volume. Uma vez que o volume corrente e a frequência respiratória foram ajustados no ventilador, o fluxo inspiratório deve ser ajustado para que o volume corrente seja administrado num tempo inspiratório desejado. A pressão necessária para liberar o volume corrente estabelecido é o pico de pressão inspiratório que vai variar dependendo da complacência e da resistência do pulmão (Figura 5). 28 Figura 5 – Representação da Ventilação Volume Controlada Acima gráfico fluxo/tempo com fluxo constante, no meio gráfico volume tempo e abaixo gráfico pressão tempo. A inspiração termina quando o volume predeterminado é atingido. Ventilação ciclada a tempo Na ventilação ciclada a tempo, a inspiração termina e a expiração começa após um determinado intervalo de tempo. Pode-se limitar a pressão ou deixar que o volume corrente seja determinado pelo fornecimento do fluxo inspiratório por um determinado tempo. Em crianças, freqüentemente utiliza-se ventilação limitada à pressão e ciclada a tempo, ou seja, o aparelho passa da fase inspiratória para a fase expiratória ao termino do tempo inspiratório predeterminado (Figura 2). Ventilação pressão controlada Na ventilação ciclada a pressão, a inspiração termina e a expiração começa quando um limite pressórico máximo nas vias aéreas é atingido. O volume corrente é determinado pela pressão preestabelecida, fluxo, complacência pulmonar do paciente, resistência do circuito e das vias aéreas e integridade do circuito do ventilador. Inicialmente, escolhe-se uma pressão enquanto o volume corrente expiratório é monitorizado. Ajusta-se a pressão até conseguir um volume corrente desejado. Ventilação ciclada a fluxo Na ventilação ciclada a fluxo, a inspiração termina e a expiração começa quando o fluxo cai a uma percentagem predeterminada do pico do fluxo. O volume corrente e o tempo inspiratório variam de ciclo para ciclo. Neste tipo de ventilação também se limita a pico de pressão a ser atingido. O volume liberado aos pulmões é determinado pela pressão escolhida e pela complacência e resistência da criança. O sistema de ciclagem a fluxo é mais confortável do que ciclagem a pressão, pois, no primeiro, o paciente tem maior controle sobre o ciclo respiratório. Um exemplo deste modo de ventilação é o de pressão de suporte (Figura 6). 29 Figura 6 – Ventilação com pressão de suporte Fase expiratória O esvaziamento do pulmão se faz normalmente pela abertura de uma válvula que libera o fluxo expiratório, ou seja, põe o pulmão em contato com a atmosfera. O fluxo expiratório é conseqüência do gradiente de pressão entre os alvéolos e a atmosfera. A manutenção de uma pressão expiratória positiva ao final da expiração se faz através da incoorporação de mecanismos que fazem com que o esvaziamento pulmonar ocorra contra uma pressão constante acima da atmosférica. Mudança da inspiração para a expiração (disparo do aparelho) O ventilador deverá interromper a fase expiratória e permitir o início da fase inspiratória do ciclo seguinte. Quando o início da inspiração se faz após um determinado espaço de tempo pré estabelecido ocorreu, disparo por tempo, o modo de ventilação é controlado. Nas modalidades sincronizadas, assistidas ou de suporte, o disparo pode ser desencadeado por uma variação de pressão, fluxo, por variação da impedância torácica (constatação da contração muscular) ou ainda por 30 Fase expiratória O esvaziamento do pulmão se faz normalmente pela abertura de uma válvula que libera o fluxo expiratório, ou seja, põe o pulmão em contato com a atmosfera. O fluxo expiratório é conseqüência do gradiente de pressão entre os alvéolos e a atmosfera. A manutenção de uma pressão expiratória positiva ao final da expiração se faz através da incoorporação de mecanismos que fazem com que o esvaziamento pulmonar ocorra contra uma pressão constante acima da atmosférica. Mudança da inspiração para a expiração (disparo do aparelho) O ventilador deverá interromper a fase expiratória e permitir o início da fase inspiratória do ciclo seguinte. Quando o início da inspiração se faz após um determinado espaço de tempo pré estabelecido ocorreu, disparo por tempo, o modo de ventilação é controlado. Nas modalidades sincronizadas, assistidas ou de suporte, o disparo pode ser desencadeado por uma variação de pressão, fluxo, por variação da impedância torácica (constatação da contração muscular) ou ainda por movimentação abdominal. O tipo de disparo do respirador é muito importante na criança. Como o esforço inspiratório na criança é menor, o sistema de detecção da respiração da criança deve ser muito sensível, e a resposta do aparelho deve ser muito rápida, para evitar um aumento do trabalho respiratório. É em decorrência disso que se desenvolveram os sistemas de detecção por impedância torácica (SAVI) e por movimentação abdominal (Infant Star) usados em neonatologia, que visam detectar a respiração no momento da contração da musculatura, antes mesmo que ocorra variação de pressão ou de fluxo na via aérea . Em pediatria, utiliza-se freqüentemente sistemas de disparo por pressão ou por fluxo. Este último, tem-se mostrado melhor por desencadear um menor trabalho respiratório. 31 Seqüência Rápida de Intubação e Traqueostomia Dr. Flávio Roberto Nogueira de Sá Seqüência Rápida de Intubação Paciente de 5 anos é trazido ao pronto-socorro com febre alta e dor de garganta há 2 dias, piora há 12 horas, quando apareceram manchas no corpo. Chega prostrado, taquicárdico, hipotenso (PA=70/30), perfusão periférica ruim, com manchas purpúricas disseminadas. Após administração de oxigenioterapia, instalação de acesso venoso e início da reposição volêmica, o pediatra indica intubação oro traqueal e decide realizar seqüência rápida de intubação (com atropina, ketaminae rocurônio). Foi intubado sem intercorrências e transferido para uti. Introdução A seqüência rápida de intubação (SRI) consiste no uso farmacológico de determinados agentes para facilitar a intubação traqueal de emergência e reduzir os efeitos adversos potencialmente associados ao procedimento 1 . Os efeitos adversos relacionados à intubação são dor, hipertensão arterial, aumento da pressão intracraniana, trauma de via aérea, regurgitação e aspiração do conteúdo gástrico, hipoxemia, arritmia, trauma psíquico e morte 1,2,3,4 . A intubação traqueal obtida através de SRI é mais rápida e segura do que aquela em que não se utilizam drogas paralisantes 4 . As indicações da SRI são as mesmas da intubação traqueal (figura 1) 1,4 . As contra-indicações estão na figura 2 (1,4) . Figura 1 - Indicações da SRI Controle inadequado da ventilação pelo sistema nervoso central. Obstrução funcional ou anatômica da via aérea. Perda de reflexos protetores de vias aéreas. Trabalho respiratório excessivo Necessidade de altas pressões inspiratórias ou pressão positiva final positiva para manter trocas gasosas alveolares adequadas Permitir sedação para procedimentos diagnósticos. Potencial para ocorrer as circunstâncias acima, no caso do paciente necessitar transporte. Figura 2 - Contra-indicações da SRI Pacientes em parada cárdio-respiratória Pacientes em coma profundo que necessitem intubação imediata Contra-indicações relativas da SRI Dúvidas quanto à possibilidade de sucesso na intubação ou na ventilação com bolsa-máscara Edema facial ou laríngeo significativo, trauma ou outras alterações anatômicas. Para realização adequada da SRI uma série de etapas deve ser implementada (figura 3) 1 . Figura 3 - Etapas da SRI 1. História clínica breve (AMPLE) e exame físico dirigido 2. Preparo: Equipamentos, pessoal e medicação 3. Monitorização (FC, FR, Sat O2, PA) 4. Pré-oxigenação 5. Pré-medicação 6. Sedação 7. Compressão cricóide e, se necessário, ventilação assistida 8. Bloqueio neuro muscular (paralisia) 32 9. Intubação traqueal 10.Monitorização pós intubação 11.Sedação pós intubação Etapa 1 - História clínica breve (AMPLE) e exame físico dirigido Realizar uma história clínica breve (AMPLE), focando em: Alergias, Medicações em uso, Passado clínico, última refeição (L do inglês “Last meal”), Eventos que indicaram a intubação. Esses dados auxiliarão na escolha apropriada de drogas para o procedimento. O objetivo do exame físico dirigido é determinar se o paciente tem algum problema anatômico que dificulte ou impeça a intubação ou a ventilação por bolsa-máscara. Devem ser examinados a face, nariz, garganta, dentes, pescoço e coluna cervical 1,2,3,4 . Várias características estão associadas com via aérea difícil: boca pequena, limitação na abertura da boca, incisivos centrais proeminentes, pescoço curto ou com pouca mobilidade, hipoplasia mandibular, palato alto, arqueado e estreito, disfunção da articulação têmporo-mandibular, espinha cervical rígida, obesidade, crianças menores de 1 ano, especialmente se com anomalias congênitas associadas 5,6 . Etapa 2 - Preparo: Equipamentos, pessoal e medicação Devem ser preparados e checados os equipamentos necessários para a intubação. É recomendável a presença de 3 participantes durante o procedimento de intubação: um médico com experiência no manejo de via aérea, uma enfermeira para administrar medicações, um profissional para realizar a manobra de Sellick (compressão cricóide) e monitorizar a freqüência cardíaca e a saturação de oxigênio. As drogas sedativas, paralisantes e adjuvantes (analgésicos e anticolinérgicos) devem ser preparadas e estarem prontas para uso 1,2,4 . Etapa 3 – Monitorização Deve ser realizada monitorização cardio-respiratória e de oximetria de pulso contínuas, além de medidas periódicas da pressão arterial 1 . Etapa 4 – Pré-oxigenação Antes da administração das medicações e da intubação o paciente deve ser oxigenado, para maximizar a saturação da hemoglobina pelo oxigênio e criar um reservatório de oxigênio nos pulmões. Essa reserva de O2 permite ao paciente tolerar um breve período de apnéia que ocorre entre a paralisia respiratória e a intubação traqueal/ventilação efetiva. No paciente com ventilação adequada deve ser administrado O2 a 100% (por máscara facial não-reinalante) por 3 minutos 1,2,3,4 . Durante a SRI a ventilação com pressão positiva deve ser evitada, pois pode causar distensão gástrica, aumentando o risco de aspiração do conteúdo gástrico. Nas crianças com drive ventilatório inadequado ou incapacidade de manter oxigenação adequada através da ventilação espontânea, a ventilação com pressão positiva e O2 a 100%, através de máscara facial, deve ser realizada; a ventilação com pressão positiva deve ser realizada junto com a compressão cricóide (após sedação), para minimizar o risco de aspiração 1,4 . A introdução de uma sonda naso gástrica auxilia na descompressão do estômago, mas também pode induzir náusea e vômito, além do potencial de abrir o esfíncter gastroesofágico, que aumenta o risco de regurgitação do conteúdo gástrico 1 ; portanto, na SRI devemos evitar a passagem de sonda nasogástrica prévia ao procedimento de intubação. 33 Etapa 5 - Pré-medicação A pré-medicação são as drogas utilizadas antes da sedação e paralisia muscular, com o objetivo de minimizar os riscos da resposta fisiológica ao procedimento da laringoscopia e intubação traqueal. Essa resposta fisiológica inclui taquicardia, hipertensão arterial, aumento da pressão intracraniana e intraocular, estimulação vagal, náusea, vômito e tosse. As crianças apresentam uma resposta vagal mais pronunciada a intubação traqueal do que adultos, predispondo-as a bradicardia. A escolha das medicações deve ser individualizada, ou seja, de acordo com a idade e características de cada paciente. Os agentes mais utilizados na pré-medicação são os anticolinérgicos, analgésicos, drogas para minimizar o aumento da pressão intracraniana, drogas para prevenir a fasciculação associada aos bloqueadores neuro-musculares despolarizantes 1,4,6 . Anticolinérgicos (atropina): São utilizados para evitar a resposta vagal (bradicardia e assistolia) causada pela laringoscopia, hipóxia ou administração de succinilcolina. Os anticolinérgicos diminuem as secreções orais, facilitando a visualização durante a intubação. Estão indicados para lactentes menores de 1 ano, para crianças de 1 a 5 anos que receberão succinilcolina e para maiores de 5 anos que necessitarem de segunda dose de succinilcolina (por não terem sido intubados durante a ação da primeira dose). Devem ser considerados para aqueles pacientes que estejam bradicárdicos no momento da intubação e para aqueles que receberão ketamina (para prevenir o aumento de secreções orais associado à ketamina). O efeito colateral mais comum dos anticolinégicos é taquicardia. Como esses agentes bloqueiam a bradicardia reflexa à hipóxia, os pacientes devem ter sua saturação de O2 continuamente monitorizadas. A dose de atropina é 0,01-0,02 mg/kg EV (mínimo 0,1 mg, máximo 1 mg), 1 a 2 minutos antes da intubação. Pode ser combinada à succinilcolina para uso intramuscular (dose 0,02 mg/kg) 1,3,4,6 . Analgesia: Para prevenir ou reduzir a dor é interessante usar uma droga de início rápido, potente, com poucos efeitos hemodinâmicos. Fentanil é uma droga com essas características (dose 2-4 mcg/kg EV lentamente ou IM), apesar do risco de causar rigidez torácica com a infusão rápida. Morfina é outra opção, mas a liberação de histamina pode causar hipotensão, além do início de ação mais tardio 1,4,6
Compartilhar