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Patologia Bucal Patologia das Glândulas Salivares Malignas Carcinoma Mucoepidermoide É a neoplasia de glândula salivar mais comum, acredita-se que essa doença tenha origem a partir do ducto excretor das glândulas salivares. A lesão é formada por células mucosas (contendo glicoproteínas e mucina) e células epidermóides (contendo filamentos de ceratina). O CME pode acometer indivíduos de todas as idades, sendo mais prevalente entre a terceira e quinta décadas de vida. Não existe predileção por gênero e apesar de são ser uma doença frequente em crianças, é a neoplasia maligna de glândula salivar mais comum na infância. Características Clínicas • O local mais comum de acometimento do CME é a glândula parótida, representando cerca de 60% a 90% dos casos. • A lesão se apresenta como um aumento de volume assintomático. Sintomatologia dolorosa e paralisia do nervo facial podem ser relatados pelos pacientes em casos de tumores de alto grau, que apresentam um curso clínico mais invasivo. • As glândulas salivares menores também podem ser acometidas, sendo as glândulas palatinas as mais envolvidas pela neoplasia. O CME apresenta-se como um aumento de volume assintomático de superfície ulcerada (dependendo do grau da lesão) podendo apresentar coloração levemente azulada, muitas vezes essas lesões, quando flutuantes, podem mimetizar uma mucocele. Diagnósticos diferenciais - adenoma pleomórfico, carcinoma adenoide cístico, sialometaplasia necrosante e outras lesões malignas. O CME também pode se desenvolver centralmente, ou seja, no interior dos maxilares. Acredita- se que a lesão tenha origem a partir de restos epiteliais odontogênicos, células essas que apresentam grande potencial para diferenciação, inclusive para células mucosas. É comum que lesões intraósseas estejam associadas com cistos e tumores odontogênicos, principalmente o cisto dentígero. O aumento de volume da região é o sinal mais comum presente. A mandíbula (principalmente o ramo) apresenta uma maior predileção para o desenvolvimento da doença. Características Radiográficas • Apresenta-se como um imagem radiolúcida multi ou unilocular de margens bem definidas e frequentemente localizada no ramo mandibular. Algumas lesões podem apresentar margens irregulares, em aspecto de "roído por traça", sugerindo uma lesão maligna; • É comum a visualização de um dente incluso no interior da lesão e a associação com cistos e tumores odontogênicos; Lesões como o ameloblastoma, ceratocisto odontogênico e outras lesões odontogênicas devem ser incluídas no diagnóstico diferencial. Características Histopatológicas É formado basicamente por três tipos celulares, as células mucosas, epidermóides e intermediárias; • As células mucosas apresentam citoplasma claro e espumoso. Essas células se coram positivamente com colorações específicas, como o mucicarmim; • As células epidermóides são semelhantes as escamosas do epitélio oral, apresentando formato poligonal e junções intercelulares; • A célula intermediária apresenta forma variada que vai desde um aspecto basaloide, de núcleo pequeno, até células poligonais. Acredita-se que essas células são precursoras das mucosas e epidermóides. A partir de caraterísticas como a quantidade de formação cística, grau de atipia celular e a proporção do tipo celular, os tumores são classificados em alto, intermediário e baixo grau. • As lesões de baixo grau apresentam um curso clínico mais brando e microscopicamente observamos uma maior quantidade de formação cística, pouca ou nenhuma atipia celular e uma maior proporção de células mucosas, demonstrando um alto grau de diferenciação do tumor. • Já nos tumores de alto grau, a formação cística e as células mucosas são vistas menos frequentemente. É visto um alto grau de atipia celular (pleomorfismo celular, muitas figuras de mitoses e mitoses atípicas). Muitas vezes o componente epidermoide é visto em tamanha quantidade que a lesão pode ser semelhante a um Carcinoma de células escamosas. • O CME esclerosante é uma variante microscópica rara onde podemos observar intensa esclerose em meio as células tumorais. Quanto ao diagnóstico diferencial histopatológico, podemos citar lesões como o adenocarcinoma de células acinares e os cistadenomas, embora essas lesões não apresentem células mucosas e epidermóides em tamanha proporção quanto o mucoepidermóide. Diagnóstico e Tratamento O diagnóstico do CME é obtido a partir do exame clínico e histopatológico, a classificação em alto, intermediário e baixo grau é importante para definir o prognóstico e posterior plano de tratamento da lesão. Tumores de baixo grau apresentam curso clínico mais brando, embora já tenha sido relatado casos de metástase à distancia. As taxas de sobrevida em 5 anos para esses tumores é de 95%, já nos tumores de alto grau essa taxa cai para 40%. Os tumores de glândula parótida em estágio inicial podem ser tratados a partir da remoção parcial da glândula com preservação do nervo facial. Tumores maiores são removidos com a parótida em sua totalidade juntamente com o nervo facial. Carcinoma Adenoide Cistíco Características clínicas e Radiográficas • 50% a 60% originam-se nas glândulas salivares menores, o palato é a localização mais comum; • Os demais tumores são encontrados principalmente nas glândulas parótida e submandibular; • Apresenta-se como um aumento de volume de crescimento lento, com dor antes que haja uma tumefação clinicamente detectável. A dor sentida pelos pacientes geralmente é inespecífica, constante e de baixo grau, que aumenta de intensidade gradativamente. • Os tumores de parótida podem causar paralisia do nervo facial. • Os tumores de palato podem apresentar superfície lisa ou ulcerada, que apresentam características radiográficas de destruição óssea. Características Histopatológicas É um misto de células mioepiteliais e células ductais que podem apresentar um arranjo variado. Existem três padrões: 1)Cribriforme, 2) tubular, 3) Sólido. É vista uma combinação dos três, e o tumor é classificado com base no padrão dominante. • Cribiforme: presença de ilhas de células basalóides que contém múltiplos espaços cilíndricos, semelhantes a espaços císticos, lembrando um queijo suíço. Nestes espaços geralmente contém material mucoide levemente basofílico, um produto eosinofílico hialinizado ou uma combinação da aparência mucoide-hialinizada. As vezes, esse material hialinizado pode circundar a ilha cribriforme ou pequenos cordões tumorais podem estar permeados pelo estroma hialino. As células tumorais são pequenas e cuboidais, com núcleo extremamente basofílico e pouco citoplasma, e também tem aparência bem uniforme e atividade mitótica rara. Pode ser confundido com o adenocarcinoma polimorfo de baico grau. • Tubular: células tumorais, mas podem ocorrer múltiplos pequenos ductos ou túbulos dentro de um estroma hialinizado. O lúmem é delimitado por diversas camadas de células. • Sólida: grandes ilhas ou lençóis de células tumorais com pouca tendência para formação e ductos ou cistos. Além disso, são vistos também pleomorfismo celular, atividade mitótica e focos centrais de necrose no centros das ilhas tumorais. O carcinoma também tem a tendência à invasão perineural, o que explica a dor nesses pacientes. Algumas vezes, as células parecem apresentar um arranjo em redemoinho ao redor do feixe nervoso. Tratamento e prognóstico É um tumor implacável que tende à recidiva local e eventual metástase à distância. Excisão cirúrgica e radioterapia é a melhor opção. Taxa de sobrevida: 5 anos – 70%, 10 anos – 50%, 20 anos – 25% dos pacientes ainda estarão vivos.A morte geralmente resulta da recidiva local ou de metástases a distância. Os tumores no palato ou no seio maxilar eventualmente podem invadir a base do crânio e se disseminar para o cérebro. As metástases ocorrem em aproximadamente 35% dos pacientes, frequentemente envolvendo os pulmões e os ossos. Carcinoma Ex-Adenoma Pleomórfico Caracterizado pela transformação maligna do componente epitelial de um adenoma pleomórfico benigno prévio. Características Clínicas • Acomete em média pacientes com idade de 15 anos pra cima. Porém a predileção é mais em adultos de meia-idade e em idosos, com pico de prevalência da sexta a oitava década de vida. • Os pacientes relatar que o aumento de volume está presente por muitos anos, sofrendo com rápido crescimento, dor e ulceração associada. • Nas glândulas salivares maiores, ocorre na parótida em 80% dos casos, podendo causar paralisia do nervo facial. Nas menores, ocorre aproximadamente em dois terços no palato. Características Histopatológicas Possui microscopia variável, podendo ter áreas típicas de adenoma pleomórfico benigno, ocupando uma parte ou grande porção da lesão. Encontram-se áreas de degeneração maligna do componente epitelial, caracterizada pelo pleomorfismo celular e pela atividade mitótica anormal. • O componente maligno geralmente apresenta um padrão de crescimento agressivo, com invasão da cápsula e infiltração dos tecidos circunjacentes. Devido ao fato de estes tumores apresentarem um prognóstico comprovadamente mais bem comparado aos tumores invasivos, eles têm sido denominados carcinoma ex-tumor misto não invasivo ou carcinoma in situ ex-tumor misto. Tratamento e prognóstico Excisão cirúrgica ampla, com esvaziamento cervical local e a radioterapia adjuvante. O prognóstico é reservado; a taxa geral de sobrevida em cinco anos varia de 25% a 65%, mas esta taxa diminui para 10% a 35% em 15 anos. Os adenocarcinomas polimorfos de baixo grau, apresentam uma taxa de sobrevida em cinco anos próxima dos 90%. Prognóstico é bem pior para os pacientes com tumores pouco diferenciadas ou que tenham invadido mais de 8 mm além da cápsula residual ou do tumor benigno residual. Para casos de carcinoma in situ (não invasivos) ex-tumor misto, o prognóstico é semelhante ao do tumor misto benigno. Adenocarcinoma polimorfo de baixo grau (Carcinoma Lobular/Carcinoma do ducto terminal) Características Clínicas É quase exclusivo das glândulas salivares menores. 65% ocorrem em palato duro ou no palato mole, sendo o lábio superior e a mucosa jugal outros lugares comuns. É mais frequente em idosos, ocorrendo da sexta até a oitava década da vida. 2/3 dos casos ocorre em mulheres. • Apresenta-se como aumento de volume indolor, crônico, crescimento lento, e pode está associado a sangramento ou desconforto. • Pode erodir ou infiltrar ossos subjacentes. Características Histopatológicas Células com formato que varia do arredondado ao poligonal, com bordos indistintos e citoplasma variando do pálido ao eosinofílico. O núcleo pode ser arredondado, ovóide ou fusiforme; tais núcleos usualmente são palidamente corados, embora possam ser mais basofílicos em algumas áreas. As células podem crescer em um padrão sólido ou formar cordões, ductos ou grandes espaços císticos. Em alguns tumores pode ser evidenciado um padrão cribriforme, mimetizando um carcinoma adenoide cístico. A presença de mitose é incomum. • As células periféricas estão infiltrando, invadindo o tecido adjacente em padrão de fileira única, o que pode aparentar ser bem circunscrito. É possível observar a extensão para o osso subjacente ou para o músculo esquelético. • O estroma é de natureza mucoide ou pode demonstrar hialinização. • A invasão perineural é comum – o que pode confundir com o carcinoma adenoide cístico. A coloração pela imunoistoquímica pode ser de grande auxílio na distinção entre o adenocarcinoma polimorfo de baixo grau e outros tumores de glândula salivar que ele possa mimetizar. Tratamento e Prognóstico Excisão cirúrgica e algumas vezes com ressecção do osso subjacente. Somente em 10% dos pacientes ocorre metástase para os linfonodos regionais. Prognóstico relativamente bom, com recidiva de 9% a 17%, e as mortes são raras. A identificação da invasão do perineuro parece não afetar o prognóstico.
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