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Roteiro de Aula - Maquiavel - Liberalismo A 2014-02

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UERJ - Faculdade de Direito
Disciplina: Direito e Pensamento Político I
Prof. Dr. Marco Aurélio Marrafon
Roteiros de Aula DPP 1 2014.2 – Final
Tema: Pensamento político de Maquiavel
1. Nicolau MAQUIAVEL (1469-1527)
→ Preocupação em legitimar as transformações impulsionadas pelo Renascimento e, em especial, as mudanças que levaram novo Estado Moderno. No entanto, evita o discurso humanista das virtudes morais. 
Elementos Doutrinários Básicos: 
Promove ruptura decisiva contra a teoria da sociabilidade natural e a teoria da revelação (teológica) – etapa importante para a formação do Estado Laico. 
Propõe uma análise empírica do fenômeno político. 
Defende a originalidade absoluta e autonomia do político. 
Sua teoria parte de um “pessimismo antropológico”. Para ele, os homens possuem traços imutáveis: são volúveis, ingratos, dissimulados, covardes ante o perigo, ávidos por lucro, etc...
Questões fundamentais: 
Que conduta deve tomar aquele que tem o projeto de instaurar/ restaurar um governo duradouro e feliz?
Como fazer reinar a ordem política e social?
Como instaurar um Estado estável?
Anarquia X Principado e República.
Importância da Ação humana: virtu X fortuna
(rompe com a submissão do homem)
Instaura uma “ética da eficácia política”. (cria um objeto próprio e uma moral adequada à teoria e à ação política). 
Tema: Liberalismo Político
Bibliografia básica: 
NAY, Olivier. Introdução à história das ideias políticas. Trad. Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 2007. 
Bibliografia complementar:
BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola. PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 2vols. Brasília: UNB. Verbete: liberalismo. 
CHÂTELET, François. DUHAMEL, Olivier. PISIER-KOUCHNER, Evelyne. História das idéias políticas.Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Zahar, 2000, p. 105-114.
WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, Estado e Direito. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
1. PREMISSAS TEÓRICAS
Debate sobre os limites do poder político no interior do Estado Nação gira em torno de três conceitos fundamentais (HOBBES):
libertas: designa o espaço das relações naturais, onde se desenvolve a atividade econômica dos indivíduos;
religio: indica o espaço reservado à formação e expansão da vida espiritual, cuja concretização histórica se dá na instituição da Igreja;
potestas: simbolizado pelo Leviatã, poder político. 
A partir do grau de delimitação (ou não) entre essas esferas distintas, a possibilidade de caracterizar um Estado como Totalitário ou Liberal.
2. LIBERALISMO: 
2.1. Nascimento e origem: 
i) Ponto de partida para reflexão: Gloriosa Revolução inglesa (1688-1689). 
ii) O liberalismo se desenvolve no séculos XVIII e XIX em oposição ao despotismo, sendo considerado um movimento teórico europeu de diferentes acepções, com incursões no campo do direito, da economia, da política, na teoria da moral e na teoria da sociedade. 
Para Nicola MATTEUCCI (In: BOBBIO, Norberto. MATTEUCCI, Nicola. PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. 2vols. Brasília: UNB. Verbete: liberalismo) o termo liberalismo é de difícil definição porque é um fenômeno histórico que se apresenta de diversas formas em diferentes países tempos históricos. 
Conforme o caso, ele pode indicar: 
 Um partido político ou movimento político - ex. Partido dos Liberais espanhol – 1812;
Uma ideologia política ou metapolítica (uma ética);
Uma estrutura institucional específica ou mesmo a reflexão política por ela estimulada.
2.2. Traços comuns: defesa das liberdades individuais e políticas, racionalismo, individualismo, igualitarismo (majoritariamente formal), reformismo, progressismo, defesa da propriedade e questionamento sobre a finalidade do poder – vide p. 196. 
2.3. Grandes princípios do liberalismo
i) recusa do absolutismo
ii) defesa da liberdade
iii) pluralismo
iv) soberania do povo vista como assunto propriamente humano
v) defesa do governo representativo.
3. LIBERALISMO COMO IDEOLOGIA
Ao perceber o liberalismo como ideologia, Wolkmer explica que ele surge como uma nova visão global do mundo, constituída pelos valores, crenças e interesses de uma classe social emergente, a burguesia na sua luta histórica contra a dominação do feudalismo aristocrático fundiário, entre os séculos XVII e XVIII, no continente europeu.
O liberalismo se tornou expressão de uma ética individualista, voltada basicamente para a noção de liberdade total que está presente em todos os aspectos da realidade, desde o filosófico até o social, o econômico, o religioso, etc. 
Em seus primórdios, foi a bandeira da burguesia capitalista contra o Antigo Regime Absolutistas, através de uma forma revolucionária da “liberdade, igualdade e fraternidade”, favorecendo a todos (burguesia e classes menos favorecidas). 
Contudo, com a fase industrial do capitalismo, a burguesia assumiu seu poder político, consolidando seu controle econômico, o que permitiu certa seletividade dos aspectos do pensamento liberal que foram aplicados. 
Por isso, se percebe que o liberalismo oferece situações ambíguas, sendo, ao mesmo tempo, revolucionário e conservador – prega a liberdade, mas a limita àqueles que não possuem bens. Lutou contra o absolutismo no século XVIII e contra regimes totalitários do séc. XX, mas também contra autoridades populares, sobretudo contra a democracia e o socialismo. 
Enquanto ideologia, é possível enumerar três elementos caracterizadores do liberalismo: 
Núcleo moral (ou liberalismo filosófico): afirma os valores e direitos básicos atribuíveis à natureza moral e racional do ser humano. 
Sua cosmovisão se baseia nos princípios da liberdade pessoal, individualismo, tolerância, dignidade e crença na vida. 
Núcleo econômico (liberalismo econômico): especialmente relacionado aos direitos econômicos, à propriedade privada, ao sistema de livre empresa e à economia de mercado livre do controle estatal – daí o direito de propriedade, herança, acumular riqueza e capital, liberdade de produzir, comprar e vender.
Seus teóricos mais importantes: na origem Smith e David Ricardo. No neoliberalismo contemporâneo: Hayek, Friedman. 
Núcleo político: refere-se, principalmente, aos direitos políticos – direito ao voto, direito de participar e decidir que tipo de governo eleger e qual política seguir. 
Seus princípios básicos são: consentimento individual, constitucionalismo político (Estado de Direito, império da lei, supremacia da Constituição, direitos e garantias individuais), a teoria da separação dos poderes e a soberania popular. 
Teóricos: Locke, Montesquieu, Rousseau, Mill (sobre o governo representativo). 
Se por um lado é inegável que a ideologia liberal prolongou-se no bojo da democracia contemporânea, cabe diferenciar democracia de liberalismo. 
Referência: WOLKMER, Antonio Carlos. Ideologia, Estado e Direito. 4 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
4. John LOCKE (1632-1704): individualismo proprietário e limites do poder civil
→ individualismo liberal: Liberdade, Parlamento e Protestantismo. 
Elementos doutrinários básicos: 
i) No campo da teoria do conhecimento, é considerado o fundador do empirismo.
ii) Os dois tratados sobre o governo civil:
a) O primeiro tratado é uma contestação da obra O Patriarca, de Robert Filmer, em que se defende o direito divino dos reis com base na autoridade paterna que Adão (primeiro pai e primeiro rei) legará a sua descendência. 
b) Segundo Tratado é uma justificação e legitimação posterior da Rev. Gloriosa e se constitui numa formulação bastante completa sobre o Estado Liberal e sobre o governo civil, ao constituir um ensaio sobre sua origem, extensão e objetivo.
c) forte influência racionalista onde ele procura deduzir a partir da lei natural uma série de conteúdos. 
iii) O estado de natureza
iv) a teoria da propriedade
v) O contratosocial e a sociedade política ou civil
a) Passagem do estado natural para o estado social se faz em dois tempos. 
b) homens renunciam a uma parte de sua liberdade e associam-se para preservar seus direitos naturais, não para perdê-los – critério da finalidade para justificar o poder civil: “o grande fim que se propõem aqueles que entram numa sociedade [é] gozar de suas propriedades, em segurança e em repouso” (p. 199). 
c) princípios do liberalismo originados da obra de LOCKE: 1) existência de direitos naturais; 2) governo civil tem poderes limitados pelos fins que lhe são atribuídos e 3) delegação da soberania ao poder civil é provisória. (p. 199). 
vi) Doutrina do respeito à lei funda o constitucionalismo.
vii) Estabelecida a sociedade civil, a unanimidade do contrato cede lugar ao princípio da maioria, com respeito aos direitos da minoria, na escolha da forma de governo. 
viii) Proposta de separação dos poderes: definida a forma de governo, cabe à maioria a escolha do poder legislativo que se torna poder supremo na deliberação sobre as leis comuns: subordina o executivo (do príncipe) e o federativo (relações exteriores).
ix) Fundamentos do estado civil: 
a) livre consentimento dos indivíduos para o estabelecimento da sociedade civil;
b) livre consentimento da comunidade para a formação do governo;
c) proteção dos direitos de propriedade pelo governo;
d) controle do executivo pelo legislativo
e) controle do governo pela sociedade;
f) direitos naturais inalienáveis do indivíduo à vida, liberdade e propriedade constituem o cerne do Estado civil
x) Direito de resistência
→ Legado:
 Propôs que o cerne do estado civil é constituído pelos direitos naturais inalienáveis do indivíduo (vida, liberdade, propriedade) - daí Locke ser considerado pai do individualismo liberal. 
Seus argumentos foram determinantes para a formação do pensamento constitucionalista – Inglaterra, França, EUA: forneceu a posteriori a justificação moral, política e ideológica para Revolução Gloriosa e a monarquia parlamentar inglesa. 
Suas ideias também serviram de inspiração para as Revoluções Norte-Americana e Francesa, aqui através das teses de Voltaire e Montesquieu.
5. Fénelon (1651-1715):
i) nobre e monarquista
ii) percebe a necessidade de submeter a política aos princípios da moral: hostilidade ao autoritarismo
iii) na obra de ficção As aventuras de Telêmaco defende a tese de que a onipotência leva à impotência. Saberia aristocrática e leis fundamentais seriam proteção contra a crueldade do príncipe. 
iv) defende a prudência: oposição aos excessos da tirania principesca e da anarquia popular. 
v) confiança na tradição e nos direitos da aristocracia. 
6) Charles-Louis de Secondat – Barão de La Brède e de MONTESQUIEU (1689-1755).
→ Sua obra trata do funcionamento dos regimes políticos sob a ótica liberal. A preocupação central é a compreensão dos princípios concretos de funcionamento das sociedades políticas e a busca de estabilidade e moderação no governo. 
Sua filosofia política estava originalmente destinada a servir aos interesses da nobreza. Daí o caráter ambíguo nas interpretações do legado de Montesquieu – vide p. 201.
Perspectivas de seu pensamento:
i) estado de natureza 
ii) preocupa-se com a liberdade de modo não individualista: liberdade é fazer o que as leis permitem e segurança de não sofrer os abusos do poder. 
iii) Conceito de lei: “são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas” 
Portanto, o objeto de sua obra é o “Espírito das leis”: relações entre as leis (positivas) e “diversas coisas” tais como o clima, as dimensões do Estado, a organização do comércio, as relações entre as classes etc... através das uniformidades – constâncias na variação dos comportamentos humanos e nas formas de organizar o homem.
iv) Adota matriz jusnaturalista racionalista na concepção de lei: existem devido a uma causa que pode ser extraída racionamente da natureza e da observação da realidade social.
v) Preocupado com a estabilidade do governo – retoma Maquiavel e foca nas condições de manutenção do poder e não no “contrato social” (problema da natureza do poder). 
vi) Classificação dos regimes a partir de dois critérios: 
natureza do governo: república, monarquia e despotismo. 
Tipo de sentimento político que move o governante: virtude, honra e medo. 
Daí:
a) república: povo governa, no todo ou em parte. Seu princípio é a virtude.
b) monarquia: um só governa por meio de leis e instituições fixadas. Seu princípio é a honra.
c) despotismo: governa a vontade de um só. Seu princípio é o temor.
vii) papel dos corpos intermediários (p.204) e o duplo objetivo da constituição: 
1) garantia da estabilidade e aplicação efetiva das leis – insuficiência dos corpos intermediários exige a presença de parlamentos independentes que desempenhem o papel político de primeiro plano: a potência legislativa. 
2) proibição da concentração da potência do comando – teoria da separação dos poderes (pensada a partir da distinção entre três potências: a potência legislativa, a potência executiva e a potência de julgar (esta devendo ser invisível e nula). Nesse aspecto, não há independência absoluta dos três poderes.
viii) seu modelo é inspirado na monarquia parlamentar inglesa: expressa um projeto fundado na prudência política e no elitismo social, com certa hostilidade em relação à democracia. 
 
→ Legado:
De qualquer modo, Olivier NAY entende que a obra de MONTESQUIEU prefigura as escolhas constitucionais que serão adotadas nas democracias liberais, inspirando e ultrapassando o período da Revolução Francesa, dando nova cara à reflexão política como reflexão sobre os poderes do Estado e seus limites. 
Além do mais, merecem destaque os seguintes aspectos da nova representação política da modernidade: 
Poder identificado com governo centralizado e unitário: Estado-Nação, no qual o povo é considerado corpo político;
Enfraquecimento das referências religiosas e busca de uma reflexão mais pragmática sobre a organização do poder.
Indivíduo se firma como sujeito filosófico e como sujeito de direito (cidadão).

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