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Treinamento de Habilidades Comportamentais em DBT

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O treinamento de habilidades comportamentais é indis-
pensável quando as habilidades necessárias para resolver 
problemas e alcançar as metas desejadas não se encontram 
disponíveis no repertório comportamental do indivíduo. Ou 
seja, em circunstâncias ideais (nas quais o comportamento 
não sofre a interferência de medos, motivos conflitantes, 
crenças irrealistas, etc.), a pessoa não consegue gerar ou 
produzir as respostas comportamentais necessárias. Na 
DBT, o termo “habilidades” é usado como sinônimo de 
“competências”* e inclui, em seu sentido mais amplo, habili-
dades comportamentais, cognitivas e emocionais junto com 
a integração dessas habilidades, que é necessária ao desem-
penho eficaz. A efetividade é aferida pelos efeitos diretos e 
indiretos dos comportamentos. O desempenho eficaz pode 
ser definido como aquele no qual os comportamentos levam 
a um máximo de resultados positivos com um mínimo de 
desfechos negativos. Assim, o termo “habilidades” é usado 
no sentido de “usar meios hábeis”, bem como no sentido 
de responder às situações de modo adaptativo ou efetivo.
É importante a ênfase na integração de comportamen-
tos para produzir uma resposta hábil. Com muita frequência 
(na verdade, de maneira habitual), um indivíduo tem os 
* N. de R. T.: O termo correto para designar o manual em por tuguês 
é “competências”. Assim, existe um manual de competências da 
DBT, que desenvolve quatro agrupamentos de competências, nas 
quais trabalham-se habilidades específicas.
componentes comportamentais de uma habilidade, mas 
não consegue uni-los de modo coerente quando necessário. 
Por exemplo, uma resposta interpessoalmente hábil exige 
repertório verbal – reunir as palavras que a pessoa já sabe 
em frases funcionais –, junto com a adequação da linguagem 
corporal, de entonação, do contato visual e assim por diante. 
É raro que as partes sejam novas; a combinação delas, po-
rém, muitas vezes é. Na terminologia da DBT, praticamente 
qualquer comportamento desejado pode ser considerado 
uma habilidade. Assim, enfrentar os problemas (coping) 
de modo ativo e eficaz, bem como evitar as respostas mal-
-adaptativas e ineficazes, são dois pontos considerados no 
uso das habilidades de alguém. O objetivo central da DBT 
como um todo é substituir o comportamento não efetivo 
mal-adaptativo ou inábil por respostas habilidosas. O ob-
jetivo do treinamento de habilidades em DBT é ajudar o 
indivíduo a adquirir as habilidades necessárias. As etapas 
para planejar a condução do treinamento de habilidades 
em DBT são descritas na Tabela 2.1 e discutidas em mais 
detalhes a seguir. Estratégias para integrar as habilidades 
da DBT com outras intervenções que não sejam a DBT são 
descritas em um momento posterior no capítulo. 
TABELA 2.1. Organizando o treinamento de habilidades em DBT em sua prática
1. Forme (ou junte-se a) uma equipe de DBT.
2. Selecione os membros do treinamento de habilidades de sua equipe.
3. Selecione os módulos das habilidades e os conjuntos de habilidades específicas.
4. Planeje um currículo do treinamento de habilidades.
5. Decida sobre:
a) Prática intensiva versus espaçada em um programa de 1 ano.
b) Treinamento de habilidades individual ou em grupo.
c) Grupos abertos versus fechados.
d) Grupos heterogêneos versus homogêneos.
6. Esclareça os papéis dos treinadores de habilidades, terapeutas individuais, gestores de caso, enfermeiros e auxiliares de enfer-
magem, bem como farmacoterapeutas, em um programa de treinamento de habilidades.
Planejamento para conduzir o 
treinamento de habilidades em DBT
Capítulo 2
FORMANDO (OU JUNTANDO-SE A) 
UMA EQUIPE DE DBT1
A DBT pressupõe que o tratamento eficaz, incluindo o 
treinamento de habilidades, deve prestar atenção tanto ao 
comportamento e à experiência dos provedores do trata-
mento quanto ao comportamento e à experiência dos pa-
cientes. Assim, o tratamento dos profissionais que trabalham 
nos diferentes módulos da DBT é uma parte integral de 
qualquer programa de DBT. Isso é importante tanto para 
aqueles que ensinam as habilidades quanto para todos os 
outros provedores dos outros modos de tratamento da DBT. 
Não importa o quão ajustados os pacientes possam ser, às 
vezes, o treinamento de habilidades pode ser incrivelmente 
desafiador e/ou estressante, e se manter dentro do arca-
bouço da DBT pode ser difícil. Os papéis da consultoria 
devem manter os provedores do tratamento no modelo da 
DBT e abordar diretamente os problemas que surjam. Os 
alvos fundamentais da equipe, relevantes aos treinadores 
de habilidades, são: aumentar a adesão aos princípios da 
DBT e a precisão do ensino e do coaching das habilidades; 
fornecer ideias para melhorar o ensino das habilidades; 
fazer a antecipação de fatores que interferem na solução 
de problemas que surgem no decorrer do treinamento de 
habilidades; aumentar e manter a motivação dos treinadores 
de habilidades; e dar suporte quando os limites dos tera-
peutas são ultrapassados (e mesmo quando estes não são!).
Os grupos de consultoria em DBT exigem que ao 
menos dois membros se reúnam pessoalmente uma vez 
por semana, se ambos estiverem na mesma localidade; 
quando encontros presenciais não são possíveis, os mem-
bros da equipe podem se encontrar em uma comunidade 
de aprendizagem on-line ou por meio de aplicativos de 
Internet. Devido ao fato de o foco principal de uma equipe 
de DBT estar nos provedores do tratamento, e não naqueles 
para quem o treinamento de habilidades é destinado, não é 
necessário que os provedores estejam tratando os mesmos 
pacientes. Por exemplo, um paciente poderia estar em tra-
tamento individual em determinada clínica e em um grupo 
de treinamento de habilidades em outra, cada uma com sua 
própria equipe de DBT. A coordenação das intervenções, 
no entanto, é maior se os terapeutas individuais, gestores 
de caso, farmacoterapeutas e treinadores de habilidades 
participarem da mesma equipe. (Consulte, em Sayrs & 
Linehan, no prelo, uma discussão mais aprofundada de 
como configurar, executar e resolver problemas em uma 
equipe de consultoria de DBT.2)
SELECIONANDO OS MEMBROS 
DO TREINAMENTO DE HABILIDADES 
DE SUA EQUIPE: QUALIFICAÇÕES E 
CARACTERÍSTICAS NECESSÁRIAS
O treinamento de habilidades pode ser conduzido por psi-
coterapeutas, conselheiros, gestores de caso, assistentes 
sociais, equipes de comunidades terapêuticas e enfermeiros 
psiquiátricos (em contextos de internação). Psiquiatras e 
enfermeiros podem ser treinadores de habilidades muito efe-
tivos. Para indivíduos sem transtornos mentais identificados, 
o treinamento de habilidades também pode ser conduzido 
por qualquer pessoa (professores, pais, familiares, volun-
tários e instrutores profissionais) que seja bem treinada 
nos princípios do treinamento e no desenvolvimento das 
próprias habilidades. Clérigos, farmacoterapeutas e outros 
provedores de cuidados de saúde (p. ex., psiquiatras, mé-
dicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, terapeutas 
ocupacionais e outras equipes médicas em contextos ambu-
latoriais), quando treinados nas habilidades, muitas vezes 
se tornam excelentes treinadores. Além disso, indivíduos 
carismáticos que passaram pelo treinamento e superaram 
suas próprias dificuldades também podem se tornar exce-
lentes cotreinadores e conselheiros de habilidades e con-
selheiros dos pares; isso, é claro, quando forem treinados 
em habilidades.
Na DBT, sabemos que, para fazer o tratamento com 
eficácia, os treinadores de habilidades precisam estar bem 
treinados no que estão fazendo. Eles devem ter um ótimo 
conhecimento sobre as habilidades em DBT, praticá-las 
pessoalmente e saber como ensiná-las. Precisam conhe-
cer e ser capazes de utilizar as técnicas básicas da terapia 
comportamental (como análise do comportamento, análise 
de solução, manejo de contingências, procedimentos de 
exposição e as noçõesbásicas da construção das habili-
dades) e as estratégias de tratamento da DBT (como as 
estratégias dialéticas; de validação e solução de problemas; 
de comunicação recíproca e irreverente; de consultoria 
para o paciente; e de intervenção ambiental), bem como os 
protocolos da DBT – em especial protocolo para avaliar e 
intervir no risco de suicídio e/ou no comportamento suicida. 
Essas estratégias e esses protocolos são descritos na íntegra 
no principal texto da DBT e são revisados no Capítulo 5 
deste manual. Até o momento, não temos evidências de 
que o tipo de formação acadêmica seja um fator crucial 
para melhorar os desfechos do treinamento de habilidades.
As atitudes dos treinadores de habilidades em relação 
aos pacientes também são importantíssimas. Aqueles que 
não conseguem comportar-se habilmente e afirmam não 
saber como agir de modo diferente são vistos por alguns 
terapeutas como resistentes (ou, pelo menos, regidos por 
motivos fora da consciência). Esses clínicos consideram 
práticas como dar conselhos, fornecer coaching, fazer 
sugestões ou ensinar novos comportamentos como equi-
valentes a incentivar a dependência e a necessidade de 
gratificação, que criam obstáculos à terapia “real”. Outros 
terapeutas e treinadores de habilidades caem na armadilha 
de acreditar que os pacientes dificilmente conseguem fazer 
algo. Às vezes, acreditam inclusive que eles são incapazes 
de aprender novos comportamentos habilidosos. A ênfase 
excessiva na aceitação, na promoção de cuidados para o 
paciente e a intervenção ambiental acabam comprometendo 
o arsenal terapêutico desses terapeutas. Não é surpresa, 
quando essas duas orientações coexistem com um paciente 
da equipe de tratamento, que muitas vezes surjam conflitos e 
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 25
até a divisão da equipe. Uma abordagem dialética sugeriria 
procurar a síntese, conforme a minha análise mais completa 
no Capítulo 13 do principal texto da DBT.
Quando uma equipe de DBT está sendo iniciada, os 
critérios para se tornar membro da equipe são os mesmos 
para todos os participantes. Cada membro deve estar na 
equipe voluntariamente, deve concordar em participar das 
reuniões da equipe, deve estar comprometido com a apren-
dizagem e a aplicação da DBT e deve estar igualmente 
vulnerável à influência da equipe. O último critério signi-
fica que todos os participantes trarão à equipe quaisquer 
dificuldades e questões relacionadas com suas tentativas de 
aplicar os princípios e as intervenções da DBT (inclusive as 
habilidades) associadas com todos pacientes com os quais 
estiverem trabalhando.
SELECIONANDO OS MÓDULOS 
DAS HABILIDADES E AS HABILIDADES 
ESPECÍFICAS A SEREM ENSINADAS
Como observado no Capítulo 1, existem quatro módulos 
distintos das habilidades em DBT: mindfulness, efetividade 
interpessoal, regulação emocional e tolerância ao mal-estar. 
Cada módulo está dividido em seções principais e com-
plementares, com habilidades especializadas, opcionais ou 
avançadas. Estas últimas seções podem ser descartadas caso 
não atendam às necessidades da população específica de 
pacientes trabalhada ou se o tempo assim exigir. As seções 
e as habilidades específicas também podem ser ensinadas 
separadamente. (Ver, na Tab. 1.1, quais habilidades são 
principais e quais são complementares.) Um conjunto de 
fichas gerais é entregue durante a orientação em relação ao 
treinamento de habilidades em DBT, antes do início de cada 
módulo das habilidades de mindfulness, se existirem novos 
membros no grupo. Um outro conjunto complementar, que 
ensina habilidades de análise comportamental, também está 
incluído nas habilidades gerais. Na DBT standard, o treina-
mento de habilidades é conduzido em grupos de 6 a 8 (10 
no máximo) participantes, mais dois líderes de grupo, uma 
vez por semana, durante 2,5 horas (2 horas com adolescen-
tes). Os participantes completam, em seis meses, um ciclo 
inteiro das habilidades principais em todos os módulos. Em 
um programa de tratamento de um ano, o ciclo é repetido, 
perfazendo o total de 12 meses. Os módulos das habilidades 
principais são projetados para durar de 5 a 7 semanas (efe-
tividade interpessoal, 5 semanas; tolerância ao mal-estar, 
6 semanas; regulação emocional, 7 semanas). O módulo 
de mindfulness é projetado para durar duas semanas e é re-
petido, junto com uma breve orientação, antes do início de 
cada novo módulo. Esse ciclo básico encontra-se descrito na 
Tabela 2.2. Consulte, nos Apêndices da Parte I, um desenho 
mais detalhado, junto com resumos, sessão por sessão, dos 
diferentes programas de treinamentos de habilidades em 
DBT para vários transtornos, períodos de tempo e contextos.
Não existem dados empíricos para sugerir como or-
denar os módulos. Uma vez que as habilidades centrais de 
mindfulness estão entremeadas ao longo dos outros módulos 
do treinamento, obviamente esse é o primeiro módulo que 
deve ser apresentado. Em nosso programa atual, os mó-
dulos de efetividade interpessoal, regulação emocional e 
tolerância ao mal-estar seguem esta ordem, que é mantida 
neste manual.
O módulo de efetividade interpessoal centra-se em 
como os pacientes podem diminuir a dor e o sofrimento por 
interagir efetivamente com seu ambiente social, tanto para 
produzir alterações nos outros (quando tal se justifique) 
quanto para resistir à influência indesejada dos outros. O 
módulo de regulação emocional supõe que, embora uma 
situação (interpessoal ou não) possa gerar dor e sofrimento, 
as respostas do indivíduo também precisam e podem ser 
modificadas. O módulo de tolerância ao mal-estar pressupõe 
que, embora possa haver muita dor e sofrimento, isso pode 
ser tolerado, e a vida pode ser aceita e vivida, mesmo com 
a dor. Com certeza, essa é uma lição difícil para qualquer 
pessoa. No entanto, é possível defender com coerência qual-
quer ordem de módulos. Em muitas clínicas, os pacientes 
recebem as fichas sobre as estratégias de sobrevivência 
a crises (parte do módulo de tolerância ao mal-estar) no 
primeiro encontro. Essas habilidades são mais ou menos 
autoexplicativas, e muitos pacientes as consideram extre-
mamente úteis. Depois, elas são analisadas detalhadamente, 
quando o módulo de tolerância ao mal-estar for ensinado. 
Para alguns, suas desregulação e falta de compreensão 
das emoções são tão relevantes que a ideia de começar 
pelo módulo de regulação emocional pode ser adotada. 
Isso costuma acontecer, por exemplo, em nossos grupos 
de habilidades multifamiliar para adolescentes.
TABELA 2.2. Cronograma de treinamento das prin-
cipais habilidades em DBT: dois ciclos completos em 
todos os módulos ao longo de 12 meses
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de efetividade interpessoal 5 semanas
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de regulação emocional 7 semanas
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de tolerância ao mal-estar 6 semanas
(24 semanas, 6 meses)
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de efetividade interpessoal 5 semanas
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de regulação emocional 7 semanas
Módulo de orientação + mindfulness 2 semanas
Módulo de tolerância ao mal-estar 6 semanas
(48 semanas, 12 meses)
26 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
SUGESTÕES PARA O 
PLANEJAMENTO DE UM CURRÍCULO 
PARA O TREINAMENTO DE HABILIDADES
O manual para os pacientes, no treinamento de habilidades, 
especialmente em um contexto de grupo, deve ser apre-
sentado em um ritmo adaptado ao nível de compreensão 
dos participantes. Já que o ritmo de cada sessão será di-
ferente, assim como o ritmo global para certos indivíduos 
ou grupos, o conteúdo instrucional nos Capítulos 6 a 10 
deste manual não é dividido em segmentos no âmbito das 
sessões particulares. Na minha experiência, no entanto, naprimeira vez que os treinadores ensinam esses módulos 
de habilidades, o volume de material parece exaustivo. 
Novos treinadores de habilidades tendem a gastar muito 
tempo nas primeiras partes de um módulo, e depois resta 
pouquíssimo tempo para abranger outro conteúdo, talvez 
ainda mais importante. Na prática, o mais importante e 
necessário é variar de acordo com as diferenças entre os 
indivíduos ou grupos, dependendo de seus níveis de ex-
periência e habilidade. Para facilitar a cobertura de todo o 
conteúdo até o final do tempo programado para o módulo 
específico, os líderes do treinamento de habilidades devem 
construir planos de aula para cada sessão e tentar cobrir o 
material designado durante o tempo da sessão planejada 
para os tópicos ali contidos. Currículos para 11 programas 
de habilidades diferentes estão descritos nos Apêndices da 
Parte I. A maioria deles se baseia em descrições de proto-
colos que têm sido utilizados em várias pesquisas com as 
habilidades em DBT. A melhor estratégia no primeiro ciclo 
de um módulo é adotar as seguintes etapas.
1. Decida quantas semanas o seu programa de treina-
mento de habilidades vai durar no total e quanto tempo 
terá cada sessão. A extensão do programa e das sessões 
vai depender se os participantes têm ou não transtornos 
mentais, da gravidade de seus transtornos ou de outros 
problemas, as metas de seu programa de tratamento (p. ex., 
estabilização, tratamento, desenvolvimento de habilidades), 
disponibilidade de pessoal, recursos financeiros, dados 
de pesquisa sobre os desfechos relacionados a diferentes 
extensões de tratamento, além de fatores exclusivos ao 
contexto do seu tratamento.
2. Decida quais habilidades você definitivamente quer ensi-
nar e quais você deseja incluir como auxiliares. O conteúdo 
das habilidades deve ser embasado nos dados de pesquisas 
sobre os problemas/transtornos que você estiver abordando 
e, quando houver poucos estudos para orientar sua escolha, 
baseie-se em suas convicções sobre quais habilidades são 
mais apropriadas para os seus pacientes.* Os currículos 
nos Apêndices estão organizados pela duração (número 
* N. de R.T.: Desde que elas sejam baseadas em evidências cien-
tíficas – sobre o problema a ser trabalhado, ainda que sejam pou-
cas, ou sobre os princípios de psicoterapia comportamental.
de semanas) de cada programa e pela população que cada 
programa se destina a tratar. Dê uma olhada nesse material 
e selecione o currículo de habilidades que mais se adapte 
a sua situação.
3. Decida quais fichas e fichas de tarefas você quer usar. 
Não as utilize sem revisá-las previamente. As fichas de 
tarefas estão associadas com as fichas; as fichas de tarefas 
para cada ficha são listadas após o número de cada ficha e 
vice-versa. As descrições sobre as fichas e fichas de tarefas 
relevantes são fornecidas nos quadros de visão geral para 
cada habilidade ou conjunto de habilidades nas notas de 
ensino.
Existem vários tipos de fichas de tarefas. As de visão geral 
abrangem várias habilidades e podem ser usadas quando 
você quiser se concentrar principalmente na prática de um 
grupo de habilidades, em vez de se concentrar intensamente 
apenas nas habilidades ensinadas em uma determinada 
sessão. Essas fichas de tarefas são as primeiras em cada 
seção e estão vinculadas às fichas que resumem cada seção.
As fichas de tarefas de habilidades específicas se concentram 
em uma determinada habilidade ou em um pequeno conjunto 
de habilidades. Em alguns casos, múltiplas fichas de tarefas 
focalizam o mesmo conjunto de habilidades (e recebem o 
mesmo número de ficha de tarefa), mas diferem no vo-
lume de práticas que fornecem. Em geral, as letras a, b e 
c seguindo o número da ficha de tarefa indicam diferentes 
demandas que as fichas de tarefas requerem dos partici-
pantes. Por exemplo, algumas pedem que os participantes 
pratiquem uma habilidade em especial, uma ou duas vezes 
entre as sessões; outras solicitam que cada habilidade em 
um conjunto seja praticada entre as sessões; e há também 
aquelas que demandam a prática diária de uma habilidade 
ou conjunto de habilidades. Existem, ainda, fichas de tarefas 
de calendário, que solicitam que os participantes escrevam 
sobre as habilidades que eles usam todos os dias entre as 
sessões.
4. Na primeira vez que ensinar as habilidades, faça a divisão 
de cada módulo arbitrariamente em seções correspondentes 
ao número exato de semanas disponíveis e tente explorar 
o máximo possível de cada seção. Essa experiência irá 
determinar como cronometrar os módulos na segunda vez, 
e assim por diante. Quando eu ensino terapeutas como fazer 
o treinamento de habilidades em DBT, em geral, recomendo 
que os treinadores copiem as notas de ensino que abrangem 
as habilidades a serem ensinadas em uma sessão específica 
e, em seguida, realcem os pontos principais que pretendem 
abordar nessa sessão. Com essa estratégia, pode ser útil 
primeiro ensinar o conteúdo nos módulos de habilidades na 
ordem sugerida neste manual. Após o primeiro ciclo, modi-
ficações no material e na ordem podem ser feitas para uma 
maior adequação ao seu estilo ou a uma situação particular.
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 27
PRÁTICAS INTENSIVAS OU ESPAÇADAS 
EM UM PROGRAMA DE UM ANO
Embora cada módulo de treinamento seja projetado para 
um ensino de 5 a 7 semanas, pode-se gastar até um ano em 
cada módulo. O conteúdo para cada área das habilidades é 
abrangente e complexo para um período tão curto de tempo. 
Abranger o material do treinamento de habilidades neste 
breve número de semanas requer uma gestão de tempo muito 
rigorosa. Os terapeutas também têm de estar dispostos a 
continuar mesmo quando alguns (ou até todos) pacientes 
não adquiriram as habilidades que estão sendo ensinadas. 
Às vezes, os participantes sentem-se sobrecarregados pelo 
volume de informações na primeira vez que percorrem 
cada módulo. Em um programa de um ano, por que não 
expandir cada módulo a uma série de três módulos de 10 
a 14 semanas (cada um começando com duas semanas de 
habilidades de mindfulness), em vez de dois conjuntos de 
três módulos de 5 a 7 semanas? Em outras palavras, por 
que não optar pela prática intensiva (a primeira escolha) em 
vez de a espaçada (a segunda escolha)? Há várias razões 
para o formato atual.
Primeiro, todos os indivíduos – em especial aqueles 
que têm problemas para regular suas emoções – podem apre-
sentar variações em sua funcionalidade e seu humor. Existe 
a possibilidade de os pacientes atravessarem períodos de 
várias semanas em que podem faltar as sessões ou, quando 
presentes, estar minimamente atentos (ou não conseguindo 
prestar atenção em nada). Apresentar o conteúdo duas vezes 
aumenta a probabilidade de que cada pessoa estará presente, 
tanto física quanto psicologicamente, pelo menos uma das 
vezes em que determinado segmento for abordado.
Em segundo lugar, diferentes participantes têm neces-
sidades distintas; assim, os módulos apresentam relevância 
diferenciada para cada paciente, que pode ter preferência 
por alguns módulos específicos. Suportar durante 10 a 14 
semanas um módulo do qual não se gosta é muito difícil. 
Suportá-lo por 5 a 7 semanas também é difícil, mas não 
tanto.
Em terceiro lugar, no formato de 10 a 14 semanas, o 
segundo e o terceiro módulo programados obtêm menos 
tempo de prática do que no formato de 5 a 7 semanas en-
sinado duas vezes. Se eu pudesse defender a ideia de que 
um módulo é de fato o mais importante e precisa de mais 
prática, isso não seria um risco. No entanto, não disponho 
de dados empíricos controlados para corroborar a escolha 
de qual seria esse módulo. Além disso, é duvidoso que um 
único módulo seja o melhor para todas as pessoas. A premissa 
central da abordagem comportamental orientada para as 
habilidades é que a aquisiçãode novas habilidades requer 
prática extensiva. Embora o conteúdo muitas vezes pareça 
esmagador quando é apresentado pela primeira vez no for-
mato de 5 a 7 semanas, os pacientes parecem capazes de 
praticar as habilidades no cotidiano de suas vidas. Assim, 
apresentar cada módulo uma vez durante os primeiros seis 
meses de tratamento deixa pelo menos seis meses para a 
prática continuada antes do fim do treinamento.
Em quarto lugar, pode ser benéfico repassar o ma-
terial após os pacientes terem uma chance de praticar as 
habilidades ao longo de vários meses. O material faz mais 
sentido. E isso oferece a oportunidade para os participantes 
aprenderem que os problemas que parecem muito difíceis 
em certo ponto talvez não pareçam assim para sempre, caso 
eles perseverem em suas tentativas de superá-los.
Por fim, minha experiência tem mostrado que, quando 
se utiliza de 10 a 14 semanas para cobrir um módulo de tra-
tamento, é bem mais fácil desviar o tempo do treinamento de 
habilidades para atender as crises e as questões processuais 
de participantes individuais. É fácil os líderes começarem 
a pensar que têm tempo de sobra para tópicos desviantes 
dos que devem ser abordados. Embora certa atenção deva 
ser dada a essas questões, é fácil afastar-se do treinamento 
de habilidades e aproximar-se do processo da terapia de 
apoio quando o tempo não é a questão central. Na minha 
experiência, uma vez que isso acontece, é extremamente 
difícil de recuperar o controle da agenda do treinamento 
de habilidades.
TREINAMENTO DE HABILIDADES 
INDIVIDUAL VERSUS EM GRUPO
O treinamento de habilidades em DBT bem-sucedido requer 
disciplina tanto dos participantes quanto dos treinadores 
de habilidades. No treinamento de habilidades, a agenda 
da sessão é definida pelas habilidades a serem aprendidas. 
Geralmente, nos modelos mais típicos de psicoterapia e 
na terapia individual da DBT, em contrapartida, a agenda 
costuma ser definida pelos problemas atuais do paciente. 
Quando os problemas atuais são urgentes, permanecer em 
uma agenda de treinamento de habilidades exige que os 
treinadores assumam um papel muito ativo, controlando 
a direção e o foco da sessão. Muitos terapeutas e treina-
dores de habilidades não são treinados para assumir esse 
papel diretivo; assim, apesar de suas boas intenções, os 
seus esforços no treinamento de habilidades, muitas vezes, 
falham à medida que há uma escalada nos problemas dos 
participantes. A atenção inadequada ao ensino real das 
habilidades e a perda de foco resultante são particularmente 
mais prováveis no treinamento individual de habilidades 
do que no treinamento em grupo.
Até mesmo treinadores bem treinados em estratégias 
diretivas têm grande dificuldade em manter uma agenda 
diretiva quando os participantes têm problemas urgentes ou 
situações de crise e querem ajuda ou conselhos imediatos. 
As inevitáveis crises e o alto nível de dor emocional desses 
pacientes constituem um problema importante e contínuo. 
É difícil para os participantes e, consequentemente, para 
seus treinadores de habilidades, atender a qualquer coisa 
além das crises atuais durante as sessões. É particularmente 
difícil manter o foco nas habilidades quando um participante 
ameaça cometer suicídio ou abandonar o tratamento se o seu 
problema atual não for levado a sério. Levar o problema a 
sério (do ponto de vista do participante) geralmente significa 
28 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
renunciar à agenda do treinamento de habilidades diária em 
favor da resolução da crise atual.
Outros participantes podem exigir menos tempo e 
energia da sessão, mas suas passividade, sonolência, inquie-
tude e/ou falta de interesse no treinamento de habilidades 
podem representar um obstáculo formidável. Em um caso 
desses, é fácil que o terapeuta ou treinador de habilidades 
sinta-se desgastado com o paciente e acabe apenas desistindo 
do esforço, especialmente se o próprio treinador não tiver 
uma convicção firme quanto ao treinamento de habilidades. 
O treinamento de habilidades também pode ser relativamente 
tedioso para aqueles que o fazem se os participantes forem 
pouco, ou nada, responsivos, em especial para os treinadores 
que já têm bastante experiência com outros participantes. 
É como um cirurgião que faz a mesma operação repetidas 
vezes. A flutuação do humor dos pacientes a cada semana, e 
mesmo ao longo de cada sessão do treinamento de habilidades 
(uma característica dos indivíduos que têm problemas para 
regular suas emoções), junto com o interesse vacilante dos 
terapeutas, pode criar o caos nos mais bem delineados planos 
de treinamento de habilidades.
O treinamento de habilidades é difícil com pacientes 
que apresentem múltiplos problemas, dificuldades severas 
para regular suas emoções, crises frequentes ou intenso 
desejo de alterar o comportamento de outra pessoa. Tentar 
conduzir o treinamento de habilidades com indivíduos assim 
é como tentar ensinar uma pessoa a montar uma barraca 
no meio de um furacão. No entanto, também acontece que, 
se os participantes tivessem habilidades mais efetivas em 
seus repertórios, seriam capazes de enfrentar muito mais 
habilmente as situações de crise. O dilema é este: como o 
treinador vai ensinar as habilidades necessárias de enfren-
tamento quando a incapacidade de enfrentamento atual do 
participante é tão grande que ele não é receptivo à aquisição 
de novas respostas comportamentais? No tratamento indivi-
dual, muitas vezes, não há nada além dos dois participantes 
para manter o bom andamento da terapia. Se tanto o paciente 
quanto o treinador de habilidades quiserem fazer alguma 
alteração, eles podem fazê-lo com facilidade.
Manter o bom andamento do treinamento de habi-
lidades também pode ser extremamente difícil quando os 
participantes são amigos e/ou familiares de outras pessoas 
que estão passando por seríssimas dificuldades. Em espe-
cial, esse é o problema quando os participantes são pais ou 
cônjuges/parceiros de indivíduos que correm alto risco de 
suicídio ou estão envolvidos em padrões comportamentais 
disfuncionais, que os participantes estão tendo dificuldades 
extremas em tolerar. Em grupos de amigos e familiares, 
é importantíssimo que os líderes deixem claro durante a 
orientação que o foco do treinamento de habilidades é sem-
pre aumentar as habilidades dos participantes. O foco não 
é mudar as outras pessoas. Isso pode ser um problema em 
especial para qualquer parente que esteja no treinamento, 
sobretudo para obter consultoria sobre como manejar um 
membro da família, com a expectativa de ser capaz de 
ajudar a outra pessoa a mudar. Um problema semelhante 
pode ocorrer quando um membro do grupo insiste em obter 
ajuda para mudar outra pessoa (patrão, empregado, etc.). 
Se a dificuldade for persistente ou estiver interferindo com 
o treinamento de habilidades dos outros, constatamos que 
uma ou duas reuniões de consultoria individual podem ser 
úteis. Claramente, algumas habilidades da DBT visam a 
influenciar os outros. As habilidades de efetividade interpes-
soal na DBT concentram-se em desenvolver comportamentos 
que influenciem os outros, incluindo a assertividade, além 
de habilidades de avaliação e modificação comportamentais, 
como reforço, extinção, inundação e punição, destinadas a 
aumentar ou diminuir os comportamentos dos outros. A linha 
entre esse foco nas habilidades interpessoais dos participan-
tes e na capacidade de influenciar os outros, por um lado, 
e o foco na mudança específica de outros, por outro, pode 
ser imperceptível, mas é importante. Permanecer dialético 
pode ser crucial no manejo dessas duas polaridades.
Por muitas das razões discutidas até aqui, o modo-
-padrão do treinamento de habilidades em DBT é uma in-
tervenção grupal. Em um grupo, outros participantes – ou 
pelo menos o senso de obrigação dos terapeutasem relação 
a eles – mantêm os treinadores de habilidades no curso, 
mesmo quando um indivíduo quiser mudar de rumo. Quando 
um participante no treinamento de habilidades em grupo não 
estiver disposto para aprender as habilidades, outros poderão 
estar. O reforço que esses outros pacientes dão aos treinadores 
para que continuem o trabalho pode ser mais poderoso do 
que a punição dada pelo participante que não está disposto. 
O cerne do problema é o seguinte: o treinamento de 
habilidades com um indivíduo que não percebe logo seus 
benefícios em geral não é reforçador de imediato – nem ao 
participante, nem à pessoa que ensina as habilidades. Para 
muitos indivíduos, não há sensação de alívio imediata, nem 
de solução dos problemas. O treinamento de habilidades 
é como ensinar tênis: o aprendiz geralmente não ganha a 
primeira partida após a primeira aula. Vencer requer prá-
tica, prática e mais prática. Tampouco o treinamento de 
habilidades comportamentais é tão interessante quanto uma 
conversa de “coração para coração” – tópico que discuti no 
Capítulo 12 do principal texto da DBT. O treinamento de 
habilidades requer um trabalho muito mais ativo tanto para 
os pacientes quanto para os terapeutas. Assim, para que o 
treinamento de habilidades individual funcione, precauções 
especiais devem ser tomadas para organizar os eventos, a 
fim de que terapeuta e paciente considerem-no reforçador 
o bastante para continuar.
Treinamento de habilidades individual
Várias circunstâncias podem tornar preferível ou necessário 
conduzir o treinamento de habilidades com um paciente 
individual em vez de em grupo. Em um contexto de prática 
privada ou em uma clínica pequena, talvez não haja mais de 
um paciente precisando do treinamento de habilidades em 
determinada ocasião ou talvez você não consiga organizar 
mais do que uma pessoa de cada vez para o treinamento. 
Alguns pacientes não são apropriados para grupos. Embora, 
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 29
de acordo com minha experiência, isso seja muito raro, um 
paciente que não consegue inibir o seu comportamento 
agressivo ostensivo em direção a outros participantes não 
deve ser colocado em um grupo até que esse comportamento 
esteja sob controle. Em geral, também é preferível tratar 
o transtorno de ansiedade social (fobia social) antes de 
pedir que um paciente participe do grupo de treinamento 
de habilidades. Alguns já podem ter participado do grupo 
de treinamento por um ano ou mais, porém, necessitam de 
atenção adicional focada em uma categoria ou um conjunto 
de habilidades.
Por fim, talvez uma pessoa não seja capaz de com-
parecer às sessões de grupo oferecidas. Em contextos de 
cuidados de saúde primários ou quando o treinamento de 
habilidades for integrado com a terapia individual, as habi-
lidades podem ser ensinadas durante as sessões individuais 
de terapia. Nessas situações, ter as fichas e as fichas de 
tarefas das habilidades prontamente disponíveis facilitará 
que os praticantes individuais apliquem o treinamento de 
habilidades à estrutura do cuidado individual em andamento. 
Nesse caso, o terapeuta pode fazer esforços contínuos para 
incorporar os procedimentos do treinamento de habilidades 
em todas as sessões. Um problema com essa abordagem 
é que as regras não são claras: muitas vezes, não fica apa-
rente ao paciente quais contingências estão operando em 
determinado momento na interação. O paciente que deseja 
focalizar uma solução imediata para uma crise, portanto, 
não tem diretrizes sobre quando é apropriado ou não insistir 
nessa atenção e, assim, ser suscetível a obter reforçamento. 
Esse é um problema para o terapeuta, pois torna-se extre-
mamente difícil manter-se no curso correto. Minha própria 
incapacidade de fazer isso foi um dos fatores importantes 
no desenvolvimento da DBT como ela é hoje.
Uma segunda alternativa é que um segundo terapeuta 
faça o treinamento de habilidades individualmente com cada 
paciente. As regras de comportamento para o paciente e 
para o terapeuta, nesse caso, são claras. Nesse formato, as 
habilidades comportamentais gerais são aprendidas com o 
treinador de habilidades; o manejo das crises e a solução de 
problemas individuais, incluindo a aplicação das habilidades 
aprendidas em crises ou situações-problema específicas, são 
o foco das sessões com o terapeuta principal ou o gestor 
de caso. Essa abordagem parece especialmente vantajosa 
em certas situações. Por exemplo, em nossa clínica univer-
sitária, vários alunos estão ávidos para obter experiência 
em trabalhar com indivíduos com transtornos mentais 
graves e que precisam de terapia de longo prazo, embora 
os estudantes sejam incapazes de se comprometer com a 
terapia individual de longo prazo. Conduzir o treinamento 
de habilidades focado por um período de tempo é uma boa 
oportunidade para esses alunos e, na minha experiência, 
também funciona bem para os pacientes. Essa seria uma 
opção em qualquer contexto de residência ou formação para 
profissionais da área da saúde e de assistentes sociais. Em 
uma prática clínica em grupo, um terapeuta pode conduzir o 
treinamento de habilidades para o outro; uma prática ampla 
pode contratar alguns terapeutas com talentos específicos 
nessa área. O modelo de tratamento, aqui, é um pouco 
semelhante a um clínico geral encaminhar um paciente a 
um especialista para tratamento especializado.
Os terapeutas individuais que não têm ninguém a 
quem encaminhar os pacientes para o treinamento de habi-
lidades ou que desejam fazê-lo por si próprios devem tornar 
o contexto de tal treinamento diferente daquele da psicote-
rapia habitual. Por exemplo, uma reunião semanal separada 
dedicada especificamente ao treinamento de habilidades 
pode ser agendada, ou o treinamento de habilidades e a tera-
pia individual podem se alternar a cada semana. Há uma boa 
probabilidade de que essa última escolha funcione quando 
o paciente não precisa de sessões individuais semanais 
focadas em crises e na solução de problemas. Se possível, 
a sessão de habilidades deve ser conduzida em uma sala 
diferente daquela utilizada para a psicoterapia individual. 
Outras possibilidades incluem trocar cadeiras; reposicionar 
uma mesa ou escrivaninha para perto do terapeuta e do 
paciente (ou entre eles), a fim de nela colocar o material 
do treinamento de habilidades; usar um quadro; aumentar a 
iluminação; realizar sessões de treinamento de habilidades 
em horários diferentes daqueles utilizados para as sessões de 
psicoterapia individual ou por um período de tempo maior 
ou menor; providenciar gravações de áudio ou de vídeo das 
sessões se isso não for feito na psicoterapia individual, ou 
vice-versa; e cobrar de modo diferente. Para um terapeuta 
com um paciente particularmente difícil, a participação em 
um grupo de supervisão/consultoria é importante, a fim de 
manter a motivação e o foco nas habilidades. Uma tarefa 
dos terapeutas individuais é reforçar o uso das habilidades 
para aqueles indivíduos que participam do treinamento em 
grupo, bem como, por assim dizer, “antecipar” o ensino das 
habilidades, conforme necessário. Muitos terapeutas em 
nossa clínica também atribuem tarefas de casa das habili-
dades, relacionadas aos problemas atuais, para os pacientes 
usando as fichas de tarefas do treinamento de habilidades.
Treinamento de habilidades em grupo
A principal vantagem do treinamento de habilidades em 
grupo é sua eficiência. Duas pessoas já podem compor um 
grupo. Em nossa clínica, com pacientes muito disfuncionais, 
tentamos formar grupos com 6 a 8 pessoas. O tratamento 
em grupo tem muito a oferecer, bem mais do que qualquer 
terapia individual. Em primeiro lugar, os terapeutas têm 
a oportunidade de observar e trabalhar com comporta-
mentos interpessoais que aparecem em relacionamentos 
entre pares, mas que só raramenteaparecem em sessões 
de terapia individual. Em segundo lugar, os pacientes têm 
a chance de interagir com outras pessoas como eles, e a 
validação e o desenvolvimento de um suporte do grupo 
resultantes disso podem ser muito terapêuticos. A DBT 
incentiva relacionamentos fora das sessões entre os pacien-
tes do grupo de habilidades, contanto que essas relações 
– incluindo quaisquer conflitos – possam ser discutidas 
dentro das sessões. Em terceiro lugar, os pacientes têm a 
30 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
oportunidade de aprender uns com os outros, aumentando, 
assim, o reforçamento das estratégias terapêuticas. Em 
quarto lugar, os grupos geralmente reduzem a intensidade 
do relacionamento pessoal entre os pacientes individuais e 
os líderes de grupo; em termos dinâmicos, a transferência 
é diluída. Isso pode ser importantíssimo, pois, às vezes, a 
intensidade da terapia gera mais problemas do que soluções, 
no caso de pacientes que têm dificuldades para regular as 
suas emoções. Quinto, se uma norma de praticar habilidades 
entre as sessões pode ser estabelecida, ela pode aumentar 
a prática das habilidades em indivíduos que, por conta 
própria, sejam muito menos propensos a realizar as tarefas 
de casa atribuídas em regime semanal. Por fim, os grupos 
de habilidades oferecem uma oportunidade relativamente 
não ameaçadora para que pacientes individuais aprendam 
como se comportar em grupo.
Em meus programas de pesquisa em andamento sobre 
DBT, temos oferecido uma variedade de programas de 
tratamento diferentes. Em nosso programa DBT standard 
de um ano, os pacientes da terapia individual também 
participam do treinamento de habilidades em grupo. Em 
nosso programa de manejo de casos da DBT de um ano, os 
pacientes têm um gestor de caso da DBT em paralelo ao trei-
namento de habilidades em grupo. Em nosso programa com 
adolescentes, cada jovem visita um terapeuta individual, e 
tanto os pais, ou outros cuidadores, quanto o adolescente 
frequentam o grupo de habilidades. Também oferecemos um 
programa de treinamento de habilidades de seis meses para 
amigos e familiares de indivíduos de convivência difícil ou 
com transtornos mentais graves. Oferecemos um grupo de 
treinamento de habilidades semelhante para os indivíduos 
com desregulação emocional.
Uma série de questões precisam ser consideradas ao 
configurar um grupo de habilidades – se o grupo vai ser 
aberto ou fechado; se vai ser heterogêneo ou homogêneo; e 
quantos líderes ou treinadores o grupo terá e qual será o pa-
pel dessas pessoas. A seguir, são discutidas essas questões.
GRUPOS ABERTOS 
VERSUS GRUPOS FECHADOS
Em um grupo aberto, os novos membros podem entrar 
em uma base contínua. Já um grupo fechado é formado e 
permanece junto por determinado período de tempo, e a 
entrada de novos membros não é permitida após a com-
posição do grupo. A decisão de formar grupos abertos ou 
fechados muitas vezes depende de questões pragmáticas. 
Em muitos contextos clínicos, especialmente as unidades 
de internação, grupos abertos são uma necessidade. Em 
contextos ambulatoriais, no entanto, talvez seja possível 
reunir um número de pessoas que desejem fazer o treina-
mento de habilidades e que concordem em ficar juntas por 
um período de tempo. Se uma opção estiver disponível, 
qual tipo de grupo funciona melhor?
Já experimentei os dois tipos e acredito que grupos 
abertos funcionam melhor para o treinamento de habilida-
des. Existem duas razões para isso. Em primeiro lugar, em 
um grupo fechado, torna-se progressivamente mais fácil 
desviar-se da agenda do treinamento de habilidades. As 
questões processuais frequentemente tornam-se mais proe-
minentes à medida que os membros ficam mais à vontade 
uns com os outros. O grupo como um todo pode começar 
a se afastar do foco na aprendizagem das habilidades com-
portamentais. Embora as questões processuais possam ser 
importantes e não devam ser ignoradas, há uma diferença 
marcante entre um grupo de treinamento de habilidades 
comportamentais e um grupo de processo interpessoal. 
Adicionar periodicamente novos membros no grupo de 
treinamento de habilidades, que esperam aprender novas 
habilidades comportamentais, obriga o grupo a voltar à 
tarefa.
Em segundo lugar, em um grupo aberto, os novos pa-
cientes têm a capacidade de reanimar um grupo ou permitir 
uma mudança de normas, quando necessário. Além disso, 
para indivíduos com dificuldade em relação a mudanças e/ou 
confiança, um grupo aberto dá a oportunidade de aprender 
a enfrentar as alterações em um ambiente relativamente 
estável. Um ritmo de mudança relativamente controlado, 
mas contínuo, permite a exposição terapêutica à mudança 
em um contexto no qual os pacientes possam ser ajudados 
a responder de modo efetivo.
GRUPOS HETEROGÊNEOS 
VERSUS GRUPOS HOMOGÊNEOS
Membros do grupo de treinamento de habilidades em DBT 
em minha clínica são, em grande parte (mas não comple-
tamente), homogêneos no que tange ao diagnóstico. De-
pendendo das necessidades do treinamento de meus alunos 
ou das pesquisas em andamento, restringimos a entrada 
a indivíduos que (1) satisfaçam os critérios diagnósticos 
para TPB; (2) tenham TPB e sejam altamente suicidas; (3) 
tenham TPB com sérios problemas relacionados a raiva; 
(4) tenham TPB e transtornos relacionados a substâncias 
e transtornos aditivos; (5) tenham TPB e TEPT; (6) sejam 
adolescentes suicidas e que os seus pais, ou cuidadores, 
participem juntos do treinamento de habilidades; (7) tenham 
dificuldades importantes de regulação emocional; ou (8) 
sejam amigos ou familiares de indivíduos com transtornos 
mentais graves. Na maioria dos grupos, também permiti-
mos a entrada de um ou dois participantes que estão sendo 
tratados em nossa clínica, mas satisfazem critérios para 
outras psicopatologias (p. ex., transtorno depressivo maior, 
transtornos de ansiedade). 
Os membros do grupo não são particularmente ho-
mogêneos sob outros aspectos. As idades variam de 13 a 
18 anos nos grupos de adolescentes e de acima de 18 anos 
nos outros grupos; alguns grupos incluem indivíduos de 
ambos os sexos. As situações socioeconômica, educacional, 
conjugal e parental variam entre os membros do grupo.
À exceção dos grupos projetados para amigos e fami-
liares e para adolescentes e seus familiares (ou cuidadores), 
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 31
proibimos que parceiros sexuais estejam em um mesmo 
grupo de treinamento de habilidades. Logo no começo, 
os parceiros são colocados em diferentes grupos. Se um 
relacionamento sexual se desenvolve entre dois membros 
de um grupo, temos a regra de que um deles deve se retirar. 
Esses relacionamentos podem criar enormes dificuldades 
para os membros do grupo.
Até agora, para muitos de nossos pacientes, o nosso 
grupo representa sua primeira experiência de estar com 
outros indivíduos e compartilhar dificuldades muito se-
melhantes. Embora, em meu ponto de vista, um grupo 
homogêneo seja uma vantagem para o funcionamento do 
treinamento de habilidades em grupo, a escolha obviamente 
tem seus prós e contras.
Argumentos contra 
um grupo homogêneo
Existe uma série de argumentos bastante fortes contra um 
grupo homogêneo de pacientes que têm transtornos mentais 
graves, incluindo intensa desregulação emocional, compor-
tamentos suicidas ou outros comportamentos que possam 
ser ensinados e reforçados socialmente entre os membros do 
grupo. Primeiro, pode ser arriscado ter um grupo com alto 
risco de suicídio e/ou indivíduos muito impulsivos em um 
contexto ambulatorial. Qualquer tipo de terapia, individual 
ou em grupo, pode ser muito estressante para pacientes com 
desregulação emocional. A extrema reatividade emocional 
garante que emoções intensas serão despertadas, exigindo 
manejo terapêutico hábil. Um terapeuta precisa ser muitobom em ler os sinais não verbais e as comunicações verbais 
indiretas, bem como em responder a eles – tarefa difícil 
até mesmo nas melhores circunstâncias. Os comentários 
terapêuticos podem ser mal-interpretados ou interpretados 
de forma não desejada pelo terapeuta. Do mesmo modo, 
comentários insensíveis podem ter forte impacto.
Esses problemas são agravados na terapia de grupo. 
É impossível, para os terapeutas, acompanhar e responder 
individualmente as respostas emocionais de cada membro 
do grupo durante as sessões. Com mais pacientes e com 
um ritmo mais rápido do que na terapia individual, existem 
mais oportunidades para que os terapeutas cometam erros 
e façam comentários insensíveis, bem como para que os 
pacientes interpretem mal o que está acontecendo. Além 
disso, é mais difícil para as pessoas expressarem suas rea-
ções emocionais a um terapeuta de grupo na frente de outros 
membros do grupo. Assim, a possibilidade de os pacientes 
saírem da sessão perturbados, com respostas emocionais 
com as quais não conseguem lidar, é muito maior na terapia 
em grupo do que na individual.
Um segundo inconveniente relacionado a grupos ho-
mogêneos tem a ver com a tendência de os pacientes com 
elevados problemas de regulação emocional tornarem-se 
emocionalmente envolvidos com os problemas e as tragé-
dias dos outros. Eles, muitas vezes, se tornam ansiosos, 
irritados, deprimidos e sem esperança, não só com relação 
aos problemas nas suas próprias vidas, mas em relação aos 
problemas das pessoas que lhes são próximas. Assim, o 
simples fato de ouvir as descrições das vidas dos outros já 
pode precipitar respostas emocionais intensas e dolorosas. 
Essa também tem sido uma questão muito difícil para os 
membros da nossa equipe; também somos obrigados a ouvir 
histórias dolorosas de nossos pacientes uma após a outra. 
Imagine o quanto isso fica mais difícil para os indivíduos 
que têm pouca capacidade de modular suas respostas a 
informações emocionalmente carregadas.
Outro argumento contra grupos homogêneos que têm 
dificuldade para regular suas emoções ou seus impulsos 
baseia-se na noção de que, nesse tipo de grupos, não ha-
verá ninguém para modelar comportamentos apropriados e 
adaptativos – ou, da mesma forma, haverá ampla modelação 
de comportamentos inadequados. Eu simplesmente não 
constatei que isso aconteça. Na verdade, cada vez mais me 
espanto com a capacidade de nossos pacientes de ser úteis 
uns aos outros no enfrentamento dos problemas da vida. 
Em difíceis protocolos de terapia, como procedimentos 
baseados em exposição, não é incomum que os pacientes 
se ajudem a enfrentar o tratamento. A única área em que 
uma ausência de modelação apropriada parece existir é no 
manejo de emoções negativas extremas. Especialmente com 
indivíduos suicidas em início do tratamento, muitas vezes, 
é necessário que os líderes do grupo assumam boa parte 
da responsabilidade pela modelação de como lidar com 
as emoções negativas de forma não suicida (ver Cap. 5).
Um quarto argumento contra grupos homogêneos 
– particularmente com indivíduos que têm TPB ou trans-
torno depressivo maior – tem a ver com sua passividade, 
sua capacidade de “incorporar” o estado de ânimo e os 
comportamentos dos outros, bem como sua incapacidade 
de agir de forma independente do humor. A modelação 
(“contágio”) do comportamento suicida pode ser um pro-
blema particularmente difícil. Às vezes, se um membro 
do grupo vem para uma sessão desanimado ou deprimido, 
todos os membros do grupo em breve se sentem da mesma 
forma. Se os líderes de grupo não forem cuidadosos, até 
mesmo eles podem afundar junto com os pacientes. Uma 
das razões pelas quais temos dois líderes para cada grupo 
em nossa clínica é que, quando isso acontece, cada terapeuta 
terá alguém para manter seu funcionamento em um nível 
de energia adequado para enfrentar as demandas do grupo. 
Isso pode ser dificílimo.
Por fim, às vezes, diz-se que algumas populações (p. ex., 
adolescentes ou pessoas com TPB) são mais propensas a 
“buscar atenção” do que outras, e que essa tendência será 
prejudicial a qualquer processo grupal. Mais uma vez, não 
constatei nada que confirmasse essa hipótese.
Argumentos a favor 
de um grupo homogêneo
No meu ponto de vista, existem dois argumentos poderosos 
para um grupo homogêneo. Primeiro, a homogeneidade 
32 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
permite que os líderes de grupo ajustem as habilidades e os 
conceitos teóricos que oferecem aos problemas específicos 
dos membros do grupo. A maioria das habilidades ensinadas 
se aplica a muitas populações de pacientes. No entanto, um 
grupo heterogêneo exige uma apresentação muito mais gené-
rica das habilidades, e a aplicação delas aos problemas cen-
trais de cada pessoa precisa ser trabalhada individualmente. 
Com um grupo homogêneo, podem ser dados exemplos que 
refletem seus problemas e suas situações específicas. Seria 
difícil apresentar um esquema conceitual comum em um 
grupo heterogêneo, a menos que fosse muito geral.
Um segundo argumento para um grupo homogêneo é a 
oportunidade de que os pacientes convivam com indivíduos 
que compartilham problemas e preocupações similares. 
Na minha experiência, essa é uma experiência validante 
muito poderosa para os pacientes. Muitos têm participado 
de outros grupos, mas não tiveram a experiência de convi-
ver com gente parecida. Pessoas com TPB e com outros 
transtornos mentais graves podem, enfim, encontrar outras 
que realmente compreendam seus impulsos de ação muitas 
vezes inexplicáveis de se autolesionar, o desejo de morrer, 
a incapacidade de regular a raiva, o impulso de usar drogas, a 
incapacidade de sair de um humor deprimido, a frustração 
de ser incapaz de controlar as emoções e o comportamento, 
bem como a dor de experiências emocionalmente invali-
dantes. Os adolescentes têm encontrado outros jovens que 
compreendem suas dificuldades com os pais, ou com os 
cuidadores, a dor de sofrer bullying, seu intenso desejo por 
aceitação e suas crenças de que não são aceitos. Em um 
grupo de amigos e familiares, os pacientes compartilham a 
dor de ter as pessoas amadas sofrendo e a frequente sensação 
de desespero e desamparo.
Um fator que pode complicar a vantagem de ter 
um grupo inteiro de pessoas com o mesmo transtorno ou 
problema tem a ver com as diferentes taxas de progresso 
individual no tratamento. Quando um paciente está se 
envolvendo em comportamentos disfuncionais, é muito 
validante ter outros membros do grupo lutando contra o 
mesmo problema. No entanto, uma vez que o paciente 
quebra essa disfuncionalidade, pode ser muito difícil para 
ele se os outros ainda estiverem envolvidos nos mesmos 
comportamentos. Ouvir falar sobre o comportamento fora 
de controle dos outros parece causar uma vontade maior de 
fazer a mesma coisa; claro, essa é uma experiência amea-
çadora para uma pessoa que está trabalhando arduamente 
em evitar padrões disfuncionais de comportamento. Além 
disso, constatamos que, à medida que os pacientes progri-
dem no tratamento, eles, muitas vezes, começam a mudar 
sua autoimagem daquela de “pessoa com um transtorno” 
para aquela de “pessoa normal”. Especialmente se forem 
muito críticos, eles podem achar muito difícil permanecer 
em um grupo definido como um grupo de indivíduos com 
transtornos mentais graves. Essas duas questões – o impulso 
de imitar o comportamento disfuncional e a necessidade de 
mudar a autoimagem de “disfuncional” para “não disfun-
cional” – devem ser manejadas com eficácia pelos líderes 
de grupo para que o indivíduo continue no grupo.
ESCLARECENDO OS PAPÉIS 
DOS TERAPEUTAS
Líderes do grupo de habilidades
Em grupos de DBT standard, utilizamos o modelo de um 
líder de grupo principal e um colíder. As funções dos dois, 
durante uma sessão normal, diferem. O líder principal co-
meça asreuniões, conduz as análises comportamentais 
iniciais das práticas de tarefa de casa e apresenta o novo 
material sobre as habilidades. Ele também é responsável 
por controlar o tempo da sessão, indo de pessoa em pes-
soa, conforme o tempo disponível. Assim, o líder principal 
do grupo tem a responsabilidade geral pela aquisição das 
habilidades.
As funções do colíder são mais diversificadas. Pri-
meiro, ele controla as tensões que surgem entre os mem-
bros e o líder principal, proporcionando um equilíbrio 
a partir do qual uma síntese pode ser criada. Segundo, 
enquanto o líder principal está focado no grupo como um 
todo, o colíder mantém o foco em cada membro individual, 
observando toda e qualquer necessidade de atenção indi-
vidual, seja abordando-a diretamente durante as sessões 
de grupo, se ja consultando o líder principal nos intervalos. 
Terceiro, o colíder atua como um professor auxiliar e tutor, 
oferecendo explicações alternativas, exemplos e assim por 
diante. O colíder pode mudar de lugar no círculo do grupo, 
conforme a necessidade, para auxiliar os participantes a 
encontrarem as fichas ou fichas de tarefas certas, bem como 
fornecer o apoio necessário. O colíder é, muitas vezes, 
a pessoa que mantém o controle sobre a atribuição das 
tarefas de casa. Isso é especialmente importante quando 
tarefas individuais especiais são atribuídas a um ou mais 
participantes do grupo. Nesses casos, o colíder também é 
o encarregado de recordar as várias tarefas.
Em geral, se existe um “vilão”, este é o líder principal, 
que impõe as normas ao grupo; se há um “mocinho”, é o 
colíder, que sempre tenta ver a vida do ponto de vista da pes-
soa que está “por baixo”. Com frequência, em uma reunião 
de grupo, a pessoa que está “por baixo” é um membro do 
grupo; assim, emerge a imagem de “mocinho” para o colí-
der. Contanto que os dois líderes mantenham a perspectiva 
dialética do todo, essa divisão de trabalho e funções pode 
ser muito terapêutica. Obviamente, para que isso funcione, 
é necessário um nível de segurança pessoal por parte de 
ambos os terapeutas.
Aqui, as estratégias de consultoria em DBT podem 
ser especialmente importantes. A equipe de consultoria da 
DBT atua como a terceira base desse tripé que proporciona 
o equilíbrio dialético entre os dois colíderes, assim como o 
colíder faz entre o líder principal e um membro do grupo 
em uma sessão grupal. Desse modo, a função da equipe de 
consultoria da DBT é realçar a verdade em cada lado de uma 
tensão expressada, promovendo a reconciliação e a síntese.
Ao longo dos anos, muitas equipes de DBT tentaram 
me convencer que, no treinamento de habilidades, um único 
líder já seria o suficiente para a maioria dos grupos. Ainda 
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 33
não estou convencida. Com indivíduos que possuem des-
regulação emocional muito intensa e/ou com alto risco de 
suicídio, um colíder é inestimável como a figura que pode 
sair da sala, se necessário, para impedir uma pessoa que 
esteja francamente suicida de executar uma ameaça de 
suicídio; sair e pegar gelos para um paciente com extrema 
ativação/excitação emocional; validar uma pessoa que se 
sente atacada pelo líder; ou acompanhar alguém durante 
um intervalo, enquanto o líder acompanha outra. Em um 
grupo de habilidades multifamiliar, o colíder pode treinar 
o adolescente enquanto o líder incita o pai, a mãe ou um 
cuidador responsável a praticar suas habilidades com o 
jovem. Em grupos de amigos e familiares, bem como na-
queles em que os participantes não apresentem transtornos 
mentais identificados, é surpreendente o quão útil a figura 
do colíder pode ser na mediação das questões de processo 
que muitas vezes surgem. Em suma, gerenciar um grupo 
no treinamento de habilidades é uma tarefa complexa. 
Por fim, nada substitui a presença de um observador ao 
comportamento e às habilidades de alguém na condição 
de líder ou colíder do grupo. Por exemplo, devido ao meu 
cronograma de trabalho e a um do grupo de treinamento 
de habilidades que ocorria à noite, eu presidia as sessões 
de grupo na condição de líder principal com pouquíssimo 
ânimo, aparência cansada e parecendo desinteressada. Na-
turalmente, isso não é nada auspicioso para o sucesso de 
uma sessão de treinamento de habilidades. Minha colíder 
me alertou sobre isso, e nós elaboramos um plano para me 
“turbinar” a cada semana (beber uma coca-cola bem gelada 
antes da sessão de grupo). Agora, minha colíder não só 
me lembra disso a cada semana, mas também me dá um 
feedback nos intervalos, caso eu precise fazer um esforço 
maior para me “reanimar”.
Treinadores de habilidades 
em sessões individuais
No treinamento de habilidades em sessões individuais, 
o treinador exerce o papel do líder das habilidades e do 
colíder, conforme descrito na seção anterior. No trabalho 
individual, é extremamente importante que o treinador de 
habilidades não se desvie do papel de ensinar as habilida-
des, equilibrando o ensino com a necessária antecipação 
de fatores que interferem na solução de problemas que 
possam surgir na aprendizagem e no uso das habilidades. 
Embora esse treinador em sessões individuais não seja 
um terapeuta individual, é conveniente que ele sugira 
habilidades específicas aos problemas apresentados pe-
los pacientes, tais como ação oposta quando o paciente 
está evitando algo ou antecipação quando o sujeito tem 
medo de fracassar em algo. Posto isso, é importante que 
um treinador de habilidades em sessões individuais não 
cometa o equívoco de desempenhar o papel de um te-
rapeuta individual. A melhor maneira de evitar isso é 
sempre manter em mente o mantra: “Quais habilidades 
você pode usar?”.
Terapeutas individuais da DBT
Um terapeuta individual para uma pessoa em treinamento 
de habilidades é o principal provedor do tratamento e, as-
sim, é o responsável pelo planejamento global de todo 
o processo terapêutico; pelo manejo de crises, incluindo 
as crises suicidas; por realizar o coaching telefônico e 
receber os telefonemas de crise, conforme o necessário, 
ou organizar que outro provedor receba essas ligações; 
e por tomar decisões sobre modificações no tratamento, 
incluindo a quantidade de ciclos completos no treinamento 
de habilidades que o paciente deve participar, se a obtenção 
de um nível maior de cuidados é necessária, e assim por 
diante. Exceto em uma crise para evitar ferimentos graves 
ou morte, os treinadores de habilidades delegam o manejo 
de crises para os terapeutas individuais.
A tarefa do terapeuta com um indivíduo que estiver 
em treinamento de habilidades também inclui a aplicação 
das “lentes” das habilidades comportamentais para ajudar 
os pacientes a criar soluções para os seus problemas. Com 
efeito, ao confrontar o problema de um paciente, um tera-
peuta individual bem treinado pode encontrar uma abor-
dagem para a solução do problema usando as habilidades 
de cada módulo. Assim, quando a tolerância ao mal-estar 
for o módulo de tratamento atual (ou o terapeuta desejar 
que o paciente pratique uma habilidade de tolerância ao 
mal-estar), os problemas podem ser vistos como aqueles 
nos quais tal tolerância é necessária. Se a efetividade inter-
pessoal estiver em foco, uma possibilidade é que o terapeuta 
individual pergunte como o problema (ou a solução) pode 
estar relacionado com as ações interpessoais. Em geral, 
os problemas se tornam “problemas” porque os eventos 
estão associados com respostas emocionais aversivas; uma 
solução pode ser o paciente trabalhar para modificar as 
respostas emocionais a uma situação. Uma resposta eficaz 
também pode ser desenvolvida em termos de aceitação 
radical ou das habilidades centrais de mindfulness.
Gestores de caso da DBT*
Se um paciente não tiver nenhum psicoterapeuta individual, 
um gestor de caso da DBT é o principal provedor e setorna 
responsável por todas as tarefas supradescritas para o tera-
peuta individual. Além disso, embora tanto psicoterapeutas 
quanto gestores de caso focalizem a avaliação clínica, o 
planejamento e a solução de problemas, os gestores de 
caso são normalmente mais ativos em facilitar o cuidado no 
ambiente cotidiano do paciente. Assim, o papel desse gestor 
inclui também a identificação dos recursos de serviços, a 
comunicação ativa com os provedores de serviços, a coor-
denação dos cuidados e a escolha de opções e serviços para 
atender às necessidades do indivíduo e da família. Nesse 
* N. de R. T.: A figura do gestor de caso não é tão comum no Bra-
sil como nos Estados Unidos.
34 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
papel, o gestor de caso não só ajuda a identificar os prove-
dores e as instalações apropriadas ao longo do continuum de 
serviços, mas também trabalha ativamente com o paciente 
para garantir que os recursos disponíveis estão sendo usados 
de maneira oportuna e econômica. Em suma, em contraste 
com um terapeuta individual da DBT, um gestor de caso 
faz muito mais intervenções ambientais. Porém, a tarefa do 
gestor em DBT é mover-se mais ao centro e aumentar o uso 
das estratégias de “consultoria ao paciente” (ver adiante). 
Aqui, a ideia é treinar os indivíduos a participar ativamente 
nas tarefas que, em geral, os gestores de caso fazem para os 
pacientes – em outras palavras, ensiná-los a pescar, em vez 
de pegar o peixe para eles. Portanto, a obtenção de êxito 
nesse caso depende de treinar os pacientes nas habilidades 
necessárias de efetividade interpessoal, regulação emocio-
nal, tolerância ao mal-estar e mindfulness.3
Enfermeiros e auxiliares 
de enfermagem da DBT
O papel principal dos enfermeiros e dos auxiliares de 
enfermagem é gerenciar as contingências nas unidades 
de internação e residenciais, prover coaching para os pa-
cientes no uso das habilidades da DBT, bem como usá-las 
para solucionar problemas e dificuldades. O papel deles 
no fortalecimento e na generalização das habilidades é, 
muitas vezes, crucial em programas de tratamento baseados 
em comunidades terapêuticas. Em geral, esses provedores 
fazem uso extensivo da habilidade de análise em cadeia (ver 
Cap. 6), para auxiliar os pacientes a entenderem os fatores 
que desencadeiam e controlam os seus comportamentos na 
situação em que estes ocorrem. A partir dessa análise, um 
enfermeiro ou auxiliar de enfermagem consegue fornecer 
sugestões mais eficazes para uma resposta mais hábil ou 
pode intervir com maior clareza nas contingências que 
envolvem o comportamento.
Farmacoterapeutas da DBT
As funções principais de um farmacoterapeuta (seja psi-
quiatra ou nurse practitioner)* são fornecer medicamentos 
com base em evidências adaptados às necessidades de cada 
paciente e monitorar a conformidade com o regime de medi-
cação prescrita, bem como os resultados e efeitos colaterais. 
Outra tarefa essencial do farmacoterapeuta em DBT é, 
sempre que possível, treinar o paciente em habilidades 
relevantes. As habilidades na DBT destinadas a tratar de 
doenças físicas, como insônia, pesadelos, má nutrição, efei-
tos de drogas e álcool e falta de exercícios, podem parecer 
* N. de R. T.: No Brasil, não temos esse tipo de profissional da 
enfermagem. Nos Estados Unidos, essa categoria de enfermagem 
possui licença de prescrever medicamentos, função que, no Brasil, 
só pode ser realizada por um médico; neste caso, um psiquiatra.
mais adequadas nesses casos, mas é igualmente importante 
focalizar o vasto leque de outras habilidades da DBT. Como 
outros provedores, o farmacoterapeuta (exceto nas emergên-
cias) também transfere a intervenção de crise ao provedor 
principal (terapeuta individual ou gestor de caso); contudo, 
até que isso ocorra, pergunta-se com frequência: “Quais 
habilidades você pode usar até controlar o paciente?”. Em 
alguns contextos, quando não há nenhum terapeuta indivi-
dual ou gestor de caso, o farmacoterapeuta da DBT assume 
o papel de principal provedor do tratamento responsável 
pelas tarefas supradescritas. Em outros contextos, particu-
larmente quando o contato com o farmacoterapeuta não é 
muito frequente e não se sabe se o paciente tem transtornos 
mentais graves, o líder das habilidades assume o papel de 
terapeuta principal. É importante que essas funções sejam 
discutidas e esclarecidas nas equipes de DBT.
Responsabilidades dos treinadores 
de habilidades com os terapeutas 
individuais do tratamento
A capacidade de aplicar qualquer uma das habilidades com-
portamentais a qualquer situação problemática é, ao mesmo 
tempo, importante e muito difícil. Os terapeutas individuais 
devem conhecer minuciosamente as habilidades comporta-
mentais e ser capazes de pensar rápido em uma sessão ou 
em uma crise. Considerando esse papel do terapeuta indi-
vidual, é responsabilidade dos treinadores de habilidades 
se certificar de que ele tenha acesso às habilidades que o 
paciente está aprendendo. Quando um terapeuta individual 
não está familiarizado com as habilidades que estão sendo 
ensinadas, a solução é fazer o possível para informá-lo. Em 
geral, essa informação, junto com o atendimento e qualquer 
outra informação clínica importante, é fornecida a todos 
os terapeutas nas reuniões semanais da equipe de DBT. As 
estratégias para isso são discutidas a seguir.
Consultoria entre os 
terapeutas individuais da DBT 
e os treinadores de habilidades
A comunicação entre os terapeutas individuais da DBT e os 
treinadores de habilidades é extremamente importante. Se as 
expectativas de cada grupo de terapeutas em relação ao outro 
não forem verbalizadas e revisadas com frequência, é muito 
provável que um tratamento não aprimore o outro. Entre 
os aspectos mais importantes da DBT, estão as estratégias 
da equipe de consultoria da DBT (descritas no Cap. 13 
do principal texto da DBT). Essas estratégias exigem que 
todos os terapeutas se reúnam de modo rotineiro. As metas 
dessas reuniões são compartilhar informações e manter os 
terapeutas dentro do escopo da DBT.
Na minha clínica, é realizada uma reunião de consul-
toria por semana com a duração de 1-1,5 hora. Durante o 
encontro, os treinadores de habilidades explicam à equipe 
Planejamento para conduzir o treinamento de habilidades em DBT • 35
quais habilidades são o foco atual das sessões de grupo. 
Quando necessário, eles realmente ensinam as habilidades 
aos outros membros da equipe. Nesse contexto, é útil, para 
os pacientes, que seus terapeutas individuais e treinadores 
de habilidades compartilhem uma linguagem comum ao 
discutir a aplicação das habilidades comportamentais. Isso 
também diminui o potencial para gerar confusões. Embora 
a consistência e a conformidade entre os vários agentes de 
tratamento não sejam particularmente valorizadas na DBT, 
essa consistência pode ser útil aqui, pois o número de novas 
habilidades a se aprender é muito grande. Os encontros 
semanais aumentam esse compartilhamento. Além disso, 
são mencionados quaisquer problemas que os pacientes 
individuais possam ter na aplicação das habilidades e/ou na 
interação durante os encontros em grupo para o treinamento 
de habilidades. O terapeuta individual consulta os treina-
dores de habilidades e leva em conta essas informações no 
planejamento do tratamento individual.
Minha ênfase sobre a importância das reuniões entre 
os terapeutas individuais e os treinadores de habilidades 
pode parecer contraditória em relação às estratégias de 
“consultoria ao paciente”, que também são parte integral 
da DBT. Primeiro, devo salientar que essas estratégias de 
consultoria exigem que os terapeutas da DBT andem sobre 
uma linha muito estreita. As questões são um tanto com-
plexas. Quando a unidade terapêutica é definida como um 
grupo de pessoas, tal como uma equipe de DBT, uma clínica,uma unidade de internação ou alguma entidade em que 
vários terapeutas interagem e tratam pacientes específicos 
em um único programa de tratamento coordenado, então 
a consultoria entre terapeutas é essencial, desde que os 
pacientes sejam informados sobre ela e consintam com essa 
colaboração. Aplicar as estratégias de consultoria nesses 
casos simplesmente requer que os terapeutas se abstenham 
de interferir uns com os outros em prol de um paciente. 
Assim, os terapeutas devem ser cuidadosos para não cair na 
armadilha de servir como intermediários para um paciente. 
(Consulte, no Cap. 13 do principal texto da DBT, uma 
discussão das estratégias de consultoria ao paciente; elas 
também são discutidas brevemente no Cap. 5 deste livro.)
Quando o terapeuta individual 
é um treinador de habilidades
Não raro, os treinadores de habilidades também são os 
terapeutas individuais ou gestores de caso para alguns dos 
pacientes no grupo de habilidades. Com menos frequência, 
um farmacoterapeuta também pode ser um treinador de 
habilidades para seus pacientes. Em qualquer um desses 
casos, é importante manter os papéis claros. Em outras 
palavras, quando alguém estiver ensinando as habilidades, 
é importante concentrar-se nelas e esperar o término da 
sessão para voltar a desempenhar o outro papel. Isso não 
ocorre apenas devido às restrições de tempo em uma aula 
de habilidades, mas também pelo fato de que, tão logo os 
treinadores de habilidades começam a manejar crises, os 
pacientes individuais (em especial, aqueles cujas vidas 
envolvem crises constantes) são propensos a suscitar mais 
crises para discutir e solucionar. Concentrar-se na aprendi-
zagem de novos comportamentos pode exigir um esforço 
bem maior do que se recostar e debater as crises da vida.
TREINAMENTO DE HABILIDADES EM DBT 
FORA DA DBT STANDARD
A DBT standard combina o treinamento de habilidades com 
a terapia individual ou gestão de caso intensiva, além de 
coaching telefônico pelo terapeuta individual e encontros 
semanais da equipe de tratamento. Quando o treinamento 
de habilidades em DBT é oferecido sem o componente do 
terapeuta individual, algumas modificações na sua condução 
podem ser necessárias. Por exemplo, sem um terapeuta 
individual, talvez os treinadores de habilidades decidam 
fornecer coaching por telefone, mensagem de texto ou 
e-mail entre as sessões. Também pode haver uma ênfase 
maior no uso dos aplicativos para coaching por smartphone 
da DBT, bem como outros aplicativos e sites da DBT. (Para 
localizar essas ferramentas, digite “DBT self-help” em seu 
mecanismo de buscas.) Às vezes, os treinadores de habili-
dades podem oferecer sessões de consultoria individual aos 
membros do grupo. Isso pode ser particularmente necessário 
em grupos para amigos e familiares, às vezes, quando os 
membros do grupo estão muito perturbados devido a um 
amigo ou parente e querem e precisam de mais coaching 
no uso das habilidades do que é possível em uma única 
sessão de grupo.
Esclarecendo os papéis dos 
terapeutas individuais versus 
os papéis dos treinadores de 
habilidades em crises suicidas
A DBT standard – incluindo terapia individual, treinamento 
de habilidades, coaching/intervenção de crise por telefone 
conforme necessário e a equipe de consultoria da DBT – 
foi projetada especificamente para indivíduos altamente 
suicidas com alta desregulação emocional. A redução de 
comportamentos suicidas e outros comportamentos mal-
-adaptativos não é a meta imediata do treinamento de habi-
lidades em DBT. Em vez disso, esse treinamento é focado 
em ensinar habilidades gerais que os pacientes possam aplicar 
aos problemas de sua vida atual. A aplicação dessas habilidades 
ao comportamento suicida atual, a comportamentos que in-
terferem com o progresso da terapia (exceto aqueles que 
interferem com o treinamento de habilidades) e a outros 
comportamentos muito disfuncionais não é necessariamente 
almejada pelos treinadores de habilidades. 
Na verdade, como será discutido mais adiante, a dis-
cussão de comportamentos autolesivos, de uso de substân-
36 • Introdução ao treinamento de habilidades em DBT
cias e quaisquer outros que possam gerar modelação nos 
outros membros do grupo, é ativamente desencorajada no 
treinamento de habilidades. Relatos de ideação suicida, 
comportamento autolesivo prévio e outros comportamentos 
mal-adaptativos ou que interferem na terapia – incluindo 
problemas extremos com o treinamento de habilidades – 
costumam ser transferidos para os terapeutas individuais, 
sobretudo devido às limitações de tempo na condução do 
treinamento de habilidades. 
Os problemas com a manutenção dessa orientação do 
treinamento de habilidades surgem quando um terapeuta 
individual envia seus pacientes ao treinamento de habilida-
des por conta dos consistentes dados que demonstram que 
a DBT é uma intervenção eficaz para indivíduos altamente 
suicidas. Nossos colegas terapeutas que não praticam a 
DBT sabem que os terapeutas treinados em DBT possuem 
treinamento também na avaliação e no manejo de compor-
tamentos suicidas. Assim, um “terapeuta não DBT” pode, 
equivocadamente, confiar a um treinador de habilidades em 
DBT o manejo de comportamentos suicidas de alto risco, ao 
menos quando o treinador de habilidades estiver presente 
ou disponível por telefone. Infelizmente, da mesma forma, 
o terapeuta do treinamento de habilidades em DBT confia 
que o terapeuta individual assumirá essa responsabilidade. 
Em certos casos, um treinador de habilidades em DBT, se 
não estiver treinado em DBT como um tratamento integral, 
talvez nem seja treinado no manejo de comportamentos 
suicidas. E aí reside o problema: os treinadores de habili-
dades ensinam habilidades.
Manejando o trabalho 
com pacientes de terapeutas 
individuais fora da DBT
Quando um paciente estiver em terapia (ou em gestão de 
caso) com um terapeuta que não utilize a DBT, é particu-
larmente importante para o(s) treinador(es) de habilidades 
estabelecer um acordo muito claro com o terapeuta indi-
vidual. Na minha clínica, só concordamos em aceitar um 
paciente com alto risco de suicídio e/ou com transtornos 
mentais graves se o seu terapeuta individual concordar com 
os itens a seguir:
1. O terapeuta principal ou um terapeuta individual de apoio 
designado deve concordar em resistir à tentação de confiar 
no treinador de habilidades para conduzir as intervenções 
destinadas a reduzir os comportamentos suicidas atuais e 
quaisquer outros que sejam gravemente disfuncionais. Isso 
significa que o terapeuta individual deve concordar em estar 
disponível para ligações telefônicas de crise do treinador 
de habilidades e/ou do paciente durante e após as sessões 
do treinamento. Esse acordo destina-se a assegurar que o 
terapeuta individual, em vez do treinador de habilidades, 
tome as decisões de tratamento sobre o paciente quando 
surgem problemas ou crises. Em essência, o treinador de 
habilidades liga para o terapeuta individual caso uma crise 
surja e, depois, segue as indicações do tratamento. Essa 
política baseia-se na presunção de que o terapeuta indivi-
dual conhece o paciente muito melhor do que o treinador 
de habilidades, e que esse conhecimento é essencial nas 
tomadas de decisão sobre o manejo das crises. O terapeuta 
individual deve estar ciente dessa política, assim como 
precisa estar disposto a ser responsável pela gestão do tra-
tamento e pelas tomadas de decisão a esse respeito. Embora 
um treinador de habilidades possa garantir que um paciente 
realmente chegue ao serviço de atendimento de emergência 
do hospital local, isso é muito diferente de tomar a decisão 
de enviá-lo. Uma exceção a essa política é feita quando um 
paciente está altamente suicida e o treinador de habilidades 
acredita ser necessário tratamento médico ou avaliação de 
emergência para internação hospitalar,

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