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Corpus et Scientia 89 ISSN 1981-6855 REABILITAÇÃO CARDÍACA APÓS INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO: REVISÃO SISTEMÁTICA Monique Suelen de Moura e Silva * Juliana Flávia Oliveira ** As cardiopatias representam 76% dos óbitos no mundo (BERRY; CUNHA, 2010). No Brasil, a doença arterial coronariana é a segunda maior causa de morte e o infarto agudo do miocárdio (IAM) é a principal causa isolada de morte entre as doenças não transmissíveis (BERRY; CUNHA, 2010). O monitoramento e o controle dos fatores de risco cardíaco são fundamentais para os programas de prevenção e intervenção através da reabilitação cardíaca (RC). Com o objetivo de sintetizar informações sobre a RC com enfoque nos protocolos de exercícios e sua contribuição para a recuperação após IAM, foi realizada uma revisão sistemática na literatura científica nos bancos de dados LILACS e SciELO, utilizando as palavras-chave exercícios, reabilitação cardíaca, doença coronariana, fisioterapia e infarto agudo do miocárdio. Foram incluídos estudos observacionais e ensaios clínicos que abordavam a Reabilitação Cardíaca após IAM, publicados em português, no período de janeiro de 2002 a outubro de 2012. Foram excluídos artigos que não abordassem a RC após IAM, artigos de revisão e não experimentais. Inicialmente foram selecionados 50 artigos que abordavam a RC, destes, 28 foram excluídos conforme critérios de exclusão. Como resultados, após busca nas bases de dados com as palavras-chave descritas, foram encontrados 50 artigos, entretanto, somente 22 foram considerados potencialmente relevantes. Após a leitura destes, somente sete estudos preencheram os critérios de inclusão. Pode-se concluir que a reabilitação cardíaca promove melhora da capacidade funcional, bem como da qualidade de vida dos cardiopatas, em especial após IAM. Palavras-chave: Reabilitação. Exercícios. Reabilitação cardíaca. Fisioterapia. Infarto agudo do miocárdio. * Aluna de graduação em Fisioterapia do Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) ** Doutora em Ciências Médica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação no Centro Universitário Augusto Motta (UNISUAM) julianaflavia@unisuamdoc.com.br RESUMO Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 90 ISSN 1981-6855 CARDIAC REHABILITATION AFTER ACUTE MYOCARDIAL INFARCTION: SYSTEMATIC REVIEW Heart diseases account for 76% of deaths in the world (BERRY; CUNHA, 2010). In Brazil, coronary artery disease is the second leading cause of death and acute myocardial infarction (AMI) is the single leading cause of death among non-communicable diseases (BERRY; CUNHA, 2010). The monitoring and control of cardiac risk factors are key to prevention programs and intervention through cardiac rehabilitation (CR). In order to synthesize information on the RC with a focus on exercise protocols and their contribution to recovery after AMI. Therefore we performed a systematic review of scientific literature in the databases LILACS and SciELO using the keywords exercise, cardiac rehabilitation, coronary artery disease, physical therapy and acute myocardial infarction. We included observational studies and clinical trials that addressed the Cardiac Rehabilitation after AMI, published in Portuguese, from January 2002 to October 2012. We excluded articles that did not cover the CR after AMI, review articles and not experimental. Initially we selected 50 articles that addressed the RC, of these, 28 were excluded as exclusion criteria. As a result, after searching the databases using the keywords described, 50 articles were found, however, only 22 were considered potentially relevant. After reading these, only seven studies met the inclusion criteria. It can be concluded that promotes cardiac rehabilitation improves functional capacity and quality of life of cardiac patients especially after AMI. Keywords: Rehabilitation. Exercises. Cardiac rehabilitation. Physiotherapy. Acute myocardial infarction. 1 INTRODUÇÃO As doenças cardiovasculares são responsáveis por 76% de óbitos no mundo. No Brasil a doença arterial coronariana representa a segunda maior causa de morte, ficando abaixo apenas da doença vascular cerebral (BERRY; CUNHA, 2010). A cardiopatia pode evoluir em gravidade pela manifestação de sinais e sintomas e por fatores de risco como história familiar de doença coronariana, angina, hipertensão arterial, insuficiência valvar, infarto agudo do miocárdio (IAM), tabagismo, estilo de vida sedentária, estresse, obesidade e diabetes melittus (SANTOS-FILHO, 2010). A alta incidência de doença coronariana vem se tornando questão relevante para a saúde pública mundial e a comunidade científica, em que as estimativas de óbitos para o ano de 2020 ABSTRACT Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 91 ISSN 1981-6855 superam 40 milhões (BERRY; CUNHA, 2010; CASTINHEIRAS-NETO et al. 2008; SANTOS-FILHO, 2010). Dentre as doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, o IAM consiste na principal causa isolada de óbitos (BERRY; CUNHA, 2010). Clinicamente, o tratamento de coronariopatas visa a diminuição de eventos cardíacos, manutenção ou recuperação da função ventricular, além do alívio de sintomas isquêmicos, com isso esses indivíduos podem ter maior sobrevida e chances reduzidas de sofrer eventos cardiovasculares recorrentes, em especial os já infartados (CASTINHEIRAS-NETO et al., 2008). Nesse contexto, o conhecimento dos fatores de risco e mortalidade pode ser determinante na intervenção fisioterapêutica e nos programas preventivos. Estudos revelam que tais fatores possuem relação com distribuição geográfica, etnia, gênero, idade e condição socioeconômica (BAENA et al., 2012). Ao chegar à década de 70, aconselhava-se repouso médio de três semanas pós-infarto, visando à melhor cicatrização do miocárdio. Contudo, evidências indicaram que tal período de repouso produzia redução da massa muscular, da capacidade funcional, da volemia e do rendimento cardíaco, além de alteração dos reflexos cardíacos, aumento da pressão arterial e da ansiedade. Sendo, a partir da década de 80, introduzida a reabilitação cardíaca (RC), que por meio de exercícios minimiza os efeitos do repouso prolongado, diminuindo a permanência hospitalar, melhorando a funcionalidade e o perfil lipídico desses pacientes (PIEGAS et al., 20091). A RC é definida pela Organização Mundial da Saúde como ação contínua de desenvolvimento e manutenção de mecanismos próprios para garantir ao paciente as melhores condições físicas, mentais e sociais a fim de permitir seu retorno e/ou manutenção de suas atividades sociais e laborais de forma independente (CASTINHEIRAS-NETO et al., 2008; MUELA;BASSAN; SERRA, 2011). O programa de RC é multidisciplinar, contemplando diversos profissionais, dentre eles o fisioterapeuta. Este atua diretamente na prescrição de atividade física, visando, por meio de protocolos de exercícios aeróbicos e contrarresistência, o tratamento e a prevenção dos episódios cardiovasculares, e consequentemente reduzindo o número de óbitos (MUELA; BASSAN; SERRA, 2011). Em relação à sua função preventiva, a RC focada na prevenção secundária tem sido utilizada na redução do risco cardíaco, bem como a recorrência de eventos cardíacos e infartos, contribuindo para a qualidade de vida desses indivíduos e reduzindo a mortalidade em 25% (GHISI et al., 2012). A sua prescrição deve ser individualizada e adequada a cada caso e classe funcional, principalmente, nos casos agudos (FURTADO; RAMOS; ARAÚJO, 2009). De acordo com a Diretriz de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica preconizada pela 1 IV Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologiasobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST (2009). Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 92 ISSN 1981-6855 Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), a RC se aplica por meio de quatro fases: a Fase I, que abrange o período de hospitalização; a Fase II, que se inicia após alta hospitalar e dura de três a seis meses; a Fase III, que tem duração de seis meses a um ano e a Fase IV, cuja duração é indefinida, por ter como objetivo manutenção da atividade física. Considerando a importância da atividade física após o IAM, o objetivo dessa revisão sistemática foi coletar e sintetizar informações sobre a RC com enfoque nos protocolos de exercícios e sua contribuição para a recuperação após IAM. 2 MATERIAIS E METODOS Foi realizada revisão sistemática da literatura científica nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientifc Eletronic Library Online (SciELO), utilizando as palavras-chave: reabilitação, exercícios, reabilitação cardíaca, doença coronariana, fisioterapia, infarto agudo do miocárdio. Foram incluídos estudos observacionais e ensaios clínicos que abordavam a Reabilitação Cardíaca após IAM, publicados em português, no período de janeiro de 2002 a outubro de 2012. Foram excluídos artigos que não abordassem a RC após IAM, artigos de revisão e não experimentais. Inicialmente foram selecionados 50 artigos que abordavam a RC, destes, 28 foram excluídos conforme critérios de exclusão. A inclusão dos artigos obedeceu ao critério de conterem informações sobre atuação da reabilitação cardíaca na recuperação de indivíduos pós-IAM conforme fluxograma a seguir. Figura 1: Seleção das publicações Fonte: As autoras (2013) 50 artigos abordavam RC de forma geral e foram selecionados inicialmente. 22 artigos abordavam a RC na recuperação de pós-IAM e foram considerados relevantes para a fundamentação teórica da pesquisa. 28 foram excuídos por não abordarem a RC na recuperação pós-IAM ou se tratarem de estudos de revisão ou desenho não experimental Dos 22 artigos relevantes, 7 artigos compuseram o quadro dos resultados por obedecerem aos critérios de inclusão. se le çã o de p ub lic aç õe s Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 93 ISSN 1981-6855 3 RESULTADOS Após busca nas bases de dados com as palavras-chave descritas, foram encontrados 50 artigos, entretanto, somente 22 foram considerados potencialmente relevantes. Após leitura criteriosa destes artigos na íntegra, sete estudos preencheram os critérios de inclusão estabelecidos (Quadro 1). Quadro 1: Matriz dos Estudos (continua) Autor Tipo de Estudo População Amostra Protocolo Variáveis Resultados analisados Conclusão do estudo Meirelles et al., 2006 Ensaio Clínico Randomizado Coronario- patas 28 GC – (n=6) sedentário; GE – (n=22) exercícios 3x por semana por seis meses FC treinamento (75-85% da FCmáx obtida no Teste ergométrico- esteira) com TA de 40’ de exercícios dinâmicos contínuos em esteiras ou bicicletas; TCR com duração média de 30’ utilizando pesos livres e máquinas, composto de 2 a 3 séries, 6 a 10 exercícios cada série de acordo com aptidão física do executante. E TF através de exercícios passivos ou ativos. FC, PA, escala de BORG e ECG. Pacientes do grupo experimental apresentaram melhora na classe funcional. No grupo controle não houve alteração da classe funcional. O PRC apresenta uma diversidade de benefícios para o cardiopata e deveria ser incluído como opção de tratamento vinculado ao tratamento farmacológico da doença cardiovascular, contribuindo para melhor qualidade de vida em cardiopatas. Rebelo et al., 2007 Ensaio Clínico Randomizado Cardiopatas sedentários 96 GT (n = 48) realizou 60’ de exercícios físicos, 5x semanais divididos em: 3x semanais com 45’ de exercício aeróbico com intensidade de 70% - 80% da FC máxima, seguidos de 15’ de relaxamento e alongamento. 2x semanais de exercícios aeróbicos por 30’ e exercícios resistidos com caneleiras e halteres de acordo com a condição física e hemodinâmica de cada paciente por mais 30’, seguidos de alongamento e relaxamento. O GC (n = 48) não participava do programa de exercícios. O tempo médio de aplicação do programa foi de 22 meses. FC, PA, escala de BORG, perfil lipo- proteico plasmáti- co, IMC, Rc/q e perfil eco- nômico. Não houve diferença significativa na medicação do GT; as variáveis clínicas sofreram alterações significativas exceto a Rc/q que apresentou diferença apenas no grupo masculino. Observou-se no GT que o programa de exercícios aplicado produziu clínica favorável em relação ao perfil lipoproteico plasmático, tolerância ao esforço e PAS, sem relação com mudanças nas medicações. O perfil econômico apontou redução nos gastos com saúde no GT e aumento nos gastos no GC. Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 94 ISSN 1981-6855 Quadro 1: Matriz dos Estudos (continuação) Autor Tipo de Estudo População Amostra Protocolo Variáveis Resultados analisados Conclusão do estudo Bachur et al. (2009) Ensaio Clínico Cardiopatas 9 Treino aeróbico: 12 sessões de exercício aeróbico, 3x semanais com 50’ de duração divididos em exercícios calistênicos, bicicleta ergométrica, relaxamento e alongamento. Seguido de avaliação de força e protocolo 2- treino de resistência com faixas elásticas: 12 sessões, 3x semanais, em circuito com 4 séries de 25 repetições e intervalo de 2 minutos cada série. A cada 2 séries o membro inferior era alternado, FC, PA Em ambos os protocolos FC e PAS não sofreram alterações, mas, após o treino de resistência observou- se aumento significativo da PAD. O treino de resistência com faixa elástica altera a PAD, porém não há risco na inclusão do mesmo no PRC. Entretanto há contradições na literatura em relação aos efeitos hemodinâmicos desse treinamento. Berry & Cunha (2010) Estudo Prospectivo Observacional Pacientes pós IAM 37 90’ de exercício aeróbico (esteira ou bicicleta), exercícios contra resistência, exercícios de flexibilidade e alongamento, na frequência de 3x semanais. A intensidade ao esforço foi determinada pelo limiar ventilatório com protocolo de rampa. FC, Spo², CF, PA, NYHA. Os pacientes apresentaram aumento no VO2 de pico, evoluindo da classe funcional II para I. Além de aumento do pulso e VE, houve redução do colesterol, do LDL e dos níveis séricos de glicose. Foi observada melhora da CF, da influência cardiorrespiratória e do perfil bioquímico da amostra avaliada. Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 95 ISSN 1981-6855 Quadro 1: Matriz dos Estudos (conclusão) Autor Tipo de Estudo População Amostra Protocolo Variáveis Resultados analisados Conclusão do estudo Benetti et al. (2010) Ensaio Clínico Randomizado Pacientes pós IAM 87 GC (n = 29) com acompanhamento clinico, GAI (n = 29) com 85% da FCM e GIM (n = 29) com 75% da FCM. Período de treinamento 12 semanas na frequência de 5x semanais com 45’ de exercícios aeróbicos e 15’ de exercícios de resis- tência muscular e alongamento. Medidas antropométricas, FC, teste cardiopul-monar e questioná- rio de qualidade de vida Mac New Observou-se que pacientes subme- tidosao exercício aeróbico de alta intensidade têm aptidão cardior- respiratória e qualidade de vida superior aos que se exercitam em média intensida- de, bem como aos sedentários. Os exercícios de alta intensidade proporcionam melhora na capacidade funcional assim como na qualidade de vida de pacientes pós IAM. Muela et al. (2011) Coorte retrospectivo Corona- riopatas estáveis 88 10’ a 15’ de aque- cimento, 20’ a 30’ de TA (esteira) com intensidade de 65 – 80% de FC de acordo com cada paciente, 10’ a 15’ de TCR com equipamentos específicos e 10’ a 15’ de TF. 2x por semana durante seis meses FC, PA, ECG, escala de BORG Houve melhora significativa dos parâmetros funcionais onde 42% dos pacientes apresentaram boa aptidão física. O protocolo aplicado proporcionou aos pacientes significativa melhora dos parâmetros fisiológicos, hemodinâmicos, funcionais e autonômicos, além do aumento da tolerância ao exercício. Hiss et al. (2012) Ensaio Clínico randomizado Pacientes pós IAM não compli- cado 51 Grupo único 10’ de repouso antes e após exer- cício; 4’ de exercí- cios respiratórios (padrão diafrag- mático em 3 tem- pos); 5’ de exercí- cio físico dinâmico (flexão/extensão/ abdução/adução quadril). Contro- lada a velocidade e a intensidade suficiente para manter 20 bpm acima da FC basal (repouso). FC, VFC, PAS E PAD. Observou-se aumento da FC e PAS durante o exercício, PAD inalterada, diminuição da FC de recuperação no 1º e 3º minuto em relação à frequência de pico da FC atingida no exercício, porém não houve redução da FC do 3º minuto em relação ao 1º minuto de recuperação. O exercício promoveu alteração hemodinâmica e da modulação autonômica sem causar intercorrências clínicas podendo ser realizado com segurança após 24hs de IAM não complicado com supradesnível do segmento ST. Notas: GC = Grupo Controle, GE= Grupo Experimental, TA= Treinamento Aeróbico, TCR= Treinamento Contra Resistência Muscular, TF= Treinamento de Flexibilidade, GT= Grupo de Treinamento, Rc/ q= Relação Cintura Quadril, GAI= Grupo Alta Intensidade, GIM= Grupo Moderada Intensidade, IAM= Infarto Agudo do Miocárdio, FCM= Frequência Cardíaca Máxima, FC= Frequência Cardíaca, PAS=Pressão Arterial Sistólica, PAD=Pressão Arterial Diastólica, PA= Pressão Arterial, PRC= Programa de Reabilitação Cardíaca, VFC= Variabilidade da Frequência Cardíaca, NYHA= Classe funcional – New York Heart Association, VCO2= produção de dióxido de carbono, VE= Ventilação Máxima, SpO2= saturação de oxigênio, IMC= Índice de Massa Corporal, ECG= Eletrocardiograma, bpm= batimento cardíaco por minuto, CF= Capacidade Funcional, BORG= Escala Visual de Percepção do Cansaço. Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 96 ISSN 1981-6855 4 DISCUSSÃO Em relação à aplicação dos programas de RC, estudos clínicos de avaliação e intervenção consideram inúmeros benefícios para os pacientes, como melhora na qualidade de vida; melhora do perfil bioquímico; aumento da aptidão física; evolução na capacidade funcional e ganho nos parâmetros hemodinâmicos, fisiológicos e autonômicos (PIEGAS et al., 2009). Os programas de RC em pacientes coronariopatas envolvem atividade aeróbica, exercícios de resistência, relaxamento e flexibilidade. Tais exercícios são distribuídos em sessões semanais de 50 minutos, com aplicação de protocolos proporcionais às condições e fases clínicas dos cardiopatas (MEIRELLES et al., 2006; MUELA; BASSAN; SERRA, 2011). As variáveis avaliadas na maioria dos estudos foram: frequência cardíaca, pressão arterial sistólica e tolerância ao esforço, esta última medida por meio da escala de BORG, uma ferramenta qualitativa de classificação da percepção subjetiva do esforço físico (BACHUR et al., 2009; BERRY; CUNHA, 2010; HISS et al., 2012; MEIRELLES et al., 2006; MUELA; BASSAN; ARAÚJO, 2011; REBELO et al, 2007). Em menor escala encontram-se as variáveis: pressão arterial diastólica, medidas antropométricas, perfil lipoproteico, capacidade pulmonar, dados eletrocardiográficos e perfil econômico (BENETTI; ARAÚJO; SANTOS, 2010; BERRY; CUNHA, 2010; HISS et al., 2012; MEIRELLES et al., 2006; MUELA; BASSAN; ARAÚJO, 2011). Rebelo et al., (2007), em estudo que objetivou analisar os gastos com saúde de indivíduos que se exercitavam com indivíduos que não faziam exercícios, compararam cardiopatas sedentários participantes de um programa de RC (n=48/ grupo intervenção) e não participantes (n=48 / grupo controle), observaram o aumento nos gastos financeiros com plano de saúde no grupo controle em relação ao intervenção. Fato atribuído à adesão e manutenção dos exercícios em longo prazo pelo grupo intervenção, quando comparado ao grupo controle. Em estudo randomizado com 28 coronariopatas divididos em grupo controle (n=6) e experimental (n=22), Meirelles et al. (2006) observaram melhora importante em parâmetros como capacidade funcional, duração do exercício, consumo de oxigênio e aptidão cardiorrespiratória do grupo experimental em relação ao controle pós programa de reabilitação cardíaca através de treino aeróbico, resistido e de flexibilidade, corroborando os resultados relatados por Muela, Bassan e Araújo (2011). Nos pacientes após IAM, Berry e Cunha (2010), Benetti, Araújo e Santos (2010) e Hiss et al. (2012) observaram melhora nas condições físicas, bioquímicas e funcionais dos pacientes avaliados, Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 97 ISSN 1981-6855 sendo que Berry e Cunha (2010) e Benetti, Araújo e Santos (2010) aplicaram protocolos semelhantes, em que utilizaram exercícios aeróbicos, de resistência e de flexibilidade, enquanto Hiss et al. (2012) utilizaram exercícios respiratórios de padrão diafragmático e de baixa intensidade, uma vez que avaliaram pacientes pós- infarto na fase aguda, em média de 24 horas pós evento cardíaco. Em relação aos protocolos com exercícios de resistência, Bachur et al. (2009), em ensaio piloto com nove cardiopatas pós IAM, utilizaram resistência através de faixas elásticas e observaram aumento da pressão arterial diastólica pós exercícios. O uso de faixas elásticas pode promover alteração hemodinâmica, entretanto os autores afirmaram a indicação de seu uso em programas de RC. Em contrapartida, Meirelles et al. (2006) utilizaram em seu estudo exercícios resistidos em coronariopatas com pesos livres selecionados de acordo com a aptidão física do participante e máquinas, porém não citaram alterações hemodinâmicas importantes pós programa aplicado. Já Rebelo et al. (2007), que também aplicaram exercícios resistidos em seus protocolos envolvendo halteres e caneleiras, sinalizaram melhora nas condições hemodinâmicas após o treinamento. Berry e Cunha (2010) e Benetti, Araújo e Santos (2010) também aplicaram exercícios de resistência após os aeróbicos e obtiveram resultados positivos nos parâmetros hemodinâmicos, quanto ao consumo de oxigênio, FC e PA, entretanto, não relataram na metodologia que tipo de resistência foi utilizado. Sobre a variável tolerância ao esforço, Meirelles et al. (2006), assim como Muela, Bassan e Araújo (2011), observaram em ensaios clínicos com coronariopatas submetidos ao programa de reabilitação cardíaca por seis meses o aumento significativo dessa variável, medida através de escala visual de cansaço ao exercício, da mesma forma que Rebelo et al. (2007) em sua amostra de cardiopatas sedentários que participaram por 22 meses do programa de exercícios similar ao supracitado. O perfil lipoproteico plasmático e outras variáveis metabólicas como níveis séricosde glicose, colesterol total, LDL e triglicerídeos, foram analisados em estudos com cardiopatas e pós-infartados. Os resultados indicaram alterações positivas para essas variáveis após aplicação do programa de reabilitação cardíaca (BERRY; CUNHA, 2010; REBELO et al., 2007). A frequência cardíaca e a pressão arterial foram variáveis comuns a todos os estudos analisados, em que os autores observaram alterações hemodinâmicas relacionadas ao aumento da frequência cardíaca, da pressão sistólica e diastólica inalterada durante a execução dos exercícios aeróbicos, resistidos e de flexibilidade, com recuperação positiva dos parâmetros analisados Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 98 ISSN 1981-6855 após tais exercícios (BENETTI; ARAÚJO; SANTOS 2010; BERRY; CUNHA, 2010; HISS et al., 2012; MEIRELLES et al., 2006; MUELA; BASSAN; ARAÚJO 2011; REBELO et al., 2007). Bachur et al. (2009), em estudo-piloto, observaram diferença na pressão arterial com aumento da pressão diastólica após aplicação dos exercícios resistidos. Vale ressaltar que de acordo com Furtado, Ramos & Araújo (2004) para valores entre 60 e 85% da FC são considerados submáximos e preconizados como a zona-alvo de prescrição do exercício na RC e não exercícios de alta intensidade, conforme consideram Benetti, Araújo e Santos (2010). A presente revisão teve como limitação o fato de sido realizada somente no idioma português, devendo outras revisões mais abrangentes serem realizadas a fim de traçar um panorama mundial sobre a reabilitação cardíaca em pacientes pós- infarto agudo do miocárdio. 5 CONCLUSÃO O exercício físico, como parte do programa de RC, é capaz de influenciar e melhorar a capacidade funcional bem como a qualidade de vida após o IAM, principalmente por meio da realização de protocolos de exercícios baseados em atividades aeróbicas utilizando esteiras elétricas e bicicletas ergométricas, exercícios contrarresistência utilizando halteres, caneleiras e faixas elásticas, além de alongamentos e exercícios dinâmicos para aumento da flexibilidade. REFERÊNCIAS BACHUR, C. K. et al. Treinamento de resistência elástica em programa de reabilitação cardiovascular. Revista da SOCERJ, Rio de Janeiro, v. 22, n. 6, p. 373-378, 2009. BAENA, C. P. et al. Tendência de mortalidade por infarto agudo do miocárdio no período de 1998 a 2009. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 98, n. 3, p. 211-217, 2012. BENETTI, M.; ARAÚJO, C. L. P.; SANTOS, R. Z. Aptidão Cardiorrespiratória e Qualidade de Vida Pós-Infarto em Diferentes Intensidades de Exercício. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 95, n. 3, p.399-404, 2010. Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 99 ISSN 1981-6855 BERRY, J. R. S.; CUNHA, A. B. Avaliação dos Efeitos da Reabilitação Cardíaca em Pacientes Pós-Infarto do Miocárdio. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 23, n. 2, p. 101-110, 2010. CASTINHEIRAS-NETO, A.G. et al. Reabilitação cardíaca após alta hospitalar no Sistema Público de Saúde do Município do Rio de Janeiro. Revista da SOCERJ, Rio de Janeiro, v. 21, n. 6, p. 399-403, 2008. FURTADO, E. C.; RAMOS, P. S.; ARAÚJO, C. G. S. Medindo a pressão arterial em exercício aeróbico: subsídios para reabilitação cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 93, n. 1, p. 45-52, 2009. GHISI, G. L. M. et al. Desenvolvimento e Validação da Versão em Português da Escala de Barreiras para Reabilitação Cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 98, n. 4, p. 344-352, 2012. HISS, M. D. B. S. et al. Segurança da intervenção fisioterápica precoce após o infarto agudo do miocárdio. Revista Fisioterapia em Movimento, Curitiba, v. 25, n. 1, p. 153-63, 2012. MEIRELLES, L. R. et al. Efeito da Atividade Física Supervisionada após 6 Meses de Reabilitação Cardíaca: experiência inicial. Revista da SOCERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 6, p. 474-481, 2006. MUELA, H. C. S.; BASSAN, R.; SERRA, S. M. Avaliação dos benefícios funcionais de um programa de reabilitação cardíaca. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 24, n. 4, p. 241-250, 2011. PIEGAS, L. S. et al. IV Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Tratamento do Infarto Agudo do Miocárdio com Supradesnível do Segmento ST. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 93, n. 6, p. 179-264, 2009. REBELO, F. P. V. et al. Resultado Clínico e Econômico de um Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 88, n. 3, p. 321-328, 2007. Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013 Corpus et Scientia 100 ISSN 1981-6855 SANTOS-FILHO, S. D. Interesse científico em saúde cardiovascular e reabilitação cardíaca. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 33-40, 2010. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. Diretriz de reabilitação cardiopulmonar e metabólica: aspectos práticos e responsabilidades. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 86, n. 1, p. 74-82, 2006. Recebido em: 13 jun. 2013 Aprvado em: 15 jul. 2013 Rio de Janeiro v. 9, n. 1, p. 89-100, jan. 2013
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